Recônditos Lugares

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Recônditos Lugares: Um breve estudo da memória, do cotidiano e das formas
de solidariedade nas fazendas do Vale do Paraíba Fluminense.

Guilherme Moerbeck[1]




Resumo


Este trabalho pretende analisar, em diferentes níveis, aspectos da
vida, do cotidiano, das relações sociais da vida do homem do campo, assim
como das imagens que foram e ainda são construídas destas pessoas. Na
primeira parte apresentaremos alguns aspectos teóricos e metodológicos no
que se refere às fontes de tipo oral, para, em seguida, discutir três
importantes teses acerca do homem que vive no campo. São elas,
respectivamente, a de Antônio Cândido, a de Maria Sylvia de Carvalho Franco
e por fim a de Márcia Menendes Motta. A partir desta perspectiva, colhemos
algumas entrevistas com habitantes do Vale do Paraíba Fluminense, com o
intuito de uma reaproximação do modo de vida e das representações destes
homens do campo.


Palavras-chave


História regional


História oral


Representações



Abstract



This paper aims to examine, at different levels, aspects of life, the
everyday social relations of human life in the countryside, as well as the
images that were and still today are produce of these people. The first
part will present some theoretical and methodological aspects about sources
of oral type, to then discuss three important ideas about the man who lives
in the countryside. They are, respectively, Antonio Candido, Maria Sylvia
de Carvalho Franco and at last, Marcia Motta. From this perspective, we
collected some interviews with residents of the Vale do Paraíba Fluminense,
aiming at a re-approach of the lifestyle of these men and representations
of the field.


Key-Words


Regional History.


Oral History.


Representations.






Introdução



A idéia de fazer esse trabalho foi surgindo aos poucos e de forma,
digamos, não muito convencional. Primeiro por que é fruto de um curso em
que eu não sabia, em princípio, nem qual seria seu conteúdo. No entanto,
passando essa fase de reconhecimento do "território", tive uma grata
surpresa ao saber que poderia através de um trabalho acadêmico, relembrar e
reviver aspectos da minha infância que construí durante as férias de cada
ano que eu passava no sítio de meu tio, localizado no município fluminense
de Paraíba do Sul. Tratava-se, portanto de um retorno, no qual eu poderia
construir uma nova visão não apenas sobre o meu passado, mas, outrossim,
sobre o passado de algumas pessoas que tive a sorte de conhecer durante
minha infância e adolescência. Não sei dizer ao certo se as experiências
vividas por mim serão boas ou não para os resultados deste trabalho, posto
que estarei, provavelmente, misturando algo de metodológico e minimamente
objetivo, com as experiências empíricas e afetivas que trago comigo acerca
não só das pessoas, mas como do próprio lugar que traz em si algo de
poético em seu ritmo de vida[2].
Podemos, enfim, iniciar nossa jornada. Este trabalho pretende
analisar, em diferentes níveis, aspectos da vida, do cotidiano, das
relações sociais da vida do homem do campo, assim como das imagens que
foram e ainda são construídas destas pessoas. Na primeira parte
apresentaremos alguns aspectos teóricos e metodológicos no que se refere às
fontes de tipo oral, para, em seguida, discutir três importantes teses
acerca do homem que vive no campo. São elas, respectivamente, a de Antônio
Cândido, a de Maria Sylvia de Carvalho Franco e por fim a de Márcia
Menendes Motta. Evidentemente, lançaremos mão de outros trabalhos quando
necessário. Contudo, nossa viagem ainda não termina por aqui, pois o
intuito maior deste trabalho é fazer uma análise comparativa, no que tange
os aspectos mentais e cotidianos da vida desses homens livres pobre do
século XIX com os nossos contemporâneos. O conceito de camponês é deveras
polissêmico e controverso, ao mesmo tempo em que engloba alguns aspectos
das vidas dos entrevistados, deixa outros tantos de lado. Estes são aqueles
que considero principais na distinção das pessoas em questão, prefiro,
portanto, utilizar categorias como a de agregado, trabalhador rural ou
ainda a de pequeno produtor.[3]
Decerto, não pretendemos num trabalho pequeno como este, alçar grandes
vôos, porém creio se este puder, mesmo que através de críticas contribuir
em algumas discussões acerca do tema em questão, já me darei por
satisfeito.




A Construção da Memória



A memória enquanto fonte para a história requer não só uma série de
cuidados específicos por parte do pesquisador, mas também gera uma série de
reflexões que tentarei, de forma sucinta, explicitar nas próximas linhas.
Tentando observar nesta análise a memória enquanto um fenômeno construído
socialmente, além das relações estabelecidas entre a memória individual e
coletiva e a construção das identidades sociais, almejando igualmente
traçar as idéias básicas que constituem a história da memória num campo de
pesquisa para o historiador.
Tomando como ponto de partida a idéia de Maurice Halbwachs, de que a
memória deve ser entendida como um fenômeno construído coletivamente e
influenciado socialmente, é que pesquisadores como Michael Pollak e Henry
Rousso desenvolveram seus argumentos. Contudo, é necessário deixar claro
que apesar da memória ser uma construção social e coletiva não quer dizer
que isso consista em uma definição de memória coletiva, assunto este que
trataremos a poteriori.
Rousso discute essa idéia de uma memória constituída socialmente
quando afirma que a memória:

"... é uma reconstrução psíquica e intelectual que acarreta de fato uma
representação seletiva do passado que nunca é aquele do indivíduo
somente, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar, social,
nacional (Rousso 1998, p. 94)".


