QUARESMA, J. C. (2014) - Romanização: adaptações culturais e ambientais em Chãos Salgados (Mirobriga?). MUSA. 4, p. 99-124

July 6, 2017 | Autor: José Carlos Quaresma | Categoria: Late Antique Archaeology
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Descrição do Produto

musa museus, arqueologia & outros patrimónios Volume 4 Setúbal 2014

FIDS & MAEDS Autarquias do Distrito de Setúbal

Ficha Técnica Edição Fórum Intermuseus do Distrito de Setúbal (FIDS) Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS) Direcção Odete Graça (Presidente da Assembleia Distrital de Setúbal) Coordenação Editorial Joaquina Soares Conselho Científico António Nabais Carlos Marques da Silva Carlos Tavares da Silva João Luís Cardoso Mário Casanova Moutinho Mário Varela Gomes Victor S. Gonçalves Vitor Serrão Conselho Redatorial Antónia Coelho-Soares Amélia Pardal Fernanda do Vale Germesindo Silva Graça Filipe Isabel Vicente Luís Ferreira Miguel Correia Rosa Bela Azevedo Rosário Gil Teresa Rosendo Secretariado e correspondência Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal Avenida Luisa Todi, 162 - 2900-451 Setúbal (Portugal) Tel.: +351 265 239 365/265 534 029 Fax: +351 265 527 678 E-mail: [email protected] Site: www.maeds.amrs.pt Blog: http://maedseventosactividades.blogspot.com/ Copyright® - Direitos reservados pelos autores e MAEDS. Interdita a reprodução de imagens. Capa e contracapa Arte Xávega (regresso da faina). Costa da Caparica (postal ilustrado, Passaporte Loty), década de 1960, MN COS 155; fotografia de António Carreta. Interior da capa: foto de Rosa Nunes. Execução gráfica Ana Castela Tradução Barbara Polyak Impressão e acabamento Europress Depósito legal 314176/10 ISSN 1645-0553 Tiragem 500 exemplares

Fórum Intermuseus do Distrito de Setúbal FIDS Integrado por: • Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/ Assembleia Distrital de Setúbal • Museu Municipal de Alcácer do Sal/ Câmara Municipal de Alcácer do Sal • Museu Municipal de Alcochete/ Câmara Municipal de Alcochete • Museus Municipais de Almada/ Câmara Municipal de Almada • Serviços Culturais/ Câmara Municipal do Barreiro • Serviços Culturais/ Câmara Municipal de Grândola • Departamento de Acção Sociocultural/ Câmara Municipal da Moita • Museu Municipal de Montijo/ Câmara Municipal de Montijo • Museu Municipal de Palmela/ Câmara Municipal de Palmela • Museu Municipal de Santiago do Cacém/ Câmara Municipal de Santiago do Cacém • Ecomuseu Municipal do Seixal/ Câmara Municipal do Seixal • Museu Municipal de Sesimbra/ Câmara Municipal de Sesimbra • Museus Municipais de Setúbal/ Câmara Municipal de Setúbal • Museu Municipal de Sines/ Câmara Municipal de Sines

Índice Museus

7

Mário Moutinho Entre os museus de Foucault e os museus complexos

9

António Maia Nabais O museu como ponto de chegada e de partida

15

Joaquina Soares Ambientes Marítimos: Cultura e Natureza. Economias do trabalho em parceria

23

Inês Vaz Pinto, Ana Patrícia Magalhães & Patrícia Brum Ruínas Romanas de Tróia: a valorização de um património singular

29

Joaquina Soares Binford e a Arqueologia Portuguesa. O Curso de Antropologia Pré-Histórica do MAEDS

41

Maria Clara Santos História e Recuperação do Varino “O Boa Viagem”

47

Arqueologia In Memoriam. Jorge Costa. Ilustrador de arqueologia. 1945-2010

59 61

Joaquina Soares Sepultura Megalítica de Corte de Baixo S. Bartolomeu da Serra (Santiago do Cacém) Uma colecção à procura de contexto

63

Joaquina Soares & Carlos Tavares da Silva O Projecto de Investigação Arqueológica “CIB” e a campanha de escavações Chibanes/2012

75

José Carlos Quaresma Romanização: adaptações culturais e ambientais em Chãos Salgados (Miróbriga?)

99

José Carlos Quaresma Escavações de 2004 e 2005 na área da ponte de Chãos Salgados (Mirobriga?): estratigrafia, arquitectura e materiais de um sector público da cidade romana

125

Paula Alves Pereira Conjunto de Cetárias no Centro Histórico de Sesimbra

157

Carlos Tavares da Silva, Joaquina Soares, Antónia Coelho-Soares, Susana Duarte & Ricardo Godinho Preexistencias de Setúbal. 2ª Campanha de escavações arqueológicas na Rua Francisco Augusto Flamengo, nos 10-12. Da Idade do Ferro ao Período Medieval

161

Susana Duarte & Carlos Tavares da Silva Faianças Portuguesas em Contexto de Lixeira da Setúbal Moderna

215

Entrevistas. Arqueólogos Setubalenses. Carlos Tavares da Silva e Victor S. Gonçalves

229

Outros Patrimónios

243

Maria Teresa Caetano Da iluminura antiga vária à imago musiva única: reflexão introdutória sobre genealogia iconográfica

245

Ricardo Salomão Meia-Lua: O Saveiro da Costa da Caparica

261

Meia Lua da Costa da Caparica (Portfolio - Arquivo de Fotografia/Divisão de Museus e Património Cultural da Câmara Municipal de Almada)

273

José Augusto Vinagre O Palácio da Lagoa da Palha

279

Musa, 4, 2014, p. 99-124

Romanização: adaptações culturais e ambientais em Chãos Salgados (Miróbriga?) José Carlos Quaresma*

RESUMO

RESUMÉ

Neste artigo apresentamos as conclusões obtidas nas escavações conduzidas na área habitacional de Chãos Salgados (Miróbriga?), entre 1997 e 2000, sob direcção de Filomena Barata. Para além da contextualização urbanística e arquitectónica do sector, apresentamos a estratigrafia com discussão dos materiais datantes e debatemos dois grandes contributos fornecidos pelas duas estruturas escavadas: a construção nº2 enquanto cópia, no terceiro quartel do século I d.C., de um modelo já conhecido do povoado indígena, e a construção nº1 enquanto reveladora de uma adaptação arquitectónica, aquando da sua remodelação nos finais do século III/inícios do IV, em função de um possível estímulo ambiental no decurso da transição para o Dark Ages Cold Period.

Dans cet article on présente les conclusions des fouilles menées dans le secteur résidentiel de Chãos Salgados (Miróbriga?), entre 1997 et 2000, sous la direction de Filomena Barata. Au-delà d’une contextualisation urbanistique et architectonique du secteur, on présente la stratigraphie avec une discussion du mobilier et discute deux grandes contributions fournies par les deux structures fouillées : le bâtiment n.2 comme une copie, au troisième quart du 1er s. ap. J.-Ch., d’un modèle déjà connu dans le site indigène, et le bâtiment n.1 qui nous révèle une adaptation architectonique, pendant son remaniement à la fin du IIIe s./début du IVe s., en fonction d’un possible stimulant environnemental au cours de la transition vers le Dark Ages Cold Period.

1. PREÂMBULO Este artigo é uma adaptação de um dos capítulos da nossa dissertação de doutoramento, publicada em 2012 (Quaresma, 2012). Os dados deste estudo resultam das escavações conduzidas na área habitacional de Chãos Salgados (Miróbriga?; Fig. 1), por Filomena Barata, durante a década de 1990, nos anos imediatamente precedentes à construção do Centro Interpretativo das Ruínas Romanas de Miróbriga, escavações em que o signatário participou integralmente, com tarefas de co-coordenação de campo. As duas construções em análise (construções nºs 1 e 2 do sítio; Fig. 2) tiveram uma primeira publicação parcial (construção nº 1) aquando da nossa dissertação de mestrado (Quaresma, 2003), e uma outra, que incidiu sobretudo na construção nº2, aquando da nossa dissertação de doutoramento (Quaresma, 2009; 2012). Neste último trabalho fazemos igualmente uma análise minuciosa dos materiais cerâmicos datantes das duas construções, que neste artigo presente apenas abordamos de uma forma mais sintética. Este artigo é também uma retoma dum tema já abordado no Colóquio Internacional Transforma-

ções da Paisagem. O Impacto das Cidades Romanas no Mediterrâneo Ocidental, realizado em Castelo de Vide, no ano de 2008 (Quaresma, 2010). Neste artigo, todavia, não possuíamos ainda a percepção de uma mudança climática que poderia estar rela-

Fig. 1 - Localização aproximada de Chãos Salgados na Península Ibérica.

