Recensão Crítica do livro ‘’Leituras das Notícias\'\' de Cristina Ponte

July 12, 2017 | Autor: Margarida Queirós | Categoria: News ethics
Share Embed


Descrição do Produto







Recensão Crítica do livro
''Leituras das Notícias – Contributos para uma análise do discurso jornalístico''


Licenciatura em Jornalismo – 2013/2014
Discurso e Comunicação
Docente: Ana Teresa Peixinho
Ana Margarida Galveia Queirós








PONTE, CRISTINA (2004) Leituras das Noticias – Contributos para uma análise do discurso jornalísticos.

Neste livro, Cristina Ponte pretende criar uma ligação entre vários quadros teóricos que dispõem artifícios importantes para o estudo do Jornalismo em quanto: género discursivo ou texto noticioso, no que toca as relações entre este e a linguagem, conhecimento do mundo, e ainda base para um circuito de comunicação onde se manifestam os conceitos de noticiabilidade.
A autora começa então por explicitar as relações entre jornalismo e linguagem/ literatura, interrogando-se sobre como isso influencia a experiência social e o próprio discurso, com algumas referências ao que interpretámos como ''intertextualidade''. Posto isto, é feita uma contextualização histórica do jornalismo, que perdura até hoje definido (em grande parte) pelo modelo anglo-americano; são de destacar os fatores que proporcionaram o seu aparecimento e também as implicações que emergiram tanto através de fatores externos (sociais, políticos) como pela proximidade à literatura.
É feita referência à relevância social no tratamento do tema e posteriormente explicado como deste Realismo deriva o Novo Jornalismo, fenómeno explicado pela sua forte componente (do realismo) de compromisso social e de processos de descrição; é seguidamente feita uma distinção entre esse Novo Jornalismo (ou jornalismo de investigação) e o ''jornalismo de denúncia com contornos melodramáticos'' (PONTE 2004:35), o jornalismo dos fait-divers. Finalmente são dados alguns exemplos de processos de identificação com o leitor, que são importantes para entender o conceito de fait-divers: estes são aqui definidos e caracterizados pela autora. Estão geralmente próximos dos leitores e publicitam a ''retórica da autenticidade'' (ibidem:40), tornando-se redutores, dando a ideia ''da história não mudar'', com ''pessoas e eventos (a serem) apresentados como representações ou

exemplos de um universo mítico, indiscutível e eterno'' (ibidem:38), como nos explica Gripsrud aqui evocado por Ponte.
O segundo capítulo centra-se na dúvida: que lugar ocupa o jornalismo na produção de conhecimento - constrói-os ou escolhe-os e afasta-os? E que valores tem esta comunidade interpretativa a seu dispor para tomar essas decisões? Citando Robert Park, Cristina caracteriza o conceito de notícia dos anos 20: devia relacionar-se com o leitor, com o objetivo de o estimular a pensar e depois a falar; pois acreditava-se que é a partir da interpretação dos acontecimentos noticiosos que se constrói a opinião pública. É recordado assim o conceito de ''memória coletiva'', já existente nesta altura, que é atualmente corroborado por investigações que se relacionam com esta ideia que deriva da ''construção de cognições sociais por analogias, a reapropriação e reconstrução de eventos reais por uma memória colectiva, a aproximação entre o campo da realidade e da ficção'' (ibidem:58).
São dadas depois orientações sobre como se deve pensar o acontecimento jornalístico: como a aceleração dos circuitos informacionais tem, de certa forma, deteriorado o jornalismo tanto como o ''culto da juventude'' (introduzido por Thomas Eriksen), que se expressa no excesso de informação dos tempos modernos. Este excesso de informação, não significa mais conhecimento sobre o mundo: ''a homogeneidade, simplificação, fragmentação ou falta de coesão afectam o conhecimento e a compreensão'' (ibidem:78).
É evocado Roland Barthes e o seu trabalho da construção da significação que distingue patamares denotativos de patamares conotativos, e poucas páginas a frente é comentado como falta por em causa o poder do jornalismo. Este tem sido estudado muitas vezes pela sociologia, o que se têm mostrado negativo. No campo sociológico é dada mais atenção as metodologias de inquérito sobre unidades acabadas em deterioração do estudo sobre ''processos de envolvimento e negociação dos jornalistas''(ibidem:86). São feitas ainda algumas críticas a sentimentos de autoridade por parte desta comunidade interpretativa perante outras, que depois tem como

consequência padrões de autoridade jornalística na cobertura de acontecimentos, que posteriormente irão influenciar a construção da memória social, comum.
O público é aqui igualmente caracterizado, e é abordado ainda o tema a que optamos chamar ''jornalismo de género'', que exige ao sexo feminino uma maior sensibilidade para lidar com o lado humano dos acontecimentos, e ao sexo masculino, uma maior frieza, neutralidade, ou uma maior objetividade.
Centrado no conceito de noticiabilidade, o terceiro capítulo enfatiza e metodiza sobre a Mass Communication Research e sobre a Teoria Crítica, contrastando-as, fazendo outra breve referência aos ensaios de Roland Barthes sobre a simplicidade dos conteúdos mediáticos num mundo transparente e mitificada. É assumidamente criticado o dito ''dom para o jornalismo'', ''faro para a notícia''; e é realçada a necessidade da inclusão da ''análise textual numa análise mais global dos processos de produção e de recepção'' (ibidem:134). É destacada ainda a diferença entre interesse público e interesse do público, assim como a importância de diminuir a opacidade dos valores-notícia que, têm uma origem complexa.
Cristina Ponte não considera esgotada a pesquisa do jornalismo, assumindo aqui uma postura crítica, direcionada para uma construção de uma melhor análise que evidencie alternativas e sublinhe tendências. Neste seu rico, organizado e importante trabalho explicativo, a autora deixa-nos percecionar o valor que dá ao jornalismo e aos jornalistas, tendo-os como importantes formadores do mundo, como uma das atividades sociais mais importantes; e, por isso, a obrigatoriedade de primar sempre por uma superação da sua teorização, exaltando a necessidade de um leque de matérias/áreas que contribuam para o estudo desta prática, ajudando a melhor perceber a informação que não conhecemos, e sobre a que temos, como está enquadrada. Consideramos por fim que, esta reflexão deve constituir uma reflexão para a cidadania, pois as ''Leituras das Noticias'' não podem nem devem ser feitas só pela comunidade jornalística, mas por todos, pois esse é o único caminho para a compreensão e enquadramento das mesmas.



Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – Licenciatura em Jornalismo
Discurso e Comunicação " 1º Semestre " Dezembro 2013 " Margarida Queirós

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.