Mas como seria construída essa memória? Pollak esmiuçaria essa idéia
mostrando que a memória traz em si alguns elementos que a constituem.
Seriam eles: 1) Os acontecimentos vividos pessoalmente; 2) os
acontecimentos vividos por tabela, estes seriam aqueles avaliados pelo
grupo que o indivíduo sente pertencer, mas não necessariamente a pessoa
participou diretamente desse evento; 3) a memória se constitui também de
pessoas e personagens, que tem relevância mesmo que também seja por tabela;
4) também podem ser citados os lugares de memória que de certa maneira
podem representar para o indivíduo um processo de identificação[4].
Entretanto, a ressalva que podemos fazer em relação aos elementos
constitutivos da memória, é que em alguns casos, estes podem ser a projeção
de algum evento sobre outro, ou seja, quando acontece a assimilação, a
transferência, de fatos ocorridos no de menor para o de maior importância,
em determinada comunidade. Neste processo seletivo da memória pode
acontecer também gravação de determinada data em função da experiência de
cada pessoa. Além disso, a importância momentânea das preocupações
constitui também um elemento de estruturação da memória.
A memória mostra-se como um fenômeno construído quando percebemos o
quanto às preocupações momentâneas tem grande importância, por exemplo, na
construção de uma memória nacional, isto é, o que deve ser selecionado e
organizado para representar a memória de determinado grupo. Neste campo a
memória se apresenta como lugar de conflitos políticos; além disso, a
memória pode ter sua construção de maneira consciente ou não-consciente.
Esta discussão é assunto para o próximo tópico que se refere às ligações da
construção da memória e suas implicações com o sentimento de identidade.

Memória e Identidade


A identidade é por si só um conceito controverso que gerou e ainda
permanece sob discussão. Antropólogos, sociólogos e historiadores se
colocaram intensamente nessa querela, e também pudera, a noção do que seja
identidade pode estar relacionado ao de etnia[5] (outro conceito bastante
discutido), família, grupos, ou pode dizer respeito à vida do indivíduo.
Nas discussões sobre identidade étnica Clifford Geertz mostraria que, a
partir de uma visão culturalista objetivista, a identidade inerente ao
grupo étnico seria algo ao qual não se poderia escapar, inexorável, como se
fosse decidida desde o princípio. Todavia, a discussão que pretendo
estabelecer nas próximas linhas trata de como um determinado estilo de vida
e visão de mundo podem ser significativos para a elaboração das identidades
sociais. E das ligações entre a memória herdada e o sentimento de
identidade.
A partir de uma noção de identidade que consiste basicamente na
autoconsciência e na alteridade, ou seja, na imagem que um grupo tem de si,
e na demarcação das fronteiras que os tornam diferentes de outros grupos.
Podemos, então, explicitar os elementos que estariam intimamente ligados na
construção de uma identidade. Estes caracterizar-se-iam em primeiro lugar
quando se tem um sentimento de fronteiras físicas, no caso do indivíduo; e
de pertencimento a um grupo no caso de um ente coletivo; também pode-se
citar a existência de uma continuidade temporal relacionado aos aspectos
morais e psicológicos; além disso, fica evidente a necessidade de um
sentimento de continuidade e coerência, isto é, onde os diversos elementos
formadores dos indivíduos se encontram unificados. Afirmaria Pollack:


"Podemos, portanto dizer que a memória é um elemento constituinte do
sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em
que ela também é um fator extremamente importante do sentimento de
continuidade e de continuidade de uma pessoa ou em um grupo em sua
reconstrução de si" (POLLACK 1992, p. 204).



As relações entre memória e projeto mostram questões acerca das
construções das identidades. Essas questões podem ser verificadas nas
sociedades ditas tradicionais onde as unidades englobantes como: nação,
linhagem, família e igreja se sobrepõem ao individual e as sociedades onde
os indivíduos e suas biografias são privilegiados.
Dentro do caso das unidades englobantes está o trabalho de
enquadramento da memória e de uma organização ideológica feita por
historiadores orgânicos; que no caso do partido comunista dariam certa
unidade e coerência. Aspectos estes ligados à identidade que este grupo
construiu para si. Nas sociedades onde o indivíduo é foco de maior
relevância, verifica-se uma psicologização da sociedade. A condução e
formulação de um projeto estão intrinsecamente relacionada à valorização de
uma individualidade, a associação do projeto e a memória possibilitam dar
significação à vida e às ações dos indivíduos, conseqüentemente, da própria
identidade. Essa memória fragmentada, a descontinuidade do passado, esses
episódios separados tem a possibilidade de adquirir uma significação
verossímil através do projeto.

