Quinta do Sumidouro - Pedro Leopoldo/MG. Guia de Bens Tombados IEPHA/MG

July 5, 2017 | Autor: Luis Molinari | Categoria: History, Cultural Heritage, Patrimonio Cultural, History of Brazil
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INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS

GUIA DE BENS TOMBADOS IEPHA/MG

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PEDRO LEOPOLDO

Acervo IEPHA-MG

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Quinta do Sumidouro

Fig. 1 e 2 – Capela de Nossa Senhora do Rosário e Casa Fernão Dias

O tombamento do conjunto histórico da Quinta do Sumidouro foi realizado por meio do Decreto Estadual nº. 17.729, de 27 de janeiro de 1976 e é constituído pela Capela de Nossa Senhora do Rosário e pela casa e sítio denominados Quinta do Sumidouro, localizado no Distrito de Fidalgo, município de Pedro Leopoldo – Minas Gerais. O Decreto determinou ainda a inscrição da Capela no Livro de Tombo nº. II, do Tombo de Belas Artes e de todo o conjunto formado pela Capela, a casa e o terreno da Quinta do Sumidouro no Livro de Tombo nº. III, do Tombo Histórico, das obras de Arte Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos.

O

conjunto histórico da Quinta1 do Sumidouro possui especial relevância, pois se insere na rota dos primeiros movimentos de exploração dos sertões do sudeste brasileiro ainda no século XVII. Os caminhos e pousos estabelecidos nesse processo, conjugado com a exploração das minas recentemente encontradas, permitiram, nos anos seguintes, que o colonizador estabelecesse formas de vida e de convívio social2, inclusive com os nativos, configurando o que mais tarde iria se denominar como as Minas Gerais. Além disso, o local é importante, pois é apontado pela historiografia como de possível fundação pelo bandeirante Fernão Dias Paes. Os trabalhos do historiador Diogo de Vasconcelos, informam que Fernão Dias Paes, partindo de São Paulo, entre 1673 e 1674, com o intuito de procurar as minas de ouro e diamantes, veio a aportar na região, onde fundou o arraial do Sumidouro, motivado principalmente pela fertilidade do solo. Ainda segundo os relatos historiográficos, diante das grandes dificuldades dos caminhos e carência de recursos, Fernão Dias fixou parte da expedição no local denominado “Anhanhonhacanhuva”, que em Tupi significa: água parada que some no buraco. Foi nesse local onde se construiu o arraial de São João do Sumidouro. A localidade de Sumidouro permaneceu como um pacato arraial durante muitos anos e, em 1923, com a criação do município de Pedro Leopoldo, o povoado foi elevado à condição de distrito, com a denominação de Fidalgo. Em 1938, retomou a sua antiga toponímia de Sumidouro e, por fim, em 1943, voltou a ser chamado Fidalgo.

1 Grosso modo, Quinta é a denominação de uma casa no campo. Segundo o Raphael Bluteau, Quinta é a Casa, ou a fazenda de lavoura no campo com sua casaria. Chamou-se assim, porque de ordinário o que arrenda a Quinta, dá ao dono dela a quinta parte do que colhe de frutos. O Vocabulário Portuguez & Latino organizado por Bluteau no primeiro quartel do século XVIII é referência nas pesquisas sobre o vocabulário português e torna-se particularmente importante, pois traz uma interpretação coeva, portanto mais próxima, dos diversos termos pesquisados. Ver BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Portuguez & Latino, áulico, anatômico, architectonico. Coimbra, 1712 – 1728. 8 v. 2 Sobre os caminhos e pousos estabelecidos no Brasil durante o período colonial conferir, entre outros, Formas Provisórias de Existência In.: SOUZA, Laura de Mello E. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 523 p.

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O conjunto histórico tombado é constituído pela Capela de Nossa Senhora do Rosário e pela Casa e Sítio da Quinta do Sumidouro. Ambos os edifícios são datados de período bem posterior à estada do bandeirante Fernão Dias no local, como indica o parecer do relator Ivo Porto de Menezes referente à casa, realizado durante o processo de tombamento, em 1976: “A comodulação e a modernatura da Casa indicam tratar-se de construção provavelmente de meados a fim do século XVIII. As paredes de vedação em adobe indicam mesmo construção posterior, podendo, no entanto, tratar-se de reconstrução. Trata-se ao que tudo indica, de construção bem posterior à estada do bandeirante paulista” 3. A Casa da Quinta do Sumidouro trata-se de uma construção em estrutura autônoma de madeira com vedação em adobe e paua-pique, aduelas de marcos, verga curva de centro rebaixado. O telhado em capa de cangalha telha vã curva, possui galbo do contrafeito, normal em Minas Gerais, beirada encachorrada, com cachorros de perfil peito de pomba. Possui cinco vãos na fachada principal, sendo três janelas e duas portas, uma destas de maior luz. As janelas têm vedação de calha. O entorno constitui-se do Sítio e por mais 8 moradias; existe também uma ampla área verde (jardim) a, aproximadamente, 60 metros da casa. Além disto, a construção está inserida em um cruzamento entre ruas asfaltadas. A Casa da Quinta do Sumidouro passou por várias intervenções ao longo dos anos e atualmente abriga um museu.