* Bolseiro de pós-doutoramento (FCT) / CIDEHUS (Universidade de Évora) / UNIARQ (Universidade de Lisboa). 99

Fig. 2 - Planta de Chãos Salgados, excluindo o circo (desenvolvida a partir da base cartográfica das Ruínas Romanas de Miróbriga).

cionada com algumas transformações arquitectónicas, embora já abordássemos o clima como possível nexo causal. Esta perspectiva foi corrigida no nosso doutoramento, apresentado já depois de alguns contactos com os Doutores César Andrade e Conceição Freitas, da Faculdade de Ciências de Lisboa, cuja equipa composta por investigadoras como as Dras. Anabela Cruces e Rute Ramos, desenvolve investigação paleo-ambiental na área da Lagoa de Santo André. Em conjunto, pretendemos num futuro breve publicar uma visão geológica e arqueológica das evidências disponíveis no Ocidente peninsular sobre a transição do Roman Warm Period para o Dark Ages Cold Period. Para se manter uma coerência com a apresentação dos dados constantes em Quaresma (2009; 2012), indicamos a referência de UE (unidade estratigráfica) e de contexto (número sequencial de contextos publicados), nas Figs. 11 e 12. 100

Abreviaturas usadas no texto e imagens TSH: terra sigillata hispânica TSSG: terra sigillata sudgálica TSAf: terra sigillata africana And.: Andújar PF: Paredes Finas Alm.: Almofariz H.: Hayes L.: Lamboglia D.: Dragendorff Dr.: Dressel Alm.: Almagro 2. ROMANIZAÇÃO – UM CONCEITO EM REVISÃO Desde o século XIX, com raízes nos sistemas imperialistas de então, que o conceito de romanização é usado recorrentemente de uma forma algo acrí-

tica, devido à aceitação consensual de ser a expressão mais conveniente para um processo histórico poderoso no espaço e no tempo, em que uma cultura mais forte, técnica, política e civilizacionalmente se impôs a uma plêiade de outras culturas consideradas menores. Seria também um processo de adopção rápida de um conjunto de traços culturais romanos pelas populações nativas, numa relação eminentemente unidireccional, em que a primeira influencia e transforma a segunda (destaque-se alguns autores antigos como T. Mommsen, F. Haverfield ou C. Jullian: Lucas, 2003, p. 3; Hingley, 2005, p. 16). Esta visão de um processo linear é ainda hoje importante – para alguns autores, à complexidade da cultura romana contrapõe-se uma sociedade indígena mais simples (Frere, 1987: apud Lucas, 2003, p. 3). Em casos particulares, o conceito de romanização revelou-se menos útil, como acontece no Oriente, onde uma forte tradição pré-clássica e grega foram impossíveis de contornar. A Arqueologia do Oriente é, para Hingley (2005, p. 19), uma terceira tradição historiográfico-arqueológica, em contraponto às romanizações das áreas setentrionais e meridionais. Novos contributos têm sido dados nas últimas décadas, enfatizando bastante o papel das elites romanas, mas também analisando o papel dos povos conquistados. Neste sentido, novos conceitos emergiram, para se explicar múltiplos fenómenos: dominação, resistência, acomodação, negociação, agência (agency) de indivíduos, de grupos, ou de povos, já não interpretados como entidades estanques (Webster, 1996: apud Lucas, 2003, p. 3). Nestas interacções são detectáveis intencionalidades próprias (Revell, 2000, p. 1) e é sem dúvida uma nova romanização que se tenta libertar do antigo enfoque colonialista, mas também visivelmente influenciada pela nova globalização do mundo actual, de certa forma transposta para o passado clássico (Hingley, 2002, p. 112) – neste sentido, é bem ilustrativo o título do livro de R. Hingley (2005), Globalizing Roman culture. Unity, diversity and empire. Para esta atomização do império contribuíram bastante os trabalhos de G. Woolf (1997) sobre a Gália, com destaque para conceitos como o de adaptação, realizados por mecanismos identitários (Hingley, 2002, p. 116). Para G. Woolf, as noções de romano e nativo são redundantes em termos gerais, já que a romanização será antes de mais uma interiorização da cultura romana e não tanto uma aculturação. Na vida quotidiana, os conceitos de género, identidade e religião terão sido mais relevantes para o posicionamento dos indivíduos. Entende igualmente que as sub-elites terão desempenhado um papel crucial nos primeiros tempos de síntese cultural, um período de revolução cultural que terá durado

décadas (ver, neste ponto, a análise crítica de Roth, 2007, p. 37). A proposta de N. Terrenato (1998; apud Roth, 2007, p. 36-37), de uma bricolage cultural, « a process in which new cultural items are obtained by means of attributing new functions to previously existing ones  », amplia a tese de G. Woolf, embora se centre bastante também no papel das elites. São contudo, duas teses que procuram basear-se igualmente na cultura material enquanto veículo transmissor de cultura e reflexo de fenómenos de adopção, rejeição, ou adaptação. Nas palavras de A. Meryweather e J. Prag (2002, p. 9), “��������������������������������� one of the attractions of Romanization is precisely the richness of the evidence. It is no surprise that identity has become a hot topic within Romanization – quite apart from the fact that the approach it encourages deconstructs the very notion of Romanization in its original cultural-history sense”.

3. MUDANÇA CULTURAL EM CHÃOS SALGADOS: A TRANSIÇÃO DO POVOADO INDÍGENA PARA A CIDADE ROMANA NO TERCEIRO QUARTEL DO SÉCULO I D.C. A cronologia inicial das construções nºs 1 e 2 de Chãos Salgados centra-se no terceiro quartel do século I d.C. (Quaresma, 1999b; 2003; 2009; 2012), época em que o povoado indígena se transformou numa cidade romana, dotada nesta altura de forum, área habitacional e comercial, mas ainda sem possuir os edifícios de banhos públicos, nem o circo, que terão sido construídos ao longo do século seguinte (Biers et al., 1988), embora as termas Este possam recuar ao período flávio (Quaresma, 2012), tal como o circo (Biers et al., 1988, p. 43) (Fig. 2). Para além de uma dimensão assaz maior do que a do povoado indígena (de 0,5/1 ha para 10 ou 14 ha), na área mais aplanada, a Oeste do forum, de encosta suave, onde se desenvolveu parte da área habitacional, podemos observar um decumanus e alguma ortogonalidade do traçado, não sendo por isso verdade, tal como afirma F. Teichner (2006, p. 342) que a cidade tenha mantido a configuração de oppidum, sem qualquer vestígio de planimetria romana. Esta urbanização intensa neroniana ou já vespasiana sucede a um período algo extenso, que recua ao século I a.C., em que o pequeno povoado indígena, confinado ao cabeço do Castelo Velho, parece passar por uma fase letárgica, a ver pelo índice de importações relativamente débil para o período tardo-republicano e Imperial inicial, até Tibério, inclu101

sive, onde se destaca o fraco consumo de campaniense (ou black-glazed ware) e de terra sigillata itálica (Delgado, 1971; ver sínteses recentes – Quaresma, 2012 e Barata, 2010). Parece ser igualmente uma época de falência de povoamentos de tradição sidérica na região, como a Pedra da Atalaia (Silva, 1978), ao qual sucede no tempo a transição e alargamento de Chãos Salgados / Castelo Velho, reconvertido em cidade romana, bem como uma série de infra-estruturas produtivas (Sines e Ilha do Pessegueiro: Silva & Soares; 1993; 1998; Silva & Coelho-Soares, 2006; Coelho-Soares & Silva, 2004) ou funerárias, possivelmente associadas a villae (necrópoles de Formiga, Santo André – Fonte do Burro e Monte da Sardinha: Alarcão, 1968; Artur, 1955-1956; Dias & Viegas, 1976-1977). A identificação corrente deste sítio arqueológico com a cidade romana de Miróbriga, citada na Historia Natural de Plinius como um oppidum stipendiarium, não é totalmente segura, por falta de evidência epigráfica cabal (Guerra, 1995; Encarnação, 1984, 1996; Barata, 1997; Quaresma, 2003; 2012), nem tão pouco a sua municipalização flávia, já que o desenvolvimento da inscrição funerária CIL II, 25 = IRCP 15 (Encarnação, 1984, p. 230), dedicada a M(arco) Iulio Marcello Aed(ili) et IIvir(o) M(unicipii?) F(lavii?) M[irobrig(sensis)?], significando MFM, Município Flávio Mirobriguense, não é igualmente seguro. Seria, porém, a confirmação de que o ópido estipendiário ter-se-ia tornado município com a extensão do direito latino, no principado de Vespasiano, tendo os seus cidadãos sido integrados na tribo Quirina, como indica a epígrafe CIL II, 29 = IRCP 158 (Encarnação, 1984, p. 239; Andreu Pintado, 2004). Sendo ou não este o estatuto jurídico, a verdade é que é em torno desta época flávia (começando talvez um pouco antes e estendendo-se ainda pela primeira metade do século II: Quaresma, 2012) que se dá a transformação e desenvolvimento do sítio enquanto cidade romana.