História e Memória


A análise da memória enquanto fonte constituinte da história gera a
necessidade de se fazer uma crítica na qual se possa: "Controlar as gestões
da memória. Quanto menos uma história de vida for pré-construída, mais isso
funcionará".(POLLACK 1992 p. 208-9) Não se prendendo esta análise da
memória, a uma insana verificação da veracidade de todos os dados. Desejo
tratar neste ponto, da construção e da análise do depoimento, assim como
das implicações da história da memória enquanto um campo de pesquisa para o
historiador.
Antes, porém de adentrar nos cuidados que se deve tomar na
reconstrução de uma história a partir da memória, se faz importante frisar
que essa construção, ou até mesmo a intenção de se buscar uma noção de
memória coletiva de determinado grupo, leva o historiador a admitir que a
memória tem uma história e que esta é crível de compreensão; separando,
desta forma, a antiga dicotomia estabelecida entre memória e história.
Acerca das análises de depoimentos temos uma série de circunstâncias
relevantes que podem ser ressaltadas, onde se pode perceber a maneira como
a memória é construída. Nesse sentido, torna-se importante verificar a
maneira como se estrutura o discurso, a partir do estilo, que pode ser
cronológico, temático ou ainda factual. Podemos também aprofundar a análise
do discurso, através da observância da forma em que se utilizam os pronomes
como: "eu"; "tu" e "ele". Neste momento podemos apreender como a testemunha
se coloca perante a história, isto é, considerando-se como um sujeito com
participação efetiva na história ou apenas um objeto que se coloca ou pensa
ser apenas uma testemunha passiva da história.

"Mediante uma análise detalhada dos discursos em função da posição e do
status da testemunha poder-se-ia talvez formular critérios de
caracterização, não mais segundo o tipo de testemunha, mas segundo o
tipo de história. Cada entrevista teria então sua própria lógica, seu
próprio procedimento, adaptado ao objeto de estudo" (VOLDMAN 1998,
p.261).


Em geral é admitida que as representações do passado quando observadas
em determinado lugar e de forma recorrente; Quando há significação para um
determinado grupo, pode haver uma manifestação de memória coletiva. Sendo
assim:

"Fazer a história dessas manifestações, isto é, realizar uma pesquisa
sobre a representação autóctone de fatos passados e sua evolução
cronológica, permite chegar mais perto de uma noção de memória
coletiva, ainda que por uma abordagem empírica, própria dos
historiadores. Eis o objetivo de toda historia da memória. (ROUSSO
1998, p. 95)".

A história da memória enquanto campo de pesquisa para o historiador
apresenta-se relacionada principalmente a política de memória do estado, na
qual se apresentam claramente lutas políticas para sua construção; nas
representações do passado no cinema, na literatura e também das associações
de preservação da memória. Na busca por uma noção de memória coletiva a
história da memória toma como objeto de suas pesquisas grupos como as
mulheres, o operariado, os judeus e por que não, os camponeses de certa
região. Várias questões são propostas na discussão de uma história da
memória entre elas estão sugeridos o problema de se tomar à parte pelo
todo, ou seja, do fato de se ter à pretensão de captar uma "memória
nacional" através da memória de determinados grupos restritos, além disso,
Henry Rousso ressalta que:

"Em outras palavras, a história da memória só poderá realmente
pretender oferecer a chave da inteligibilidade do passado quando
conseguir, se afastar uma pouco da atualidade e da demanda social, em
suma, dos objetos de recordação que evidentemente necessitam desde logo
uma história" (ROUSSO 1998, p. 97).


No exemplo dado do trabalho realizado por Michael Kammen, propondo uma
história das tradições e das culturas políticas norte-americanas, mostra-se
a construção de memória de um passado para responder a necessidade de dar
forma e substância à sua identidade nacional. Já no belo trabalho de
Alessandro Portelli pode verificar-se que na cidade de Civitella Val di
Chiana existiria uma memória dividida entre a individual (que se referem à
dor das perdas pessoais e do luto), uma comunitária (que colocaria os
integrantes da resistência como grandes culpados do massacre, por vezes
pormenorizando o papel crucial dos alemães na questão), e a memória oficial
(que trata dos integrantes da resistência como verdadeiros heróis que devem
ser relembrados).

"Mas não se deve esquecer que a elaboração da memória e o ato de
lembrar são sempre individuais: pessoas, e não grupos, se lembram.
Mesmo quando Maurice Halbwachs afirma que a memória individual não
existe, sempre escreve eu me lembro".(PORTELLI 1998, p 127).



