Que telejornal o mineiro vê? Uma análise discursiva da estrutura e apresentação de noticiários em Minas Gerais

June 30, 2017 | Autor: Antônio Braighi | Categoria: TV, News, Televisão, Telejornalismo
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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS

Antônio Augusto Braighi Andrade

QUE TELEJORNAL O MINEIRO VÊ? UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO DE NOTICIÁRIOS EM MINAS GERAIS

Orientadora: Profa. Dra. Giani David-Silva Co-orientador: Prof. Dr. Flávio Luis Cardeal Pádua

BELO HORIZONTE 2012

Antônio Augusto Braighi Andrade

QUE TELEJORNAL O MINEIRO VÊ? UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO DE NOTICIÁRIOS EM MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagens. Orientadora: Profa. Dra. Giani David-Silva Co-orientador: Prof. Dr. Flávio Luis Cardeal Pádua

BELO HORIZONTE 2012  

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE LINGUAGEM E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS

Dissertação intitulada “Que telejornal o mineiro vê? Uma análise discursiva da estrutura e apresentação de noticiários em Minas Gerais”, de autoria do mestrando Antônio Augusto Braighi Andrade, aprovada pela banca examinadora composta pelos seguintes docentes:

_________________________________________________ Profa. Dra. Giani David-Silva (Orientadora) – CEFET-MG

_________________________________________________ Prof. Dr. Flávio Luis Cardeal Pádua (Co-orientador) – CEFET-MG

________________________________________________ Prof. Dr. Bruno Souza Leal - UFMG

__________________________________________________ Profa. Dra. Mônica Santos de Souza Melo – UFV

__________________________________________________ Prof. Dr. Wagner José Moreira – CEFET-MG

Belo Horizonte, 09/07/2012

 

Ao meu avô, que está vivo em minha memória e de quem herdei o nome, a cultura da dedicação e o direito de sonhar.

 

AGRADECIMENTOS

Para quem não economizou palavras, números e imagens nas dezenas de páginas a seguir, seria paradoxal limitar-se nos agradecimentos. Nada prolixo, me sinto mais detalhista, o que não poderia ser diferente aqui. Nesse sentido, começo indagando: o que seria de mim sem as mulheres? Será que só me dei conta desse questionamento quando me sentei diante da tela do computador com a missão de elencar os agradecimentos da dissertação? Ainda que eu me curvasse a elas, todos os dias, ainda seria pouco por tudo que fizeram por mim. O que dizer para uma mãe, por exemplo? Ainda que ela entenda pouco sobre o esforço que deve ser empreendido em um trabalho como este. Para manter o formalismo da dissertação, Deiara Braighi (2010-2012), diria: “desliga este computador, o final de semana foi feito pra descansar [...]”, finalizando com o tradicional “[...] minino!”. Afinal de contas, para a mãe o filho nunca cresce. Deve ser por isso que ela me apoiou, me incentivou (mesmo quando parecia desestimular), e me cercou de todo o carinho, com toda afeição possível, desde o meu primeiro segundo de vida e ao longo desta produção acadêmica. Obrigado mãe! O que repercute nas tias que, cada uma a sua maneira, me ajudaram a constituir uma base sólida para encarar o desafio do mestrado: Daisy, minha patrona; Dagmar, minha psicóloga; Denise (e Eduardo), meus padrinhos; Cida (e Carlos) atenção, palavra e carinho, além da minha avó, Vanda, meu sorriso! Obrigado à minha família! Mestrado que teve como porta de entrada a confiança de Giani David Silva, minha orientadora, mentora e referência bibliográfica macro, a quem devo agradecer pelo estímulo e fidúcia em meu trabalho. Curso conduzido ao lado de colegas de quem guardarei saudades – tais como Camila, Patrícia, Juliana Sabino, Danielle, Valéria, Silvane, Liliane, Nélson Nunes e Moisés Ramos Pereira – e sob a tutela de mestres, que me ajudaram muito a crescer, como Ana Elisa Ribeiro, Jerônimo Coura-Sobrinho, Wagner José Moreira, Vicente Aguimar Parreiras e o meu coorientador e coordenador no CAPTE, Flávio Luis Cardeal Pádua, entre muitos outros nomes da turma de discentes e docentes do mestrado em Estudos de Linguagens e de integrantes do PIIM – Grupo de Pesquisas Interdisciplinares em Informação Multimídia. Agradeço o fundamental apoio das emissoras analisadas, sobretudo a Malu Melo, Benny Cohen e à equipe comercial dos Diários Associados (TV Alterosa); Gil de Carvalho (Globo Minas); e Rafael Portugal e Samuel Guimarães (Rede Minas), pela disponibilização de todas as informações solicitadas.  

À EPAMIG e ao Uni-BH, minhas contratantes, sou grato por terem proporcionado condições para que eu conseguisse realizar o curso, produzir a dissertação e ainda ter tempo para participar de eventos em que apresentei artigos científicos. Respectivamente, registro minha gratidão aos amigos-chefes Mairon Mesquita e Karla Delfim. Nesse contexto, não poderia deixar de agradecer à Profa. Virgínia Palmerston, que tantas vezes me auxiliou (desde a graduação), e a toda uma equipe de maduros e proativos estagiários, além do colega Eurimar Cunha. Agradeço ainda o apoio do Prof. Carlos Mendonça (UFMG), no intermédio com a equipe da Globo Minas e pelas aulas da especialização e da disciplina isolada do mestrado (as mais difíceis e mais instigantes). Também agradeço o apoio irrestrito da Profa. Raquel Parreiras e o estímulo basilar da Profa. Wilma Vilaça – minha referência. Meu muito obrigado à Profa. Mônica Melo, ao Prof. Bruno Souza Leal, e, mais uma vez, ao Prof. Wagner José Moreira, por aceitarem o convite e terem composto a banca de avaliação desta pesquisa, além das contribuições que geraram para o trabalho. Agradeço ainda a Pollyanna de Mattos Vecchio pela correção atenta desta dissertação e pelas suas sugestões. Viram quantas mulheres? Mas, ainda faltou uma. Talvez a mais importante. Minha amiga, parceira, cúmplice, incentivadora, conselheira! A minha gratidão a Regina Martins Ribeiro, que compreende o significado deste trabalho para mim e com amor esteve sempre ao meu lado. Por fim, não menos importante, agradeço a Deus. Foi Ele quem colocou todas estas pessoas maravilhosas em minha vida e articulou todo este enredo. Até quando o caminho parecia longo e a porta estreita, Ele me fez passar sem nenhum problema, e o melhor: com alegria. Graças a Ele! Certamente, Deus colocou outras tantas pessoas e histórias no meu caminho. Mesmo àqueles aqui não nominados, meu carinho e reconhecimento; meu eterno obrigado.

 

RESUMO Que telejornal o mineiro vê? A questão não se refere à audiência, mas, sim, à ausência de dados sobre quais são e como se dão os modos de encenação visual e organização dos noticiários em Minas Gerais para informar e se relacionar com a audiência. Haveria um padrão nas atrações desse (sub)gênero? Nesse contexto, o objetivo geral desta pesquisa é gerar padrões sintéticos que permitam analisar como e com que intuito os telejornais deste estado, no desígnio de articular um processo comunicativo com os telespectadores, organizam-se e estabelecem discursos por meio de sua estrutura e de seus métodos de apresentação. Paralelamente, a intenção desta dissertação é ainda o de ajudar o Centro de Apoio a Pesquisas sobre Televisão (CAPTE), gerando dados que auxiliem na customização do sistema de disponibilização de vídeos televisivos e no processo de indexação dos mesmos. Como objeto de estudo, foram escolhidos três legitimados programas da região, a saber: Jornal Minas, Jornal da Alterosa e MG TV. Para tanto, utiliza-se neste trabalho de um referencial semiolinguístico, baseado nas investidas de Charaudeau (2007), e na experiência com este tipo de abordagem advindo de David-Silva (2005). Não obstante, como se propõe no desígnio geral deste trabalho, fora articulada uma ampla metodologia de divisão, observação, descrição e análise de telejornalísticos, a partir de recortes analíticos do conteúdo e de exames discursivos detalhados. Percebe-se com este trabalho que os telejornais visam uma série de efeitos junto ao público, alojados nas perspectivas da realidade, ficção e emoção (pathos). Para reconhecer essas ofensivas, foi preciso antes detalhar minuciosamente as construções empreendidas na estrutura, na vinheta, na escalada, no cenário e nas atribuições dos apresentadores de cada atração. Ao mesmo tempo, tal esforço foi fundamental para gerar os termos que beneficiarão o CAPTE. Ao final, percebese que há diferenças marcantes entre os programas, ainda que haja um padrão tonal, que revelam uma ideia de espaço público, e que as propostas dos noticiários procuram atender a uma demanda telespectadora (um destinatário idealizado) que, enfim, quer saber e sentir ao mesmo tempo. PALAVRAS-CHAVE: Análise de telejornal; Televisão; Efeitos Visados; Modos de Apresentação; Estrutura de telejornais.

 

ABSTRACT What newscast do people from Minas Gerais/Brazil watch? The question does not refer to audience, but rather to the lack of data on which visual modes of staging and organization are present in Minas Gerais newscasts and how they work in order to inform and connect with the audience. Was there a pattern to the (sub)genre attractions? In this context, the objective of this research is to generate synthetic standards to analyze how and with what purposes the TV news in this state are organized through speeches and how they establish their structure and their methods of presentation in order to articulate a communication process with the viewers. In addition, the intention of this dissertation is also join forces to the Center for Support of Research on Television (CAPTE), generating data that support in customizing the system of providing television and videos on their indexing process. The object of study consisted on three legitimate programs in the region: Jornal Minas, Jornal da Alterosa and MG TV. To do so, it was used a reference to semiolinguistics theory based on Charaudeau’s contributions (2007), and on experience with this type of approach arising from studies by David-Silva (2005). Nevertheless, as proposed in the plan of this work, we articulated a broad methodology of division, observation, description and analysis of newscasts. It was made by the combination of the potential of Analysis of Content and Discourse Analysis. It can be seen with this work that news programs are aimed at a number of effects to the public, based on the perspectives of reality, fiction and patemization. In order to recognize these offensives, it was first necessary to carefully detail the constructions undertaken on structures, vignettes, escalations, scenarios and on the presenters’ role in each attraction. At the same time, this effort was critical to generate terms that will benefit CAPTE. At the end, one realizes that there are marked differences among the TV programs, although there is a tonal pattern, it is revealed an idea of public space. It is also possible to recognize that newscasts proposals intent to meet a demand from the viewer (an idealized recipient) who, indeed, wants to know and feel simultaneously. KEYWORDS: Analysis of television news; TV; Targeted effects; Display Modes; Newscasts Structure.

 

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Modelo de Análise de Telejornais – Perspectiva 1: Elementos de Contexto e Capital Televisual ....................................................................................................................86  Quadro 2: Modelo de Análise de Telejornais – Perspectiva 2: Apresentação.........................90  Quadro 3: Modelo de Análise de Telejornais – Perspectiva 3: Estruturação ..........................91  Quadro 4: Cenografia comparada – MG TV, Jornal da Alterosa e Jornal Minas .................141 

 

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Duração das manchetes na escalada do Jornal Minas ............................................116  Tabela 2: Temáticas abordadas na escalada do Jornal Minas ................................................117  Tabela 3: Duração das manchetes na escalada do Jornal da Alterosa ....................................122  Tabela 4: Temáticas abordadas na escalada do Jornal da Alterosa ........................................123  Tabela 5: Duração das manchetes na escalada do MG TV ....................................................125  Tabela 6: Temáticas abordadas na escalada do MG TV ........................................................126  Tabela 7: Comparativo entre temáticas abordadas nas escaladas dos três telejornais ...........131  Tabela 8: As temáticas mais abordadas nas escaladas dos telejornais ...................................132  Tabela 9: As temáticas com maior tempo nas escaladas dos telejornais ...............................133  Tabela 10: Frações da participação dos apresentadores nos telejornais – Capital Visual......158  Tabela 11: Frações da participação dos apresentadores nos telejornais – Capital Sonoro.....160  Tabela 12: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados ..................................172  Tabela 13: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados por blocos ................172  Tabela 14: Comparativo da distribuição do tempo nos espaços enunciativos dos três telejornais ...............................................................................................................................173  Tabela 15: Comparativo de quantidade e tempo de entradas nos três telejornais ..................176  Tabela 16: Comparativo entre as editorias mais abordadas nos três telejornais na semana analisada .................................................................................................................................178  Tabela 17: As editorias mais evidenciadas nos telejornais em Minas Gerais ........................179  Tabela 18: Comparativo entre as editorias do bloco inicial de cada programa......................182  Tabela 19: Média das editorias abordadas no bloco inicial dos telejornais em Minas ..........182 

 

Tabela 20: Comparativo entre as editorias exibidas nos blocos intermediários de cada programa ................................................................................................................................183  Tabela 21: Média das editorias abordadas nos blocos intermediários dos telejornais em Minas Gerais .....................................................................................................................................183 Tabela 22: Comparativo entre as editorias do bloco final de cada programa ........................184  Tabela 23: Média das editorias abordadas no bloco de encerramento dos telejornais em Minas Gerais .................................................................................................................................... 184  Tabela 24: Comparativo da distribuição de Notas Cobertas por editorias ............................ 189  Tabela 25: Comparativo da distribuição de Notas Simples por editorias ............................. 190  Tabela 26: Comparativo da distribuição de Notas Pé por editorias ......................................191  Tabela 27: Comparativo da distribuição de Matérias por editorias ....................................... 192  Tabela 28: Comparativo da distribuição de entrevistas por editorias .................................... 193  Tabela 29: Comparativo da distribuição de Stand Ups por editorias .....................................194 

 

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Tensiograma da escalada do Jornal Minas............................................................118  Gráfico 2 : Tensiograma da escalada do Jornal da Alterosa...................................................124  Gráfico 3: Tensiograma da escalada do MG TV.................................................................... 127  Gráfico 4: Tensiograma comparativo das escaladas dos três telejornais................................ 130  Gráfico 5: As temáticas mais abordadas nas escaladas dos telejornais.................................. 132  Gráfico 6: As temáticas com maior tempo nas escaladas dos telejornais...............................134  Gráfico 7: Participação média dos apresentadores – Capital Visual ......................................157  Gráfico 8: Participação média dos apresentadores nos telejornais – Capital Visual..............159  Gráfico 9: Participação média dos apresentadores – Capital Sonoro..................................... 159  Gráfico 10: Participação média dos apresentadores nos telejornais – Capital Sonoro........... 161  Gráfico 11: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados................................. 172  Gráfico 12: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados por blocos............... 172  Gráfico 13: Comparativo dos espaços enunciativos dos três telejornais................................174  Gráfico 14: Número médio de entradas nos três telejornais................................................... 177  Gráfico 15: Tempo médio de entradas nos três telejornais.....................................................177  Gráfico 16: Comparativo de temáticas por tempo, nos três telejornais..................................180  Gráfico 17: Comparativo entre as editorias do bloco inicial de cada programa..................... 182  Gráfico 18: Comparativo entre as editorias dos blocos intermediários de cada programa.....183  Gráfico 19: Comparativo entre as editorias do bloco final de cada programa....................... 184  Gráfico 20: Tensiograma da estrutura do Jornal Minas......................................................... 185 

 

Gráfico 21: Tensiograma da estrutura do Jornal da Alterosa .................................................186  Gráfico 22: Tensiograma da estrutura do MG TV..................................................................187  Gráfico 23: Comparativo da tensão média dos três telejornais.............................................. 188  Gráfico 24: Comparativo da distribuição de Notas Cobertas por editorias............................189  Gráfico 25: Comparativo da distribuição de Notas Simples por editorias............................. 190  Gráfico 26: Comparativo da distribuição de Notas Pé por editorias...................................... 191  Gráfico 27: Comparativo da distribuição de Matérias por editorias...................................... 192  Gráfico 28: Comparativo da distribuição de entrevistas por editorias................................... 193  Gráfico 29: Comparativo da distribuição de Stand Ups por editorias................................... 194 

 

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Esquema EU-TU ...................................................................................................... 38  Figura 2: As seis visadas ..........................................................................................................40  Figura 3: Hierarquia das especificidades dos contratos ...........................................................42  Figura 4: Dimensões do discurso do telejornal .......................................................................44  Figura 5: Os três lugares da máquina midiática .......................................................................46  Figura 6: Contrato da comunicação midiática da informação .................................................50  Figura 7: Organização dos Telejornais ................................................................................... 58  Figura 8: Quadros-chave da vinheta de abertura do Jornal Minas .........................................108  Figura 9: Vinheta de abertura do Jornal da Alterosa ..............................................................110  Figura 10: Vinheta de abertura do MG TV ............................................................................112  Figura 11: Composição que apresenta o cenário do Jornal Minas, em diversos ângulos.......136  Figura 12: Composição que apresenta o cenário do Jornal da Alterosa, sob diversos ângulos.................................................................................................................................... 138  Figura 13: Composição que apresenta o cenário do MG TV, em diversos ângulos...............139  Figura 14: Posicionamento de câmera a partir de Gage e Meyer .......................................... 161  Figura 15: Jornal Minas – Plano Médio ................................................................................ 163 Figura 16: Jornal da Alterosa – Plano Médio ........................................................................163  Figura 17: MG TV – Plano Americano ................................................................................. 163  Figura 18: Jornal Minas – Plano Próximo ............................................................................. 164 Figura 19: Jornal Minas – Plano Geral .................................................................................. 164  Figura 20: Jornal Minas – Plano Geral – Entrevista .............................................................. 164 Figura 21: Jornal Minas – Plano Americano .........................................................................164  

Figura 22: Jornal da Alterosa – Plano Médio ....................................................................... 165 Figura 23: Jornal da Alterosa – Plano Americano ................................................................ 165  Figura 24: Jornal da Alterosa – Plano Geral – Saída de Bloco ............................................. 165  Figura 25: MG TV – Plano Próximo ..................................................................................... 166 Figura 26: MG TV – Plano Geral .......................................................................................... 166  Figura 27: MG TV – Plano Conjunto .................................................................................... 166 Figura 28: MG TV – Plano Geral .......................................................................................... 166 

 

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................19  CAPÍTULO 1: A TV E OS TELEJORNAIS ...................................................................... 26  1.1 Introdução .............................................................................................................. 27  1.2 Contextos televisivo: entre o suporte e o aparelho ................................................27  1.3 O discurso da informação midiática .......................................................................35  1.3.1 O Discurso............................................................................................... 35  1.3.2 O ato de linguagem.................................................................................. 37  1.3.3 Dos contratos........................................................................................... 39  1.3.4 Do contrato da comunicação midiática da informação ..........................45  1.3.5 Espaço de Estratégia .............................................................................. 50  CAPÍTULO 2: COMO ANALISAR TELEJORNAIS? .................................................... 54  2.1 Introdução .............................................................................................................. 55  2.2 Análise de Conteúdo e Análise do Discurso em sintonia .......................................56  2.3 A organização dos telejornais ................................................................................ 57  2.4 Apresentação dos telejornais...................................................................................59  2.4.1 Escalada................................................................................................... 59  2.4.2 Vinhetas.................................................................................................... 62  2.4.3 Cenário.....................................................................................................64  2.4.4 Apresentador............................................................................................ 67  2.5 Estrutura.................................................................................................................. 71 

 

2.5.1 Editorias................................................................................................... 73  2.5.2 Entradas................................................................................................... 78  2.6 Perspectivas da Análise de Conteúdo .....................................................................80  2.7 Perspectivas da Análise do Discurso ......................................................................83  2.8 Quadros descritivos de análise ............................................................................... 86  CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO DOS TELEJORNAIS EM MINAS GERAIS ..........93  3.1 Telejornais em Minas Gerais ..................................................................................94  3.1.1 Olhar Flâneur Criterioso ........................................................................ 94  3.1.2 A Rede e o Jornal Minas ......................................................................... 96  3.1.3 A TV Alterosa e o seu telejornal ............................................................100  3.1.4 A Globo Minas e o MG TV.....................................................................104  3.2 Vinhetas ................................................................................................................107  3.2.1 Jornal Minas ..........................................................................................108  3.2.2 Jornal da Alterosa ................................................................................. 110  3.2.3 MG TV ................................................................................................... 112  3.2.4 Constantes e variantes nas vinhetas ......................................................114  3.3 Sumarização ......................................................................................................... 115  3.3.1 Jornal Minas ..........................................................................................115  3.3.2 Jornal da Alterosa ................................................................................. 119  3.3.3 MG TV.................................................................................................... 124  3.3.4 Constantes e variantes nas escaladas....................................................129  3.4 Cenários ................................................................................................................135   

3.4.1 Jornal Minas ..........................................................................................136  3.4.2 Jornal da Alterosa ................................................................................. 137  3.4.3 MG TV.................................................................................................... 139  3.4.4 Constantes e variantes na cenografia ...................................................141  3.5 Apresentadores .....................................................................................................143  3.5.1 Jornal Minas ..........................................................................................144  3.5.2 Jornal da Alterosa ................................................................................. 147  3.5.3 MG TV.................................................................................................... 151  3.5.4 Imagem (Capital Visual) ....................................................................... 157  3.5.5 Áudio (Capital Sonoro) ......................................................................... 159  3.5.6 Planos Fílmicos .....................................................................................161  3.5.7 Constantes e variantes entre apresentadores ........................................167  CAPÍTULO 4: ESTRUTURA DOS TELEJORNAIS EM MINAS GERAIS ................170  4.1 Constantes e variantes na estrutura dos telejornais ..............................................171  4.1.1 Tempo Total da Emissão ....................................................................... 171  4.1.2 Tempo por emissão – Espaços enunciativos .........................................173  4.1.3 Tempo e número de entradas ................................................................ 175  4.1.4 Tempo por editoria ................................................................................178  4.1.5 Editorias por bloco – Sequência temática / conteúdo ...........................181  4.1.6 Tensiograma da estrutura ..................................................................... 185  4.1.7 Distribuição de temáticas por entradas ................................................189  4.2 Identificação estrutural .........................................................................................195   

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................197  REFERÊNCIAS....................................................................................................................210  ANEXOS................................................................................................................................220 

 

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INTRODUÇÃO

Sobre o que, em seu território, ela ajunta de tudo, os extremos, delimita, aproxima, propõe transição, une ou mistura: no clima, na flora, na fauna, nos costumes, na geografia, lá se dão encontro, concordemente, as diferentes partes do Brasil. Seu orbe é uma pequena síntese, uma encruzilhada; pois Minas Gerais é muitas. São, pelo menos, várias Minas. [...] Mas, entretanto, cuidado. Falei em paradoxo. De Minas, tudo é possível. Viram como é de lá que mais se noticiam as coisas sensacionais ou esdrúxulas, os fenômenos? O diabo aparece, regularmente, homens ou mulheres mudam anatomicamente de sexo, ocorrem terremotos, trombas-d’água, enchentes monstras, corridas-de-terreno, enormes ravinamentos que desabam serras, aparições meteóricas, tudo o que aberra e espanta. Revejam, bem. (Guimarães Rosa; Ave, palavra)

 

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Céu azul, sol a pino. É meio-dia na capital das Minas Gerais. Hora da sagrada e importante pausa para o almoço. Troco o desktop pela mesa de restaurante. No prato, arroz, tutu com torresmo, uma salada caprichada e um bife acebolado, não sem antes a oração. O ritual é esse, seja em Belo Horizonte, Lavras, Montes Claros, Juiz de Fora, Araxá, e em todos os outros 848 municípios que compõem este estado nação. Daqui, desligo o computador, enquanto se encosta a enxada nas plantações de café em Três Pontas. Na estrada real, estaciona o caminhoneiro, cessa o ronco dos tratores nas lavouras de soja no Triângulo Mineiro, toca o sino nas confecções em Divinópolis, nas fábricas de calçados em Nova Serrana, e na usina em Ipatinga. Seria exagerado acreditar que os cerca de 20 milhões de habitantes de Minas Gerais param, ao mesmo tempo, para almoçar. Mas a tradição de um hábito arraigado na cultura mineira e brasileira, e, mais do que isso, a necessidade diária de reposição das energias, condicionada pelo intervalo (re)forçado pelas leis trabalhistas do país, são agudas. Os ponteiros se encontram e o relógio marca as 12; é a hora de se alimentar. Mas nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra vinda dos meios de comunicação. Fome de notícias. É preciso suprir o vazio deixado por horas de continência de informação. O estômago ronca, e a curiosidade sova. Há de certo a possibilidade de se ler uma revista ou um jornal, ou mesmo ouvir o rádio, enquanto se abocanha o filé. Com o advento dos smartphones, é bem provável que alguém acesse os portais de notícias pelos celulares, ou mesmo coma de frente para o computador. Mas, para muitas pessoas, a televisão continua soberana. Aqui, do alto de um braço articulado, que parece caprichosamente posicioná-la para o meu lugar favorito, a televisão brilha, olimpiana, trazendo à luz o que antes era obscuro. Lá em Varginha, na casa do Sr. José Francisco, não menos imponente, está posta em um móvel de madeira – com um forro branco (um caminho de mesa), feito pela Dona Marta, em crochê. Eis que surge Sandra Gomes; o Jornal Minas, tão rigoroso quanto o intervalo para o almoço dos mineiros, meio-dia em ponto está no ar. A apresentadora atravessa toda a tela, e nos chama a atenção para aquela que é a notícia mais importante do dia. O cardápio de notícias segue com outras manchetes, estrategicamente posicionadas na escalada. Alta tensão de entrada e futebol de sobremesa. Se não me interessa o menu, troco de restaurante e/ou de canal. Ainda assim, procuro ser fiel. Sei o que me oferece a cantina na rua detrás do meu trabalho. O preço é bom, a comida é vistosa, gostosa, variada e parece bem feita. O dono é simpático e suponho que ele seja linha dura com o que, para mim, realmente importa: acuidade no preparo dos alimentos.  

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Não dispenso o mesmo no jornal. Frescor do produto, atenção de quem me atende, cuidado na produção, entre tantas outras variáveis, ainda que não abertamente declaradas, que fazem parte da minha escolha. “Quem chega tarde não pega a comida quente”, dizia um velho amigo, como metáfora em várias ocasiões. Mas pode-se até achar uma variedade maior e em grande quantidade, tendo em vista o ritmo de cada estabelecimento. Se o Jornal Minas não me atende, com mais 15 minutos posso ver a ementa trazida pelos maîtres Artur Almeida e Isabela Scalabrini, do MG TV – aparentemente com mais opções, tal como o Special Meat – um restaurante há algumas quadras da empresa onde trabalho. E se há muitas tarefas pela manhã, por vezes me atraso na saída para o almoço. Mas não há problema; tem o Jornal da Alterosa. Abrindo as portas por volta das 12h45, o noticiário aparentemente tem muitos pratos, a maioria deles quentes e que saem bem rápido, servidos por garçons que são reconhecidos pela objetividade e sinceridade. Existem, é claro, outras opções; dezenas de restaurantes e alguns outros telejornais. Tomam-se os três noticiários supracitados como referência aqui, porém, em razão de sua representatividade, legitimidade e apelo junto ao cidadão mineiro. O MG TV e Jornal da Alterosa são os de maior audiência, já o Jornal Minas é de uma emissora pública, compondo uma tríade de noticiários tradicionais no estado. O telespectador de Minas Gerais reconhece os apresentadores das atrações, e já se acostumou, de segunda a sexta, a almoçar com eles. Além disso, há uma identificação das marcas aplicadas nas vinhetas e suas trilhas sonoras, das cores, dos cenários, da dinâmica de apresentação e organização dos programas. Isto é, faz-se necessário relativizar essas afirmativas, ou comprová-las. Contudo, mais do que marcar o cotidiano do cidadão em Minas Gerais, os telejornais – apesar de trabalharem com uma realidade própria, são, entre tantas outras funções que detêm e uma série de limitações que guardam, importantes artífices mnemônicos sociais; são suportes de registro e manutenção da memória do estado e de sua população, condição endossada pelo anseio dos sujeitos telespectadores. Aquém da possibilidade de estabelecer um estudo de recepção, tenta-se neste trabalho, como problema de pesquisa, suprir a ausência de informações sobre como os telejornais em Minas Gerais se organizam e articulam discursivamente os seus conteúdos de modo a informar, de forma diferenciada, os telespectadores do estado. Nesse contexto, o objetivo geral desta pesquisa será o de gerar padrões sintéticos que permitam analisar como e com que intuito os telejornais de Minas Gerais, no desígnio de articular um processo comunicativo  

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com os telespectadores, organizam-se e estabelecem discursos por meio de sua estrutura e de sua apresentação. Como passos para alcançar esse intento, articulam-se quatro objetivos específicos. Em primeiro lugar, pretende-se desenvolver uma metodologia específica, aplicada para análise da apresentação e estrutura de telejornais. Em seguida, quer-se descrever e analisar a dinâmica dos telejornais MG TV, Jornal da Alterosa e Jornal Minas – todos em suas primeiras edições – no que concerne, mais especificamente, expor detalhadamente suas estruturas de organização. Além disso, a pesquisa visa interpretar a encenação discursiva de apresentação dos telejornais, focando em elementos estético-discursivos, tais como vinhetas e cenários, além da escalada e as funções dos apresentadores, compreendendo as razões e as implicações da sua utilização nos respectivos telejornais. Por fim, o trabalho tem ainda como anseio auxiliar o projeto do Centro de Apoio a Pesquisas Sobre Televisão – CAPTE, no que se refere fornecer a categorias analíticas de exame de telejornais para uma indexação mais completa dos conteúdos no sistema de recuperação de vídeos televisivos. Crê-se na importância de uma análise como essa, com vistas a verificar como telejornais de grande respaldo e representatividade se posicionam e articulam suas atividades hoje para a sociedade mineira. Vislumbra-se ainda que o diagnóstico aqui elaborado sirva de chave de leitura e que possa trazer fundamentação para um possível (re)posicionamento da Rede Minas (como instituição pública do estado de Minas Gerais) e/ou de suas concorrentes analisadas neste trabalho. Mas, mais do que isso, pretende-se abrir a compreensão para o próprio público telespectador de como essas organizações articulam suas visadas com a finalidade de captá-lo. Vale a ressalva de que tal abordagem poderia ser realizada exclusivamente no campo da comunicação. Contudo, a ancoragem na perspectiva dos “Estudos de Linguagens” permitirá perceber, de modo particular e aprofundado, como as estratégias de edificação de sentido são arranjadas e estão emaranhadas no complexo informativo dos noticiários. Isso será feito por meio de uma análise comparativa de textos midiáticos que guardam as suas particularidades, ofertando uma planificação, com base em uma amostra rica, não só de que telejornal o mineiro vê, mas como as emissoras enxergam o telespectador de Minas Gerais. Não obstante, espera-se, com este estudo, contribuir também para uma leitura mais crítica das produções televisivas em questão. Supõe-se também que um trabalho como este pode colaborar para uma análise particular do telejornalismo, auxiliando pesquisadores e estudantes em suas demandas. Além disso, no que se refere ao CAPTE, é demanda nacional (BRASIL, 2011) e intenção do CEFET-MG dar apoio aos trabalhos de pesquisadores sobre o sistema de  

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televisão brasileiro, bem como contribuir para a preservação da memória audiovisual do país1, a partir da concepção e desenvolvimento de um sistema de informação multimídia para armazenamento e recuperação de vídeos de programas informativos, a saber: debates, entrevistas, documentários e telejornais (SABINO et. al., 2010). Mais do que isso, o sistema proposto pretende realizar não só o processo de arquivamento, por meio de uma descrição analítica do material audiovisual transmitido, como também articular e desenvolver ferramentas de análise automática dos vídeos para, então, disponibilizá-los para pesquisadores. Nesse sentido, este trabalho reúne algumas contribuições para o CAPTE, seja do ponto de vista do levantamento e definição de padrões estáveis da estrutura e apresentação de telejornais, que facilitarão a dinâmica de indexação e a busca de vídeos pelos usuários, seja do ponto de vista do modo de análise das variações empreendidas pelas nuances da encenação discursiva em programas desse gênero, o que auxiliará em uma percepção refinada das atrações, proporcionando a geração de novos indicadores de arquivamento e recuperação, enriquecendo e detalhando ainda mais o projeto, conforme é descrito nas considerações finais desta dissertação. Neste mesmo espaço, no lugar de uma conclusão, são apresentados outros caminhos possíveis para pesquisadores que se interessarem pela temática da análise de telejornais, tenham sido eles de alguma forma incentivados por este trabalho ou não tendo sido contemplados em razão das limitações deste tipo de pesquisa. Para tanto, até chegar a essa última seção, foi composta uma espinha dorsal que compreende: fundamentação teórica, metodologia, análises e interpretação dos dados. No primeiro capítulo, foi realizada uma discussão sobre o abismo existente entre a tele e a visão – entre suporte (Televisão) e aparelho (televisor), tomando o telejornal, provavelmente o seu principal (sub)gênero2, como a principal referência da condição paradoxal da televisão. Após a problematização, passeamos com o personagem ficcional (ou não) Rodrigo, para entender 1

Para tanto, ainda se enveredam esforços em prol do acesso livre ao acervo audiovisual e televisivo brasileiro, para pesquisa e ensino. Em reunião realizada no dia 23 de setembro de 2011, em Brasília, o Conselho Geral da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação aprovou, por unanimidade, o engajamento político da COMPÓS nesta mobilização, e a assinatura de um documento produzido como resultado do Seminário Internacional Análise de Telejornalismo: desafios teórico-metodológicos, e da petição on-line. O documento foi assinado por pesquisadores como: Ana Carolina Escosteguy, Antonio Brasil, Bruno Souza Leal, Iluska Coutinho, Itânia Gomes, Vera França, Wilson Gomes, entre muitos outros. Informação disponível no site do Grupo de Pesquisa em Análise de Telejornalismo da UFBA. Disponível em http://telejornalismo.org/?p=1270, Acesso em 07 mar. 2012. 2 Há diversas discussões sobre as nomenclaturas: gêneros e subgêneros televisivos. Parece, assim, não haver um acordo sobre onde/como enquadrar o telejornal. Filiamo-nos mais à ideia da Professora Elizabeth Bastos Duarte (2007), que entende a televisão como gênero e os noticiários como subgêneros. Ainda assim, procuramos, tanto quanto possível, utilizar a marcação gráfica com parênteses, “(sub)gênero”, ao falar desse tipo de programa neste trabalho.

 

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parte do arcabouço da semiolinguística – principal ancoragem do trabalho para interpretação dos dados. A partir dessa fundamentação, é visto como se constrói um discurso, como ele é colocado em funcionamento em um processo comunicativo, de que forma o ato de linguagem complexifica a relação entre as instâncias emissora e receptora, quais são as regras que normatizam as trocas comunicativas. Além disso, é apresentado em que lugar o discurso midiático se insere a partir dessa base relacional e como se dá o funcionamento da maquinaria dos media, para enfim discutir qual é o espaço das estratégias dos telejornais e quais são os três principais efeitos que visam junto à audiência no seu fazer diário. Na sequência – já no segundo capítulo, é demonstrada a organização padrão dos telejornais, a partir do modelo de Jost (1999), adaptado por David-Silva (2005). A disposição indica uma tríade composta pela apresentação (em que se articulam a escalada, a vinheta, o cenário e os apresentadores), a estrutura do noticiário e as reportagens, sendo que as duas primeiras são detalhadamente observadas. Concomitantemente, elabora-se a metodologia de observação dos telejornais, a partir de uma fusão entre ciências aparentemente divergentes, na convergência de potencialidades da Análise de Conteúdo (AC) com a Análise do Discurso (AD), fornecendo um quadro amplo de questionamentos a serem imputados ao corpus. No terceiro capítulo, analisa-se a apresentação dos três telejornais, começando com uma leitura flutuante das emissoras às quais se vinculam, na tentativa de estabelecer considerações diversas, não pontuais, em um olhar telespectador. Ao mesmo passo, é realizado um cruzamento com a leitura histórico-documental das redes e dos programas, bem como características contemporâneas do sistema televisivo em que se alojam. No mesmo capítulo, são vistos ainda, de modo perspicaz, à dinâmica das sumarizações, os elementos cenográficos, as vinhetas e as funções dos apresentadores nos noticiários examinados. No quarto capítulo, é decomposta a estrutura dos três telejornais, gerando uma série de gráficos e tabelas, inicialmente postos individualmente para, em seguida, gerar outros guias comparativos cruzados, devidamente e pontualmente descritos. Assim, nesse capítulo é feita uma observação blocada do telejornal, além da averiguação de entradas e temáticas, a organização/sequência dos temas – hierarquização de conteúdos, entre outras perspectivas. A interpretação das informações levantadas aparece na quinta e última parte do trabalho, a partir de um cruzamento dos dados, procurando perceber os efeitos visados pelas instâncias produtoras no intercruzamento das estratégias amalgamadas na dinâmica de apresentação e disposição orgânica do noticiário. Com este trabalho, procura-se, sobretudo,  

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responder a questões como: existe um padrão de telejornal em Minas Gerais? Qual é a ideia que os programas fazem de seus destinatários? A que efeitos visados pela instância produtora o público está submetido? E, por fim, o que as atrações revelam da rotina e do espaço público do estado?

 

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CAPÍTULO 1 A TV E OS TELEJORNAIS

Os namorados, já dispensam seu namoro Quem quer riso Quem quer choro Não faz mais esforço não E a própria vida Ainda vai sentar sentida Vendo a vida mais vivida Que vem lá da televisão (Chico Buarque – A Televisão)

 

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1.1 Introdução

Se o objetivo aqui é analisar telejornais, será preciso, antes da observação dos programas, uma articulação que contemple como o suporte (a Televisão, aqui entendido como conjunto de produção, emissão e proliferação de significados) foi pensado ao longo do tempo e como esse é definido e compreendido (por teoria e audiência) na contemporaneidade. Traçase, para tanto, em menor grau, uma linha adjacente com o levantamento do desenvolvimento do aparelho que o ampara (o televisor), revelando contiguidades e disparidades, ainda que metafóricas, entre as duas instâncias. Nesse meandro, é preciso também estabelecer o lugar dos telejornais, como um dos principais (sub)gêneros da televisão, procurando perceber como este se posiciona no tempo presente. Tais perspectivas darão condições para se pensar, em sequência, nas nuances do discurso da informação midiática, revelando as principais características do modelo comunicativo adotado pelas corporações produtoras/emissoras (pensando especificamente nos telejornais), compreendendo aí as intenções empreendidas por intermédio de determinadas estratégias – por meio de um olhar direcionado ao lugar em que se articulam alguns dos conceitos de onde o trabalho busca fundamentação para empreender análise.

1.2 Contexto televisivo: entre o suporte e o aparelho Querido Vladimir Zworykin. O que aconteceu com o tubo de raios catódicos que você fez vir à vida ao ativar células fotoelétricas com elétrons em movimento e que patenteou em 1923? (CASHMORE, 1998, p.9)

Em tom nostálgico, Ellis Cashmore (1998) abre seu livro questionando: o que aconteceu com a televisão? Como em uma carta, indaga o soviético Vladimir Zworykin (radicado nos Estados Unidos) sobre o que se tornou – e o que representa hoje – a sua invenção. Isto é, Zworykin concebeu o iconoscópio, um tubo eletrônico, responsável pela conversão de imagens em sinais elétricos, fundamental para o desenvolvimento das câmeras filmadoras e dos televisores.

 

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A pergunta de Chashmore a Zworykin poderia ser análoga a indagar, por exemplo, Santos Dumont sobre o que se tornou o avião. Entre os impactos positivos e negativos, as duas invenções em questão subsistem, não tendo os seus artífices culpa pela afamada má qualidade dos programas televisivos na contemporaneidade ou pelo uso dos aeromodelos em guerra, por exemplo. Em um movimento de vanguarda, estavam homens que viam além, assim como tantos outros que desenvolveram um dos mais importantes implementos da contemporaneidade: a Televisão. Substantivo feminino, composto por tele (que vem do grego e se refere à distância) somado a vision (visão, do latim), que significa visão do que está distante. Mais que um aparato tecnológico, a TV é uma janela para o mundo, a partir da qual se poderia ser informado pelas mesmas notícias do rádio, agora podendo “vê-las”. Mas isso só foi possível após longo desenvolvimento, nas décadas de 1920 e 1930, culminando com um apogeu no final dos anos 1940, em razão do investimento pós-segunda guerra. Em terras tupiniquins, só chegou nos idos de 1950, com Chateaubriand. Aos poucos, começou a mexer com os costumes locais; dia-a-dia se dava o advento da tal caixa preta, que mudou até a arquitetura das casas no interior do Brasil – se antes a cozinha era o espaço privilegiado para as reuniões familiares, ambiente em que se recebiam as visitas, o padre, o prefeito, ela perdeu importância para a sala, que aos poucos foi sendo ampliada, em detrimento da hierarquia do espaço antecessor (LIMA, 2007). O aparelho não poderia ficar na cozinha. Hoje tampouco seria possível reunir a família nesse espaço. Equipamento grande do visor pequeno, estrutura volumosa de material pesado, que gradualmente foi ganhando em design, leveza e tamanho. Hoje a tela (e a sala) está dezenas de vezes maior, mas muito mais espessa, slim. O preço também está cada vez mais acessível e o apelo exercido pelo aparelho o coloca em primeiro lugar frente aos outros aparelhos. Isto é, atualmente, segundo dados do IBGE, cerca de 96% dos domicílios brasileiros têm pelo menos um televisor – a grande maioria deles em cores, constituindo-se como o eletroeletrônico com a maior presença nos lares brasileiros. E, se consideramos também os eletrodomésticos, a TV só perde para o fogão3. Hoje os televisores são de CRT, LCD, LED, Plasma, com entrada USB, em HD (até full), convergente (acesso à internet), touch screens e com screens invisíveis. Siglas, 3

Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) 2008-2009 do IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/pnad_brasil_2009.pdf, Acesso: 24 nov. 2011.

 

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expressões – a maioria de origem inglesa, que revelam modelos, opções, transformações. Em relação ao radical vision, o aparelho tem cada vez mais qualidade, cor, brilho, resolução, saltando aos olhos até em terceira dimensão. Mas e a tele? Permite o suporte, ao público, ver cada vez mais distante? E o que, de fato, significaria ver o que está distante? Na contemporaneidade, o nome televisão parece paradoxal e a ideia contraditória. A tele corrige a miopia, mas imputa um astigmatismo que a vision não consegue retificar – de certo modo, apenas acentuar. O suporte dá graus à visão, mas ao mesmo tempo a inebria. O tele-espectador vê o que está distante fisicamente, mas não mais com seus próprios olhos, ainda que a impressão seja essa. O olhar é mediado, e o suporte atua como prótese da visão. E, como se tem cada vez mais qualidade com os aparelhos, a impressão é de que a vista é, por conseguinte, ainda mais completa, detalhada e fiel à realidade social; ledo engano. Para Gumbrecht (1998, p.262), há tempos se estabeleceu “uma realidade televisiva própria, que, desde o início, esteve tão ligada à realidade do espectador que, paulatinamente, ela a transformou e, nesse meio tempo, começou a substituí-la”. Gumbrecht conclui que “faz todo o sentido dizer que a realidade televisiva, no final do século XX, torna-se uma realidade cotidiana”. Mas, o que significa falar da realidade? Entre tantas outras abordagens, busca-se inicialmente uma referência para estabelecer uma compreensão básica do termo. Um raciocínio sobre a realidade é a de que ela é uma construção simbólica, que, para cada pessoa, representa o real, o tangível, que, ao ser nominado – entrar no plano linguístico, já se torna realidade. De outra forma, o real apresenta-se como unidade estável pura, que foge a qualquer tipo de representação e estabelecimento de sentido, enquanto a realidade é uma construção cognitivo-psíquica (e uma apreensão) de cada indivíduo – ainda que, em alguns pontos, compartilhada socialmente, frente ao mundo, baseada na linguagem. A discussão, assim como a compreensão dos conceitos, é muito mais ampla do que se pode tratar aqui. Nesse sentido, questiona-se então: o que significaria falar de realidade para a televisão? Jost (2004; 2009) se arriscou a responder. Após longo levantamento, e estabelecimento de esquemas de compreensão de como se articula a (promessa de) realidade nesse suporte, dirá que “para saber como a televisão trata a realidade, não há outro caminho que a análise dos programas, que nos dizem em que visão da realidade eles são fundados” (JOST, 2009, p.30). Ora, uma vez que se trata aqui de um (sub)gênero televisivo bem definido, em que visão de realidade se fundem os telejornais? Segundo Duarte e Curvello (2009, p.69), “o  

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discurso do telejornal constrói-se tomando como referência o mundo real, exterior à mídia; trata-se de uma meta-realidade, cujo regime de crença proposto é a veridicação”. Indaga-se aqui se essa meta-realidade telejornalística produz, ou amplifica, sentidos outros, externos, quando não extremos, frente aos acontecimentos que apresenta. Para Baudrillard (1991, p.105), por exemplo, “a informação devora os seus próprios conteúdos. Devora a comunicação e o social”. Isso se dá por dois motivos: um relacionado à perspectiva de encenação da informação, imposta pelos meios de comunicação de massa ao tentar comunicar algo, atribuindo sentidos outros à informação; e um seguinte que se pauta pela desestruturação do real, implementando um processo de entropia do social. Para o autor, os media estabelecem, à sua maneira, um tipo de (re)apresentação do real – e/ou da realidade social – instituída por meio de uma realidade própria aos veículos: a realidade virtual (BAUDRILLARD, 1991). Baudrillard, inclusive, irá resgatar ideias de McLuhan, para quem o meio é a própria mensagem, em alusão a essa dinamicidade dos media e à sua capacidade de instaurar um processo de hiperinflação dos sentidos, a “hiper-realidade da comunicação e do sentido. Mais real que o real, é assim que se anula o real” (BAUDRILLARD, 1991, p.105). Essas considerações fazem todo sentido para as perspectivas de Eco (1984), ao descrever a relação da ‘tevê’ e o público, interessando aqui, entre tantas outras assertivas, a ideia de que se vive hoje uma “situação televisiva em que a relação entre enunciado e fatos se torna cada vez menos relevante no que diz respeito à relação entre verdade do ato de enunciação e experiência receptiva do espectador” (ECO, 1984, p.191). O que estaria em jogo na realidade televisiva então seria a sustentação de autenticidade dos atos de enunciação, de expressão do acontecimento, de narrativa e encenação da verdade, que se estabelecem por motivos particulares àquelas emissoras que os articulam e aos contextos de emissão e recepção. Nesse sentido, mais do que uma realidade outra, o que se apresenta com a solidificação dos media na sociedade contemporânea é um entrançamento rizomático das nuances midiáticas com o real. Esse imbricamento, cada dia mais voraz, escurece a mediação do real e implanta outras condições de realidade, (não)lugares virtuais. E, diante a essa premissa, para Baudrillard (1991, p.108), seria “inútil sonhar com uma revolução pela forma, já que médium e real são a partir de agora uma única nebulosa indecifrável na sua verdade”. Ainda assim, os media continuam a atuar como instituições sociais viris, sendo imprescindível, então, fazer questionamentos sobre o seu funcionamento e impacto na vida social. Porém, Baudrillard conclui que a articulação e a dinâmica do sistema se dão  

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justamente de acordo com os anseios da sociedade; “é o que fazem as massas: remetem para o sistema a sua própria lógica reduplicando-a, devolvem, como um espelho, o sentido sem o absorver. Esta estratégia [...] leva a melhor hoje em dia”. (BAUDRILLARD, 1991, p.111). Outros pesquisadores, tal como Martín-Barbero (2003), irão verificar e destacar essa relação dos meios com as aspirações dos sujeitos de outra forma – relativizada, no mínimo, de modo um tanto menos pessimista. E não se pode perder de vista as concepções desses autores, pois, para compreender o maquinismo de funcionamento dessa realidade midiática, deve-se assumir que, de fato, esse entendimento leva em conta por que, e com que propósito, se motiva esse mecanismo: em razão daqueles a quem se dirige e, de forma retroalimentativa, pelos quais se fundamenta – o público. Em meio a esse imbróglio, Charaudeau afirma que

se a televisão é, por excelência, a mídia do visível, ela só pode proporcionar dois tipos de olhar: um olhar de transparência, mas de ilusão de transparência [...] o outro, de opacidade, quando impõe sua própria semiologização do mundo, sua própria intriga, sua própria dramatização. [...] Assim, pode-se dizer que a televisão cumpre um papel social e psíquico de reconhecimento de si através de um mundo que se fez visível. (CHARAUDEAU, 2007, p.112, grifos no original)

Já se foi a “Era da TV” como um simples aparato técnico; ela, há tempos, se transformou em um complexo dispositivo social, apresentando grande função cultural e forte apelo na coletividade (WILLIAMS, 1997). Num salto, já se começa a viver a passagem da Neotelevisão para a Pós-Televisão (GILDER, 1990; PISCITELLI, 1998; MISSIKA, 2006). A PaleoTelevisão, apresentada pela classificação de Umberto Eco (1984), e (re)vista com mais detalhes pelo refino de Casetti e Odin (1990), parece cada vez mais distante e esquecida, sobretudo agora com o advento da TV de interação que começa a diluir as barreiras com a internet. Contudo, alguns autores classificam o momento como o segundo estágio da Neotelevisão, organismo vivo, autorreferencial, nada criterioso, que cria os seus próprios personagens e histórias. Momento que constitui, para Farré (2007), o lugar de aparecimento e desenvolvimento do Neo-Telejornal (neonoticiario), em que a prioridade está mais na relação com o espectador/consumidor do que na transformação do mundo em informação, fundamentado na participação e aproximação cada vez maior com a audiência e no hibridismo de gêneros e formatos. O que se tem atualmente é uma TV cada vez mais de mercado, que não pode ter o silêncio e o branco, mas um ritmo acelerado, em repetição serial, co-construída pelo zapping (SARLO,  

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2000), a apresentar os acontecimentos por meio da espetacularização, implicada pelas novas plataformas digitais, abarcando agora uma dezena de perspectivas da internet e até dos celulares. É uma TV que estabelece uma dupla relação com os telespectadores: ora no padrão tradicional do processo comunicativo, se dirigindo a eles; ora tragando-os para sua dinâmica, evidenciando-os pela simples razão desses indivíduos serem quem são (CASETTI; ODIN, 1990). É uma TV que persiste tendo o seu valor, mas que tem de lidar com um novo telespectador, que exige novas dinâmicas, através de um olhar que foi (re)orientado com o tempo e com as tecnologias (FAHLE, 2006; SOULAGES, 2002). Ela se sustenta, mesmo frente a agudas críticas, que a acusaram de programar nefastos efeitos em mensagens ocultas (ADORNO, 1973), de violência simbólica (BORDIEU, 1997), de ser um perigo para a democracia, pois, com tanto poder, teria substituído a voz de Deus (POPPER; CONDRY, 1994), entre muitas outras. Mas parece que se vive uma fase de mudança na dimensão sociocultural, em que há uma afetação da televisão sobre seus telespectadores ao mesmo tempo em que ocorre uma implicação recíproca, num processo cíclico e contínuo, ou, talvez, nunca se viveu, por ter sido sempre assim, e talvez este seja o provável-problema (MARTIN-BARBERO, 2001). Como um de seus basilares (sub)gêneros, o telejornalismo também se vê implicado pelas questões ora apresentadas. Os noticiários se constituem, por um lado, como um dos principais mecanismos de experimentação dos sujeitos com o mundo, ainda que de forma mediada, representando um dos locais preferenciais para a apresentação e discussão dos fenômenos sociais, ofertando chaves de leitura para a compreensão da sociedade. Por outro lado, é influenciado (talvez negativamente) por uma série de obstáculos para a apresentação dos fatos, como o fator tempo, as disfunções da objetividade, o (baixo) grau de profundidade no tratamento dos temas, as limitações do sistema produtivo, entre muitos outros (BRAGA, 2006). Assim, o que os meios de comunicação de massa apresentam, por maior que seja o rigor na apuração e o afastamento do jornalista frente ao que narra, é apenas um fragmento da realidade social (CABRAL; SANTANA, 2010). A “verdade jornalística”, ainda que carregada do utópico ideal de pleno conhecimento das razões, consequências e características dos fatos, não alcança esse propósito, apresentando apenas uma ideia de verdade. Acerca do tipo de verdade que mais se aplicaria ao jornalismo, Tambosi (2007) analisou as três principais teorias trabalhadas na epistemologia contemporânea e identificou que a de correspondência é a mais adequada ao campo. Essa perspectiva indica que a verdade de uma assertiva consiste em sua relação com o mundo, na equação linguagem-realidade. Para o autor, o jornalista deve fundamentalmente reportar fatos, o que implica a teoria da  

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correspondência como preponderante. Há, contudo, a ressalva de que os fatos, por vezes, se apresentam a partir de versões inverídicas. Isso posto, podem-se confundir afirmações (tidas verdadeiras) com fatos. Tambosi (2007, p.46) adverte: “recordemos que qualquer coisa que torne uma afirmação verdadeira é um fato, e que o fato é sempre extralinguístico, isto é, está fora da linguagem”. Tambosi (2007), ainda faz considerações sobre a apreensão do fato e o modo como os sujeitos os relatarão, o que remonta à condição extralinguística desse fato; ou seja, os fatos são estáveis, as narrativas sobre eles, não. A ideia que vem à tona é sobre a articulação de atores depoentes, que se arranjam nas reportagens, mas não se deve esquecer que o jornalista também é um intérprete do acontecimento, fazendo, junto com seus entrevistados, a sua construção discursiva acerca do fato. Afinal, a notícia não é o fato propriamente dito, mas o que se diz sobre ele: o relato. (LUSTOSA, 1996). Coutinho (2004) resume esse quadro quando indica que:

o que vemos impresso nos jornais não é a voz dos fatos, mas de pessoas que participaram deles ou ainda que foram espectadoras dos acontecimentos, também uma categoria carregada de julgamentos e intencionalidades. (COUTINHO, 2004, p.9)

Ainda que enfrente todas as dificuldades, e mesmo diante da perspectiva de Nietzsche (2007), para quem a verdade é um ideal inalcançável (pois não existiria), o jornalista nunca deve assimilar essa prerrogativa, com o risco, inclusive, de perder o rigor da apuração, o que comprometeria, este sim, a confiabilidade das informações, conforme preceituam Cabral e Santana (2010). Para essas autoras, a busca pela verdade dos fatos se configura como uma das principais perspectivas do profissional do jornalismo. Ainda assim, se estabelece a premissa de que, munidos da credibilidade da sua audiência, os meios de comunicação de massa recebem a outorga da verdade. Contudo, esta se dá não na crença em um oráculo midiático, que tudo sabe, mas na medida em que os media devem buscar a verdade dos acontecimentos, por meio da narração dos fatos e do uso de estratégias que depõem a favor do que se apresenta. Para Arlindo Machado (2005), há uma série de variáveis que se cruzam na “leitura” da televisão e de seus produtos. Para o autor, é impossível extrair uma compreensão simples e igualitária do que é dito e evidenciado pelas imagens nos noticiários televisivos. Há sempre grande ambiguidade no telejornal, de modo tal que ele:  

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turva qualquer perspectiva clara dos acontecimentos, ele embaralha as razões dos lados em conflito, ele obscurece as fronteiras e promove a confusão dos argumentos, mesmo quando nomeadamente assume uma das forças beligerantes (MACHADO, 205, p. 113).