3.1. A construção nº 2: um caso de adaptação cultural A construção nº 2 (Figs. 3-4) da encosta do Centro Interpretativo apresenta uma planta complexa, com um conjunto incomum de características tipológicas e funcionais que torna a sua interpretação difícil. Acresce neste sentido o facto de a encosta apresentar os solos bastante erodidos, devido à sua inclinação bem como às práticas agrícolas, que produziram valas de implantação de pinheiros que 102

atravessam os níveis arqueológicos até à rocha-mãe e destroem segmentos de muros, alguns deles essenciais para se perceber a orgânica do edifício. Distancia-se claramente dos modelos usuais de habitação romana, embora se integre na área entendida como habitacional do povoado romano, distando cerca de 20m para Norte da construção nº 1 (domus) na encosta do Centro Interpretativo e possui um espólio de características totalmente romanizadas. A sua cronologia centra-se entre o 3º quartel do séc. I d.C. e os meados do séc. V (Quaresma, 1999b; 2003; 2012).

3.1.1. Ambientes de escavação O interior da construção apresenta 2 espaços distintos, um coberto e outro ao ar livre. O espaço descoberto é composto pelos ambientes de escavação A, B, E e H. O espaço coberto é composto pelo ambiente D. Existem ainda ambientes de escavação exteriores à construção: ambiente I (exterior sul), ambiente G (exterior norte), ambiente F (exterior este) e ambiente C (exterior oeste).

3.1.2. Descrição da planta Os seus muros possuem uma largura média de 0,5/0,6m e foram realizados mediante um método de alvenaria recorrendo a pedras da região, com destaque para as dolomias, margas ou arenitos com calibres médios de 0,2m. Não possuem qualquer argamassa de ligação sendo esta realizada por terra barrenta, tornando este método em tudo idêntico ao da construção nº 1, contemporânea. Tal como acontece na construção nº 1, também aqui se recorreu à protecção do edifício, em face das águas pluviais provenientes das cotas mais elevadas da encosta, através da escavação, no xisto de base, de um dreno, com cerca de 0,4/0,5m de profundidade e 0,5m de largura médias. A face este do dreno, que encosta ao edifício, tem igualmente um forro de opus signinum, tornando-o mais impermeável. Este dreno (ambiente C) tem a sua saída algures a Norte do edifício, numa área ainda só parcialmente escavada. Apesar de apenas cerca de 25% dos muros estarem conservados (e apenas ao nível da base) todas as valas de implantação são ainda visíveis tornando a sua planta decifrável na sua maioria, embora as valas agrícolas não permitam saber onde se encontrava(m) a(s) porta(s) do edifício. A construção nº 2 apresenta uma planta semi-

Fig. 3 - Fotografia da construção nº 2 de Chãos Salgados.

-quadrada, com um comprimento de 9,7m (E-W) e uma largura de 8,8m (N-S). O seu espaço coberto, ambiente D, é uma divisão rectangular, com medidas interiores de 6,1 por 4,1m. O pavimento está forrado a opus signinum e nas UEs que se depositam neste compartimento não existe praticamente nenhum fragmento de cerâmica utilitária, pelo que, quase todo o espólio provém da área descoberta. As únicas manchas de derrubes de telhado encontram-se exactamente neste compartimento (UEs 292 e 370=240=388), embora com franjas para os ambientes E e F (UE 369=239=250=251=411=326) e F (UE 410=438), cuja mancha se explica pela pendente da encosta que naturalmente obrigou à deposição dos derrubes de telhado num sentido O-E, extravasando o perímetro do ambiente D. O seu espaço descoberto (ambientes A, B, H e E) não apresenta assim nenhuma evidência de derrube de telhado, embora as suas UEs possam conter fragmentos de cerâmica de construção, nomeadamente tegula e imbrex. Não possui igualmente qualquer evidência de pavimento artificial, apresentando apenas um certo alisamento da rocha-mãe, tal como acontece na construção nº 1. Constitui um espaço de

complexa e múltipla funcionalidade, particularmente no que respeita aos ambiente A, B e H. O ambiente H separa os dois primeiros. É formado por dois muros com cerca de 1,9 e 2,0m de comprimento (muros sul e norte respectivamente) que distam entre si cerca de 0,5m. A planta deste ambiente sugere a classificação de pseudo (caso esta zona não possua cobertura) silo/armazém (pseudo horreum), embora no seu interior não surjam evidências deste uso, pelo que uma função simbólica é plausível, a par das situações detectadas no ambiente A (Barata, 1999c). O pavimento do ambiente H apresenta apenas duas leves depressões no xisto (0,1m de profundidade máxima) ligadas por sulco estreito e comprido. Imediatamente a Norte deste ambiente, já no ambiente B, a UE 423 é composta por terra castanho-avermelhada, compacta, contendo materiais de construção, com pedra de calibre semelhante à dos muros do ambiente H, pelo que poderá constituir um derrube deste muro, e telha. Apresenta um fundo de dolium in situ (os restantes fragmentos conhecidos deste dolium encontram-se dispersos pela UE 422 (ambiente B) e pelas UEs 395, 418=435 (ambiente C). A UE 423 deposita-se sobre a UE 440, composta 103

Fig. 4 - Planta da construção nº 2 de Chãos Salgados.

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por terra xistosa, muito compacta, de cor esverdeada, cuja interpretação como taipa é plausível. Esta pequena mancha de taipa (?) poderia ser parte de um derrube da parte superior do muro norte do ambiente H ou ser um derrube de uma hipotética cobertura em matéria orgânica que contivesse mistura argilosa (contudo, não existe qualquer outro vestígio de cobertura orgânica, pelo que mantemos a tese de que apenas o ambiente D seria coberto, por telhado de imbrex e tegula). O ambiente A é sem dúvida o mais difícil ao nível da interpretação. Uma primeira abordagem foi realizada por Filomena Barata (1999), apresentando-se agora uma descrição estratigráfica na sua totalidade. O chão em xisto apresenta três cavidades na zona norte, com cerca de 0,1/0,15m de profundidade, contendo cerâmicas depositadas intencionalmente (UEs 430, 431 e 436, sendo estas duas últimas geminadas). Este ambiente é atravessado no sentido O-E, por uma cavidade longa no xisto (UE 428), com cerca de 0,1/0,2m de profundidade e largura heterogénea de 0,15/0,2m, na parte mesial, e cerca de 0,4m nas duas extremidades alargadas, formando um “L”. Esta cavidade não possuía deposições intencionais, como acontece nas UEs 430, 431 e 436, embora também apresente muita cerâmica moída como a UE 430. A cavidade preenchida pela UE 428 desemboca, através de um estreito canal escavado na rocha, no sistema de canalizações deste edifício. No ambiente A encontram-se ainda dois alvéolos de 0,1m de diâmetro (UEs 432 e 433), imediatamente a Este e Norte da cavidade da UE 428, cuja terra rica em carvão indicia possível função de buracos de poste. Um vasto sistema de canalizações caracteriza este edifício, contribuindo para a tese da ausência de cobertura nos ambientes A, B, H. A cavidade preenchida pela UE 428, no ambiente A, continua, para Sul, ao longo do ambiente I (atravessando o muro sul do edifício), e para Norte, curvando imediatamente para Este, passando por debaixo do compartimento pavimentado a opus signinum (ambiente D) e desembocando na trama de canalizações visível no exterior este do edifício (ambiente F) onde forma uma rede de drenos, estando um pequeno segmento forrado por um lajeado de calcário (e um bloco de opus signinum) que encosta ao muro este do edifício. Uma outra canalização, no ambiente B, mal conservada, iria desembocar na canalização que, vindo do ambiente A, atravessa o ambiente D. Um outro troço de canalização mal conservado é visível no ambiente exterior G (a Norte), seguindo também no sentido O-E. Estas canalizações, levemente escavadas na ro-

cha (0,03/0,05m), possuem largura média de 0,2m.