Os Caipiras de Antônio Cândido



O autor em questão dedicou-se ao estudo dos descendentes das
bandeiras, estes denominados caipiras. Seus pressupostos teóricos são
fundamentalmente baseados em Sérgio Buarque de Holanda, a partir deste,
nosso autor analisará a sociedade caipira como uma fusão da herança
portuguesa com os índios. Apesar da pesquisa de Cândido focar
principalmente o século XIX e XX, ele tenta demonstrar que a sociedade
caipira possui fortes forças seletivas que auxiliam na manutenção de uma
unidade orgânica cultural. Quiçá por isso, os caipiras tenham conservado
alguns elementos de sua origem nômade, na qual estes homens tentavam
estabelecer com o meio uma dieta compatível com um mínimo vital, baseada
numa economia de subsistência. O aspecto rústico das casas, da dieta e de
seus próprios comportamentos muito se assemelham a imagem do Jeca Tatu, que
antes de se transformar em Jeca Tatuzinho, possuía uma representação
deveras negativa. Enfatizo, todavia, que Cândido, apesar de alguns
problemas, tenta todo o tempo se se afastar uma visão depreciativa sobre
este homem do campo, algo, aliás, bastante recorrente entre literatos e até
historiadores. Trataremos deste assunto especificamente mais adiante.
O sistema de sesmarias e principalmente o de posses permitiria, na
opinião do nosso autor, a possibilidade de renovação da terra por conta do
caipira. O seminomadismo, algo que deve ser relativisado, é caracterizado
principalmente por uma economia fechada, na qual a cultura de queimadas
(agricultura itinerante) vem acompanhada de um trabalho isolado ou de uma
cooperação ocasional. Através das palavras de João[6], podemos sentir como
esse relativo isolamento se dava, este fala principalmente de suas
experiências vividas na fazenda Chacarinha, propriedade da família Avelino,
onde trabalhou até os treze anos como campeiro (trabalhava com gado).
Guilherme: Quando você trabalhava na fazenda dos Avelinos até os treze
anos você morava em uma casa...?
João: Morava, morava numa casa dentro da fazenda deles.
Guilherme: Eles tinham casas onde as pessoas moravam?
João: Tinha, tinha um monte de casa, um monte de colonos, tinha muita
gente trabalhando lá. Cada um tinha sua casa lá, mas não era uma distância
"muito longe" não.
(...)
Guilherme: Você lá então, quando era mais jovem, trabalhava nessa
fazenda... digo, depois de uns treze anos, quando era adolescente. Vocês
não tinham muito contato com a cidade mesmo?
João: Tinha contato nenhum, morava longe ué! Por exemplo, nessa época
do Avelino [a família], morava lá em Casal, condução só trem, a gente vinha
em Paraíba, aqui em Paraíba quando falecia e tinha que descer alguém,
morreu alguém na família, fora isso agente fica naquele meio de mato lá.
Não tinha vizinho não tinha nada, não tinha condução não tinha nada. Só se
fosse no trem né, o trem que passava mais barato na época era o misto, que
era o trem onde andava pobre. Passava muito trem pra lá e pra cá, mas era
trem de rico, de pobre só um. Era aquele que agente tinha.
Guilherme: Mas lá próximo não tinha um lugarejo não? Por que lá
parece ser uma fazenda que tem uma casa aqui e uma lá longe...?
João: Ah é! A casa de vizinho lá era de quinze a vinte minutos uma da
outra.
Guilherme: A pé?
João: A pé é, e pelo meio do mato ainda, do pasto, não tinha estrada
pra levá na casa de fulana... Não tinha nada disso não! A gente trabalhava
[durante o dia] e de noite todo mundo ia para as suas casas pra dormir.
Dava a noite acabou! Não tinha nada...De ir um na porta do outro ficar
caçando conversa fiada. Também não tinha conversa fiada, não tinha fofoca,
não tinha briga, não tinha nada. A gente morava assim, a gente se via por
acaso, conhecia um e outro passando, de passagem...Só mesmo na época de
lavoura[7]...


A distância das casas no interior da fazenda e nos arredores
restringiam a sociabilidade das pessoas que moravam nesse tipo de sistema
espacial. Entretanto, como ressalta Cândido, conquanto existisse um certo
isolamento, certas relações próprias da vida caipira permitam um maior
intercâmbio com o exterior. Os três elementos salientados são: a justiça, a
religião e a necessidade de materiais de subsistência como o sal. O pai de
Dona Rosália tinha que ir a cavalo numa localidade chamada Triunfo, e
demorava, mais ou menos uma hora nesse percurso.
Antes de adentrarmos de forma definitiva na questão do cotidiano e da
sociabilidade caipira, creio que seja interessante mostrar uma
sistematização feita por Cândido, que trata dos tipos de moradores do mundo
rural, ao qual se referia, e que, em grande parte, serve para os estudos
atuais. Podem ser divididos em dois tipos: 1)Transitório (nômade, agregado
e posseiro); 2)Permanente (sitiante e fazendeiro). Cândido destaca ainda,
que a importância do trabalho familiar no segundo grupo é menor do que no
primeiro, além de assinalar que os fazendeiros são mais permeáveis às
trocas, vendendo, comprando e ligando-se ao mercado. Às vezes como uma
espécie de intermediário, como atesta Tio Uti[8].