Com base nesse contexto complexo, compreende-se que não se pode culpar verticalmente a televisão e seus produtos (sobretudo o telejornal) por uma série de problemas sociais, acusá-la de manipulação deliberada, ou até ajuizar os propósitos ligados à qualidade dos programas, como muitos indivíduos (dentre eles, dezenas de pesquisadores) o fazem. Tampouco seria conveniente e salutar defender o suporte (e o próprio aparelho) como um pleno instrumento de democracia e libertação dos sujeitos. As limitações, então, ao menos parecem se dar na relação entre as fontes de emissão e recepção. A TV (e os telejornais) fala (e mostra) para alguém que quer ouvi-la (e vê-la). Supõese que, se um sujeito se põe em um processo comunicativo e se mantém nele, é porque o tema da interlocução, de alguma forma, o agrada. Isso porque a tematização e a dinâmica do encontro foram produzidas pelo emissor, levando em consideração as características e anseios de sua audiência. Nesse contexto, em detrimento das críticas que existiram, se sucederam e se mantêm até hoje, é inegável a importância e a representatividade da televisão e dos telejornais na sociedade contemporânea. Na mesma medida, para (re)conhecer a dinâmica do processo comunicativo entre as instâncias de produção e recepção, pesquisas como esta são importantes, de modo a compreender a que tipo de visadas os indivíduos telespectadores estão sujeitos. Entre tantas ancoragens possíveis, buscam-se, como balizamento para esta pesquisa, as discussões empreendidas na teoria semiolinguística, compreendendo que o estudo do discurso midiático apresenta indicadores consolidados para observar as nuances televisivas e a dinâmica dos telejornais.

 

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1.3 O discurso da informação midiática A informação é pura enunciação (CHARAUDEAU, 2007, p.36)

Informar: parece ser esse o principal valor dos (tele)jornais. Convenção social, apreendida aquém de qualquer leitura teórica, mas tão somente com uma ligeira compreensão do lugar que essa instância toma como função em nossa sociedade. Mas, um olhar um pouco mais apurado permitirá ver que essa condição não é tão casta. Isto é, não é tão objetiva ou verticalizada quanto se pensa. Mesmo porque, o complexo informativo se institui antes de qualquer sistema de mediação, com processos intricados, baseados no hermetismo da linguagem, com vistas à promoção daquilo que o ser humano tem de mais primário: a comunicação.

1.3.1 O Discurso

No caminho que será trilhado a partir de agora, para usar um modo mais didático de apresentação do aporte teórico utilizado neste trabalho, tomemos como exemplo a rotina de um cidadão comum: um mineiro, morador da capital, em idade economicamente ativa, no tempo presente. Sua rotina começa sempre às 5h, antes mesmo de o galo cantar, quando acorda para ir ao trabalho. Mas e quando o despertador falha? “– São sete horas, Rodrigo!”, diz a esposa, apavorada, na tentativa de levantá-lo. O que a Dona Cíntia acaba de fazer é colocar a língua em funcionamento, produzindo um enunciado, que desencadeia uma ampla teia de significados para o Sr. Rodrigo (BENVENISTE, 1989). Frase curta, tanto quanto a epígrafe de Charaudeau (2007) – mas que se assemelham, ou se justificam. Afinal, para o linguísta francês, a informação, seja ela qual for:

constrói saber e, como todo saber, depende ao mesmo tempo do campo de conhecimentos que o circunscreve, da situação de enunciação na qual se insere e do dispositivo no qual é posta em funcionamento (CHARAUDEAU, 2007, p.36).

 

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Para além, ou antes, disso: o ato comunicativo leva em consideração o princípio da alteridade – a existência do outro. Assim, para analisar uma circunstância enunciativa, é preciso considerar os papéis das instâncias de emissão e recepção, que podem cambiar, compondo o eixo EU-TU (Cíntia-Rodrigo, por exemplo). O exemplo é extremamente prosaico, mas o que a Dona Cíntia acaba de criar é um discurso. Com apenas quatro palavras, a esposa disse ao marido que ele estava muito atrasado, o que qualquer um que acompanha este texto até o momento sabe. O que apenas o EU (Cíntia) e o TU (Rodrigo) compreendem nesse momento é que o banho e o café da manhã do esposo estão comprometidos, tanto quanto a carona do filho para a escola (que, por sinal, tinha prova nesse mesmo dia). Além disso, provavelmente, a qualidade da apresentação de Rodrigo para o grupo de clientes japoneses na empresa não será das melhores. O caso é comum, ordinário, e pode acometer qualquer um. A reação da esposa, dentro de uma determinada cultura (a brasileira, de um modo geral), também. Mas o que o pequeno enunciado desvela parece atender a todos os requisitos do que Maingueneau (2001) chama de discurso: 1) há uma organização situada para além da frase, mobilizando estruturas de uma outra ordem; 2) é orientado com determinada finalidade; 3) é uma forma de ação; 4) pressupõe a interatividade entre duas instâncias; 5) insere-se em um contexto bem delimitado; 6) é assumido por um sujeito que atua como referência; 7) rege-se por normas compreendidas pelo TU; e, por fim, 8) está dentro de um interdiscurso que o precede. Essas são oito perspectivas que juntas podem direcionar uma das várias possibilidades de análise(s) do(s) discurso(s). Nesse contexto, pode-se compreender que o discurso articulase na dupla condição de Ação e Fala, de Fazer e Dizer, caracterizando, respectivamente, o que se pode chamar de Circuito Duplo: Externo (Situacional - Agir) e Interno (Linguageiro), (CHARAUDEAU, 2007). David-Silva (2005), corroborada por Charaudeau (2007), resume então que o significa discurso:

direcionado para além das regras de uso da língua, ligando as circunstâncias nas quais se diz algo ao que é dito. [...] é uma maneira de dizer, que é mais ou menos esperada, codificada ou improvisada segundo um conjunto de condições intencionais que a precedem. Há então, ao mesmo tempo, condições extradiscursivas e realizações intradiscursivas cuja relação intrínseca produz o sentido. (DAVIDSILVA, 2005, p.33-34)

 

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1.3.2 O ato de linguagem

Voltemos ao nosso personagem, Rodrigo, que, a esta altura, após atravessar toda a cidade, já chegou ao trabalho. Está um tanto atrasado, estressado com o trânsito na Avenida Afonso Pena, suado, com a roupa amassada e um pouco desmemoriado acerca do tema da reunião. Os clientes, compondo um grupo com quatro pessoas, já estão à espera (há algum tempo). Os cinco então entram em uma sala, e lá ficariam até próximo ao final da manhã. Ciente do atraso, ainda nervoso, gaguejando, um tanto inseguro, tentando ganhar tempo para rememorar, Rodrigo faz uma aposta4, e diz: “Nossa, que bom que vocês são japoneses, e não ingleses!”. Um silêncio toma conta da sala, seguido de breves sorrisos amarelos. Os clientes saem da reunião visivelmente frustrados; suas expectativas em relação ao encontro não foram atendidas, isto é, não apenas por não terem entrado em um acordo sobre o tema da reunião, mas em razão de uma dinâmica atípica, em que acabaram por criar uma imagem diferente daquela que tinham de seu interlocutor – muito em razão da piada infame. No intuito de estabelecer um quebra-gelo, Rodrigo extrapolou, de início, os limites que regem os procedimentos discursivos da relação fornecedor/cliente, na situação negócios/empresa, dentro dos padrões de compreensão de seus interlocutores. Sua atitude fez com que o Sr. Yamamoto (TU), líder do grupo de clientes, construísse uma imagem diferente da que tem o enunciador real. O que se apresenta é uma ação de interpretação, em que o cliente japonês assume um outro papel, o TUi (Interpretante). Rodrigo (EU) considerou que o TU compreenderia e acharia engraçada a piada, talvez até se sentisse lisonjeado por não tê-lo comparado aos ortodoxos e pontuais britânicos. Essa imagem do TU (o destinatário, que pode ser caracterizado como TUd), contudo, não corresponde à identidade e/ou ao processo cognitivo do TUi, que, em razão desse processo comunicativo (fundado num complexo ato de linguagem), estabelece um EUe (a imagem do enunciador, do Ser de fala), diferente do EU comunicante (que pode ser caracterizado como EUc) (CHARAUDEAU, 2008). Assim, para Charaudeau (2008, p.45, com grifos no original), “o ato de linguagem torna-se então um ato inter-discursivo entre quatro sujeitos (e não 2), lugar de encontro imaginário de dois universos de discurso que não são idênticos”. Para David-Silva (2005), 4

Charaudeau (2007), afirma que todo ato de linguagem é uma aposta; é um jogo em que se ganha quando o TU compreende a mensagem que o EU quer transmitir.

 

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essa planificação remeteria de certo modo à separação platônica entre o mundo do real e o de representação.

o mundo “real” é o espaço do fazer onde se encontram os seres com suas respectivas identidades psicossociais, lidando com circunstâncias materiais. O mundo da representação, [...] é o espaço da encenação linguageira, da representação, da linguagem [...] criado a partir de uma intencionalidade do ser “real”, (ou finalidade comunicativa). Inserido em uma dada circunstância que definirá o contrato comunicativo, o eu-“real” estabelece o seu projeto de fala e agencia estratégias visando atingir seus objetivos. Assim, o mundo real e o mundo da representação são espaços que se permeiam e cuja distinção e separação é feita por uma linha tênue; não são espaços estanques em que determinados momentos se dissociam (DAVIDSILVA, 2005, p.36).

Tal perspectiva pode ser melhor observada a partir do esquema a seguir5. Tendo o modelo como referência, e com a interpretação de David-Silva (2005), pode-se perceber que há ainda um espaço de mediação entre os mundos do real e de representação. Trata-se do contrato de comunicação, em que se articula a finalidade comunicativa e se extrai o sentido do ato de linguagem.

Figura 1: Esquema EU-TU Adaptado a partir de David-Silva (2005) e Charaudeau (2007). 5

De modo lúdico, utilizamos no esquema a imagem de dois personagens do cartunista e escritor Ziraldo. Tratase de Bocão e Sugiro Fernando, personagens da obra infanto-juvenil “O Menino Maluquinho”. Enquanto o primeiro é um garoto desajeitado, que só fala bobagens, o segundo é um descendente de asiáticos, muito quieto e inteligente, refletindo a ideia que o leitor pode fazer de Rodrigo e do Sr. Yamamoto.

 

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1.3.3 Dos contratos

Assim como os níveis de realidade que separa, o contrato no ato de linguagem se divide em duas frentes: uma circunstancial e outra linguageira. Há uma parte que delimita as razões do encontro e seu contexto, enquanto emerge outra que estabelece os recursos de fala adequados ao processo comunicativo em questão. Sendo assim, emergem dois contratos pilares: o contrato situacional (dados externos) e o contrato comunicacional (dados internos). É a partir da combinação dos incisos e cláusulas desses acordos que duas instâncias (enunciador e destinatário, EU – TU) se põem em uma arena de discussão e se fazem compreender a partir do compromisso com as condições estabelecidas. Rodrigo parece não ter atentado para as regras do contrato situacional (as que regem uma importante reunião de negócios), tampouco para as que deveriam pautar um encontro com um grupo de empresários japoneses – indivíduos que, provavelmente, não pertencem ao corpo de práticas sociais do qual o brasileiro faz parte, e que nem reconhecem essas práticas. No entanto, ao analisar os seus equívocos, Rodrigo deverá antes de tudo observar quatro pilares que ancoram a situação de comunicação. O contrato situacional leva em conta: 1) o objetivo do ato de comunicação (comunica-se para dizer o quê?); 2) quem são os envolvidos no processo (identidade); 3) a temática da ação comunicativa; e, finalmente, 4) as circunstâncias que revelam as condições materiais – o dispositivo (CHARAUDEAU, 1997). Sobre a finalidade do processo comunicativo, Charaudeau (2004) lista as seis principais visadas (visées), que caracterizam a intencionalidade “psico-socio-discursiva” em um ato de linguagem. Essas perspectivas são articuladas pelo EU, que idealizada a compreensão do TU – um destinatário ideal, condição que subsiste na medida do reconhecimento da instância receptora: 1. Visada de Prescrição: EU – Mandar fazer (faire faire); TU – Dever de fazer (devoir faire); 2. Visada de Solicitação: EU – Quer saber (savoir); TU – Dever de responder (devoir répondre); 3. Visada de Incitação: EU – Fazer crer (faire croire), a partir da persuasão; TU – Dever de acreditar (devoir croire), não em posição de inferioridade, mas por bem – para o seu bem;

 

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4. Visada de Informação: EU – Fazer saber (faire savoir); TU – Dever saber (devoir savoir); 5. Visada de Instrução: EU – Fazer saber-fazer (faire savoir-faire), orientação – transmissão de um modelo; TU – Deve saber fazer (devoir savoir faire); 6. Visada de Demonstração: EU quer estabelecer a verdade, a partir de provas; TU – tem que receber, compreender e aplicar a verdade. Para funcionar, os vetores devem ser articulados por uma dupla pausa: de um lado, pela intenção do EU Comunicante em uma relação de força com um TU Ideal; de outro, pelo lugar mesmo do TU, em seu horizonte de expectativas ao participar do ato comunicativo. Vale registrar que, essas visadas não aparecem de modo isolado em todos os processos. Uma delas sempre irá prevalecer em cada situação, mas pode haver um imbricamento de perspectivas, complexificando ainda mais o ato. Assim, uma disposição dessas visées poderia ser representada pela Figura 2, a seguir. Com um rápido olhar, vê-se um acondicionamento cruzado, mas organizado. Contudo, ao apurar o olhar, percebe-se que o arranjo engana a percepção; trata-se de uma alegoria da interpretação em uma circunstância comunicativa.

Figura 2: As seis visadas6

A segunda questão que ancora a situação de comunicação é a identidade dos sujeitos – dos parceiros da situação de troca. Há um reconhecimento recíproco que ajustará o modo de expressão e interpretação, baseado em componentes “psicossociais”, tais como “idade, sexo, categoria sócio-profissional, posição hierárquica, relação de parentesco, fazer parte de uma instituição de caráter público ou privado”, entre outras. (CHARAUDEAU, 2003, p.31).

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Desenho original, ilusão de ótica, de Sérgio Buratto. Disponível no site do autor: http://buratto.net/. Acesso em 14 mai. 2012.

 

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É importante lembrar, porém, que existem outros componentes que influenciam nesse passo. Há um artifício intencional, articulado com uma espécie de conhecimento prévio que cada um dos parceiros tem ou cria cognitivamente sobre o outro. A perspectiva revela uma preocupação em relação à intenção do ato pelo parceiro, de modo a avaliar seus desígnios diretos e indiretos – a possível manipulação e intentos estratégicos (CHARAUDEAU, 2003). Vale ressaltar ainda que, segundo Sabino (2011, p.51), “a cada situação, os sujeitos comunicantes assumem diferentes papéis que, por meio do reconhecimento social, são legitimados”. Isso faz com que as visadas obtenham êxito ou não, em razão do alinhamento com as outras frentes – o que começa a caminhar mais para o espaço do contrato interno, mas não deve ser esquecido (SABINO, 2011). As outras duas condições são as de propósito (macro-tema) e de dispositivo. A primeira responde à pergunta: “Do que se trata este ato comunicativo?”, representando o “saber” em questão em cada situação, enquanto a segunda irá adaptar o mote às condições e circunstâncias físicas, de espaço, tempo, entre outras, que compõem o ambiente da cena enunciativa. Paralelamente, Rodrigo também deve se preocupar com o contrato de comunicação, amparado pelos dados internos. É o espaço em que são dadas as instruções para a mise-enscène do discurso, em que a encenação do ato comunicativo se estabelece, respeitando certas restrições. Antes, é preciso registrar o que Charaudeau (2004) afirma sobre as três memórias. Os indivíduos precisam de referências para compreender os signos e, consequentemente, poder utilizá-los em seus processos comunicativos. Essa base é fornecida pela memória dos discursos, uma memória semiológica e uma memória das situações de comunicação. A repetição leva ao reconhecimento, o que possibilita a compreensão mútua dos sujeitos nos processos de troca, gerando, paralelamente, os quadros de restrições discursivas. Assim, alguns atos de linguagem serão considerados válidos, enquanto outros não, mediante o reconhecimento das cláusulas do contrato de comunicação. O termo ampara as partes e dá manutenção à situação de troca, possibilitando a um interlocutor imputar ações discursivas e ao outro, reconhecê-las. Nesse contexto, para David-Silva (2005, p.40), “o contrato é assim o que fala antes que se diga qualquer coisa”. E é essa voz interior e compartilhada que direcionará os procedimentos e comportamentos linguageiros dentro de determinadas situações. Para tanto, Charaudeau (2007) divide essas condutas em três frentes, a saber: o espaço da locução, o da relação e o de tematização, assim dispostos:  

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Locução: é o espaço da legitimação do EU, em que justifica a tomada da palavra, direcionando-se ao seu destinatário; Relação: é o tempo em que o enunciador irá estabelecer o vínculo com o interlocutor, fundamentando em relações de distanciamento ou união, supressão ou inclusão, ataque ou cumplicidade, entre outros. Tematização: é onde se articula o projeto de fala (projet de parole) com base em um assunto a ser tratado e onde se dão as variações ao longo do ato comunicativo. Para tanto, o enunciador deve tomar posição em relação ao tema em discussão (agindo como moderador), podendo escolher e utilizar perspectivas particulares como os modos “de intervenção” e/ou “de organização discursiva”. (CHARAUDEAU, 2007). Nesse sentido, pode-se verificar que o ato comunicativo responde a uma liberdade condicionada, articulando-se ao sabor da situação de troca, amparado por determinadas regras. Nesse sentido, para Charaudeau (2007, p.71), “contrato de comunicação e projeto de fala se completam, trazendo, um, o seu quadro de restrições situacionais e discursivas, e outro, desdobrando-se num espaço de estratégias”. Assim como as visadas, e até em razão delas, vários tipos de contratos podem se encadear. Um contrato pode dar sustentação a outros mais específicos, ou até abarcá-los, tal como na relação entre o contrato de informação e o contrato midiático. Essa coexistência pode se dar por inclusão ou entrecruzamento. David-Silva (2005) propõe uma divisão dos contratos que se entrelaçam em um mesmo processo comunicativo, incitando que a separação pode ser feita de modo hierárquico, a partir de três níveis, representados pela Figura 3, a seguir:

Figura 3: Hierarquia das especificidades dos contratos

No primeiro nível, se articulam as particularidades mais amplas do processo de troca, em que a finalidade do processo, a identidade dos parceiros e o macro-tema servem de base.  

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No segundo estágio, molda-se um subconjunto do contrato global, onde se especificam as condições gerais da interlocução. Finalmente, no topo, estão as variantes dos contratos particulares, que se entrecruzam e se sobrepõem em razão das especificidades das circunstâncias. (DAVID-SILVA, 2005). Mais uma vez, no caso específico dos telejornais, objeto de análise deste trabalho, eles são regidos por um contrato específico com os telespectadores. Contudo, os termos dessa relação estão fundamentados antes em, no mínimo, outras três instâncias: um discurso de informação, um discurso midiático e o próprio discurso televisivo. O discurso de informação parece ser o principal pilar do processo. Ele dá as diretrizes para várias dinâmicas – para as diversas formas de se transmitir o saber. Utilizando-se das especificidades desse discurso está a mídia, que tem como principal função observar o mundo e transformá-lo em uma mensagem compreensível – em informação. Contudo, essa instância também tem as suas normas, compartilhadas, de uma forma ou de outra, em cada um de seus suportes (televisivos, impressos, digital, entre outros) e gêneros (fundados principalmente na estrutura do entretenimento e do conhecimento). Por sua vez, as nuances da televisão também ditarão normas específicas para o fazer telejornalístico, que, em última frente, compõe-se com uma genética complexa e com várias particularidades7. Pensando especificamente nos noticiários, as concepções anteriores ficam mais claras ao se perceber que o tom principal desses programas seria o da:

seriedade, pois ele [o tom da seriedade] confere efeitos de sentido de verdade, confiabilidade, credibilidade, ao que está sendo noticiado. A esse tom principal, agregam-se tons complementares, tais como formalidade, contração, profundidade, etc (DUARTE, 2007, p.6).

Assim, todas as perspectivas do subgênero se articulam em torno da busca por esses vetores. Não obstante, essas condições não são estanques e variam de acordo com as combinações e a modelação empreendida nos programas. Há lacunas que podem ser ocupadas por novas abordagens, não interferindo na essência da atração enquanto filiada a um subgênero, mas lhe atribuindo uma carga particular e tornando-a distinta por determinados 7

Na relação com uma espécie de identidade dos subgêneros televisivos (lugar no qual, de acordo com determinadas correntes teóricas, se encaixaria o telejornal), a professora Elizabeth Bastos Duarte fala da tonalidade implementada em cada processo comunicativo. Para ela, o tom das atrações televisivas remete aos “traços do conteúdo da situação comunicativa” articulados pelo programa enquanto elemento de reconhecimento, implicando uma espécie de “fornecimento de outras indicações, que dêem a conhecer ao enunciatário como ele deve interagir com o que lhe está sendo ofertado” (DUARTE, 2007, p.4).

 

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aspectos. O que diferenciam as atrações de um mesmo subgênero seriam então as combinações tonais articuladas por cada um, podendo atuar como fidelizador da audiência. Nesse contexto, as concepções de Charaudeau (2007) sobre as visadas discursivas e os contratos poderiam se fazer presentes. Isto é, elas são úteis para se pensar que os programas realmente se organizam de modo a cumprir as cláusulas pré-estabelecidas nos termos da relação do processo comunicativo (e que normas e expectativas contratuais são estas). Além disso, são úteis para pensar que as estratégias de captação assumem um papel importante e consolidado no tipo de dinâmica (tonalidade) telejornalística que se tem hoje. Afinal, para Elizabeth Duarte (2007), o tom – dissipado na dinâmica dos programas – pode ser encontrado em uma observação discursiva e textual (esta mais ligada a uma aspiração de conteúdo), que contempla a interveniência, de um lado, na articulação dos atores, na perspectiva espaço-temporal e até na estrutura narrativa, e, de outro, “ligando-se a traços como a harmonização de cores, formas e sons, o jogo de câmeras e edição, os registros de língua, o guarda-roupa, o cenário, a encenação.” (DUARTE, 2007, p.8). A informação no noticiário televisivo passa então por uma série de discursos constituintes e, mais do que isso, é ainda condicionada por projetos de fala diferenciados e articulações estratégicas específicas, desenvolvidas no intuito de que as apostas feitas pelas emissoras sejam vencidas junto à audiência.

Figura 4: Dimensões do discurso do telejornal Fonte: David-Silva (2005)

 

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1.3.4 Do contrato da comunicação midiática da informação

Depois de refletir muito sobre o que poderia não ter dado certo na reunião com os japoneses, Rodrigo vai almoçar. Sentado à mesa, dando as primeiras garfadas, percebe que a televisão do restaurante está ligada, e acaba de entrar no ar o Jornal Minas. Sua conclusão sobre a reunião, afinal, era de que os processos comunicativos são mesmo sempre muito complexos, pois estão ancorados em uma teia de linguagem extremamente intricada. Com esse reflexo, diante do telejornal, começa a conjecturar que, mesmo o noticiário sendo monolocutivo, também é regido por uma série de perspectivas dos atos de comunicação. Rodrigo está certo, isto é, os procedimentos da mídia são ainda mais enredados do que ele pode prever. De início, um dos principais dilemas que existem acerca do sistema midiático é sobre o viés mercadológico e/ou simbólico que os media podem ter, o que pode inebriar a expectativa contratual da informação. Charaudeau (2007) leva à frente essa discussão, pontuando que é preciso distinguir os lugares de atuação dessas forças no fazer da máquina midiática. Para tanto, o autor institui um esquema em que funcionam três engrenagens: 1. Emissão: lugar das condições de produção; 2. Recepção: lugar das condições de interpretação; 3. Discurso: lugar de construção do produto.

 

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Figura 5: Os três lugares da máquina midiática Adaptação de Charaudeau (2007, p.23)

Conforme pode ser visto na Figura 5, o ambiente de produção se divide em dois espaços, ao que Charaudeau (2007) chama de externo-externo (o das condições socioeconômicas) e outro de externo-interno (o das condições semiológicas). Enquanto, de um lado, a instância é sobrepujada por seu caráter empresarial, do outro é refreada por aquilo que a preside, dentro das condições disponíveis. Em outras palavras, os media visam ao lucro, embora devam atender à função de informar. O ajustamento dessas duas frentes irá compor os efeitos visados pelo meio de comunicação de massa junto ao seu público, de modo a fazer o produto ser consumido (pelo maior número de pessoas possível) cumprindo, paralelamente, sua função social. Contudo, não há garantias de que o que se objetiva com os efeitos será de fato produzido junto à recepção, e não se sabe quais outras consequências poderão ser geradas. Tal perspectiva se dá porque a recepção ocupa o lugar das condições de interpretação. Esse cenário contempla dois espaços: um interno-externo (o do destinatário ideal) e outro externo-externo (o de produção de sentido). A primeira ambiência reflete apenas os efeitos esperados pela produção. Não é mais do que um alvo, uma imagem de audiência. Já o  

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segundo lugar representa os efeitos efetivamente produzidos, que não são necessariamente os mesmos efeitos visados pelos enunciadores. Uma análise dos sentidos efetivamente extraídos/produzidos a partir dos processos midiáticos é extremamente complicada, já que deve levar em conta uma leitura psicossociológica ampla, contendo análises refinadas de percepção, memória, retenção, discriminação e compreensão do que é percebido. Muitas vezes, a ideia que se tem de quem é o público advém de avaliações mais objetivas, com pesquisas de impacto de satisfação, o que comumente traduz-se como efeito produzido, o que não deixa de ser uma verdade, mas apenas uma parte superficial dela. Entre essas duas engrenagens, funciona um terceiro elemento – o da construção do produto. Trata-se de uma ambiência dos efeitos possíveis, não mensuráveis diante ao raio em que se abrem, representando possibilidades diversas de interpretação – possíveis interpretativos, segundo Charaudeau (2007). Aqui se combinam as formas do sistema verbal e não verbal (icônicos, gráficos, gestuais, entre outros), formando uma organização semiodiscursiva da qual se podem desprender sentidos variados. O texto, porém, é produto não apenas do emissor, mas é resultado de uma cointencionalidade, nascida do choque entre efeitos visados pela instância de enunciação e dos efeitos produzidos pela recepção. Isso quer dizer que, ao assistir ao Jornal Minas, Rodrigo está sendo alvo de uma série de investidas do telejornal. No entanto, não se pode afirmar que o que o noticiário visa será de fato produzido junto a esse telespectador, pois ele intervém na mensagem com sua interpretação. Nesse imbróglio, uma análise cruzada do produto permitirá ver os efeitos de sentido possíveis, dos quais uma parte (variável) corresponde às intenções (conscientes ou não) dos jornalísticos, e outra (também variável) está representada pelo sentido construído junto à recepção. Isto é, isso ocorre à medida que se considera a estruturação semiodiscursiva do media como um todo e os discursos de representação que pautam, de um lado, a própria instância de produção e, de outro, o contexto sociocultural de base dos destinatários (DAVIDSILVA, 2005; CHARAUDEAU, 2007). Nesse sentido, é de alguma forma possível compreender quem é Rodrigo a partir dos efeitos visados pelas emissoras – ou quem elas imaginam que ele é, já que suas ações dirigemse a um alvo. Um alvo amplo, é bem verdade, já que os noticiários lidam com uma volumosa audiência. Assim, adaptando o que David-Silva (2005, p.34) afirma sobre o discurso de telejornais de alcance nacional, compreender o discurso utilizado pela televisão em Minas

 

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Gerais, no intuito de informar um público tão vaso, é, também, uma forma de compreender um pouco a sociedade mineira. Para tanto, a comunicação midiática realiza-se a partir do que Charaudeau (2005) chama de duplo processo de semiotização do mundo. De um lado, há o fenômeno de transformação do mundo em estado bruto – um mundo a significar, gerando um mundo significado, construído a partir da dinâmica dos media. Do outro, há um processo de transação, que é o espaço de relação das instâncias de produção e recepção. Segundo Charaudeau (2007), no processo de (re)construção dos fatos, visando informar, a mídia procura atentar para três procedimentos básicos: descrever (processo de identificação), contar (reportar o que aconteceu) e explicar (buscar o sentido dos acontecimentos, por meio do fornecimento das causas). Já a dinâmica de transação realiza-se segundo os princípios do postulado de intencionalidade (CHARAUDEAU, 1993), a saber: alteridade, pertinência, influência e regulação. Em relação à alteridade, por mais que o processo midiático seja monolocutivo (quase sempre, salvo os casos de interatividade), o ato de linguagem é um procedimento que envolve duas partes. Nesse sentido, deve haver o reconhecimento recíproco das instâncias sobre os papéis que ocupam. Esse reconhecimento deve levar em conta não só as posições (EU-TU) que as opõem, mas também os universos de referência (saber compartilhado) e as motivações (objetivos) com o processo, que também integram essas instâncias. Isso quer dizer mais uma vez que, muito provavelmente, a Rede Minas sabe quem é Rodrigo. Contudo, o Jornal Minas não fala apenas para o nosso personagem – uma vez que ele não está sozinho no restaurante, tampouco em Belo Horizonte, ou no estado de Minas Gerais. Assim, o noticiário tem a missão de articular sua mensagem para um público extremamente amplo e heterogêneo, o que gera outras consequências:

tendo que vulgarizar a informação, para torná-la acessível, a televisão recorre excessivamente a esquemas fixados socialmente, a saberes amplamente partilhados (senso-comum, estereótipos), o que pode ser responsável por uma deformação do saber de origem (DAVID-SILVA, 2005, p.44).

De outra forma, as emissoras procuram também se direcionar a públicos-alvos específicos, identificando o perfil de determinadas faixas de idade, classes sociais, sexos, entre outros, articulando seus projetos de fala para serem dirigidos a grupos determinados.

 

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Em relação ao princípio de pertinência, este é o espaço em que se determina o que deve ser dito, dentro de critérios do que é considerado válido (pertinente) pelos parceiros no processo comunicativo. Contudo, essa decisão é feita quase que exclusivamente pelos media, selecionando o que vai ser noticiado, em um processo de gatekeeping, ou seja, de mediação e controle (WHITE, 1993). Quase, pois, o recorte é feito também com base na identidade do destinatário, com vistas a agradá-lo, visando à manutenção do processo comunicativo (a audiência, no caso dos telejornais). Assim, como as informações apresentadas pelo Jornal Minas não estavam agradando Rodrigo, ele solicitou ao garçom para trocar de canal, zapeando para a TV Globo Minas, que a essa altura já estava transmitindo o seu telejornal, o MG TV, possivelmente com outras informações – ou, no mínimo, organizadas de outra maneira. Contudo, não foi apenas esse princípio o determinante para a quebra do processo comunicativo. É na confluência dos quatro pilares que se estrutura o ato de linguagem e se extrai um sentido, uma motivação que determina as escolhas. No terceiro princípio, o de influência, se institui a captação, o efeito visado pelo EU mídia, junto ao TU telespectador – no caso dos noticiários televisivos. O exercício da influência, porém, é limitado, já que o TU idealizado pelo emissor pode reconhecer que está sendo alvo de um processo de influência, interpretando e agindo, então, em cima das apostas. Para David-Silva (2005, p. 43), “como a comunicação midiática se faz de forma monolocutiva [...], essa captação se realiza através dos rituais de abordagem, dos fenômenos retóricos, da imagem, entre outros”. Rodrigo vê então um casal de apresentadores, de pé, caminhando por um cenário colorido, com brilho, gráficos a mostrar mapas interativos, imagens ao vivo da cidade, convidados, trilha sonora, efeitos visuais, entre outros recursos que, sem que muitas vezes ele tenha uma clara noção, estão agindo junto a sua compreensão. São essas algumas das estratégias de influência que, se não forem pontuais, podem acabar por descaracterizar o produto e quebrar o contrato. O princípio de regulação vem, então, para ajustar a visada de captação (o terceiro princípio) ao objetivo do processo – a visada de informação. De alguma forma, essa premissa normatiza as influências – não as cessando –, mas apenas as equalizando junto ao que é a finalidade do ato, ativando a memória situacional dos parceiros sobre o caráter do processo. Nesse contexto, os media convivem com uma dupla face de visadas; enquanto devem fazer-saber (informação) procuram fazer-crer (processo de persuasão), o que remete, muitas vezes, mais ao fazer-sentir. É nesse meandro que nasce o espaço das estratégias dos emissores  

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(em nosso caso, os telejornais), discutidas na sequência. Antes, porém, depois de todas as discussões empreendidas, vejamos como se organiza o quadro geral do contrato da comunicação midiática da informação.

Figura 6: Contrato da comunicação midiática da informação Adaptação de David-Silva (2005, p.47)

1.3.5 Espaço de Estratégia

Rodrigo já está de volta ao trabalho e, antes de retomar as atividades, passa pela cantina da empresa para um cafezinho. Lá, depara-se com mais uma televisão ligada, exibindo o Jornal da Alterosa. Nosso personagem começa a se indagar sobre o número de telejornais exibidos na mesma faixa de horário: “– Com essa quantidade de programas, como eles fazem para se manter no ar?”. Isto é, Rodrigo já identificou que os telejornais são mantidos por empresas anunciantes. Essas, por sua vez, querem patrocinar produtos fortes, reconhecidos publicamente, com valores, e que, principalmente, tenham audiência. No entanto, diante de uma concorrência tão grande, como fazer para se destacar?  

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Percebe-se que cada telejornal constrói um projeto de fala diferenciado – por mais que a estrutura de base seja a mesma, em razão de uma ancoragem em discursos que os precedem. Esses constructos discursivos são formas de distinção dos noticiários, pautados muitas vezes por estratégias de reforço do que Aristóteles classificou como ethos, logos e pathos. Grosso modo, a primeira instância refere-se à credibilidade do enunciador – e ao modo como pode, por suas características próprias, influenciar o destinatário; a segunda refere-se ao discurso ancorado na racionalidade, no incontroverso; por último, o pathos refere-se aos apelos emotivos, com vistas a despertar sentimentos no interlocutor (HEGENBERG; NOVAESHEGENBERG, 2009). Do ponto de vista da semiolinguística, o ethos será uma construção, estabelecida no ato de linguagem a partir de uma imagem que o telejornal quer passar à sua audiência, e do que o público devolve como compreensão dessa investida. Nesse contexto, o projeto de fala será determinante para o estabelecimento das identidades, mas esta só será concretizada a partir dos efeitos que produzir, de fato, na recepção. Como foi visto anteriormente, uma leitura da recepção é extremamente complexa e demasiadamente ampla. Contudo, uma observação minuciosa dos efeitos visados pelos telejornais pode fornecer os indicadores que revelam seu perfil, sua identidade linguageira e as intenções que tem no processo comunicativo. Tal perspectiva pode se fundamentar na observação do movimento tênue realizado pelos telejornais entre o logos (uma dialética argumentativa e narrativa, pautada pela credibilidade/seriedade) e o pathos (com vista à captação por intermédio da emoção). Podem corresponder a essa dupla via três efeitos indicados por David-Silva (2005) como os principais implementos dos telejornais: os efeitos de realidade, ficção e patemização, que:

se, ao mesmo tempo, contribuem para se estabilizar o contrato, por outro lado abrem espaço para o estabelecimento de identidades e o questionamento do estatuto paradoxal da informação televisiva (DAVID-SILVA, 2005, p.53)

O efeito de realidade ancora-se em um processo de planificação de um mundo real/empírico ao qual o telejornal faz referência. Assim, há uma verdade de correspondência, composta por uma articulação de índices reconhecíveis socialmente, fazendo emergir a ideia de que a realidade social é exibida na tela da tevê. Para David-Silva (2005), esses índices são compostos por uma tríade que dá credibilidade e coerência aos noticiários televisivos: a função autenticadora da imagem; a exposição de uma experiência ampla e socialmente  

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partilhada; e, por fim, o saber – a explicação do mundo, por meio de uma intelectualidade teoricamente distante do telespectador, que só é possível graças à expertise dos media e de seus assessores (convidados-especialistas, apresentadores com papéis discursivos de especialistas, testemunhas, entre outros) – a fim de autentificar (discursivamente) o real, a partir da compreensão telespectadora (LEAL, 2008).

O telejornalismo é, assim, convertido num dispositivo produtor de realidades discursivas que, embora não sejam ficções, também não são fragmentos objetivos do real. São, antes de tudo, narrativas que produzem realidades que dependem da sua validação por parte do telespectador. (LEAL, et. al., 2011, p.58).

Assim, o efeito de ficção, por sua vez, cumpre um papel paradoxal, com vistas a passar a perspectiva de realidade. Ele emana do processo diegético dos noticiários, quando tentam estabelecer a tríade começo-meio-fim dos casos que apresentam. Essa ideia de totalidade decorre de uma carência do telespectador, que exige que os acontecimentos tenham sentido e que as histórias terminem. Nesse contexto, muitas vezes os noticiários recorrem ao senso comum, a arquétipos circulantes, a tematizações e explicações de ordem fenomenal, conforme preceitua David-Silva (2005). Além disso, o efeito de ficção pode ser obtido com articulações típicas do fazer cinematográfico, com angulações diferenciadas, utilização de filtros de imagem, trilha sonora, entre outros, o que começa a beirar à intenção patêmica. Essas estratégias têm também uma visada de captação, de modo a gerar sentimentos junto à audiência. Contudo, as frentes patêmicas visam apresentar conteúdos que serão compreendidos de formas variadas em razão do compartilhamento de um determinado universo de crenças que pautam a enunciação, e do estado emocional dos destinatários. Assim, correspondendo ao pathos, os media realizam também um processo de dramatização do mundo, de modo a “mobilizar a afetividade do público, a fim de desencadear o interesse e a paixão pela informação que lhe é transmitida” (CHARAUDEAU, 2007, p.92). Esses três efeitos estão em linha tênue um com o outro. Sendo assim, os telejornais precisam saber equilibrar o teor de suas ações. De um lado, devem cuidar para que os efeitos patêmicos não anulem a credibilidade e a discrição necessárias ao fazer jornalístico – tendo em vista a razão da relação (informar); e, de outro, devem zelar para que o ato comunicativo não esteja fundamentado apenas na verticalidade do processo, o que pode comprometer o desejo do parceiro-telespectador em participar da troca.

 

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Para a audiência, da qual Rodrigo faz parte, identificar esses efeitos é muito difícil, já que as perspectivas parecem inebriadas em razão da celeridade do processo e da confluência de estratégias distintas. As investidas ainda podem estar camufladas por uma relação já institucionalizada, ora pelo fazer (tele)jornalístico naturalizado socialmente, ora até pela legitimidade de determinados programas, como os que são alvo deste trabalho, a saber, o Jornal Minas, MG TV e Jornal da Alterosa. Em meio a todas essas frentes, parte do intento deste trabalho é perceber quais são os efeitos visados pelos três telejornais supracitados. Isso será feito a partir de uma observação de sua organização estrutural e de sua dinâmica de apresentação, reconhecendo que esses espaços, muitas vezes preteridos em razão da primazia das reportagens em pesquisas acadêmicas, têm condições de revelar as nuances dos noticiários televisivos, fornecendo indicadores que expõem a importância dos telejornais em nossa sociedade. Para tanto, é preciso que sejam definidos, antes, métodos não só para observação, mas para uma análise detalhada desses pilares do noticiário, conforme poderá ser visto a seguir.

 

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CAPÍTULO 2 COMO ANALISAR TELEJORNAIS?

(...) cada investigador tem repugnância em descrever a sua hesitante alquimia, contentando-se com a exposição rigorosa dos resultados finais, evitando assim explicitar as hesitações dos cozinhados que os precederam, com grande prejuízo para os principiantes que não encontram modelos, receitas acabadas, logo que se dedicam a análises que, pelo seu material ou pelo seu objetivo, se afastam por pouco que seja, das vias tradicionais. (BARDIN, 2003, p.32).

 

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2.1 Introdução

Qual seria a melhor forma de se realizar uma apreciação crítica de um telejornal? Qual seria(m) a(s) metodologia(s) mais adequada(s) para enxergar a dinâmica, a estrutura, as propostas, os efeitos visados – velados ou não – em cada enunciado, em cada expressão? Como analisar os aspectos que dão o contorno do processo comunicativo estabelecido entre os programas e os telespectadores? Acredita-se que essas dúvidas inquietam pesquisadores diante do propósito de articular uma análise de produções televisivas. A angústia se dá na medida em que parece não existir um modelo completo, sistematicamente articulado para esse tipo de diagnóstico8. Bardin (2003) é um tanto enfática, e até irônica, ao tratar dos caminhos metodológicos adotados por pesquisadores e a herança que deixam para a leva de novos analistas, conforme pode ser visto na epígrafe deste capítulo. Pretende-se aqui ir contra essa perspectiva, tentando ajudar a resolver questões como as que se apresentam no primeiro parágrafo desta seção. Mas seria então possível estruturar um esquema de análise de telejornais? Ao menos aos propósitos desta dissertação, crê-se que sim e almeja-se que o trabalho possa servir de base para pesquisas análogas. Ainda que a priori paradoxal, compreende-se que uma fusão entre ciências aparentemente divergentes, a partir da convergência de suas potencialidades, poderia fornecer um amplo e qualificado conjunto de informações. Refere-se aqui à junção da Análise de Conteúdo (AC) com Análise do Discurso (AD)9, não se tratando de escolher o melhor caminho, mesmo porque esse tipo de juízo é intrincado. Pretende-se amalgamar duas áreas amplas, com características distintas, e que se articulam na medida em que cada uma cumpre um papel pontual – ainda que, neste trabalho, elas não trabalhem de forma separada, mas confluente.

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Isto é, algumas investidas, como a de Itânia Gomes (2011), têm se dedicado a desenvolver e apresentar caminhos possíveis para a análise de telejornais. 9 Desde já, é preciso fazer algumas ressalvas – reiteradas ao longo do trabalho. Compreende-se que a AD absorveu boa parte das perspectivas da AC em seu escopo, uma vez que é parte importante de uma análise discursiva trabalhar com a materialidade do que se visa examinar. Ainda assim, reivindica-se aqui pontuar a relevância da AC como seção de rigorosa análise descritiva de conteúdo dos telejornais, uma vez que esta oferece instrumentos valiosos e diferenciados de observação, advindos de uma escola com outros posicionamentos, o que garante resultados mais ricos na complementariedade de informações. Não obstante, esta pesquisa, como abertamente declarada em sua fundamentação, é eminentemente discursiva.

 

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2.2 Análise de Conteúdo e Análise do Discurso em sintonia

Existe uma série de discussões acerca das características da Análise do Discurso (AD) e da Análise de Conteúdo (AC). Contudo, pouco se veem estudos que contraponham as duas áreas. A maioria dos pesquisadores destaca as principais diferenças, e não as semelhanças entre as áreas e a maneira como poderiam convergir em razão de um determinado propósito. Mas seriam então as divergências mais acentuadas, ou uma discrepância no foco de observação o principal limitador de notas favoráveis à aproximação? Independentemente da resposta, conjectura-se que faltam pesquisas que proponham demonstrar como essas duas áreas poderiam afluir10. Parte-se da hipótese de que há uma interface entre as duas teorias. Isto é, a AD, de certa forma, compartilha procedimentos analíticos semelhantes aos da AC. Dessa maneira, percebe-se que pode haver um vínculo (por vezes esquecido, ou até rechaçado) entre as duas frentes e que, por isso, estabelecendo um levantamento histórico de cada teoria e identificando suas potencialidades, poder-se-ia ter um trabalho mais rico e ainda mais detalhado. Nesse sentido, como primeira etapa para constituição do modelo combinado, era necessária uma revisão teórica das ciências em destaque, traçando os conceitos e o desenvolvimento de cada uma, estabelecendo também considerações diversas sobre a possibilidade de edificação do esquema, o que já fora realizado em proposta anterior (BRAIGHI, 2011d). Defendeu-se em estudo precedente que, em detrimento de qualquer tipo de objeção, não se pode falar em superioridade da AD frente à AC (ainda que variem em amplitude), e vice-versa, mas, sim, em aplicabilidade, diante aos fins almejados11.Valeria muito mais um reconhecimento, por parte de pesquisadores das duas frentes, das potencialidades e limitações de cada metodologia. Para os objetivos que aqui se propõem, crê-se que, diante da quantidade de expressões que autores utilizam para falar sobre a AD e AC (ciência, metodologia, áreas de conhecimento, entre outras), a melhor forma de pensar nelas é como conjuntos de técnicas e estratégias voltadas à apreciação crítica de determinados fenômenos e perspectivas textuais e 10

Antes de propor a articulação dessa metodologia neste trabalho, foram empreendidas avaliações sobre sua viabilidade e particularidades. Os resultados foram apresentados em eventos científicos no ano de 2011 e lapidados a partir de contribuições diversas. Parte do que se relata aqui pode ser visto em Braighi (2011c; 2011d; 2011e). 11 Mais uma vez, algumas contribuições sugeriram que o trabalho utilizasse apenas a Análise do Discurso, uma vez que esta compreende em seu escopo um levantamento material, análogo à proposta da Análise de Conteúdo. Porém, ao verificar-se a fundamentação da AC, percebe-se que ela pode colaborar de maneira muito mais pontual, quando suas particularidades são levadas em consideração.

 

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audiovisuais. Assim, de alguma forma, elas se descomplexificam, se abrem, e dão oportunidade para a extração de determinados elementos que são oportunos para a criação do projeto analítico (BRAIGHI, 2011e). Entende-se também que é possível o estabelecimento de um esquema de estudo de telejornais, que combine AC e AD12, de modo tal que sejam extraídas as potencialidades de cada uma das áreas. Contudo, percebe-se que não há uma receita aplicável a todos os casos, uma vez que a regra que precede, nos dois tipos de conjuntos de técnicas, é o estabelecimento de objetivos claros, que determinam o caminho que deverá ser seguido pelo analista. Assim, paradoxalmente, verificou-se que não seria possível estruturar um modelo amplo, mas que, a partir da delimitação das propostas, os diagramas poderiam ser compostos. Porém, antes de expor esses esquemas, devem ser conhecidas as características do que será estudado. A seguir, será abordada a organização dos telejornais, destacando aspectos relacionados à sua apresentação e estrutura. Logo após, são revisitadas as perspectivas da AC e da AD, articuladas especificamente para este trabalho, de modo pontual para as análises (BRAIGHI, 2011e).

2.3 A organização dos telejornais

Entre as referências bibliográficas existentes, e em detrimento de um olhar particular sobre a divisão e arranjamento dos noticiários, escolheu-se como base as discussões de Jost (1999) para verificar as características mais gerais dos noticiários televisivos. Recorremos ao movimento analítico adotado por esse professor francês, que demonstra seu método de análise a partir de exemplos extraídos no exame da tevê francesa no dia 29 de outubro de 1998, que era, nas palavras do autor, “un jour comme un autre”13 (JOST, 1999, p.75). Jost (1999) divide os noticiários em três espaços amplos, canchas nas quais os pesquisadores devem focar as suas análises: 1) a apresentação dos telejornais; 2) a estruturação dos programas; e 3) as (construções das) notícias. A primeira contempla a apreciação da abertura – com efeitos visuais, o sumário, a cenografia e as funções do 12

No caso da Análise do Discurso, optou-se pela abordagem da escola francesa. Apesar de considerar-se que os telejornais franceses guardam diferenças para os brasileiros, escolhe-se aqui a perspectiva de Jost (1999), adaptada por David-Silva (2005), por entender que se trata de uma abordagem abrangente e que a tonalidade do tipo de noticiários a serem analisados a posteriori é simétrica às que foram observados por esses pesquisadores (DUARTE, 2007).

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apresentador. A segunda perspectiva, por sua vez, deve dar conta da hierarquização da informação nos noticiários, a relação e distribuição temática das matérias, sua categorização, além de uma análise contextual mais ampla, no que concerne a observar a grade de programação da qual o programa analisado faz parte e o que o seu posicionamento pode revelar. A última frente deve corresponder à observação da articulação das notícias, que pode, entre outras condições, empreender exames acerca do que o texto verbal expõe dentro das matérias, o que as imagens nas reportagens denotam e conotam, a relação entre imagem da informação e realidade, e, por fim, os tipos de imagens utilizadas em cada construção, entre outras frentes. (JOST, 1999). No trabalho desenvolvido por David-Silva (2005), alguns ajustes foram realizados, de modo tal que fora construído o esquema apresentado pela Figura 7, aqui readaptado. A partir desse esquema, serão analisadas nesta dissertação as frentes ligadas à apresentação e estruturação dos telejornais. Na primeira frente, serão evidenciadas formas de se observar as vinhetas, os elementos cenográficos, as escaladas e a dinâmica dos âncoras dos programas e, na segunda, será explorada a organização e a estrutura temática dos noticiários.

Figura 7: Organização dos Telejornais Readaptação de David-Silva (2005, p.65)

Apesar da utilização desse percurso e embora se compreenda que um diagnóstico pormenorizado das reportagens (composto pela observação das preferências discursivas e um exame da função das imagens nas matérias, por exemplo) possa revelar aspectos distintivos e  

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pontuais de um telejornal, esse gênero não será trabalhado. Isso porque a abordagem se tornaria complexa e se abriria demasiadamente para além da discussão presente nesta dissertação, o que poderia comprometer a qualidade do trabalho em razão do tempo para pesquisa e produção. Ainda assim, no meandro de análise contemplado, poderão emergir características variadas, tais como o processo de construção identitária dos programas, suas estratégias de apelo junto ao público, sua dinamicidade, as escolhas ligadas à tematização e o que elas dizem em relação ao que o noticiário propõe e como se norteia, entre outras condições. Para esse fim, os métodos de observação não serão estanques. A proposta é a de que haja uma correlação entre os aspectos dos programas, utilizando-se aqui, conforme já anunciado, a junção de duas metodologias de diagnóstico de grande valor, a Análise de Conteúdo e Análise do Discurso, como poderá ser visto na sequência. Antes, contudo, vale verificar como se articulam apresentação e estrutura nos noticiários.

2.4 Apresentação dos telejornais

Como visto anteriormente, a apresentação dos telejornais se sustenta pelo quadrante formado pela escalada, vinheta, apresentador(es) e cenário. Nesta seção, são descritas as principais perspectivas de cada elemento. Também será demonstrada pontualmente a maneira como, apesar de terem espaços bem demarcados, é tênue a linha que separa um elemento do outro, o que faz com que haja um imbricamento entre as partes e sejam gerados sentidos múltiplos em razão da dinâmica de apresentação de cada noticiário.

2.4.1 Escalada É como se a foto da capa do jornal ganhasse vida e se movimentasse. (PORCELLO, 2006, p.80).

A concepção de escalada (ou sumarização, índice) telejornalística de Porcello (2006) é um tanto lúdica, mas didática. Afinal, essa parte dos noticiários, de fato, reúne, assim como o  

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gênero impresso, as manchetes do dia, representando o menu de informações à disposição do telespectador/leitor. Pensando na metáfora do cardápio, nos dois dispositivos (tele e jornal), são articuladas estratégias de captação da audiência, de modo a despertar o desejo de consumir o produto midiático não só por suas qualidades, mas pela forma como é apresentado. Isso se dá na escalada por meio de escolhas relacionadas às melhores fotografias, dos textos de maior impacto, da disposição hierárquica dos temas de maior relevância para o público, com vantagens para a televisão, que pode fazer isso tudo acompanhada da entonação de seus apresentadores, de uma trilha sonora animada, além de uma edição de imagens dinâmica e uma bela e impactante vinheta ao final. Nesse sentido, a escalada no telejornal não é apenas o sinal; ela não só chama o telespectador, como visa prender sua atenção, utilizando-se de uma técnica que se assemelha ao teaser publicitário. É nesse espaço que se reforçam as cláusulas do contrato anteriormente assinado entre as partes (CHARAUDEAU, 2007), constituindo “a promessa de um bom programa, de que vale a pena esperar. É ainda o estabelecimento de um compromisso que o apresentador faz com seu interlocutor em relação ao conteúdo de seu jornal” (DAVIDSILVA, 2005, p.73). Nesse contexto, também não pode escapar a ideia de escala, que remete às gradações hierárquicas, tomando por referência determinados índices. O indicador que ancora a sumarização de um telejornal muito provavelmente remete aos aspectos de valor-notícia, ou seja, da noticiabilidade (SILVA, 2005). Contudo, os critérios relacionados a esse conceito podem variar de forma tênue de um veículo para o outro. Não obstante, diante da constante mudança nas estratégias utilizadas para apresentação do conteúdo nas escaladas, é importante observar as sumarizações de modo particular a fim de entender como se dá a atribuição de importância às informações em cada noticiário. Assim, pensando na analogia do termo com outro tipo de escalada, o montanhismo, é questionável pensar que o final seja o mais importante, tanto quanto o início. Nesse sentido, onde então estaria a parte que se constitui como a mais importante (o topo)? Seria o cume o mais importante, ou já se está nele na sumarização, espaço em que as matérias têm a mesma importância, maior do que todas as outras que ali não foram relacionadas? A escalada constitui-se como um considerável indicador da política editorial de um telejornal. Na sumarização são feitas escolhas que refletem a identidade do noticiário e a imagem que querem passar, revelando, por conseguinte, o seu próprio público. Em outra via, essa é uma seção fundamental, representando o que o programa tem de mais primário.

 

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Talvez por isso, as escaladas sejam alvo de investigação de pesquisadores, que a tomam como referência (objeto) para pensar em aspectos distintos do telejornal e/ou da prática jornalística. Isso pode ser visto, por exemplo, em Soares (2008) na observação da tematização dos estigmas sociais. Em outros trabalhos, como nesta dissertação, a análise do índice do noticiário é visto, na maioria das vezes, como condição/etapa para enxergar o programa de modo mais completo, como acontece nos já citados estudos de David-Silva (2005) e Porcello (2006), entre muitos outros. Em detrimento de uma revisão de literatura pontual, percebe-se que esse importante elemento constituinte dos telejornais é observado tradicionalmente sob alguns aspectos, os quais são aqui pautados de modo a cumprir o objetivo específico relacionado à apresentação dos telejornais. O primeiro processo é justamente verificar a presença ou não dessa seção nos programas, bem como descrevê-la pormenorizadamente, de modo a perceber a atenção dada aos detalhes desse fragmento do noticiário. A caracterização da escalada leva em conta, por exemplo, o seu método de apresentação, em interconexão com a função do apresentador, espaço que revela as estratégias de contato com o telespectador. Em seguida, como foi visto anteriormente, é importante averiguar quais temáticas têm mais destaque na escalada, por meio da verificação do tempo destinado a cada manchete e de sua ordenação cronológica. Na escalada, o tom enunciativo pode denotar importância e até conotar sentidos outros às matérias. Assim, analisa-se como se dão as nivelações tonais em cada uma das manchetes, de modo a perceber as intenções dos telejornais a partir da observação da ênfase aplicada em cada chamada, destacando e/ou suavizando conteúdos. No que concerne ao áudio, também deve ser visto como e com que intenção os efeitos sonoros são utilizados, de modo a entender, mais uma vez, as escolhas e estratégias de contato entre o telejornal e a imagem pretendida. A análise dos aspectos iconográficos e sonoros da escalada deve ter como continuidade, entretanto, a observação das vinhetas. Isso porque, como estratégia quase que padrão nos telejornais brasileiros, as duas instâncias são exibidas em sequência. Na maioria dos casos, a trilha sonora tem harmonia análoga, mixada de forma que haja uma ascendência que se encerra ao final da animação da vinheta. Por fim, em vários noticiários, os matizes e as formas do grafismo são os mesmos, tanto na sumarização quanto nas vinhetas, conforme poderá ser visto a seguir.