3.1.3. Evolução crono-estratigráfica Para além da aparente variedade funcional dos diferentes espaços deste edifício, as diferentes unidades estratigráficas não são totalmente elucidativas quanto à evolução crono-estratigráfica dos vários ambientes, embora se possam traçar linhas mestras, em particular, no que respeita às cronologias de fundação (terceiro quartel do século I d.C.) e abandono (meados do século V), tendo em conta, particularmente, os dados do ambiente I (onde o enchimento de vala de fundação de muro é-nos esclarecedor para o primeiro caso) e dos ambientes D, F e G (cujos níveis de derrubes de telhado e abandono informam-nos sobre as datas para o segundo caso). Podemos ainda colocar a hipótese de um período intermédio, que poderá ter ocorrido nos ambientes B e A, já que a UE 395 (ambiente C), equivalente à UE 399 do ambiente B, possui uma datação indefinida a partir do século III pleno, embora possa atingir o século V, e cobre boa parte do ambiente B, amortizando-o. Mais relevante ainda é o facto de esta UE 399 amortizar sem dúvida o ambiente H (pseudo horreum), pois cobre os seus muros. No ambiente A, a UE 293 parece ser igualmente a última unidade de ocupação, e data-se nos finais do século II ou séc. III; aqui, não ocorre nenhuma fase clara de amortização, pois a UE 259 tem atributos sedimentológicos típicos de unidades de formação pós-arqueológica. Concluindo, é possível que tenha ocorrido uma amortização do espaço aberto do edifício no século III, mantendo-se em uso, a partir deste momento, apenas a sala coberta (ambiente D). Os dados cronológicos que a terra sigillata nos permite auferir não são contudo suficientes para se aceitar cabalmente esta hipótese, embora tenham um padrão tipológico de terra sigillata claramente distinto e anterior ao padrão do ambiente D (Fig. 11). A terra sigillata sudgálica é a única produção presente no ambiente I, cujo enchimento da vala de fundação do muro sul do edifício (UE 328=327) forneceu dois fragmentos indeterminados, embora um deles, sendo um fundo de prato com moldura fina interna, possa indiciar cronologia de fabrico anterior aos flávios (Polak, 2000). As duas unidades respeitantes aos derrubes do ambiente D (UEs 405=434=459=252 e 370=240=388) demonstram cronologias da primeira metade do século V, sendo que a primeira das unidades, hipoteticamente ainda de circulação, é possuidora de algum entulho de construção e de algum derrube de telhado, 105

e pode centrar-se melhor no segundo quartel da centúria. Contudo, o derrube de telhado mais consistente só ocorre possivelmente em meados do século (UE 370=240=388). O conjunto tipológico destas duas UEs, composto por Hayes 61 A/B, 64 e 91B, cujas cronologias iniciais decorrem na primeira metade do século V (Bonifay, 2004; Hayes, 1972) não permite contudo estender a datação pela segunda metade da centúria, apesar de os tipos Hayes 91B e 64 continuarem a ser produzidos nessa época. Destaca-se, neste ambiente, a total ausência de níveis de circulação cabais, pelo que esta sala parece nunca ter contido equipamento no seu interior e ter sido até objecto de uma limpeza constante durante o seu tempo de vida, actividade essa facilitada pelo facto de o seu pavimento ter sido feito em opus signinum. Os níveis de abandono do ambiente F e sobretudo do ambiente G apresentam uma homogeneidade cronológica também ela já frisada anteriormente (Quaresma, 1999b). A Hayes 59B do ambiente F (Fig. 11, nº 10) pode datar-se de finais do IV ou primeira metade do século V (Hayes, 1972; Hurtado et al, 2008), e os vários fragmentos decorados (estilos A(ii) e A(ii)-(iii) de Hayes, 1972) do ambiente G (Fig. 11, nºs 11-16) variam entre a segunda metade do século IV e a primeira metade da centúria seguinte (Quaresma, 1999b, p. 71). Por outro lado, a UE 369=329=250=251=411=326 do ambiente F é igualmente um derrube de telhado, pelo que a sua constituição indica inequivocamente uma situação de abandono. O ambiente A não possuía muitos fragmentos de terra sigillata e o seu conjunto apresenta uma cronologia entre os séculos I e III d.C., o que poderá indiciar uma menor utilização deste espaço em época baixo-imperial, pelo menos a partir da segunda metade do século III, não se observando uma clara amortização clara do espaço, ao contrário do que sucede no ambiente B. O dado mais recente é um exemplar de Hayes 14B=Lambolglia 3b1 (primeira metade do século III; Bonifay, 2004, Fig. 11, nº 3), conservado em cerca de 50%, na UE 293 e em parte na UE 259 (que contém igualmente uma Dressel 14 lusitana; Fig. 11, nº 4), relacionáveis com a amortização ou abandono do espaço. As unidades mais antigas deste espaço, UEs 430, 431, 436 e 428, foram já, nos três primeiros casos, objecto de uma publicação (Barata, 1999c). As UEs 430, 431 e 436 (Fig. 6) são enchimentos de alvéolos na rocha-mãe com terra e cerâmicas comuns, que denunciam função simbólica. No caso da UE 431, um vaso de cerâmica comum, de fabrico fino e decoração cuidada em guillochis, continha um 106

bloco grande de quartzo, mas não se encontrava em posição invertida. Na UE 430, uma tigela de cerâmica comum encontrava-se invertida e esta unidade possuía ainda um pequeno fragmento liso de terra sigillata sudgálica sem forma atribuível. A UE 436 possuía um As de imitação de Cláudio (?). Na UE 428, cuja função discutiremos infra, registou-se um exemplar de Drag.15/17 de Andújar. A UE 385=314 (Fig. 11, nºs 1-2), que se deposita sobre a rocha-mãe e sobre os alvéolos descritos, conjuga uma Drag.18 sudgálica de perfil pesado (Passelac & Vernhet, 1993) e uma Drag.15/17 de bordo liso (com cronologia mais avançada) de Andújar (Mayet, 1984). Esta produção está ainda presente na UE 372, mais recente do que a 385=314, através de uma Drag. 27 de perfil já algo avançado (bordo sem moldura, mas diâmetro de bordo mediano). O ambiente B possui apenas terra sigillata africana A2 e C1/C2 (Atlante I), cujo reduzido espólio indica uma cronologia de transição do Alto para o Baixo-Império, em claro contraste com o ambiente A. A UE 403, uma fina camada depositada sobre a rocha-mãe, possui apenas um fragmento indeterminável de africana A2, provavelmente demonstrando uma posição de uso quotidiano. O bojo de terra sigillata africana C1/C2 provém da UE 399, que formaria uma mesma realidade com a UE 395 (ambiente C) e constituem a amortização do espaço. As duas unidades de uso deste ambiente são escassas em espólio. Apenas na UE 398 surgiu um bojo de terra sigillata africana C1/C2. Esta cronologia de século III, e o facto de a unidade que lhe subjaz (UE 424=439a) conter algum material de construção, tornam menos segura a atribuição destas unidades à fase de circulação. O ambiente C revelou-se o mais rico em terra sigillata, seguido pelo ambiente A. Contudo, nunca é demais frisar que este contexto define-se como de deposição secundária, sendo um enchimento progressivo de uma vala de protecção do edifício, utilizada cumulativamente como lixeira. A UE 465, na base, é uma unidade escassa em materiais e data-se da etapa final do Alto-Império. Pelo contrário, a UE 418=435 é mais ricamente constituída e possui apenas produções africanas de terra sigillata, com cronologias nunca anteriores a finais do século II / inícios do III d.C. (tipo Hayes 14; Bonifay, 2004). Esta cronologia é conferida igualmente pelo conjunto anfórico que contém já Lusitana 3 ou Alm.51c (Fig. 11, nºs 8-9), para além de Dressel 14. O pequeno pote tipo Pasqualini 1996,

tipo D data-se entre 50 e 200 d.C.. A UE 395 contém materiais claramente fora do seu contexto cronológico de uso (terra sigillata de Andújar) e todo um conjunto baixo-imperial de origem africana, no qual a Hayes 44 (africana C1/C2) aponta para uma datação a partir de cerca de meados do século III (Hayes, 1972); contudo, um bojo de fabrico possivelmente tardio (africana C3) possibilita uma extensão cronológica até aos séculos IV / primeira metade do V (Atlante I). O conjunto anfórico, composto pela Dressel 14, bem como a ânfora Lusitana 3 (Fig. 11, nº 6), parece excluir, na ausência da Almagro 51c, uma cronologia muito posterior ao século III, já que estes tipos não atingem cronologias mais baixas (Silva & Soares, 1993, p. 109; Mayet & Silva, 1998, p. 120; Fabião & Carvalho, 1990).

3.1.4. Distribuição espacial de alguns dados Escória de ferro ou cobre Tal como nas construções nºs 1 e 3 (domes) da área residencial de Chãos Salgados, também este edifício possui uma forte concentração de escória, denunciando uma relação com a actividade metalúrgica do ferro ou do cobre1. Como dito anteriormente (Quaresma, 2003, p. 56-7; 2012) existiria uma provável zona de trabalho metalúrgico no topo da cumeada do actual Centro Interpretativo. A prová-lo está o facto de, na sondagem A4, imediatamente a Oeste deste edifício, se ter encontrado 241 fragmentos de escória e níveis com bastantes cinzas, o que justifica a proximidade de estruturas de trabalho (neste área externa, na UE 248, surgiu um As de imitação, possivelmente de Cláudio). Torna-se também muito provável que o ambiente A da construção nº 2 estivesse relacionado de alguma forma com esta actividade, visto possuir a maior concentração de escória do edifício. Aliás, só foram encontrados dados substanciais de escória neste espaço descoberto interno do edifício – o ambiente D apenas revelou 3 fragmentos – e nos ambientes exteriores, nomeadamente na vala de protecção do ambiente C e no ambiente F. O ambiente B, também interno e descoberto, com apenas 2 fragmentos de escória, revela outros dados e funcionalidades.

