Recensão Critica ao livro ‘’ A Notícia – Pistas para Compreender o Mundo’’ de Mar de Fontcuberta

July 12, 2017 | Autor: Margarida Queirós | Categoria: Journalism, Newswork, Recensão Crítica
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Recensão Critica ao livro
'' A Notícia – Pistas para Compreender o Mundo'' de Mar de Fontcuberta
Tradução e prefácio de Fernando Cascais
3ª edição













Técnicas de Redação
1º Ano; 2º Semestre; Licenciatura em Jornalismo; Ano letivo 2012/2013
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Aluna: Ana Margarida Galveia Queirós (2012103179)
Docente: Ana Teresa Peixinho
A autora, Mar de Fontcuberta, de nacionalidade espanhola, jornalista e ''expert'' em comunicação, doutorada em Ciências da Comunicação e professora catedrática da UBA (Universidade Autónoma de Barcelona) pretende com este livro captar toda a complexidade do conceito de notícia, avançando assim, com abordagens que justificam este género jornalístico como uma grande pista para compreender o mundo.
''A Noticia'' é um ensaio sobre o mundo da comunicação, um ''manual'' didático dirigido a, como diz Fernando Cascais (tradutor do livro) três tipos de recetores: ''quem se prepara conscienciosamente para ser jornalista; quem já o é e sente que precisa de reflectir no que faz; e quem é leitor/ouvinte telespectador ativo''.
Está dividido em sete temas principais que são também os capítulos do livro: ''O jornalismo, informação de actualidade''; ''Os meios de comunicação incluem, excluem e hierarquizam a informação''; ''O valor da informação''; ''Conceito e estrutura da notícia''; ''Linguagens e estilos jornalísticos''; ''Os títulos jornalísticos''; ''Os novos Jornalistas''.
Optaremos agora por, sucintamente, explicar a que diz respeito cada tema/capítulo do livro. O primeiro, aborda questões em relação a dois conceitos-chave do jornalismo: ''acontecimento e actualidade'' (p.13). O segundo, fala da obrigação dos jornalistas, imposta pelo grande volume de notícias, de ''incluir, excluir e hierarquizar a informação'' (p.33). O terceiro, de como os meios de comunicação valorizam umas notícias em detrimento de outras, e como o fazem – ''utilizando dois elementos: seleção das fontes de informação e técnicas formais e estéticas na apresentação dos conteúdos'' (p.45). O quarto, põe em evidência, primeiro, o conceito de notícia e depois os vários tipos de notícia, explicando sempre como ''a estrutura da notícia directa foi concebida para dar a máxima informação ao menor tempo ou espaço possível'' (p.57). No quinto capítulo, a autora explica as variadas diferenças entre literatura e jornalismo apoiando-se em alguns autores, abordando depois, os livros de estilo e como estes sujeitam a linguagem jornalística que visa a eficácia comunicacional. No sexto, comenta como ''titular é uma operação difícil e complexa'' pois ''os títulos jornalísticos identificam, anunciam e resumem as notícias'' (p.91) para depois escortinar os vários tipos de títulos, abordando dois autores: Alarcos Llorach e Luis Núnez Ladevèze. Finalmente, no último capítulo é evidente a opinião da autora a cerca do que deve ser um jornalista: ''deve possuir conhecimentos teóricos e técnicos que o qualifiquem como especialista em comunicação numa área concreta da informação jornalística''; e ainda como este ''precisa de encarar novos papéis e fugir as excessivas dependências das rotinas laborais'' (p.101)
A nosso ver, no primeiro, no segundo e no último capítulo, são abordadas questões teóricas intrínsecas à atividade jornalística no geral; enquanto que, nos quatro restantes, é abordada uma parte mais prática da criação da notícia em si, como de que forma de faz a seleção das fontes, como quais os tipos de notícia, livros de estilo e tipos de títulos jornalísticos.