 

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2.4.2 Vinhetas A intenção de todos os telejornais é a mesma: como a sirene de uma fábrica que chama os operários para o trabalho, o propósito da vinheta de abertura de um telejornal é convocar o público telespectador para sentar-se diante da tela luminosa que o mundo vai entrar na sua sala a partir daquele momento. (PORCELLO, 2006, p.79)

Não se pode discordar de Flávio Porcello (2006) quando o autor comenta que a função da vinheta de abertura dos telejornais seja chamar a atenção do público-telespectador; mas seria apenas essa a razão da existência desta produção visual? O próprio autor falará ainda da identificação do programa pelo público14 a partir dessa ferramenta comunicacional. Considera-se, porém, neste estudo, a vinheta como um elemento estético-discursivo que tem uma função ainda mais ampla e importante para os telejornais. Ela representa a marca do noticiário, exercendo uma função fática, chamando o telespectador para assistir ao programa; ao mesmo passo em que atua como estratégia de reconhecimento não apenas do programa, mas de assimilação de sua proposta editorial. Assim, é por meio da vinheta que se tem uma primeira percepção do ethos discursivo estabelecido pelo telejornal (DAVID-SILVA, 2005). Além disso, na concepção de Pierre Moeglin (1986), a vinheta é uma das estratégias para definir o look do noticiário, a articulação de uma imagem – aquela que a emissora quer dar à sua atração. Ainda assim, mesmo diante de tão importante papel, existem poucos trabalhos que analisaram as vinhetas de modo profundo. Isto é, a maioria das abordagens se resume a citálas dentro do escopo dos programas. Aznar (1997), entretanto, é a principal referência bibliográfica no País. Em obra singular, demonstra a origem do termo vinheta, sua aplicação ao longo dos anos e seu empréstimo, ou adaptação, para a televisão. O autor retorna séculos para demonstrar a relação da expressão com o sagrado, na medida em que a videira e a oliveira eram símbolos da representação religiosa, amplamente utilizados como logotipagem de conceitos e ideias ligadas ao transcendental. Assim, o que era de ordem religiosa, expresso na interlocução oral, aos poucos começa a ornar as iluminuras da Idade Média (AZNAR, 1997). Com o passar do tempo, as artes-gráficas transformaram-se, mas mantiveram-se os elementos de adorno. Na Idade Moderna, as margens enfeitadas e os adereços começaram a 14

Porcello (2006) ainda menciona as metodologias mais aplicadas para análise das vinhetas, tais como o estudo das cores e a semiótica aplicada.

 

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compor o que se chama de vinheta nos impressos; uma espécie de moldura com função gráfico-decorativa. No século XX, há uma adaptação do termo para os media, de modo tal que as vinhetas fossem concebidas como elementos decorativos, dos veículos e seus produtos. Atualmente, na concepção de Aznar, podemos conferir às vinhetas televisivas o estatuto de “fantasias visuais que estão presentes no vídeo, levando aos telespectadores momentos de emoção, ação e criações artísticas” (1997, p.51). Essa é uma visão contemporânea, haja vista as propostas iniciais, ainda na década de 1950, em que cartões, focalizados pelas câmeras, serviam de telas que indicavam a passagem (término-início) de um determinado programa. Em seguida, os cartões deram lugar às artes, vinhetas com imagens estáticas, que serviam aos mesmos fins, contendo tão somente título, chamada interprogramas, identificação, ilustração, entre outras informações básicas. Com tecnologias que evoluíam gradativamente, as imagens ganharam movimento e se tornaram o que são hoje, sobretudo por causa da emergência de aparatos avançados de edição gráfica. Aznar afirma que “existem relações históricas e sociais entre os símbolos expressos na vinheta e as possíveis interpretações” (1997, p.34). As vinhetas têm, nesse sentido, uma ancoragem sociocultural aguda. Como já foi dito, podem-se perceber questões ideológicas e até identitárias nelas. Jaqueline Schiavoni (2008), por exemplo, fez longa análise de vinhetas de telejornais exibidos nacionalmente. Ao final, a autora teceu amplas considerações sobre a relação entre o telejornalismo e a constituição de uma identidade visual (que compreende a intenção de articulação e/ou demonstração de uma proposta, um valor a ser apresentado pelo programa e a sua relação com o contexto sociocultural em que os noticiários se inserem) a partir das vinhetas. Além de Schiavoni (2008), Freitas (2007) e o próprio Aznar (1997), entre outros autores, também já empreenderam análises em que demonstravam a tênue relação entre as vinhetas televisivas (sejam elas vinculadas aos telejornais ou, por exemplo, à teledramaturgia) com a cultura brasileira. Nesse sentido, não se pode desprezar o potencial desse instrumento. Assim, ao analisar noticiários televisivos, deve-se procurar pensar no estabelecimento de um processo comunicativo entre as vinhetas e o seu público-telespectador, levando em conta as características desse instrumento, a fim de perceber possíveis relações com elementos da cultura popular, além de se analisar o que isso revela sobre a atração. Aznar (1997) também traça as diferenças marcantes entre os tipos de vinhetas no telejornalismo. Interessam nesta seção, porém, na concepção de Schiavoni (2008), as vinhetas de abertura dos programas, em detrimento, por exemplo, de vinhetas especiais, ou de  

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abertura/chamada de matérias, tais como Rodrigues (2007) se propôs a fazer, que serão consideradas em outra seção desta dissertação: Estrutura. Vale citar, contudo, que em todos os casos, as vinhetas, sobretudo as de abertura de telejornais, combinam os elementos sonoros e visuais de modo a exercer um determinado tipo de afetação no público-telespectador. Caberá a este estudo então, analisar estas duas instâncias (verificando o que denotam e conotam os elementos), percebendo as intenções articuladas, compreendendo o intercruzamento entre as emissoras e o contexto sociocultural de produção, emissão e recepção.

2.4.3 Cenário Antigamente todos os jornais de televisão tinham praticamente o mesmo formato: uma cortina no fundo com uma cartela com o nome do patrocinador. (CLARK; LIMA, 1988, p. 31).

Muita coisa mudou no cenário telejornalístico desde o período nostálgico citado por Fernando Barbosa Lima e Walter Clark. O depoimento de quem viveu os primórdios da televisão no Brasil contrasta muito com o que se pode ver das produções de hoje. Se antes o saguão do edifício onde se localizava a sede dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, abrigava os primeiros noticiários, hoje estúdios e cenários cada vez mais amplos e habilitados tecnologicamente são construídos e ofertados como ambientação para apresentação das notícias. Tal perspectiva reflete-se na agregação de valores aos noticiários, pois o cenário responsabiliza-se – tanto quanto as vinhetas – pela imagem que o telejornal procura se dar. Com cenografia mais moderna, demonstra-se avanço tecnológico, que ajuíza ao jornalismo uma postura ágil. Na mesma medida, com estética igualmente elaborada, objetiva-se seduzir o telespectador, prendendo sua atenção, revelando, com cores e formas, outras estratégias, tais como a credibilidade, a maior delas (DAVID-SILVA, 2005). Cardoso (2009) compreende que o cenário atua como forte significante no telejornal, empreendendo funções diversas. Para ele:

 

65   é preciso que se entenda que ocupar a posição de fundo não é ser depreciado em relação aos outros elementos de composição do texto. Ao contrário disso, se ele auxilia o apresentador na condução do programa – com bancada, monitores etc. –, valoriza sua exposição – por meio das cores e formas –, colabora com o entendimento da matéria – com os monitores ou o videowall – e facilita o reconhecimento do programa por parte do público – com a representação do logo ou grafismos –, já está, aí, exercendo sua função esteticamente (CARDOSO, 2009, p. 109, grifos no original).

Para além disso, segundo Soulages (1999), o cenário dos noticiários torna-se uma espécie de espaço nodal, caminho indispensável para o ingresso no mundo dos eventos e fatos sociais, sendo fundamental para a macroestrutura telejornalística, sobretudo como suporte de alternância entre as imagens externas (as reportagens) e o espaço do estúdio. O cenário reforça, então, a condição da rede invisível e sensível que liga, em tempo real, telespectadores e acontecimentos (DAVID-SILVA, 2005). Não obstante, se antes o formato dos cenários dos noticiários era padrão, agora cada um procura seguir uma linha distinta. Talvez isso seja fruto do contrato estabelecido com cada tipo de público. Nesse contexto, não se pode desprezar a carga de sentidos emanada pela cenografia e a forma como, cada uma a sua maneira, pode influenciar na composição da informação e em sua recepção. Nada sem querer, o cenário então se torna estratégia telejornalística, atuando como “signo com qualidades potenciais para orientar o telespectador na narrativa do programa” (CARDOSO, 2009, p. 108). Elementos visuais são arranjados das mais variadas formas, visando efeitos distintos na recepção. Assim, cabe a uma análise como esta averiguar o que os elementos cenográficos podem denotar e conotar. Tal perspectiva só será possível, contudo, na interconexão com a postura do apresentador e na observação da movimentação de câmera utilizada. De modo mais didático, é necessário perceber a modulação do cenário em cada enquadramento e em como este dialoga com a informação apresentada no instante da angulação. Assim, pode-se obter uma percepção refinada de como a composição cenográfica pode influenciar na apresentação da informação. Cardoso corrobora tal visão, ao afirmar que “cada elemento de composição do cenário deve ser pensado dentro das relações que possa estabelecer com os outros elementos de composição do texto” (2009, p. 106). Nesse contexto, um problema maior que deve ser levado em consideração é que “o cenário, quando estabelece relação com outros elementos da cena, acaba perdendo a neutralidade que o gênero sugere” (CARDOSO, 2009, p. 105). Assim, a ambientação não

 

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sugere apenas a mediação, ou tem função meramente estética, mas compõe o enunciado na medida em que também reforça a enunciação. Como comenta David-Silva (2005), o mundo encenado pelo estúdio não é definitivamente o “mundo-todo mundo”. Mas se confunde com ele, ajustando a realidade a partir de matizes próprios da televisão e, mais ainda, da instância produtora – o telejornal em questão. O que se apresenta então é “um cotidiano que não é o do telespectador. O mundo encenado se refere aos jornalistas e à própria televisão” (DAVID-SILVA, 2005, p.93). Ainda assim, insiste-se que o cenário não faz nada sozinho. Há um estreitamento de todas as linhas de apresentação, de modo que a informação é influenciada pelo produto desse imbricamento. Para Cardoso (2009, p.105-106), “os signos visuais se articulam com os verbais e sonoros de tal forma que se torna impossível saber em que ponto começa um e termina o outro. É um risco afirmar, hoje, que o significado encontra-se apenas na fala do apresentador”. De posse das informações sobre a cenografia, e distinguidas as outras duas frentes ligadas à apresentação (sumário e vinheta), cabe conhecer um pouco mais sobre a última instância produtora de significados do quadrilátero: o apresentador.

 

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2.4.4 Apresentador Le 20 heures, ce ne sont pas seulement des informations. C'est un homme ou une femme, qui vient vous raconter des histoires, et vous montrer des images. C'est en sa compagnie qu'on passe une grande demi-heure. C'est lui, ou elle, qui nous guide. Il, ou elle, nous indique discrètement de quels événements il convient de nous réjouir. Quels comportements nous devons juger scandaleux. Où est la modernité radieuse. Où sont les archaïsmes. Le présentateur n'est pas seulement un journaliste. C'est bien davantage. Un éclaireur, un directeur de conscience, un bruit de fond, un ronronnement, jamais de cris. Tout en lui (en elle) est signe. Son âge. Son sexe. Sa cravate ou son absence de cravate. Son collier. Son maintien. Sa fatigue. Son dynamisme. Ses sourires [...]15 (SCHNEIDERMANN, 2006)16

A abordagem de Daniel Schneidermann, ao mesmo tempo em que traça o perfil dos apresentadores de telejornais e planifica a relação que estabelecem com os telespectadores, constitui, na sequência do raciocínio, uma crítica a essas novas vedetes televisivas. Por mais que o foco se dê nos âncoras das atrações exibidas às “20 horas”17 e que lance um olhar para a pequena tela francesa, suas considerações vão ao encontro não só de figuras como Harry Roselmack, David Pujadas ou Melissa Theuriau18; igualmente compreendem o apelo popular e o buzz, como diria o autor, a jornalistas como Willian Bonner e Fátima Bernardes, assim como podem ser pensadas na batuta exercida pelos regentes dos telejornais regionais, por que não, também daqueles exibidos ao meio-dia.

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Em tradução livre, “O [jornal das] 20 horas* não é apenas informação. Ele é um homem ou uma mulher, que vem para te contar histórias e apresentar imagens. É em sua companhia que ele passa uma grande meia hora. É ele, ou ela, que nos guia. Ele, ou ela, nos diz discretamente [calmamente] com qual acontecimento devemos nos alegrar [celebrar]. Que comportamentos devemos julgar escandaloso. Onde está a modernidade radiante. Onde estão os arcaísmos [o que é arcaico]. O apresentador não é apenas um jornalista. Ele é muito mais. Uma luz, um diretor de consciência, um ruído ao fundo, um zumbido, que nunca se altera. Tudo nele (nela) é um signo. Sua idade. Seu Sexo. Sua gravata ou a ausência da gravata. Seu colar. Sua postura. Sua fadiga [dureza]. Seu dinamismo. Seus sorrisos”. * Le 20 heures pode ser referir ao telejornal francês, ou, o que parece mais certo, a todos os noticiários desta nobre faixa horária - tanto na televisão brasileira, quanto na francesa. 16 Coluna do jornalista francês Daniel Schneiderman, publicada em 10/03/2006, no Libération. Disponível em: http://www.liberation.fr/tribune/010141539-du-cote-des-hommes-troncs. Acesso em 25 nov. 2011. 17 Sobretudo ao próprio 20 heures, telejornal da televisão francesa. 18 Âncoras de destaque na França. Além de profissionais conceituados, suas vidas privadas são alvo de interesse dos paparazzi europeus. Melissa Theuriau, por exemplo, ganhou notoriedade após vencer uma eleição na internet, sendo escolhida a apresentadora de telejornal mais bonita do mundo. Depois disso, seu nome passou a fazer parte da agenda diária de fotógrafos de personalidades do velho continente.

 

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Nesse sentido, partindo da concepção de Schneidermann, quer se demonstrar como se dá a cadência dos âncoras mineiros para contar as histórias ao seu público, como eles guiam os telespectadores em meio aos acontecimentos articulados na trama jornalística, e de que maneira seus movimentos, expressões e até vestimentas podem influenciar, em cada enunciado, por um motivo ou outro, a compreensão/interpretação da recepção. As funções dos apresentadores e o apelo que geram junto à audiência tradicionalmente se apresentam como um dos mais importantes elementos de análise dos telejornais; por vezes então são observados separadamente, outras tantas dentro do escopo de metodologias mais amplas. Sean Hagen (2004; 2007; 2009), por exemplo, vem empreendendo trabalhos nessa linha, tomando o Jornal Nacional da Rede Globo e seus âncoras como corpus principal. O autor tenta compreender como é construída a imagem de Fátima Bernardes e William Bonner junto à audiência e as nuances do relacionamento desses apresentadores – e, por conseguinte, do próprio noticiário – com os seus telespectadores. Ao questionar quem dá o tom aos telejornais, Duarte e Curvello (2009, p.66-67) lançam a hipótese de que esses atores discursivos acumulam não só a função de condutores, “intervindo em cena, gerenciando o tempo, realizando as transições entre os diferentes segmentos do programa, encarregando-se das debreagens e embreagens internas ao texto do programa”, mas também de mediadores nos programas diante da recepção,

uma vez que centralizam e capitalizam para si a tarefa de regulação dos valores e de manifestação do ponto de vista a partir do qual o programa quer ser lido, indicando a forma como o telespectador deve interagir com o programa (DUARTE; CURVELLO, 2009, p.66-67).

Dessa maneira, os apresentadores podem atuar como ícones da expressividade tonal dos noticiários, dando a ver que tipo de imagem esperam que o público tenham deles, auxiliando, por conseguinte, na sua composição identitária. Um tom de seriedade ou de credibilidade, por exemplo, seja esse o intento do telejornal tendo em vista a materialidade com a qual trabalha, advém também da postura, aparência física e expressividade – oral e não verbal, por exemplo, de seus âncoras. Não obstante, a ressalva é de que tal concepção se extrai não somente de uma ou outra condição isolada, mas a partir de uma inter-relação complexa, que compreende, além de aspectos diretamente controlados pelo apresentador, elementos de composição na produção e emissão. Entre eles se destacariam o tipo de enquadramento – planos fílmicos, além da  

69   sequência das emissões, não só pela repetição ancorada na reiteração dos cenários, do número de blocos, da forma de estruturação desses blocos, dos bordões de abertura e de passagem de um bloco a outro, e de fechamento etc. –, como pela presença e comportamento reiterado dos apresentadores, dia após dia, ano após ano (DUARTE; CURVELLO, 2009, p. 71).

Como parêntese, vale o registro de que a ideia de planos fílmicos está presente entre as variáveis de encenação visual (visibilidade, eixos de visão e sequencialização), que influenciam ao se pensar na condição do apresentador (CHARAUDEAU, 1997). Tal concepção ajuda na articulação metodológica, uma vez que a visibilidade corresponde à frequência, ou seja, à quantidade de vezes que o ator discursivo aparece na tela, e ao modo de presença, que se refere aos diferentes planos de câmera que permitem aproximar ou distanciar os apresentadores e, com isso, podem causar diversos efeitos (SABINO, 2011). De todo modo, os planos evidenciam a imagem do apresentador, que dialoga com a cenografia, formando um composto significativo para a recepção. Assim, a figura do âncora se projeta, não somente por ocupar destaque em primeiro plano, mas por todos os outros elementos que ele articula. Itânia Gomes (2011, p. 38) ratifica também a função do âncora como um dos mais importantes operadores analíticos dos telejornais. Para tanto, a noção de performance articulase como um valoroso elemento de descrição, pondo “em relevo o caráter interpretativo do desempenho dos atores, dos mediadores televisivos: o ator representa a partir de seu próprio corpo, de suas próprias características, mas ele desempenha um papel.” Na contemporaneidade, o que se vê é o apresentador assumindo o papel de provedor de notícias que, ao mesmo tempo em que deve revestir-se de valores ligados à credibilidade com vistas a uma visada informativa, também atenta para a visada de captação, de modo a seduzir o público telespectador. Para isso, o apresentador usa, nada paradoxalmente, os mesmos recursos outrora ligados à perspectiva informacional; isto é, a postura, a metodologia enunciativa, a expressividade, o posicionamento discurso, entre outras modulações e artifícios que compõem o personagem. Assim, as linhas de observação para esse importante elemento do telejornal são as mais distintas possíveis. Tendo em vista que os mediadores são os fiadores da palavra na tevê, faz-se necessária, quando de sua análise, uma observação do texto verbal de modo mais pontual – considerando o processo enunciativo –, seja através de suas estratégias narrativas ou das argumentativas, compreendendo os aparatos retóricos e persuasivos empregados (GOMES, 2011).

 

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Na mesma linha, advém a ideia de que é fundamental compreender o processo de comunicação não verbal empreendido pelos apresentadores. Já se foi a era dos homenstronco, dos ventríloquos (VERÓN, 2001). Em detrimento à investida de Debray (1994), o apresentador interpela os telespectadores não apenas pelo olhar (ainda que esta seja uma das mais agudas formas de contato), mas também (e cada vez mais) pelo gestual, pela expressividade facial, por sua forma de se sentar e andar e por todas as outras maneiras de fazer uso do cenário do programa, contribuindo para acentuar o sentido das mensagens que passam verbalmente aos interlocutores. Nem tudo é programado, pois, no telejornal, lida-se com apresentadores humanos e não robôs. Mas, tudo o que é empreendido se articula a partir de um discurso que precede e que tem efeitos visados junto à audiência. Nesse sentido, seguindo uma linha mais didática, compreende-se cronologicamente que uma análise da função do âncora deve iniciar com uma seção descritiva ampla, com interpretação preliminar, além de uma análise de capital visual e sonora de base, de modo a entender as escolhas e estratégias de contato e imagem pretendida pelo telejornal. Isso, para verificar como, e em que medida, a figura do apresentador pode representar o noticiário e que valores o jornalista pode instituir ao programa. Entretanto, enquadramentos e movimentos de câmera utilizados ao longo do telejornal (tipos, quantidade e duração – além do reconhecimento do enquadramento de base) ajudam a revelar como as angulações dão dinamicidade, credibilidade e aproximação com o público ao longo do telejornal – entre outros valores. Em relação à enunciação, essa análise deve compreender a observação de como se dão as nivelações tonais em cada uma das apresentações (chamadas de matérias e notas), assim como as expressões dos apresentadores. É preciso verificar as intenções dos âncoras a partir da observação da ênfase aplicada a cada chamada, destacando e/ou suavizando conteúdos. Além disso, cabe verificar o tipo de linguagem, as escolhas lexicais, o modo de abordagem dos temas, até fragmentos de sotaque do apresentador em cabeças de matérias e notas. Essa frente pode apresentar as intenções do telejornal – tentativa de aproximação com (um tipo determinado de) telespectadores, ou a imputação de seriedade e credibilidade ao que se apresenta, entre outras. Pode auxiliar ainda para verificar se ocorre uma separação da opinião pessoal, do posicionamento da emissora e da nota jornalística, em determinados momentos da apresentação. Assim, pode ser possível compreender, por exemplo, a linha editorial do noticiário. Em última instância, os fundamentos da comunicação não verbal ajudam a entender como os movimentos corporais dos apresentadores podem estabelecer influência junto aos  

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telespectadores, e o que os âncoras querem expressar com determinados comportamentos. Esta análise pode revelar posicionamentos discursivos, intenção de dinamicidade para o programa, ênfase a determinados temas, entre outros aspectos.

2.5 Estrutura Por fora tudo é simetria; Por dentro tudo é confusão; Parece pura ironia; A sua mania de organização. (Olavo Rocha; Umberto Serpieri; Marcelo Patu – Lestics)

Mania ou necessidade humana? A organização, a separação, a classificação, a disposição de tudo, por gênero, por método, por meio, por todo tipo de categoria, faz parte de uma condição do ser, trata-se de compreender para se confortar. Essa tendência rege, por conseguinte, os processos comunicativos entre os iguais e, nessa linha, os processos dos media. A categorização é a base para geração do conhecimento; “na procura de entendermos melhor determinados objetos, dividimo-los em fragmentos, dissecamos, nomeamos, buscamos relações, reações e para, depois de tudo, dizermos: é assim que isso funciona” (DAVIDSILVA, 2005, p. 61). Na epígrafe desta seção, está parte da letra de uma música, simples, refrão de rima fácil, do som pop da banda Lestics19. Contudo, revela, em detrimento do emprego da ironia de Borges (1985) na “divisão dos animais”, uma quimera clássica relacionada ao tema da classificação temática. De modo pontual, é uma metáfora para o telejornal; o noticiário se organiza, define categorias, entradas, temáticas, fórmulas, isso tudo para tentar dar ordem ao complexo social – é o caos e o cosmos na tela da televisão. Para não escapar à ordem, empreende-se neste trabalho uma observação detalhada da ordenação estrutural dos telejornais que fazem parte do corpus da dissertação. Para tanto, aborda-se neste espaço, ao modo de Jost (1999), a hierarquização da informação nos noticiários, a relação e distribuição temática das matérias, sua categorização, além de uma análise contextual mais ampla.

19

A música “Mania de Organização”, em destaque na epígrafe, foi gravada pelo grupo paulistano Lestics no terceiro álbum da banda, “Hoje”, de 2009. Mais informações em: http://www.lestics.com.br/. Acesso em 27 mai. 2012.

 

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De modo mais pontual, entende-se que cinco passos são importantes para compreender o esqueleto dos noticiários, levando sempre em consideração uma leitura panorâmica prévia, que articula os elementos de contexto e de capital televisual, tema que será articulado no início do Capítulo 3. A primeira etapa compreende a análise por blocos do telejornal, tomando como referência principalmente a unidade de tempo – duração total da emissão –, as emissões internas (estúdio) e as externas (reportagens), o tempo de intervalo e o tempo de cada bloco. Assim, é possível enxergar os blocos privilegiados, a atenção destinada ao faturamento comercial, e uma série de outras perspectivas por meio de cruzamentos. Um segundo momento poderia avaliar a incidência de entradas (ex.: matérias, notas, vinhetas, chamadas, etc.) por quantidade e pela fração temporal, permitindo verificar por intermédio de que métodos as notícias são apresentadas aos telespectadores. Aqui são dados indícios também da dinâmica, do ritmo do telejornal. A terceira fase compreende a observação da incidência de temáticas (ex.: serviços, esporte, política, saúde, etc.) e o tempo de cada uma delas, além de um cruzamento por tipo de entrada (ex.: quantidade de matérias, notas – simples e cobertas – etc.). Com esse passo, é possível, entre outras demandas, compreender que tipo de temática o telejornal privilegia, além de verificar as preferências do telespectador e a linha editorial do telejornal/emissora. A quarta etapa é justamente a que permitirá verificar a organização e a sequencialização temática do telejornal, de modo a compreender, por um processo discursivo, quais são as intenções com cada construção empreendida (com a análise da incidência de temáticas por bloco, por exemplo). A quinta e última etapa é a mais complexa, pois compreende uma inter-relação das outras análises (da apresentação e das reportagens, assim como da leitura de contexto realizada previamente), em uma interpretação secundária dos dados. Nesse passo final, é possível planificar e entender o planejamento editorial do telejornal, a identidade do programa e a relação que o noticiário estabelece com os seus telespectadores, a partir do cruzamento das informações levantadas na apresentação e estruturação. Apesar de acreditar-se que esses cinco pontos sejam amplos e compreendam bem a estrutura dos telejornais, há a ressalva de que existem outras formas de se observar os aspectos relacionados a essa perspectiva dos noticiários. Em tempo, alguns fragmentos (importantes) poderiam escapar à leitura. Nesse sentido, faz-se necessária a adoção de metodologias amplas que, juntas, possam equipar melhor o analista nessa empreitada – conforme será visto mais à frente.  

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Por fim, antes de avançar, é preciso esclarecer e definir alguns aspectos relacionados aos telejornais, não só dos que estão em análise, mas perspectivas estruturais que são recorrentes nesse tipo de media: as editorias e as entradas.

2.5.1 Editorias

Foi realizado um levantamento de trabalhos anteriores que estabeleceram categorias temáticas (editorias) de veiculação e reconhecimento de matérias nos telejornais. Alguns se destacam, como os de Nuno Goulart Brandão (2006; 2009) com noticiários portugueses, a tese de Giani David-Silva (2005) com a comparação entre programas brasileiros e franceses, e a pesquisa de Adriano Sampaio (2005) com televisivos regionais, e ajudarão na articulação nesta dissertação de conceitos próprios, isto é, enquadramentos das reportagens em seções (e algumas subseções) definidas e defendidas conforme o que segue. Antes, é fundamental registrar a complexidade de tal empreitada. A linha entre as editorias parece ser larga demais frente ao modo tênue como se apresentam nas reportagens. Nesse contexto, a complexidade das metodologias utilizadas nesta dissertação, Análise de Conteúdo e Análise de Discurso, se tornam, respectivamente, limitada diante à utópica exatidão das classificações e ampla demais para enclausurar-se em categorias. Ainda assim, a materialidade se faz necessária e, em uma proposta conjunta, busca-se encontrar a essência do conteúdo exibido, por meio do mote central, não desprezando suas principais zonas de impacto junto à sociedade. Assim, define-se que as veiculações estejam articuladas em 15 categorias, a saber: Categoria 01: Ciência e Tecnologia Subseções: a. Desenvolvimento de Pesquisa; b. Resultado de Pesquisa; c. Aplicação prática das ciências e tecnologia. Assuntos que se vinculam: Qualquer entrada que se refira ao desenvolvimento científicotecnológico, em qualquer área do conhecimento, tais como medicina, biologia, ciências agrárias, computação e outros estudos ligados às ciências exatas, humanas e biológicas.

 

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Categoria 02: Clima Tempo Subseções: a. Previsão do Tempo; b. Intempéries; c. Tragédias Naturais; d. Condições Climáticas Assuntos que se vinculam: Editoria em que se vinculam não somente a previsão do tempo e outros temas relacionados, mas o impacto que as mudanças climáticas podem gerar, a partir de acontecimentos derivados de tempestades, queda de granizo, ventos, furações, erupção de vulcões, entre outros, ou da simples alteração nas temperaturas20. Categoria 03: Comportamento Subseções: a. Moda; b. Relacionamento; c. Ética/Moral; d. Etiqueta. Assuntos que se vinculam: Veiculações que dão dicas sobre como se vestir, respostas a questões como qual é o segredo para um bom relacionamento, como se comportar em determinadas situações, etiqueta, protocolo, ritualística cerimonial, entre outras. Categoria 04: Cultura Subseções: a. Teatro; b. Dança; c. Música; d. Artes Plásticas; e. Televisão; f. Cinema; g. Gastronomia21; h. Eventos; i. Outros Movimentos artísticos; j. Vida dos artistas; k. História. Assuntos que se vinculam: Entradas que abordem o desenvolvimento histórico de cidades, a vida de personalidades públicas, produtos e eventos artístico-culturais dos mais diversos, além dos ícones desse universo (DAVID-SILVA, 2005). Categoria 05: Economia Subseções: a. Impactos Políticos; b. Dados Econômicos; c. Sazonalidades22; d. Negócios; e. Empresas; f. Outras perspectivas econômicas. Assuntos que se vinculam: Essa editoria concentra entradas que repercutem perspectivas de negócios, resultados financeiros, e/ou momentos específicos no cenário econômico nacional e regional, nas mais variadas instâncias, compreendendo tanto a iniciativa pública, quanto a privada (assim como de instituições do terceiro setor), além de outros impactos que podem ser gerados no campo político em razão de flutuações do capital. 20

Nesse caso, é importante avaliar se o mote das entradas dá atenção às causas das tragédias ou das intempéries – caso a fonte seja a degradação ambiental, influência do homem em determinados ecossistemas, entre outras, a entrada deve ser vinculada à categoria Meio Ambiente. 21 Compreende-se Gastronomia na editoria Cultura, pois a culinária, em certa medida, está amalgamada na história e auxilia a compreender a identidade de determinados grupos sociais (sobretudo em Minas Gerais, estado em que se alojam as emissoras analisadas neste trabalho). 22 Por vincular matérias relacionadas ao natal, dia das mães, dia das crianças, entre outras datas que movimentam a economia.

 

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Categoria 06: Educação Subseções: a. Dados Educacionais; b. Sazonalidades23; c. Rotina Acadêmica; d. Problemas Escolares; e. Formação extra-escolar; f. Atividade extraclasse; g. Produção Acadêmica; h. Outros temas relacionados à Educação. Assuntos que se vinculam: Nessa categoria se enquadram temas que tratam da educação em suas várias instâncias, em abordagens à dinâmica e às nuances do ensino brasileiro e das unidades federativas, desde o período pré-escolar até as graduações e pós-graduações, além da educação para jovens e adultos (EJA), entre outras, desde que não conflitem com as perspectivas da editoria ciência e tecnologia, no que concerne pesquisa e desenvolvimento. Categoria 07: Esporte Subseções: a. Futebol; b. Vôlei; c. Velocidade; d. Basquete; e. Lutas; f. Eventos Esportivos; g. Atletas; h. Outros esportes. Assuntos que se vinculam: Aqui se vinculam entradas que abordam questões relacionadas ao universo esportivo regional, nacional e internacional. Essa é a única editoria que comporta matérias internacionais, uma vez que, tradicionalmente, nos noticiários as reportagens alusivas ao tema se apresentam encadeadas. Nesse sentido, torneios internacionais, a vida dos atletas e todas as modalidades esportivas se encaixam nessa seção. (DAVID-SILVA, 2005). Categoria 08: Internacional Assuntos que se vinculam: Essa editoria compreende todas as entradas (com exceção do esporte) que tenham como referência acontecimentos e abordagens que se deram fora do país (excluindo aquelas que tenham envolvimento direto e/ou impliquem impactos ao Brasil e aos seus cidadãos, devendo ser enquadradas em outras editorias). Categoria 09: Meio Ambiente; Subseções: a. Sustentabilidade; b. Ações: Preservação; c. Problemas: Degradação; d. Fauna; e. Flora; f. Informações sobre o Meio Ambiente Assuntos que se vinculam: Entradas que abordem temas relacionados à natureza e seus elementos, interferências naturais ou humanas no meio – diferentes daquelas listadas em clima tempo – e estratégias para a preservação da vida vegetal e animal, por meio da utilização de estratégias de responsabilidade socioambiental. (DAVID-SILVA, 2005). 23

Por vincular matérias relacionadas ao vestibular, início das aulas, período de matrículas escolares, entre outros momentos específicos da agenda estudantil.

 

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Categoria 10: Policial Subseções: a. Assassinato; b. Roubos/Furtos; c. Estelionato; d. Julgamentos; e. Tragédias; f. Drogas; g. Outros delitos; h. Investigações; i. Instituição policial; j. Práticas Ilegais; k. Ações preventivas. Assuntos que se vinculam: A quebra da ordem, da tranquilidade social e das leis é tema cíclico nos telejornais. Por isso, registra-se a importância de uma editoria que arranja as entradas vinculadas, por meio de subseções que agrupam contravenções que são combatidas pela força pública e, ao menos teoricamente, são as mais recorrentes no cotidiano e na pauta dos noticiários. Além disso, a rotina de trabalho da polícia, treinamentos, investimentos, e outros temas relacionados à Instituição são agrupados aqui. Categoria 11: Política Subseções: a. Impacto Econômico; b. Ações de personagens políticos; c. Ações de Instituições/Entidades públicas; d. Campanha Eleitoral; e. Leis; f. Eventos políticos; g. Greves; h. Ações de ONGs; i. Agenda de Governo; j. Problemas de governo; k. Outros temas políticos. Assuntos que se vinculam: A dinâmica governamental também é recorrente nos programas jornalísticos. Assim, a regulação do Estado, o sistema de governo, as vicissitudes na administração pública, a influência de forças externas, as ações dos estadistas, das instituições públicas, de representações de classe (como os sindicatos) e de organizações não governamentais, entre outros temas políticos, tão periódicos, são assuntos que se enquadram nessa editoria. Categoria 12: Saúde Subseções: a. Dados da Saúde; b. Saúde Pública; c. Prevenção; d. Mortes por doenças; e. Outros Temas relacionados à Saúde; f. Doações; G. Problemas da Saúde Assuntos que se vinculam: O combate a epidemias, as precauções que o telespectador deve tomar para não se acidentar ou contrair uma determinada doença, ou o que se pode fazer em caso de problemas relacionados à sua saúde, relação sintomas x enfermidade, informações sobre as condições de atendimento de hospitais e pronto-socorros, públicos e privados, em todo o país, são alguns dos assuntos que se encaixam nas subseções listadas e se enquadram nesta categoria.

 

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Categoria 13: Serviços Subseções: a. Direitos do Cidadão; b. Deveres do Cidadão; c. Oportunidades; d. Utilidade Pública. Assuntos que se vinculam: A categoria “Serviços” relaciona entradas que dizem respeito aos direitos (FGTS, emissão de documentos, programas assistenciais, serviços públicos em geral, etc.) e obrigações legais do cidadão, assim como ensejos de interesse público (vagas de emprego, vantagens sociais, fomentos públicos/privados, concursos, entre outros), desde que as matérias não conflitem com as perspectivas das outras categorias relacionadas (SAMPAIO, 2005). Categoria 14: Sociedade/Cidade Subseções: a. Acontecimentos; b. Personagens; c. Cotidiano. Assuntos que se vinculam: David-Silva (2005, p.77) resume que se enquadram nesta categoria24 as “notícias que abordem o universo das pessoas comuns, anônimas, que tratem do dia-a-dia da nação, sejam notícias da ordem do inesperado, do extraordinário ou da ordem do esperado, do ordinário”. Nesse contexto, arranjam-se aqui as rotinas do urbano e do interior, marcadas tanto pelos micro-acontecimentos quanto pelos episódios de maior repercussão, desde que não se enquadrem nas categorias listadas anteriormente. Categoria 15: Trânsito Subseções: a. Acidentes; b. Trânsito na Cidade; c. Trânsito nas Estradas; d. Infraestrutura; e. Infrações de trânsito; Assuntos que se vinculam: Nesta categoria se alojam as veiculações que abordam descumprimento às leis de trânsito, fatalidades, problemas estruturais, investimentos e a movimentação nas ruas e na malha rodoviária que atravessa o Brasil, os seus estados e, principalmente, as cidades de Minas Gerais, no caso dos telejornais mineiros. Além dessas, também se inclui a categoria “Calhau”, que representa a utilização de chamadas de outros programas das emissoras durante os noticiários. Contudo, pode ser tido na organização estrutural menos como editoria do que como entrada, conforme as que serão descritas a seguir.

24

 

No trabalho da referida autora o nome da editoria é “Cotidiano”.

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2.5.2 Entradas

Chama-se de entrada aqui os modos de apresentação de determinados conteúdos. Tais expressões aparecerão ao longo do trabalho e serão utilizadas para marcar as subdivisões dos telejornais em análise. Não se trata especificamente de um glossário, mas da descrição objetiva a fim de esclarecer parte do processo. São elas: Escalada Conforme visto neste mesmo capítulo, trata-se da organização das manchetes do noticiário, exibidas tradicionalmente no início do programa, apresentadas pelos âncoras da atração, podendo ser acompanhadas ou não por imagens. Também chamada de sumário (sumarização). Vinheta Tal como a escalada, a descrição de vinheta para o telejornal foi dada nas páginas anteriores desse trabalho. Apesar de a análise aqui recair sobre as vinhetas de abertura, há ainda as de saída para o intervalo, as de retorno do intervalo, e as temáticas, que são utilizadas em séries e quadros especiais do noticiário, exibidas costumeiramente antes e, em alguns casos, após a reportagem à qual se vincula. Bloco Os blocos são as macro divisões do telejornal; cada uma das partes do programa, separadas pelos intervalos comerciais. Chamada de Matéria Trata-se da apresentação da reportagem pelo apresentador, como forma de introduzir o assunto que será exibido. É também chamada de cabeça de matéria (de estúdio). Chamada de Bloco (Saída para Intervalo) É um resumo, menor do que a Chamada de Matéria, das reportagens que serão exibidas no próximo bloco do noticiário (após o intervalo) como forma de atrair a atenção do telespectador e não perder a audiência. Em muitos casos, vem, em parte, cobertas por imagens da reportagem evidenciada.  

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Teaser Em alguns casos (dificilmente, nos padrões do telejornal tradicional) há ainda a chamada, no meio do bloco, de reportagens que serão exibidas ao longo do telejornal, como forma de reforçar a importância de tal conteúdo que será veiculado e ainda atrair e prender a atenção do público. Essa prática se difere da Chamada de Intervalo e, como forma de indexação/tabulação da estrutura do telejornal, pode entrar como nota coberta e/ou nota simples. Chamada de Calhau Assemelha-se à chamada de matéria, mas trata-se da apresentação de um vídeo que será exibido na sequência, evidenciando alguma outra atração da emissora e não uma notícia. Matéria Refere-se à reportagem produzida por uma equipe jornalística, com vistas à apresentação de um determinado conteúdo. Nota Coberta São notícias e outras informações apresentadas pelos âncoras, ilustradas por imagens. Nota Simples São notícias e outras informações apresentadas pelos âncoras, também chamadas de nota pelada, por não ser coberta por imagens. Nota Pé Refere-se a uma informação adicional, prestada pelo apresentador do telejornal, sobre o assunto da matéria que acabara de ser exibida. É um fechamento, que pode compreender não apenas um complemento do que foi veiculado, mas um editorial – a opinião do noticiário, da emissora e/ou do próprio âncora. Stand Up O Stand Up se dá quando a imagem dos repórteres é veiculada, em ambiente externo ao estúdio, e estes apresentam as informações de modo direto, com pouco emprego de imagens relacionadas ao tema que abordam (quando estas são de fato aplicadas) e sem a utilização de entrevistas. Normalmente compreendem entradas dos jornalistas ao vivo.  

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Previsão do Tempo Trata-se de toda a parte do telejornal dedicada à apresentação das informações climáticas, com a antevisão das temperaturas e outros dados meteorológicos. Entrevista Conversa do apresentador, ou de algum repórter, com um determinado especialista ou convidado, acerca de um assunto específico. Aqui, então, faz-se necessária a observação de que as breves declarações veiculadas nas reportagens não são encaradas como entrevistas. Os trechos utilizados nas matérias são chamados de sonoras. Encerramento de Telejornal Breve direcionamento do apresentador do telejornal ao público, que contempla uma despedida cordial, normalmente acompanhada de um agradecimento pela audiência e votos afetuosos. Em alguns casos, pode ser utilizado como auto-referencialidade, convocando a atenção do telespectador para os próximos programas da emissora. Créditos É uma lista exibida ao final do programa que traz a relação dos profissionais envolvidos na parte técnica do noticiário, como editores, produtores, chefes de redação e jornalismo, entre outros – que não receberam menção ao longo do telejornal, como os jornalistas, cinegrafistas e o apresentador. Tradicionalmente, esse arrolamento é encerrado com a assinatura (logomarca) do programa e/ou da emissora.

2.6 Perspectivas da Análise de Conteúdo

A AC é uma ciência composta, representando um conjunto instrumental que articula técnicas para observação e análise de mensagens, utilizando-se da sistematização e objetividade para descrição do que se observa, com o intuito de traçar inferências diversas, valendo-se, para tanto, de indicadores, sejam eles quantitativos – preponderantemente – ou até qualitativos, conforme preceitua Bardin (2003). Bauer (2002) demonstra que a AC atualmente possui duas dimensões: uma sintática, com atenção às condições quantitativas do processo, e

 

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outra semântica, mais relacionada ao sentido, focando em procedimentos qualitativos, relacionando-se às inferências a partir dos cruzamentos. A AC se funda a partir de um esquema positivista, fruto das incursões e da representatividade do iluminismo. Sua perspectiva, em grande medida, prega a neutralidade da técnica como segurança e confiabilidade dos resultados. Assim, assume uma posição de distanciamento frente ao quadro subjetivo-ideológico e de todo o complexo sociocultural, condições consideradas possíveis influenciadoras (negativas) dos procedimentos e das informações obtidas (ROCHA; DEUSDARÁ, 2005). Assim, por meio de uma metodologia que se aproxima da AC, no contexto deste trabalho, serão descritos objetivamente os programas, estabelecidas as categorias analíticas, criados os mapas descritivos, realizados os cruzamentos diretos e indiretos, levantados os índices e, finalmente, feitas inferências objetivas e pontuais25. Porém, no caminho articulado pela AC, o primeiro passo consiste em uma leitura flutuante e no estabelecimento de hipóteses que guiarão as observações conseguintes (BARDIN, 2003). Assim, antes de tudo, na perspectiva da leitura de telejornais, é necessário realizar a análise das características principais de suas emissoras e elaborar um quadro de questionamentos – com base nas inferências acerca da constituição e objetivo fim de cada rede – impostos agora aos programas quando da análise de cada um, com vistas à consecução dos objetivos listados na introdução deste trabalho, realizando um cruzamento argumentativo26. Só aí, e com um esforço maior, as propostas diretas da AC poderão ser aplicadas de modo mais consistente. Trata-se neste passo de um estágio em que os telejornais devem ser recortados, com o estabelecimento de operadores descritivos – chaves de leitura que, em um segundo momento, irão compor um amplo mapa de codificação. Nesse sentido, primeiro se dá a fragmentação do produto analisado, para depois reconstituí-lo já com observações. Assim, cabe como um dos estágios iniciais a descrição de cada parte, informando tempo, tipo, categoria e tema, entre outros indicadores e índices (KIENTZ, 1973). Após a contagem dos termos, e de uma separação quantitativa, constrói-se o mapa e se articula uma leitura dirigida para os elementos que são considerados relevantes para a pesquisa (KIENTZ, 1973). O levantamento da regularidade e variabilidade dos dados apresentados e a realização da análise com o estabelecimento de assertivas acerca de cada 25

Muito embora trabalhos que utilizam apenas a AD como metodologia também apresentem essa seção, compreende-se que a AC, por suas características, permita esse procedimento de modo mais detalhado, podendo ser revisitado em seguida por um olhar discursivo. 26 Essa leitura se faz necessária tanto à AC quanto à AD, e é, assim, fundamental ao modelo ora proposto. Nesta dissertação, boa parte desse trabalho se deu na seção 4.1, Telejornais em Minas Gerais.

 

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programa configuram mais um passo importante, provavelmente o último na perspectiva do conteúdo (BARDIN, 2003)27. De modo mais pontual, seguindo o caminho metodológico de Jost (1999) – a partir do esquema elaborado por David-Silva (2005) – tem-se a contribuição da AC nas duas perspectivas aqui evidenciadas, a saber: a apresentação e a estrutura. Na primeira frente, a da apresentação, a análise será feita por meio da observação da existência e frequência de vinhetas – analisando sua função em cada parte do telejornal, podendo revelar as escolhas e estratégias de contato. Faz-se também uma descrição analítica dos elementos iconográficos e sonoros que compõem a vinheta. Em uma mesma medida, descreve-se a cenografia,

com

a

exposição

pormenorizada

do

ambiente

de

apresentação.

Na

escalada/sumarização, evidenciou-se a presença ou não desta, mensurando sua veiculação a partir da unidade de tempo, a ordenação cronológica (hierarquização) temática das manchetes e a verificação do tempo destinado a cada uma delas. Também foram analisadas as funções do apresentador, com uma descrição deste como artefato compositório do cenário – percebendo aí o número de âncoras, o sexo, o figurino, entre outras características. Observou-se o modo como o apresentador é enquadrado pelos planos utilizados pelos noticiários – verificando tipos, quantidades e duração das angulações e movimentos e o tempo de imagem (capital visual) e de áudio/locução (capital sonoro) que cada um tem ao longo do programa. Na segunda frente, a da estrutura, é vista a organização funcional e hierarquização temática empreendida pelo telejornal a partir da análise blocada, por meio da unidade de tempo. Para tanto, estabeleceu-se a duração total da emissão, a constância das emissões internas (estúdio) e externas (reportagens), o tempo destinado aos intervalos e aos blocos, entre outras características, tais como a incidência de matérias28 e notas (simples e cobertas)29 por quantidade e pela unidade de tempo. Verificou-se também a presença, classificação, organização e sequência de temáticas (ex.: serviços, esporte, política, saúde, etc.) pela unidade de tempo e quantidade de VTs e notas exibidas por tema; entre outras tantas possibilidades. Até aqui, a análise de conteúdo já fora testada de modo isolado, com a observação de parte do corpus de pesquisa, como forma de reconhecer suas lacunas e o espaço que deixa para uma análise discursiva (BRAIGHI, 2011c). Contudo, ainda se faz necessária a determinação de como essa ciência poderia auxiliar na análise de reportagens. Seguindo o que foi almejado nesta

27

Ou o que, na semiolinguística – voltada para AD – Charaudeau (2005) chamaria de Análise das Constantes e Variantes. 28 Além de outras formas de exibição de conteúdo, tais como os Stand Ups. 29 As notas podem ser lidas pelo apresentador, sem imagens (Nota Simples) ou ilustradas (Notas Cobertas).

 

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dissertação, tal perspectiva não é contemplada, abrindo margem para que trabalhos futuros possam empreendê-la. Nesse contexto, vale o registro de Bardin (2003), para quem a AC é uma ciência aberta, ao considerar que as estratégias podem ser (re)construídas na medida em que uma determinada abordagem é realizada. Para a autora, “a técnica de análise de conteúdo adequada ao domínio e aos objetivos pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento”, e completa dizendo que “quanto mais o código se torna complexo, ou instável, ou mal explorado, maior terá de ser o esforço do analista, no sentido de uma inovação com vista à elaboração de técnicas novas” (BARDIN , 2003, p. 31-32), abrindo espaço para outras abordagens além do que fora supracitado, assim como uma combinação com outras metodologias de pesquisa, tal como a AD.

2.7 Perspectivas da Análise do Discurso

A AD nasce na década de 1960, fruto de incursões dos estudos linguísticos - se estruturando a partir de contribuições de disciplinas e teorias diversas (tais como a análise conversacional, a sociolinguística, a retórica, entre outras) o que lhe dá, não só por isso, condição de observar e criticar fenômenos de ordens diversas, tais como os media. (MAINGUENEAU, 2006). Para o trabalho que aqui se articula, a AD se presta à possibilidade de observação dos telejornais, sobretudo por sua vertente reflexiva acerca das perspectivas de fabricação e recepção dos elementos mais gerais ligados à significação dos textos midiáticos, empreendendo discussões acerca do modo operante, dos fundamentos para organização e dos métodos de produção do sentido amalgamado em cada produto (CHARAUDEAU, 1997; 2007; VAN DIJK, 1996). Faz algum tempo que já se percebe o crescente interesse adquirido pela(s) análise(s) do discurso(s) aplicada(s) às produções midiáticas30 e até a conciliação dessa perspectiva com outros 30

Como exemplos, vários trabalhos foram empreendidos no Núcleo de Análise do Discurso – NAD, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. O grupo já publicou uma gama de artigos, muitos deles articulados em forma de capítulos de livros. Entre eles, importantes para dar continuidade às discussões deste trabalho, destacam-se: Ensaios em Análise do Discurso (MACHADO et. al., 2002) – sobretudo as abordagens de Guy Lochard (e os percursos de um conceito nos estudos televisuais), Soulages (e a formatação do olhar), e Giani David-Silva (com a problemática da realidade e ficção na informação televisiva). Outra obra importante é Movimentos de um percurso em Análise do Discurso (MACHADO et. al., 2005) – principalmente a discussão de Wander Emediato acerca das análises da informação midiática nas frentes discursivas e da ciência da comunicação; Destaque também para Análise do Discurso: Gêneros, Comunicação e Sociedade (EMEDIATO,

 

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métodos de pesquisa. Em função de sua amplitude, a própria técnica pode abarcar elementos de metodologias diversas, sejam elas quantitativas e/ou qualitativas. Segundo Gill (2008), existiriam 57 variedades de AD, sustentadas em teorias tradicionais amplas, o que possibilita a ramificação em diversas frentes31. Para este trabalho, particularmente, interessam os estudos ligados a uma análise do discurso midiático e as propostas que exploram os gêneros do discurso da informação. Contudo, independentemente do escopo que se tenha, cabe à AD uma observação mais aprofundada do material que se analisa, começando com uma (re)leitura do texto que visa examinar com características próprias. Esse texto pode-se referir precisamente ao produto, no caso em questão, o próprio telejornal. Em seguida, utilizando elementos distintivos próprios, a AD estabelece interseções e verificações de conexão do texto com o seu contexto, realiza considerações sobre os campos problemáticos, acerca dos quadros de fundo pragmático, levando em consideração perspectivas que a AC abandona, como os aspectos ideológicos e subjetivos, no que se refere a três instâncias: produção, emissão e recepção (CHARAUDEAU, 1997; 2007; MAINGUENEAU, 2006). De modo mais pontual, da mesma maneira como foi proposta a análise com base na AC, tem-se a contribuição da AD nas perspectivas de apresentação e de estrutura. Em relação à apresentação, analisa-se o que os elementos iconográficos e sonoros das vinhetas denotam, sua relação com o todo do programa, seu entrecruzamento sociocultural, inclusive observando apelos identitários que podem existir em razão de sua área geográfica de emissão, em uma primeira análise do ethos discursivo do noticiário (DAVID-SILVA, 2005; CHARAUDEAU, 2007). Faz-se também uma análise cenográfica, que segue a mesma dinâmica de observação a partir dos itens compositórios do cenário. A escalada também é considerada, percebendo o que demonstram as escolhas temáticas feitas pelos telejornais na construção da sequência apresentada, o que revela a tonalidade enunciativa aplicada para apresentação das manchetes – e as nivelações tonais em cada uma das chamadas. Deve ser feita ainda uma análise et. al., 2006) – com a perspectiva de Antônio Luiz Assunção e as reflexões em torno da produção de sentido do discurso midiático, entre outras, assim como uma série de distintas publicações. Já no estado do Rio de Janeiro, apresenta-se o CIAD – Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso, composto por docentes das universidades públicas daquele estado, a saber a UFRJ, UFF, UERJ e UFRRJ, e dos pesquisadores do Centre D’Analyse du Discours – CAD, da Universidade de Paris 8. O grupo tem 18 anos de atividade e consolida-se como um importante polo de pesquisas em AD no Brasil. Para tanto, já publicou trabalhos como o livro Discurso da Mídia (CARNEIRO, 1996), congregando trabalhos de diversos autores; interessariam aqui principalmente as abordagens de Guy Lochard sobre as evoluções estratégicas da informação televisionada e de Pauliukonis, Leonor Werneck e Sigrid Gavazzi, acerca das técnicas argumentativas na construção da credibilidade dos noticiários televisivos. Também dos pesquisados do Rio de Janeiro, destaca-se Texto e Discurso: Midia, Literatura e Ensino (PAULIUKONIS; GAVAZZI, 2003), obra híbrida, que articula várias perspectivas. 31 Maingueneau (1997) falará também em uma multiplicidade de análises do discurso e sua estreita relação com áreas distintas como a sociologia, a história, ou análise de documentos, entre outras.

 

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das formas de apresentação da sumarização e suas intenções, a presença ou não de trilha sonora acompanhando a apresentação das manchetes e o que o som pode representar nesse contexto. Verifica-se ainda se há ou não o uso de outros elementos iconográficos e sua razão/função no sumário; além da análise da dinâmica do apresentador, entre muitas outras perspectivas. Esta última pode constituir análises diversas – inclusive abordagens exclusivas do lugar do apresentador, mais complexas do que aqui se pretende. Neste trabalho, verifica-se a presença do âncora como elemento constituinte da apresentação, aquele que realiza a “função de ancoragem do discurso no real da atualidade – um operador de realização” (DAVID-SILVA, 2005, p.9798). Isso é feito sem esquecer de análises do modo de enunciação do apresentador e as tonalidades empreendidas, o que denotam (ou até conotam) os aspectos linguageiros assumidos por ele, as escolhas lexicais, seus movimentos e postura ao longo da apresentação, suas expressões ao falar de uma ou outra temática, a separação do que remete à opinião pessoal, da instituição, e à simples nota jornalística, além do que revelam, em uma segunda instância, os enquadramentos32 escolhidos pelo telejornal (DAVID-SILVA, 2005, p. 97-98). Já na perspectiva da estrutura, são implicados os porquês de uma organização funcional em detrimento de outra, assim como há um questionamento sobre as escolhas temáticas empreendidas. A ideia é avançar frente à descrição e análise que a AC fornece, estabelecendo interconexões e abarcando questões relacionadas aos contextos político, econômico, entre outros, referendos históricos e inferências dadas por um processo flâneur sobre a tessitura da televisão, da emissora e da conjuntura social em que o noticiário se insere. De modo mais claro, nos primeiros passos desse esquema, evidenciam-se as filiações institucionais de cada emissora (públicas, privadas), a dinâmica de mercado e concorrência (audiência), valores organizacionais expressos, história (fundação, ligações político-institucionaleconômico, contratos de comunicação estabelecidos, etc.), perfil de telespectador do horário de exibição do telejornal (idade, sexo, preferências, etc.), entre outras, que devem, nesse momento pautar o intercruzamento das escolhas feitas pelos telejornais – principalmente as temáticas mais exibidas e o método de apresentação destas.

32

Apesar de ‘vinculados’ aqui à seção apresentadores, os enquadramentos podem também revelar aspectos relativos à cenografia. Todavia, invariavelmente se ligam à apresentação.

 

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2.8 Quadros descritivos de análise A partir do detalhamento das frentes de apresentação e estrutura, apresenta-se um conjunto de três quadros para análise dos telejornais, em que confluem o detalhamento do conteúdo e as estratégias discursivas. O Quadro 1 se refere a um modelo de análise de telejornais tomado sob a perspectiva dos “Elementos de Contexto e Capital Televisual”. O Quadro 2 trata da análise sob a perspectiva da “Apresentação” e o Quadro 3, o último da sequência, trata da análise sob a perspectiva da “Estrutura”33.

Perspectiva

ELEMENTOS DE CONTEXTO E CAPITAL TELEVISUAL

Aspecto

Sistemas de observação

Flâneur

Leitura flutuante

Histórico

Leitura documental

Grade de programação

Análise da Emissora observada e da concorrência

Propósitos / O que pode revelar Estabelecer inferências diversas, a partir de uma leitura não pontual da programação das redes a serem analisadas. Tomar conhecimento sobre o funcionamento dos programas e da grade das emissoras a partir de uma reflexão "telespectadora", levantando hipóteses de pesquisa e insights sobre a dinâmica dos telejornais a serem abordados. Verificar como são expressos os discursos da emissora e do telejornal, assim como a sua história (fundação, ligações político-institucional-econômico, contratos de comunicação estabelecidos) influencia em suas dinâmicas. Entender como se constitui a política editorial dos telejornais e o que os telespectadores esperam dos mesmos. Estudar analiticamente onde e como estão alojados os telejornais a serem analisados, assim como a maneira como se processa a dinâmica da televisão no horário de emissão dos programas. Verificar preferências e caracterizar o público telespectador. Observar e compreender escolhas e posicionamento das emissoras.