Dolia Para além da semelhança do ambiente H com as estruturas dos horrea, a frequência de dolia no ambiente B contribui para a diferenciação funcional deste sector em face do ambiente A. Como já afirmado supra, o ambiente B revelou um fundo in situ de um dolium, mas também outros 4 bojos, só sendo ultrapassado em número pelos ambientes externos C e F. O ambiente A apenas forneceu 1 bordo e o ambiente D (coberto e sem evidência de cerâmica comum) forneceu 1 bojo liso e um bojo epigrafado. Ânforas O material anfórico está densamente representado no ambiente C, claramente maioritário e com alguns fragmentos de grande tamanho, seguido pelo ambiente F, pelo que estes dois valores apresentam similitudes com a disposição dos dolia. O ambiente A parece ter tido alguma importância na disposição destes contentores, tal como o ambiente D, embora a posição dos fragmentos, em derrubes de telhado, não permita aferir com segurança que esta tipologia cerâmica tenha feito parte da utilização quotidiana deste compartimento, podendo apenas ter-se juntado ao derrube de telhado por fenómenos pós-deposicionais. Raciocínio aliás que também pode ser aplicado aos poucos fragmentos de cerâmica comum encontrados neste ambiente D. Era de esperar, tendo em conta a importância do dolia e do possível horreum (ambiente H), conjugado com o ambiente B, que este possuísse mais exemplares de ânforas, o que não se verifica e pode relativizar a classificação de horreum para o ambiente H. Material osteológico O material osteológico revela alguma homogeneidade na sua distribuição pelos ambientes internos, A, B e D, embora se denote uma gradação entre o ambiente D (11 frags.), o ambiente A (8 frags.) e o ambiente B (2 frags.). O ambiente C revela bem a sua funcionalidade secundária como entulheira, possuindo 40 fragmentos. Terá ocorrido a esta estrutura o mesmo que sucedeu à vala forrada a opus signinum que protegia a construção nº 1 da encosta, servindo de zona de deposição secundária de materiais (lixeira).

1 - Não existem análises laboratoriais sobre estes materiais para determinar a sua composição. 107

Ao nível da classificação, o espólio das construções nºs 1 e 2 resultou numa maioria de fauna doméstica (80,6%: relatório de M. Mackinnon, em Quaresma, 2009, capítulo 6), contra 19,6 % de fauna selvagem, revelador da integração económica desta cidade, e muito semelhante aos resultados de meios urbanos como Munigua ou Scallabis, bem como de villae como Torre de Palma, e contrastante com as percentagens obtidas na Ilha do Pessegueiro, de vocação industrial, mas com ritmos crono-económicos semelhantes. Aqui, a fauna doméstica representa apenas 56,9%, pouco acima da restante, selvagem.

3.1.5. A origem da construção nº 2: uma reprodução romana imperial do chamado “templo céltico”? 3.1.5.1. Comparação dos dois edifícios Os dois edifícios (Figs. 4 e 5) foram objecto de campanhas de escavação cujos resultados finais permitiram percentagens diferentes de conhecimento

das duas plantas. Assim, a construção nº 2 parece ser integralmente conhecida, faltando apenas escavar o troço norte da vala de opus signinum (ambiente C) exterior ao edifício. Já o “templo” foi apenas objecto de quatro sondagens internas e uma externa (Biers, Biers & Soren, 1982; Biers et al, 1983). Os dois edifícios apresentam uma orientação bastante semelhante: a construção nº 2 encontra-se virada para Sul-Sudoeste, enquanto o “templo céltico” desvia-se mais acentuadamente para Sul. Também semelhantes são as formas e dimensões de ambos. O “templo” apresenta igualmente uma divisão rectangular no interior de uma outra maior, embora a disposição seja simétrica à da construção nº 2. As medidas gerais aproximam-se. O “templo” possui 10,9m de comprimento este-oeste, por 9,2m de largura norte-sul; assim, o “templo” é um rectângulo este-oeste, enquanto que a construção nº 2 é um rectângulo norte-sul, residindo aqui uma diferença. O compartimento interno do “templo” é um rectângulo com 6,9m de comprimento interno, por 5,2m de largura interna, e 7,55m de comprimento,

Fig. 5 - Fase 1 do “templo da Idade do Ferro”, segundo Biers, Biers & Soren, 1982; Biers, et al, 1983. Imagem trabalhada a partir de Biers et al, 1983, p.54, fig.1. Fase 2 do “templo da Idade do Ferro”, segundo Biers, Biers & Soren, 1982; Biers, et al, 1983. Imagem trabalhada a partir de Biers et al, 1983, p.54, fig.1. Fase 3 do “templo da Idade do Ferro”, segundo Biers, Biers & Soren, 1982; Biers, et al, 1983. Imagem trabalhada a partir de Biers et al, 1983, p.54, fig.1. 108

por 6,95m de largura externos. Para a sua construção recorreu-se a uma alvenaria com bastantes lajes de xisto e pedras de origem sedimentar de melhor talhe, como são os arenitos ou as margas e as dolomias, recorrentemente utilizadas em época romana neste povoado. Também parece não ter sido utilizada como ligante nenhuma argamassa, mas tão-só alguma terra barrenta. Nos dois artigos supra-citados, a equipa luso-americana faz uma síntese das principais conclusões obtidas em dois anos de campanhas de escavação. A sondagem externa ao “templo” permitiu constatar um nível do século IX ou VIII a.C., bem como confirmar que o muro norte da estrutura original (mais tarde transformada em compartimento interno) não está imbricado com o restante muro norte da caixa externa do edifício (Biers, Biers & Soren, 1982, p. 40; Biers, et al, 1983, p. 55, fig.2). Reside aqui, contudo, uma incoerência na análise da equipa, pois denominam de “muralha” (Biers, et al, 1983, p. 55, fig.2) o troço de muro norte que delimita aquilo a que chamam igualmente de “temenos” (Biers, et al, 1983, p. 56). Por outro lado, já se afigura correcto dizer que o muro norte do “templo” não se encontra imbricado com o restante muro norte que segue para Oeste e que denominam igualmente de “muralha”. Não querendo agora discutir a aplicação do conceito de muralha a esta estrutura, diga-se porém que parece correcta uma outra possível fase construtiva: a construção do temenos seria posterior à do compartimento original, já que o muro norte de ambos não se encontra imbricado. A equipa luso-americana não apresenta, contudo, nenhuma proposta de datação, afirmando apenas que o temenos será mais tardio que o seu compartimento interno (Biers, et al, 1983, p. 56). Deve frisar-se, no entanto, a relatividade dos faseamentos propostos quando baseados essencialmente na conjugação dos muros (se é verdade que o muro norte do compartimento original não imbrica com o do temenos, a verdade é que este já se encontra imbricado com a restante “muralha” que segue para Este!), pois exemplos como este podem ser reveladores de que por vezes podem confundir-se variações construtivas de uma mesma fase com diversidade cronológica. O “templo” teria uma altura conservada de 1,65m, sendo que o primeiro pavimento foi datado do século IV a.C.. Um nível de lixeira datado de meados do século III a.C. indicia um abandono do edifício, reutilizado a partir do século II a.C., através de uma remodelação que transfere o temenos ligeiramente para Este. Assim, o muro oeste do compartimento interno (que é igualmente um muro externo) desloca-se 0,6m para Este e um nível de cinzas

datado de 150 a.C. cobre o primeiro muro este do temenos, entretanto abandonado, construindo-se um outro muro ligeiramente a Este (Biers, et al, 1983, p. 56). Este segundo muro do temenos apresenta um desvio claro, configurando uma rotação do edifício (de Sul-Sudoeste para Sul), também visível no muro oeste do edifício. Assim, tanto o primeiro como o segundo muros oeste têm um troço comum, na sua extremidade norte; os dois muros este não possuem troço em comum, mas o espaço interno entre eles forma uma área trapezoidal, com 0,12m de largura junto ao muro norte e 0,4m de largura junto ao muro sul. Este segundo temenos possuía um pavimento de lajes de xisto datado a partir de 100 a.C.. Nesta última fase do “templo”, este ganharia também uma outra planta no seu compartimento interno, já que este passaria a ter uma pequena divisória separando dois espaços com medidas internas Norte-Sul de 3,99m e 1,2m. Os autores defendem que esta seria uma adaptação “proto-romana” de um edifício indígena à mentalidade greco-romana e aos templos divididos em pro-naos e naos, tal como terá o futuro templo centralizado do forum (Biers, et al, 1983, p. 57-8). No artigo de 1982 (Biers, Biers & Soren, 1982, p. 39), defende-se a existência no compartimento interno (sondagem mais próxima do canto nordeste) de um pavimento datado de meados do século I d.C., o que forneceria uma evidência da perduração deste edifício em época alto-imperial, mas esta evidência não volta a ser exposta no artigo de 1983. Sob este pavimento encontraram-se duas tigelas depositadas de maneira invertida, uma delas contendo uma ave no seu interior (Biers, Biers & Soren, 1982, p. 39; Biers, et al, 1983, p. 58). No segundo artigo propõem uma datação de inícios do século I a.C., embora estes materiais se encontrem associados a materiais de meados do século I d.C. (Biers et al, 1983, p. 58). Estas duas tigelas enquadram-se numa mesma tipologia cerâmica de outras encontradas na construção nº 3 (domus junto à calçada) e na construção nº 2 da encosta do museu, ambas, como já dito, com cronologias iniciais da segunda metade do século I d.C.. Na construção nº 3, uma taça semelhante foi depositada com ossos de ave num alvéolo da rocha-mãe; e na construção nº 2, uma das taças encontradas no ambiente A, depositada na UE 430, possui também forma e tamanho semelhantes (Barata, 1999c, Fig. 6). Esta tigela da construção nº 2 mede 170mm de diâmetro de bordo e 45mm de diâmetro de pé, e tem uma altura de 65mm. É enquadrável (tal como as outras 3 referidas) no tipo III-A-1 de Inês Vaz Pinto (2003, p. 221-2, 224-5), “tigela hemisférica com o bordo simples ou levemente espessado, arredondado 109