Tentando seguir uma ordem cronológica de ideias em consonância com livro, começaremos por abordar a ideia, na nossa opinião, errada de que ''a leitura diária da imprensa e a sintonização quotidiana de emissoras de rádio e de canais de televisão transformam o utilizador em especialista, dispensando outros conhecimentos e, mais ainda, ensinamentos'' (p.11), teoria segundo a qual ''os receptores não precisam de uma aprendizagem dos meios, dada a acessibilidade destes, estar amplamente disseminada na sociedade'' que é o mesmo que dizer, que qualquer um consegue ser jornalista, observando apenas de fora, como se faz o jornalismo. É de notar que, já em 1993, ano em que o livro saiu para o mercado espanhol, se abordavam questões muito semelhantes às abordadas agora, como a do ''jornalista-cidadão'', que aparece agora devido as novas tecnologias e à facilidade de publicação de conteúdos na internet.
A autora justifica o aparecimento deste tipo de teses com o facto de, na altura, a maior parte dos estudos à cerca das práticas jornalísticas serem feitos por teóricos de outras áreas: ''estudos sobre produção, desenvolvimento, estrutura e recepção dos meios de comunicação têm sido feitos geralmente a partir de campos alheios à profissão jornalística: sociólogos, filósofos, historiadores e comunicólogos dissecaram o jornalismo a partir de muitas vertentes e distintos pontos de vista'' (p.11).
O principal objetivo da escritora é dar uma outra ''visão'': uma visão de quem está por dentro, a quem quer estar por dentro – ''o meu primeiro objectivo foi transmitir o essencial da profissão a futuros jornalistas'' (p.11) – e, para além disto, ajudar um mero recetor de informação a ser um ''receptor bem informado'' (p.11), que, como referido pela autora na mesma pagina deve saber porque recebe uma informação e não outra. Em suma, pretende dar os alicerces básicos necessários a ser um bom jornalista, assim como um bom público.
Fontcuberta explica de seguida como esperamos que, as notícias que contamos aos outros, sejam recebidas, abordando desta forma o processo noticioso – como se transmitem as notícias entre o público. Com a frase ''uma pessoa sem informação é uma pessoa sem opinião'' (p.14) introduz a importância dos meios de comunicação como formadores do mundo, explicando o quão são importantes e como controlam a agenda mediática e de como, ainda assim são criticados por ''oferecerem uma realidade parcial ou deformada'' (p.14). – abordando então o grande tema da objetividade jornalística. Aborda de seguida cinco fatores que definem o discurso jornalístico tradicional, dos quais constam a novidade, a veracidade, a periodicidade e interesse do público; no entanto, este conceito já sofreu alterações paradoxais, e uma dessas é ''o tratamento de assuntos cujo desenvolvimento é de longa duração''. Então, os meios de comunicação estão, a pouco e pouco, a distanciar-se dos seus próprios contornos. Explica ainda como agora o monopólio da história pertence agora aos media, pois a noção de acontecimento está paralelamente ligada as alterações da própria sociedade.
Aborda depois a tese de que informação gera opinião e consequentemente opinião gera informação – o que acontece devido a rapidez de informação que Fontcuberta explica, apoiando-se em Tudescq, que fala da sociedade como «sociedade acontecedora».
Portanto, nesta sociedade acontecedora, teria que existir uma diversificação de acontecimentos, que geram depois, uma diversidade de temas. Estabelece depois três elementos essenciais ao acontecimento jornalístico: a rutura com a norma, a participação do público na mensagem jornalística e a ''comunicabilidade do facto'' (p.17) que é o mesmo que dizer que um facto previsto é suscetível de ser público.
Assim, existem três fatores que determinam se a informação pode ser notícia: ''a) ser recente; b)ser imediata; c) que circule'' (p.18). No entanto, para ela a atualidade jornalística é definida pelas várias publicações jornalísticas no mercado existem vários tipos de atualidades. Fala do tempo como grande condicionante do jornalista e como funciona na prática a periodicidade. Explica de seguida os vários tipos de não-acontecimentos. Para concluir o primeiro capítulo, opina sobre a função do jornalismo, que para ela passa por informar, formar e distrair mas também por uma função comercial: ganhar dinheiro, o que por vezes leva ao tao falado sensacionalismo.