Guilherme: Assim, como é que é? Vocês tinham, por exemplo, o João
falou que ele nasceu aqui?
Uti: João nasceu... João nasceu...
Guilherme: João nasceu numa fazenda dos Avelinos aí, acho que foi
aqui. É, foi aqui, ele falou que foi numa casa lá na frente.
Uti: É aqui na Chacarinha, o João nasceu aqui.
Guilherme: Ele falou que geralmente as pessoas que tinham trabalhado
aqui tinham uma hortinha, eles deixavam plantar alguma coisa...Como é que
funcionava isso lá no Paiol?
Uti: Na fazenda do Paiol?
Guilherme: É
Uti: Na fazenda do Paiol, o cara lá colhia, o cara que era mais forte
lá... O que tinha mais família era forte pra tocar lavoura. Colhia seis,
sete, oito carro de milho. Sabe quanto dá um carro de milho? São quarenta e
dois balaios de milho. Sabe quanto dá um balaio de milho daqueles? Um
balaio de milho daqueles dá... 28 KG, por aí...
Guilherme: E esse milho era de vocês?
Uti: Aí plantava meia com o patrão, se desse seis carros ele ficava
com uma parte de três e ele ficava com uma parte de três. E tinha lavoura
de café, que as dona trabalhavam, todo mundo trabalhava lá.
...
Guilherme: me diz só mais uma coisinha. Essas coisas que vocês
produziam na fazenda, vocês redistribuíam, ou costumavam vender alguma
coisa?
Uti: Não, ali sobrava, o milho, por exemplo, ás vezes ele mesmo [o
patrão] se interessava em comprar o milho. (...) é, ele comprava o milho,
porque ele tinha muito gado, tinha porco, tinha animal pra
coisa.(alimentar). Mas ali não, quando ele vendia era um caminhão cheio de
saco de milho, saco de arroz, café, ele vendia tudo. Então, ficava mais
fácil a gente colher e vender pra ele. Porque a gente vendia o milho com
sabugo e tudo, e ele não, comprava da gente, debulhava o milho e vendia
tudo. Saia caminhão e caminhão de milho. A gente ficava só com um pouco pra
despesa da casa. Feijão também, vamos supor, se por acaso você colher
quatro sacos de feijão você não come dentro de um ano.


Já Dona Rosália[9] fala do trabalho de toda a família no plantio de
produtos de subsistência, lembra, contudo, que, às vezes a plantação era
dividida coma dona da fazenda.(meia)


Guilherme: Me diz mais uma coisa dona Rosália. A senhora me falou que
o seu pai, às vezes plantava alguma coisa e os filhos ajudavam, como é que
era isso?
D. Rosália: Ah! era assim... Ele tinha uma enxadinha para cada um. Uma
enxadinha pequena, uma maiorzinha, porque eram doze filhos. Sendo que os
bem pequenininhos não trabalhavam. Já os maiores trabalhavam, um ia
cavucando na frente, ia um atrás jogando milho ou feijão, e o outro vinha
mais atrás jogando uma terrinha com o pé.
Em linhas gerais, ainda nos resta tratar de dois assuntos bastante
importantes, o primeiro diz respeito à organização do espaço onde vivem
nossas "personagens", e por fim, falar de algumas práticas de sociabilidade
como o mutirão, os festejos religiosos locais e as rezas caseiras. No
primeiro caso, Cândido destaca a importância das relações de vizinhança no
que tange as relações sociais básicas do caipira. Numa tentativa de
sistematização a organização deste universo ficaria da seguinte forma:


Níveis: Indivíduo < Família < Vizinhança < Bairro < Freguesia


A definição do nosso autor para a freguesia é a de um núcleo de
habitação compacta, cujo espaço, também pode estar ocupado por uma igreja.
Não obstante a importância da freguesia[10] para o comércio e as trocas com
as regiões mais afastadas, Cândido ressalta que o bairro é a estrutura
fundamental da sociabilidade caipira.
"Esta é a estrutura fundamental da sociabilidade caipira, consistindo
no agrupamento de algumas ou muitas famílias, mais ou menos vinculadas
pelo sentimento de localidade, pela convivência, pelas práticas de
auxílio mútuo e pelas atividades lúdico-religiosas. (...) poder-se-ia
dizer que é, de modo geral, uma porção de território subordinado a uma
povoação, onde se encontram grupos de casas afastadas do núcleo do
povoado, e umas das outras, em distâncias variáveis".(Cândido 2001, p.
81-82).


Cândido, nesse sentido, delimita que a existência de um bairro está
ligada a uma base territorial, na qual ocorra intercâmbio entre as famílias
e que exista um certo sentimento de localidade. Este último elemento pode
ser notado com mais clareza, em dois tipos de atividades da região caipira,
são eles o mutirão e os encontros religiosos.
O mutirão, via de regra, é utilizado para auxiliar uma família ou um
indivíduo na lida com a lavoura. A idéia básica é que este supere na
atividade da lavoura ou na indústria doméstica, as limitações do trabalho
familiar. O mutirão como característica a curta duração e o aspecto festivo
e pode ainda encontrar explicações baseadas em idéias religiosas.(Cândido
p.89)[11] Mas, basicamente, o que desejamos ressaltar aqui, é o aspecto de
auxílio mútuo na qual a parte ajudada deve devolver o favor a posteriori. O
mutirão, em geral, ao ser terminado, ganha uma festa que celebra o trabalho
realizado e inverte a sua lógica intrínseca, isto é, a festa é o elemento
de prazer que esses homens tem após um dia de trabalho duro. O mutirão que
é realizado, sem que a pessoa a ser ajudada o saiba, é, geralmente, chamado
de terno.


