Rainha D. Maria Pia (1847-1911): o Quotidiano de uma Mãe

May 24, 2017 | Autor: Joana Beato Ribeiro | Categoria: Women, Royal family
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Rainha D. Maria Pia (1847-1911): o Quotidiano de uma Mãe

Imagem 1 – A Família Real em Queluz (1876) de Joseph Layraud.

História de Portugal Contemporâneo (Século XIX) Ano Lectivo 2015/2016 Docentes: Luís Espinha da Silveira e Paulo Jorge Fernandes Discente: Joana Beato Ribeiro (Nº41147) Caldas da Rainha, 11 de Janeiro de 2016

Plano do Trabalho

Introdução 1. Situação da Mulher no século XIX; 1.1 A Educação dos filhos. 2. D. Maria Pia; 2.1 Algumas considerações sobre as fontes e bibliografia utilizada; 2.2 A chegada desta rainha a Portugal.

Rainha Maria Pia: o Quotidiano de uma Mãe 1. O que se esperava de uma mãe que era também Rainha; 2. O nascimento dos filhos; 3. A relação entre país e filhos; 4. O Quotidiano entre país e filhos no Palácio da Ajuda, em Lisboa e nas proximidades. Momentos especiais: Viagens; Festas de Natal e Carnaval; Aniversários. Conclusão 1. Últimos momentos da relação entre filhos e mãe; 2. Família em transição política e social.

Introdução Falar da situação da mulher no século XIX em Portugal e, em específico, no tempo de que ocupa este trabalho (1863-1911), é tratar um tema bastante complexo. Quando se lida com pessoas, apesar de podermos falar em sociedade, há também que dar o benefício da dúvida e perceber que nem todas as situações são extensíveis ao conjunto. Nesta breve introdução à situação das mulheres no século XIX, algo evidente é o seu papel condicionado a vários níveis. Utilizando, por exemplo, as palavras de Irene Vaquinhas concluímos que “O não reconhecimento da mulher como ser juridicamente autónomo, só existindo enquanto elemento de um agregado familiar, ou seja, como esposa, mãe ou filha, sem direitos políticos e estatuto económico próprio, excluí-a dos poderes formalmente constituídos”1. Mas algo viria a mudar no entretanto, apesar das alterações mais significativas só se reconhecerem no já no século XX: “A emergência de novas formas de sociabilidade, a criação e a difusão de uma imprensa escrita e dirigida por mulheres, o despontar dos feminismos, a formalização de um novo enquadramento legal, o empenho posto pelo Estado na instrução feminina são sintomas inequívocos de mudança, enquanto se difunde um discurso tendente à valorização das mulheres.”2 Estas mudanças afirmam-se principalmente pela definição de um ideal burguês de sociabilidade. Foi a partir dele que se começou a desenhar com maior definição uma esfera privada na vida em sociedade. Esta esfera vai ligar-se a um determinado ideal de família, que assenta claramente numa intimidade doméstica que “exige condições de alojamento e organização racional do espaço doméstico adaptada aos diferentes momentos do dia-a-dia”3. Este é, de facto, um ideal de vida burguês, pois apenas uma classe média-alta poderia ter à sua disponibilidade meios que lhe permitem diminuir o seu agregado familiar, passando este a conter exclusivamente o pai, a mãe e os filhos ou, poderia ainda estabelecer essa família nuclear numa casa onde a intimidade doméstica fosse privilegiada. O estabelecimento de laços de afectividade, algo cada vez mais frequente no seio destas famílias, pode considerar-se uma clara consequência desta privatização.

Vaquinhas, Irene – Breve Reflexão sobre a História das Mulheres em Portugal: o Século XIX, Faces de Eva – Estudos sobre a Mulher, nº 3 2000. Edições Colibri/ Universidade Nova de Lisboa, p. 84. 2 Id., Ibid., p. 86. 3 Mattoso, José (Dir.) História da Vida Privada em Portugal. A Época Contemporânea. Lisboa, Temas e Debates, 2ª edição, 2011, p. 8. 1

