Quotidianos e Vida Privada RPH47 Nota de Apresentacao, 2016

May 26, 2017 | Autor: Maria Antónia Lopes | Categoria: History of Private Life, History of Everyday Life
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Nota de apresentação Autor(es):

Lopes, Maria Antónia

Publicado por:

Imprensa da Universidade de Coimbra

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URI:http://hdl.handle.net/10316.2/40717

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21-Dec-2016 17:54:19

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Nota de Apresentação Maria Antónia Lopes

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra [email protected]

Os quotidianos e a vida privada, que tanto se distinguem como se entrecruzam, continuam a merecer aprofundamento, apesar de já há muito terem entrado nos domínios da História. Assim sendo, o Conselho de Redação da Revista Portuguesa de História decidiu dedicar-lhes o volume 47, convidando a comunidade científica a propor trabalhos sobre práticas quotidianas privadas e públicas de índole material, social ou cultural e sobre atitudes, comportamentos e sentimentos da intimidade, convocando permanências, mutações e singularidades. Sendo um campo da História que me é muito caro e que desde sempre trabalhei, foi com gosto e entusiasmo que organizei este volume. Muito embora, como coordenadora científica que tem de escolher avaliadores, a função inviabilizasse a possibilidade de participar com um trabalho. Buscar práticas, atitudes, comportamentos e sentimentos de pessoas concretas – homens e mulheres de distintos grupos sociais – é território de pesquisa que lida com lógicas individuais inseridas em modelos estruturais, lógicas essas que, por sua vez, ajudam a detetar, caracterizar e compreender tais padrões, mas que também os vão moldando, num movimento de interinfluência contínuo. Centrar a análise nos indivíduos, sem nunca esquecer o seu meio, pode ser uma abordagem que permite suplantar não apenas uma história que se interessa só por grande personagens e por instituições, mas também certa história de estruturas e processos macroeconómicos, macrossociais e macroideológicos, quantas vezes em absoluto desumanizada, como se a História não estudasse as pessoas e como se estas fossem autómatos conduzidos sem margem de escolha por uma qualquer superestrutura. Creio, portanto, que a historiografia tem muito a ganhar se cultivar cada vez mais o cruzamento de diferentes escalas de observação e de análise. Com o estudo dos quotidianos e da vida privada, imbricam-se a microhistória, a reabilitação historiográfica da biografia, os progressos patenteados pelos especialistas em história da cultura material, a qual visa, como todas as disciplinas da História, compreender os seres humanos – neste caso através da sua relação com os objetos – e não estabelecer listas de artefactos. A história dos

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quotidianos e da vida privada exige, na verdade, um grande esforço de vigilância epistemológica para não cair na mera descrição ou mesmo futilidade. O que não invalida que se estudem comportamentos que poderemos considerar frívolos, mas interdita que o historiador o seja. Nunca o será, porém, se a futilidade de indivíduos ou grupos for contextualizada e interpretada, apondo significado ao que parece insignificante, porque assim se contribuirá para o avanço do conhecimento e compreensão das atitudes de quem nos precedeu no tempo. E, por estranho que pareça, ainda é necessário reafirmar que história da vida privada não é história das mulheres, como se estas não houvessem tido sempre uma dimensão de vida pública e como se os homens não agissem, pensassem e sentissem em privado. Como se antevia, a chamada de artigos para este volume monográfico foi um êxito, traduzindo-se no elevado número de propostas recebidas. Outros investigadores, ainda, desejaram participar com trabalhos que não se inseriam no tema escolhido. Porque não quisemos prescindir da secção Varia, apesar de tal opção implicar aumentar a dimensão do volume, aceitou-se sujeitar essas propostas a avaliação. Aí se encontram, pois, três artigos, curiosamente todos do mesmo período cronológico. Completa esta secção um texto evocativo da obra de Henrique da Gama Barros, a que se segue uma recensão crítica e a lista das publicações recebidas pela Revista Portuguesa de História. Para o Dossier temático foram aprovados 20 trabalhos, respeitantes às épocas medieval (um), moderna (catorze) e contemporânea (cinco), provenientes de Portugal (doze), Espanha (cinco) e Brasil (três). O conjunto de artigos que se inserem no objeto historiográfico deste volume, muito rico pela sua diversidade geográfica, temporal, temática, documental e metodológica, percorre territórios que vão das crenças religiosas e dos saberes científicos ao enquadramento material das populações; dos quotidianos camponeses aos da aristocracia e do clero secular e regular; das práticas espirituais privadas às de sociabilidade das elites políticas e culturais; das vidas dos cristãos novos mais ou menos inseridos na sua cidade aos dias de mulheres recolhidas e de freiras com as suas escravas e aos hospitalizados e crianças asiladas; das questões matrimoniais, tanto na alta aristocracia como no universo popular, à vida a bordo nos navios em viagem para as terras do Império, às fortunas que por lá se fizeram e se transferiram para a metrópole ou se disputaram entre a parentela da colónia. São, pois, “os trabalhos e os dias”, as crenças e devoções, as ambições e os litígios, a saúde, a doença e a morte que tudo leva, mas pode deixar atrás de si “fortuna e ressentimento”. E deixa, também, rastos de vidas.

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A todos os autores que aqui as recuperaram e a todos os avaliadores, que tanto contribuíram para enriquecer as análises e interpretações propostas, o meu obrigada. Coimbra, 15 de julho de 2016

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