Quadro 1: Modelo de Análise de Telejornais – Perspectiva 1: Elementos de Contexto e Capital Televisual 33

Uma vez que foram apresentadas anteriormente as contribuições da Análise do Discurso e da Análise de Conteúdo, estas foram ajustadas em cada seção de análise. Nesse sentido, não há uma menção ao espaço que cada uma delas ocupa nos procedimentos de diagnóstico, presentes nos três quadros que estão na sequência.

 

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Perspectiva

Aspecto

Vinhetas APRESENTAÇÃO

Sistemas de observação

Propósitos / O que pode revelar

Incidência de Vinhetas

Analisar a razão e função da vinheta de abertura. Perceber as escolhas e estratégias de contato do telejornal e a imagem pretendida.

Descrever e analisar os elementos iconográficos e sonoros das vinhetas, Elementos iconográficos e percebendo, de modo amplo, o sonoros presentes nas que denotam e conotam. Perceber vinhetas as escolhas e estratégias de contato do telejornal, dos efeitos visados e da imagem pretendida. Intercruzamento das informações contextuais e de leitura do telejornal como um todo, com as características das vinhetas

Analisar o que denotam e conotam os elementos iconográficos e sonoros das vinhetas. Verificar a identidade do telejornal.

Verificar da presença ou não da escalada e mensuração de sua veiculação a partir da unidade de tempo. Perceber a atenção dada a Incidência da Escalada esse fragmento do telejornal. A partir de uma análise comparativa, entender como cada telejornal estabelece essa estratégia de contato. Perceber quais temas têm mais Verificação do tempo atenção na escalada dos destinado a cada manchete telejornais - Hierarquização temática.

Escalada

Ordenação cronológica das temáticas das manchetes

Tom enunciativo

Edição de imagens

 

Perceber quais temas (conteúdo e tensão) têm mais atenção na escalada dos telejornais e quais são os motivos - Hierarquização temática. Analisar como se dão as nivelações tonais em cada uma das manchetes. Intenções dos telejornais a partir da observação da ênfase aplicada em cada chamada, destacando e/ou suavizando conteúdos. Observar as escolhas empreendidas pelos telejornais na escalada, de modo perceber os efeitos visados com a escalada.

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Método de apresentação da escala (Interconexão com a função do apresentador)

Análise da trilha sonora

Análise dos Elementos iconográficos utilizados Análise da descrição pormenorizada do cenário do telejornal, obtida a partir da caracterização cenográfica e contabilização de todos os elementos iconográficos que compõem a cenografia (inclusive digitais)

Cenografia

Intercruzamento das informações contextuais e de leitura do telejornal como um todo com as características do cenário

Análise do intercruzamento das disposições de enquadramento dos apresentadores com o cenário

Apresentador

 

Descrição do apresentador enquanto elemento de composição (quantidade de apresentadores, sexo, figurino, etc);

Analisar os métodos de apresentação da sumarização. Verificar as estratégias de contato do telejornal com o telespectador. Analisar como e com que intenção os efeitos sonoros são utilizados na escalada. Entender as escolhas e estratégias de contato do telejornal e a imagem pretendida. Analisar como e com que intenção os elementos iconográficos são utilizados na escalada. Entender as escolhas e estratégias de contato do telejornal e a imagem pretendida.

Analisar o que os elementos cenográficos podem denotar e conotar. Entender as escolhas e estratégias de contato do telejornal e a imagem pretendida.

Analisar o que os elementos cenográficos conotam, a partir do cruzamento de outros aspectos do telejornal. Entender as escolhas e estratégias de contato do telejornal, os efeitos visados e a imagem pretendida. Perceber a modulação do cenário em cada enquadramento e em como este dialoga com a informação apresentada no instante da angulação. Obter uma percepção refinada de como a composição cenográfica pode influenciar na apresentação da informação Analisar como a figura do apresentador dialoga com o cenário. Entender as escolhas e estratégias de contato do telejornal, efeitos visados e a imagem pretendida.

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Capital visual: número de entradas do apresentador e tempo das mesmas ao longo do programa – imagem

Capital sonoro: número de entradas do apresentador e tempo das mesmas ao longo do programa – áudio

Apresentador

Enquadramentos e movimentos de câmera utilizados ao longo do telejornal (tipos, quantidade e duração – reconhecimento do enquadramento de base).

Analisar o tempo de imagem destinado ao apresentador ao longo do programa. Verificar como, e em que medida, a figura do apresentador pode representar o telejornal e que valores o âncora pode instituir ao programa. Analisar o tempo de locução destinado ao apresentador ao longo do programa. Verificar como, e em que medida, a figura do apresentador pode representar o telejornal e que valores o âncora pode instituir ao programa. Analisar o que revelam os planos fílmicos utilizados pelos telejornais para apresentação de determinadas informações. Verificar como movimentos e angulações dão dinamicidade, credibilidade e aproximação com o público ao longo do telejornal.

Analisar como se dão as nivelações tonais em cada uma das apresentações (cabeças de Análise do tom matérias e notas), assim como as enunciativo e expressões expressões dos apresentadores. utilizadas para Verificar as intenções dos apresentação de temáticas âncoras a partir da observação da ênfase aplicada em cada chamada, destacando e/ou suavizando conteúdos.

Movimentos do apresentador

 

Verificar como os movimentos corporais dos apresentadores estabelecem comunicação com os telespectadores e o que querem dizer com determinados comportamentos. Esta análise pode revelar posicionamentos discursivos, intenção de dinamicidade para o programa, ênfase a determinados temas, entre outros.

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Análise de aspectos linguageiros adotados

Posicionamentos discursivos

Verificar o tipo de linguagem, as escolhas lexicais, o tipo de abordagem dos temas, até fragmentos de sotaque do apresentador em cabeças de matérias e notas. Esta frente pode apresentar as intenções do telejornal tentativa de aproximação com (um tipo determinado de) telespectadores, ou a imputação de seriedade e credibilidade ao que se apresenta, entre outras. Verificar a separação da opinião pessoal, do posicionamento da emissora, da nota jornalística, em determinados momentos da apresentação. Verificar a utilização destas perspectivas ao longo do programa e o que elas dizem a respeito da linha editorial do noticiário.

Quadro 2: Modelo de Análise de Telejornais – Perspectiva 2: Apresentação

Perspectiva

ESTRUTURAÇÃO

 

Aspecto

Hierarquização / Tematização

Sistemas de observação

Propósitos / O que pode revelar

Análise 'blocada' do telejornal pela unidade de tempo – duração total da emissão, emissões internas (estúdio) e externas (reportagens), tempo de intervalo, blocos – pela unidade de tempo

Observar a divisão temporal do telejornal - blocos e intervalos. Enxergar, por meio de cruzamentos, os blocos privilegiados e o tempo destinado ao faturamento comercial.

Incidência de temáticas (ex.: serviços, esporte, política, saúde, etc) pela unidade de tempo e quantidade de entradas

Compreender que tipo de temática o telejornal privilegia. Verificar as preferências do telespectador e a linha editorial do telejornal/emissora. Verificar por intermédio de que métodos as notícias são Incidência de entradas por apresentadas aos telespectadores. quantidade e unidade de Perceber a dinâmica do tempo telejornal. Entender a utilização das imagens em matérias e notas cobertas. Verificar a organização e a sequencialização temática do telejornal e as intenções com Organização/Sequência cada construção empreendida temática; (análise da incidência de temáticas por bloco; Hierarquização temática)

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Análise do intercruzamento das informações de contexto com a análise estrutural

Análise da tensão do programa

Planificar e entender o planejamento editorial do telejornal, a identidade do programa, efeitos visados e a relação que o noticiário estabelece com os seus telespectadores, a partir do cruzamento das informações levantadas na apresentação e estruturação. Verificar como o programa alinha os níveis de tensão dos conteúdos a serem exibidos, de modo a afetar o telespectador. Compreender a proposta editorial do noticiário e perceber como agencia os temas para prender a audiência.

Quadro 3: Modelo de Análise de Telejornais – Perspectiva 3: Estruturação

Constituídos os quadros, antes de encerrar a seção e empreender as análises, cabem aqui algumas ressalvas. O que foi apresentado anteriormente é apenas uma das formas de se observar telejornais. Outras perspectivas podem ser elencadas, por meio de um olhar mais pontual dos pesquisadores, sobretudo na medida em que o trabalho for desenvolvido, de acordo com particularidades dos programas analisados. Assim, para ratificar sua validade – ou até estabelecer considerações de retificação – em trabalhos futuros, o quadro em questão poderá ser posto à prova para exame de outros noticiários televisivos. Espera-se, assim, na mesma medida, que o projeto seja aplicado e (re)adaptado por outros analistas. Registra-se também que as contribuições, tanto da AC quanto da AD, podem ser mais exploradas e detalhadas em trabalhos seguintes. Contudo, este estudo registrou apenas as principais características das duas metodologias e se fundamentou nelas para elaborar os vetores de observação aqui expostos. Nesse contexto, vale o registro e a sustentação da aceitação de que AC e AD podem atuar em conjunto para o fim que se estabelece. Disposições em contrário, contudo, poderiam afirmar que a AD daria conta, por si só, de tal proposição. Buscou-se em trabalhos passados, de alguma forma, dar subsídios que demonstrem que a AC tem o seu valor e um lugar bem demarcado, e que a AD pode reconhecer suas contribuições. Não obstante, ao mesmo passo, a AC deve reconhecer também suas limitações frente a um exame mais aprofundado e subjetivo. Isso porque, na medida em que a AC levanta índices, estabelece conexões interiores e percebe o sentido profundo, mas dado a

 

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priori, a AD buscará a margem mais estreita na articulação sociedade e linguagem, compreendendo as forças externas e as influências sociodiscursivas. Assim, é preferível adotar a ideia de que, de modo “ecumênico”, a AD e a AC são complementares e podem juntas trabalhar e contribuir para um conhecimento mais aprofundado sobre a dinâmica dos telejornais (ROCHA; DEUSDARÁ, 2005; COULOMB-GULLY, 2002). Por fim, retomando o que já fora ressaltado, vale o registro de Berelson (apud BARDIN, 2003) que compreende que a AC não tem propriedades mágicas, assim como a consideração de Pêcheux, que ratifica que “a análise do discurso não pretende se instituir como especialista da interpretação, dominando ‘o’ sentido dos textos [...]” (apud MAINGUENEAU, 1997, p.11, grifo no original). O que se estruturou aqui, a partir da opção por duas escolas distintas, foi um modelo para um determinado tipo de análise de telejornais. Foram feitas escolhas e, ainda que alguns elementos tenham escapado das observações, optou-se por uma tendência que fornecerá um levantamento de dados variados e que, no estabelecimento de uma conclusiva, trará resultados ricos, profundos e seguros.

 

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CAPÍTULO 3 APRESENTAÇÃO DOS TELEJORNAIS EM MINAS GERAIS

Boa noite: “Você vai ver agora o que foi notícia no mundo hoje”. Com essa frase ou outra parecida, variando um pouco nos termos ou na entonação de voz dos âncoras, invariavelmente os telejornais começam assim. E aí se sucedem as noticias do dia no Brasil e no mundo concentradas em cerca de 40 minutos [...] Pronto. Essa é a fórmula que todas as noites materializa as notícias do dia na tela da TV. E assim o mundo entra na casa de todos nós. (Porcello, 2006, p. 80-81)

 

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3.1 Telejornais em Minas Gerais

Alicerçada a metodologia, chega o momento de, enfim, colocá-la em prática. Em meio ao contexto televisivo e à caracterização da disposição orgânica dos noticiários, questiona-se aqui como se articulam os telejornalísticos locais. Como referencial, empreende-se a análise relacional de três dos principais programas do estado de Minas Gerais: Jornal Minas, da Rede Minas de Televisão; Jornal da Alterosa, vinculado à grade da TV Alterosa; e MG TV, veiculado pela Rede Globo Minas, compondo o corpus da dissertação. Como recorte metodológico, serão analisadas cinco edições dos telejornais supracitados, todos em suas respectivas primeiras edições, exibidos entre os dias 06 e 10 de junho de 201134. Vale o registro, porém, de que existem outros noticiários televisivos em Minas Gerais exibidos na faixa de horário analisada. Entre as principais emissoras de sinal aberto de grande alcance e com maior audiência, estão a TV Record Minas e a TV Bandeirantes (Band) Minas. A primeira apresenta o programa Balanço Geral, que difere acentuadamente na tonalidade dos telejornais analisados, caracterizando-se como um gênero híbrido – entretenimento e informação, baseado na espetacularização. Já o Jornal Band Minas segue uma linha análoga aos programas que serão discutidos a seguir. Contudo, por questões ligadas à limitação de tempo e espaço na produção desta dissertação, a análise desse noticiário não foi contemplada. Ele foi preterido por um critério de seleção simples, dando lugar a um jornal de uma emissora pública no comparativo com os outros dois de maior audiência no estado.

3.1.1 Olhar Flâneur Criterioso

Com um rigor nada científico, talvez muito mais poético e de fácil compreensão, adota-se aqui a perspectiva do flâneur como uma primeira leitura das emissoras e telejornais a serem analisados. A essência desse personagem urbano aparece na obra de Charles Baudelaire (1996; 1995; 1985), sendo discutida (e vivenciada) a posteriori por Walter Benjamin (1994) – entre tantos outros autores. 34

As edições do MG TV foram gentilmente cedidas pela equipe da Rede Globo Minas. O Jornal Minas e o Jornal da Alterosa foram gravados em aparelhos particulares do pesquisador.

 

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A expressão, vinda do francês, remete à inatividade do sujeito, que mais parece estar atrelada à fadiga, mas que de fato remete à preguiça de um vagabundo. Entretanto, liga-se à raiz flâner, que se traduz como passeio. Dá-se então o excursionismo despretensioso às ruas parisienses, com um olhar contemplativo, que revela nuances da cidade, enquadramentos particulares e, consequentemente, compreensões reservadas do que se vê, do que se experimenta. Para João do Rio (2008), característico flâneur da cidade maravilhosa, flanar é um verbete universal, porém, sem traduções nos dicionários.

Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí [...] Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas. [...] Haveis de encontrá-lo numa bela noite ou numa noite muito feia. Não vos saberá dizer donde vem, que está a fazer, para onde vai. (RIO, 2008, p. 31-32).

O espaço e as condições agora são outras, mas a métrica se mantém. Longe da Paris do século XIX, ou do Rio de Janeiro do início do século XX, o processo de flânerie recai sobre os telejornais de Minas Gerais, exibidos no ano de 2011. Como visto no capítulo anterior, o primeiro procedimento do flâneur em Belo Horizonte é o de estabelecer inferências diversas, a partir de uma leitura flutuante, não pontual, da programação das redes a serem analisadas. Para tanto, deve tomar conhecimento do funcionamento dos programas e da grade das emissoras a partir de um passeio pela tela da tevê; faz-se necessária uma reflexão "telespectadora", levantando hipóteses de pesquisa e insights sobre a dinâmica dos telejornais a serem abordados. Contudo, trata-se aqui de um trabalho acadêmico. Por isso, tais perspectivas devem andar juntas com uma criteriosa leitura documental e a uma análise crítica e pormenorizada das emissoras observadas. Por meio dessas perspectivas, será possível, por exemplo, verificar como são expressos os valores organizacionais das instâncias observadas, assim como a maneira como sua história (fundação, ligações político-institucional-econômico, contratos de comunicação estabelecidos) influencia em suas dinâmicas. Além disso, haverá condições de entender como se constitui a política editorial dos programas e o que os telespectadores esperam deles, entre outras oportunidades de compreensão, conforme poderá ser visto a seguir.  

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3.1.2 A Rede e o Jornal Minas

A Rede Minas foi fundada na década de 1980 (como TV Minas), tornando-se uma das primeiras emissoras estatais de interesse público criadas no País, tendo como objetivo a promoção de valores, educação e cultura para a população de Minas Gerais. À época, a abrangência do sinal era de um raio que compreendida 33 cidades ao redor da sede, em Belo Horizonte, com programação que durava apenas seis horas – das 18h às 0h, e retransmitia o sinal da TVE – emissora do Rio de Janeiro. As produções da Rede Minas começaram em 1985, com um telejornalístico chamado Momentos de Minas. Apenas dois anos depois é que outros programas começaram a ser produzidos pela emissora e que o alcance do sinal começava a ampliar, abrangendo agora também o sul de Minas Gerais. Assim, a programação foi alargada de seis para dezessete horas de exibições. A década de 1990 marcou avanços tecnológicos, infraestruturais e organizacionais da emissora. Em 1993, por meio de uma lei estadual, a TV Minas transforma-se em fundação pública – sem fins lucrativos, mas com autonomia administrativo-financeira e isenta de impostos estaduais. Dois anos depois, passa de fato a utilizar a alcunha Rede Minas e transfere-se para uma nova sede. Em 1998, inaugura um sistema de transmissão via satélite, com centenas de retransmissores que veiculavam a programação para quase todo o estado de Minas Gerais. Em 200535, adota um novo modelo gerencial ao assinar um termo de cooperação com a Associação de Desenvolvimento da Radiodifusão de Minas Gerais (ADTV) – instituição enquadrada juridicamente como OSCIP36. Tal parceria otimizaria o desempenho das atividades da Rede Minas, agilizando ações e flexibilizando a destinação de recursos, por exemplo37. Nos anos 2000, a emissora recebe vários prêmios que atestam os atributos da programação, chegando a ser consagrada pela Associação Brasileira de Comunicação 35

Na mesma época, foi instituído o Conselho Curador da Rede Minas. Atualmente a emissora tem o parecer de duas instâncias superiores: o Conselho Fiscal e o Conselho de Administração. 36 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. 37 Não obstante, em 2011 o Ministério Público do Trabalho acionou judicialmente a Rede Minas, em razão da falta de atenção ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), de julho de 2004, em que a emissora se empenharia a revogar a terceirização de empregados de sua atividade-fim. Porém, um grande contingente de profissionais era contratado pela ADTV (cerca de 382 repórteres, produtores, editores, entre outros). De acordo com informações do site JusBrasil, a multa poderia passar dos 3 milhões de reais em razão dessa infração. Disponível em: http://mpt.jusbrasil.com.br/noticias/2590222/mpt-executa-multa-de-r-3-8-milhoes-contra-a-redeminas. Acesso em 30 jan. 2012.

 

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Empresarial - ABERJE, em 2006 e 2007, como a melhor emissora de TV do País. Em 2010, para manter os predicados e adequar-se ao novo padrão de qualidade técnica no Brasil, realiza grandes investimentos em tecnologia digital. Atualmente, dentre as emissoras educativas e culturais brasileiras, é uma das que possui maior número de afiliadas (mais de 40), chegando a quase totalidade dos municípios mineiros, por meio da repetição de seu sinal por várias emissoras, que recebem a programação gratuitamente38. Com quase três décadas de existência, permanece 24 horas no ar e conta com uma programação ampla e diversificada (cinco telejornais e outros quatro programas diários, além de mais de vinte semanais). Muitos desses programas, seguindo uma política de interiorização da rede, reforçam elementos da cultura mineira e nacional. Conta ainda em sua programação com atrações da TV Brasil e da TV Cultura – emissoras que, por sua vez, também exibem programas da rede mineira para todo o Brasil. A Rede Minas é uma emissora pública, tendo assim a incumbência não de ser um canal do governo, mas uma via para a expressão cultural da sociedade. Nessa perspectiva, assim como em todas as instituições desse cunho, deve atender ao interesse público, indiferente a projetos mercadológicos e/ou políticos; é autônoma em relação ao mercado e aos governos. Deve ter como uma de suas premissas a criação de oportunidades para expressão de todas as formas de pensar, valorizando o plano de educação, cultura e cidadania (KOTSCHO, 2003). No que concerne especificamente ao jornalismo, e mais diretamente ao noticiário que será aqui analisado, o reforço dessa política é ressaltado pela emissora em seu site, ao afirmar que o Jornal Minas é um programa que “pretende estar ao lado do cidadão, esclarecendo fatos e buscando soluções, trata de saúde, educação, cultura”. Além disso, a atração, em sua segunda edição, traz quadros fixos, como o “De bem com a vida” – com temática voltada para a saúde, e o “Direito do Cidadão”, que aborda questões jurídicas a partir de casos diversos, alguns, inclusive, enviados pelos telespectadores. Segundo informações do Sr. Samuel Guimarães, da Assessoria de Comunicação da Rede Minas, o jornalismo da Rede Minas realmente teve início com a edição do programa Momentos de Minas. Tratava-se de um boletim local, exibido à noite, com o objetivo de divulgar notícias do estado, diferenciando-se do restante da programação retransmitida pela emissora, que até então era gerada em rede pela TVE do Rio de Janeiro. 38

As informações sobre a Rede Minas e os seus programas foram retiradas do site oficial da emissora: http://www.redeminas.mg.gov.br. Acesso em 03 jun. 2011.

 

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As transmissões do jornal começaram em outubro de 1985 e duravam cerca de 10 minutos no ar, ao vivo. Somente em 1987 ocorreu a primeira exibição do Jornal Minas, mais completo que seu sucessor, contemplando notas, reportagens e entrevistas, sendo exibido às 19h, com apresentação do jornalista e radialista Jaime Gomide. Em 1989, o Jornal Minas ganhou também uma edição pela manhã – exibida às 11h30. A proposta era ser a primeira opção de telejornal do dia na capital mineira, com notícias que tratassem de acontecimentos e questões relacionadas exclusivamente ao estado de Minas Gerais. Algumas alterações de horário ocorreram ao longo dos últimos anos, bem como a ampliação do tempo de cada edição. Ainda segundo a Assessoria de Comunicação da Rede Minas, isso permitiu regionalizar a emissora, dando oportunidade para a participação das mais de 40 emissoras afiliadas na produção do telejornal. Nesse sentido, cada edição do Jornal Minas traz de três a quatro reportagens feitas pelos repórteres e cinegrafistas que atuam no interior do estado, com destaque para emissoras que participam quase diariamente, como a TV Inconfidentes – de Ouro Preto; TV Univale – de Governador Valadares; TVE – de Juiz de Fora, entre muitas outras. Esse processo de interiorização da emissora, bem como o de regionalização do jornalismo, ocorreu a partir de abril de 1997, com a instalação de receptores de imagens (IRDs) em mais de 330 municípios mineiros. Isso permite que, hoje, o alcance da Rede Minas esteja em quase todo o estado, imputando-lhe, porém, a necessidade de produzir conteúdo em cada uma das regiões em que atua. Segundo informações obtidas junto à gerência de Marketing da Rede Minas39, hoje o Jornal Minas – 1ª Edição, tem um público majoritariamente feminino (61%), formado em maioria por pessoas com mais de 50 anos (ainda que atinja todas as faixas etárias). Todas as classes econômicas/sociais assistem ao programa, mas a maior parte dos telespectadores compõem as faixas D/E, seguidos por aqueles que estão na C, e finalmente pelo público caracterizado como A/B. Entre os meses de maio e julho de 2011, o Jornal Minas fez menos de 01 ponto de audiência, sendo que, em média, na semana analisada, apenas 7% dos telespectadores assistiram ao programa40 (IBOPE, 2011). A primeira edição do programa, apresentado pela jornalista Sandra Gomes, vai ao ar, pontualmente, às 12h. É exibido de segunda à sexta, com duração aproximada de 30 minutos. 39

Dados gentilmente cedidos pelo Sr. Rafael Portugal, Gerente de Marketing da Rede Minas. Números calculados na participação de audiência/share (número de televisores ligados), medida no mês de Junho de 2011, na frequência de horário entre 11h30 e 14h. 40

 

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O telejornal é precedido por uma atração infantil, o programa Janela Janelinha, veiculado pela TV Brasil em todo o País, através da retransmissão de seu sinal. Na sequência do Jornal Minas, é exibido o programa Emprego e Renda. Classificado como jornalístico pela Rede Minas, a atração traz informações sobre o mercado de trabalho, oportunidades de emprego e dicas para a (re)colocação profissional. Embora o telespectador possa acompanhar a programação, a Rede Minas adotou um serviço de alerta ao público. A ação chamada de “grade interativa” avisa às pessoas que se cadastram, por e-mail e/ou outros aplicativos web, quando o programa preferido irá ao ar41. Pensando na prática jornalística da Rede Minas e na problematização que a cerca em razão de sua vinculação institucional, poder-se-ia dizer que a emissora segue nos trilhos de uma comunicação mais estatal do que pública, presente em um Brasil de situações em que o Estado ainda se apresenta como protagonista – nas palavras de Musse e Magalhães (2008). Isso porque, segundo avaliam a opinião de Passos (2002), a Rede Minas sempre contemplou mais o interesse do governo do que o da própria sociedade;

Desde que foi fundada, a Rede Minas sempre esteve sob a influência direta de seu principal mantenedor – a administração do Estado –, que tornou-se também, por tradição de hábito, o principal cliente da emissora. Nesta relação, o Governo do Estado sempre pautou o jornalismo da Rede Minas. (PASSOS, 2002, p.6 apud MUSSE; MAGALHÃES, 2008, p.2).

Isso faria do Governo de Minas Gerais a principal voz na emissora e em seus telejornais, o que poderia comprometer a apuração das informações e tender a abordar assuntos mais preciosos aos anseios políticos e não do cidadão. No entanto, tal perspectiva só poderia ser comprovada em pesquisa com esse direcionamento, o que não é o foco do presente trabalho, mas é uma hipótese que deve ser levada em consideração, já que pode, de alguma forma, orientar o olhar do público telespectador. Em um apanhado geral, pode-se dizer com segurança que a Rede Minas faz jus ao conceito de emissora educativa. Com direcionamento para todas as idades, sua programação estimula a reflexão, não só com as atrações que veicula, mas até nas chamadas de intervalo. A partir de uma carta cultural variada, trata com uma cadência própria de temas muitas vezes abandonados pelas emissoras privadas. Não obstante, em relação ao telejornalismo, parece ser 41

A emissora tem investindo nas plataformas digitais on-line. A rede tem um canal web, onde transmite a mesma programação da TV, ao vivo, gratuitamente. Disponível em: http://www.redeminas.tv/ao_vivo. Acesso em 31 jan. 2012. Além disso, já foi informada a reformulação de todo o site oficial da Rede Minas para 2012.

 

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um pouco mais ortodoxa, para não dizer cautelosa, em relação à dinâmica adotada e ao modo de trabalhar a informação, hipótese que poderá ser colocada em xeque, a partir das análises que seguirão.

3.1.3 A TV Alterosa e o seu telejornal

A TV Alterosa, exibida no canal 5 VHF da televisão belo-horizontina, é uma emissora com quase 50 anos de existência42. Em 1962, ano de sua fundação, só existiam dez emissoras de TV no Brasil. Entre elas, a TV Itacolomi, uma das pioneiras no país, que foi corresponsável pela estruturação da Alterosa em Minas Gerais. Entre os sócio-fundadores da rede mineira, estava Francisco de Assis Chateaubriand, um dos grandes articuladores da entrada da televisão em terras brasileiras. Nos primeiros anos de vida, a TV Alterosa altercou de mãos, retornando, em 1979, para o controle definitivo dos Diários Associados (DA) – aliança empresarial que até hoje a administra. Contudo, em 18 de Julho de 1980, a TV Itacolomi, que alicerçava a TV Alterosa e era o carro-chefe do grupo, foi fechada, pois teve a concessão de funcionamento cassada após vários anos de malogro na audiência. A TV Alterosa então passou a ser prioridade para o DA, que articulou um amplo plano de desenvolvimento para a emissora – do ponto de vista técnico, infraestrutural e comercial. Para tanto, no mesmo ano, a emissora ganhou nova sede, ampliou a quantidade e melhorou a qualidade dos equipamentos de produção e transmissão de conteúdo e assinou parceria com a emissora paulista Sistema Brasileiro de Televisão – SBT, de quem, até hoje, repete o sinal. Não obstante, sempre articulou programas em Minas Gerais e, atualmente, apresenta em sua grade uma série de programas próprios, veiculados para aproximadamente 98% do estado de Minas Gerais. Para isso, a Alterosa conta com geradoras de sinal em Varginha, Juiz de Fora e Divinópolis – além de Belo Horizonte. Na defesa institucional, disponível no site oficial, a emissora faz um forte apelo à “mineiridade”, afirma que “representa parte do cotidiano de Minas, sua linguagem e seus hábitos”, e indica, conforme pode ser visto em seu slogan, ser a tevê que o mineiro vê43. Para 42

Informações obtidas em http://www.alterosa.com.br; acessado em 09 de jun. de 2011. Segundo informações do site da emissora, este slogan foi escolhido pelos telespectadores em campanha interativa.

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tanto, produz atrações de diversos gêneros, como o “Alterosa Esporte”, “Viação Cipó”, “Antônio Roberto e Você”, “TV Verdade”, “Jornal da Alterosa”, entre outros. Mas nem sempre foi assim. Até o início da década de 1990, apenas 110 municípios recebiam a programação da Alterosa. O ano de 1996 foi um marco para a emissora. A partir de um investimento de quatro milhões de dólares, a Alterosa começou a ampliação do sinal para todo o estado44, concluído em 1999, a partir da assinatura de um convênio com a Embratel. A intenção era estadualizar/interiorizar a frequência da emissora, de modo a promover a integração entre as diversas regiões de Minas Gerais, fomentando a produção de atrações locais, além de realizar coberturas jornalísticas de acontecimentos no interior e de temas de interesse de todo o estado. A partir dos anos 2000, a TV Alterosa prioriza ainda mais os programas locais, sendo reconhecida como a emissora com maior número de atrações regionais, investindo na consolidação de produtos já legitimados e de grande audiência, como o Alterosa Esporte e o Jornal da Alterosa. Este último, objeto desta análise, é veiculado de segunda a sexta, em duas edições. A primeira é exibida às 12h45, apresentada por Laura Lima e Benny Cohen. Já a segunda, sempre às 19h20, tem apresentação do jornalista Camilo Júnior. Além de uma exibição na capital, o jornal tem as suas respectivas versões no interior. Assim, mesorregiões estaduais, representadas por cidades como Juiz de Fora (Zona da Mata), Varginha (Sul de Minas), Montes Claros (Norte de Minas), entre outras, têm os seus noticiários customizados localmente, além de produzirem material exibido para todo o estado pela sede em Belo Horizonte. O Jornal da Alterosa 1ª Edição é precedido pelo Alterosa Esporte. Apesar da diferença nos gêneros, há uma fusão muito particular entre as atrações; não há intervalo comercial, tampouco uma vinheta os separa. Ao término da atração esportiva, o apresentador literalmente entrega o comando da audiência para os âncoras do noticiário, que seguem chamando a escalada. Na sequência do telejornal, é apresentado o TV Verdade, um programa de debate e entrevistas que trata de temas polêmicos e de grande repercussão em Minas Gerais com uma linguagem extremamente coloquial. O Jornal da Alterosa tem 15 anos de existência. Sua criação veio em substituição ao noticiário Alterosa Notícias. O projeto nasceu em 1996 e teve o jornalista Benny Cohen como o principal articulista. Em entrevista para esta pesquisa, Benny contou um pouco da história 44

Isto é, só não o fez antes pois já existia outra emissora no estado que repetia o sinal do SBT para algumas cidades mineiras. Assim, para não haver duplicidade de programação, foi realizado um acordo para que a Alterosa não trabalhasse na região.

 

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do programa. A intenção era desenvolver uma atração que privilegiasse mais o interior, já que a emissora passaria por um amplo processo de estadualização do sinal pois, até então, a frequência da TV Alterosa não chegava a muitas cidades de Minas Gerais, conforme relatado anteriormente. Para Benny, “era preciso ter um jornal de Minas, e não apenas da capital”. Para tanto, foram criadas sucursais em cidades polo, em algumas regiões do estado. Assim, nasceu um jornal mais regionalizado: “cidades que nunca apareceram na televisão, abandonadas pela mídia, passaram a ser evidenciadas”, afirma o jornalista. Benny relata ainda que, na construção da política editorial do programa, foi definido que o noticiário deveria ter uma linguagem mais coloquial, para “falar a língua do telespectador”. Além disso, acertou-se que o telejornal daria voz à comunidade e abriria espaço para a opinião de seus apresentadores. E assim se deu o desenvolvimento da atração. Muitas questões e episódios sociais foram apresentados pelo Jornal da Alterosa, que ouvia o relato do público e recebia a opinião e o posicionamento crítico dos jornalistas em estúdio. Contudo, apenas em 2000 o programa passou ter um caráter interativo, estimulando a participação efetiva do telespectador, que também opinava sobre os temas em destaque. Em editorial, ao final, mais uma vez os jornalistas se posicionavam, indicando a marcação do próprio programa, e da emissora, em relação ao assunto. A audiência respondia aos poucos. Ano a ano o Jornal da Alterosa galgava posições no ranking dos noticiários mais assistidos, até chegar ao topo em 2001, mantendo-o até 2004. Atualmente, na faixa de horário medida entre 11h30 e 14h, entre os meses de maio e julho de 2011, a TV Alterosa mantêm-se como vice-líder de audiência, marcando 6 pontos em média e guardando a atenção de cerca de 25,5% dos telespectadores (IBOPE, 2011). Sobre o público, segundo informações de Malu Melo, gerente de mercado audiência, da Diretoria de Comercialização e Marketing dos Diários Associados, mais da metade é da classe C, e outros 34% são da classe A/B. A divisão por sexo é equilibrada, mas a maioria (54%)45 ainda é de mulheres, grande parte com mais de 50 anos (30%). Não obstante, 25% do público que assiste ao Jornal da Alterosa tem entre 35 e 49 anos. Os anos iniciais do Jornal da Alterosa foram marcados pela experimentação. Porém, todas as apostas do telejornal foram monitoradas e havia um controle do que era positivo ou não por meio do retorno da audiência, o que influenciou no desenvolvimento do programa.

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Curiosamente, o público do Alterosa Esporte, programa que precede o Jornal da Alterosa, é formado majoritariamente por homens, compondo 59% da audiência.

 

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Essa gestão era, e ainda é, realizada no modelo à vista – em que todos têm conhecimento dos resultados das ações. Segundo Benny Cohen, uma emissora concorrente, que até então tinha o telejornal líder de audiência na época, parecia não se preocupar com o crescimento do Jornal da Alterosa, passando a promover alterações em sua forma de trabalho apenas quando percebeu que tinha perdido o primeiro posto para a TV Alterosa. Para o jornalista, a emissora inaugurou uma forma inovadora de fazer jornalismo e é, também por isso, uma das pioneiras em televisão no estado. A Alterosa investe ainda em outras ações para se aproximar do público. Já é tradição em Belo Horizonte, por exemplo, os shows e a queima de fogos promovida pela rede no entorno da Lagoa da Pampulha durante a chegada do ano novo. Campeonatos esportivos, concursos, promoções, caravanas socioculturais e campanhas interativas no site da Alterosa são comumente realizados ao longo do ano, atraindo a atenção e a participação dos mineiros. As principais impressões que se tiram da TV Alterosa são relacionadas, majoritariamente, a sua linguagem, ao modo de se expressar e ao tipo de abordagem que interpela junto ao público. Há um apelo à mineiridade aliado a uma linguagem informal, coloquial, aproximativa. A emissora investe em tecnologia e demonstra acuidade em suas produções, aproximando-se de um padrão profissional de se fazer televisão, não abrindo mão de uma característica própria, difícil de se definir, que se alinha a um “ficar à vontade” com aquilo que se faz. A emissora é popular, em todas as interpretações que essa palavra pode suscitar. Condição reforçada pela dinâmica da rede de que repete o sinal, o SBT. Em relação ao telejornalismo, poder-se-ia dizer até populista, pois se posiciona, opina, estabelece críticas ao governo, ouve e dá voz aos (problemas dos) cidadãos. De alguma forma, conjectura-se que esse talvez devesse ser o papel do jornalismo de uma emissora pública. A condição é assumida, porém, em grande medida, por uma rede privada. O resultado parece ser, então, a identificação do telespectador a partir da percepção do cumprimento de uma ausência e do estabelecimento de um projeto que se indaga público. O retorno, contudo, remete mais ao lucro, advindo da audiência, e suas consequências no plano comercial, do que às congratulações por ser um representante do povo. Afinal, o que também está em jogo é a sustentabilidade financeira, condição sine qua non para a manutenção do telejornal e da emissora.

 

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3.1.4 A Globo Minas e o MG TV

A Globo Minas, canal 12 VHF, é uma emissora com sede em Belo Horizonte, fundada no final da década de 196046, sendo uma das cinco TVs próprias da Rede Globo, transmitindo sua programação para a capital e todos os municípios de Minas Gerais (seja por meio do sinal próprio, ou da repetição por sete emissoras afiliadas47). A emissora retransmite a programação nacional da Rede Globo, mas produz programas locais, como os telejornais Bom Dia Minas e o MG TV (em duas edições), a versão local do Globo Esporte e os culturais Terra de Minas e Globo Horizonte, entre outros. É da Globo Minas um marco no telejornalismo no estado, com a produção, em 1977, do primeiro noticiário em cores de Minas Gerais, o Jornal das Sete. O programa durou seis anos, até ser substituído pelo MG TV, em janeiro de 1983. A nova atração trazia uma política editorial diferenciada, seguindo um padrão da Rede Globo, em todo o País. A intenção era dar maior identidade ao jornalismo local, além de potencializar o desenvolvimento de conteúdo ligado à temática de serviços. Ao mesmo tempo se objetivava amplificar a participação na programação nacional, práticas que já vinham sendo desenvolvidas em outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro e no Distrito Federal, com os respectivos SP TV, RJ TV e DF TV. O programa, contudo, era exibido somente à noite, por volta das 19h50, antes do noticiário da rede, o Jornal Nacional. Seis meses depois, às 12h40, ia ao ar pela primeira vez o MG TV 1ª edição. A atração tinha audiência, mas deixou de ser exibido (assim como em quase todas as outras praças – menos em São Paulo) no ano de 1989, retornando em 1992, com uma nova proposta – também padrão para todo o país, e em um novo horário – antes do noticiário nacional da tarde, o Jornal Hoje. Vale citar ainda que, durante seis anos, entre 1983 e 1989, também houve uma terceira edição do MG TV, exibida no final da noite, após o Jornal da Globo. Além disso, entre 1984 e 1987, o programa chegou a ser exibido até aos domingos, após o Fantástico. Hoje o programa conta com duas edições, de segunda à sábado: a primeira é exibida às 12h15, com os âncoras 46

A Globo chegou a Minas Gerais em 1968, com a aquisição da TV Belo Horizonte. Com um projeto agressivo, contratando profissionais que vinham tendo sucesso em outras emissoras – muitos da TV Tupi – a rede começou suas atividades no estado com boa audiência, disputando a liderança com a TV Itacolomi, tomando de vez o primeiro lugar no início da década de 1970. (BRANDÃO et. al., 2011). 47 São elas: EPTV Sul de Minas, de Varginha; InterTV Grande Minas, de Montes Claros; InterTV dos Vales, de Coronel Fabriciano; TV Integração, de Uberlândia; TV Integração, de Araxá; TV Integração, de Ituiutaba; e, TV Panorama, de Juiz de Fora.

 

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Artur Almeida e Isabela Scalabrini, e a segunda às 18h50, sob o comando da jornalista Vivian Santos. Enquanto a segunda edição fica alojada em meio à teledramaturgia – às novelas conhecidas como “das 6” e “das 7”, a primeira é precedida pelos desenhos animados da TV Globinho e seguida pelo Globo Esporte (local). Advindas de um padrão de jornalismo nacional, tanto a primeira quanto a segunda edição do MG TV sempre marcaram bons índices de audiência, ficando quase continuamente em primeiro lugar na preferência do telespectador. Hoje o programa é líder de audiência no seu horário de exibição. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – IBOPE (2011), a primeira edição marca, em média, 14 pontos de audiência, compreendendo 43% dos televisores ligados no momento de sua exibição. Sobre a caracterização do público, quem assiste ao MG TV na maioria são mulheres (aproximadamente 59%, descontando o público infanto-juvenil), com idade entre 25 a 49 anos (37%), ligadas majoritariamente à classe social C (54%). Vale o registro ainda de que o segundo público com maior participação, aproximadamente 1/3 da audiência, tem idade superior a 50 anos48. Mesmo sendo um dos líderes de audiência, com a emergência de outras emissoras, o MG TV passou por uma série de transformações ao longo dos anos49 – sobretudo a partir de 2000. A emissora investiu em novos e diferenciados estúdios e cenários, além de aparelhos para produção e transmissão e equipes de reportagem. A verticalização seguiu também para o interior, modernizando a estrutura das afiliadas, ampliando a qualidade e as condições para que o material produzido fora de Belo Horizonte pudesse ser exibido em todo o estado. Além disso, em 2004 o MG TV ganhou um bloco adicional, com conteúdo exclusivo local50. À época, também houve um grande investimento nas linhas de transmissão da Globo Minas com as afiliadas, o que gerou qualidade do sinal e facilidades para a interlocução entre a emissora-sede (em Belo Horizonte) e as afiliadas em todo o estado. Com isso, atualmente a cobertura é total em Minas Gerais (os 853 municípios recebem o sinal da rede) sendo que

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Algumas destas informações também estão disponíveis no site da Globo Minas – Área Comercial. Disponível em: http://www.globominascomercial.com.br/programas/mais_informacoes/37. Acesso em 21 nov. 2011. 49 Um pouco antes, em 1995, a emissora foi instalada em uma sede mais ampla e moderna, passando a atuar na Avenida Américo Vespúcio, na região noroeste da capital mineira, em um ambiente em que concentrou todas as suas atividades. 50 Informações obtidas no site Memória Globo, mantido pela Central Globo de Comunicação. Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-239432,00.html-. Acesso em 11 mar. 2012.

 

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91,77% da população do estado tem acesso ao conteúdo da emissora – cerca de 19 milhões e 400 mil pessoas51. Em 2008, a Globo Minas foi uma das primeiras emissoras no país (a terceira da Rede Globo) a instalar um novo sistema de transmissão digital de alta definição. A operação com os novos equipamentos começou no dia 25 de abril daquele ano. Como referência, o programa Terra de Minas consolidou-se como o primeiro no estado a ser totalmente produzido (editado e exibido) em high definition. Diferente da Rede Minas, e assim como a TV Alterorosa, a Globo Minas é uma emissora de caráter privado, que depende diretamente de recursos de patrocinadores e investidores. Como consequência, tem uma lógica própria de produção que, apesar de pautada pela qualidade em suas produções e com grande investimento em programas jornalísticoinformativos, privilegia atrações com forte apelo junto ao público, sobretudo o entretenimento de diversos gêneros. Ainda assim, investe muito em ações, teoricamente, sociais – na medida em que, consequentemente, trazem retorno financeiro e melhoram a imagem da a emissora mediante o público. Nesse sentido, já participou de dezenas de projetos, próprios e de terceiros. Entre os trabalhos, estão: o prêmio Bom Exemplo, que evidencia e congratula as iniciativas de responsabilidade social de cidadãos mineiros; o Salão Global de Inverno (na década de 1970, uma das primeiras ações), que fomentou o trabalho de uma série de artistas mineiros; o apoio à preservação e recuperação do patrimônio artístico e histórico do estado (com a revitalização de igrejas em Ouro Preto, Tiradentes, Mariana e Nova Lima, e até de obras de Oscar Niemeyer em Belo Horizonte); o projeto Queroler (que implementou a criação de bibliotecas em cidades do interior de Minas Gerais); o projeto “Uma vida, uma árvore”, que planta uma muda para cada criança que nasce em cidades como Betim, Belo Horizonte, Contagem e Ouro Preto – em parceria com as prefeituras; o Espaço Criança Esperança, o Amigo da Escola e o Ação Global, de âmbito nacional; entre muitos outros, como a cessão de espaço para divulgação de eventos culturais e campanhas de diversas instituições na televisão. No balanço social da Globo Minas do ano de 201052, a empresa demonstra ainda uma série de investimentos em sustentabilidade, baseados no esforço da empresa para adequar-se ao ISO 14001:2004. A obtenção do certificado, inclusive, foi amplamente divulgada pela TV, ratificando que a emissora é a única no estado a ter tal diplomação. 51

Dados obtidos no site oficial da emissora, em “Conheça a TV Globo Minas”. Disponível em: http://redeglobo.globo.com/globominas/noticia/2011/03/conheca-tv-globo-minas.html. Acesso em 11 mar. 2012. 52 Disponível em: http://estatico.redeglobo.globo.com/2011/07/04/globo-minas-relatorio-2010.pdf. Acesso em 13 mar. 2012.

 

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Visando um outro tipo de relacionamento com os telespectadores, a Globo Minas ainda organiza e apoia eventos de grande repercussão, como o esportivo Volta Internacional da Pampulha, a micareta Axé Brasil, os festivais de gastronomia de Tiradentes e o Comida Di Buteco em Belo Horizonte, a festa de réveillon na Praça da Estação na capital e o torneio de futebol amador Corujão, entre outros. Há ainda, ao longo da programação da emissora, um forte apelo à mineiridade. Isto é, quer seja com a utilização de painéis com fotos de pontos turísticos do estado nos telejornais, quer seja com um programa exclusivo sobre as características da região, ou com as dezenas de vídeos institucionais que apresentam canções de artistas locais e imagens da várias partes de Minas Gerais e suas riquezas. A Globo Minas herda o padrão Globo (nacional) de produção e parece ser vista pelo público telespectador como tal. Isso significa que, para além disso, as linhas entre regional e nacional no canal 12 são muito mais tênues do que, por exemplo, na TV Alterosa, onde os espaço são mais bem demarcados para com o SBT. Todavia, o que se ressalta é a referência de qualidade nas produções e o reconhecimento de uma modelagem do produto jornalístico apresentado pela Globo (Minas) ao telespectador. As ressalvas se dão em função de uma liberdade maior aos apresentadores dos jornalísticos, que pouco a pouco se desprendem das amarras do formalismo. Além disso, são feitos esforços para ratificar a qualidade do padrão Globo, ao passo que se envidam diligências de todos os tipos para reforçar a mensagem “sim, somos daqui”. Feitas essas considerações, cabe agora analisar pontualmente e cruzar as observações aqui elencadas dos três telejornais em destaque, tomando como referência seus modos de apresentação pelas vinhetas, escaladas, cenários e apresentadores, conforme a seguir.

3.2 Vinhetas

As vinhetas que serão observadas nesta seção53 referem-se apenas às de abertura dos telejornais analisados. O recorte temporal se deu entre os dias 06 e 10 de junho de 2011 e, como não houve mudança na arte das emissoras nesse período, foi retirado um exemplar de cada noticiário. Em razão das limitações de demonstração do material áudio-visual em uma 53

As discussões da seção ‘Vinhetas’ desta dissertação foram publicadas e podem ser conferidas também em David-Silva e Braighi (2012).

 

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dissertação, recorreu-se aqui à captura de seis quadros chaves, marcantes em relação às principais passagens de cada vinheta, seguido de um texto que congrega a descrição com uma interpretação prévia54.

3.2.1 Jornal Minas

Figura 8: Quadros-chave da vinheta de abertura do Jornal Minas

A abertura do Jornal Minas apresenta o vermelho como cor predominante, além dos tons em escala de cinza. Essa disposição, assim como na TV Alterosa, remete a um projeto de comunicação visual da emissora55, apresentando-se então como prática auto-referencial e de reforço identitário, aparentemente mais da emissora do que do telejornal. Contudo, a dinâmica não é adotada em larga escala em outros programas. Nesse sentido, as cores devem ser analisadas de modo mais pontual na sua relação com o jornalismo. 54

A interpretação sígnica das imagens e elementos presentes no quadrilátero da apresentação dos telejornais se deu nesse trabalho a partir do arcabouço teórico da semiolinguística, assim como de outros autores que compõem o cabedal de conhecimentos do autor da pesquisa, ainda que os mesmos não estejam citados. 55 Essa afirmação pode ser comprovada com uma observação das cores utilizadas no site da emissora. Disponível em: http://www.redeminas.mg.gov.br . Acesso em 28 fev. 2011.

 

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Percebe-se que, com a assinatura do programa surgindo ao final, fazendo alusão à logomarca da emissora, exerce-se novamente a auto-referencialidade. Isso ocorre, provavelmente, com o intuito de transferir os valores da instituição para o noticiário, ainda que esse processo também seja reflexivo, na medida em que o telejornal, na ratificação das perspectivas de isonomia, seriedade, ampla cobertura, atualização constante, entre outras, traz essa imagem para a própria Rede Minas. Esses valores podem ser compreendidos por meio das metáforas do joguete que a vinheta aloja – ou faz menção – com elementos distintos, tais como um relógio, um obturador de câmera cinematográfica, além de mapas e coordenadas geográficas, instaladas como um monitor de controladores de voo ao fundo, ou mesmo o triângulo vermelho - que remete à mesma figura geométrica presente na bandeira do estado de Minas Gerais. Essas imagens são articuladas de modo acelerado, dando dinamicidade à vinheta. Outro elemento que acentua a composição é o áudio, orquestrado, com marcações agudas ritmadas, em toda a duração do vídeo, e inserção de batidas mais fortes, em passagens específicas e no encerramento da arte. A vinheta pode revelar, em sua cadência acelerada (seja pela emergência do vermelho, seja pelo ritmo da trilha sonora), a dinâmica dos jornalistas em busca dos fatos. Além disso, pretende demonstrar o amplo monitoramento e conhecimento do que está acontecendo no aqui e agora da região. Essa busca é, no entanto, amparada pela sobriedade e acuidade, valor demonstrado pelos tons em cinza, base fundamental para a inquietação apresentada pelo tom rubro. As camadas em tons calcinados vão se sobrepondo, em referência implícita ao assentamento dos acontecimentos que compõem a nossa memória. O acúmulo das notícias resulta no registro e preservação do processo histórico. O movimento circular alude à coexistência entre o tempo mítico (o tempo que volta sobre si mesmo) e o tempo cronológico, linear. O tempo da narrativa dos acontecimentos que opõem passado e presente se alinha ao tempo do eterno recomeço em que essa diferença não é relevante. Assim, o telejornal é um lugar em que se inscreve na história, contada pela narrativa dos acontecimentos, mas, por outro lado, ele também se inscreve na nossa memória como espaço em que tudo está sempre recomeçando; estamos todos os dias em contato com o presente, sempre novo e sempre igual. As diferentes camadas que compõem a imagem cônica remetem às várias perspectivas do movimento jornalístico/histórico. Assim, diferentes pontos de vistas parecem ser instaurados, garantindo a imparcialidade, característica relevante na imagem de um jornalismo sério. O eixo central, a partir do qual se movem as diversas camadas do cone, aponta para o controle do telejornal sobre as informações. Isso é evidenciado pelo nome do  

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jornal que surge a partir do centro de irradiação da linha editorial. Por fim, vale o registro de que a arte sempre vem ao final da escalada, com duração média de 13 segundos.

3.2.2 Jornal da Alterosa

Figura 9: Vinheta de abertura do Jornal da Alterosa

A vinheta de abertura do Jornal da Alterosa (JA) tem nas cores vermelho e amarelo os tons que identificam o programa. Sem embargo, essas são as mesmas matizes da emissora56. O que se percebe, logo de início, é a proposta cíclica de identificação entre a instância que sustenta o programa e o próprio noticiário. Na medida em que o jornal adota os tons da rede, traga para si os valores da emissora, no momento mesmo em que incidem sobre a instituição as ideias que a atração adota e exprime. A figura do globo terrestre, recorrente nesse tipo de arte, é também adotada pelo JA, esse por sua vez, apresentando os oceanos em vermelho, mais escuro, e os continentes em tom pastel. A esfera é circundada por espessas e ligeiras faixas, nas cores vermelho e amarelo – com texturas metalizadas, que remetem às matérias-primas presentes no estado de Minas Gerais, tais como o ouro e o ferro. Além dessa referência às riquezas do estado, ao metal podem ser associadas características como a resistência, confiabilidade e a durabilidade. 56

Essa afirmação pode ser comprovada com uma observação das cores utilizadas no site da emissora. Disponível em: http://www.alterosa.com.br. Acesso em 28 fev. 2011.

 

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Aliada ao movimento circular e ágil dessa estrutura em torno do mundo, percebe-se certa cristalinidade que permite a luz transpassar tanto o mundo como as faixas que o circundam, refletindo-se em alguns pontos, como, por exemplo, na logo JA. Esses elementos remetem a uma visão de jornalismo pautado na confiabilidade, na celeridade, na amplitude e na transparência das notícias. As imagens trazem a marcação em destaque do Brasil nas Américas e do estado de Minas Gerais no País, dando a ideia de globalidade, ou seja, por mais que o foco das matérias esteja em Minas, há um intercâmbio entre o que acontece no mundo, adotando a consciência de que acontecimentos ao redor do planeta influenciam em questões regionais – pensando global e agindo local. No entorno do globo, aparecem palavras-chave temáticas, com destaque para as expressões “jornalismo” e “entretenimento”, as de mais fácil leitura durante o movimento da arte. Pode-se supor que essas duas perspectivas almejam demonstrar os principais endereçamentos da emissora – informação e diversão. Assim, percebe-se uma sugestão à relação intrínseca, no telejornalismo, entre as estratégias de credibilidade e de captação (CHARAUDEAU, 2007). Ao final, emerge a assinatura do programa: “JA”, com o rodapé “Jornal da Alterosa” na mesma tonalidade predominante na vinheta. Em um rápido movimento, há uma inversão da sigla do noticiário, revelando a sua outra face: “AL”, em referência direta ao nome da emissora. A prática da auto-referencialidade se faz presente novamente. Na fusão, o globo terrestre some, dando lugar à assinatura do telejornal, ampla, onipotente, aclarada por feixes de luz que emanam de direções distintas e se refletem na marca em destaque. Destaca-se ainda que a centralização espacial das assinaturas do Jornal (JA), e da emissora (AL), em substituição ao globo terrestre, evidencia uma imagem da dimensão especular pretendida pelo telejornalismo, pela qual o conhecimento dos fatos do mundo seria proporcionado pela sua capacidade de representá-lo. Além disso, a assinatura demonstra a relevância do tempo presente para o processo de transmissão da notícia, a enunciação se faz aqui e agora, as notícias veiculadas respeitam um dos princípios justificadores da noticiabilidade dos fatos: a atualidade. Mais curta do que as demais aqui analisadas (em média, 08 segundos), a vinheta do JA também apresenta imagens de modo muito acelerado. O áudio acompanha a dinâmica da arte, com destaque para os efeitos agudos junto às faixas que circundam o globo terrestre, em relação à agilidade na cobertura do telejornal.

