QUANTIFICAÇÃO DE CARBONO ORGÂNICO EM TERRA PRETA DE ÍNDIO DO SÍTIO PA-OR-127 CIPOAL DO ARATICUM

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QUANTIFICAÇÃO DE CARBONO ORGÂNICO EM TERRA PRETA DE ÍNDIO DO SÍTIO PA-OR-
127 CIPOAL DO ARATICUM


Renan da Silva e Silva1, Caick Marcelo Rosa Martins2

1 Graduando do curso de Engenharia Agronômica. Universidade Federal Rural
da Amazônia. [email protected].
2 Graduando do curso de Engenharia Agronômica. Universidade Federal Rural
da Amazônia.



RESUMO

O artigo avalia a quantificação do teor de carbono orgânico em TPI do sítio
PA-OR-127 Cipoal do Araticum, em diferentes escavações. As amostras de
solos trabalhadas foram coletadas em níveis de 5 cm, retiradas de duas
partes da Escavação, a Esc. 27.1, 27.2 e a Esc. 35 e 36. O processamento
das amostras de solo consistiu em organizar, e selecionar as amostras para
análise, em seguida foram secas ao ar e tamisadas a 2 mm. A quantificação
de Carbono Orgânico foi realizada pelo método de Walkley-Black Modificado.
Na escavação 27.1 o teor de carbono orgânico atingiu um máximo de 16,4 g.kg-
1 nos primeiros 05 cm e um mínimo de 0,7 g.kg-1 acima dos 50 cm de
profundidade. Diferenciando-se da escavação 27.2 em que o teor de carbono
foi elevado 32,9 g.kg-1 nos primeiros 05 cm de profundidade, reduzindo a
medida que a trincheira se aproximava do solo original, chegando a 4,3
g.kg ¹ a partir dos 50 cm de profundidade. Na escavação 35 percebe-se que a
quantidade de carbono orgânico foi de 21,2 g.kg-1 nos primeiros 05 cm e de
15,6 g.kg-1 nos últimos centímetros, enquanto que na escavação 36 houve uma
variação de 32,6 g.kg-1 a 0,8 g.kg-1. Os teores de carbono orgânico foram
mais expressivos nas áreas onde houve uma maior adição de material orgânico
de origem animal e vegetal, cinzas e carvão vegetal.

Palavras-chave: Terra Preta de Índio. Carvão vegetal. Material orgânico.

Área de Interesse do Simpósio:
Agronomia









1. INTRODUÇÃO

A maior parte dos solos agricultáveis na Região Amazônica são ácidos,
com baixa CTC, consequentemente, com baixa fertilidade e potencial
produtivo. O grau de fertilidade do solo, por ser considerado baixo, é,
portanto, um fator limitante para a produtividade e sustentabilidade
ambiental e econômica, já que a agricultura de subsistência é fundamental
aos habitantes locais. Solos afetados pela atividade humana em sítios de
assentamento são ubíquos na paisagem amazônica. Esses solos, conhecidos
como Terra Preta de Índio (TPI) ou Terra Preta Arqueológica (TPA), que
apresentam horizonte A antrópico, caracterizam-se por apresentarem cor
escura, restos de material arqueológico (fragmentos cerâmicos e de
artefatos líticos), grandes quantidades de carvão e altos teores de Ca, Mg,
Zn, Mn, P e CO.
Em termos de ocorrência, as TPI, em sua maioria estão sobre
Latossolos (Oxisols) e Argissolos (Ultisols), que são profundos, bem
drenados, de textura variando de média a muito argilosa e arenosa/média a
argilosa/muito argilosa, de baixa reserva de nutrientes essenciais às
plantas e situados fora do alcance das enchentes periódicas dos cursos de
água, na denominada terra firme (RODRIGUES et al., 2003).
O Carbono Orgânico apresenta um papel significativo na formação da
terra preta, pois está diretamente ligado com a coloração mais escura desse
tipo de solo e consequentemente com os teores de matéria orgânica,
originada, principalmente, pelo acúmulo de resíduos de origem vegetal
(folhas e talos de palmeiras diversas, cascas de mandioca e sementes) e de
origem animal (ossos, sangue, gordura, fezes, carapaças de quelônios e
conchas), além de uma grande quantidade de cinzas e resíduos de fogueiras
(carvão vegetal) (MADARI et al., 2009). O carbono está presente no solo em
grandes quantidades na forma de carvão, gerado provavelmente por meio da
queima de materiais orgânicos em condições especiais (com pouco oxigênio
disponível) (MANGRICH et al, 2011). O carvão encontrado na terra preta de
índio garante a longa retenção do carbono no solo, ao contrário do que
deveria acontecer na região amazônica, em que a temperatura e a umidade são
elevadas e nessas condições ocorre a degradação acelerada da matéria
orgânica, resultando na perda exagerada de gás carbônico.
Nesse contexto, o objetivo foi quantificar o teor de carbono orgânico
em TPI do sítio PA-OR-127 Cipoal do Araticum, em diferentes escavações.


2. MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O sítio PA-OR-127: Cipoal do Araticum localiza-se em uma área
interfluvial de platôs entre o baixo Rio Trombetas e o baixo Rio Amazonas,
próximo à foz do rio Trombetas (Figura 1). Apresenta, praticamente, em toda
sua extensão, uma vegetação que se classifica como Floresta Ombrófila Densa
(Guapindaia, 2008a; Guapindaia, et al., 2010, 2011 2012). Devido à
localização entre dois platôs, este sítio é cercado por três igarapés: o
igarapé Araticum, situado ao nordeste do sítio; o igarapé Tucumã, situado
ao oeste e o igarapé Cipoal, que se situa ao sul.
Apesar do sítio arqueológico apresentar-se relativamente plano,
principalmente, em sua parte central, esta área também encontra-se com
baixos ondulações visíveis na topografia. Na parte central, onde se -
encontra terra preta mais profunda, elevações e áreas mais baixas e planas
são visíveis no relevo.
Figura 1. Mapa de localização do sítio PA-OR-127: Cipoal do
Araticum.

Fonte: Guapindaia, 2010.

Amostra
As amostras de solos trabalhadas foram coletadas no Sítio PA-OR-127:
Cipoal do Araticum, em 2011. Essas amostras foram coletadas em níveis de 5
cm, retiradas de duas partes da Escavação, a Esc. 27.1, 27.2 e a Esc. 35 e
36. O primeiro de cada parte (27.1 e 35) foram feitas em áreas planas
adjacente aos dos montículos (27.2 e 36). O processamento das amostras de
solo consistiu em organizar, e selecionar as amostras para análise, triturá-
las e peneirá-las. Os procedimentos de laboratório foram conduzidos segundo
os métodos da EMBRAPA (1997).

Análise de dados
A quantificação de Carbono Orgânico foi realizada pelo método de
Walkley-Black Modificado. Este método se baseia na ação oxidante do
dicromato de K (K2CR2O7) sobre a matéria orgânica, em presença de ácido
sulfúrico (H2SO4) durante reação a quente, e titulação do excesso de
dicromato com Sulfato ferroso amoniacal [Fe(NH4)2(SO4)2] (SILVA, 2003).
Para a realização desse método colocou-se em um erlenmeyer de 250 ml
0,5 g de amostra de TPI e adicionou-se 10 ml de solução de K2CR2O7 1 N,
misturando-se solo-solução. Em seguida, adicionou-se 10 ml de H2SO4
concentrado, agitando o erlenmeyer por um minuto, para garantir a mistura
íntima do solo com os reagentes. Ficando em repouso por 20 a 30 minutos.
Fez-se a prova em branco (sem adição do solo). Após o repouso adicionou-se
3 ml de ácido fosfórico (H3PO4), 50 ml de água destilada e 10 gotas do
indicador difenilamina a 1%. Terminando estes processos, as amostras são
tituladas com a solução de sulfato ferroso 1N (SILVA, 2003; EMBRAPA, 1997).
O ponto final da titulação é reconhecido pela transformação ocorrida no
indicador difenilamina, que se oxida até o aparecimento da coloração verde
forte (SILVA, 2003). Chegando a esta coloração, anotou-se o volume gasto na
titulação.


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na escavação 27.1 o teor de carbono orgânico atingiu um máximo de 16,4
g.kg-1 nos primeiros 05 cm e um mínimo de 0,7 g.kg-1 acima dos 50 cm de
profundidade (Gráfico 01). Diferenciando-se da escavação 27.2 em que o teor
de carbono foi elevado 32,9 g.kg-1 nos primeiros 05 cm de profundidade,
reduzindo a medida que a trincheira se aproximava do solo original,
chegando a 4,3 g.kg ¹ a partir dos 50 cm de profundidade (Gráfico 02).


Gráficos 01 e 02: Teor de carbono orgânico (g.kg-1) na escavação 27.1 e
27.2, respectivamente.