Fig. 3 – Capela de Nossa Senhora do Rosário, década de 1970

Acervo IEPHA-MG

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A Bandeira de Fernão Dias Paes A historiografia aponta o bandeirante Fernão Dias Paes (1608 – supostamente 1681) como o primeiro desbravador de origem européia das terras onde hoje se encontra o Estado de Minas Gerais. À procura de honras e mercês, o bandeirante, que já havia participado de outras explorações de preamento de índios ao sul de São Paulo, partiu, em 1674, no sentido norte em busca da famosa “Serra Resplandecente”, local mítico que estaria repleto de esmeraldas. Entre outros desbravadores, acompanharam Fernão Dias na empreitada seus filhos e seu genro Manuel Borba Gato. A bandeira durou 7 anos e percorreu vastas áreas do sertão, das cabeceiras do Rio das Velhas, a região do Serro Frio. Por onde andavam erguiam pousos que, posteriormente, tornaram-se arraiais. Afora o caráter mítico que cerca a vida de Fernão Dias, sua bandeira foi importante, pois estabeleceu uma das primeiras rotas de colonizadores em um sertão dominado por populações indígenas. Marcou também o imaginário de muitas gerações de portugueses que migraram para Minas Gerais na expectativa de se enriquecer rapidamente. Segundo a historiografia, Fernão Dias morreu acreditando ter descoberto as esmeraldas, todavia descobrira apenas turmalinas, pedras verdes como as esmeraldas, mas sem grande valor na época.

Fig. 4 – Vista atual da Capela

3 INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS – IEPHA/MG. Processo de tombamento do Conjunto Histórico constituído da Capela de Nossa Senhora do Rosário e Sítio denominado Quinta do Sumidouro com a edificação nele existente, Pedro Leopoldo/Fidalgo, MG. Belo Horizonte: IEPHA/MG, 1976.

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Fig. 4 - Casa Fernão Dias

Já a Capela de Nossa Senhora do Rosário dista da Casa cerca de 500 metros e inclui-se na relação das primeiras capelas mineiras. É provável que tenha origem em meados do século XVIII, por volta de 1750. A data fundida no sino da capela indica o ano de 1786. Assim como, na Casa da Quinta, não se trata da capela original erigida na época do bandeirante Fernão Dias Paes. Situada em adro murado, com cemitério na lateral direita, o partido segue os padrões das primeiras capelas mineiras com nave, capela-mor e sacristia lateral, apresenta estrutura autônoma em madeira com paredes de vedações em tijolo de barro (adobe). As fachadas mostram alterações, porém seus elementos são ainda originais. Acervo IEPHA-MG

O interior está alterado por materiais contemporâneos. O forro da capela-mor em abóbada facetada, possui pintura decorativa em elementos fitomorfos, ao gosto rococó. O forro está fixado de forma invertida por cima da tesoura do telhado, suportada por caibros externos ao painel decorado. Na capela destaca-se o retábulo-mor decorado com ornatos que remetem à 2ª fase do barroco mineiro, estilo Dom João V, que se caracteriza pelo coroamento com dossel e anjos, tarjas, nichos cortinados e colunas com base com cabeças de anjos entre nuvens ao gosto setecentista. No arco-cruzeiro está fixada uma tarja em madeira, ornada com uma coroa fechada dourada, um dos símbolos de Nossa Senhora do Rosário. As balaustradas do cancelo e do gradil do coro são em madeira recortadas. A imaginária da capela é constituída de peças em madeira bem acabadas com destaque para Nossa Senhora dos Martírios, São Benedito, São João Batista, Divino Espírito Santo. Existem também imagens em roca de Nosso Senhor dos Passos, Nossa Senhora e da padroeira Nossa Senhora do Rosário - que está desaparecida4. A capela é ponto de referência religiosa e histórica para a população local e os devotos todos os anos realizam uma grande festa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, santa de devoção. Nos anos seguintes a capela sofreu várias intervenções, mas sua essência permaneceu intacta.

Fig. 5 - Retábulo-mor da capela 4 Em 1981 a capela de Nossa Senhora do Rosário teve sete peças furtadas do seu acervo, dentre elas a padroeira. A imagem de Nossa Senhora dos Martírios, também roubada em 1981, foi restituída ao acervo da capela, em grande festa organizada pela comunidade, em maio de 2004.

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Fig. 7 - Detalhe da pintura da pomba do Espírito Santo no interior da capela

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Fig. 8 - Imagem de Nossa Senhora dos Martírios

Fig. 9 - Vista parcial dos fundos da casa da Quinta do Sumidouro Acervo do IEPHA/MG

Fig. 6 - Sino da Capela de Nossa Senhora do Rosário, fundição em 1786

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Fig. 10 - Visita histórica de Comissão do IHGMG à casa Fernão Dias na Quinta do Sumidouro em 19-05-19735

Autoria: Ailton Batista da Silva Fernando Roberto de Castro Veado Luis Gustavo Molinari Mundim Junho, 2011 INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS: SOUZA, Laura de Mello E. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 523 p.

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O Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) enviou correspondência ao governador do estado de MG em 04-06-1973 solicitando o tombamento e outras providências para o conjunto da Quinta do Sumidouro para “condignas comemorações do tricentenário da bandeira de Fernão Dias Pais, no próximo ano”. (Processo de Tombamento, P. 23)

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