 

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3.2.3 MG TV

Figura 10: Vinheta de abertura do MG TV

A Rede Globo de Televisão, depois de promover várias mudanças na vinheta dos “praça TV” (telejornais regionais da emissora), adota o modelo analisado como referência para todos os noticiários exibidos por afiliadas nos estados brasileiros. A uniformização é parte de um projeto identitário vinculado ao “padrão” Globo de jornalismo e que, assim, não faz de forma macro nenhum tipo de remissão às questões locais e/ou regionais – a não ser pela assinatura relacionada à unidade federativa em que a atração é exibida; a sigla MG, neste caso. Em um olhar sobre o recorte de imagens feitos na Figura 10, a partir da vinheta do MG TV, pode-se perceber uma linha de agenciamento de elementos sígnicos que articula efeitos de sentidos possíveis, que ajudam a compreender certa imagem do jornalismo praticado por essa emissora. Pode-se falar aqui da emissora, no caso a Globo, e não somente do telejornal em questão, uma vez que a vinheta, como dito, é a mesma para os diversos jornais regionais exibidos em todo o país. Na primeira imagem da seleção, são vistas placas, em tom azul, que parecem sobrevoar o (um) espaço. No cerne desse ambiente, encontra-se uma extensão escura e profunda, sugerindo que as placas saem de um centro obscurecido se movimentando em direção a um lugar iluminado (ao passo que este outro lado parece aclarar-se pela própria

 

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energia das chapas azuis). Além desse movimento centrífugo, ocorre ainda uma reorganização da cena. As placas, que antes pareciam traçar movimentos aleatórios, passam a se organizar em pilhas, evidenciando-se a figuração de uma cidade e seus arranha-céus, marcando, aos poucos, ainda mais fortemente a linha do horizonte, iluminando-se quadro a quadro. A seguir, destacase, invadindo esse espaço, em primeiro plano, uma placa com a sigla MG. Ao fundo dessa logo, veem-se diversas telas, que podem tanto se dirigir aos lares antenados às notícias ou, ainda, à imagem dos olhos de uma libélula, atentos aos mínimos movimentos do mundo factual, prontos para trazer à luz os acontecimentos. Em uma animação que dura em média nove segundos, a proposta pode ser a de apresentar o telejornal como uma instituição que observa toda a região, por cima, de modo isonômico e soberano, dando conta de todos os acontecimentos do quadrante que representa. Para tanto, a cor azul é predominante, transmitindo sobriedade. Esse tom também está relacionado à verdade, muito comum e adequado para esse tipo de programa televisivo. Não obstante, o amarelo que compõe a assinatura do noticiário traz a ideia de luz à “TV”, janela luminosa que propõe dar conta da apresentação e esclarecimento dos acontecimentos sociais da cidade formada abaixo da logomarca do telejornal. Aos poucos, a metrópole desaparece e o fundo se transforma, remetendo a um conjunto de pixels de uma tela. As imagens são acompanhadas por uma trilha orquestrada, com uma batida ritmada, mais aguda, ao fundo. Ao final, a assinatura do programa surge com dois efeitos sonoros: o primeiro junto da entrada da placa que recebe a inscrição “MG” e o seguinte acompanhando a formação das figuras ao fundo, que formam a sigla “TV”. Se considerarmos a hipótese de que a vinheta constitui-se como um gênero de apresentação do programa, logo, gênero fundamental para a sua construção identitária, podese argumentar que o jornalismo apregoado pelo MG TV imputa as funções de observação, seleção e organização dos acontecimentos. Assim, é possível inferir também, por meio dessas funções, que as escolhas realizadas são intrínsecas ao fazer jornalístico. Logo, sua visão, mesmo que multifacetada, é parcial e particular, ainda que acima de juízo em função de sua (figurada) posição soberana – acima (dos olhos) da sociedade.

 

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3.2.4 Constantes e variantes nas vinhetas

Os telejornais encontram-se em um ambiente de forte concorrência, em um contexto de estratégias de conquista, captação e fidelização de um público. Nesse sentido, buscam uma imagem que os particularize e destaque dos demais. Em um primeiro nível de interpretação, pode-se ver, nessa profusão de imagens na tela, a expressão da abertura da televisão sobre o mundo, a região, a cidade, simbolicamente reforçada pela repetitiva imagem de figuras geográficas. Isso evidencia a auto-imagem de janela para o mundo, capaz de decodificar e direcionar as mensagens vindas de todas as partes e destinadas aos telespectadores (MOEGLIN, 1986). Essas aberturas exercem ainda um forte grau de captação, ao mesmo tempo em que, através do domínio da técnica eletrônica, transmitem uma imagem de savoir-faire, o que pode vir a alcançar, aliado a outros fatores, a credibilidade. Um recurso constante em todos os telejornais foi o apelo ao movimento, seja do globo, das próprias informações que saltam do mundo para a tela, de um relógio estilizado ou mesmo da logomarca. A dinamicidade evocada por esse recurso evidencia, por um lado, que o tempo não para, que as coisas estão acontecendo aqui e agora e, por outro – até por conseguinte, a imagem de um jornalismo dinâmico e alinhado ao movimento frenético dos acontecimentos e das informações. As vinhetas devem ser entendidas em sua dimensão espetacular como a consagração do uso de novas tecnologias, metáforas do progresso, símbolos da modernidade midiática. Os efeitos patêmicos e de ficção, visados por tais recursos, reforçam a força de captação dos telejornais que, nesse momento, têm o seu foco desviado do compromisso de transmissão da realidade dos fatos para outra realidade, longe de serem meros programas televisivos. Por meio das vinhetas, percebe-se a simbolização do mundo tornado próximo e acessível através da mediação televisiva. A utilização de representações icônicas geográficas (mapas, composição das cidades, globos) demonstra o universo de referência dos jornais que, estilizados através de recursos infográficos, mostram-se espaços captáveis e captados pela tecnologia midiática. Se todos os telejornais procuraram reforçar a sua identidade, a sua marca, eles o fizeram diferentemente. O MG TV segue um padrão de vinheta que advém da relação institucional com a Rede Globo, demonstrando estar alinhada a uma perspectiva macro, de jornalismo que se propõe sério, funcional, estruturado. O Jornal da Alterosa, por sua vez, recorre à ideia de um noticiário em sintonia com o que acontece em todo o planeta, ligando o  

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estado de Minas Gerais ao Brasil e ao mundo, com atualizações constantes e rápidas. Já o Jornal Minas representa, em sua vinheta, a importância dada à dinamicidade, à amplitude e aos aspectos temporais de uma cobertura jornalística, assim como a referência ao regionalismo, evidenciando o seu pertencimento a uma emissora estatal local. Uma análise mais definitiva da imagem de si construída pelo telejornal em seu procedimento de apresentação dependeria de uma abordagem dos demais elementos que compõem esse quadro, como os cenários e o papel do apresentador, que podem ser vistos a seguir. Não obstante, antes se faz necessária a observação da sumarização dos telejornais, elencamento de matérias amalgamado às vinhetas.

3.3 Sumarização

Qual é o primeiro contato que o telespectador tem com o noticiário? É a partir de sua escalada. Objetiva e pragmática demais, seria essa justificativa, pois o que se encontra no interior dela, ainda que fragmentado, dá indícios do que se pode observar no telejornal como um todo: estratégias de contato – formas de captação da audiência; política editorial; escolhas temáticas; construção dos enunciados e práticas enunciativas; quem são os apresentadores; entre tantas outras características que a escalada deixa entrever.

3.3.1 Jornal Minas

Belo Horizonte não consegue se livrar de um péssimo hábito de parte da população. A cada mês, a cidade é vítima de trezentas novas pichações, feitas por gente que parece não se importar com o rastro de imundice que deprecia o ambiente, e revela uma profunda falta de educação e civilidade. (Sandra Gomes)

A epígrafe acima faz menção à principal manchete da edição de 09 de junho de 2011, mas nem sempre é assim que Sandra Gomes abre o Jornal Minas. Veiculada dessa forma, poder-se-ia ter ideia da postura de uma jornalista que, logo de início, apresenta editoriais  

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exasperados, críticos e/ou amofinados com os problemas sociais. Tal perspectiva desloca-se mais para a seção de análise dos apresentadores, mas poderia revelar ao mesmo tempo o trato da emissora com questões públicas que apresentam arestas a serem aparadas – e o que está em evidência aqui, por si só, já é alarmante. Entretanto, essa não parece ser a tonalidade padrão na escalada (tampouco da atração), pois ainda que tenha se posicionado com tanta veemência nesse caso, o noticiário parece tratar os temas com certa parcimônia, sem exageros e, ao mesmo passo, sem omissões. Vale a ressalva de que, nesse caso, o problema não advém do Estado ou de uma organização social, mas de desvios de parte da sociedade. A notícia sobre as pichações aloja-se então como destaque no exemplar do referido telejornal, sendo a primeira a ser citada no dia. Tal perspectiva revela que a primeira manchete é, por conseguinte, a mais importante no Jornal Minas. Para tanto, é apresentada em nota simples, com a âncora de pé, fazendo uso de imagens alusivas à notícia, exibidas nos monitores de tevê ao fundo. Trata-se de uma prática comum, repetida ao longo da semana analisada. O tempo da manchete inicial é também sempre o maior, cerca de 25 segundos em média – aproximadamente 46% da sumarização, conforme pode ser visto na Tabela 1, a seguir.

JORNAL MINAS – ESCALADA Dias / Manchetes 06/06/2011 07/06/2011 08/06/2011 09/06/2011

1ª 00:22 00:34 00:24 00:30

2ª 00:08 00:05 00:06 00:09

3ª 00:09 00:06 00:05 00:07

4ª 00:06 00:06 00:07 00:06

5ª 00:08 00:10 00:08 00:08

Total 00:53 01:01 00:50 01:00

10/06/2011

00:14

00:07

00:09

00:07

00:09

00:46

Média

00:25

00:07

00:07

00:06

00:09

00:54

TABELA 1: Duração das manchetes na escalada do Jornal Minas

A primeira notícia é sempre a que recebe maior tratamento pelo noticiário, e a última é a que tem o segundo maior tempo, em média. Em geral, em detrimento à notícia de maior impacto, a última manchete pode demonstrar um grande interesse do público-alvo, na medida em que reflete a distração (entretenimento) do telespectador, tal como notícias relacionadas ao esporte (futebol), que se vinculam em grande maioria nessa condição, de acordo com o que pode ser visto nos dados a seguir.

 

117   JORNAL MINAS – ESCALADA Dias / Manchetes 06/06/2011 07/06/2011 08/06/2011 09/06/2011 10/06/2011











Clima Tempo Trânsito Saúde Soc. - Cidade Clima Tempo

Saúde Saúde Economia Educação Clima Tempo

Cultura Política Policial Policial Clima Tempo

Economia Policial Cultura Ciência e Tecn. Soc. - Cidade

Esporte Cultura Esporte Esporte Cultura

TABELA 2: Temáticas abordadas na escalada do Jornal Minas

A escalada parece se organizar ao sabor dos acontecimentos, evidenciando temas de várias categorias na cadência da emergência dos fatos junto à sociedade e na medida em que se percebem neles os valores-notícia. Não obstante, editorias como Saúde, Policial, Cultura, Esporte e Clima Tempo57 parecem ser uma constante na sumarização. Por fim, se fosse comparada a sequência da escalada com a dinâmica do telejornal, poder-se-ia dizer que apenas o dia 10/06 estabeleceu a mesma escala de prioridade. Não obstante, as editorias que aparecem por último no sumário sempre são as últimas a serem apresentadas no telejornal. No mais, não existe um padrão relacional da posição da notícia na escalada e a sua exibição ao longo do programa. Ainda assim, para verificar de modo ainda mais pontual a sequência da escalada, articula-se a seguir um tensiograma desse fragmento do telejornal. A classificação de tensão das manchetes segue a proposta elaborada por David-Silva (2005). Após fundamentação, a autora determinou três coeficientes que revelam o peso de cada entrada: alta tensão, tensão moderada (média) e distensão (baixa). As graduações levam em consideração o impacto dos assuntos, as implicações sociais e o modo como podem afetar os telespectadores58.

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Isso aconteceu muito em razão da mudança radical de temperatura no Estado e das chuvas que assolaram Minas Gerais na quinta-feira (noticiadas no dia 10/06/2011). 58 Essas implicações referem-se a gama de efeitos possíveis que o fato (e não propriamente o seu relato) pode provocar junto ao telespectador. Devido à sua força, à sua natureza e/ou à sua representatividade e proximidade com um determinado grupo social, determinados acontecimentos relatados têm mais ou menos tensão social, sendo classificados aqui em três níveis, compreendidos em uma escala que vai de 0 a 2.

 

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2

06/ 06/2011 07/06/ 2011 1

08/ 06/2011 09/ 06/2011 10/ 06/2011

0

1

2

3

4

5

GRÁFICO 1: Tensiograma da escalada do Jornal Minas

Verifica-se, a partir da leitura do Gráfico 1, que a linha de tensão também não segue um padrão durante a semana. Ainda assim, pode-se afirmar, com certa cautela, que as três primeiras notícias são sempre de maior impacto. Enquanto a quarta se mantém um pouco mais moderada, a última, invariavelmente, é sempre de total distensão em relação às anteriores. Em média, as escaladas do Jornal Minas têm 54 segundos, ocupando pouco menos de 3,5% de todo o telejornal. E o telespectador que não quiser deixar de vê-la deve estar de frente à tevê, pontualmente, às 12h, haja vista o infográfico com as horas, exibido no rodapé do vídeo, logo que o programa se inicia, marcando meio-dia em ponto. Antes do início do programa, há uma vinheta da própria emissora anunciando que o telejornal iniciará a seguir; ela é acompanhada de uma contagem regressiva de 5 segundos, até que o locutor da rede anuncia: “Jornal Minas, Primeira Edição”. A imagem do cenário é em plano aberto, com Sandra Gomes – de pé, atrás da bancada – e um monitor ao fundo onde a logomarca da atração aparece. A trilha sonora começa a tocar e a apresentadora, como todos os outros dias, diz: “Boa tarde! Hoje é segunda-feira, dia 06 de Junho de 2011”, na intenção de situar o programa e demonstrar seu ineditismo e imediatismo. O público verá, agora, o que acontece hoje. A âncora começa então a caminhar, andando em linha reta, mas projetando o tronco e olhando para a câmera que se posiciona diagonalmente. A logo do Jornal Minas, ao fundo, dá lugar agora às imagens do que Sandra apresenta. Ela informa: “A semana começa com queda acentuada59 de temperatura e mínima abaixo de zero grau no sul do estado. Áreas rurais ficaram cobertas de branco. Tudo por causa de uma frente fria que está se deslocando para o mar.” Em panorâmica, a câmera acompanha a apresentadora, conduzindo o olhar do público. Até que ela para, ao lado de um monitor de tevê, e diz: “Veja os outros destaques desta 59

 

O grifo em itálico representa a subida de tom da apresentadora ao pronunciar as palavras em destaque.

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edição”, dando sequência às quatro manchetes seguintes, como o faz corriqueiramente. As notícias vêm coladas umas às outras, sem intercessão de quadros ou de falas de terceiros. A trilha sonora, em tom bem mais baixo do que o áudio de Sandra, marca o compasso do que se apresenta, em uma espécie de marcha. Ao final, vem o já quase-jargão: “Agora, no Jornal Minas”, uma espécie de “deixa” para a entrada da vinheta e elemento fático que anuncia para a audiência: “vai começar”. Na maior parte do tempo, a imagem segue rigorosamente o texto da apresentadora. Mas, em muitos casos, por mais simples que pareça, a edição da escalada usa de um modesto preciosismo, ao veicular uma imagem mais chamativa ao final. Isto é, pode-se apresentar, por exemplo, com a imagem da comemoração de um gol do final de semana pelo atleta do time rival ao mineiro (casando com o texto da apresentadora, que informa que a torcida local ficou frustrada com a derrota), ou até de um budista batendo em um tambor, dando sequência ao sobe som da trilha sonora da sumarização, fazendo então a fusão para a arte da vinheta.

3.3.2 Jornal da Alterosa He-Man não. É He-Old-Man, Léo! (Benny Cohen)

Essa foi a descrição que Benny Cohen deu para o sexagenário ex-jogador de futebol, e comentarista esportivo, Dario (o Dadá Maravilha) quando este se fantasiou de He-Man, um dos mais conhecidos heróis das histórias em quadrinhos e dos desenhos animados. Essa peripécia aconteceu no Alterosa Esporte, programa exibido antes do Jornal da Alterosa, na segunda-feira (06/06/2011), dois dias após a derrota do Cruzeiro para o time do Fluminense RJ, pelo campeonato brasileiro de futebol (partida em que o atleta Rafael Moura – conhecido no meio esportivo pela alcunha de He-Man, em razão das longas madeixas loiras, marcou os dois gols do time carioca). A brincadeira do comentarista (torcedor do time rival do Cruzeiro em Minas) não cessou no programa esportivo; foi utilizada como passagem para começar o telejornalístico. Isto é, as duas atrações são, literalmente, coladas uma à outra. Não apenas na grade, pois o Alterosa Esporte finda quando seu apresentador, Leopoldo Siqueira, atravessa o estúdio e

 

120  

encontra Benny Cohen ou Laura Lima, de pé, ao lado de um monitor de tevê, na extremidade esquerda do cenário do noticiário que está para começar. Os apresentadores de cada atração se cumprimentam e, sem nenhum intervalo, os âncoras do telejornal dão início à escalada. De modo descontraído, estabelecem um diálogo com Leopoldo Siqueira (este com turno de voz muito menor) apresentando a notícia de maior impacto no dia. O fragmento a seguir é um exemplo do diálogo entre os apresentadores, retirado da edição do dia 08/06/2011, após, mais uma vez, o programa esportivo ter sido encerrado de modo descontraído. Leopoldo Siqueira (LS): “Está começando o Jornal da Alterosa com Laura Lima e Benny Cohen”. Leopoldo Siqueira atravessa o cenário do Alterosa Esporte. Uma câmera, em panorâmica, acompanha o movimento do apresentador até que haja um corte para uma segunda câmera que mostra um dos comentaristas se despedindo. A imagem volta para Leopoldo Siqueira, que já está de frente com Benny Cohen.

Benny Cohen (BC): Tá bom, Léo? (sic.) LS: Tudo bem, Benny? BC: Quem que aguenta essa turma, ein Léo? (sic.) LS: Não! É brincadeira...

Benny e Leopoldo estão sorrindo. Os dois se cumprimentam formalmente com um aperto de mãos. Ao fundo, um amplo monitor de tevê com a logomarca do Jornal da Alterosa.

BC: Léo, hoje a gente vai falar sobre as greves no estado, né? Tá tendo greve dos professores estaduais, greve da Polícia Civil, tem bombeiros e policiais militares em campanha salarial, né? Mas a gente vai mostrar também que quem trabalha salvando vidas, Léo, não para. (sic.)

As expressões faciais, antes abertas, dão lugar agora à sobriedade. Os dois apresentadores mantêm uma postura firme, respeitosa frente ao tema. Benny Cohen, antes de falar do assunto central, articula a argumentação com base nos movimentos grevistas que estão acontecendo no período e que, não sem motivo, também serão tratados no programa.

 

121   BC: O Jornal da Alterosa registrou, e com exclusividade, a ação heróica de bombeiros que salvaram este homem aí, Léo. Este homem ameaçava pular do viaduto Santa Tereza em Beagá. (sic.) LS: Que loucura! Óh! (sic.)

O diálogo, antes em sistema de Nota Simples, agora é coberto por imagens alusivas ao texto verbalizado. Mas, por maior que seja a seriedade, mantêm-se um diálogo, com linguagem coloquial (utilização de gírias e tratativa aproximativa, com apelidos), em que a instância informativa assume sua posição de forma clara. Nesse contexto, Leopoldo então se torna audiência, tanto quanto o telespectador, traduzindo o efeito visado pelo telejornal ao exibir tal notícia por meio da frase exclamativa: “que loucura”. No rodapé do vídeo, uma tarja nas cores vermelha e amarela apresenta o texto: “Veja no Jornal da Alterosa!”.

BC: E nós vamos mostrar este trabalho que exige agilidade, sensibilidade e que merece todo o nosso respeito e admiração, Léo. LS: Com certeza!” BC: Uma história cujo desfecho nós vamos mostrar no Jornal da Alterosa, que tem outros destaques.

A conversa assim termina e, em sequência, são veiculadas as outras manchetes do dia. A trilha sonora começa, em marcha, balizando a entrada das informações, findando apenas com a vinheta de abertura. Tradicionalmente, além da notícia principal apresentada em diálogo, são veiculadas outras oito chamadas de assuntos do dia, e uma espécie de encerramento do sumário com a locução de um dos apresentadores: “É o jornal da Alterosa que está começando”, com imagens variadas, que serão vistas ao longo do noticiário. Intercalando cada uma das manchetes, é utilizada uma vinheta, com pouco menos de um segundo. Uma ligeira espiral, também em tom rubro-amarelo, apresenta a logo do Jornal da Alterosa e marca a passagem dos temas com um efeito sonoro. A celeridade da arte que separa as manchetes reflete o efeito visado pelo telejornal – agilidade, tanto quanto se infere do tempo destinado a cada chamada, conforme pode ser visto na Tabela 3. Enquanto o batepapo inicial consome em média 48 segundos da escalada, os outros não passam de seis segundos cada um.

 

122   JORNAL DA ALTEROSA – ESCALADA Dias / Manchetes















06/06/2011

00:49

00:05

00:14

00:04

00:11

00:03

00:04

07/06/2011

00:41

00:05

00:05

00:08

00:03

00:05

00:10

08/06/2011

00:46

00:05

00:03

00:05

00:05

00:04

00:03

00:05

00:04

09/06/2011

00:49

00:04

00:03

00:06

00:03

00:08

00:03

00:10

00:04

10/06/2011

00:56

00:05

00:03

00:03

00:05

00:03

00:04

00:04

00:05

00:03

01:31

Média

00:48

00:05

00:06

00:05

00:05

00:05

00:05

00:05

00:03

00:03

01:29

60





00:06

10ª

Total

00:03

01:39

00:03

01:20

00:03

01:23

00:03

01:33

TABELA 3: Duração das manchetes na escalada do Jornal da Alterosa.

Um diferencial da sumarização do Jornal da Alterosa é a multiplicidade de personagens que se apresentam; as vozes dos âncoras se intercalam com a de repórteres e entrevistados. Na edição de 09/06/2011, por exemplo, Laura Lima fez a tradicional abertura, no encontro com Leopoldo Siqueira, apresentando a cidade mineira que é recordista em acidentes em estradas no país. Em seguida, faz-se um jogral entre Cohen e Lima, com notícias relacionadas às greves no estado e seus efeitos, o depoimento de um grevista sobre o aumento nos salários dos militares, e três jornalistas em Stand Up, abordando temas diversos. A voz de Benny volta pela última vez, para falar sobre uma nova lei que pode entrar em vigor e a de Laura Lima retorna para, como em todos os outros dias, encerrar, pontuando que o que acontece em Minas, o telespectador vê no Jornal da Alterosa – que está começando. Nesse contexto, vale citar a diversidade de editorias que são veiculadas na sumarização, conforme pode ser visto na Tabela 4, a seguir.

JORNAL DA ALTEROSA - ESCALADA

60

Dias / Manchetes











06/06/2011

Policial

Saúde

Policial

Trânsito

Policial

07/06/2011

Política

Trânsito

Trânsito

Policial

Internacional (Clima Tempo)

08/06/2011

Soc. – Cidade

Política

Política

Clima Tempo

Serviços

09/06/2011

Trânsito

Política

Política

Política

Trânsito

10/06/2011

Clima Tempo

Clima Tempo

Clima Tempo

Clima Tempo

Clima Tempo

A edição do dia 07/06/2011 teve 07 manchetes, além de, como em todos os dias, uma auto-referência ao final. Como esta é sempre a última entrada na escalada, foram alinhadas na mesma coluna nas Tabelas 3 e 4.

 

123   Dias / Manchetes







06/06/2011

Clima Tempo

Meio Ambiente

Cultura

07/06/2011

Internacional (Saúde)

Policial

08/06/2011

Trânsito

Saúde

Soc. - Cidade

Meio Ambiente

Referência

09/06/2011

Trânsito

Política

Soc. - Cidade

Política

Referência

10/06/2011

Internacional

Trânsito

Policial

Cultura

Referência

9ª61

10ª Referência62 Referência

TABELA 4: Temáticas abordadas na escalada do Jornal da Alterosa.

Em um rápido olhar para a Tabela 4, percebe-se que as editorias Trânsito, Política, Clima Tempo e Policial são as que mais se apresentam na escalada do Jornal da Alterosa. Entretanto, outras seis temáticas são contempladas. Infere-se, porém, que algumas chamadas tenham tido forte apelo na semana em razão de acontecimentos de grande repercussão local, sobretudo aqueles ligados às condições climáticas (em razão das intempéries do dia 09/06/2011) e ao cenário político (muito em função das greves no estado). Mais uma vez, então, a lógica dos acontecimentos e os critérios de noticiabilidade determinam o que é o mais impactante e válido de ser evidenciado na sumarização. Sobre a comparação da sequência da escalada com a dinâmica do noticiário, é interessante perceber que as três primeiras entradas no Jornal da Alterosa, na grande maioria dos casos, se referem às três primeiras chamadas do sumário – ainda que nem sempre em ordem. Além disso, tal como o Jornal Minas, na quase totalidade das edições, o último destaque é a matéria derradeira a ser exibida. No ensejo, vale verificar, ainda, como a sequência da escalada estabelece variações, a partir de um olhar para a tensão estabelecida.

61

A edição do dia 06/06/2011 teve 08 manchetes, mais a auto-referência ao final. Nesse sentido, foi aplicada uma placa na cor cinza no local que indicaria uma 9ª manchete na tabela 4. 62 A última entrada de todas as escaladas do Jornal Minas veicula a locução “É o Jornal da Alterosa, que está começando!”, e imagens das matérias que serão exibidas a seguir, o que chamamos aqui de referência.

 

124  

2

06/ 06/2011 07/06/ 2011 1

08/ 06/2011 09/ 06/2011 10/ 06/2011

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

GRÁFICO 2: Tensiograma da escalada do Jornal da Alterosa

Observando o tensiograma da escalada do Jornal da Alterosa, é possível perceber que o noticiário sempre se inicia com nivelação média para alta, começando a distender apenas a partir da 5ª chamada, acentuando esse declínio, contudo, na 8ª manchete, na qual a escala passa de moderada para baixa. Vale o registro de que a variação tonal na última chamada (a que se está chamando aqui “auto-referente”) modula-se de acordo com a sua antecessora, sendo assim, de normalmente mediana para rasa. Por fim, vale a ressalva de que as imagens editadas na escalada tradicionalmente seguem pontualmente o que é dito pelos apresentadores. Estratégias de contato com o telespectador se inserem na medida em que são articulados fragmentos de fala de depoentes das matérias e na intercessão da imagem dos repórteres, na rua, no local em que os acontecimentos se dão, projetando efeitos de realidade, pautando a veracidade e a agilidade no fazer jornalístico que será exibido na sequência.

3.3.3 MG TV

Meio dia e quinze minutos. O Globocop sobrevoa o centro da capital. A temperatura em Belo Horizonte é de vinte e quatro graus. (Artur Almeida)

Como em todas as edições, é assim que o jornalista Artur Almeida dá início ao MG TV. Antes do tradicional boa tarde – que só vem após a escalada, a mensagem é sempre a mesma: hora, temperatura e a menção ao lugar que é evidenciado (ao vivo) pela imagem. Esta, quando não de uma câmera exclusiva instalada em algum ponto alto de Belo Horizonte,  

125  

é fornecida por um helicóptero da emissora, o Globocop, que atravessa o céu das cidades da região metropolitana. A locução é acompanhada pelo rufar de tambores que dão inicio a uma trilha sonora que irá marcar toda a escalada, desaguando na vinheta. De inicio, já se articula o efeito visado: a credibilidade do noticiário se faz por sua ampla cobertura, sempre atenta aos fatos, com monitoramento em tempo real, ágil, de cima, como uma águia que plana sobre a sua região. Em seguida, uma chamada objetiva e impactante: “A polícia já sabe quem queimou a maioria dos ônibus na região metropolitana”, diz Isabela Scalabrini, evidenciada em plano médio. Alternam-se as câmeras, e agora um enquadramento mais amplo apresenta os dois âncoras caminhando para frente, à medida que o zoom vai aumentando. Movimento que dura em média apenas quatro segundos, até que Artur Almeida termine de anunciar: “Este é um dos destaques do MG TV, que vai mostrar também...”. Essa mise-en-scène, ainda que varie ligeiramente ao longo da semana, é ao menos a base do primeiro contato do noticiário com os telespectadores. A dinâmica segue com uma média de 7 outras chamadas. A escalada, que tem em média 1 minuto e 15 segundos, distribui equilibradamente o tempo entre cada uma das manchetes, não dando destaque, ao menos quantitativo/duração, a nenhuma editoria especifica, conforme se vê na Tabela 5, a seguir.

MG TV - ESCALADA Dias / Manchetes



















Total

Segunda

00:10

00:11

00:06

00:09

00:08

00:12

00:06

00:08

01:10

Terça

00:07

00:15

00:08

00:06

00:16

00:07

00:06

00:15

01:20

Quarta

00:12

00:08

00:04

00:12

00:08

00:15

00:06

00:10

Quinta

00:10

00:08

00:06

00:10

00:11

00:07

00:06

00:04

Sexta

00:06

00:09

00:13

00:07

00:07

00:17

00:06

00:13

Média

00:09

00:10

00:07

00:09

00:10

00:12

00:06

00:10

01:15 00:10

01:12 01:18

00:02

01:15

TABELA 5: Duração das manchetes na escalada do MG TV

No que concerne, porém, ao número de chamadas ligadas a uma determinada editoria, destacam-se as relacionadas ao segmento policial (25% das manchetes são sobre esta temática), Trânsito e Clima Tempo. Vale ressaltar que as notícias relacionadas a acidentes nas estradas e cidades ocupam, em grande maioria, o primeiro posto na escalada. Em detrimento destas, na semana analisada, outros dois assuntos foram chamados primeiro – o resultado do  

126  

inquérito sobre os ônibus queimados em Belo Horizonte e a cobertura dos estragos da chuva no dia 09/06/2011, conforme a Tabela 6.

MG TV - ESCALADA Dias / Manchetes











06/06/2011

Policial

Policial

Policial

Policial

Soc. - Cidade

07/06/2011

Trânsito

Trânsito

Policial

Política

Saúde

08/06/2011

Trânsito

Trânsito

Política

Policial

Trânsito

09/06/2011

Trânsito

Policial

Policial

Meio Ambiente

Economia

10/06/2011

Clima Tempo

Clima Tempo

Clima Tempo

Policial

Policial

Dias / Manchetes









06/06/2011

Serviços

Cultura

Clima Tempo

07/06/2011

Esporte

Cultura

Comport.

08/06/2011

Saúde

Saúde

Esporte

09/06/2011

Serviços

Comport.

Educação

10/06/2011

Trânsito

Meio Ambiente

Cultura

Comport.

TABELA 6: Temáticas abordadas na escalada do MG TV

Apesar de não ser perceptível uma padronização rígida, pode-se inferir que o primeiro terço da sumarização atenta-se sempre mais para acontecimentos de maior impacto, enquanto o último busca uma espécie de suavização, na medida em que relaciona assuntos ligados ao campo da Cultura, Esporte e Comportamento. Tal perspectiva é reforçada no tensiograma da escalada (Gráfico 3), em que se pode verificar que, enquanto a primeira parte apresenta tensão moderada para alta, a última é baixíssima, apresentando distensão a partir da sexta chamada. Além disso, curiosamente a terceira chamada do MG TV, na maioria das vezes, apresenta a editoria policial, gerando o ponto mais alto da curva de tensão.

 

127  

2

06/ 06/ 2011 07/ 06/ 2011 1

08/ 06/ 2011 2011-06- 09 2011-06- 10

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Gráfico 3: Tensiograma da escalada do MG TV

Sobre a possibilidade de haver alguma analogia entre as sequências da escalada e das entradas ao longo do telejornal, foi observado não haver uma similaridade. Isto é, enquanto em uma edição a primeira chamada é exibida apenas no último bloco do MG TV, em outra acontece o inverso, tanto quanto para a última chamada, não havendo então um padrão entre escalada e hierarquização temática ao longo do programa. Para a apresentação das manchetes, é realizada uma intercalação de vozes, sempre iniciada por Artur Almeida. Em seguida, vários turnos de fala são agenciados, de modo a dar dinamicidade e complementaridade aos temas tratados na escalada. Como exemplo, na edição de 09/06/2011, além dos dois âncoras, outros três repórteres e quatro depoimentos de populares (vox populi) compuseram o capital visual e sonoro da sumarização do MG TV. Além disso, em muitos casos, Almeida e Scalabrini dividem o texto sobre uma mesma chamada. Enquanto um apresenta uma frase de impacto, o outro conclui, tal como na edição de 06/06/2011, quando os dois se alternaram em três momentos distintos: Artur Almeida (AA): Caso de polícia... Isabela Scalabrini (IS): Dois estudantes que organizaram um festival de música teriam sumido com o dinheiro dos ingressos vendidos. [...] IS: Pelo direito de alimentar... AA: Mulheres amamentam bebês no centro de Belo Horizonte, em protesto contra o preconceito de algumas pessoas. IS: Direitos do consumidor... AA: Você sabia que todo motorista pode exigir o teste de qualidade do combustível, em qualquer posto?

 

128  

Há acanhadas modulações na entonação dos apresentadores ao longo da(s) escalada(s) – mais em Scalabrini do que com Artur –, mas importantes de serem mencionadas. Algumas palavras ganham relevo e revelam a imputação de importância ao que é dito. Nas falas recortadas e apresentadas acima, as passagens marcadas em itálico foram expressas com suaves modificações na dicção, chamando a atenção do telespectador para o que será apresentado. Em alguns momentos, há uma variação tonal que corresponderia ao lado paradoxal dos acontecimentos mais recentes. Tal perspectiva não é tão recorrente no MG TV, mas chama a atenção, tal como a marcação feita por Isabela Scalabrini diante do fato de um bairro tradicional de Belo Horizonte ter problemas com roubos e furtos: “moradores e comerciantes de um dos bairros mais tradicionais de Belo Horizonte, estão com medo da violência” – seguido do depoimento de uma senhora, moradora da região, atestando o que fora afirmado. O sobe som63 também se faz presente em momentos distintos, para dar ainda mais dinamismo, prender a atenção do telespectador e/ou gerar interesse em relação aos assuntos – seja com o rugido de um leão na chamada sobre as técnicas dos animais para se proteger do frio, ou os ruídos e gritos que acompanham as imagens do treinamento da polícia com uma nova arma de choque. O único efeito visual ao longo da escalada é um infográfico apresentado no início, acompanhando e atestando as informações prestadas por Artur Almeida: a hora correta, temperatura no local das imagens e a logomarca da Rede Globo, em cores vivas, com o letreiro “ao vivo”, reforçando a condição de imediatismo do noticiário. Tal perspectiva visa efeitos distintos na audiência e parece estar caprichosamente arranjada, ainda que, pela celeridade, seja quase imperceptível, tal como uma possível escolha das melhores imagens para compor a escalada. Isto é, tanto quanto nos concorrentes, no MG TV essa(s) estratégia(s) não precede(m) de uma justaposição do texto verbal com imagens diretamente remissivas. Mesmo assim, há espaço para a experimentação, tal como em 10/06/2011, quando a sumarização se encerrou com trechos de video-clips de dois artistas que se apresentariam no fim de semana em Belo Horizonte. A edição colou-os de modo que houve um amálgama das letras das músicas dos artistas, composto a partir de Marcelo Bonfá (ex-

63

Segundo Mello, o sobe som é uma “marcação técnica que indica o momento em que o sonoplasta deve colocar no ar o som da edição em VT. Usa-se também para indicar o uso de som ambiente numa matéria” (MELLO, 2003, p. 214).

 

129  

baterista da banda Legião Urbana) e Rita Lee: “e ver além do que os meus olhos podem ver [...] Wouoú... na luz do luar”64

3.3.4 Constantes e variantes nas escaladas

Como pôde ser visto, as escaladas exercem papel fundamental na apresentação dos telejornais. Além da constatação de que elas funcionam como sinal e/ou resumo do telejornal, buscam despertar o desejo do telespectador, assumindo uma posição preponderante na visada de captação do público. Articulam-se sem perder a essência, dando o tom ao noticiário do qual fazem parte. Sendo assim, programam-se com estratégias tênues, ainda que busquem a conferência de valores amplos, ligados à prática jornalística, tais como, principalmente, a credibilidade, agilidade e ampla cobertura. A intenção é a mesma, porém, como foi dito, cada emissora procede com essa busca de uma maneira diferente. Do ponto de vista quantitativo, a menor escalada é a da Rede Minas, com 05 chamadas e uma média de 54 segundos. A maior é a do Jornal da Alterosa, com tempo médio de 1 minuto e 29 segundos, apresentando 9 chamadas, além de uma autoreferência que quase se institui como acontecimento – o começo do programa, merecedor de destaque como manchete. O MG TV é o intermediário, pois, apesar de apresentar quase o mesmo número de chamadas da TV Alterosa, veicula-se com tempo médio de 1 minuto e 15 segundos. Nesse contexto, valerá observar, na seção deste trabalho que se destina à análise da estrutura, se o conteúdo exibido nos telejornais (sobretudo em notas cobertas e matérias) será proporcional ao que foi apresentado na sumarização. Em relação às tensões nas escaladas, verifica-se, com base no Gráfico 4, uma variação equilibrada, que guarda algumas particularidades. A primeira metade da sumarização dos noticiários é sempre de média para alta tensão, distendendo para níveis bem menores no meado derradeiro. Contudo, enquanto o ponto mais alto da curva do Jornal da Alterosa é logo a primeira chamada, nos concorrentes isso só se dá apenas na terceira manchete.

64

 

Apenas na edição de 10/06/2011, Artur Almeida apresentou sozinho o MG TV.

130  

2 MG TV

1

Jornal da Alt erosa

Jornal Minas 0 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Gráfico 4: Tensiograma comparativo das escaladas dos três telejornais

Tradicionalmente, o MG TV começa em tensão média para alta, subindo até a terceira chamada, para depois cair sequencialmente até o nível zero – o que não acontece com o Jornal da Alterosa, que mantêm uma média sempre acima da distensão total. O Jornal Minas, por sua vez, tem uma tensão curva breve, e movimenta-se de alta para média; sobe no terceiro estágio para o seu coeficiente culminante, para depois descer à moderação e cair a zero, sempre, ao final. Tal condição reflete as escolhas temáticas adotadas pelos três veículos. Tradicionalmente, apesar de não manterem uma sequência padrão de editorias, trazem as de maior impacto para o início, suavizando ao final com assuntos de menor repercussão, matérias frias e itens ordinários do cotidiano. Nesse sentido, mais do que uma hierarquia por temas, há uma escolha maior por acontecimentos, na medida em que estes emergem e são avaliados dentro dos parâmetros de noticiabilidade. Assim, alguns temas são mais recorrentes – ora pela força que os fatos carregam, outra pelas escolhas dos noticiários. Tal condição pode ser verificada tanto pelo número de chamadas, quanto pela duração destas na escalada. Conforme pode ser visto nas tabelas 7 e 8, enquanto o Jornal Minas não tem editorias que se destacam com larga vantagem em número de chamadas, apresenta certa proeminência dos assuntos ligados ao Clima Tempo – mais uma vez, muito em razão das intempéries de 09/06/2011: a chuva, e suas consequências, como acontecimento com seiva regional.

 

131   Jornal Minas Editoria

Chamadas

%

Jornal da Alterosa Chamadas

%

MG TV Chamadas

%

Ciência e Tecnologia

1

4.0%

0

0.0%

0

0.0%

Clima Tempo

4

16.0%

7

16.7%

4

9.8%

Comportamento

0

0.0%

0

0.0%

3

7.3%

Cultura

4

16.0%

2

4.8%

3

7.3%

Economia

2

8.0%

0

0.0%

1

2.4%

Educação

1

4.0%

0

0.0%

1

2.4%

Esporte

3

12.0%

0

0.0%

2

4.9%

Internacional

0

0.0%

3

7.1%

0

0.0%

Meio Ambiente

0

0.0%

2

4.8%

2

4.9%

Policial

3

12.0%

6

14.3%

10

Política

1

4.0%

8

19.0%

2

4.9%

Saúde

3

12.0%

2

4.8%

3

7.3%

Serviços

0

0.0%

1

2.4%

2

4.9%

Sociedade/Cidade

2

8.0%

3

7.1%

1

2.4%

Trânsito

1

4.0%

8

19.0%

7

17.1%

Total

25

100.0%

42

100.0%

41

24.4%

100.0%

TABELA 7: Comparativo entre temáticas abordadas nas escaladas dos três telejornais

No Jornal da Alterosa, com o referencial do número de chamadas, há um destaque grande às matérias sobre trânsito (aparecem em média 1,6 por dia), Política (muito em função das várias greves que se sucederam em Minas Gerais na semana analisada) e Clima Tempo. Verifica-se que esses dados são diferentes, curiosamente, dos dados relativos ao MG TV, que evidencia, sobremaneira, as manchetes policiais (em média duas vezes por edição) seguidas de longe pelas notícias sobre o trânsito. Assim, o tema policial (com seus variados desdobramentos em subcategorias), apresenta-se em manchetes mais frequentes nas escaladas mineiras, seguido do Trânsito, Clima Tempo e Política, formando o quarteto mais evidenciado em número de chamadas, conforme pode ser visto na Tabela 8 e na projeção do Gráfico 5.

 

132   Média Geral Editoria Policial

Entradas 19

% 17.8%

Trânsito

16

15.0%

Clima Tempo

15

14.0%

Política

11

10.3%

Cultura

8

Saúde

8

7.5%

Sociedade/Cidade

6

5.6%

7.5%

Esporte

5

4.7%

Meio Ambiente

4

3.7%

Comportamento

3

2.8%

Economia

3

2.8%

Internacional

3

2.8%

Serviços

3

2.8%

Educação

2

1.9%

Ciência e Tec.

1

0.9%

Total

107

100.0%

TABELA 8: As temáticas mais abordadas nas escaladas dos telejornais

Gráfico 5: As temáticas mais abordadas nas escaladas dos telejornais

Quando o referencial não é mais o número de chamadas, mas, sim, a sua duração total, a perspectiva muda um pouco. No Jornal da Alterosa, por exemplo, os destaques policiais ganham maior relevância, tornando-se o tema com mais detalhamento. Trânsito, Clima Tempo e Política também se evidenciam na sequência. Já no noticiário da Globo Minas, nada de novo: as categorias policial e trânsito assumem a dianteira no tempo, compondo 45% da escalada semanal.  

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No Jornal da Alterosa, o que reforça a condição de destaque a essas categorias não é apenas a combinação quantidade versus tempo. Ser a primeira manchete do dia, aquela evidenciada em diálogo entre apresentador do telejornal e o âncora do programa esportivo garante maior duração – já que o bate-papo dura cerca de 50 segundos. No entanto, mais do que isso, põe-se em relevo por apresentar-se em uma instância enunciativa diferenciada. O mesmo acontece no Jornal Minas e no MG TV (ainda que neste último a primeira chamada também seja curta), em que a primeira chamada se dá de modo distinto do restante da escalada. Assim, os elementos de quantidade e tempo aqui expressos são importantes indicadores, mas devem ser, mais uma vez, relativizados. Não obstante, como base em um olhar para a equação dos períodos exibidos pelos três noticiários, é possível perceber agora as temáticas que se destacam em função da duração. Mais uma vez a categoria policial se enfatiza, mas – com vantagem ainda menor para a segunda colocada – vêm as chamadas sobre o trânsito. Clima Tempo é a terceira editoria com mais tempo nas escaladas, mantendo a tríade do número de chamadas. A variação, porém, agora se dá na emergência das entradas do cotidiano – Sociedade / Cidade, com 10% da soma semanal. Vale o registro sobre a matéria sobre Ciência e Tecnologia, relegada ao último posto; não bastasse ter apenas uma chamada na escalada, esta foi de apenas 6 segundos. A hipótese é de que, para uma matéria sobre este assunto merecer destaque em uma escalada, ela deve, provavelmente, emergir como acontecimento ou, no mínimo, solução para ele. Média Geral Editoria Policial Trânsito Clima Tempo Sociedade/Cidade Política Saúde Cultura Esporte Comportamento Meio Ambiente Serviços Economia Educação Internacional Ciência e Tec. Total Média por dia Média por Telejornal

Tempo

%

00:03:18 00:03:13 00:02:48 00:01:46 00:01:25 00:01:22 00:01:05 00:00:41 00:00:31 00:00:24 00:00:24 00:00:23 00:00:13 00:00:11 00:00:06 00:17:50 00:03:34 00:01:11

18.5% 18.0% 15.7% 9.9% 7.9% 7.7% 6.1% 3.8% 2.9% 2.2% 2.2% 2.1% 1.2% 1.0% 0.6% 100.0%

Tabela 9: As temáticas com maior tempo nas escaladas dos telejornais

 

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Gráfico 6: As temáticas com maior tempo nas escaladas dos telejornais

Ao longo da semana analisada, percebeu-se grande variação na sequência dos telejornais quando comparadas, quer seja cada uma das edições do mesmo noticiário, quer seja de um programa frente ao outro. Além disso, não foi presenciada uma grande recorrência do mesmo assunto nas três escaladas. Isto é, na sexta-feira, dia 10/06, os três programas apresentaram em suas escaladas, inclusive como chamada principal, os estragos da chuva da noite anterior. Essa condição não se deu da mesma maneira em outras edições – embora os três jornalísticos tenham abordado a limitação de acesso de caminhões na cidade de Santa Luzia – MG, no dia 07/06, em posições diferentes do sumário. Além disso, em alguns casos, uma chamada foi realizada, por exemplo, no MG TV e no Jornal Minas, e não no Jornal da Alterosa (entre outras combinações) – tal como se deu quando evidenciado o movimento de mães de Belo Horizonte pelo direito de amamentar os filhos em locais públicos. Ao resgatar a metáfora do menu, percebe-se ao final, com todas essas informações, que a cada dia os telejornais tentam surpreender os telespectadores com um cardápio editorial diferente. Apesar de não haver uma padronização na carta de opções, o serviço é o mesmo, guardando particularidades de um ambiente para o outro. Os maîtres são sempre os mesmos e já se sabe o que se esperar deles. Os movimentos e formas de abordagem do clientetelespectador, ainda que tênues, mantêm-se ao longo da semana, parecendo não cansar quem se visa seduzir. Sempre de pé, em tom solene, os apresentadores dos três telejornais dão as boasvindas à audiência, convidando-a para assistir ao seu programa. Em seguida, cada um segue uma dinâmica diferenciada. Na Rede Minas, encontra-se uma ementa mais enxuta, ao mesmo  

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passo que um pouco mais detalhada; o ritmo é mais lento frente à concorrência, deixando a dúvida se esta seria uma opção ou uma condição (limitadora) de trabalho do noticiário. O valor das chamadas é afiançado única e exclusivamente por sua apresentadora. Sua única âncora contrasta com a escolha das concorrentes, que utilizam, antes de qualquer coisa, dois apresentadores, além de comentários abonadores de jornalistas e das verdadeiras testemunhas oculares da história65. MG TV e Jornal da Alterosa, então, parecem próximos em algumas estratégias, e muito distantes em outras. O número de chamadas é parecido, o tempo é próximo, mas a forma como o sumário é articulado é diferente. A TV Alterosa ainda implementa uma busca maior pela agilidade, ritmo acelerado, combinado com uma linguagem mais informal, extremamente aproximativa. Ao passo que o MG TV prima pela variedade, combinada com uma carga formal ainda arraigada, herdada de sua mantenedora – a Rede Globo, mesmo que esta venha se relativizando ano a ano. Cada um a sua maneira, os telejornais articulam as suas escaladas de modo a captar a audiência. Diferem-se as abordagens, mas mantêm-se cativos os públicos telespectadores. Contudo, como já foi dito, nenhuma perspectiva deve ser vista de modo isolado. Nesse sentido, faz-se agora necessária uma abordagem sobre os cenários dos noticiários, ora devassados a partir de seus sumários.

3.4 Cenários

Como foi visto nas páginas anteriores, a escalada assume papel fundamental no telejornal e, cada vez mais, o cenário se faz presente também nela, ampliando sua projeção de sentidos. Analisá-lo aqui, então, corresponde a uma parte fundamental deste trabalho, de modo a clarificar ainda mais como se articulam as estratégias de contato dos noticiários com o telespectador e perceber como a composição pode influenciar na apresentação da informação, seja de modo a captar a audiência e/ou reforçar perspectivas da construção do enunciado ou da própria enunciação. 65

Em remissão ao tradicional slogan do “Repórter Esso”. Aqui não se consideram os jornalistas como as testemunhas oculares, mas, sim, como atores sociais que participam ativamente do assunto em questão: a moradora (idosa) assustada com a violência no bairro Padre Eustáquio e o frentista que garante que todos os postos de combustível devem fazer o teste de qualidade da gasolina (destaque no MG TV), além do delegado que diz que bandidos descobriram uma fórmula para lavar o dinheiro que é manchado pelos caixas eletrônicos ao serem arrombados, e a justificativa de um ladrão para ter roubado uma joalheria (arranjados na escalada do Jornal da Alterosa), entre outros.

 

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3.4.1 Jornal Minas

Em uma visada discursiva, e um tanto particular, pode-se inferir que a estrutura do estúdio do Jornal Minas (tanto o da 1ª, quanto o da 2ª edição, tendo em vista que o cenário é o mesmo), parece estar suspensa aos céus. O espaço, por meio do qual os telespectadores terão acesso às informações de sua região, imputa aos apresentadores um olhar crítico-observador imponente, do alto, imparcial e sem influências, para tudo o que acontece em toda a Minas Gerais.

Figura 11: Composição que apresenta o cenário do Jornal Minas, em diversos ângulos

Um tom azul celeste iluminado forra o fundo do cenário, ofertando-lhe, na mesma medida, ainda mais profundidade. Não obstante, o noticiário apresenta um panorama predominantemente branco, com estruturas geométricas largas, sobrepostas, formando um composto clean e amplo; atributos associados à expressão da verdade, reforçados pela luz do estúdio e pelo tom solene de uma extensa bancada. Articulação cenográfica que visa a efeitos ligados às expressões: jornalismo imaculado, casto, limpo, branco. Isonômico, imparcial, divino, superior. Adjetivos ampliados por todos os signos que se seguem na esteira da compreensão. Contraste, no entanto, realizado  

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pela iluminação em tons de vermelho, à direita da apresentadora. Embora pareça se fazer presente exclusivamente visando a enquadramentos para notícias factuais, quentes, ou vinculadas à categoria policial, também estabelece dinamicidade, chama a atenção do telespectador para determinados temas, e ainda faz remissão às cores da emissora. As câmeras, por sua vez, exploram as dimensões do estúdio, ao fazer panorâmicas em momentos específicos, ou ao acompanhar a apresentadora, quando esta, também, expõe o cenário em “caminhadas” (ainda que passe a maior parte do tempo sentada) em direção a uma das telas laterais. Os monitores de televisão no estúdio, assim como nos outros telejornais analisados, são as janelas que dão acesso, para a apresentadora e para os telespectadores, aos acontecimentos do mundo. Vale o registro também de que convidados são convocados para fazer comentários e chamar matérias sobre temas específicos, tais como o esporte. A interação também entre os apresentadores dá dinamicidade ao programa, explorando e (re)significando determinados espaços do cenário, atribuindo razão em compasso com os enquadramentos.

3.4.2 Jornal da Alterosa

Vermelho e amarelo são as cores da TV Alterosa, presentes de modo predominante, e ainda mais forte, na vinheta e no cenário do principal noticiário da emissora. Quente, factual, constante, célere; são valores emanados pelo impacto visual da disposição tonal do estúdio dessa atração. O fato e sua verdade, seus porquês e consequências, constituem a busca constante desse telejornal. O projeto cenográfico do Jornal da Alterosa foi desenvolvido e implantado no ano de 2010, com investimento em alta tecnologia de impressão. As imagens que se entrecruzam no fundo formam uma aparente tridimensionalidade, fazendo uso de pequenos traços fracionais, que remetem à ideia de tempo – velocidade, agilidade. Mas o que se destaca é a ampla tela ao fundo, sem emendas66, dando continuidade à perspectiva cenográfica em todos os ambientes “criados” – seja nos enquadramentos fechados, seja no espaço destinado às entrevistas à direita da bancada.

66

Informações obtidas no site da TV Alterosa. Disponível em: http://www.alterosa.com.br/html/ noticia_interna,id_sessao=65&id_noticia=38985/noticia_interna.shtml, Acesso em 13 mar. 2011.

 

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Figura 12: Composição que apresenta o cenário do Jornal da Alterosa, sob diversos ângulos

A interseção do ambiente cenográfico com o mundo é a televisão, posicionada à esquerda dos apresentadores. Como portal para o que acontece, em momentos determinados, os apresentadores se levantam e se posicionam ao lado dessa janela, observando e comentando as imagens, além de fazer a chamada para matérias específicas. Algo que também chama a atenção é o início do noticiário; o programa que o precede, o Alterosa Esporte, tem o seu cenário integrado ao do telejornal em questão. Ao encerrar a atração esportiva, o apresentador, Leopoldo Siqueira, atravessa o estúdio e entrega a programação para um dos jornalistas responsáveis pelo JA, sem que haja intervalos comerciais entre os gêneros. O olhar do telespectador acompanha o movimento panorâmico da câmera, que revela as estratégicas e singelas mudanças gráficas e tonais de um ambiente para o outro. Em seguida, de pé, ao lado da televisão, que também atua como projetor da logomarca do telejornal, Benny Cohen ou Laura Lima fazem a chamada das principais notícias do dia. Ao longo do programa, os apresentadores fazem uso de uma extensa e pontiaguda bancada, na cor branca, pontuando a sobriedade em contraste com as cores de fundo do cenário. À frente da bancada, também há uma placa, ondulada, dando ainda mais movimento

 

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ao cenário67. Outra ferramenta que compõe o cenário são os tablets68, sempre à mão dos apresentadores, ofertando a ideia de atualização constante para o telejornal, interação em tempo real com o mundo, jornalismo moderno e tecnológico.

3.4.3 MG TV

O MG TV, que durante muito tempo utilizou o setor de redação jornalística da emissora como elemento cenográfico, estreou no segundo semestre de 2010 um novo layout para o seu estúdio. Na verdade, deu sequência às propostas de um projeto de padronização dos telejornais “praça” da Rede Globo, iniciado em 2009. E, antes de qualquer análise mais aprofundada, vale o registro de que a mesma estrutura é utilizada pelas duas edições deste noticiário69 e pelo ‘Bom Dia MG’70.

Figura 13: Composição que apresenta o cenário do MG TV, em diversos ângulos71

67

Crédito de foto, terceira imagem da composição da Figura 12: Rafael Motta – TV Alterosa. Os tablets são modernos computadores de uso pessoal, que possuem telas sensíveis ao toque, com toda a seção de hardware arranjada, não necessitando de outros dispositivos. 69 1ª edição às 12h15 e a 2ª edição às 18h50. 70 Exibido, ao vivo, às 6h30. 71 As Figuras 11, 12 e 13 são composições que apresentam os cenários dos três telejornais em destaque sob diversos ângulos. As figuras foram obtidas de modo aleatório, a partir de frames das gravações e de imagens disponíveis na internet. 68

 

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Em detrimento de observações sobre as limitações infraestruturais, pode-se recorrer à ideia de que o que se faz presente é uma estratégia referencial e de coesão jornalística; isto é, a mesma política editorial que o telespectador ‘vê’ em um, percebe em todos os outros noticiários da emissora mineira. A diferença está justamente na tonalidade e na expressão de cada telejornal. O cenário parece fazer uso de persianas, que forram parte do estúdio. Apesar de ficarem estáticas ao longo do telejornal, dão certo movimento ao fundo da atração. Além disso, essas cortinas giram, transformando as imagens de fundo a cada exibição de um determinado programa. As representações são de pontos turísticos de Belo Horizonte, ou de cidades do interior de Minas Gerais (tais como Ouro Preto, Diamantina, entre outras). Mas, contrastando com esse discurso imagético de remissão à tradição, à mineiridade, são apresentadas três janelas tecnológicas – amplos monitores de televisão utilizados para as chamadas de matérias e exibição de imagens ao vivo do que acontece na região. A aplicação desses monitores se dá em meio a um estúdio amplo, explorado largamente pelos apresentadores, que pouco ficam sentados, embora tenham à disposição uma bancada, elemento que se apresenta como base de apoio aos jornalistas, composição que serve como adorno cenográfico e traço solene de uma atração tradicional. As cores do cenário, por sua vez, remetem à identidade visual do programa, em que o azul e tons próximos ao amarelo são arranjados (os mesmos da marca do jornal). Os apresentadores, e seus convidados – chamados para tratar de temas específicos (como especialistas que são entrevistados, ou jornalistas que falarão sobre o esporte, cultura, previsão do tempo, entre outros), ainda utilizam um banco (pouco funcional, se aplicando muito mais como objeto decorativo, dando movimento ao cenário) se posicionando vez ou outra em um círculo central, onde são dispostas cadeiras em momentos específicos, para debates. Outra observação é que, no lugar de fichas de papel, ao mesmo modo do Jornal da Alterosa, tablets são utilizados pelos apresentadores. Os dispositivos compõem a cena e ainda dão a impressão de que os jornalistas estão atentos a tudo o que acontece, tendo em vista a velocidade de repercussão dos mais variados fatos trazidos pela Internet.