3.1.5.2. A transição da cultura material ao longo do século I d.C.: alguns casos peninsulares

Fig. 6 - Deposições nas UEs 430, 436 e 431 do ambiente A da construção nº 2 (Barata, 1999c).

ou aplanado, com presença mais acentuada nos horizontes 1 e 2 de São Cucufate, datados da segunda metade do século I até ao segundo terço do século II (Vaz Pinto, 2003, p. 45), e bem representada numa série de outros sítios meridionais do território actualmente português, quer em contextos habitacionais, quer em necrópoles. É até digno de destaque o seu quantitativo na necrópole de Santo André (Montargil), datada da segunda metade do século I / primeiro quartel do século II, onde totaliza 32 exemplares num total de 39 malgas. Segundo a mesma autora, esta forma está igualmente bem representada na costa alentejana, na Ilha do Pessegueiro e na villa da Courela dos Chãos, bem como na necrópole do Monte da Sardinha, datada a partir de Cláudio. Apesar de não ser conhecida a totalidade do espólio do “templo”, bem como um mapa da sua distribuição espacial, como foi possível fazer para a construção nº 2, este espólio torna-se um outro factor de conexão entre as duas estruturas arqueológicas em comparação e, se é segura a cronologia inicial da construção nº 2, bem como o seu método construtivo e mobiliário exclusivamente romano, a verdade é que a escavação parcial do “templo” torna as datações e a sua classificação arquitectónica / funcional bastante mais precárias. Terá sido, apesar da incerteza quanto à sua cronologia final, das poucas estruturas indígenas que não foram arrasadas pela construção do forum. É aqui nosso intuito tão-só chamar a atenção para duas estruturas semelhantes, mas simétricas, e com alguns elementos de espólio que podem fornecer-lhes um fio condutor, numa época de mudança entre o povoado indígena e a cidade romana, tão mal definida neste sítio arqueológico. Estaremos perante um fenómeno de transição cultural, de modos e cronologias ainda mal estudados, pelo menos no território actualmente português. 110

Ao nível do espólio cerâmico, vários estudos sobre estes processos de transição têm sido publicados. No Norte da Gallia e na Gallia-Belgica, apesar da cronologia de conquista se situar no século I a.C., o modo de vida romano só se massificou e consumou num mobiliário cerâmico romano entre os anos 40 e 60 do século I d.C., com destaque para a assimilação da cozinha mediterrânica ou pseudo-mediterrânica (Symonds, 2005, p. 154). Na época flávia atinge-se a plena romanização do mobiliário cerâmico, com importação alargada de cerâmicas finas e comuns, embora a cerâmica comum local denote uma heterogeneidade que pode advir da permanência de hábitos locais (Symonds, 2005, p. 155). No Nordeste da Península Ibérica, a Sul da bacia do Ebro, a estratigrafia revela a manutenção, no espólio cerâmico, de cerâmica pintada ibérica até aos níveis cláudios (Burillo Mozota, 1981, p. 196, 208-209). Também os níveis de fundação do forum de Aeminium revelam a perduração de cerâmica cinzenta fina de tradição indígena em época cláudia (Carvalho, 1998, p. 96). Uma cronologia mais extensa é demonstrada pela estratigrafia de Segobriga, sítio mais interior, na bacia do alto Tejo: aqui, a cerâmica celtibérica é predominante nos níveis pré-augustos, quando representa 20% do total, face a 1,5% da campaniense (ou black glazed ware) e paredes finas (fase A da quadrícula T do sector 3); em Augusto, representa ainda 40/50%, face a 1-2% residuais de campaniense, 4% de paredes finas e 5-10% de terra sigillata itálica. A transição deve acentuar-se na época tibério-cláudia, embora não haja estratos para demonstrá-lo. Numa lixeira neroniana da quadrícula D, a presença de cerâmica indígena é já minoritária, embora ainda significativa (Almagro-Gorbea & Lorrio, 1989, p. 196). A maior perduração ocorre aparentemente na área setentrional: em Lucus Augusti, o nível 4 do sector SD 86 / “Mina” oriental, datado do século I d.C., contém muita cerâmica de tradição indígena e esta abundância parece manter-se nos inícios do século II (sector Rec90), apesar da abundante importação de cerâmica romana, como a terra sigillata (Alcorta Irastorza, 2001, p. 23-32). Ao nível da titulatura anfórica, é cronologicamente pertinente o facto de a onomástica indígena desaparecer, em Carmona (Baetica), na época flávia (comunicação de E. García Vargas no 26th Congress of the Rei Cretariae Romanae Fautores. 2008).

Tal como afirmámos numa outra apresentação sobre o caso de Chãos Salgados (Quaresma, no prelo), este conjunto de fenómenos, para além de revelar um processo gradual de transição, demonstra que a romanização passou igualmente por um processo de cultural bricolage - como propõe Nicola Terrenato acerca da Itália tardo-republicana - paralelo a uma global acculturation (ver supra cap. 2). O caso vertente de Chãos Salgados, com transição de um protótipo central do povoado indígena para uma área periférica da cidade romana, no 3º quartel do século I d.C., pode ser uma evidência empírica de uma interpretatio de um edifício nativo, mimetizado na planta, mas com uma nova técnica construtiva e sobretudo, uma nova cultura material, ambas plenamente romanas. 4. MUDANÇA AMBIENTAL (?) EM CHÃOS SALGADOS DURANTE O SÉCULO III / INÍCIOS DO IV: A CONSTRUÇÃO Nº 1 Como dito no preâmbulo (vide supra), este sector teve uma primeira apresentação estratigráfica e dos quantitativos de terra sigillata aquando da nossa dissertação de mestrado (Quaresma, 2003), à qual sucedeu um estudo do conjunto total de materiais datantes na nossa dissertação de doutoramento (Quaresma, 2012). Deste modo, por ser uma situação menos inédita, faremos uma apresentação estratigráfica mais abreviada do que no caso da construção nº2.

4.1. Planta e principais atributos construtivos Situada igualmente na encosta do actual Centro Interpretativo, a cerca de 20m de distância da construção nº 2, esta domus ocupa assim um lugar igualmente periférico na cidade (Figs. 2 e 7). A sua orientação é muito ligeiramente diferente da da construção nº 2, aproximando-se mais das direcções N-S e E-W. Também aqui não foi possível determinar a entrada da habitação, embora sobre este tema ainda nos debrucemos infra. O método construtivo empregue é o recorrente em muitos sectores da cidade - uma alvenaria simples, maioritariamente sem recurso a qualquer inerte de qualidade como a argamassa, tendo os habitantes quase só recorrido a uma terra barrenta para consolidação das pedras com calibre médio de 0,1 a 0,2m de comprimento por 0,1m de altura, embora muitos materiais tenham medidas mais irregulares. Por essa razão se constata o uso de tijolos ou telhas para pe-

