QUEIROZ, José Francisco Ferreira - Leiria romântica: uma leitura histórica da arquitectura e do espaço urbano.

LEIRIA ROMÂNTICA

UMA LEITURA HISTÓRICA DA ARQUITECTURA E DO ESPAÇO URBANO

Francisco Queiroz 2004

Francisco Queiroz – Leiria Romântica

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Título: Leiria Romântica: uma leitura histórica da arquitectura e do espaço urbano

Autor: José Francisco Ferreira Queiroz

Estudo realizado no âmbito de uma bolsa de investigação atribuída pela Câmara Municipal de Leiria em 2002, instituição à qual se agradece pela oportunidade que foi dada

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APRESENTAÇÃO

JUSTIFICAÇÃO DO TEMA PROPOSTO A maioria dos estudos históricos sobre a evolução das cidades portuguesas é relativamente recente. Aliás, assiste-se actualmente a um interesse crescente por esta área, certamente aliado a questões práticas que se colocam de forma intensa às autarquias quanto à gestão dos seus centros históricos. Existem já vários estudos monográficos realizados sobre aspectos urbanísticos de cidades portuguesas. Alguns destes estudos são muito válidos, mas outros (a maioria) são demasiado superficiais ou parciais. Aliás, são muito raros em Portugal os estudos de história urbana que abranjam um largo período cronológico e, actualmente, não existe sequer um estudo de síntese sobre História da Cidade e do Urbanismo em Portugal. Mesmo os estudos mais válidos sobre História do urbanismo de cidades portuguesas possuem quase sempre - pelo menos - um destes três grandes óbices: 1 - são estudos de carácter "paroquial", que não têm em conta a comparação com outras cidades portuguesas, resultando em conclusões ilusórias ou pouco fundamentadas; 2 - são estudos que procuram sobretudo fazer uma história do planeamento urbanístico ao longo dos tempos e não propriamente a leitura histórica do espaço urbano tal como ele se apresenta, sobretudo do espaço urbano que não foi planeado (que é, geralmente, a maior parte). 3 - são estudos com uma abordagem metodológica restrita e um âmbito cronológico e espacial limitado.

Uma das razões para o ponto 3. é o facto destes estudos serem conduzidos por pessoas de áreas científicas diversas, que incidem a

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investigação em apenas uma ou duas das vertentes possíveis de análise de uma cidade. Por exemplo, os geógrafos focam sobretudo os aspectos de ocupação do espaço, distribuição das funções/serviços, mas não estão habilitados para fazer uma leitura histórica por camadas, ou mesmo uma leitura arquitectónica.

Quanto

aos

historiadores,

quase

sempre

valorizam

excessivamente os documentos, sem por vezes perceberem que os indícios in situ podem contradizer os documentos e reflectir uma alterabilidade bem maior da cidade, alterabilidade essa que - muitas vezes - não deixa rasto documental e só pode ser inferida depois de um aturado trabalho de campo. Por vezes, uma tortuosidade num arruamento ou um determinado tipo de edifício dão-nos mais pistas sobre o seu significado do que os próprios documentos. Mas estes documentos são também frequentemente neglicenciados quando os estudos de história urbana são realizados por arquitectos, que se preocupam sobretudo com os volumes e a ordenação das malhas urbanas, havendo quase sempre a intenção subjacente de propor intervenções e de corrigir disfuncionalidades. Felizmente, Leiria tem a sorte de já ter sido alvo de alguns estudos sobre a sua História urbana (Saúl A. Gomes, Ana P. Margarido, Adélia C. Carreira, etc.). Estes estudos contêm abordagens muito diversas, desde a histórica, a histórico-artística e a morfológica. São estudos que focam sobretudo a Idade Média e a Idade Moderna (barroco). Assim, até há dois anos atrás, em termos de estudo histórico da cidade de Leiria enquanto um todo, faltava sobretudo: - Empreender uma síntese evolutiva interdisciplinar, por camadas, do tecido urbano e arquitectónico de Leiria, com recurso a reconstituições rigorosas que se baseiem nos documentos já referenciados, na análise dos espaços subsistentes e na cartografia antiga, tendo também em conta todos os indícios de datação aproximada das edificações da cidade hoje existentes, desde as mais imponentes às mais modestas. - Focar o século XIX como a época por excelência da grande regularização e alteração/expansão da cidade, com exemplos concretos do que a mentalidade romântica veio a dar origem em Leiria, até em aspectos urbanos já desaparecidos, notando sobretudo a questão da arquitectura, dos projectos oitocentistas existentes e ainda hoje inexplorados e das fotografias antigas.

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- Relacionar os dois aspectos anteriores com exemplos em outras cidades portuguesas e, nomeadamente, cidades que pela sua situação geofísica e percurso histórico se possam assemelhar a Leiria em termos de morfologia urbana.

Só assim se poderia ter um trabalho de síntese da evolução urbana e arquitectónica de Leiria desde a Idade Média até ao fim da Monarquia, focando sobretudo o período Romântico, que tão importante foi em Leiria e que não está ainda suficientemente estudado. Só assim se poderia perceber em que medida Leiria possuiu um percurso evolutivo semelhante ou diferente de outras urbes portuguesas, afirmando-se melhor a sua individualidade como cidade. Foi precisamente isto que procurámos fazer com o presente trabalho. Os objectivos do estudo agora apresentado eram bastante ambiciosos: elaborar uma síntese da evolução urbana e arquitectónica de Leiria desde a Idade Média até ao fim da Monarquia (c. 1910), focando sobretudo o período romântico (c. 1840-1900), de modo concluir em que medida Leiria possuiu um percurso evolutivo semelhante ou diferente de outras urbes portuguesas. Procurámos reunir toda a investigação já existente, reforçá-la com uma investigação específica sobre o século XIX e confrontar todos os dados obtidos com um trabalho de campo rigoroso, de modo a colmatar as principais lacunas supramencionadas em termos de compreensão histórica da cidade de Leiria. O estudo que agora se apresenta passa a constituir uma base de dados e um instrumento de consulta, quer para os estudantes e para outros investigadores da cidade, quer para a própria Câmara Municipal de Leiria, de modo a fortalecer um melhor conhecimento do seu centro histórico e a poder tornar mais fundamentadas as respectivas intervenções urbanísticas. Estes objectivos, propostos aquando da candidatura do trabalho à bolsa de investigação, foram genericamente atingidos. Porém, o trabalho revelou-se mais complexo do que o inicialmente esperado, em grande parte por circunstâncias alheias ao próprio trabalho, as quais expomos seguidamente.