 

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3.4.4 Constantes e variantes na cenografia Cada cenário aqui apresentado comunica e interage com o telespectador de uma determinada maneira, assim como estabelece a sua identidade junto à audiência. O quadro a seguir apresenta indicadores gerais da cenografia de cada atração: Cenários Programa

Componentes

Assinatura

Apresent.

Formas

Cores pred.

Cores sec.

MG TV

3 Televisores; 1 Bancada pequena; Banco circular ao fundo da bancada; Imagens de pontosturísticos de MG; Persianas; Piso com formas geométricas circulares; Área aberta para a realização de entrevista, apenas com a disposição de cadeiras.

MG TV, nos monitores ao fundo.

2 - Casal

Variáveis; assimetria em pontos específicos.

Azul e tons pastéis

Branco

Jornal da Alterosa

1 Televisor; 1 Bancada pontiaguda; Placa ondulada à frente da bancada; Área aberta para a realização de entrevista, apenas com a disposição de cadeiras.

JA no monitor à esquerda.

2 - Casal

Assimétricas.

Vermelho e Amarelo

Branco

1 - Mulher

Geométricas, simétricas, largas, organizadas, funcionais.

Branco

Azul

Jornal Minas

3 Televisores; 1 ampla Bancada em 'L'; 2 Amplas Jornal Minas, estruturas superiores, em nos 'L' de sustentação dos monitores ao monitores; Composição de fundo e à 10 barras paralelas, à direita. esquerda da apresentadora.

Quadro 4: Cenografia comparada – MG TV, Jornal da Alterosa e Jornal Minas

Nenhum dos cenários utiliza a estratégia auto-referencial ampla72; isto é, nos moldes de Soulages (1999). Mesmo por que, os três fazem a interseção entre programas, utilizando a mesma cenografia para a segunda edição, quando não, até para outros programas, como a Globo Minas. O Jornal da Alterosa e o MG TV ainda reforçam as cores de seus programas, 72

O espaço auto-referencial apresenta cenografia articulada ao próprio fazer-jornalístico da emissora (à redação do telejornal). Há ainda o espaço decorativo, quando o fundo é figurativo e há efeitos visados a partir de planos pictóricos distintos, tais como, principalmente, o de seriedade para os telejornais. Por fim, há o espaço modular, que evidencia a imagem do entorno do apresentador; espaço em que se realizam trocas duais ou plurais. (SOULAGES, 1999; DAVID-SILVA; 2005).

 

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quando não dá própria emissora, em seu composto cenográfico, em alusão a uma identidade compartilhada. No caso das atrações evidenciadas, a proposta de um estúdio decorativo-modular fica mais evidente, com perspectivas muito particulares. Enquanto MG TV e Jornal Minas têm uma estrutura mais sóbria, fria, evocando a verdade por meio da simetria, o JA busca os fatos através das cores vivas, fortes, com elementos assimétricos, que trazem a ideia de dinamicidade, ao passo que demonstram também a sua política editorial – tratar os fatos com menos pudor – relativizando, com maior riqueza de detalhes, do que os seus concorrentes. Trata-se de constituição cenográfica articulada, talvez fruto da própria audiência de cada programa, assim, da estratégia de captação adequada a cada público. Mesmo sem referências palpáveis, indaga-se se o MG TV e o Jornal Minas se dirigem a públicos distintos do JA. Como exemplo, o primeiro traz a herança de um telejornalismo formal, distanciado, balizado pelas perspectivas do padrão Globo. A audiência formada conhece a postura do MG TV, ainda que esta venha mudando, alterando com moderação as cláusulas do contrato comunicativo. A proposta de uma linguagem mais coloquial e o simples levantar da bancada já aproximam mais os apresentadores dos telespectadores, por meio do espaço de mediação/encenação constituído: o cenário. A utilização de imagens de pontos turísticos de Minas Gerais, por sua vez, é um apelo ao pano de fundo pragmático pautado pela mineiridade e tradicionalismo da audiência do MG TV. Nesse sentido, a sobriedade não se dá sem motivo, mas como estabelecimento de uma prática comum entre uma faixa de público muito característica e recorrente nesse noticiário. O Jornal Minas segue por uma linha análoga ao MG TV. Seu reforço à sobriedade se dá também em um incremento à verdade, com a utilização das cores azul e branca na quase totalidade de seu cenário. Há também, contudo, um discurso que, ainda que não intencional, atravessa o programa e toda programação da emissora; o fato de ser pública, administrada pelo governo do Estado de Minas Gerais, exige ainda mais isonomia, apelo à idoneidade e aproximação com os mineiros, diferente de seus concorrentes. A proporção “tempo por número de temáticas”, a ser evidenciada na seção de estrutura desses telejornais, poderá corroborar a ideia de agilidade pretendida pelo JA, arranjadas sobremaneira nas escolhas de cunho estético de seu cenário. Como dito, emana a perspectiva de que a verdade deve ser dita, haja o que houver. De certo modo, a proposta corrobora a descrição articulada nos elementos de contexto e capital visual da TV Alterosa, sobretudo de seu noticiário. Assim, as atrações parecem se assentar em instâncias telespectadoras  

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diferenciadas, que esperam construções da informação de modos distintos em cada frente produtora – condição reforçada nas construções identitárias (alegóricas) de cada noticiário: seus cenários. Ainda assim, algumas estratégias parecem se repetir e funcionar com base no mesmo apelo. As naves informativas, espaço nodal dos programas, por exemplo, têm as suas janelas voltadas para a cidade. Entre uma nota e outra, os apresentadores chamam as matérias tendo os monitores, que ficam ao fundo, como portais para a realidade externa – recurso constante, sobretudo para as chamadas ao vivo (SOULAGES, 1999). Além destes, vale registrar ainda a marcante presença dos tablets, integrando os cenários dos telejornais, demonstrando a tentativa dos telejornais de se apresentarem vinculados ao ciberespaço. As telas, interativas ou não, funcionam como acesso às informações em espaços e tempos diferenciados, além de trazerem ao telejornal um atributo de inovação tecnológica e contemporaneidade. A maquinaria plástica só funciona, evidentemente, na medida em que a vida se faz presente no ambiente. Os apresentadores continuam a fazer laborar o estúdio, com sua estratégica movimentação, reterritorializando cada parte do cenário, a partir das chamadas realizadas, expressões arranjadas e enquadramentos propostos pela equipe cênica. Isto é, tudo funciona como um composto, em que as partes se resignificam. Assim, observados os cenários, é mister verificar a função e ação dos apresentadores.

3.5 Apresentadores

Para findar a análise do quadrilátero de apresentação dos telejornais, cabe agora observar o fator humano, verificando como este se põe em diálogo com a estrutura telejornalística e com os seus interlocutores – telespectadores, a fim de compreender as estratégias adotadas para cumprir as visadas informativas e de captação dos noticiários.

 

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3.5.1 Jornal Minas O telejornal da Rede Minas é comandado, em sua primeira edição, somente pela jornalista e relações públicas Sandra Gomes. A mineira deu os primeiros passos na televisão em 1997, na rede de tevê a cabo Canal 15 (especializado em jornalismo), apresentando dois de seus programas. Um ano depois, já estava na Rede Minas, à época apresentando a segunda edição do Jornal Minas. Como trabalho paralelo, também chegou a fazer reportagens e ancorar no rádio, nas emissoras Transamérica FM e Band News FM73. Além disso, também é apresentadora de programas do projeto Canal Minas Saúde74. Atualmente, é editora-adjunta do Jornal Minas 1ª Edição e está há mais de uma década na Rede Minas. Sandra Gomes parece guardar forte identificação com a emissora e com o próprio programa que apresenta, sendo reconhecida pelo público como marca dessas duas instâncias. A âncora é sempre serena em sua apresentação, deixando escapar em raros momentos traços de seu sotaque. Como estratégia de fluência, Sandra faz uso de breves pausas ao longo das frases nas chamadas e notas lidas. Além disso, estende algumas palavras, por meio de uma tênue separação silábica mais acentuada, o que, consecutivamente, põe palavras em destaque na frase, colocando em relevo fragmentos dos períodos. O trecho a seguir, uma transcrição da edição do dia 07 de Junho de 2011, exemplifica: “No inverno aumenta o número de acidentes domésticos que causam queimaduras. E os especialistas alertam: mais da metade das tragédias poderia ser evitada se a atenção dentro de casa fosse maior”. Os intervalos marcados em itálico são os lugares em que Sandra executa variações tonais. Enquanto “causam queimaduras” chama a atenção do telespectador para o mote da matéria a ser exibida, “dentro de casa” e “fosse maior” deixam subentendidos, respectivamente, os culpados – pais e responsáveis, e a condição – pouca atenção. Ao mesmo tempo em que a manchete fecha por si só o sentido do que será exibido, capta atenção da audiência para o “pode acontecer com você” e “saiba como evitar”, tudo isso por meio de um conjunto de alertas emanados pela âncora. Outras pequenas variações se dão na saída para o intervalo, acentuando passagens do texto verbal, para não deixar o público dispersar e assistir o que será exibido a seguir: “No

73

Informações obtidas no site da Rede Minas. Disponível em: http://www.redeminas.tv/jornal-minas/membroequipe/sandra-gomes Acesso em 03 nov. 2011. 74 Informação obtida no site oficial do Canal Minas Saúde, Disponível: http://www.canalminassaude.com.br/. Acesso em 20 fev. 2012

 

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próximo bloco, os preparativos do Galo75 para tentar ser líder isolado do Brasileirão”. Além disso, procura ser didática e estabelecer relação próxima com o telespectador, no uso, por exemplo, de expressões como “Você já viu [...]” ou “Você vai ficar sabendo hoje [...]”. Sua fala é marcada também por certo coloquialismo que suaviza conteúdos, agindo em prol da visada de captação da audiência. Na seguinte chamada de intervalo: “Nós vamos falar também sobre o tratamento, dos mais diversos males, com chás. As receitas da vovó são cada vez mais aceitas pela comunidade médica”, percebemos essa estratégia. Sandra Gomes se apresenta sempre elegante. Varia, utilizando mais os terninhos – normalmente de cores frias, como cinza e preto, e blusas leves, ora lisas e outras vezes de botão, com as mangas dobradas. As calças, sempre escuras, pouco aparecem, pois na maioria do tempo Gomes se mantém sentada. Um pequeno colar dourado sempre a acompanha. As unhas sempre pintadas e o cabelo liso e comprido – com caimento na altura dos ombros, de cor castanho escuro – está sempre bem penteado. Além disso, há um lavalier76 – sempre do seu lado esquerdo – uma caneta e as pautas do dia. Duas pequenas pilhas de papel ficam dispostas à frente da apresentadora; à direita, o que está sendo ou ainda será lido, e à esquerda, o que já foi noticiado. O movimento de troca das laudas é feito pela mão esquerda, já que a direita sempre empunha uma caneta estilo Montblanc®. O simples fato de segurar a pequena haste já faz remissão à seriedade, à credibilidade e a uma tradição no telejornalismo – que vem sendo substituída pelos novos aparatos tecnológicos. Os movimentos são sempre breves e singelos. Normalmente com o antebraço encostado na bancada, a mão direita se movimenta mais, acompanhando o direcionamento do texto verbal. Nas poucas vezes em que fica de pé (na escalada e em entrevistas com convidados que estão em algum ponto de Belo Horizonte), o peso fica sempre bem distribuído entre as pernas e a gesticulação de Sandra com os braços sempre se dá na linha da cintura. A gesticulação não muda muito ao longo do programa, nem nas entrevistas em estúdio - estas normalmente marcadas por uma conversa descontraída. No mais, a apresentadora – esteja de pé ou sentada – sempre tem uma postura corporal ereta e formal. No entanto, por vezes, após uma matéria, o rápido e simples levantar de sobrancelhas e balançar da cabeça (seja na vertical sinalizando concordância, ou na horizontal, em negação), combinado com a leve erguida de ombros, pode dizer muito mais do que uma longa 75

Mascote e apelido da equipe de futebol de Minas Gerais, o Clube Atlético Mineiro. Microfone, também chamado de lapela, é muito pequeno e pode ser preso à roupa, deixando as mãos livres para gesticulação.

76

 

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Nota Pé. Isto é, a própria comunicação não verbal se torna, nesse caso, o fechamento do que acaba de ser exibido, revelando posicionamentos distintos. De modo muito tênue, a jornalista usa essa prática. O célere levantar de olhos, após uma matéria sobre os acidentes de trânsito ou ligada à temática policial, funciona, no caso dela, como uma interjeição não-verbal ou, muitas vezes, como um reforço à conclusão do que acabara de ser dito: “é preciso ter cuidado”. A atração ainda conta com um apresentador-especialista77; trata-se de Luciano Moreira, que rege as informações do quadro esportivo (leia-se: notícias principalmente sobre futebol, com aparições sobretudo às segundas-feiras – com os resultados da rodada do fim de semana, às sextas-feiras – véspera dos jogos, e às quartas-feiras – dia tradicional de partidas noturnas). Além de colaborar com o Jornal Minas, Luciano ainda apresenta os programas Clube do Esporte (exibido de segunda à sexta, às 19h30) e Meio de Campo (veiculado sempre aos domingos, às 21h). Nesse sentido, Luciano agrega valor ao Jornal Minas, na medida em que é reconhecido pela audiência da emissora como uma espécie de perito autorizado a falar sobre o tema (mais do que a própria apresentadora do telejornal), bem como auto-referencia às atrações das quais faz parte efetivamente. Efeito de autoridade pelo saber. Para tanto, sua postura é firme, aborda os temas esportivos com clareza, posicionando-se pontualmente, inclusive, sobre assuntos diversos dos quais é conhecedor. E, por tratar de um tema como o esporte, a entonação é sempre ascendente, entusiasmada, saindo em defesa dos clubes de Minas Gerais. Luciano traja-se sempre com uma camisa de botão, imprimindo certa seriedade ao que apresenta. Não obstante, a formalidade é quebrada ao dobrar as mangas e colocar a camisa para fora da calça – está sempre em jeans escuro, o que reforça a jovialidade e dinamicidade, além dos calçados, nem formais demais com sapatos sociais, nem coloquiais ao extremo com tênis, usando o híbrido sapatênis.78 Na maior parte do tempo, Luciano se mantém parado, de pé, ao lado de uma janela para o mundo além-cenário – isto é, um amplo monitor de televisão de onde chama e a partir do qual comenta as notícias do mundo desportivo. Antes de serem apresentadas as informações do esporte, Luciano e Sandra conversam rapidamente. Após a vinheta, Gomes faz a chamada da editoria, cumprimenta e faz uma pergunta para Moreira. Luciano então a responde, ainda de lado para a câmera. A resposta 77

A expressão (apresentador-especialista) será recorrente na dissertação e refere-se ao papel discursivo assumido por determinados apresentadores que assumem tal posição por motivos diversos, conforme descrição. 78 Tanto Sandra, quanto Luciano, têm figurinos cedidos por apoiadores. Como contrapartida, as empresas patrocinadoras têm suas logomarcas vinculadas ao final do telejornal – nos créditos.

 

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normalmente dá sequência para o que o apresentador irá abordar, dando continuidade ao tema, agora se projetando para o público. Ao final, Luciano devolve a palavra para Sandra, com uma singela brincadeira relativa ao tema que acabara de abordar. No encerramento do programa, Sandra Gomes se despede sempre chamando a audiência para a atração que segue o Jornal Minas: “fiquem agora com o programa Emprego e Renda”. O enquadramento muda e uma câmera focaliza o cenário em plano geral, fazendo as vezes do olhar do telespectador, como que se distanciando, se despedindo. Sandra baixa a entonação e de modo sereno dá o seu “boa tarde”, que remete mais a um “volte sempre”, cordial, mineiro, de alguém que o recebeu em sua casa, sentirá saudade e aguarda novamente pela sua visita no dia seguinte. Formalidade e simpatia, com concisos traços da mineiridade; o Jornal Minas, por meio da dinâmica de sua apresentadora, parece guardar a tradição no modo de fazer telejornalismo, mesclando estratégias para dar certa dinamicidade em meio a uma cadência mais lenta que se indaga ser igualmente arrastada propositadamente, de modo a endereçar-se, ou reforçar as escolhas, de um determinado tipo de público.

3.5.2 Jornal da Alterosa

No lugar da caneta (ao menos a de tinta) e das fichas de papel, o que agora vigora no Jornal da Alterosa são os tablets, sempre à mão de um casal de apresentadores, há tempos conhecido pela audiência mineira; trata-se de Benny Cohen e Laura Lima, dupla que deu início à atração em 1996 e, depois de um período separados, retomaram a dianteira do noticiário em 200879. Benny é jornalista desde 1984, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além da TV Alterosa, já passou por outras emissoras, tais como a TV Bandeirantes (entre 1985 e 1989, como repórter), Globo Minas (como repórter e âncora de programas como o Bom Dia Minas e o Globo Esporte), já tendo atuado também como repórter do TJ Brasil, com Boris Casoy, no SBT. Na Alterosa, além de apresentador, já assumiu outros cargos, como editor de mídias convergentes, editor do portal Uai, editor-geral de jornalismo da TV 79

As informações sobre Benny Cohen e Laura Lima foram obtidas no portal UAI, do conglomerado do qual também faz parte a TV Alterosa. Disponível em: http://www.new.divirtase.uai.com.br/html/sessao_9/2008/08/13/ficha_mexerico/id_sessao= 9&id_noticia=1819/ficha_mexerico.shtml. Acesso em 01 nov. 2011.

 

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Alterosa, entre outros. Benny já teve o trabalho reconhecido com premiações e até com o título de “Jornalista Amigo da Criança”, em 200380. Benny foi um dos criadores do Jornal da Alterosa, em 1996. Além disso, segundo o jornalista81, sempre teve total liberdade e nunca foi censurado pela emissora. Talvez por isso ele pareça tão à vontade no noticiário, seja para opinar em relação às matérias exibidas, seja para utilizar uma linguagem mais coloquial na condução do programa. Como exemplo, após uma matéria que apresentava o uso inadequado do sistema telefônico de atendimento médico de urgência, exibida no dia 08 de Junho de 2011, o apresentador é categórico: “Na minha opinião, trote para o SAMU tem que dar é cadeia! Não tem outro jeito não.” Expressão oral sem excessos, mas firme. Verbalização acompanhada de gestual que enfatiza o que é dito. Punho cerrado em “[...] tem que dar é cadeia!” e mãos e braços levemente abertos em “Não tem outro jeito não”, em seguimento ao exemplo. Boa fluência e dicção, não disfarçando muito o sotaque. Mineiro, abrevia algumas palavras (como “cê” ao invés de você), relativiza outras (com o “inho”), utiliza-se de algumas expressões para chamar a atenção (como o constante “olha só”) e ainda tem um vício de linguagem que serve mais como reforço ao pé da frase: “né?!”. O olhar – ou o simples fechar de olhos, o balançar de ombros e cabeça, a sobrancelha, a projeção do tronco, entre outros pontuais e tênues movimentos corporais também acentuam o que Benny quer dizer em notas e chamadas. É por vezes também desembaraçado e improvisa, até mesmo com gírias: “Micou, né?!”, diz após uma matéria em que um rapaz foi preso ao simular um assalto à ex-namorada. Laura Lima, por sua vez, é um pouco mais contida. Isto é, tanto em gestual – sempre na linha da cintura, com o antebraço apoiado à mesa fazendo as mãos se movimentarem em contiguidade ao que diz – e em relação à entonação e até nas opiniões. Assim, mantém uma linha um tanto mais formal – para não dizer tradicional ou convencional, análoga à adotada pela concorrente Sandra Gomes. Contudo, não deixa de ser descontraída quando possível e de se posicionar quando crê ser preciso: “Olha, se os bandidos brasileiros usassem a criatividade que tem para o bem, a gente já poderia ter descoberto a cura para o câncer”, diz, inconformada, ao chamar uma matéria sobre as novas estratégias de assaltantes nos roubos aos caixas eletrônicos de bancos.

80

Informações obtidas no site da ANDI. Disponível em: http://www.andi.org.br/pagina-minissitejaca/jornalistas-diplomados-por-ano, Acesso em 21 fev. 2012. 81 Em entrevista concedida para este trabalho.

 

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Formada no final da década de 1980 pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Laura começou a carreira como jornalista de televisão na Globo Minas em 1990, onde, em 06 anos, foi repórter e apresentadora de telejornais como o Bom Dia Minas e o MG TV. Convidada a idealizar o novo noticiário da TV Alterosa, Laura mudou de emprego em 1996, chegando a fazer reportagens e apresentar o Alterosa Notícias, que estava prestes a findar. Na TV Alterosa há 15 anos, Laura arquitetou (em parceria com Benny Cohen) um novo modo de fazer jornalismo na emissora. Estreou o Jornal da Alterosa em novembro de 1996 como âncora e editora, lugar que ocupou até 2001. Em 2003, assumiu o comando do mesmo noticiário, em sua 2ª Edição, onde ficou por cinco anos, até reviver a parceria com Cohen na apresentação da edição da hora do almoço. Assim, após a escala e a vinheta de abertura – já descritas neste trabalho – a atração começa sempre com um dos dois desejando boa tarde aos telespectadores e depois se cumprimentando. Junta, a dupla estabelece um jogral, em muitas partes do noticiário – ora para chamar matérias, e em outros momentos para comentar, por vezes em tom mais informal/pessoal, uma reportagem que acaba de ser exibida. Dois exemplos ilustram bem a dinâmica. Sobre a proibição da passagem de caminhões no município de Santa Luzia – MG, eles se intercalam:

Benny Cohen (BC): “Hoje foi!82 Começou a valer a restrição para veículos carga pesada no desvio da BR 381, que passa por dentro de Santa Luzia.” Laura Lima (LL): “Pois é! Levaram um mês para adotar esta medida, depois de muita polêmica, reclamação dos moradores e indecisão das autoridades.”83 BC: “E nós vamos mostrar que, mesmo com todo este tempo, os órgãos responsáveis ainda84 não fizeram a coisa direito.”

Já em Nota Pé, após uma reportagem sobre a venda casada de brinquedos e lanches por redes de fast-foods, os dois comentam: BC: “O menino às vezes nem come o sanduíche, né?!”. Laura Lima, já aos risos, diz: “Quer o brinquedinho, né? A surpresinha...” Cohen retoma, assentando sua opinião e convidando o público para participar também: 82

O grifo representa uma ênfase de Benny Cohen ao dizer “Hoje foi!”, quase que em tom de interjeição, como que em remissão à: “Até que enfim tomaram uma providência!”. 83 Os grifos representam a ascensão na entonação de Laura Lima, reforçam o que foi dito por Benny anteriormente e colocam em relevo a causa do problema. 84 O “ainda” de Benny é acompanha de um fechar de olhos e o balançar de cabeça na horizontal, remetendo à negação e incredulidade ao fato. Ao lado, Laura Lima olha para a câmera (o telespectador) e sorri, com uma ironia lacônica, reforçando a condição de descrença ao que é dito.

 

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BC: “Agora, realmente... Eu acho que este problema da educação alimentar é uma responsabilidade dos pais. O que a gente precisa ficar atento aí é nesta questão, realmente, do que fere o Código de Defesa do Consumidor, que é a venda casada, né?! O projeto agora vai para a sanção do prefeito Márcio Lacerda. E você? O que é que você acha deste projeto? Concorda com a proibição? Mande o seu comentário pelo Twitter. Arroba Jornal Alterosa. Daqui a pouco nós vamos ler ao vivo, ainda nesta edição.” (sic.)

Esse último exemplo demonstra uma estratégia distintiva do Jornal da Alterosa. A interatividade e participação do público são reforçadas em momentos específicos do programa. Na edição em questão, ao longo do noticiário, foram feitos três convites para o público se manifestar a respeito da matéria em destaque. Ao final, os âncoras leem as opiniões dos telespectadores, por meio dos tablets. A estratégia é um reforço da condição presencial do telejornal, e ainda aproxima a audiência dos apresentadores85. A tática é avigorada ainda nas entrevistas em estúdio. Três vezes por semana, convidados respondem dúvidas enviadas pelo público sobre, por exemplo, questões legais vinculadas ao trabalho e ao direito de família. O bate-papo se dá fora da bancada, em duas cadeiras colocadas ao lado da mesa dos apresentadores, onde se senta um dos âncoras e o especialista. Ao longo do telejornal, o que os âncoras apresentam pode ser reforçado também por mensagens gráficas; uma legenda bem produzida, no rodapé do vídeo, acompanha a chamada das matérias com frases de efeito, alguns clichês, a maioria simples e curiosa, como: “Barato que sai caro” para uma reportagem sobre seguros de carros ou “Vá de Táxi: É chique ter chofer” para outra sobre uma campanha para evitar acidentes após as festas. Além disso, um box com uma animação nas cores amarelo e vermelho é utilizado em Notas Simples. Isso se dá apenas quando os apresentadores estão à bancada. Em alguns (raros) momentos, os âncoras se põem de pé, cada um a seu turno, para chamar repórteres ao vivo e comentar imagens do trânsito. A estratégia dá certa dinamicidade ao programa, ajuda a variar as angulações e enquadramentos, além de aproximar o telespectador do jornalista e, conseguintemente, do próprio telejornal. Para tanto, os dois apresentadores sempre estão bem alinhados. Benny repete sempre o mesmo terno escuro, formal, e uma camisa branca. A variação se dá nas cores e nas estampas 85

Outra curiosidade sobre o uso do twitter é que o primeiro crédito que aparece no vídeo, com o nome dos apresentadores, vem acompanhado do login dos mesmos na rede social: @bennycohen10 e @lauralimall.

 

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das gravatas. Já Laura, varia entre as camisas de botão de matizes variadas e os ternos femininos. A apresentadora normalmente dispõe de acessórios como pequenos colares, brincos e anéis, que variam de uma edição para outra – e em função do apoiador86. A atração se encerra com os dois apresentadores se intercalando na despedida. Uma câmera fixa, com zoom diminuindo levemente, enquadra os âncoras que, sentados à bancada, desejam boa tarde à audiência, na esperança de revê-la na próxima edição. Benny e Laura abaixam a cabeça e terminam o noticiário mexendo em seus respectivos tablets. A indicação ou sentido visado junto à audiência é a de que o trabalho não cessa e que, a partir daquele instante, já se começa a elaborar a edição noturna do telejornal, ou mesmo o programa do dia seguinte, na busca pelos acontecimentos que emergem em Minas e pelo mundo. Guardadas as devidas proporções, Benny e Laura parecem carregar, junto ao telespectador mineiro, um apelo parecido com o que emana dos casais Bonner e Bernardes, Eliakim e Leila87. Mesmo não sendo casados, formaram uma dupla que marcou época no noticiário televisivo em Minas Gerais, nos cinco primeiros anos de parceria (1996-2001). Fundaram juntos um novo programa e, com um modo próprio de fazer telejornalismo, chegaram ao topo da audiência no estado. A retomada da dupla – que já vigora há cerca de 3 anos – demonstra que a fórmula de trabalho entre os dois funciona e cativa a audiência. Há uma fluidez na intercalação dos turnos de fala de Benny e Laura, mesmo quando o que será dito não está previsto, de modo tal que algumas notas remetem mais a um processo comunicativo fático, comum, convidativo – ao público.

3.5.3 MG TV

O MG TV, em sua primeira edição, é comandado por Artur Almeida e Isabela Scalabrini. Artur é mineiro e atua como jornalista há quase três décadas. Já trabalhou na extinta Rede Manchete, mas tem longa carreira na TV Globo Minas, tendo sido contratado como assistente da chefia de reportagem, passando também pelas funções de repórter, chefe 86

Ao mesmo modo de Sandra Gomes no Jornal Minas, ao final do Jornal da Alterosa, nos créditos do noticiário, é possível ver as mensagens, “Laura Lima veste” e “acessórios”, seguidas dos nomes dos fornecedores. 87 William Bonner e Fátima Bernardes são casados e apresentam, há muitos anos, o Jornal Nacional, um dos telejornais de maior audiência no país. Antes deles, outro casal com grande apelo na mídia era formado Eliakim Araújo e Leila Cordeiro; por mais de dez anos, a dupla apresentou noticiários em diversos canais no Brasil, até que se mudou para os Estados Unidos, no início dos anos 2000.

 

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de produção e chefe geral de reportagem. Além disso, já apresentou e foi editor do programa Bom Dia Minas. Atualmente é âncora e editor-chefe do MG TV. A carioca Scalabrini, por sua vez, começou a carreira na Rede Globo no final de 1970. Destacou-se na década de 1980 com a cobertura de grandes eventos esportivos e foi uma das primeiras mulheres a atuar como repórter desse segmento, chegando a apresentar atrações de destaque na TV Globo, tais como o Globo Esporte e o Esporte Espetacular. Em meados de 1990, passou a trabalhar com outras editorias, na cobertura do dia-a-dia da cidade do Rio de Janeiro. Mudou-se para Minas Gerais no final da década de 1990 e, desde então, desempenha as atividades de repórter, apresentadora e editora de diversos programas na afiliada mineira. A dupla vem trabalhando junta há algum tempo e parece agradar ao público mineiro. Pensando primeiramente no processo comunicativo não-verbal dos dois, vê-se como principal condição a dos tablets estarem sempre à mão. Os movimentos dos dois apresentadores são sempre leves, aparentando certa naturalidade. Há, contudo, alguma recorrência de estratégias de expressão não verbal do início ao fim do programa, como a caminhada diária em direção à câmera na escala (visando aproximação com o telespectador) e o estender de mão – sempre a direita, de Artur Almeida, para se despedir do público. O sorriso varia, ora como aprovação de matérias de baixa tensão, ora entre dentes reforçando a ironia diante do paradoxo de alguns acontecimentos. Boa parte do tempo postos à bancada, fazem jus à etiqueta no posicionamento de braços – dificilmente com os cotovelos sobre a mesa, normalmente encostando o antebraço diagonalmente de modo a facilitar a gesticulação das mãos. Quando vão chamar algumas matérias, o monitor atrás dos dois funciona como janela. O dedo indicador atua como marcação para o olhar do telespectador, que se projeta para o mundo externo quando a logomarca do MG TV desaparece e há a fusão de imagens do repórter in loco. Lembrando o que foi afirmado na análise da apresentadora do Jornal Minas, um singelo elevar de sobrancelhas e abano da cabeça, entre outros rápidos, tênues e pontuais movimentos, podem dizer muito mais do que uma extensa editoria. Um exemplo, com Artur Almeida, se deu em 07/06/2011. Após uma matéria que apresentava as consequências da imprudência nas estradas, e que encerrou com o depoimento de um representante da Polícia Rodoviária Federal, dizendo “respeitem as regras de sinalização”, quem sinalizou foi o apresentador. Em um movimento que durou menos de dois segundos, o âncora balançou a cabeça, concordando com o que acabara de ser dito. Além disso, abriu os olhos, subindo a sobrancelha, como quem diria, entre tantas outras mensagens

 

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possíveis: “É preciso ter cuidado e respeitar as regras de trânsito ou você, telespectador, pode acabar sofrendo as consequências apresentadas nesta matéria”. Artur emenda com uma Nota Simples, sobre um acidente de trânsito em uma determinada estrada. Em um trecho, ele diz: “[...] testemunhas disseram aos policiais que os ocupantes teriam consumido bebida alcoólica no posto”. A palavra ‘teriam’ vem acompanhada novamente de uma breve arqueada de ombros e de sobrancelha. O que esses movimentos querem dizer? Gesto intencional ou espontâneo? Estaria, então, alojado no plano de fundo pragmático sociocultural, que proferiria: “esta é a resposta: só houve o acidente por que os passageiros estavam bêbados”. Não obstante, seria uma prática de relativização do jornalismo, que poderia afirmar: “as testemunhas disseram que eles teriam, ou seja, poderiam ter bebido, o que não garante certeza”. O próprio uso do verbo no futuro do pretérito marca esse caráter hipotético da afirmação, uma vez que esse tempo verbal é usado tradicionalmente pela impressa para denotar a ideia de imparcialidade. Já uma marca sutil de Isabela na apresentação do MG TV são as risadas. A apresentadora não se abstém ao sorriso, e emite a sonoridade de sua breve gargalhada em notas pé, chamadas de matérias e entrevistas. A utilização desse recurso, porém, não se dá em tom de zombaria ou escárnio, mas, sim, como uma graça, normalmente precedida por uma brincadeira ingênua com o tema em destaque, que visa aproximar a âncora (e, por consequência, mais uma vez, o próprio programa) do telespectador. Porém, nem sempre é assim. A apresentadora assume tal postura diante de temas considerados leves. Ao tratar de assuntos que merecem uma conduta mais circunspecta, age com a prudência e as reservas necessárias. Essa marcação fica evidenciada na entonação, nas pausas e nas expressões faciais utilizadas. Uma passagem que serviria aqui como exemplo dessa variação se deu no dia 07 de junho, quando a âncora apresentava uma notícia sobre o afastamento de um prefeito, acusado de desvio de dinheiro público. Depois da seriedade, ao chamar a matéria e ler a Nota Pé, a câmera muda, o enquadramento abre, o turno de fala passa para Artur Almeida, e a postura de Scalabrini já é outra também. O tema se alterna; é a vez da previsão do tempo. Ao saber que as temperaturas continuariam baixas ao longo da semana em Minas Gerais, Isabela emenda: “então é luva e gorrinho, pra sair de casa cedinho”, seguida da tradicional risada. Ainda na previsão do tempo, apresenta-se uma das poucas mudanças de postura do outro apresentador, Artur Almeida, muito mais despojado do que o habitual – sentando em uma bancada do cenário. Ao longo da atração, Artur é muito mais moderado; a serenidade na apresentação é uma constante em quase todo o programa. As graduações de seriedade dos  

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temas são marcadas também pelas brandas mudanças no tom de voz do âncora e pelas marcações faciais – acentuadas diante a acontecimentos como acidentes, problemas sociais, e tenras ao tratar de tópicos mais leves. Além dessas, poucas alterações na performance de Artur são vistas ao longo do telejornal. O MG TV ainda conta com mais duas apresentadoras de quadros fixos. Uma delas é Renata do Carmo, que se responsabiliza pelo “Vc no MG TV” e pelo “MG Cultura”. Renata é paulista, mas está em Minas Gerais desde o final da década 1990. Além dessas seções, também apresenta (além de editar e produzir) o Globo Horizonte – programa de entrevistas com foco na cultura mineira88. Além de jornalista, é pós-graduada em História da Cultura e da Arte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse contexto, cultura parece ser uma das palavras-chave para caracterizar a comunicadora, imputando-lhe uma condição de apresentadora-especialista no tema dentro do MG TV, funcionando como atributo qualitativo-distintivo do programa. Isto é, o efeito visado pelo telejornal parece ser o de perpetrar, na concepção telespectadora, a ideia de que é por meio do gatekeeping de um(a) experto(a) que o público terá à disposição um amplo e qualificado menu de apresentações artísticas que acontecerão na região no fim de semana89. Além disso, também assume a posição de entrevistadora no quadro, afiançando a qualidade das perguntas e garantindo que estas estejam em sintonia com o universo dos convidados.90 Além disso, também apresenta o “Vc no MG TV” – exibido tradicionalmente às quartas-feiras. O quadro permite a interação do público com o programa, de modo que atuem como colaboradores da atração, gerando conteúdo a partir de denúncias diversas. Renata opera então como mediadora dos anseios dos telespectadores junto às autoridades competentes. Contudo, sua figura se associa não só à defesa dos interesses do cidadão, mas muito mais a uma gerenciadora de material web enviado ao noticiário. Sua imagem traz ao MG TV dinamicidade, agilidade e jovialidade, atributos advindos não apenas de suas características físicas, mas de seu método de apresentação e aos quadros aos quais se vincula – simétricos aos valores propostos pelo programa. A outra apresentadora é Gislaine Ferreira, responsável pelas informações climáticas da atração; e, a despeito de ser jornalista de formação, também é modelo, tendo conquistado, 88

Globo Horizonte. Mais informações disponíveis em: http://globominas.globo.com/GloboMinas/Entretenimento/GloboHorizonte/0,,9598,00.html. Acesso em 31 out. 2011. 89 Isso pois, o quadro é exibido sempre às sextas-feiras, com a agenda de shows, festas, peças teatrais, e outras exibições culturais, além de entrevistas com personalidades do mundo artístico. 90 Caso do ex-baterista da banda “Legião Urbana”, Marcelo Bonfá, que se apresentou em Belo Horizonte, e no MG TV, em 10/06/2011.

 

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inclusive, o Miss Brasil em 2003 pelo estado de Tocantins (apesar de ser belorizontina)91. À época, o evento era transmitido pela Rede Bandeirantes de Televisão que, tão logo soube do curso de graduação da eleita, convidou-a para atuar em sua redação jornalística. As primeiras aparições de Gislaine em rede nacional se deram então na emissora paulista, pontuada em parte por sua qualidade como comunicadora, e em outra com o apelo exercido pela beleza – referendada pela vitória no concurso. Gislaine ficou ausente por certo período das telas, retornando tempos depois à Globo Minas com a apresentação da previsão do tempo – lugar que ainda ocupa no MG TV e no Bom Dia Minas, além de cobrir outros âncoras nos casos de vacância, nos mesmos noticiários. Como mulher do tempo, ocupa em média 5% da duração total de cada edição do telejornal – aproximadamente o dobro frente aos concorrentes. As informações do quadro tradicionalmente começam e se encerram com um descontraído bate-papo entre Artur, Isabela e Gislaine – quando não acontece também durante a previsão. Em seguida, Ferreira direciona sua atenção para o telespectador, utilizando os monitores ao fundo do cenário como ferramentas para explicar as mudanças nas condições atmosféricas em todo o estado de Minas Gerais e apresentar as temperaturas em cada região. Mas não se restringe à previsão, também intercala o quadro com imagens ao vivo, expondo o tempo no exato momento em que narra as expectativas climáticas. Embora esse modo de previsão seja extenso, traz dinamicidade ao programa em razão do número de informações apresentadas e ao modelo de veiculação: utilização de infográficos de fácil visualização em dois monitores amplos, imagens em tempo real do clima na cidade, apresentados de forma clara e justaposta à rotina do telespectador por meio dos comentários sutis e despojados dos três âncoras do MG TV. Apesar de não ser Ruibran dos Reis92, a figura de Gislaine atribui, ao mesmo modo de Renata, a ideia de especialista em um tema, em quadro fixo do programa. Sua imagem já está sobreposta à previsão do tempo, condição reforçada pela segurança e propriedade com que expõe as informações climáticas. Seus atributos físicos e a forma plácida como se apresenta trazem leveza ao MG TV, ao mesmo passo que o método diferenciado para veicular a previsão do tempo dá dinamicidade ao telejornal93.

91

Site oficial de Gislaine Ferreira. Disponível em: http://www.gislaineferreira.com.br. Acesso em 31 out. 2011. Um dos mais respeitados (e requisitados pela mídia) climatologistas e professores da área em Minas Gerais. 93 Gislaine atua como estratégia de captação/sedução no MG TV, seguindo uma leva de investidas análogas em diversos telejornais – no Brasil e no mundo. A beleza das jornalistas que apresentam a previsão do tempo já foi inspiração até para Luis Fernando Veríssimo, quando falou do trabalho de Patrícia Poeta, em 2001: “Hoje ela está de cabelo preso. Acho que prefiro solto. 47 graus em Porto Alegre, veja você. Ela será baixa ou alta? Nunca 92

 

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Renata e Gislaine atuam em espaços bem marcados dentro do MG TV, aparecendo em cooperação aos apresentadores principais. Os quatro apresentadores seguem à risca a cartilha da oratória: movimentos alternados, nem em excesso nem ausentes, com gesticulação de braços na linha da cintura. Gislaine Ferreira e Renata do Carmo também são bem amenas em suas expressões. Gesticulam levemente (a segunda um pouco mais) e não caminham muito (apesar de sempre estarem de pé). Isto é, a garota do tempo anda da direita para esquerda nos cerca de dois metros quadrados que tem à disposição para apresentar as informações climáticas nos dois monitores que estão ao fundo. Nas mãos de Ferreira, sempre há um controle remoto e uma ficha. Na ficha, estão provavelmente as informações que decorou ou lerá no teleprompter94. Já no aparelho, o comando da arte que apresenta os mapas com os dados climáticos. Com Renata, assim como com Artur e Scalabrini, está um tablet. Artur e Isabela interagem com suas parceiras de trabalho, e regem o programa com sobriedade e moderada descontração. Suas pontuações em nota pé, por exemplo, nem sempre são complementos ao tema exposto, mas também não revelam necessariamente posicionamentos ideológicos e juízo de valor. Em relação ao figurino, um tom de sobriedade recai sobre Isabela, Artur e Gislaine. Scalabrini ora se apresenta com casacos de cores frias, em estilo clássico, tom sobre tom, com calça de alfaiataria. Em outros momentos, não menos social, traja blusas de cores variadas, algumas com mangas ¾, comportadas, com pequenos decotes em ‘v’. Varia nos relógios, mas sempre usa o mesmo fino colar, com pequeno pingente, ambos dourados. Os calçados normalmente são sapatos com pequenos saltos e aberturas na frente O microfone, de lapela, duplo, é quase imperceptível, ficando sempre preso à roupa, do lado direito. Em Artur, o aparelho fica preso na gravata. Essas vestimentas pouco parecem denotar ou conotar sobre possíveis estratégias de contato, mas estão sempre em concordância com o conjunto. O apresentador, de contínuo bem trajado, com sapatos escuros, utiliza ternos com três botões, por vezes lisos, outras com riscas verticais, normalmente em tons de marrom, cinza ou preto. Gislaine varia mais; um dia apresenta-se com paletó que faz lembrar uma jaqueta em jeans escuro, outro com uma blusa mais fina, até os casacos sociais mais clássicos, tal como Isabela, sobretudo em relação às calças (retas, de alfaiataria) e aos sapatos. Renata é talvez a que ousa mais diante ao padrão da Globo Minas; nas duas aparições que teve na semana

se vê o corpo todo. Máxima de 55 no Rio. Máxima é ela.” Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/10939560/Textos-Nada-Escolhidos-Luis-Fernando-Verissimo, Acesso em 05 mai. 2012. 94 Equipamento, acoplado às câmeras, por meio do qual os apresentadores leem as pautas que apresentarão.

 

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analisada, trajou-se, ao apresentar o “VC no MG TV”, com calça e blusa social – com detalhes, verde e estampas. Já ao apresentar o “MG Cultura”, fez jus a uma espécie de vestido contemporâneo, moderno, também estampado, utilizando uma calça de lycra por baixo. Estilo que quebra um pouco o padrão e traz jovialidade ao programa, estando em consonância com as atrações que rege no telejornal em questão. Essas posturas se dão ao longo da atração: Artur e Isabela em sinergia, dialogando quando necessário, intercalando-se durante o telejornal para a exposição dos acontecimentos em Minas Gerais, na simetria dos manuais, equalizada com os breves momentos de improviso que, à primeira vista, parecem naturais, mas que provavelmente também seguem a cartilha do que é permitido dentro da tonalidade desse tipo de noticiário – com o ponto eletrônico ao ouvido e os tablets sempre a mão.

3.5.4 Imagem (Capital Visual)

Entende-se como Capital Visual aqui a duração da imagem dos âncoras no telejornal. Ainda que os noticiários façam uso de diversos apresentadores, com estratégias das mais distintas, como visto anteriormente, optou-se aqui pela soma total do tempo de aparição de cada um deles. Isto é, por exemplo, no caso do MG TV, ainda que existam dois apresentadores principais e duas especialistas, os quatro exercem uma função enunciativa análoga no complexo estrutural do noticiário. Sendo assim, chegou-se aos seguintes indicadores:

MG TV

JORNAL DA ALTEROSA

JORNAL MINAS

24.14%

24.77%

31.27%

Gráfico 7: Participação média dos apresentadores – Capital Visual

 

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Verifica-se que os três telejornais dedicam boa parte de seu tempo de exibição à imagem de seus âncoras. Ainda que estejam muito próximos nesse indicador, o Jornal Minas destaca-se frente aos demais, ofertando cerca de 7% a mais do tempo total do programa à sua apresentadora. MG TV e Jornal da Alterosa, por sua vez, dedicam aproximadamente ¼ do programa à imagem dos jornalistas da bancada. Os números são, contudo, um pouco divergentes em relação aos espaços em que os apresentadores mais aparecem em seus respectivos programas. Aliás, os âncoras sempre aparecem mais nas chamadas de matéria, nos três noticiários. Na sequência, Jornal Minas e Jornal da Alterosa se parecem um pouco mais, mas guardam variações. Ao passo que o noticiário da Rede Minas segue com Notas Simples (25%), Entrevistas (21%) e Notas Pé (16%) como as de maior destaque visual aos apresentadores, a Alterosa alinha Notas Simples (25,5%), Notas Pé (11,5%) e Entrevistas (8%). O MG TV, por sua vez, evidencia a presença dos apresentadores – como dito, primeiramente nas Chamadas de Matérias (cerca de 1/3 da imagem é exibida nessa entrada), seguidas das Notas Pé (21%), Previsão do Tempo (16%) e Notas Simples (10%). As entrevistas só aparecem em quinto, em razão da maioria destas serem externas.

CAPITAL VISUAL

Chamada de Matéria Chamada de Intervalo Entrevistas Escalada Nota Pé Nota Simples Previsão do Tempo Matéria Vinheta Créditos Nota Coberta Stand Up Encerramento Chamada de Calhau (VT)

JORNAL MINAS 00:11:20 00:01:12 00:08:43 00:02:02 00:06:42 00:10:18 00:00:13 00:00:00 00:00:00 00:00:00 00:00:38 00:00:00 00:00:39 00:00:00

JORNAL DA ALTEROSA 00:10:30 00:01:34 00:02:39 00:02:18 00:03:44 00:08:17 00:00:00 00:00:00 00:00:00 00:00:22 00:02:25 00:00:00 00:00:38 00:00:00

00:12:56 00:02:17 00:02:29 00:01:22 00:08:03 00:03:46 00:06:16 00:00:00 00:00:00 00:00:00 00:00:11 00:00:00 00:00:25 00:00:24

Total

00:41:47

00:32:27

00:38:09

Média Diária

00:08:21

00:06:29

00:07:38

% do Telejornal Diário

31.27%

24.77%

24.14%

CONTEÚDO

MG TV

Tabela 10: Frações da participação dos apresentadores nos telejornais – Capital Visual

 

159  

Gráfico 8: Participação média dos apresentadores nos telejornais – Capital Visual

3.5.5 Áudio (Capital Sonoro)

Entende-se como Capital Sonoro do apresentador a duração do áudio dos âncoras no telejornal – não considerando, necessariamente, sua presença visual, isto é, por exemplo, com notas cobertas, ou na escalada, quando a locução em off é maior. Ao mesmo modo do Capital Visual, optou-se novamente pela soma total do tempo de som de cada um dos apresentadores. Assim, chegou-se aos indicadores abaixo:

JORNAL MINAS

MG TV

JORNAL DA ALTEROSA

36.08%

36.66%

45.33%

Gráfico 9: Participação média dos apresentadores – Capital Sonoro

 

160  

A partir dos indicadores de Capital Sonoro, vê-se que a participação dos apresentadores amplia-se consideravelmente – em média 12,5% maior em relação ao Capital Visual. A ressalva, porém, vem do fato de que enquanto o Jornal Minas aumenta a presença da âncora em cerca de 5%, o Jornal da Alterosa aumenta em mais de 20%, destacando-se com 45% do total do programa na voz de seus apresentadores. Esse índice é consequência, sobretudo, do número e extensão das Notas Cobertas veiculadas pelo Jornal da Alterosa. 34,5% do tempo total de Capital Sonoro dos apresentadores da atração concentram-se na referida entrada, que é seguida pelas Chamadas de Matérias (18%), Notas Simples (14%), Escalada (10%), Notas Pé (6%) e Previsões do Tempo (6%). O programa da Rede Globo, por seu turno, também amplia a participação dos apresentadores em função, sobremaneira, da emergência das Notas Cobertas – com 27%, proporcionando 15 minutos de Capital Sonoro ao longo da semana para os âncoras. A entrada é seguida por Chamadas de Matérias (24%), Notas Pé (14%) e Previsão do Tempo (13%). Fechando a tríade, o Jornal Minas, dos três é o que menos concede Capital Sonoro à apresentadora. Tal perspectiva coincide justamente com o número de Notas Pé frente à concorrência. Assim, o alinhamento baseado no Capital Sonoro dos apresentadores da Rede Minas é análogo ao do Capital Visual, com as entradas: Chamada de Matéria (23,5%), Nota Simples (21%), Entrevistas (14%), Notas Pé (14%) e Escalada (9%). CAPITAL SONORO CONTEÚDO

JORNAL MINAS

JORNAL DA ALTEROSA

MG TV

Chamada de Matéria Chamada de Intervalo Entrevistas Escalada Nota Pé Nota Simples Previsão do Tempo Matéria Vinheta Créditos Nota Coberta Stand Up Encerramento Chamada de Calhau (VT)

00:11:20 00:02:56 00:06:46 00:04:25 00:06:42 00:10:18 00:03:39 00:00:00 00:00:00 00:00:00 00:01:27 00:00:00 00:00:39 00:00:00

00:10:30 00:03:15 00:02:47 00:06:12 00:03:44 00:08:17 00:03:30 00:00:00 00:00:00 00:00:00 00:20:30 00:00:00 00:00:38 00:00:00

00:13:45 00:02:41 00:01:25 00:04:19 00:08:21 00:03:46 00:07:23 00:00:00 00:00:00 00:00:00 00:15:27 00:00:00 00:00:25 00:00:24

Total

00:48:12

00:59:23

00:57:56

Média Diária

00:09:38

00:11:53

00:11:35

% do Telejornal Diário

36.08%

45.33%

36.66%

Tabela 11: Frações da participação dos apresentadores nos telejornais – Capital Sonoro

 

161  

Gráfico 10: Participação média dos apresentadores nos telejornais – Capital Sonoro

3.5.6 Planos Fílmicos

Os planos fílmicos dão visibilidade às cenas e aos atores envolvidos nela (apresentadores, repórteres, entrevistados, etc.), orientando o olhar do telespectador, podendo gerar efeitos diversos, na medida em que se inserem dentro do composto narrativo jornalístico. Sabino (2011) explanou sobre alguns planos de câmera e suas possibilidades de significação, a partir de autores legitimados nessa área. A partir de Gage e Meyer (1991), veem-se seis enquadramentos habituais no telejornalismo: plano close; plano aproximado; plano médio; plano americano; plano de conjunto; e plano geral, articulando como referência o quadro abaixo:

Figura 14: Posicionamento de câmera a partir de Gage e Meyer (1991, apud SABINO, 2011, p.95)

 

162  

Com base em Hernandes (2006), Sabino (2011) informa que quanto maior o zoom da câmera (ou seja, em planos como o close e próximo), maior também são os efeitos ligados à intensidade e afetividade, ao passo que quanto mais a câmera se distância, amplia-se a apreensão e a inteligibilidade. Enquanto o primeiro movimento evidencia o personagem, o segundo ressalta o espaço, dissolvendo o ator, gerando um composto de compreensão (cenário mais a mensagem do apresentador, por exemplo). Além dos enquadramentos, pode-se falar das angulações (posições a partir das quais o apresentador é enquadrado) e os movimentos da câmera. Isto é, trata-se do posicionamento estratégico e/ou da oscilação física do equipamento, e não mais de opções tecnológicas do aparelho, mas que igualmente proporcionam efeitos diferenciados na captação da imagem e buscam sentidos diversos junto à audiência. Assim, a câmera pode ser posicionada nos vários pontos do estúdio. Tradicionalmente, no telejornalismo, o enquadramento é feito de frente, em angulação normal – ou seja, na mesma linha e altura do apresentador, a 0º. A câmera pode chegar a até 90º, para direita ou esquerda, tendo o âncora como referência. O equipamento pode ser colocado ainda de forma inclinada, superior ou inferior ao jornalista, estas duas últimas em angulações chamadas respectivamente de plongée e contre-plongée (JOLY, 1996). Sobre os movimentos, segundo Aumont et. al. (2008, p.39) existem dois grupos amplos, formados pelo travelling e pela panorâmica, além de uma gama de combinações que podem ser realizadas a partir dos dois. Enquanto o primeiro representa “um deslocamento do pé da câmera, durante o qual o eixo de tomada permanece paralelo a uma mesma direção”, o segundo “é um giro da câmera, horizontalmente, verticalmente ou em qualquer outra direção, enquanto o pé permanece fixo”. A câmera pode ainda ser posicionada em uma grua – um braço mecânico – que a eleva e a posiciona em vários espaços do estúdio, permitindo uma série de outros movimentos a partir de uma aderência flexível. Assim, após este brevíssimo panorama, pode-se perceber com mais atenção os enquadramentos de base – entre outros recorrentes, assim como movimentos e angulações de câmera mais comuns nos três telejornais analisados.

 

163  

Figura 15: Jornal Minas – Plano Médio

Figura 16: Jornal da Alterosa – Plano Médio

Figura 17: MG TV – Plano Americano

De acordo com David-Silva (2005, p.102), “o enquadramento de base nos fornece a informação do ponto de vista enunciativo estabelecido entre o apresentador e o telespectador”. Com base nas figuras 15, 16 e 17, pode-se perceber que os três telejornais utilizam uma estratégia muito parecida. Isto é, o principal enquadramento do MG TV evidencia os dois âncoras, com um corte na linha da cintura proporcionado pelas dimensões da bancada. O recorte apresenta boa parte da bancada e, assim, é aqui estabelecido como plano americano95. O plano permite observar mais o cenário, tirando a atenção total do apresentador. Essa escolha, apesar de distanciar um pouco os atores da audiência, auxilia na projeção e percepção de imagens no televisor ao fundo dos jornalistas, o que funciona também na perspectiva da captação. O Jornal Minas e o da Alterosa, porém, recorrem mais ao plano médio. Tal opção ainda deixa o cenário à mostra, o qual dialoga no processo enunciativo. A proximidade do apresentador, contudo, revela um destaque a sua imagem, assim como a tentativa de estabelecimento de um processo comunicativo âncora-telespectador, olhos nos olhos (VÉRON, 2001). A estratégia também visa facilitar a compreensão e/ou impedir a desatenção do público.

95

A definição sobre a que plano remete o enquadramento de base do MG TV pode ser discutível. Situá-lo como americano neste trabalho é talvez uma opção moderada e a mais equilibrada, já que o recorte não é amplo demais para ser tido como de conjunto ou geral, tampouco tão fechado quanto a concorrência para ser dito médio.

 

164  

Do ponto de vista dos recortes de câmera, a distância não chega a ser íntima entre as partes, proveniente, por exemplo, de um plano próximo. Entretanto, esse e outros enquadramentos (combinados com angulações e movimentos) são utilizados pelos telejornais ao longo das edições, conforme pode ser visto nas figuras a seguir. Jornal Minas:

Figura 18: Jornal Minas – Plano Próximo96

Figura 19: Jornal Minas – Plano Geral



Figura 20: Jornal Minas – Plano Geral – Entrevista

Figura 21: Jornal Minas – Plano Americano



O Jornal Minas, único que faz uso de apenas uma âncora, utiliza uma grande variação nas angulações – talvez para buscar a dinamicidade que uma dupla é capaz de conceder, ao menos nos enquadramentos. Não obstante, o plano de base é o médio e o segundo que mais aparece é o próximo. Como dito anteriormente, possivelmente essa perspectiva revele-se voltada à captação, como forma de sedução da audiência, presa no processo comunicativo baseado no “olhos nos olhos”.