quenas regularizações das fiadas de pedra, embora sem deixar de se apresentar como um opus incertum. Apenas no muro oeste encontramos um uso mais acentuado de silhares de maiores dimensões, compreensível já que aqui, a estrutura teria de fazer face à pendente da encosta e a possíveis corrimentos de águas pluviais de uma cota superior. Os derrubes deste muro, nos ambientes 3 e 4 (UEs 393=446 e 429=457), apresentam também nódulos de argamassas, comprovando um maior esforço qualitativo neste lado da habitação. A espessura média do muros é de 0,55m, embora atinja 0,62m mos muros oeste e este, que teriam de suster mais gravemente as forças gravitacionais provocadas pela pendente da encosta. Em termos funcionais podemos interpretar do seguinte modo a planta da habitação: Ambientes 3 e 5 (13,5 e 8,8 m2), como cubicula, sendo essa função mais nítida no ambiente 5, pela sua pequenez e pela ausência de comunicação directa ao atrium da casa (ambiente 4). Ambiente 4 (11,7 m2), como atrium, já que axializa, embora de modo imperfeito (não existe uma terceira fiada de divisões a Oeste), os diversos compartimentos. Ambiente 6 (24,6 m2), como tablinum (é neste ambiente, seguido pelo ambiente 7) que encontramos o maior número de fragmentos de peças cerâmicas ou vítreas. Ambiente 7 (12,2 m2), como cozinha, devido à existência neste compartimento de dreno rupestre que desagua no ambiente 6, de onde seguiria para o exterior da habitação. Falaremos infra deste dreno, importando agora frisar que ele não existe nos ambientes 3 e 5, supostos cubicula. As únicas passagens comprovadas ligavam os ambientes 7 e 4, 7 e 6, e 4 e 6. O perímetro externo da habitação ronda os 95,88m2 de área (10,2 por 9,4m), embora tenha sido idealizada para possuir uma área de 157,9 m2 aproximadamente, já que a vala da UE 449 (ambiente 1) seria uma fundação de muro, a correr desde o muro oeste e fazendo um cotovelo para um muro sul. Nunca serviu como fundação de muro, mas tão-só como lixeira de materiais numa fase antiga (época flávia) da vida da domus. Também externamente, a Norte, situa-se uma pequena vala rupestre, sem qualquer relação planimétrica com a habitação (embora de orientação semelhante), preenchida pela UE 351, igualmente de cronologia flávia, mas que, ao contrário da UE 449, contém apenas algum material cerâmico, mormente abundante escória de ferro ou cobre. Aliás, tal como no sector da construção nº 2 (e na domus nº 3), foi

111

Fig. 7- Planta da construção nº 1 de Chãos Salgados (desenvolvida a partir da base cartográfica das Ruínas Romanas de Miróbriga).

detectada uma abundante quantidade deste minério rejeitado na domus nº 1. A parede oeste da habitação possuía, tal como a construção nº 2, uma vala externa, escavada na rocha e forrada a opus signinum (ambiente 2), para impermeabilização da casa, em face das águas da encosta. Este dreno seguia, em cotovelo, para o ambiente exterior norte, aqui, sem qualquer forro. Todo este dreno oeste e norte serviu gradualmente de lixeira ao longo da vida da habitação, tendo necessariamente

2 - Ver Fig. 12a-d.

112

perdido eficácia, ou mesmo a sua função, ao longo do tempo.

4.2. Evolução cronológica2 Os ambientes 1 e exterior norte, bem como as UEs 351 (vala a Norte da habitação) e 478=472=482 (vala de fundação do ambiente 6) fornecem os elementos datantes para o início da vida deste sector,

no terceiro quartel do século I, provavelmente já nos inícios da época flávia. A UE 478=472=482 possui um fragmento de Drag. 18 sudgálica (embora com infiltração baixo-imperial de terra sigillata africana. A UE 458=469, na base do ambiente exterior norte (Fig. 12, nºs 1921), possui um conjunto homogéneo da segunda metade do século I, embora a ausência de formas verdadeiramente flávias, como a Drag.37 (sudgálica ou hispânica) ou de tipos hispânicos como a Hispânica 4, permitam propor o terceiro quartel da centúria como datação, algo também sugerido pela presença, provavelmente residual, de um bojo decorado com o motivo de nautilus, numa Drag.29 sudgálica (Fig. 12, nº 20), cuja datação de fabrico não ultrapassa a época neroniana (Oswald & Pryce, 1920, p. 72; Fiches, Guy & Poncin, 1978, p. 193). Os enchimentos das valas externas, UE 449 do ambiente 1 e vala a Norte preenchida pela UE 351, são claramente flávios, pelo que devem ter tido início um pouco após o início da vida da habitação. A UE 351 (Fig. 12, nºs 1-2) possui um almofariz regional, datável a partir de meados do século I (bordo em martelo; fase 2 de Quaresma, 2006) e um bojo de Drag.29 ou 37 sudgálica, com estilo de métopas que pode recuar ao período de transição sudgálico, datado entre 60 e 80 d.C. (Passelac & Venhet, 1993). É sem dúvida a UE 449 (Fig. 12, nºs 3-16) do ambiente 1 que fornece os dados mais ricos para este período flávio, com um conjunto de terra sigillata composto por peças de origem sudgálica e hispânica (maioria), com predomínio de La Rioja neste último conjunto. A presença de um exemplar do tipo Drag.37 sudgálico (Fig. 12, nº 4), contextualiza o depósito a partir de, pelo menos, Nero (Farine, 1996), não devendo ultrapassar o fim do século I, pois a produção africana está ausente. O vidro Isings 106(?) e a taça de paredes finas, Mayet 38b(?), são coerentes com esta datação, já que a primeira forma terá iniciado a sua produção em Cláudio-Nero (Xusto Rodríguez, 2001, p. 161) e a segunda, com decoração mamilada, ainda se produzia nesta época (Mayet, 1975, p. 79). No mesmo ambiente 1, a UE 443 (Fig. 12, nºs 17-18), preenche a vala de fundação do muro sul da habitação e a sua cronologia de finais do século I pode definir-se também como flávia, datação do vidro de perfil cerâmico (Berger, 1960, p. 26, est.17, nº1). No interior da habitação encontramos duas situações crono-estratigráficas, em termos de ambientes. Por um lado, as diversas UEs dos ambientes 3 e 5 (cubicula) possuem apenas material que podemos datar no século II, sendo mesmo o conjunto muito escasso no ambiente 3, onde se destaca uma Hayes 9A

africana, cuja cronologia começa em 100 d.C. (Hayes, 1972; Fig. 12, nº39). Os vidros do ambiente 3 (Fig. 12, nºs 42-45), tipo Isings 26, 36(?) e 42(?) (Isings, 1957, 40, 50 e 58) são também alto-imperiais, a par do almofariz regional, tipo Emporiae 36,2 (Quaresma, 2006) e da escassa sigillata hispânica, bem como dos numismas que remontam ao século I. Sem ter ocorrido qualquer amortização destes espaços em época baixo-imperial, a verdade é que eles devem ter perdido algum primado de utilização, ou de locação de mobiliário, a partir do século III, embora a sua função na orgânica da casa permanecesse indispensável. Por outro lado, nos ambientes 4, 6 e 7 (atrium, tablinum e cozinha) encontramos unidades com cronologia exclusivamente baixo-imperial, cuja explicação se encontra bem esclarecida no primeiro destes compartimentos. Como já referido anteriormente (Quaresma, 2003, 2009 e 2012), o ambiente 4 era aberto durante o Alto-Império, quando existia, não um impluvium, com compluvium, mas apenas um dreno circundante, dotado de cifões largos e fundos, do lado norte, para evitar inundações do piso, que deveria ser em terra batida sobre a rocha-mãe afeiçoada, à semelhança de toda a habitação (Figs. 8-9). Este dreno foi amortizado com um enchimento no século III, datação da UE 517=484=483=521=520=510=528, que contém um exemplar de Hayes 14. Este enchimento do dreno foi selado por um lajeado muito simples de lajes de calcário que produziram um passadiço circundante, ao qual se sobrepôs, no canto se, uma estrutura de cerca de 0,3m de altura e 0,4 por 0,6m de lado, em alvenaria simples, como a maior parte da habitação, e que interpretamos como um possível lararium. O atrium aberto alto-imperial foi então fechado no século III, como prova a amortização do dreno. As restantes UEs deste compartimento possuem cronologias até ao século V (terra sigillata africana C, tipo Delgado, 1968, tav.III, nº1, na UE 382, embora com sigillata do Alto-Império no seu seio, sempre de origem hispânica e quase exclusivamente de Andújar: Atlante I, p. 70; Fig. 12, nº 41). O troço desta rede de segmentos interligados de drenos que se situa no ambiente 7 possui, na UE 355=456=473 (Fig. 12, nºs 55-60), de enchimento do mesmo, material baixo-imperial, com um exemplar de H58B, que se data no século IV (Hayes, 1972), bem como a pulseira em vidro (Alarcão et al., 1976, p. 211). Na UE 471=486=487=522, com a mesma função de amortização desse troço, mas na transição dos ambientes 7 e 6, o material de sigillata é todo baixo-imperial: Hayes 14B, do século III e Hayes 113

Fig. 9 - Ambientes 4 e 6 da construção nº1 de Chãos Salgados, no Alto-Império (pormenor do dreno de escoamento das água).

Fig. 8 - A – Ambiente 4 da construção nº1 de Chãos Salgados, no Alto-Império, enquanto atrium; B – no Baixo-Império, enquanto espaço fechado, com o dreno tapado por lajeado.

