Quebrando as Correntes Impostas Pelas Tradições

May 23, 2017 | Autor: Roger Nasser | Categoria: Franz Boas, Antropología, Gilberto Freyre
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Ensaio Acadêmico Reflexivo Quebrando as Correntes Impostas Pelas Tradições Curso: Antropologia I – CSO – 2016/2 Aluno: Roger Nasser Professor: Sandro Ensaio: Uma reflexão sobre Raça e progresso – Franz Boas; Casa Grande e Senzala – Gilberto Freyre; Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem – Oracy Nogueira.

Ao avaliar a trajetória de Franz Boas, considerado o pai da antropologia moderna, na formação de seu conhecimento, vimos como é fundamental o antropólogo ficar afastado dos interesses pessoais anteriores, para compreender o que determina o comportamento humano. Numa das muitas reflexões durante o longo trabalho de campo realizado junto aos Inuits entre 1883 e 1884, Boas concluí que aquele povo compartilha tanto o fracasso como o sucesso nos momentos de dificuldades frutos da dura vida no ártico e cada um faz a sua parte para ajudar aos necessitados. Essa constatação de óbvia “civilidade” em uma cultura independente de uma sociedade que se intitula “altamente educada” o leva a questionamentos relevantes acerca das arrogantes teorias evolucionistas que consideravam outros povos

e raças distintas das “caucasianas”

como inferiores. Dessa forma vai se fortalecendo a conceito de que o relativismo cultural se mostra como um parâmetro forte de análise quando se busca a verdade e a péssima ideia de uma escala evolutiva das sociedades partindo de grupos de homens “primitivos” ou “selvagens” e chegando as “sociedades civilizadas” vai sendo abandonada, na ótica de uma ciência sensata através dos estudos antropológicos.

Como orientador de Antropólogos notáveis, Boas influenciou profundamente o escritor brasileiro Gilberto Freire, entre outros, no momento em que se questionava se características raciais representavam limitações para o potencial humano. Contrariando diversas linhas de pensamento, que persistem até hoje, Boas afirmava que não havia provas de inferioridade Racial. Em Raça e Progresso, de 1931, também uma conferência proferida no encontro da American Association for the Advancement of Science (da qual era presidente naquele ano), Boas critica fortemente, através de exemplos de pesquisas, as ideias de caráter racista então em voga nos Estados Unidos, até mesmo dentro do meio acadêmico. As diferenças observadas entre as populações originam-se de fatores sociais e ambientais, não biológicos. Assim, os testes de inteligência, muito em voga naquele momento, eram para Boas instrumentos totalmente inadequados para provar a superioridade ou inferioridade de algum grupo social. O autor começa sua argumentação desconstruindo o tipo ideal de cada uma das raças, apontando para a existência de diversos indivíduos que pertencem àquele grupo racial e que não se enquadram nos preconceitos abstraídos a partir de nossas experiências mais cotidianas que nos induzem a formação de padrões para as raças. Boas propõe também que a problemática da mistura racial é mais influenciada por questões culturais que biológicas. Grupos sociais tendem a não permitir que seres estranhos venham se juntar e aponta como esse fenômeno se dá nas mais diversas esferas e ainda contrapõe o argumento racialista de que as raças inferiores tendem a ser subjugadas pelas superiores, sendo a guerra o instrumento usado para a “poda” humana, afirmando que na guerra, são os fisicamente fortes que são eliminados e os “devastadores flagelos da humanidade” são espalhados independentemente da raça. Conhecer a maneira como as culturas se estabeleceram e se firmaram nas sociedades permite compreender, através das relações entre indivíduo e sociedade, os fenômenos individuais, e isso mais que estabelecer leis gerais do desenvolvimento da humanidade sem considerar a reação do indivíduo à cultura, como pretendia a antropologia evolucionista combatida por Boas.

No Brasil, em casa grande e Senzala Gilberto Freire através de uma abordagem estruturalista, eleva a condição de mito, o que vem dar um maior sentido ao país para o pensamento da época, um paradigma que mostra o movimento da sociedade escravocrata

e ilumina o patriarcalismo vigente no país pré-urbano industrial. As

estruturas sociais e econômicas são apresentadas como processos vivenciados. Em sua obra podemos constatar a forte influência das ideias de Boas, Freire o conheceu na universidade de Columbia ao fazer o seu mestrado. Existia uma corrente comum de pensamento na sociedade Brasileira de que a miscigenação viria a ser ruim para o País com a ideia de que a “pureza imaginária” das raças iria se perder a partir dessa “mistura”. Freire em relação a construção de nossa nacionalidade desconstrói essa ideia com o mérito de apontar esse processo de maneira contundente ao concluir que a miscigenação formou o verdadeiro espirito nacional. Já no texto de Oracy Nogueira, “Preconceito Racial de Marca e Preconceito Racial de Origem”, é possível chegar perto de compreender a dinâmica do racismo Brasileiro. Para Oracy, o preconceito que prevalece no Brasil é aquele baseado no preconceito de Cor, o qual o autor prefere nomeá-lo de preconceito de marca. A título comparativo ele mostra que conforme às habilidades e particularidades do indivíduo o mesmo pode ter esse preconceito abrandado o que não acontece nos estados unidos. Quando o preconceito racial é de origem lá a discriminação se mantém independente da condição pessoal ou da qualificação do indivíduo. Por fim fica claro no texto que o preconceito racial existente aqui no Brasil permanece de uma forma velada, envolvendo muitas etapas até se chegar ao rompimento formal das relações interpessoais, enquanto nos Estados Unidos existe um estado explícito e quase permanente de conflito inter-racial. As origens dos preconceitos Raciais, tão arraigados nos diversos países do ocidente, são, geralmente, provenientes de uma mentalidade equivocada e arrogante na qual prevalece a ideia de que a cultura de um determinado “grupo social” , étnico ou não, é a referência máxima para todas as outras. Segundo a perspectiva de Boas, possuímos a tendência natural para considerar nossa civilização como o objetivo máximo de evolução humana, o que nos afasta da oportunidade em ganhar com o aprendizado de outras culturas e civilizações.

Franz Boas é considerado por muitos como um dos últimos gigantes intelectuais produzidos no século 19, seu maior legado foi a constatação de que ao reconhecer as correntes que as tradições nos impuseram também poderemos quebra-las.

REFERÊNCIAS BOAS, Fran. Raça e Progresso. E-Book. ed. Zahar, 2000; FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. E-Book; NOGUEIRA, Oracy. Preconceito Racial de Marca e Preconceito Racial de Origem. Revista de sociologia da USP; SINGER, Andre. Estranhos no Exterior. (Documentário). Disponível na Internet via https://www.youtube.com/watch?v=zK5lYPeAbDM

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