96

Ao mesmo modo da ressalva ao enquadramento de base do MG TV, nomear o enquadramento da Figura 18 como plano próximo também pode ser discutível. Não obstante, há uma diferença em relação ao anterior (Figura 15), com aproximação de zoom, o que é uma tônica no Jornal Minas.

 

165  

Outras estratégias do noticiário em questão são curiosas, como o movimento em travelling, da direita para a esquerda, nas saídas de bloco, enquadrando o cenário em plano geral. A movimentação, rápida, perceptível e combinada com a música, provavelmente vise alertar o público que o programa está indo para o intervalo, mas que a pausa será breve. Já no encerramento, são feitas duas escolhas: ora o mesmo movimento da saída de bloco é utilizado, um pouco mais lento, ora, em outras oportunidades, a câmera fica estática, diagonalmente posicionada à esquerda do vídeo, focando a apresentadora e o cenário em plano geral. Jornal da Alterosa:

Figura 22: Jornal da Alterosa – Plano Médio

Figura 23: Jornal da Alterosa – Plano Americano

Figura 24: Jornal da Alterosa – Plano Geral – Saída de Bloco

O Jornal da Alterosa tem como segundo plano mais recorrente o enquadramento médio, agora com destaque para os dois apresentadores juntos, à bancada. Poucas vezes o noticiário faz uso do plano próximo – a ideia de intimidade então ficaria mais presente nos modos enunciativos, como visto anteriormente. Esse afastamento permite ver com mais atenção os elementos plásticos cenográficos e ainda dá condições para que o noticiário faça uso da constante tarja que apresenta uma espécie de título-tema do que está sendo narrado pelos apresentadores.

 

166  

No mais, as variações se dão quando há algum convidado para ser entrevistado, ou nas saídas para o intervalo, quando a câmera, em plano geral, na diagonal, do lado esquerdo do vídeo, com zoom sendo gradativamente diminuído, vai afastando o telespectador dos apresentadores. Ao lado, há um infográfico com uma espécie de “fale conosco”, com o endereço na rede social twitter, telefone e site do Jornal da Alterosa; o noticiário está em atividade, mesmo nas pausas. Esse é, então, o momento que quem assiste ao programa tem para sair da frente do televisor, ou, se quiser, pode interagir com a atração de outra forma. MG TV:

Figura 25: MG TV – Plano Próximo

Figura 27: MG TV – Plano Conjunto

Figura 26: MG TV – Plano Geral

Figura 28: MG TV – Plano Geral

O MG TV é provavelmente o telejornal que mais apresenta tomadas ao longo de suas edições. O índice pode estar associado ao número de apresentadores fixos e especialistas, além destes estarem ora sentados, ora de pé, assim como a variação de posição proporcionada pelas entrevistas que são realizadas às sextas-feiras e dos diálogos entre os âncoras. Contudo, o plano próximo, assim como no Jornal Minas, é o segundo mais aplicado no MG TV. Por vezes, o plano geral é utilizado (seja na conversa sobre o clima em Minas Gerais, ou no encerramento do programa – sempre com uma câmera posicionada diagonalmente, à  

167  

esquerda do vídeo, em contre-plongée), bem como o enquadramento americano – por Renata do Carmo em suas apresentações, e até mesmo o de conjunto, quando Scalabrini e Artur estão de pé (muitas vezes nas chamadas de intervalo e escalada). Os movimentos e angulações são raros, destacando-se mais o zoom de aproximação, lento, quase imperceptível, também em momentos muito específicos do programa.

3.5.7 Constantes e variantes entre apresentadores

Se as mulheres não eram bem quistas no jornalismo nos primórdios da televisão, e se o apogeu dos casais nas bancadas demorou certo tempo para se efetivar (HAGEN, 2004), atualmente a presença feminina e a utilização da parceria à frente dos noticiários são tendências irremediáveis. Prova disso é o que os telejornais, em Minas Gerais, vêm fazendo há muito tempo e com muita segurança. Isto é, de um lado difere-se a aposta da Rede Minas, que delega o comando solo do Jornal Minas a Sandra Gomes. A figura da mulher nesse espaço, então, não é a da insegurança ou da fragilidade. Sozinha, a âncora cresce no comando da atração. Os atributos femininos que emergem aqui parecem ser o do detalhismo, o que dá confiabilidade e riqueza nos pormenores dos fatos apresentados, e o desvelo, que revela a acuidade no trato à notícia, sem se esquecer da beleza e da simpatia – que se posicionam como estratégias de captação. Não obstante, a parceria entre sexos opostos no MG TV e no Jornal da Alterosa revela a mesma condição a Lima e Scalabrini, com a diferença de estarem acompanhadas da figura do homem, e de todos os predicados que este pode atribuir ao programa. Entretanto, nos noticiários,

em

detrimento

de

qualquer

mentalidade

machista,

as

figuras

têm

quantitativamente o mesmo espaço, evidenciando-se então meramente por seus modos enunciativos. Nesse ponto também parece residir uma grande diferença entre os telejornais em questão. Nenhum dos noticiários parece estar ainda preso ao excesso de formalidade. Mesmo por que, sugere-se estar claro para os três que a visada informativa (fazer-saber) não é a única que prevalece para a composição de audiência. Há um forte apelo à simpatia nos programas analisados, com espaço para as gargalhadas e gírias, mais presentes, respectivamente, no Jornal da Alterosa e no MG TV.

 

168  

Contudo, os espaços em que a seriedade e a descontração podem aparecer estão bem demarcados – para as duas partes do contrato (telespectador e apresentador). E é nesses dois lugares em que as atrações agem de maneiras distintas, provavelmente em razão da postura que os telespectadores esperam que os apresentadores tenham. Quanto mais complexo, sério e paradoxal é o tema, mais circunspecta é a postura dos âncoras do MG TV – tom de voz mais sóbrio, olhar fixo e expressão facial fechada, buscando um posicionamento mais neutro. Ao passo que nessas mesmas situações, os apresentadores do Jornal da Alterosa parecem se sentir no dever de se posicionar e expressar sua opinião – seja com gestual acentuado ou com um texto que beira mais o editorial. Já quando os temas são mais leves, a investida do noticiário da Globo Minas é maior, no sentido fazer relaxar os seus jornalistas em estúdio, em doses que superam a TV Alterosa. Nesse meandro, a Rede Minas parece variar de acordo com o tema (talvez em razão de sua vinculação institucional), posicionando no entre-dois nos assuntos mais sisudos e de forma simpática, porém mais neutra, em temas mais leves. Outra diferença, principalmente entre Jornal Minas e seus concorrentes e a ausência do aparelho tablet, mantendo-se o uso da caneta e dos papéis. A ideia de seriedade é mantida nos dois casos, mas no MG TV e no Jornal da Alterosa, faz-se o apelo à tecnologia, ao imediatismo e à incorporação daquilo que é novo e que está na moda. Há uma informação a ser transmitida naquele momento, mas o mundo continua a ser palco de acontecimentos a todo instante, e o âncora não pode desligar-se disso. O equipamento então se apresenta como uma espécie de ponte entre o jornalista e um mundo virtual, que dá acesso ilimitado ao que se dá no mundo real. Assim, o apetrecho está longe de ser apenas decorativo, mas exerce função junto à dinâmica do apresentador. Já os enquadramentos, movimentos e angulações abarcam algumas variações. Assim, mais do que exibir a imagem de quem apresenta, os planos e efeitos de câmera, ao combinarem os elementos plásticos com os âncoras, embutem-se na articulação dos enunciados, fazendo emergir sentidos distintos no que é apresentado. Ainda assim, por mais que os programas tentem se diferenciar, essas estratégias guardam características muito próximas nos três noticiários. No jogo de adjetivos que os apresentadores imputam às suas atrações, enquanto o Jornal Minas parece ser mais sóbrio, moderado, comedido, o Jornal da Alterosa é muito mais coloquial, espontâneo e informal. Nesse cenário, então, o MG TV se assenta mais como cordial, parecendo ter certa diligência em todas as suas propostas. Diante ao contexto, parece ser inadequado indicar qual noticiário, por meio de seus âncoras, se aproxima mais da  

169  

audiência. Isto é, fica evidente que a linguagem da TV Alterosa é mais adjacente ao público, mas a que público? E, independente da identificação deste, não seria mais a quem ele é, mas, sim, ao que ele espera de um noticiário que, como visto, pode variar acentuadamente em sua dinâmica.

 

170  

CAPÍTULO 4 ESTRUTURA DOS TELEJORNAIS EM MINAS GERAIS

A seleção das informações a serem veiculadas, bem como as formas de estruturação desse material informativo são opções estratégicas que consideram as lógicas mercadológicas, tecnológicas e discursivas: ao determinar o grau de noticiabilidade dessas informações, ao definir sua adequação ao subgênero, ao inseri-las em um formato específico de telejornal, a televisão manifesta também os seus interesses institucionais. Aliás, é nesse sentido que se pode falar da mídia como pautando o real: a ela cabe determinar que acontecimentos do mundo natural e exterior merecem ser noticiados, assim como decidir as formas adequadas de os transformar em notícia; aqueles sobre os quais se cala, simplesmente não ganham existência. (Elizabeth Bastos Duarte, 2007, p. 8-9)

 

171  

4.1 Constantes e variantes na estrutura dos telejornais97

4.1.1 Tempo Total da Emissão A primeira observação a se fazer sobre o tempo total da emissão dos telejornais em análise refere-se à diferença do MG TV frente aos demais. O noticiário da Globo Minas tem, em média, considerando os intervalos, 45 minutos de exibição. Assim, utiliza grande tempo para o faturamento comercial (intervalos), fazendo uso de quatro blocos de notícias, um a mais que seus concorrentes. Não obstante, apesar de a emissão do MG TV ter aproximadamente 33% a mais de tempo de veiculação que os concorrentes, faz jus a apenas 16% desse tempo para conteúdo jornalístico, dedicando o restante para os anunciantes. Jornal Minas e Jornal da Alterosa se equilibram em relação ao tempo total de emissão, com pouco mais de 26 minutos, em média, por dia – descontando os intervalos. Contudo, a diferença marcante se faz no tempo total dos blocos. Enquanto a Alterosa concentra boa parte de sua atenção no primeiro bloco do telejornal (cerca de 2/3 do tempo total de emissão), a Rede Minas apresenta mais equilíbrio em relação à divisão do tempo. Porém, enquanto o Jornal da Alterosa utiliza uma estratégia de manutenção da audiência por meio de uma parte inicial muito mais ampla, o Jornal Minas o faz, moderadamente, na segunda subdivisão. O MG TV, por sua vez, parece seguir a ideia da emissora pública, decompondo bem o tempo entre os blocos, dando ao terceiro uma atenção maior (em termos quantitativos). Outra tática padrão dos programas é articular, ao fim de cada bloco, uma espécie de escalada – uma chamada das notícias que serão exibidas após o intervalo, como forma de prender a audiência. Além disso, os noticiários fazem uso de um sinal, a vinheta, para marcar a volta da pausa comercial. Em relação às variações de duração dos programas ao longo da semana, essas parecem estar relacionadas muito mais ao tempo previsto antecipadamente, dentro da distribuição na grade, do que a uma necessidade de apresentação dos conteúdos com maior ou menor

97

A estrutura dos telejornais passou por um detalhado processo de decupagem, conforme as diretrizes do quadro de análise apresentado no capítulo 2. Os gráficos e tabelas que apresentam cada elemento da organização dos três programas analisados foram disponibilizados nos anexos. Neste capítulo, as informações dos noticiários foram condensadas e apresentadas juntas para efeito comparativo-analítico.

 

172  

quantidade de detalhes, por exemplo. Nesse sentido, o factual, o importante, pode até ganhar proporção no telejornal, mas dentro de um espaço já delimitado. Telejornais Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

06/06/2011 07/06/2011 08/06/2011 09/06/2011 10/06/2011 25:18 27:03 27:57 26:32 26:46

Total 02:13:36

Média 26:44

24:52

26:19

26:08

26:52

26:49

02:11:00

26:12

31:37

31:53

31:02

31:51

31:38

02:38:01

31:36

Tabela 12: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados 52:48

Jo rnal M inas

24:00 Jo rnal da A ltero sa 55:12 M G TV 26:24 57:36 28:48 00:00

Segunda

Ter ça

Quar t a

Quint a

Sext a

Tot al

Média

Gráfico 11: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados

Telejornais /

Blocos

1º Bloco

2º Bloco

3º Bloco

4º Bloco

Jornal Minas

00:07:27

00:10:14

00:09:02

00:00:00

Jornal da Alterosa

00:18:41

00:03:47

00:03:44

00:00:00

MG TV

00:07:40

00:06:51

00:09:39

00:07:26

Média

00:11:16

00:06:57

00:07:28

00:07:26

Tabela 13: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados por blocos 00:20:10

Jornal da Alterosa

00:17:17 Jornal Minas 00:14:24 MG TV 00:11:31 00:08:38 00:05:46 00:02:53 00:00:00 1º Bloco

2º Bloco

3º Bloco

4º Bloco

Gráfico 12: Comparativo das emissões entre os telejornais analisados por blocos

 

173  

4.1.2 Tempo por emissão – Espaços enunciativos

Os espaços enunciativos são os ambientes imagéticos, de onde são proferidos os enunciados. Compreender a ocupação desses lugares é importante para uma leitura dos telejornais. Conforme Maingueneau (2001), as situações de enunciação legitimam os discursos, uma vez que há uma proporcionalidade na constituição da ambiência pelo enunciador, de modo a fazer valer o que emite para o seu interlocutor. Nos telejornais, as cenas enunciativas são internas – o estúdio, de onde os enunciadores, âncoras e convidados, apresentam e comentam o mundo a se representar – e externas – compostas pelas imagens do mundo, relatadas pelos repórteres, testemunhas, convidados, e pelos próprios apresentadores, quando da veiculação de Notas Cobertas – (DAVID-SILVA, 2005). Em meio a esses dois espaços, há ainda as vinhetas e os gráficos98 (mapas). Enquanto as primeiras possuem funções fáticas, de captação ou construção identitária, as artes atuam constituindo ou cobrindo informações para as quais, normalmente, não se tem ou não se aplicam imagens. Assim, tem-se a distribuição do tempo de emissão/imagem, da seguinte maneira:

Emissões

INTERNA

EXTERNA

VINHETAS

GRÁFICOS

Jornal Minas

34.14%

60.40%

2.56%

2.89%

Jornal da Alterosa

27.75%

66.58%

2.71%

2.96%

MG TV

25.67%

72.01%

1.47%

0.85%

Telejornais \

Tabela 14: Comparativo da distribuição do tempo nos espaços enunciativos dos três telejornais

98

Consideração aqui apenas das ilustrações que ocupam toda a tela, e não daquelas que se apresentam concomitantes às externas e/ou as internas, de modo a postular os capitais visuais de forma coerente.

 

174  

80% 70% 60%

INTERNA

50%

EXTERNA

40%

VINHETAS

30%

GRÁFIC OS

20% 10% 0%

JORNAL MINAS

JORNAL DA ALTEROSA

MG TV

Gráfico 13: Comparativo da distribuição do tempo nos espaços enunciativos dos três telejornais

De modo geral, percebe-se uma similaridade entre a distribuição realizada pelos telejornais mineiros quanto às cenas internas e externas. Não obstante, pontualmente, há diferenças entre, por exemplo, a exibição em estúdio; o Jornal Minas dedica pouco mais de 1/3 de sua emissão a esse ambiente, ao passo que os concorrentes destinam 1/4 dos programas. Tal indicador pode se dar em razão das longas entrevistas em estúdio, promovidas pela Rede Minas, conforme poderá ser visto nas seções posteriores. Tal condição faz com que o Jornal Minas tenha o menor tempo no que se refere às emissões externas, atrás do Jornal da Alterosa, que por sua vez está cerca de 5,5% distante do MG TV. Tal disparidade se faz porque o noticiário da TV Alterosa é o que dedica mais tempo proporcional aos gráficos e vinhetas. Tal perspectiva talvez revele uma estratégia de dinamicidade ao programa frente aos concorrentes. A discussão acerca dos espaços enunciativos não se encerra aqui, vez que é importante investigar como se dá a ocupação desses espaços, proposta recuperada na análise da apresentação (e no capital visual dos apresentadores).

 

175  

4.1.3 Tempo e número de entradas

A distribuição do tempo do programa por meio das entradas varia muito de um noticiário para o outro. As matérias, por exemplo, têm quantidade muito parecida, entre 7 e 8 matérias por dia em cada telejornal. A variação é maior no tempo, uma vez que as matérias do Jornal da Alterosa são 15% menores do que as do Jornal Minas, e ainda 30% inferiores em duração às do MG TV. Em relação às Notas Cobertas, Globo Minas e TV Alterosa têm empate técnico em relação à média diária (com cerca de 7,5 por edição). Ampla superioridade frente à Rede Minas, que apresenta menos de uma por dia. Já em relação ao tempo, as três estão próximas, sendo que o Jornal Minas dedica 3 segundos a menos que o MG TV, que por sua vez, oferta 7 segundos a menos do que o Jornal da Alterosa para esse tipo de entrada, que chega à média de 26 segundos por nota. Já face às Notas Simples, é o noticiário da Rede Minas que detêm vantagem; são, em média, quase 6 notas desse tipo por edição, ao passo que Jornal da Alterosa e MG TV apresentam, respectivamente, aproximadamente 4,5 e 2,5 por dia. O tempo é muito parecido entre as três, totalizando uma média de 21 segundos por nota. As notas de fim de reportagem também se apresentam nos três telejornais, sendo que o MG TV utiliza essa prática com uma frequência muito maior do que os concorrentes, ampliando, teoricamente, a riqueza de detalhes do conteúdo que se apresenta. O tempo médio das Notas Pé fica na margem de 13 segundos, fazendo o Jornal Minas uso de 15 segundos em média e o Jornal da Alterosa, 10 segundos. As entrevistas são práticas constantes nos três telejornais. Enquanto o MG TV, o que menos faz uso dessa entrada, realiza uma entrevista por dia (a maioria delas externas), o Jornal da Alterosa realiza quase o dobro. Não obstante, este dedica pouco mais de 1 minuto, em média, ao passo que aquele tem diálogos mais longos, com cerca de 4 minutos, em média. O Jornal Minas é intermediário, com 1,4 entrevistas por dia, com duração média de 2,5 minuto. Stand Ups são entradas raras nos noticiários em questão. Enquanto Jornal da Alterosa e MG TV só realizaram um, ao longo dos cinco dias analisados, o Jornal Minas ficou com uma média de 1,8 por edição, muito em razão da utilização desta entrada na cobertura das chuvas no dia 10/06/2011. O indicador é levado em consideração nesta análise, mas faz-se essa ressalva, frente à escassez do recurso, aplicado em casos especiais (factuais de grande  

176  

relevância) ou quando a informação não pode ser tratada em uma matéria, por falta de tempo hábil para edição, por exemplo. As vinhetas, por sua vez, são uma constante em todos os telejornais analisados. Além de serem exibidas no começo dos programas, também se dão no retorno do intervalo comercial e, pontualmente, em reportagens especiais, quadros fixos e até para localizar cidades de Minas Gerais – em grafismo da Rede Minas. Assim, são veiculadas, em média, 5,5 por dia, destacando o Jornal Minas, com 6,2 por edição, com um tempo que é muito parecido para todos os noticiários analisados: aproximadamente 6 segundos. Por fim, as escaladas e as previsões do tempo não faltam nos programas. A questão é a forma como são apresentadas e o tempo dedicado a cada uma delas. De modo pontual, a metodologia de apresentação das duas foi descrita na seção correspondente. Aqui, evidenciase, mais uma vez, em termos quantitativos, um destaque para o noticiário da TV Alterosa, que marca a passagem de um programa para o outro da emissora, ininterruptamente, totalizando 1 minuto e meio, em média de escalada. MG TV e Jornal Minas aparecem na sequência, com média, respectivamente, de um 1 minuto e 15 segundos e, 54 segundos. Em relação à previsão do tempo, destaca-se a forma diferenciada do MG TV em apresentar as informações climáticas, dedicando cerca de 1 minuto e meio para tanto; cerca de 50% a mais que os seus concorrentes, conforme pode ser visto na tabela e gráficos a seguir:

Entradas Telejornais

Matéria

NC

NS

NP

Quant. Tempo Quant. Tempo Quant. Tempo Quant. Tempo

Jornal Minas

7.4

01:43

0.8

00:22

5.6

00:22

5.2

00:15

Jornal da Alterosa

8

01:26

7.6

00:32

4.4

00:23

4.6

00:10

MG TV

7

02:03

7.4

00:25

2.4

00:19

7.4

00:14

Entradas Telejornais

Entrevista

Stand Up

Vinhetas

Escalada

Previsão do Tempo

Quant. Tempo Quant. Tempo Quant. Tempo Quant. Tempo Quant. Tempo

Jornal Minas

1.4

02:35

1.8

00:30

6.2

00:07

1

00:54

1

00:41

Jornal da Alterosa

1.8

01:16

0.2

00:30

6

00:07

1

01:29

1

00:44

MG TV

1

03:59

0.2

01:27

4.8

00:06

1

01:15

1

01:29

Tabela 15: Comparativo de quantidade e tempo de entradas nos três telejornais.

 

177   8

Jornal Minas

7

Jornal da Alterosa

6

MG TV 5

4

3

2

1

Previsão do Tempo

Escalada

Vinhetas

StandUp

Entrevista

NP

NS

NC

Matéria

0

Gráfico 14: Número médio de entradas nos três telejornais

04:19

Jornal Minas

03:36

Jornal da Alterosa MG TV

02:53

02:10

01:26

00:43

Previsão do Tempo

Escalada

Vinhetas

StandUp

Entrevista

NP

NS

NC

Matéria

00:00

Gráfico 15: Tempo médio de entradas nos três telejornais

A análise dos dados pode revelar, entre tantas outras perspectivas, uma tentativa de dar dinamismo aos telejornais. Todos eles utilizam todas as formas de entrada disponíveis. Isto é, o Jornal da Alterosa tem certo destaque, pois faz uso de um grande número de entradas, com um tempo médio inferior aos concorrentes. Não obstante, esses dados não podem ser observados de modo isolado, uma vez que a forma de apresentação das Notas Simples, da Previsão do Tempo, da Escalada, entre tantas outras, está cada vez mais elaborada. Além disso, existem outros dados da estrutura que precisam ser vistos e considerados, tal como, para falar de dinamismo nos noticiários, as observações também devem levar em conta a utilização temática, conforme poderá ser visto a seguir.

 

178  

4.1.4 Tempo por editoria Os telejornais são pautados pela dinâmica social e representam o mundo para o telespectador ao sabor da emergência dos acontecimentos. Não obstante, escolhas são feitas. Conforme já foi visto, os critérios de noticiabilidade podem variar de um veículo para o outro. O que é considerado representativo para um programa, pode não o ser para outro. Uma forma de verificar as opções dos noticiários é a partir da averiguação dos temas abordados. Assim, relaciona-se, de modo quantitativo, a distribuição editorial dos três jornais em análise.

Editorias

Ciência e Tecnologia

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

Telejornais

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Jornal Minas

02:12

1.7%

13:41

10.2%

00:00

0.0%

08:22

6.3%

Jornal da Alterosa

00:00

0.0%

18:21

14.0%

00:00

0.0%

03:29

2.7%

MG TV

00:00

0.0%

19:31

12.4%

13:45

8.7%

18:00

11.4%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Internacional

Telejornais

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Jornal Minas

07:22

5.5%

07:14

5.4%

21:13

15.9%

00:00

0.0%

Jornal da Alterosa

00:00

0.0%

02:00

1.5%

00:00

0.0%

04:18

3.3%

MG TV

02:46

1.8%

03:18

2.1%

05:03

3.2%

00:00

0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Telejornais

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Jornal Minas

00:00

0.0%

13:11

9.9%

04:24

3.3%

16:00

12.0%

Jornal da Alterosa

05:52

4.5%

10:16

7.8%

16:37

12.7%

12:48

9.8%

MG TV

05:14

3.3%

17:21

11.0%

07:08

4.5%

14:51

9.4%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Telejornais

Tempo

%

Tempo

%

Tempo

%

Jornal Minas

02:58

2.2%

12:35

9.4%

09:33

7.2%

Jornal da Alterosa

13:33

10.3%

11:09

8.5%

17:42

13.5%

MG TV

06:15

4.0%

06:56

4.4%

21:04

13.3%

Tabela 16: Comparativo entre as editorias mais abordadas nos três telejornais na semana analisada

 

179  

Editorias mais evidenciadas Editoria

%

Clima Tempo

12.94%

Trânsito

12.07%

Saúde

11.13%

Policial

10.31%

Sociedade/Cidade

8.18%

Política

7.57%

Cultura

7.51%

Esporte

7.10%

Serviços

6.25%

Educação

3.75%

Comportamento

3.64%

Meio Ambiente

3.34%

Economia

3.16%

Internacional

1.84%

Ciência e Tecnologia

1.29%

Tabela 17: As editorias mais evidenciadas nos telejornais em Minas Gerais

Conforme pode ser visto na tabela comparativa (Tabela 15), as editorias que mais se destacam nos três telejornais são distintas. Enquanto o Esporte é (com cerca de 16%) o tema de maior relevância para o Jornal Minas, Clima Tempo (para o Jornal da Alterosa) e Trânsito (para o MG TV) são os destaques a serem evidenciados ao longo da semana. Algumas ressalvas, porém, devem ser feitas. As notícias do mundo dos esportes são de grande interesse do público, por isso mesmo a Globo Minas e a TV Alterosa têm programas do gênero muito próximos aos telejornalísticos nas respectivas grades. Além disso, Clima Tempo talvez tenha se destacado muito em razão da atenção dedicada pelos programas (não só pelo Jornal da Alterosa, já que foi a segunda temática mais abordada no MG TV e a terceira no Jornal Minas) aos transtornos causados pelas chuvas do dia 09/06/211, com matérias e notas veiculadas em 10/06/2011. As abordagens ao Trânsito também são uma frequente no Jornal da Alterosa, a segunda temática mais abordada. Comuns e com grande relevância também são as matérias e notas que evidenciam a saúde. Assim, em uma média, observa-se que Clima Tempo, Trânsito e Saúde são as abordagens de maior tendência nos telejornais mineiros. Vale o registro de que o Trânsito conquista essa posição muito em razão do constante apelo das emissoras (sobretudo Globo e Alterosa) às imagens ao vivo, sejam elas provenientes de voos de helicóptero, câmeras instaladas em pontos estratégicos de Belo Horizonte, ou até dos equipamentos de monitoramento social – em parceria com a prefeitura da capital.

 

180  

Entre os temas que têm menor espaço dentro dos telejornais, alguns são evidenciados apenas por algumas emissoras. É o caso das notas internacionais, evidenciadas pelo Jornal da Alterosa, das matérias de Comportamento veiculadas pelo MG TV, e de Ciência e Tecnologia, que quase não são vistas, aparecendo, minimamente, apenas no Jornal Minas. Entre as desproporcionalidades encontradas, uma chama a atenção: a temática Serviços, que se poderia imaginar maior na Rede Minas (por ser uma emissora pública), é inferior às outras duas concorrentes. Isto é, a TV Alterosa, emissora privada, dá quase 5 vezes mais atenção ao tema do que o Jornal Minas. As abordagens relacionadas à editoria Policial e as notícias que tratam do cotidiano (sociedade/cidade) também se destacam proporcionalmente quando se agrupam os índices dos três telejornais. Entretanto, o olhar a tais perspectivas deve ser relativizado, uma vez que, conforme já fora tratado, a dinâmica dos telejornais parece seguir a manifestação acontecimental, na medida em que estes parecem ter importância social, sendo assim tratados e exibidos nos noticiários. Nesse contexto, valeria também uma observação à organização hierárquica desses acontecimentos no que concerne a averiguar como as temáticas são arranjadas nos compostos jornalísticos.

Gráfico 16: Comparativo de temáticas por tempo, nos três telejornais

 

181  

4.1.5 Editorias por bloco – Sequência temática / conteúdo

Os telejornais de Minas Gerais parecem articular por meio de estratégias distintas a sequência temática do conteúdo a exibir. Nem sempre os principais fatos do dia são evidenciados logo na primeira parte dos programas, nas entradas iniciais. Como exemplo, o MG TV de 10/06/2011 veiculou os estragos causados pelas chuvas em Minas Gerais. Contudo, parte das matérias foi exibida no primeiro bloco, ao passo que outras chamadas foram feitas para o restante da cobertura, que só foi exibida no último bloco. Faz-se a ressalva de que é complexo afirmar o que é de fato o destaque do dia, uma vez que tal perspectiva pode variar de um telespectador para outro, ao sabor do que lhe interessa ou é relevante. Ainda assim, os telejornais parecem dizer ao público o que é mais importante. Uma maneira de tentar enxergar tal construção é resgatar as considerações feitas na análise das escaladas e contrastar com o que fora levantado nas páginas anteriores. Nem sempre a primeira manchete na sumarização converte-se em primeira entrada do telejornal, mas normalmente ela é exibida no primeiro bloco. A variação, contudo, é grande ao longo da semana em vários aspectos, não parecendo haver uma padronização. O mesmo se repete nos três telejornais, cada um articulando uma dinâmica particular na inter-relação sumário versus estrutura. Na sequência temática dos telejornais, no que se refere às editorias de maior destaque, Clima Tempo, Trânsito e Saúde são as de maior apelo, em média, no primeiro bloco. Nos blocos intermediários99, Serviços, Sociedade/Cidade e Saúde têm amplo destaque proporcional. Já nos blocos derradeiros, as categorias Policial, Esporte (muito em razão da frequência com que aparece no Jornal Minas) e Cultura são as de maior presença. Enquanto no primeiro bloco os telejornais parecem dar o mesmo tipo de atenção temática, nos seguintes há certa divergência. Nos espaços intermediários, as abordagens policiais e da saúde se destacam na Rede Minas; Cultura e Saúde são as de maior importância para o MG TV; e Serviços e Sociedade/Cidade têm mais apelo para o Jornal da Alterosa. No final, o MG TV resgata as notícias de maior tensão, com a temática policial como destaque, contrastando com as abordagens comportamentais. A TV Alterosa faz algo análogo, destacando a cultura e o cotidiano, paralelas ao destaque policial. Situação bem diferente ocorre na Rede Minas, que evidencia o esporte, o trânsito e a cultura. 99

Blocos intermediários, uma vez que se consolidou aqui a segunda e a terceira parte do MG TV, extraindo deste processo uma média, de modo a facilitar a comparação entre os três telejornais.

 

182  

Primeiro bloco Editorias

Clima Tempo

Cultura

Economia

Educação

Intern.

Meio Ambiente

Jornal Minas

38.1%

3.9%

6.6%

8.4%

0.0%

0.0%

Jornal da Alterosa

22.6%

0.0%

0.0%

1.4%

4.1%

3.6%

MG TV

21.7%

0.0%

0.0%

0.0%

0.0%

10.8%

Editorias

Policial

Política

Saúde

Serviços

Sociedade / Cidade

Trânsito

Jornal Minas

10.1%

3.3%

15.0%

9.1%

0.0%

5.5%

Jornal da Alterosa

6.9%

13.8%

15.7%

7.5%

5.6%

18.9%

MG TV

10.8%

6.0%

0.0%

9.8%

0.0%

40.8%

Tabela 18: Comparativo entre as editorias do bloco inicial de cada programa 1º Bloco Editoria Clima Tempo Trânsito Saúde Policial Serviços Política Meio Ambiente Educação Economia Sociedade / Cidade Internacional Cultura

% 27.40% 21.75% 10.24% 9.30% 8.79% 7.70% 4.80% 3.30% 2.20% 1.85% 1.40% 1.30%

Tabela 19: Média das editorias abordadas no bloco inicial dos telejornais em Minas Gerais

Gráfico 17: Comparativo entre as editorias do bloco inicial de cada programa

 

183  

Blocos Intermediários Editorias

Ciência e Tecnologia

Clima Tempo

Comport.

Cultura

Economia

Educação

Esporte

Jornal Minas

4.5%

4.5%

0.0%

0.0%

10.9%

7.9%

0.0%

Jornal da Alterosa

0.0%

0.0%

0.0%

0.0%

0.0%

5.1%

0.0%

MG TV

0.0%

11.4%

5.0%

19.2%

4.4%

5.2%

6.4%

Editorias

Intern.

Policial

Política

Saúde

Serviços

Sociedade / Cidade

Trânsito

Jornal Minas

0.0%

21.4%

5.4%

24.4%

0.0%

21.0%

0.0%

Jornal da Alterosa

6.1%

6.2%

14.6%

0.0%

45.1%

16.6%

6.3%

MG TV

0.0%

1.0%

4.1%

15.8%

5.3%

9.7%

12.6%

Tabela 20: Comparativo entre as editorias exibidas nos blocos intermediários de cada programa Blocos Intermediários Editoria % Serviços 16.79% Sociedade / Cidade 15.77% Saúde 13.40% Policial 9.50% Política 8.06% Cultura 6.39% Trânsito 6.28% Educação 6.07% Clima Tempo 5.31% Economia 5.10% Esporte 2.14% Internacional 2.02% Comportamento 1.67% Ciência / Tecnologia 1.49%

Tabela 21: Média das editorias abordadas nos blocos intermediários dos telejornais em Minas Gerais

Gráfico 18: Comparativo entre as editorias dos blocos intermediários de cada programa

 

184  

Último bloco Editorias

Clima Tempo

Comport.

Cultura

Educação

Esporte

Jornal Minas

0.0%

0.0%

17.8%

2.1%

54.4%

Jornal da Alterosa

0.0%

0.0%

20.6%

0.0%

0.0%

MG TV

15.0%

27.6%

0.0%

0.0%

0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Serviços

Sociedade / Cidade

Trânsito

Jornal Minas

0.0%

0.0%

0.0%

0.6%

5.6%

19.5%

Jornal da Alterosa

17.0%

21.3%

11.7%

0.0%

21.8%

7.7%

MG TV

6.2%

41.3%

8.3%

0.0%

0.0%

1.7%

Tabela 22: Comparativo entre as editorias do bloco final de cada programa Último Bloco Editoria Policial Esporte Cultura Trânsito Comportamento Sociedade/Cidade Meio Ambiente Política Clima Tempo Educação Serviços

% 20.84% 18.15% 12.79% 9.63% 9.21% 9.11% 7.73% 6.67% 5.00% 0.70% 0.19%

Tabela 23: Média das editorias abordadas no bloco de encerramento dos telejornais em Minas Gerais

Gráfico 19: Comparativo entre as editorias do bloco final de cada programa

 

185  

4.1.6 Tensiograma da estrutura

Visando a uma melhor compreensão de como os telejornais procedem na articulação da sequência temática e o que este tipo de escolha editorial reflete na dinâmica dos programas, propõe-se aqui, ao modo do que foi realizado com as escaladas, o levantamento dos níveis de tensão. Para tanto, foram consideradas as seguintes entradas: matérias, notas cobertas, notas simples, Stand Ups, entrevistas e previsões do tempo. As veiculações foram enquadradas em três coeficientes de tensão: baixa, moderada e alta, no mesmo padrão do que foi realizado com a escalada. Mais uma vez, veio à tona a complexidade em determinar a qual nível de tensão cada entrada se filia. Isso porque, além de a linha ser tênue entre as instâncias tonais e de haver diferentes adoções de carga semântica pelos telejornais, cada sujeito/telespectador atribui um peso diferente às entradas. Assim, seguindo a perspectiva de David-Silva (2005), de forma a utilizar uma medida menos complexa e mais assertiva para categorizar as veiculações, “procedemos a uma classificação macrotemática e não do conteúdo específico de cada matéria ou do tratamento dado” (DAVID-SILVA, 2005, p.83). JORNAL MINAS 2

06/ 06/ 2011 07/06/ 2011 1

08/ 06/ 2011 09/ 06/ 2011 10/ 06/ 2011

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

Gráfico 20 – Tensiograma da estrutura do Jornal Minas

Com base no Gráfico, percebe-se que o Jornal Minas tradicionalmente abre com entradas de média e alta tensão e vai distendendo ao longo do programa. Não obstante, uma observação sobre a semana como um todo evidencia que a tensão subiu ao longo dos dias. Na segunda-feira, o programa teve início com média tensão, caindo para baixa logo em seguida;  

186  

prática não muito comum em sua dinâmica. A terça-feira, por sua vez, foi o dia em que o jornal se manteve mais em média tensão, com apenas uma entrada elevada. Entre quarta e sexta-feira, a tensão foi maior, ampliando-se cronologicamente, chegando a um ápice do programa com um dos acontecimentos de maior repercussão: as chuvas que atingiram o estado de Minas Gerais na quinta-feira, e foram noticiadas no dia seguinte. Entretanto, o que parece comum mesmo em todas as edições do Jornal Minas é a queda da tensão ao final do telejornal, encerrando sempre com uma tonalidade inferior – uma espécie de estratégia de modo a gerar sensação de paz, prazer, esperança ao telespectador, em meio ao caos do mundo evidenciado pelo jornalismo. JORNAL DA ALTEROSA 2

06/ 06/ 2011 07/ 06/ 2011 1

08/ 06/ 2011 09/ 06/ 2011 10/ 06/ 2011

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

Gráfico 21 – Tensiograma da estrutura do Jornal da Alterosa

Ao contrário do Jornal Minas, a TV Alterosa não encerra o seu telejornal com baixa tensão; ao contrário, tradicionalmente finaliza a atração em tom de moderado para alto. A estratégia é, inclusive, a mesma no começo do programa, tendo em vista que o Jornal da Alterosa, em sua primeira metade, sempre inicia em alta ou média tensão. Uma variação maior acontece da segunda para a terceira parte do programa, mesclando entradas de baixa, média e alta tensão. O dia com a menor tensão parece ter sido a segunda-feira, dia em que, apesar de ter começado de modo um pouco mais agudo, exploraram-se mais as entradas de baixo e moderado coeficiente. Esse índice foi diferente, por exemplo, da sexta-feira que, em razão das intempéries, teve ampla tensão. A gradação nessa data só não foi maior em razão da apresentação da agenda cultural e da exibição de vídeos alusivos ao dia dos namorados, em que populares mandavam recados aos seus parceiros.

 

187  

Assim, o dia que se destaca pela ampla tensão – a maior da semana – é a quinta-feira, que teve, por conseguinte, também, o menor número de entradas – 17 no total. A média se manteve alta, em razão da veiculação de apenas uma entrada de baixa tensão.

MG TV 2

06/ 06/ 2011 07/06/ 2011

1

08/ 06/ 2011 09/ 06/ 2011 10/ 06/ 2011 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

Gráfico 22 – Tensiograma da estrutura do MG TV

O MG TV parece demarcar mais organizadamente os seus espaços de tensão, conforme pode ser visto no Gráfico 22. Se pudéssemos dividir a ilustração em três partes iguais, veríamos que, enquanto a primeira parte do programa (até ao oitavo ponto) parece dar atenção às entradas de tom moderado para alto, a segunda metade (até ao décimo sexto ponto) tende a variar de médio para baixo. A maior variação acontece na terceira e última seções, que articulam entradas de tonalidades diversas. Contudo, apesar de haver diferenças no número de entradas por edição, o MG TV parece terminar na maioria das vezes de tom alto para moderado. A média se acentuou muito em razão da cobertura das chuvas na sexta-feira (evidenciada no começo e no fim do programa) e de matérias policiais na segunda-feira. Apesar de haver uma média regular entre a tensão ao longo da semana, a quarta-feira parece ter sido o dia de mais alta tonalidade; isso porque, apesar de ajustar entradas de alta com baixa tensão, teve diversas veiculações de tom moderado.

 

188  

Tensão média 2

M G TV

1

Jornal da Alterosa

Jornal M inas 0 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21 22

23

24

25

26

27

28

Gráfico 23 – Comparativo da tensão média dos três telejornais

A partir da confluência dos dados obtidos com o levantamento dos níveis de tensão dos três telejornais analisados, foi gerado o Gráfico 23, com a tensão média dos telejornalísticos analisados. Ao observá-lo, pode-se verificar a marcante diferença na cadência tonal dos noticiários de Minas Gerais. Se a imagem fosse dividida em quatro partes, como estratégia didática, a primeira demonstraria que os três programas iniciam com tensão alta para moderada, de modo muito parecido. Na segunda metade, MG TV e Jornal Minas diminuem consideravelmente a tensão, enquanto o Jornal da Alterosa se mantém com tom alto para médio. Na terceira parte, os três telejornais começam quase que no mesmo nível de tensão (décimo quinto ponto), com tensão de moderada para baixa, mas seguem caminhos distintos. O Jornal Minas cai, de vez, para a baixa tensão, na qual se mantém até o encerramento do programa. Já o MG TV apresenta grande variação, ora inicialmente subindo a tonalidade, ora mantendo-se abaixo do nível moderado, encerrando em média para alta tensão. O Jornal da Alterosa, com o maior número de entradas, também tem grandes variações em sua dinâmica, a partir da terceira parte. Ao passo que vai até ao mais alto nível de tensão (no décimo oitavo ponto) – mantendo o terceiro quarto do programa em nível moderado para alto, começa a quarta parte em tom moderado para baixo – chegando à distensão total (no vigésimo quinto ponto), para então subir e encerrar em alta tonalidade, análoga ao concorrente da Globo Minas.

 

189  

4.1.7 Distribuição de temáticas por entradas Notas Cobertas As Notas Cobertas, prática tradicional dos telejornais (muito mais do Jornal da Alterosa e do MG TV) se destacam, sobretudo, nas diversas intervenções feitas sobre o trânsito (a maioria delas ao vivo), serviços e internacionais (na TV Alterosa, respectivamente com as ofertas de emprego e as notícias do mundo), Sociedade/Cidade, Clima Tempo, entre outras. Assim, 9 das 15 editorias foram veiculadas, ao menos uma vez, pelas Notas Cobertas.

Editorias

Ciência e Tecnologia

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

40.2% 15.4% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 4.7% 8.6%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Intern.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 18.3% 0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 2.8% 0.0%

0.0% 2.5% 9.3%

59.8% 4.1% 4.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 15.4% 0.0%

0.0% 0.0% 16.5%

0.0% 36.8% 61.7%

Tabela 24: Comparativo da distribuição de Notas Cobertas por editorias

Gráfico 24: Comparativo da distribuição de Notas Cobertas por editorias

 

190  

Notas Simples

Em relação às notas Nota Simples, 10 das 15 editorias foram evidenciadas a partir dessa entrada. A maioria destas, porém, se deu na Rede Minas, com 28 notas, destacando principalmente Esporte, Educação e Trânsito. Já o Jornal da Alterosa, o segundo que mais faz uso dessa entrada, destacou, com equidade, Política, Clima Tempo, Sociedade/Cidade, Educação e Policial. Já o MG TV, com a pouca atenção às Notas Simples (12 ao longo da semana), evidenciou equilibradamente Sociedade/Cidade, Trânsito e Cultura.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

Ciência e Tecnologia 0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Intern.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

19.0% 15.1% 9.2%

33.6% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

10.7% 14,0% 11.5%

10.7% 17.9% 5.1%

0.0% 1.7% 0.0%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

7.4% 8.1% 0.0%

0.0% 15.1% 22.1%

18.5% 6.1% 22.1%

Editorias

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

0.0% 15.3% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 6.8% 19.4%

Tabela 25: Comparativo da distribuição de Notas Simples por editorias

Gráfico 25: Comparativo da distribuição de Notas Simples por editorias

 

191  

Notas Pé Como as Notas Pé são formas de complementação do conteúdo exibido nas Notas Cobertas e Matérias, evidencia-se a seguir quais editorias recebem mais atenção por meio dessa entrada. Verifica-se que Saúde, Clima Tempo e Policial são as categorias que se destacam, ainda que Esporte tenha a maior aplicação na Rede Minas e a Política na TV Alterosa. O realce é que todas as editorias receberam ao menos uma Nota Pé ao longo da semana.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

Ciência e Tecnologia 2.4% 0.0% 0.0%

Editorias

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

1.9% 3.6% 10.1%

0.0% 0.0% 1.0%

7.0% 1.8% 6.0%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Intern.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

6.5% 0.0% 0.0%

12.4% 0.0% 1.0%

31.0% 0.0% 6.6%

0.0% 2.7% 0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 9.8% 8.9%

8.4% 3.6% 18.7%

8.4% 26.8% 15.1%

11.3% 13.8% 5.2%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 7.4%

8.4% 9.8% 8.2%

2.4% 28.1% 11.7%

Tabela 26: Comparativo da distribuição de Notas Pé por editorias

Gráfico 26: Comparativo da distribuição de Notas Pé por editorias

 

192  

Matéria De modo parecido com as Notas Pé, verifica-se que Saúde, Clima Tempo e Policial (além de Trânsito) são as editorias que se destacam, com maior porcentual de matérias. Não obstante, no Jornal da Alterosa (que detém o maior número de reportagens) se destaca a Política, no Jornal Minas o Esporte e no MG TV, Policial. Apenas a editoria Internacional não recebe nenhuma matéria na semana analisada, já que aparece apenas como nota na Alterosa.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

Ciência e Tecnologia 2.7% 0.0% 0.0%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Intern.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

9.7% 0.0% 3.4%

3.2% 0.0% 3.5%

21.2% 0.0% 5.3%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 7.2% 5.6%

10.3% 11.3% 14.3%

2.4% 16.7% 6.1%

13.6% 13.5% 12.9%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 6.5% 6.3%

10.5% 13.0% 3.0%

7.8% 13.3% 11.1%

Editorias

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

7.7% 15.6% 13.5%

0.0% 0.0% 11.5%

11.0% 2.8% 3.5%

Tabela 27: Comparativo da distribuição de Matérias por editorias

Gráfico 27: Comparativo da distribuição de Matérias por editorias

 

193  

Entrevista Mais uma vez a editoria Saúde se destaca, apresentando-se, largamente, em entrevistas nos três telejornais. A categoria é seguida por Cultura (a que mais aparece no MG TV), Serviços (amplamente evidenciada pela TV Alterosa, e também veiculada no Jornal Minas) e Sociedade/Cidade. Outras cinco editorias ainda são veiculadas por entrevista, destacando Comportamento, exclusivamente na Globo Minas.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

Ciência e Tecnologia 0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Intern.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

9.3% 5.9% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

15.7% 6.0% 0.0%

0.0% 14.5% 0.0%

29.9% 28.0% 18.7%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

12.7% 45.6% 0.0%

22.7% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

9.8% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 21.3%

0.0% 0.0% 59.9%

Tabela 28: Comparativo da distribuição de entrevistas por editorias

Gráfico 28: Comparativo da distribuição de entrevistas por editorias

 

194  

Stand Up A prática de Stand Up é rara (ou ao menos o foi na semana analisada) nos telejornais em Minas Gerais. Ainda assim, fez-se necessária a apresentação das informações a seguir para a completude do processo. A entrada foi utilizada no MG TV na editoria Policial e no Jornal da Alterosa na categoria Política. Já na Rede Minas, dos 9 Stand Ups realizados (a maioria na sexta-feira), 45% se enquadram em Clima Tempo, 31% em Trânsito e uma minoria restante, cerca de 24%, na categoria Policial.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

Ciência e Tecnologia 0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Clima Tempo

Comportamento

Cultura

45.1% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Economia

Educação

Esporte

Intern.

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Meio Ambiente

Policial

Política

Saúde

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

23.8% 0.0% 100.0%

0.0% 100.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

Editorias

Serviços

Sociedade/Cidade

Trânsito

Jornal Minas Jornal da Alterosa MG TV

0.0% 0.0% 0.0%

0.0% 0.0% 0.0%

31.1% 0.0% 0.0%

Tabela 29: Comparativo da distribuição de Stand Ups por editorias

M G TV Jo rnal da A ltero sa 100%

Jo rnal M inas

90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

Clima Tempo

Policial

Polí tica

Trânsit o

Gráfico 29: Comparativo da distribuição de Stand Ups por editorias

 

195  

4.2 Identificação estrutural

A partir da descrição e da análise pontual dos elementos constituintes da estrutura dos três telejornais, percebe-se que há uma recorrência básica, que determina a tonalidade dos noticiários e fundamenta a afirmação de que todos pertencem à mesma frente de disponibilização de informação. Não obstante, diferenciam-se de modo tênue nas escolhas ao longo da semana, ao sabor dos acontecimentos, ao passo que também se dá de forma mais clara em opções de padrão do programa. Compreende-se que, determina-se a quantidade de blocos e o tempo dos mesmos estabelecendo um formato, reconhecido pelo telespectador em razão da recorrência. O mesmo pode se dizer do posicionamento (sequencialização) dos temas e da variação da tensão durante o programa, mas a essência se extrai muito a partir de um padrão de noticiabilidade que varia a partir do menu de episódios que se dão fora de um controle do jornalismo. Como as decisões variam de uma instância produtora para a outra, provavelmente poderia se afirmar, antes mesmo da análise, que os telejornais observados não se identificam em suas coberturas e em organização. Não obstante, são análogos (ora com um, por vezes com outro) em alguns aspectos, o que pode embasar algumas assertivas, do tipo que segue. Há um peso proporcional entre os espaços enunciativos, com destaque para o externo, quase sempre com 2/3 do tempo total da atração, deixando a veiculação de estúdio com boa parte dos outros 1/3, e uma pequena porcentagem para as vinhetas e mapas. Não obstante, as vinhetas são uma constante ao longo dos programas, dando dinamicidade aos noticiários e estabelecendo as passagens necessárias. Algumas entradas, como as matérias, são recorrentes, com uma veiculação média de 7,5 por dia. As entrevistas estão sempre presentes no telejornal, pautando o efeito de real, ainda que com durações distintas nas três instâncias de emissão. Outras que parecem comuns, porém, como as Notas Cobertas, não são tão utilizadas no Jornal Minas, que apresenta uma disparidade em relação ao volume da concorrência. A sequência temática varia muito (ainda que haja um evidenciamento a assuntos ligados ao tempo, ao trânsito, a saúde e ao mundo policial), ainda que em média tenha o factual (quente) no começo, o comum (cotidiano/serviços) no meio, e o que é leve e agradável ao final.

 

196  

Sequência que vem se alterando, quebrando uma pretensa e tradicional linearidade narrativa dos noticiários, ao passo que estabelece outra, um pouco mais retalhada, construída em cima de uma linha que, ainda assim, é compreendida pela audiência. Tais concepções articulam-se de modo ainda mais amplo, em sua possível afetação à recepção, o que não pode ser confirmado de modo direto, mas que pode ser interpretado a partir de uma leitura mais detalhada dos efeitos visados, corroborada por toda uma compreensão do processo comunicativo estabelecido entre os noticiários e os telespectadores, conforme delineia-se nas considerações finais desta dissertação.

 

197  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Santa clara, padroeira da televisão Que a televisão não seja o inferno, interno, ermo Um ver no excesso o eterno quase nada... quase nada... Que a televisão não seja sempre vista Como a montra condenada, a fenestra, sinistra Mas tomada pelo que ela é De poesia (Caetano Veloso)

 

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Revendo as propostas Na epígrafe desta seção, Caetano Veloso, em tom de oração, pede a Santa Clara e nos interpela para que vejamos a televisão pelo que ela é, sem embargos ou pessimismo. Que saibamos vê-la, interpretá-la, compreendê-la, ajuizados na razão e não nos lugares-comuns – tanto dos apocalípticos quanto dos integrados. É preciso buscar o caminho do meio, com um tanto de entusiasmo. De alguma forma, o que este trabalho também tentou fazer foi apresentar alguns indicadores que permitam observar a televisão, a fim de decifrá-la, ainda que de modo fragmentado. Nesta seção, porém, o autor glosa, muito particularmente, subsidiado pelas informações que outrora foram apresentadas, sobre como os telejornais de Minas Gerais aqui examinados desenvolvem suas dinâmicas e que conclusões podem ser tiradas delas. Para tanto, é preciso recuperar os objetivos apresentados na introdução deste trabalho, por meio dos quais se percebe que o intento macro do estudo era o de gerar padrões sintéticos que permitissem analisar como e com que intuito os telejornais de Minas Gerais, no desígnio de articular um processo comunicativo com os telespectadores, organizam-se e estabelecem discursos por meio de sua estrutura e de sua apresentação. O trabalho chegou a este ponto, na medida em que desenhou uma metodologia própria, esquematizando uma sequência cronológica de recorte, descrição e análise de dados, balizada pelas potencialidades da Análise do Discurso, o que foi detalhadamente descrito no capítulo 2. Não obstante, era preciso colocá-la à prova, com um corpus bem definido, conforme o objetivo geral pedia. Assim, procedeu-se ao delineamento de três dos principais telejornais do estado, observando os pormenores de sua organização estrutural e de seus modos de apresentação. Para tanto, como objetivos específicos, tinha-se projetado quatro pilares, começando justamente com a confecção de um plano metodológico específico. Dois dos outros três se referiam propriamente a descrever e analisar a dinâmica de apresentação e estruturação dos telejornais MG TV, Jornal da Alterosa e Jornal Minas – todos em suas primeiras edições, como se deu e pôde ser visto nos capítulos 03 e 04. Contribuições para o CAPTE O último intento deste trabalho, entre os específicos, era ajudar o CAPTE; considerase que a presente dissertação auxilia o projeto, na medida em que traz contribuições que  

199  

podem ser utilizadas de forma direta ou que servirão de base para constituição de novas frentes. Assim, atrela-se a pesquisas mais amplas que também geraram benefícios para este centro, tais como os estudos de Sabino (2011) e Ramos-Pereira (2012), entre outros, dilatando o campo de trabalhos científicos que incluem ainda as abordagens de Souza (et. al., 2011), Muthukumar (et. al., 2011), Lima (et. al., 2010), os já citados Ramos-Pereira (et. al., 2012; et. al., 2011) e Sabino (et. al., 2011), e muitos outros, produzidos por autores que estão filiados e enveredando esforços para a constituição do sistema de disponibilização de vídeos televisivos. Para tanto, este trabalho gerou uma metodologia que pode facilitar um processo de reconhecimento, separação e até análise automática dos programas. Em relação à estrutura, além da descrição das partes, ainda formatou os parâmetros de editorias, vinculações temáticas e as subseções compreendidas, o que pode se tornar um padrão para a categorização das entradas no sistema de disponibilização de vídeos do CAPTE100. As entradas, por sua vez, foram uma a uma descritas, o que facilita o reconhecimento do tipo de construção realizada pelos noticiários para apresentação dos conteúdos e ainda serve de base para a separação no sistema e orientação às buscas dos usuários. Mais uma vez, uma perspectiva análoga poderá ser realizada em trabalhos futuros com a análise das reportagens, em que a descrição de itens como off, passagem, sonoras, entre outros, pode ser realizada e também terá condições de auxiliar o projeto. Assim, espera-se, com a presente pesquisa, ter respondido e gerado subsídios para a emergência dos critérios de exaustividade e especificidade – os principais para um centro de documentação e disponibilização de informações audiovisuais televisivas, segundo Lancaster (2004). Isso, na medida em que cria uma gama de termos técnicos para indexação dos vídeos, e em que oferta nuances da apresentação e estrutura dos telejornais, elementos que os particularizam, os tornam únicos, especificando a vinculação. A partir do conhecimento do perfil dos usuários (DAVID-SILVA; BRAIGHI; SABINO, 2012), e do cruzamento com os elementos apresentados neste trabalho, será possível ainda customizar o sistema de disponibilização e buscas das informações; na garantia de uma indexação eficiente, um acesso inteligente ao banco de dados audiovisuais. Neste cenário, dar-se-á apoio aos trabalhos de pesquisadores sobre o sistema de televisão brasileiro, ou que utilizam vídeos produzidos e veiculados por emissoras desse segmento, contribuindo para a preservação de parte da memória social nacional e para a realização das mais diversas pesquisas científicas. 100

Vide, nos anexos, a lâmina proposta para o ambiente de indexação de telejornais do CAPTE, gerada a partir das contribuições desta dissertação.