58B, do século IV. Sobreposta a esta UE de enchimento encontra-se a UE 481 (Fig. 12, nº 48), que preenche uma fossa arredondada, de fundação do muro divisório entre os compartimentos 7 e 6, pelo que este muro terá sido construído nesta fase de remodelação da casa, que pode ter decorrido entre o século III e início do IV. Esta UE possui Hayes 14C, datável no século III (Bonifay, 2004, p. 159), tal como o vidro Isings 86 (Xusto Rodríguez, 2001, p. 302) No Alto Império existiria apenas o muro mais curto, situado 0,6m a Este, pelo que os ambientes 6 e 7 formariam praticamente um L, nessa época. É possível também que, no Baixo-Império, se situasse entre estes dois muros a entrada para a casa, com um vestibulum incipiente (Fig. 7). Após esta remodelação baixo-imperial, não só o troço de dreno do ambiente 4 é tapado por lajeado incipiente de calcário, como segmentos de dreno no ambiente 6. Tal não foi detectado no ambiente 7. Também no ambiente exterior norte se constata o reflexo desta remodelação, pois as UEs das fases IIa e IIb, baixo-imperiais, são as que contêm cerâmica de construção em muito maior quantidade. 114

Quanto à cronologia final da habitação, o ambiente 2 não é claro (Fig. 12, nºs 34-38), pois o material mais tardio da UE 311=245=256=300=368 é o fragmento de sigillata africana A/D, tipo Lamboglia 52c, datável do século IV (Lamboglia, 1963, p. 197). O material anfórico não ultrapassa o século III, como os tipos Dressel 14 e 14c (Mayet & Silva, 1998, p. 120). É no ambiente exterior norte que se encontra, na sua última fase, composta pela UE 331=400=392=413=343 (Fig. 12, nºs 26-32), os materiais mais coerentes (Quaresma, 1999b). Os fragmentos de Hayes 61A/B são classificáveis na variante A/B4 de Bonifay (2004, p. 171), datável do primeiro terço do século V (época também atingida pelo estilo A(ii)-(iii) de sigillata africana D1: Hayes, 1972, p. 219), pelo que será nesta época ou um pouco depois (meados?) que se datará este último nível, composto ainda por um bordo de taça vítrea afim a Isings 116, datável entre meados do século IV e a Antiguidade tardia (Xusto Rodríguez, 2001, p. 361).

4.3. Uma proposta de leitura paleo-climática para a remodelação da construção nº 1 Numa primeira análise (Quaresma, 2003), havíamos dito que o fecho do ambiente 4, deixando de ser a céu aberto, a partir do século III, teria uma explicação ambiental, mas provocada por uma rejeição cultural do modelo mediterrânico de casa com pátio central aberto e que este fenómeno era já conhecido em casas romanas do Ocidente imperial, como acontece na Casa de los Plintos o del Lampadário, em Uxama Argaela, na Meseta ibérica, embora com

cronologias ainda algo imprecisas, em torno dos séculos II e III (Garcia Merino, 1991, p. 244). Trata-se de uma região de Inverno mais rigoroso, mas que tem em comum com a área serrana de Santiago do Cacém a extrema humidade que nesta época do ano torna difícil a vida numa habitação muito exposta ao exterior. Mais recentemente (Quaresma, 2012), pudemos trocar dados com a equipa da Faculdade de Ciências de Lisboa que realiza trabalho paleo-climático na Lagoa de Santo André, a 10km de Chãos Salgados3. O estudo em curso indica uma transição de um período inter-glacial típico (mais quente e húmido) para uma mini-glaciação (mais fria e seca) em torno de 270 d.C.. Outros trabalhos paleo-climáticos (Fig. 10) têm revelado a transição do Roman Warm Period (250 a.C. - 450 d.C.) para o Dark Ages Cold Period (450 - 950 d.C.) em torno desta época, mas com algumas nuances. Na Ria de Vigo, o ponto de transição situa-se em 450 d.C.; na Geórgia ocidental o fenómeno poderá ser algo mais tardio (1500 - 1400 cal BP); enquanto que, também na Península Ibérica, os trabalhos de Las Tablas de Daimiel revelam um ponto cronológico situado em 270 d.C.4, semelhante ao da Lagoa de Santo André. O balizamento das datações laboratoriais não deixa de apresentar uma boa coerência, embora seja de frisar que em Las Tablas de Daimiel se verifique uma datação ainda mais consentânea com a proposta de remodelação da domus nº 1 (habitação) de Chãos Salgados, cuja cronologia pode, como dito, ocorrer ainda nos inícios do século IV, quando começa o período de transição, atestado na Lagoa de Santo André. Em Chãos Salgados, o fenómeno de fechamento ao exterior é ainda mais relevante por estar também atestado na construção nº 2 (não habitacional), aqui, através da amortização do espaço aberto, que deixa mesmo de ser utilizado, embora a cronologia deste processo seja mais indefinida, embora aponte igualmente (UE 395) para um século III e não mais do que inícios do IV. Propomos assim uma leitura paleo-ambiental para uma mutação cultural, provocada, em nosso entender, por um estímulo ambiental nas populações.

Fig. 10 - Cronologias paleo-climáticas da transição do Roman Warm Period para o Dark Ages Cold Period.

5. CONCLUSÕES Como o próprio título deste artigo indica, são duas as grandes pistas de trabalho que queremos suscitar com este estudo. A primeira delas é um tópico recorrente nos estudos da romanização direccionados às épocas tardo-republicanas e de inícios do Império: como se processa a transição do fundo indígena para um novo paradigma social, político e cultural abrangente, vulgarmente denominado por processo de romanização? Numa área periférica como a lusitana, os estudos sobre esta temática são mais abundantes no que concerne à epigrafia e questões decorrentes, como os cultos, toponímia e antroponímia, à progressiva adopção de bens de importação “romanos”, mas geralmente não retratam fenómenos de adaptação urbanística, para além das normais adopções dos modelos exógenos em época tardo-republicana ou sobretudo augusta e flávia. Estes fenómenos mais complexos têm tido outras regiões periféricas como áreas de estudo, nas quais se destacam a Britannia e a Germania (Lucas, 2003, p. 3).

3 - Como referido no preâmbulo, devo agradecer esta partilha de informações aos Profs. César Andrade e Conceição Freitas, bem como às Dras. Anabela Cruces e Rute Ramos. 4 - As datações apresentadas, com formato d.C. ou cal BP, são as constantes no site http://www.co2science.org/subject/r/summaries/rwpeuropemed. php, cuja última actualização foi efectuada em 9-4-2008.

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Não é por isso demais voltar a relembrar a passagem de Estrabão (Geografia, III, 1, 3: Garcia Bellido, 1945) que descreve uma cordilheira central na Península Ibérica, a qual divide a região em duas grandes áreas: a ibérica e a céltica; nem a de Plínio-o-Velho, que denomina os habitantes de Miróbriga, topónimo com fortes probabilidades de se situar em Chãos Salgados, como Mirobricenses qui Celtici cognominantur (História Natural, 4.118 e 4.116: Guerra, 1995, p. 94). Os estudos da transição da cultura material em espaço peninsular são ainda raros e provam a sobrevivência ao longo do século I d.C., de atributos indígenas no mobiliário cerâmico, sobretudo nas áreas setentrionais, onde ainda parecem alcançar os inícios do século II (ver supra cap. 3.1.5.2). A segunda pista é de índole ambiental, normalmente excluída das análises dos fenómenos de mudança histórica. O caso que apresentámos situa-se já no Baixo-Império e associa-se à progressiva desconstrução da romanidade. De mais difícil correlação, os dados climáticos e arqueológicos que apresentámos para os séculos III / IV d.C. são contudo sugestivos de um estímulo ambiental para uma mudança cultural, ao nível da arquitectura, que urge confirmar ou infirmar noutros sítios: trata-se de um fenómeno histórico isolado ou de um processo, porventura lento e heterogéneo, mas que percorre uma área mais vasta? Em ambos os casos apresentados há um fio condutor: a cultura material da construção nº 2 é toda ela romana, aquando da sua construção (tal como acontece no resto da cidade romana), pelo que o fundo de cultura material indígena está já branqueado no terceiro quartel do século I d.C., sobrevivendo apenas um modelo arquitectónico; mas nos séculos III / IV d.C., quando um modelo arquitectónico romano é adaptado e, de certa forma, rejeitado, não é acompanhado por nenhuma alteração da cultura material, nem na domus nº 1, nem na construção nº 2. Esta última situação é de todo plausível quando o estímulo (cuja progressão no espaço e no tempo não está ainda bem definida) ainda não é político ou cultural (como será no final do Império Romano), mas de índole ambiental.

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Fig. 11 - Principais elementos datantes da construção nº 2 de Chãos Salgados.

Fig. 12A - Principais elementos datantes da construção nº 1 de Chãos Salgados.

Fig. 12B - Principais elementos datantes da construção nº 1 de Chãos Salgados.

Fig. 12C - Principais elementos datantes da construção nº 1 de Chãos Salgados.

Fig. 12D - Principais elementos datantes da construção nº 1 de Chãos Salgados.

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