Guilherme: Quando, por exemplo, já li em alguns livros que, às vezes
um colega tem uma roça pra fazer, aí junta um monte de gente pra ajudar...
Tio Uti: Não, aí se fala mutirão.
Guilherme: Mutirão!
Tio Uti: Isso é verdade.
Guilherme: E isso acontecia muito?
Tio Uti: Isso eu vi muito acontecer, inclusive, eu mesmo, quando tinha
treze anos, ajudei a fazer mutirão. Mas, só que você ia, por exemplo,
plantava uma roça grande, cê plantava uns quarenta litros de milhos, é
muita terra. E quando chegava a época de você capinar, ficava muita coisa
pra você capinar. Então você fazia o seguinte, chegava perto de mim, de
outro e de outro mais. Vamos fazer um mutirão pra capinar! Como é que é seu
nome mesmo?
Guilherme: Guilherme.
Tio Uti: _Vamos fazer um mutirão hoje pra capinar a roça do Guilherme!
Aí juntava vinte, trinta homens, ia lá na sua roça e resolvia. E você não
tava devendo nada, tava devendo sim, se amanhã, você tinha que ir pra mim e
pro outro, pro outro, até acabar de capinar. Lá sabe o que é? Acabou isso
agora, uma fazenda de antigamente era tipo irmandade, um ajudava o outro.
Hoje é que ninguém ajuda o outro, se o cara puder tirar o que é teu tira.
Antigamente na roça era coisa muito boa demais rapaz. Você fazia um
casamento, vamos supor. Ah, vai casar a irmã do Tio Uti,ou a irmã do
Guilherme vai casar. Cê podia contar que era, ia de lá de casa, vamos
supor, às vezes até socado no pilão mesmo, socava cinco quilos de arroz e
mandava para a sua casa. Pegava quatro frangos mandava pra sua casa, outro
pegava, uma base de quatro, cinco quilo de toicinho e mandava pra sua casa.
Aí casava tua irmã. Tinha festa a noite inteira, todo mundo comia e bebia,
mas amanhã ia casar a minha irmã, aí você ia fazer o mesmo. (...) todo
mundo comia, bebia e dançava a noite inteira, armava as barracas no
terreiro, eram cobertas com folhas de banana.
Guilherme: Mas aí, o pessoal que se reunia era só o pessoal da fazenda
ou era também o pessoal de fora?
Tio Uti: A gente chamava os vizinhos de fora e todo mundo chegava
junto, só pra capinar a lavoura que era só gente de dentro da fazenda.
(...) As pessoas faziam aquilo com a maior alegria, nego ia praquelas
lavouras... nego ficava lá cantando...A divisa de São Paulo é o que? Nego
fazia aquilo com graça né [brincando]. É café? Então toma mais um pé! Um pé
que eles falavam eram aqueles bons de enxada que passavam por outros, um
pé, dois três e iam embora. Chegavam lá em cima, furava aquele eito, aí
chegava lá ficava descansando. Aqueles mais ruins de enxada iam pelejando
por aí a fora. Enquanto o cara tava chegando lá em cima, acabando de fura a
carreira dele, aquele que já tinha furado a carreira dele ia descendo e
aquele cara [o mais lento] não descansava... (risos)
O interessante deste trecho da entrevista com tio Uti é que podemos
ver o contraste nas relações, dentro de uma fazenda na década de 1960,
tempo da memória em questão, e hoje. Sem dúvida, a expansão demográfica e
urbana no Estado do Rio de Janeiro deve ser levada em consideração, alguns
espaços que outrora tinham precárias ligações com os centros urbanos, hoje
dispõem até de linhas de ônibus regulares, contudo, algumas localidades
ainda se mantêm distanciadas de contatos freqüentes com um núcleo urbano.
Vimos, outrossim, como as relações de reciprocidade não se limitavam ao
mutirão quanto Seu Alair. Tanto o João, falam no mutirão, em termos
parecidos, entretanto para este último esse tipo de trabalho fracassou.
Afirmativa esta que, ao menos, nos leva a pensar nas mudanças ocorridas nas
relações de trabalho.
Um último ponto é o das festas religiosas, que geralmente, ocorrem
junto à capela de um bairro, a qual uma boa parte da vizinhança, e, às
vezes até de outros bairros, participa. Há também festas realizadas na
freguesia, contudo estas são mais complementares do que competitivas. As
festas religiosas dos bairros podem até guardar aspectos curiosos, como o
fato de intercalarem as suas datas para que pessoas de diferentes bairros
possam participar.[12] Por fim, temos as rezas caseiras, que tem como
intuito principal o pedido de uma dádiva ou o cumprimento de uma
promessa.[13]