 

200  

Contudo, o trabalho não se encerra aqui. Com base no atual arcabouço de pesquisas, acredita-se que serão desenvolvidas novas técnicas para processamento, indexação e recuperação de informações multimídia (em especial, vídeos), as quais são de grande importância para assegurar o sucesso de diversos serviços, especialmente aqueles relacionados à produção de conteúdo. Por fim, ratifica-se a condição do CEFET-MG, em sua particularidade, demonstrando ser mais uma vez um local propício para a execução de um projeto de tal porte – o CAPTE. Tendo como principais marcas o desenvolvimento tecnológico e a interdisciplinaridade, a instituição alarga ainda mais os seus horizontes, ampliando as abordagens ao sistema televisivo, à modelagem matemática e computacional, aos estudos de linguagens e à análise do discurso midiático, gerando um benefício à sociedade, a partir do trabalho de seus pesquisadores. Pesquisas futuras A fim de compreender esse universo que é a televisão, é preciso que (muitas) outras frentes sejam articuladas. Do ponto de vista dos telejornais, (sub)gênero que, como visto, tem grande importância e representatividade social, este trabalho não teve condições de averiguar uma série de elementos constituintes que ampliariam a visão sobre o suporte e, consequentemente, da sociedade em que está inserido. A principal lacuna provavelmente se aloje na análise das reportagens, não abarcadas aqui por limitações de tempo para articulação da pesquisa e de espaço dentro do escopo de um trabalho desta largura. Estudos futuros podem ser empreendidos com vistas a perceber como se dá o agenciamento dos três efeitos (realidade, ficção e patemização) nas reportagens, até mesmo em telejornais de Minas Gerais, o que seria uma complementaridade à pesquisa aqui exposta, ratificando ou relativizando afirmações realizadas anteriormente. Para tanto, pode-se tomar como referência novamente a junção da Análise de Conteúdo com a Análise do Discurso, desenvolvendo ainda mais o esquema metodológico proposto na presente pesquisa. Esta dissertação ainda sinaliza duas frentes que podem ser interessantes, devido ao ineditismo e aos campos que podem aclarar. De um lado, há a ideia de tensiograma defendida por David-Silva (2005), aqui utilizada de modo muito superficial, mas que merece uma revisão e a elaboração de estudos que tomem a tensão dos programas jornalísticos como fortes indicadores do ethos dos noticiários.

 

201  

De outro, houve a utilização neste trabalho da expressão interjeição não-verbal, que se relaciona ao gestual e às pequenas e rápidas expressões faciais dos apresentadores nos telejornais, que podem denotar (ou conotar) amplos posicionamentos discursivos, acompanhados ou não do texto verbal. Alguns trabalhos têm se dedicado a analisar a performance dos apresentadores, mas poucos detalham a brevidade desses movimentos sob a ótica discursiva (GODOY-COTES, 2000; 2008). De todo modo, considera-se ainda que cada um dos elementos constituintes da apresentação e estrutura dos telejornais têm condições para, por si só, fomentar trabalhos distintos. Isso proporcionaria um avanço pontual na leitura desses dois aspectos dos noticiários, fornecendo fortes indicadores de compreensão desse produto televisivo. Como referência, porém, indica-se a utilização da perspectiva dos efeitos, o que auxiliaria na complementação das ideias aqui expostas. De modo a abrir um pouco mais o leque de interpretação, para além do que fora pontualmente discutido no terceiro e no quarto capítulos deste trabalho, pode-se tomar como base o empreendimento do primeiro capítulo, em que se viu que os principais efeitos visados pelos telejornais assentam-se nas propostas de realidade, ficção e patemização. Ao verificar cada uma das frentes ligadas à apresentação e à estrutura dos noticiários, entende-se como essas perspectivas estão amalgamadas. Dos efeitos na estrutura dos telejornais Invertendo a ordem, a leitura dos dados sobre a organização dos telejornais condiciona afirmar que cada noticiário procura articular uma sequência temática que os particularize. Percebe-se que as atrações estabelecem uma condução narrativa própria, mas reconhecível pela audiência. O modo de condução de todos os programas gera uma estrutura baseada na alternância, ainda que as intrigas pareçam tomar os primeiros postos – evidenciadas no primeiro bloco. Contudo, como estratégia de captação e manutenção de audiência, MG TV e Jornal da Alterosa têm procurado recuperar os temas de destaque em suas subdivisões finais. Ao contrário, o Jornal Minas parece seguir um encadeamento padrão, reiterado diariamente, começando com as ações principais (balizadas pelos acontecimentos de impacto) para, após, abordar as secundárias (ainda que com apelo junto à audiência, como o esporte, por exemplo). Em todos os casos, o efeito de ficção emerge, na medida mesma em que a estrutura dos telejornais são seus modos de organizar e (re)construir o mundo, estabelecendo uma macro-diegese dos acontecimentos mais importantes que se deram ou se darão em seus raios  

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de atuação, enfileirando-os segundo uma lógica própria de condução. Os efeitos de realidade parecem ser condição essencial à estrutura dos telejornais, uma vez que lidam com fatos ainda que relatados, enquanto os de patemização são reforçados mais às custas das investidas dos modos de apresentação. Ainda assim, algumas estratégias são visíveis na estrutura: as mini-escaladas na saída para o intervalo, com os destaques da próxima parte do noticiário (muitas delas acompanhadas por trilhas sonoras e grafismos); as chamadas de matéria ao longo do telejornal (costume de programas de outros gêneros); a auto-referencialidade, que reforça os valores do telejornal, por meio da sua marcação espacial e temporal além de presença na grade de uma emissora, por meio de vt’s/calhau e da dinâmica de apresentadores; a divisão diferenciada do tempo dos blocos (destacando o Jornal da Alterosa) ou de determinadas entradas (como a previsão do tempo, na Globo Minas); a utilização de uma grande variedade de tipos de entradas e intercalação de temáticas diferentes, assim como a aposta em motes diferenciados, como esportes (Jornal Minas), comportamento (MG TV) e internacional (Alterosa); entre outros. Há ainda a utilização de vinhetas especiais. No Jornal Minas, como exemplo, algumas delas marcam no mapa de Minas Gerais a cidade em que a matéria a ser exibida foi produzida. O movimento não dura mais do que 6 segundos, mas depõe a favor do ethos do noticiário, como programa de ampla cobertura, sabedor do que acontece em todo o estado. A presença delas também no MG TV e Jornal da Alterosa geram o efeito de realidade, ao demonstrar a seriedade e importância do que será exibido – na mesma medida em que o telejornal tem a acuidade com o tema, e de patemização, uma vez que há a utilização de grafismos e efeitos sonoros para chamar a atenção da audiência. Dos efeitos na apresentação dos telejornais A análise das vinhetas que abrem os telejornais permite dizer que elas são metáforas gráficas que emanam os três efeitos junto à audiência: 1) realidade, na medida em que utilizam elementos que, ainda que não reconhecíveis à primeira vista, permitem ao telespectador perfilhar os valores da atração que assiste, relacionando-a ao mundo em que está inserido; 2) ficção, uma vez que articulam por si só uma narrativa imagética-discursiva, sem a qual o sentido não é apreendido; e 3) patemização, por utilizar subsídios de afetação dos sujeitos, baseados na arte articulada pela engenharia audiovisual.

 

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Pontualmente, e de modo geral, os telejornais em questão articulam as vinhetas visando agregar os valores relacionados à ampla cobertura, monitoramento constante, agilidade, organização e compreensão social, compondo o bojo dos efeitos de realidade. Mais especificamente, cada arte, em menos de 10 segundos, conta uma breve história, a partir da qual é possível extrair os sentidos listados acima. Isto é, pode-se retirar ainda significados particulares a cada uma das produções, que facultam destacar uma imagem pretendida, conforme descrito na seção 2.5. Nas vinhetas, o MG TV parece proceder a uma seleção própria dos acontecimentos, organizando-os e trazendo-os à luz segundo uma lógica própria de produção, em um padrão Globo de produção jornalística. Dos outros lados da tríade, enquanto o Jornal da Alterosa é veloz em sua vinheta, estabelecendo relações de Minas Gerais com o Brasil e o Mundo, por exemplo, o que pode ser comprovado com a celeridade das entradas e a utilização de notas nacionais e internacionais, o Jornal Minas foca exclusivamente no estado sede, com uma cadência própria e uma cobertura que contempla toda a unidade federativa, como pode ser observado pelas reiteradas marcações ao longo do programa. As vinhetas, contudo, são precedidas das escaladas. Apesar de terem espaços bem marcados, se fundem, designando um composto híbrido que se avoca abertura de telejornal, não podendo ser compreendida sem a análise precedente e pontual de seus componentes, mas tampouco desconsiderando os sentidos que emanam do todo. Nos três telejornais, essas duas variáveis apresentam-se conectadas, dessa forma, se pode dizer que o composto de valores mencionado sobre as vinhetas se acentua com a escalada, ao mesmo tempo em que a sumarização também se beneficia de tal agregação da arte. De modo mais específico, a translação com o cardápio parece ser uma comparação lúdica e de fácil apreensão para caracterizar a escalada. Nela, os pratos do dia são postos à vista do freguês, no intuito de captá-lo e mantê-lo do início ao fim do programa. Para tanto, os efeitos patêmicos se dão no acompanhamento da trilha que marca a entrada das manchetes, na dinamicidade, na escolha das imagens mais representativas e tocantes, na construção do texto mais expressivo, em funções diferenciadas dos apresentadores, na utilização de grafismos, nas múltiplas vozes (personagens) presentes e na proposta de uma sequência temática particular, que pode revelar as preferências do emissor e dos receptores, em um encadeamento que, por mais que não seja seguido igualmente ao longo do noticiário, revela, em parte, como ele se dá. Patemização, realidade e ficção estão em linha tênue, mais uma vez, aqui. As estratégias da escalada visam captar, na medida mesma em que assentam o sumário nas condições do real e de valores que agregam posições positivas aos telejornais, ao passo em  

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que evocam compreensões outras por meio de uma narrativa que amalgama signos compreendidos em uma segunda instância. Isso tudo, reforçado, ou no mínimo é atravessado, pela junção com as vinhetas. Outro vetor que influencia na sumarização e, junto com a dinâmica dos apresentadores e das vinhetas, articula o quadrilátero de apresentação dos telejornais, é a cenografia. Os cenários, como espaços enunciativos da exposição jornalística, constituem uma frente importante de observação, como foi visto. Sua razão parece ser muito mais patêmica, na medida em que encantam pelo belo, espaço quase-metafísico criado pela magia televisiva, fora de nossa rotina, de nossa realidade. Ambiência quase-fictícia – será que ela existe? Modelos aeroespaciais que parecem planar sobre o mundo – ao menos, em maioria, acima de Minas Gerais, invocando valores por sua plasticidade, cores e recursos, fazendo agir também, nada paradoxal, os elementos ligados ao campo ficcional e aos efeitos de realidade. Os estúdios são decorativo-modulados e, cada um a sua maneira, dão indícios ao telespectador de como os telejornais querem ser vistos. Como um dos principais exemplos, há a utilização das tecnologias, cada vez mais presentes, o que parece ser um caminho natural, fazendo emergir a ideia de jornalismo ágil, sempre em alerta, moderno, entre outros valores, ainda que alguns noticiários, como o da Rede Minas, pareçam ter certa resistência. Embora possa se julgar por falta de recursos, ao passo que o Jornal Minas não se incrementa com os tablets, por exemplo, não se infama por isso – faz mais o tipo de programa à moda antiga (nem tão passada assim), com caneta e papéis à mão, o que agrega uma série de outros predicados. Os elementos plásticos (proporcionais) do cenário do MG TV e Jornal Minas, apesar de serem distintos, parecem obter sentidos muito próximos – ainda que os efeitos sejam apenas visados. Já o Jornal da Alterosa se diferencia de forma extrema com sua dessimetria. Os três, supõe-se, buscam constituir uma ideia de verdade – condição fundamental nos noticiários, mas cada um a sua maneira. Em complementaridade ao que já foi descrito na seção 4.4, esses telejornais afetam os sujeitos a partir da ideia de sobriedade (como deve ser dito), adequação (o que deve ser dito), e proporcionalidade ([tudo] o que aconteceu, deve ser dito), respectivamente. Tal assertiva se ancora não apenas na observação cenográfica, mas como resíduo da interpretação discursiva da equação entre as quatro frentes de apresentação mais a estrutura. Contudo, propõe-se que tal condição emerge por meio do que a dinâmica dos apresentadores revela. Longe da representatividade rasa dos homens-troncos de outrora, hoje eles (e elas) são personagens com grande apelo junto à audiência. Se a escalada é o menu e o cenário é a  

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ambientação, os apresentadores são os maîtres dos telejornais, ou os pilotos das aeronaves. E, como tais, conduzem os seus respectivos noticiários com maestria. Ainda que a coerência não pareça tão evidente, os apresentadores dão coesão à narrativa do programa, fazendo a estrutura funcionar, encadeando os temas com um ritmo próprio. São os fiadores da verdade, na medida em que trazem os fatos aos telespectadores. Eles observam o mundo de cima, com totalidade, e, de lá, contam o que veem. Assumem, para tanto, boa parte do capital visual e sonoro das atrações que comandam. Têm todos os recursos sob controle – equipes e equipamentos. Como não poderia se fazer presente a realidade? Contudo, passo a passo, mais distante da verticalidade do processo informativo, os telejornais buscam estabelecer a ideia de parceria; os apresentadores procuram se aproximar cada vez mais do público, seja com os enquadramentos, movimentos, gestual e, principalmente, com a dinâmica enunciativa, deflagrando abertamente um processo de captação da audiência, pelo reconhecimento de uma linguagem familiar. Paralelamente, mais importante, atentam-se para a visada informativa, assentando sua performance nos efeitos de realidade. Cada um a sua maneira, os três telejornais transmitem saber, ao passo que interpelam o público de modo a apreendê-lo e mantê-lo. Para tanto, são coloquiais, espontâneos e informais na Alterosa; sóbrios, moderados e comedidos na Rede Minas; e cordiais, diligentes e afáveis no MG TV; com um tanto de simpatia e entusiasmo nos três noticiários, variando em suas tonalidades e expressões em cada caso. O público os caracterizam, como a um amigo. Qualidades encontradas em alguém com quem o telespectador gosta de conversar, de quem ouve confidências acerca do que acontece em seu estado e por quem guardam afetos mútuos. Os telejornais Ao final, a partir desta análise parcial (já que não foi contemplado neste trabalho o exame das reportagens – por limitações espaço-temporais), percebe-se que os telejornais analisados constroem os seus ethos discursivos por meio das mais distintas estratégias, diferenciando-se, assim, marcadamente uns dos outros. O Jornal Minas é um programa de uma instituição pública, mas, em um primeiro olhar, não há nada de mais relevante que o caracterize como tal (apenas por inquirições não pontuais); tampouco em razão dos valores ou descréditos que essa relação poderia causar. Ao menos é o que se supõe ao compará-lo com os correlatos de outras emissoras. Sua dinâmica é  

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particular e em nada perde para os outros. Há a recorrência de padrões telejornalísticos combinada com um modo próprio de fazer noticiário televisivo. Suas principais marcas parecem estar vinculadas a um fazer jornalístico um pouco mais tradicional – evidenciado pela dinâmica de sua apresentadora e pela arquitetura do noticiário, pelo ritmo da atração (um pouco mais lento do que os concorrentes), pela abertura – ao que acontece tanto em Belo Horizonte quanto no interior do estado, e a uma valorização da imagem de Sandra Gomes – que se transforma em valoração, na medida em que esta transmite propriedades outras ao programa. O que invoca afinal é ampla cobertura, com detalhismo. É, por fim, um noticiário que se distende ao longo de sua exibição, mostrando à audiência que Minas é caos, mas há beleza e fantasia nas Gerais também. Isso se dá assim como fazem os outros, ainda que o Jornal da Alterosa valorize (evidencie) mais a tensão que emana das intrigas, e o MG TV mostre os problemas e as graças do mundo em ondas, que nem sempre se quebram ao final, pois a realidade não se encerra com o telejornal. O Jornal da Alterosa chama para si a responsabilidade em mostrar para o telespectador o mundo como ele é. Advoga em favor da verdade a qualquer custo. E um dos custos parece ser a objetividade. Para dar conta do que acontece, deve ser ágil, abrangente, com muitas reportagens e notas, evidenciando imagens e relatos – ainda que muitos deles sejam de seus próprios apresentadores, que criticam a realidade articulada na televisão. Os valores associados à celeridade e ampla cobertura são uma constante em todo o Jornal da Alterosa – de sua escalada até as partes de sua estrutura. Contudo, o que é mais evidente é o caráter descerimonioso, pessoal, mais direto, extrovertido e sem reservas na relação com o telespectador. O mais interessante é que, sobretudo da parte de Benny Cohen, tal condição parece natural, própria da pessoa que sustenta o apresentador, o que endossa ainda mais as características do telejornal. No MG TV, os atributos ligados à Benny parecem emergir em Scalabrini. Contudo, as ambiências são outras, e os contratos que outrora regiam cada uma destas atrações e emissoras, particularizam a atuação dos apresentadores e todo o conjunto de investidas no noticiário. Como diversas vezes evidenciado, o jornal da Globo Minas segue um padrão nacional para produções locais, ainda que a recepção particularize a atração, levando em consideração o pluralismo cultural de nosso país. Há hoje, porém, um esforço diário do MG TV sobre a visada de captação. Antes a visada informativa parecia suficiente para a manutenção da audiência nesse programa, tendo em vista os valores correlatos aos efeitos de realidade. Isto é, ainda há uma carga pesada nos  

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efeitos de saber desse noticiário, o que o legitima. Contudo, dinamicidade, espontaneidade, conversas descontraídas, entre outras estratégias (ainda que nem pareçam tão intencionais assim), embrenham-se à informação, retirando o peso do processo e dando-lhe uma faceta mais convencional, o que, nada contraditoriamente, autentica o noticiário. Por um padrão de telejornais As linhas entre os três efeitos parecem, em verdade, então muito tênues nos telejornais; aliás, em muitos momentos parecem se embaralhar, já que as perspectivas agem ciclicamente umas sobre as outras e sob os sentidos que visam produzir. Em geral, na tentativa de se extrair um padrão de telejornal no estado, compreende-se que, de qualquer forma, eles estão inebriados pela tônica da dupla condição mercado midiático versus a função dos meios de comunicação - informação, que têm como produto a dualidade entre fazer-saber (informação) e fazer-crer (processo de persuasão) que remete, muitas vezes, como já relatado, mais ao fazer-sentir, convivendo cotidianamente. Não obstante – nesse entre-dois diário – comunicando e persuadindo, continuam representando valorosos portadores do conhecimento. São alguns dos principais baluartes, não do mundo – ou de Minas, mas de boa parte do que sabemos dele – e dela, pois convivemos com outras formas de (re)construção social da realidade, inclusive midiáticas. Ainda assim, indaga-se se, por dezenas de motivos, sobretudo aqueles ligados à acessibilidade e presença do equipamento, a televisão seja uma das principais representantes desse amplo processo logístico, que tem como mote transformar fatos em notícias, mas que abarca, para tanto, uma série de elementos condutores. Telejornais: entre o espelho e a janela O telejornal procura ser espelho do real – ao menos da realidade social compartilhada, mas parece não alcançar tal viés. Isso pois, apesar de o mundo se abrir à captação, se insinuar ao telejornal, este o reedifica. A realidade apresentada pelos noticiários, então, não é nada mais do que o real configurado por uma lógica própria, embora sustentada por um anseio telespectador. Isto é, a janela é construída com base em um conhecimento técnico, mas seguindo o desejo do público sobre a paisagem que deseja admirar. Nesse contexto, a metafórica apreensão do valor da televisão (e, por conseguinte, dos telejornais) como janela para o mundo se faz presente e deixa entrever, como outrora  

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elaborado, distintos detalhes. Sua largura demonstra o campo de visão ao qual se abre. Seus métodos de abertura e fechamento, além de suas hastes de sustentação, podem indicar formas e condições de olhar. Suas barras de alisar são elementos estéticos que deixam o panorama (e até a janela) mais agradável. E seus vidros, que são como filtros, emborracham a vista. No comparativo, de trás para frente e respectivamente, os modus operandi dos noticiários inebriam uma concepção mais ampla sobre os acontecimentos e influenciam na compreensão dos fatos, na medida mesma em que é uma forma de olhar – ainda que haja um reforço dos efeitos de realidade, pois, nas palavras de Baudrillard (1991), é mesmo assim que se anula o real. Seus elementos estético-discursivos e outras visadas de captação, muitas baseadas na patemização, tal como o que se articula nas vinhetas, cenários, escaladas, figurinos, formas diferenciadas de apresentação, além de outros recursos plásticos e audiovisuais, dão leveza e fluidez ao telejornal – e mesmo ao mundo, mostrando que nem tudo são trevas e que há beleza em meio às intrigas. Contudo, a estrutura, apesar de sustentar e organizar o programa, pode gerar pontos cegos e conduzir o olhar do telespectador para determinadas frentes, tal como pode acontecer com a dinâmica dos apresentadores, que são os responsáveis pela entrada e corte de conteúdos, tapando determinados horizontes ao passo que potencializam enxergar outros com as aberturas que empreendem. Por fim, o modo como o telejornal tenta abraçar o mundo demonstra sua anchura, o que não é suficientemente bom, pois quando mais largo é o campo de visão, menos estreita parece ser a dimensão que sustenta a janela, afastando quem vê da essência do que é visto, ainda que a impressão não seja esta – o que parece ser cada vez mais comum. Isso tudo, mais uma vez, é articulado não somente por um processo de manipulação midiática, mas por um desejo (ainda que não manifesto claramente) de um corpo telespectador, que pretende ver o telejornal como um espelho, mas que lhe devolve necessidade de representação, amparada em determinados critérios socioculturais, mesmo que pela janela. Entretanto, ainda que os noticiários não concebam igual e totalmente o social, ao menos parecem refletir parte do funcionamento de uma sociedade na contemporaneidade. Minas e os mineiros, entre espelhos e janelas A sociedade se espelha então encaixilhada, influenciada pelo fazer jornalístico, ainda que os efeitos de realidade não permitam chegar diretamente a essa conclusão. Parece  

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ser, contudo, no choque entre as atrações, que nasce a dúvida. Se cada telejornal se dirige a um determinado público, constrói o mundo por uma dinâmica diferenciada. A ideia de realidade passa a ser, então, apenas uma perspectiva. Estariam presentes, apenas na leitura de todos os telejornais diários, as Minas Gerais em sua totalidade? Ainda assim, não; tampouco se teria na audiência aos jornais da rádio, da web e impressos, no mesmo período. Não obstante, os telejornais se fazem compreendidos por todo telespectador do estado. Essa condição emana da rotina, da familiaridade, do fortalecimento dos laços e da remissão a algo comum, ainda que a linguagem e as estratégias sejam diferenciadas. Temse de um lado a identificação de parte do público com as estratégias do (de um) telejornal (que se torna um, meu), mas que se situa, ou orbita, no aqui – Minas Gerais, lidando com algo público (compreendido/aceito por qualquer um) e de uma comunidade (nosso) (LEAL, 2009). O que se tem afinal são as Minas, nada Gerais, de MG TV, Alterosa e Rede Minas. Gerais, nada minhas, mas também de José, Pedro e Maria. O que se tem são constructos diferenciados, representações do espaço público mineiro – ainda que mais da capital, sob diversos ângulos, empreendidos a partir de escolhas particulares. Informação direcionada a um público tão heterogêneo quanto seu estado de origem. Parafraseando e reivindicando uma vez mais Guimarães Rosa, “Minas Gerais são muitas; são, pelo menos, várias Minas”, e quantas mais poderá haver sob o olhar dos telejornais?

 

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220  

ANEXOS

 

221  

FICHA DE INDEXAÇÃO DE TELEJORNAIS







SISTEMA DE INDEXAÇÃO DE VÍDEOS TELEVISIVOS (SIV/CAPTE) AMBIENTE DE INDEXAÇÃO DE TELEJORNAIS



Nome do programa: ________________________. Sigla/Alcunha: _________________. Canal de emissão: __________________________. Sigla/Alcunha: _________________. Data de Exibição: T ____/ T ____/ T ________. Dia da Semana: ________________________. Duração total da emissão: ____:____:____. Duração da emissão sem intervalos: ____:____:____. Número de blocos: T ____. Apresentador(es): ___________________________________________(separar nomes com “;”). Descrição cenográfica básica do programa:______________________________________________________________ ___________________________________________________________________. (Taplicar informações do banco de dados existente). Quantitativo de Entradas: Vinhetas: T _____. Escaladas: T _____. Matérias: T _____. Notas Cobertas: T _____. Notas Simples: T _____. Nota Pé: T _____. Stand Up: T _____. Previsão do Tempo: T _____. Entrevistas: T _____. Encerramento: T _____. Chamadas de bloco: T _____. Cabeças: T _____. Teaser: T _____. Chamada de calhau: T _____. Espelho ‐ Estrutura TEntrada 1

Tipo: T __________________. Retranca/Título: _____________________________. Categoria: T _______________________. Subseção: T _______________________. Cena enunciativa: T _______________________. Assunto em destaque: _______________________. Síntese/Sinopse:___________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________. Duração: ____:____:_____. Referência temporal do telejornal: Início em ____:____:____ e término em ____:____:____. Nome das pessoas envolvidas:*  Apresentador(es): _________________________  Repórter:____________________________  Entrevistado(s): ____________________________  Produtor(es):_______________________  Cinegrafista(s): _____________________________  Editor(es):__________________________*separar nomes com “;” Imagens em destaque:_____________________________________________________________________________________. Observações adicionais:___________________________________________________________________________________.

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222  

JORNAL MINAS Por meio dos quadros abaixo, é possível verificar como se processa a dinâmica de apresentação do noticiário em questão e a frequência de determinados indicadores descritivos. Tempo total da emissão CATEGORIAS Tempo Total dos programas (sem intervalos) Tempo Médio dos Programas

JORNAL MINAS 02:13:36 00:26:43

Tabela - Anexo 01: Tempo total da emissão do Jornal Minas.

Tempo por emissão – Espaços enunciativos JORNAL MINAS CONTEÚDO

INTERNA

EXTERNA

VINHETA

GRÁFICOS

SUBTOTAL

Chamada de Matéria

00:11:20

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:11:20

Chamada de Intervalo

00:01:12

00:01:44

00:00:00

00:00:00

00:02:56

Entrevistas

00:12:33

00:05:32

00:00:00

00:00:00

00:18:05

Escalada

00:02:02

00:02:28

00:00:00

00:00:00

00:04:30

Nota Pé

00:06:42

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:06:42

Nota Simples

00:10:18

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:10:18

Previsão do Tempo

00:00:13

00:00:00

00:00:00

00:03:26

00:03:39 01:03:36

Matéria

00:00:00

01:03:10

00:00:00

00:00:26

Vinheta

00:00:00

00:00:00

00:03:25

00:00:00

00:03:25

Créditos

00:00:00

00:02:26

00:00:00

00:00:00

00:02:26

Nota Coberta

00:00:38

00:00:49

00:00:00

00:00:00

00:01:27

Stand Up

00:00:00

00:04:33

00:00:00

00:00:00

00:04:33

Encerramento

00:00:39

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:00:39

Total

00:45:37

01:20:42

00:03:25

00:03:52

02:13:36

%

34.14%

60.40%

2.56%

2.89%

100.0%

Tabela - Anexo 02: Tempo dos espaços enunciativos no Jornal Minas.

Tempo por bloco JORNAL MINAS Blocos

Tempo médio

%

1º Bloco

00:07:27

27.9%

2º Bloco

00:10:14

38.3%

3º Bloco

00:09:02

33.8%

Tabela - Anexo 03: Tempo de cada bloco do Jornal Minas.

 

223  

Tempo e número de entradas CATEGORIAS Matérias Média de Matérias por dia Tempo Total das Matérias na Semana Tempo médio das Matérias na Semana Tempo médio das Matérias Porcentagem do Tempo total do programa

JORNAL MINAS 37 7.4 01:03:36 00:12:43 00:01:43 47.60%

Notas Cobertas (NC) Média de NC por dia Tempo Total das NC na Semana Tempo médio das NC na Semana Tempo médio das NC Porcentagem do Tempo total do programa

4 0.8 00:01:27 00:00:17 00:00:22 1.09%

Notas Simples (NS) Média de NS por dia Tempo Total das NS na Semana Tempo médio das NS na Semana Tempo médio das NS Porcentagem do Tempo total do programa

28 5.6 00:10:18 00:02:04 00:00:22 7.71%

Nota Pé (NP) Média de NP por dia Tempo Total das NP na Semana Tempo médio das NP na Semana Tempo médio das NP Porcentagem do Tempo total do programa

26 5.2 00:06:42 00:01:20 00:00:15 5.01%

Nº de Entrevistas Média de Entrevistas por dia Tempo Total das Entrevistas na Semana Tempo médio das Entrevistas na Semana Entrevistas média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

7 1.4 00:18:05 00:03:37 00:02:35 13.54%

Nº de Stand Up Média de SU por dia Tempo Total dos SU na Semana Tempo médio dos SU na Semana SU médio x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

9 1.8 00:04:33 00:00:55 00:00:30 3.41%

Vinhetas Média de Vinhetas por dia Tempo Total das vinhetas na Semana Tempo médio das vinhetas na Semana Vinheta Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

31 6.2 00:03:25 00:00:41 00:00:07 2.56%

Continua

 

224   Continuação Escalada Média de Escaladas por dia Tempo Total das Escaladas na Semana Tempo médio das Escaladas na Semana Escalada Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:04:30 00:00:54 00:00:54 3.37%

Previsão do Tempo Média de PT por dia Tempo Total das PT na Semana Tempo médio das PT na Semana PT Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:03:25 00:00:41 00:00:41 2.56%

Chamada de Matérias Média de PT por dia Tempo Total das PT na Semana Tempo médio das PT na Semana PT Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

37 7.4 00:11:20 00:02:16 00:00:18 8.48%

Créditos Média de Créditos por dia Tempo Total dos Créditos na Semana Tempo médio dos Créditos na Semana Créditos Média x Tempo médio

5 1 00:02:26 00:00:29 00:00:29

Porcentagem do Tempo total do programa

1.82%

Tabela - Anexo 04: Tempo e número de entradas do Jornal Minas.

 

225  

Tempo por editoria TEMÁTICAS - SEMANA Ciência e Tecnologia % do Tempo do Programa Clima Tempo % do Tempo do Programa Comportamento % do Tempo do Programa Cultura % do Tempo do Programa Economia % do Tempo do Programa Educação % do Tempo do Programa Esporte % do Tempo do Programa Internacional % do Tempo do Programa Meio Ambiente % do Tempo do Programa Policial % do Tempo do Programa Política % do Tempo do Programa Saúde % do Tempo do Programa Serviços % do Tempo do Programa Sociedade/Cidade % do Tempo do Programa Trânsito % do Tempo do Programa

JORNAL MINAS 00:02:12 1.65% 00:13:41 10.24% 00:00:00 0.00% 00:08:22 6.26% 00:07:22 5.51% 00:07:14 5.41% 00:21:13 15.88% 00:00:00 0.00% 00:00:00 0.00% 00:13:11 9.87% 00:04:24 3.29% 00:16:00 11.98% 00:02:58 2.22% 00:12:35 9.42% 00:09:33 7.15%

Tabela - Anexo 05: Tempo por editoria do Jornal Minas.

Capital Temático Esporte 5.41%

3.29%

Saúde

15.88%

5.51%

Clima/Tempo

6.26%

Policial Sociedade/Cidade Trânsito 11.98%

7.15%

Cultura Economia

9.42%

10.24% 9.87%

Educação Política

Gráfico – Anexo 01: As 10 temáticas mais abordadas pelo Jornal Minas.

 

226  

Editorias por bloco – Sequência temática / conteúdo

JORNAL MINAS - TEMÁTICAS POR BLOCOS 1º BLOCO

TEMPO MÉDIO

%

Clima Tempo

00:02:17

38.1%

Saúde

00:00:54

15.0%

Policial

00:00:36

10.1%

Serviços

00:00:33

9.1%

Educação

00:00:30

8.4%

Economia

00:00:24

6.6%

Trânsito

00:00:20

5.5%

Cultura

00:00:14

3.9%

Política

00:00:12

3.3%

Total

00:06:01

100.0%

2º BLOCO

TEMPO MÉDIO

%

Saúde

00:02:24

24.4%

Policial

00:02:06

21.4%

Sociedade/Cidade

00:02:04

21.0%

Economia

00:01:05

10.9%

Educação

00:00:46

7.9%

Política

00:00:32

5.4%

Clima Tempo

00:00:27

4.5%

Ciência/Tecnologia

00:00:26

4.5%

Total

00:09:50

100.0%

3º BLOCO

TEMPO MÉDIO

%

Esporte

00:04:24

54.4%

Trânsito

00:01:35

19.5%

Cultura

00:01:26

17.8%

Sociedade/Cidade

00:00:27

5.6%

Educação

00:00:10

2.1%

Serviços

00:00:03

0.6%

Total

00:08:05

100.0%

Tabela - Anexo 06: Tempo de cada editoria, por bloco, no Jornal Minas

 

227  

Distribuição de temáticas por entradas ENTRADAS

NC

JORNAL MINAS NP

NS

MATÉRIA

ENTREVISTA

STAND UP

Temáticas

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

Ciência e Tecnologia

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:09

2.4%

01:44

2.7%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Clima Tempo

00:35

40.2%

00:00

0.0%

00:07

1.9%

04:53

7.7%

01:46

9.8%

02:03

45.1%

Comportamento

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Cultura

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:26

7.0%

06:58

11.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Economia

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:24

6.5%

06:09

9.7%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Educação

00:00

0.0%

01:43

19.0%

00:46

12.4%

02:02

3.2%

01:41

9.3%

00:00

0.0%

Esporte

00:00

0.0%

03:02

33.6%

01:55

31.0%

13:28

21.2%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Internacional

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Meio Ambiente

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Policial

00:00

0.0%

00:58

10.7%

00:31

8.4%

06:33

10.3%

02:50

15.7%

01:05

23.8%

Política

00:52

59.8%

00:58

10.7%

00:31

8.4%

01:30

2.4%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Saúde

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:42

11.3%

08:40

13.6%

05:24

29.9%

00:00

0.0%

Serviços

00:00

0.0%

00:40

7.4%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

02:18

12.7%

00:00

0.0%

Sociedade / Cidade

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:31

8.4%

06:41

10.5%

04:06

22.7%

00:00

0.0%

Trânsito

00:00

0.0%

01:40

18.5%

00:09

2.4%

04:58

7.8%

00:00

0.0%

01:25

31.1%

Total

01:27

100%

09:01

100%

06:11

100%

01:03:36

100%

18:05

100%

04:33

100%

Tabela - Anexo 07: Distribuição de temáticas por entradas no Jornal Minas.

 

228  

JORNAL DA ALTEROSA Um olhar detalhado para a primeira edição de Belo Horizonte nos revela os seguintes indicadores: Tempo total da emissão

CATEGORIAS Tempo Total dos programas (sem intervalos) Tempo Médio dos Programas

JORNAL DA ALTEROSA 02:11:00 00:26:12

Tabela - Anexo 08: Tempo total da emissão do Jornal da Alterosa.

Tempo por emissão – Espaços enunciativos JORNAL DA ALTEROSA CONTEÚDO

INTERNA

EXTERNA

VINHETA

GRÁFICOS

Chamada de Matéria

00:10:30

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:10:30

Chamada de Intervalo

00:01:34

00:01:41

00:00:00

00:00:00

00:03:15

Entrevistas

00:06:33

00:04:49

00:00:00

00:00:00

00:11:22

Escalada

00:02:18

00:05:08

00:00:00

00:00:00

00:07:26

Nota Pé

00:03:44

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:03:44

Nota Simples

00:08:17

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:08:17

Previsão do Tempo

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:03:42

00:03:42

Matéria

00:00:00

00:56:50

00:00:00

00:00:11

00:57:01

Vinheta

00:00:00

00:00:00

00:03:33

00:00:00

00:03:33 00:00:32

Créditos

00:00:22

00:00:10

00:00:00

00:00:00

Nota Coberta

00:02:25

00:18:05

00:00:00

00:00:00

00:20:30

Stand Up

00:00:00

00:00:30

00:00:00

00:00:00

00:00:30

Encerramento

00:00:38

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:00:38

Total

00:36:21

01:27:13

00:03:33

00:03:53

02:11:00

%

27.75%

66.58%

2.71%

2.96%

100.0%

Tabela - Anexo 09: Tempo dos espaços enunciativos no Jornal da Alterosa.

Tempo por bloco JORNAL DA ALTEROSA Blocos

Tempo médio

%

1º Bloco

00:18:41

71.3%

2º Bloco

00:03:47

14.4%

3º Bloco

00:03:44

14.2%

Tabela - Anexo 10: Tempo de cada bloco do Jornal da Alterosa.

 

SUBTOTAL

229  

Tempo e número de entradas CATEGORIAS Matérias Média de Matérias por dia Tempo Total das Matérias na Semana Tempo médio das Matérias na Semana Tempo médio das Matérias Porcentagem do Tempo total do programa

JORNAL DA ALTEROSA 40 8 00:57:01 00:11:24 00:01:26 43.52%

Notas Cobertas (NC) Média de NC por dia Tempo Total das NC na Semana Tempo médio das NC na Semana Tempo médio das NC Porcentagem do Tempo total do programa

38 7.6 00:20:30 00:04:06 00:00:32 15.65%

Notas Simples (NS) Média de NS por dia Tempo Total das NS na Semana Tempo médio das NS na Semana Tempo médio das NS Porcentagem do Tempo total do programa

22 4.4 00:08:17 00:01:39 00:00:23 6.32%

Nota Pé (NP) Média de NP por dia Tempo Total das NP na Semana Tempo médio das NP na Semana Tempo médio das NP Porcentagem do Tempo total do programa

23 4.6 00:03:44 00:00:45 00:00:10 2.85%

Nº de Entrevistas Média de Entrevistas por dia Tempo Total das Entrevistas na Semana Tempo médio das Entrevistas na Semana Entrevistas média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

9 1.8 00:11:22 00:02:16 00:01:16 8.68%

Nº de Stand Up Média de SU por dia Tempo Total dos SU na Semana Tempo médio dos SU na Semana SU médio x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

1 0.2 00:00:30 00:00:06 00:00:30 0.38%

Vinhetas Média de Vinhetas por dia Tempo Total das vinhetas na Semana Tempo médio das vinhetas na Semana Vinheta Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

30 6 00:03:33 00:00:43 00:00:07 2.71%

Continua

 

230   Continuação Escalada Média de Escaladas por dia Tempo Total das Escaladas na Semana Tempo médio das Escaladas na Semana Escalada Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:07:26 00:01:29 00:01:29 5.67%

Previsão do Tempo Média de PT por dia Tempo Total das PT na Semana Tempo médio das PT na Semana PT Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:03:42 00:00:44 00:00:44 2.82%

Chamada de Matérias Média de PT por dia Tempo Total das PT na Semana Tempo médio das PT na Semana PT Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

44 8.8 00:10:30 00:02:06 00:00:14 8.02%

Créditos Média de Créditos por dia Tempo Total dos Créditos na Semana Tempo médio dos Créditos na Semana Créditos Média x Tempo médio

5 1 00:00:32 00:00:06 00:00:06

Porcentagem do Tempo total do programa

0.41%

Tabela - Anexo 11: Tempo e número de entradas do Jornal da Alterosa.

 

231  

Tempo por editoria TEMÁTICAS - SEMANA Ciência e Tecnologia % do Tempo do Programa Clima Tempo % do Tempo do Programa Comportamento % do Tempo do Programa Cultura % do Tempo do Programa Economia % do Tempo do Programa Educação % do Tempo do Programa Esporte % do Tempo do Programa Internacional % do Tempo do Programa Meio Ambiente % do Tempo do Programa Policial % do Tempo do Programa Política % do Tempo do Programa Saúde % do Tempo do Programa Serviços % do Tempo do Programa Sociedade/Cidade % do Tempo do Programa Trânsito % do Tempo do Programa

JORNAL DA ALTEROSA 00:00:00 0.00% 00:18:21 14.01% 00:00:00 0.00% 00:03:29 2.66% 00:00:00 0.00% 00:02:00 1.53% 00:00:00 0.00% 00:04:18 3.28% 00:05:52 4.48% 00:10:16 7.84% 00:16:37 12.68% 00:12:48 9.77% 00:13:33 10.34% 00:11:09 8.51% 00:17:42 13.51%

Tabela - Anexo 12: Tempo por editoria do Jornal da Alterosa.

Capital Temático

4.48% 7.84%

3.28%

2.66%

Clima/Tempo

14.01%

Trânsito

8.51%

Política Serviços Saúde 13.51%

9.77%

Sociedade / Cidade Policial

10.34%

12.68%

Meio Ambiente Internacional Cultura

Gráfico – Anexo 2: As 10 temáticas mais abordadas pelo Jornal da Alterosa.

 

232  

Editorias por bloco – Sequência temática / conteúdo

JORNAL DA ALTEROSA - TEMÁTICAS POR BLOCOS 1º BLOCO

TEMPO MÉDIO

%

Clima Tempo

00:03:40

22.6%

Trânsito

00:03:04

18.9%

Saúde

00:02:34

15.7%

Política

00:02:14

13.8%

Serviços

00:01:13

7.5%

Policial

00:01:08

6.9%

Sociedade/Cidade

00:00:54

5.6%

Internacional

00:00:40

4.1%

Meio Ambiente

00:00:35

3.6%

Educação

00:00:14

1.4%

Total

00:16:16

100.0%

2º BLOCO

TEMPO MÉDIO

%

Serviços

00:01:29

45.1%

Sociedade/Cidade

00:00:33

16.6%

Política

00:00:29

14.6%

Trânsito

00:00:12

6.3%

Policial

00:00:12

6.2%

Internacional

00:00:12

6.1%

Educação

00:00:10

5.1%

Total

00:03:18

100.0%

3º BLOCO

TEMPO MÉDIO

%

Sociedade/Cidade

00:00:44

21.8%

Policial

00:00:43

21.3%

Cultura

00:00:42

20.6%

Meio Ambiente

00:00:35

17.0%

Política

00:00:24

11.7%

Trânsito

00:00:16

7.7%

Total

00:03:23

100.0%

Tabela - Anexo 13: Tempo de cada editoria, por bloco, no Jornal da Alterosa.

 

233  

Distribuição de temáticas por entradas ENTRADAS

NC

NS

JORNAL DA ALTEROSA NP MATÉRIA

ENTREVISTA

STAND UP

Temáticas

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

Ciência e Tecnologia

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Clima Tempo

03:02

15.4%

01:10

15.3%

00:08

3.6%

08:52

15.6%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Comportamento

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Cultura

00:56

4.7%

00:31

6.8%

00:04

1.8%

01:36

2.8%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Economia

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Educação

00:00

0.0%

01:09

15.1%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:40

5.9%

00:00

0.0%

Esporte

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Internacional

03:36

18.3%

00:00

0.0%

00:06

2.7%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Meio Ambiente

00:33

2.8%

00:00

0.0%

00:22

9.8%

04:08

7.2%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Policial

00:30

2.5%

01:04

14.0%

00:08

3.6%

06:26

11.3%

00:41

6.0%

00:00

0.0%

Política

00:49

4.1%

01:22

17.9%

01:00

26.8%

09:32

16.7%

01:39

14.5%

00:30

100%

Saúde

00:00

0.0%

00:08

1.7%

00:31

13.8%

07:41

13.5%

03:11

28.0%

00:00

0.0%

Serviços

03:02

15.4%

00:37

8.1%

00:00

0.0%

03:44

6.5%

05:11

45.6%

00:00

0.0%

Sociedade / Cidade

00:00

0.0%

01:09

15.1%

00:22

9.8%

07:26

13.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Trânsito

07:15

36.8%

00:28

6.1%

01:03

28.1%

07:36

13.3%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Total

19:43

100%

07:38

100%

03:44

100%

57:01

100%

11:22

100%

00:30

100%

Tabela - Anexo 14: Distribuição de temáticas por entradas no Jornal da Alterosa.

 

234  

MG TV Com base no referencial articulado abaixo, é crível averiguar de que maneira se dão os processos estruturais de apresentação do MG TV a partir da frequência de determinados índices descritivos, a saber: Tempo total da emissão

CATEGORIAS

MG TV

Tempo Total dos programas (sem intervalos) Tempo Médio dos Programas

02:38:01 00:31:36

Tabela - Anexo 15: Tempo total da emissão do Jornal do MG TV.

Tempo por emissão – Espaços enunciativos MG TV CONTEÚDO

INTERNO

EXTERNO

VINHETAS

GRÁFICOS

SUBTOTAL

Chamada de Matéria

00:12:56

00:00:49

00:00:00

00:00:00

00:13:45

Chamada de Calhau (VT)

00:00:24

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:00:24

Chamada de Intervalo

00:02:17

00:00:24

00:00:00

00:00:00

00:02:41

Entrevistas

00:04:54

00:15:01

00:00:00

00:00:00

00:19:55

Escalada

00:01:22

00:04:53

00:00:00

00:00:00

00:06:15

Nota Pé

00:08:03

00:00:18

00:00:00

00:00:00

00:08:21 00:03:46

Nota Simples

00:03:46

00:00:00

00:00:00

00:00:00

Previsão do Tempo

00:06:16

00:01:07

00:00:00

00:00:00

00:07:23

Matéria

00:00:00

01:11:36

00:00:00

00:00:16

01:11:52

Vinheta

00:00:00

00:00:00

00:02:19

00:00:00

00:02:19 00:00:25

Créditos

00:00:00

00:00:25

00:00:00

00:00:00

Nota Coberta

00:00:11

00:14:11

00:00:00

00:01:05

00:15:27

Stand Up

00:00:00

00:01:27

00:00:00

00:00:00

00:01:27 00:03:36

Calhau (VT)

00:00:00

00:03:36

00:00:00

00:00:00

Encerramento

00:00:25

00:00:00

00:00:00

00:00:00

00:00:25

Total

00:40:34

01:53:47

00:02:19

00:01:21

02:38:01

%

25,67%

72,01%

1,47%

0,85%

100,0%

Tabela - Anexo 16: Tempo dos espaços enunciativos no MG TV.

Tempo por bloco MG TV Blocos

Tempo médio

%

1º Bloco

00:07:40

24,3%

2º Bloco

00:06:51

21,7%

3º Bloco

00:09:39

30,5%

4º Bloco

00:07:26

23,5%

Tabela - Anexo 17: Tempo de cada bloco do MG TV.

 

235  

Tempo e número de entradas

CATEGORIAS

MG TV

Matérias Média de Matérias por dia Tempo Total das Matérias na Semana Tempo médio das Matérias na Semana Tempo médio das Matérias Porcentagem do Tempo total do programa

35 7 01:11:52 00:14:22 00:02:03 45,48%

Notas Cobertas (NC) Média de NC por dia Tempo Total das NC na Semana Tempo médio das NC na Semana Tempo médio das NC Porcentagem do Tempo total do programa

37 7,4 00:15:27 00:03:05 00:00:25 9,78%

Notas Simples (NS) Média de NS por dia Tempo Total das NS na Semana Tempo médio das NS na Semana Tempo médio das NS Porcentagem do Tempo total do programa

12 2,4 00:03:46 00:00:45 00:00:19 2,38%

Nota Pé (NP) Média de NP por dia Tempo Total das NP na Semana Tempo médio das NP na Semana Tempo médio das NP Porcentagem do Tempo total do programa

37 7,4 00:08:21 00:01:40 00:00:14 5,28%

Nº de Entrevistas Média de Entrevistas por dia Tempo Total das Entrevistas na Semana Tempo médio das Entrevistas na Semana Entrevistas média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:19:55 00:03:59 00:03:59 12,60%

Nº de Stand Up Média de SU por dia Tempo Total dos SU na Semana Tempo médio dos SU na Semana SU médio x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

1 0,2 00:01:27 00:00:17 00:01:27 0,92%

Vinhetas Média de Vinhetas por dia Tempo Total das vinhetas na Semana Tempo médio das vinhetas na Semana Vinheta Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

24 4,8 00:02:19 00:00:28 00:00:06 1,47%

Continua

 

236   Continuação Escalada Média de Escaladas por dia Tempo Total das Escaladas na Semana Tempo médio das Escaladas na Semana Escalada Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:06:15 00:01:15 00:01:15 3,96%

Previsão do Tempo Média de PT por dia Tempo Total das PT na Semana Tempo médio das PT na Semana PT Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

5 1 00:07:23 00:01:29 00:01:29 4,67%

Chamada de Matérias Média de PT por dia Tempo Total das PT na Semana Tempo médio das PT na Semana PT Média x Tempo médio Porcentagem do Tempo total do programa

53 10,6 00:13:45 00:02:45 00:00:16 8,70%

Créditos Média de Créditos por dia Tempo Total dos Créditos na Semana Tempo médio dos Créditos na Semana Créditos Média x Tempo médio

5 1 00:00:25 00:00:05 00:00:05

Porcentagem do Tempo total do programa

0,26%

Tabela - Anexo 18: Tempo e número de entradas do MG TV.

 

237  

Tempo por editoria

TEMÁTICAS - SEMANA % % % % % % % % % % % % % % %

MG TV

Ciência e Tecnologia do Tempo do Programa Clima Tempo do Tempo do Programa Comportamento do Tempo do Programa Cultura do Tempo do Programa Economia do Tempo do Programa Educação do Tempo do Programa Esporte do Tempo do Programa Internacional do Tempo do Programa Meio Ambiente do Tempo do Programa Policial do Tempo do Programa Política do Tempo do Programa Saúde do Tempo do Programa Serviços do Tempo do Programa Sociedade/Cidade do Tempo do Programa Trânsito do Tempo do Programa

00:00:00 0,00% 00:19:31 12,35% 00:13:45 8,70% 00:18:00 11,39% 00:02:46 1,75% 00:03:18 2,09% 00:05:03 3,20% 00:00:00 0,00% 00:05:14 3,31% 00:17:21 10,98% 00:07:08 4,51% 00:14:51 9,40% 00:06:15 3,96% 00:06:56 4,39% 00:21:04 13,33%

Tabela - Anexo 19: Tempo por editoria do MG TV.

Capital Temático Trânsito

4.39%

3.96%

3.31%

Clima/Tempo

13.33%

Cultura

4.51% 12.35%

Policial Saúde Comportamento Política

8.70%

Sociedade/Cidade 9.40%

11.39% 10.98%

Gráfico – Anexo 3: As 10 temáticas mais abordadas pelo MG TV.

 

Serviços Meio Ambiente

238  

Editorias por bloco – Sequência temática / conteúdo

MG TV - TEMÁTICAS POR BLOCOS 1º BLOCO

TEMPO MÉDIO DIA

%

Trânsito

00:02:25

40,8%

Clima Tempo

00:01:17

21,7%

Meio Ambiente

00:00:39

10,8%

Policial

00:00:39

10,8%

Serviços

00:00:35

9,8%

Política

00:00:21

6,0%

Total

00:05:56

100,0%

2º BLOCO

TEMPO MÉDIO DIA

%

Trânsito

00:01:25

22,4%

Clima Tempo

00:01:04

16,7%

Sociedade/Cidade

00:00:55

14,5%

Serviços

00:00:40

10,6%

Educação

00:00:40

10,4%

Economia

00:00:33

8,7%

Política

00:00:32

8,3%

Esporte

00:00:25

6,5%

Policial

00:00:07

1,9%

Total

00:06:21

100,0%

3º BLOCO

TEMPO MÉDIO DIA

%

Cultura

00:03:36

38,3%

Saúde

00:02:58

31,6%

Comportamento

00:00:56

10,0%

Esporte

00:00:36

6,4%

Clima Tempo

00:00:34

6,1%

Sociedade/Cidade

00:00:27

4,8%

Trânsito

00:00:16

2,8%

Total

00:09:24

100,0%

4º BLOCO

TEMPO MÉDIO DIA

%

Policial

00:02:42

41,3%

Comportamento

00:01:49

27,6%

Clima Tempo

00:00:59

15,0%

Política

00:00:33

8,3%

Meio Ambiente

00:00:24

6,2%

Trânsito

00:00:07

1,7%

Total

00:06:33

100,0%

Tabela - Anexo 20: Tempo de cada editoria, por bloco, no MG TV.

 

239  

Distribuição de temáticas por entradas ENTRADAS

NC

MG TV NP

NS

MATÉRIA

ENTREVISTA

STAND UP

Temáticas

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

TEMPO

%

Ciência e Tecnologia

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Clima Tempo

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:50

10.1%

09:41

13.5%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Comportamento

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:05

1.0%

08:15

11.5%

04:15

21.3%

00:00

0.0%

Cultura

01:15

8.6%

00:42

19.4%

00:30

6.0%

02:30

3.5%

11:56

59.9%

00:00

0.0%

Economia

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

02:27

3.4%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Educação

00:00

0.0%

00:20

9.2%

00:05

1.0%

02:31

3.5%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Esporte

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:33

6.6%

03:48

5.3%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Internacional

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Meio Ambiente

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:44

8.9%

04:01

5.6%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Policial

01:21

9.3%

00:25

11.5%

01:33

18.7%

10:15

14.3%

00:00

0.0%

01:27

100%

Política

00:35

4.0%

00:11

5.1%

01:15

15.1%

04:23

6.1%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Saúde

00:00

0.0%

00:00

0.0%

00:26

5.2%

09:18

12.9%

03:44

18.7%

00:00

0.0%

Serviços

00:00

0.0%

00:23

10.6%

00:37

7.4%

04:32

6.3%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Sociedade / Cidade

02:24

16.5%

00:48

22.1%

00:41

8.2%

02:11

3.0%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Trânsito

09:00

61.7%

00:48

22.1%

00:58

11.7%

08:00

11.1%

00:00

0.0%

00:00

0.0%

Total

14:35

100%

03:37

100%

08:17

100%

01:11:52

100%

19:55

100%

01:27

100%

Tabela - Anexo 21: Distribuição de temáticas por entradas no MG TV.

 

240  

Escaladas - Comparativo

Jornal Minas Editoria

Tempo

%

Jornal da Alterosa Tempo

%

MG TV Tempo

%

Ciência e Tecnologia

00:00:06

2.2%

00:00:00

0.0%

00:00:00

0.0%

Clima Tempo

00:00:52

19.3%

00:01:20

18.8%

00:00:36

9.6%

Comportamento

00:00:00

0.0%

00:00:00

0.0%

00:00:31

8.3%

Cultura

00:00:35

13.0%

00:00:05

1.2%

00:00:25

6.7%

Economia

00:00:12

4.4%

00:00:00

0.0%

00:00:11

2.9%

Educação

00:00:09

3.3%

00:00:00

0.0%

00:00:04

1.1%

Esporte

00:00:24

8.9%

00:00:00

0.0%

00:00:17

4.5% 0.0%

Internacional

00:00:00

0.0%

00:00:11

2.6%

00:00:00

Meio Ambiente

00:00:00

0.0%

00:00:08

1.9%

00:00:16

4.3%

Policial

00:00:18

6.7%

00:01:36

22.6%

00:01:24

22.4%

Política

00:00:06

2.2%

00:01:09

16.2%

00:00:10

2.7%

Saúde

00:00:37

13.7%

00:00:08

1.9%

00:00:37

9.9%

Serviços

00:00:00

0.0%

00:00:05

1.2%

00:00:19

5.1%

Sociedade/Cidade

00:00:37

13.7%

00:01:01

14.4%

00:00:08

2.1%

Trânsito

00:00:34

12.6%

00:01:22

19.3%

00:01:17

20.5%

Total

00:04:30

Média

00:00:54

100.0%

00:07:05 00:01:25

100.0%

00:06:15

100.0%

00:01:15

Tabela - Anexo 22: Comparativo da duração das manchetes nas escaladas dos três telejornais.

 

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