No segundo capítulo, explica a obrigação dos jornalistas, que devido ao grande volume de notícias são obrigados hierarquizar, incluir ou excluir informação. Daqui depois parte a especialização de cada meio de comunicação, que sente necessidade de ter conteúdos homogéneos, pois estes atraem consumidores homogéneos, e desta forma a audiência aumenta. Fala depois no que interpretámos como ''o cliente tem sempre razão'' – ou seja, de como no fim, quem escolhe é sempre o público. Aborda de seguida oo interesse do público e das três direções que este toma ''quando procura e seleciona as notícias'' (p.36). E por isso explora o porque das noticias do espaço privado alheio terem tanto sucesso e escortina várias conclusões a retirar do crescente consumo deste mesmo tipo de notícias. Aborda as várias características da sociedade de massas e o ''declínio dos meios de informação geral em favor dos especializados'' (p.41) dando como exemplo a situação americana dos anos 80. Explica que alguns factos e opiniões são escolhidos ''para conseguir dois objectivos: ganhar dinheiro e ter a máxima influencia e difusão'' (p.42) e que da mistura destes dois objetivos resulta a construção da agenda, e como esta construção resulta ainda de que sector da sociedade advém o conteúdo da informação. Finaliza com os três interesses que definem o conteúdo de cada meio de comunicação: o interesse do público, do meio e da sociedade.
No seguinte capítulo fala sobre quais os fatores que ajudam a diferenciar os meios de comunicação: ''as fontes de informação e a escolha dos aspectos gráficos de informação'' (p46) sendo que as fontes podem ser de dois tipos: a fonte procurada e a fonte que procurou. Dá quatro motivos para identificar as fontes – o porquê de se usar a ''atribuição'', explicando depois que existem quatro níveis da mesma. Fala sobre o uso de citações, que pode ser de tipo direta ou indireta, e como a técnica mais usada ser utilizar as duas formas por assim se conseguir maior atenção do público. Explicita como o aspeto visual dos meios de comunicação facilitam a valorização e acessibilidade de conteúdos, explicando depois vários processos para destacar informação. Aclara depois, que para um grafismo adequado há que escolher o formato, definir o numero da colunas, escolher as famílias de letras e elementos ornamentais e saber o estilo da composição.
No quarto capítulo, a autora explica como é necessário o jornalista ter um esquema mental onde estejam presentes os 6 WW: ''O quê?; Quem?; Quando?; Onde?; Porquê?; e Como?'' (p.60), dividindo depois cada notícia em duas partes: o lead e o corpo; o primeiro é o núcleo fundamental da notícia e o segundo, explica. Mostra-nos depois, que existem dois tipos de notícia: a simples (com um único elemento), quem tem no lead um único tema protagonista; e a notícia múltipla (com vários elementos) que tem mais do que uma ideia base no lead.
Fala depois de algumas técnicas para redigir notícias, a destacar o ''truque'' do parágrafo curto, que se rege por algumas condições, e ainda, ao uso de frases e palavras de ligação, para as quais dá vários exemplos. Após isto, explica os vários porquês para a escolha dos vários tipos de notícia: de sumário, cronol gica, temática, complementar, espacial e de interesse humano. Aborda ainda a notícia direta e a notícia criativa, que tem objetivos bastante opostos: a primeira ''tem como objectivo informar, ou seja, transmitir a ocorrência de um facto actual susceptível de interessar a um público massivo'' e a segunda ''pertence ao chamado jornalismo informativo criativo (PIC) e procura atingir três objectivos: a) distrair o leitor; b) complementar a informação da notícia directa; e c) introduzir novas formas de narrativa e de linguagem no jornalismo'' (p.70) que tem como único objetivo interessar e introduzir o leitor na história

No capítulo seguinte, o capítulo quinto, são faladas as linguagens e os estilos jornalísticos. A autora introduz estes temas, enunciando diferenças entre literatura e jornalismo, que para alguns são campos completamente diferentes, com objetivos distintos; para outros, um é a sequela do outro, e existiram ainda, alguns que dizem se tratar ''de dois contextos diferentes que sempre tiveram e continuarão a ter pontos de contacto'' (p.74). Enumera então, sete principais diferenças enunciadas por lázaro Carreter: ''o escritor não se confronta com necessidades práticas imediatas; no jornalismo elas são pressionantes''; ''o escritor dirige-se a um receptor universal, sem rosto; o jornalista, embora o jornal tenha uma vasta audiência, escreve para receptores muito concretos, cujo núcleo é habitualmente fiel e muito pouco variável''; ''a mensagem literária actua independentemente do espaço e do tempo; a jornalística perde eficácia e desaparece fora das coordenadas espácio-temporais concretas que definem a actualidade''; no campo jornalístico, o leitor guia-se por necessidades práticas; no campo jornalístico, existe um contexto partilhado pelo emissor e recetor; não existem ruídos (experiencias com a linguagem); e finalmente, o escritor não tem um limite para expor as suas ideias, e o jornalista vive numa liberdade de espaço bastante diminuída.