João:...quando a gente fazia ladainha né, de rezar, tinha algum
rezador e ia rezar a casa do outro, aí, ia chamando de casa em casa,
juntava família, juntava todo mundo lá; Rezava, pra chover, rezava pra
tanta coisa que eu nem sei mais pra quê eles rezavam. Fazia ladainha, na
época de natal fazia novena, ia de casa em casa rezando. Isso até esse ano
eles fizeram aqui em Queima Sangue também.
Guilherme: Tinha um rezador que andava...?
João: Antigamente tinha um rezador mesmo que rezava dor de cabeça, dor
de dente, mordida de cobra, rezava o que a pessoa quisesse. (...) a cada
mês um fazia uma ladainha em casa...
Guilherme: Aí todo mundo ia pra essa casa?
João: Todo mundo ia lá e rezava. Aí na outra semana tinha ladainha na
casa do outro fulano aí, ia todo mundo pra lá. Aí que você juntava todo
mundo, por que antes disso a gente não se via não. Se encontrava durante o
dia no serviço, um passava a cavalo, outro a pé.
Guilherme: Nesse tipo de coisa é que as pessoas acabavam se
encontrando.
João: É acabavam se encontrando, eles arrumavam um jeito das pessoas
se encontrarem, por que se não fosse assim, só na porta da venda ou quando
as dona levavam almoço pro marido.


Dona Rosália lembra ainda que sua própria avó era uma rezadeira muito
requisitada na região.



A Violência e o campo: A tese de Maria Sylvia de Carvalho Franco




A autora em questão analisou a mesma região - no século XIX - que
esteve sob o olhar de Cândido. Entretanto, como veremos, ao analisar os
relatos contidos em depoimentos para a polícia, o que hoje chamamos de
boletins de ocorrência, Franco chegará a conclusões bastante distintas de
outros autores. Sua tese contém uma enorme quantidade de informações, deste
modo, nos limitaremos a analisar questões relativas a formas de
sociabilidade como o mutirão, além das diferentes formas de relação
existentes entre os distintos grupos sociais.
A tese principal defendida pela autora é que a violência é um padrão
de comportamento, baseada numa moral que valoriza a coragem pessoal.
Outrossim, enfatiza que o atrito e a luta são partes constitutivas das
relações comunitárias, que se deve principalmente à falta de autoridades
institucionais, e ao fato da escassez material levar a uma sobreposição de
interesses. Apesar disso, corrobora com a idéia de que as relações de
reciprocidade permitem aos membros de uma pequena comunidade uma relação
complementar.
Para a autora, o mutirão é diferente das modernas organizações de
trabalho que tem como uma de suas principais características a disciplina.
Ressalta, por conseguinte, que aquele se baseia nas relações pessoais
expontâneas. A simplicidade e até a pobreza da cultura caipira, aliada a
questões supracitadas, tem como conseqüência uma série de atitudes
violentas que, como ressalta a autora, decorrem de motivos frívolos de
acordo com a jurisprudência da época. A violência se encontrava engendrada
na própria dinâmica do trabalho.
"... o conflito é inerente à própria dinâmica da situação de trabalho,
estando subjacente a técnica de controle do comportamento posto em
prática - o desafio. (...) Vê-se, ainda, como as soluções violentas
aparecem como um comportamento estandartizado... (FRANCO, 1997, p.37)".


O mutirão, desta forma, funciona também como um instrumento de
perpetração de crimes, pois na própria lida os conflitos iniciam. Numa
cultura, na qual não existem canais institucionais, o revide violento é o
recurso não apenas socialmente aceito, mas, sobretudo uma forma legítima de
reagir. Em suma, a autora conclui:
"De toda a situação analisada, surge uma moralidade que incorpora a
violência como legítima e a coloca mesmo como um imperativo, tendo
efetividade e orientando constantemente a conduta nos vários setores da
vida social. A emergência desse código que sancionou a violência prende-
se às próprias condições de constituição e desenvolvimento da sociedade
de homens livres e pobres. (FRANCO, 1997, p. 60)".