Era neste contexto privado que cabia à mulher, entre outras coisas, assegurar os primeiros anos de educação dos seus filhos. É provavelmente neste tópico (da Educação) que mais diferenças se encontram entre o que acontecia dentro da família real portuguesa e o que acontecia aos herdeiros das classes médias-altas. Uma vez que, enquanto os primeiros recebiam educação em casa, num espaço previamente definido para tal e dispondo de perceptores e professores escolhidos pelos próprios reis, acompanhando o ensino público; a educação dos segundos passava (quase sempre) exclusivamente pelo ensino público. O que se pretende com este trabalho é estudar o envolvimento de D. Maria Pia de Sabóia (1847-1911), esposa de D. Luís I (1838-1889) desde 1862, na educação e vida dos seus filhos. Procurando perceber qual era a sua relação e, ao mesmo tempo, tentando perceber em que medida se pode atribuir um carácter burguês à família real constituída nesta segunda metade do século XIX. Para terminar esta introdução, a referência a algumas considerações sobre D. Maria Pia, a personalidade-chave deste trabalho. Para começar, os autores que mais recentemente trataram esta família (Rui Ramos, Luís Espinha de Silveira e Paulo Jorge Fernandes e Maria Antónia Lopes), apesar de serem de muito próximos nas referências factuais, em questões de maior interpretação existem algumas disparidades. Utilizei ainda de forma mais frequente as obras de Isabel Silveira Godinho. Relativamente às fontes, procurei fazer referências a autores da época e também à correspondência que apresenta alguma relevância para o tema. De uma forma geral, Maria Lopes procura estabelecer a imagem de uma rainha que é amada pelo seu povo, em parte, porque sabe como o fazer. D. Maria Pia nasce a 16 de Outubro de 1847 em Turim4, filha de Maria Adelaide de Habsburgo (1822-1855) e de Vítor Manuel II (1820-1878), à época príncipe herdeiro de Sardenha. Em 1847, D. Maria Pia tinha já 4 irmãos e, em Turim, habitava uma família real um pouco maior que aquela que a rainha teria em Portugal. Na sua família estrangeira, bastante mais numerosa, como aconteceria com os seus filhos, podia incluir-se o futuro D. Luís, pois as suas mães eram primas direitas5. O ano de 1855 terá sido especialmente traumático para D. Maria Pia, uma vez que, com 7 anos perdeu a sua mãe e outros familiares próximos, passando esta

Lopes, Maria Antónia – Rainhas que o povo amou: Estefânia de Hohenzollern. Maria Pia de Saboia. Lisboa: Círculo de Leitores, 2011, p. 107. 5 Id., Ibid., p. 111. 4

corte a estar “desprovida dos membros femininos adultos.”6 Segundo Maria Lopes a maioria dos filhos de Vítor Manuel II teve “uma educação rígida, muito severa”, o “quotidiano austero” era apenas interrompido pelas festas de família e da corte7. Logo que, em 1861, D. Luís chega ao trono, uma das maiores preocupações é arranjar-lhe uma esposa e gerar descendência, pois a morte prematura do antigo casal real deixara o medo da morte a pairar em Portugal. O casamento do novo rei torna-se “um assunto de Estado”8 que depois de algumas ponderações e tentativas acaba por se resolver a 6 de Julho de 1862 quando uma carta de Vítor Manuel II9 chega com uma resposta afirmativa ao pedido de casamento de D. Luís10. A já rainha, D. Maria Pia, chega a Portugal a 5 de Outubro de 1862, altura em que o jovem casal já havia trocado várias cartas, revelando-se D. Luís “intensamente apaixonado”11. Mostrando-se dedicado a esta causa, que é o seu casamento, e procurando deixar D. Maria Pia a par do que iria encontrar em Lisboa, seja a família, seja o estilo de vida «quase monástica»12.

6

Id., Ibid., p. 112. Id., Ibid., p. 114. 8 Silveira, Luís Nuno Espinha da e Fernandes, Paulo Jorge – D. Luís. Círculo de Leitores, Junho de 2011, p. 37. 11 ANTT - CCR, cx. 7496. 12 ANTT - CCR, cx. 7341, Silveira, Luís Nuno Espinha da e Fernandes, Paulo Jorge – D. Luís. Círculo de Leitores, Junho de 2011, p. 40. 13 Silveira, Luís Nuno Espinha da e Fernandes, Paulo Jorge – D. Luís. Círculo de Leitores, Junho de 2011, p. 42. 14 ANTT - CCR, cx. 7488, capilha 1045, Silveira, Luís Nuno Espinha da e Fernandes, Paulo Jorge – D. Luís. Círculo de Leitores, Junho de 2011, pp. 44-45. 7

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