Em relação a códigos linguísticos, a autora expõe quatro autores, três linhas diferentes de pensamento: Martinéz Alberto, Eliseo Verón e Manuel Alonso e Luis Matilla.
O primeiro divide os códigos em dois tipos: código linguístico e código icónico. O segundo, em três séries visuais: a série visual linguística, a série visual paralinguística e a série visual não linguística. Os dois últimos, consideram ainda, e em relação à informação audiovisual, os seguintes códigos: o código espacial, o gestual, o cenográfico, lumínico, simbólico, gráficos, e códigos de relação. Explica depois como a eficácia da comunicação está dependente do uso de uma linguagem mista, e como esta pressupõe um pensamento que de referencia a géneros literários, pois estes podem e devem ser uma referência para a criatividade. Depois, sintetiza dois grandes tipos de géneros jornalísticos, ''os que servem para dar a conhecer os factos e os que dão a conhecer ideias'' (p.80), campo onde destaca o professor Ángel Benito que define três géneros de jornalismo: jornalismo ideológico, jornalismo informativo, e jornalismo interpretativo. Conclui aclarando que na sua opinião ''os géneros jornalísticos são fundamentalmente quatro: notícia, reportagem, crónica e artigo ou comentário'' (p.81). Depois agrupa os géneros jornalísticos em três estilos, o estilo informativo, onde se inserem a informação, a reportagem e a crónica; o estilo opinativo, onde se incluem o editorial, artigo ou comentário; e o estilo distrativo, onde se inscrevem os romances em folhetim, os contos e o humor.
De seguida é evidenciada a necessidade dos livros de estilo, pois os profissionais precisam de ''manuais de instruções precisas que possibilitem a utilização eficaz da linguagem informativa'' (p.85). Cita dois autores, a primeira, Martínez Alberto, para quem os livros de estilo servem para definir normas linguísticas e normas particulares; e José F.Beumont que analisou três funções chave: ''1. Fixação da identidade do meio de comunicação; 2. Fixação de normas em zonas de linguagem controversa; 3. Unificação do idioma'' (p.87).
No sexto capítulo, é explicada a importância dos títulos: é neles onde está a primeira impressão de uma notícia e é quando o jornalismo nos tenta convencer a ler ou não a notícia que se segue. Assim, este cumpre três objetivos: ''anunciar e resumir a informação contida na notícia; convencer do interesse daquilo que se conta; e terem vida própria'' (p.91). Cita dois autores ao falar de vários tipos de títulos: Alarcos Llorach e Luis Núnez Ladevèze. É falada ainda a regra de ouro: falar no presente; desta forma o publico sabe o que está a acontecer e não o que aconteceu e o título ganha ainda autonomia.
No último capítulo a autora explica o que considera que tem que ser um jornalista, focando dois tipos de jornalistas: os especialistas e os generalistas. Desenvolve depois, o conceito de rotina profissional do jornalismo, citando Gaye Tuchman como uma ''das primeiras a chamar a atenção para o fenómeno das práticas informativas'' (p.106), que tendem a criar rotinas, principalmente em relação a tipologia das fontes. Aborda um tema ainda mais atual agora, o tema das novas tecnologias, onde o jornalismo se deteriora pois a ''progressiva preocupação da técnica faz que, muitas vezes, o jornalista esteja mais preocupado com a forma do que com o conteúdo'' (p.108).
Em suma, o livro explica as questões mais mediáticas sobre a notícia e o jornalismo. A melhor crítica que posso fazer a este livro será a genialidade dos conteúdos, pois foram teorizados em 1993 e, continuam muito atuais.

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