Fonte: Autores, 2015.
Na escavação 35 percebe-se que a quantidade de carbono orgânico foi de
21,2 g.kg-1 nos primeiros 05 cm e de 15,6 g.kg-1 nos últimos centímetros
(Gráfico 03). Enquanto que na escavação 36 houve uma variação de 32,6 g.kg-
1 a 0,8 g.kg-1 (Gráfico 04).
Gráficos 03 e 04: Teores de carbono orgânico (g.kg-1) por nível nas
escavações 35 e 36, respectivamente.

Fonte: Autores, 2015.
A diferenças nos teores de carbono orgânico entre as escavações se
deu, principalmente, pelo fato de que nas escavações 27.2 e 36 estarem em
áreas onde houve maior deposição de material orgânico e carvão vegetal,
enquanto que as escavações 27.1 e 35 estavam em áreas planas, as quais eram
utilizadas como moradias e praças onde eram feito alguns rituais. Porém
ainda assim foi possível se ter um teor de carbono elevado nessas duas
áreas, pois nas mesmas eram colocadas fogueiras que serviam para cozinhar
alimentos e regular a temperatura dentro das moradias.


4. CONCLUSÕES

O Carbono Orgânico apresenta um papel significativo na formação da
terra preta, pois está diretamente ligado com a coloração mais escura desse
tipo de solo e consequentemente com os teores de matéria orgânica, sendo
mais expressivos nas áreas onde há uma maior adição de material orgânico de
origem animal e vegetal, cinzas e carvão vegetal.

REFERÊNCIAS

EMBRAPA. Manual de Métodos de Análise de Solo. Serviço Nacional de
Levantamento e Conservação de Solo, Rio de Janeiro, 1997.

GUAPINDAIA, V., Relatório de Atividades de campo Sitio PA-OR-127: Cipoal do
Araticum: 17 de outubro a 16 de novembro de 20011; 25 de novembro a 14 de
dezembro de 2011. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 2012.

GUAPINDAIA, V., J. A. DA FONSECA, e G. CHUMBRE. Relatório de Atividades de
Campo Sítio PA-OR-127: Cipoal do Araticum: 22 de Novembro a 22 de Dezembro
2010 (18o Relatorio). Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, Projeto
Arqueológico Porto Trombetas, 2011.

GUAPINDAIA, V., J.A. DA FONSECA, G. CHUMBRE, e C.P. BARBOSA. Relatório de
Atividades de Campo Sítio PA-OR-127: Cipoal do Araticum: 10 de Agosto a 09
de Setembro de 2009, 11 de Novembro a 23 de Dezembro de 2009 (16º
Relatorio). Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, Projeto Arqueológico Porto
Trombetas, 2010.

MADARI, B. E.; CUNHA, T. J. F.; NOVOTNY, E. H.; MILORI, D. M. B. P.; NETO,
L. M.; BENITES, V. de M.; COELHO, M. R.; SANTOS, G. A. Matéria Orgânica dos
Solos Antrópicos da Amazônia (Terra Preta de Índio): Suas Características e
Papel na Sustentabilidade da Fertilidade do Solo. In.: As Terras pretas de
Índio da Amazônia: sua caracterização e uso deste conhecimento de novas
áreas/Wenceslau Geraldes Teixeira; Dirse Clara Kern; Beáta Emöke Madari;
Hedinaldo Narciso Lima; William Woods. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental,
2009. Disponível em:
http://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/684554. Acesso em: 17
de outubro de 2015.

MANGRICH, A. S.; MAIA, C. M. B. F.; Novotny, E. H. As Terras Pretas de
Índio e o Sequestro de Carbono. Ciência Hoje, vol. 47. Maio, 2011.
Disponível em:
http://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/894661/1/biocarvao281
.pdf. Acesso em: 15 de outubro de 2015.

RODRIGUES, T. E.; SILVA, R. das C.; SILVA, J. M. L. da; JÚNIOR, R. C. de
O.; GAMA, J. R. N. de F.; VALENTE, M. A. Caracterização e classificação dos
solos do município de Paragominas, Estado do Pará. Embrapa Amazônia
Oriental, 2003. Disponível em:
http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/408067/1/Orient
alDoc162.PDF. Acesso em: 17 de outubro de 2015.

SILVA, S. B. Análise de Solos / Sérgio Brazão e Silva. – Belém:
Universidade Federal Rural da Amazônia. Serviço de Documentação e
informação, 2003.


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Belém (PA), 18 a 20 de Novembro de 2015.
ISSN 2316-7637




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