Um dos grandes problemas, ao meu ver, na análise de Franco, é que ela
desconsidera o olhar do outro em sua perspectiva, isto é, ao priorizar como
fontes os registros policiais da época, a autora não apenas se prende a um
olhar oficial, mas também empobrece sua análise, ao considerar
taxativamente a cultura caipira como algo pobre. O que seria uma cultura
rica, aquela abraçada pelos cânones da modernização e que tem na cidade seu
maior triunfo? Outro problema da pesquisa da referida autora, é que ela nos
deixa sem uma perspectiva do quão significativos são os registros que
analisou, se tomados numa relação temporal. Para se ter uma melhor idéia da
proporção da violência na referida região, devemos saber, por exemplo, se
muitos atos de violência eram perpetrados a cada ano, e, se naquela região
esses números são significativos. Ao não se dar o direito de tentar
entender os nexos intrínsecos da cultura caipira, a autora se afasta dos
verdadeiros significados doa conflitos em jogo. No entanto, Franco nos
fornece a possibilidade de desvelar uma outra realidade, que não aparece no
trabalho de cândido. Ao ler o trabalho deste autor, talvez, alguns dos
leitores fiquem tentados a comprar uma casa no campo, ou algo do gênero.
Apesar de discordar das conclusões de Franco, devo admitir que ela revela
um outro lado das relações no campo que são muito importantes, e merecem um
novo olhar. Ao falar do mutirão, João acrescenta:
Guilherme: Geralmente depois desses mutirões vocês faziam alguma
festinha, alguma coisa assim?
João: ah! acontecia sempre baile né, aqueles baile de barraca de
noite. Com sanfona, sanfoneiro, pandeiro, cachaça e a gente cantando
calango. Aquilo ficava a noite inteira mesmo.
Guilherme: E isso acontecia depois do mutirão?
João: Sempre lá eles inventavam um baile, uma dança de fandango, que
eles falam né? Tampavam lá, capinavam a roça e depois faziam o baile. Uns
matavam porco, na época não era churrasco, mas aquela carne frita né. Carne
de porco cozida, frita, cachaça, se bebia cachaça, carne e comida com
fartura.
Guilherme: Cachaça não faltava nunca, sempre tinha?
João: sempre tinha cachaça. Comprava era garrafão de cachaça. (...)
Café pra criança, refresco de limão, laranja (...)
Guilherme: E, durante essas festas, costumava sair muita confusão ou
não? (risos)
João: (risos) De vez em quando dava umas cacetada... jogava os pés
pela cara...tocha de querosene, naquela época era tocha de querosene, não
tinha luz elétrica não. Aí de vez em quando davam umas cacetadas com
aquelas tochas, davam cacetadas um no outro. Nego entrava separava, vortava
tudo de novo, pegava aquele que tivesse brigando e mandava ele embora.
(...) De vez em quando dava umas cacetadas, umas bordoadas, mas era coisa
passageira né.[14]
Guilherme: de vez em quando saiam umas brigas então...
João: Nego bêbado por causa de cachaça né. Eles brigavam, mas aquilo
acabava rápido né.
Guilherme: Mas na relação assim, nas festas saiam umas brigas por que
as pessoas estavam bêbadas...
João: É porque tava bêbado né, enquanto tava bom, era tudo amigo,
pedia desculpa, tava tudo bem.
Guilherme: Mas na relação do dia a dia isso não costumava acontecer
não?
João: Não, não, muito difícil. (...) sempre que a pessoa fazia assim
[mutirão], já combinava aqueles melhor né, aqueles que gostava de briga não
chamava.


Um outro assunto que não podemos perder de vista, são as relações
entre os diversos grupos que compõem o universo rural. Tendo em vista o
objeto de nosso trabalho, limitar-me-ei a fazer menção aos vínculos entre
os fazendeiros de um lado e sitiantes e posseiros de outro. Apesar de
enfatizarmos esses grupos sociais, não há como negar a importância de
personagens como os tropeiros, vendeiros e agregados. No século XIX, as
vendas, estalagens e as fazendas constituem em importantes locais de pouso
e abastecimento para os tropeiros. João em sua entrevista lembra também que
as maiorias das compras feitas pelos trabalhadores de uma fazenda eram
centralizadas muitas vezes pelo vendeiro que, neste caso, estava sob o
julgo do fazendeiro. No século XIX o vendeiro aparece como uma figura, no
mínimo, curiosa. Em sua imagem, aparecem como indignos de confiança e
exploradores. O vendeiro aparece, em alguns casos, como um elemento de
intersecção entre os fazendeiros e os estratos inferiores, o que em pode
engendrar conflitos devido a endividamentos.
Ao tratar das relações dos fazendeiros com os estratos inferiores,
nossa autora destaca, por exemplo, o compadrio. Que, apesar de parecer um
elemento de quebra das fronteiras sociais, funcionam, na verdade, como uma
peça no processo de dominação. O compadrio supõe um certo grau de
indeterminação na estratificação social, deste modo, a dominação se dava
entre semelhantes. As trocas, conseqüentemente, se davam a partir de um
certo automatismo, isto é, o auxílio econômico que é dado pelo fazendeiro
ao seu compadre, tem como resposta à fidelidade política deste.
A dominação em questão leva o dependente a uma alienação dos processos
aos quais está submetido. Mas será que, de fato, existe uma dominação que
chegue a ponto de naturalizar, de tornar não-conscientes aquelas relações?
Franco minimiza os problemas que dizem respeito aos conflitos neste
período, veremos, todavia, que estes eram mais significativos e merecem
atenção especial. A discussão acerca do grau de dominação nestes casos é
bastante controversa. Conquanto, prefira, ao menos como pressuposto
inicial, tentar enxergar quais são os estratagemas dessas pessoas que, de
fato, estão numa relação desigual. Quero dizer com isso que os agregados e
posseiros, enfim, aqueles que se encontram nos estratos inferiores não são
meramente objetos que são manuseados de acordo com a vontade dos
fazendeiros, mas, ao contrário, estão em diversos momentos na defesa de
seus próprios interesses. É bom ter em vista, que o conflito se torna mais
evidente, quando os níveis de interesses de fazendeiros e dependentes
assumem uma oposição considerável. Generalizações desmedidas, ao se tratar
deste tema, podem camuflar problemas que submergem perante afirmações
taxativas. As relações entre diferentes grupos sociais podem assumir
múltiplas formas. No caso de João e Tio Uti, vê-se gratidão e pelos
respectivos proprietários das fazendas em que trabalhavam.



O Conflito e as terras: A abordagem de Márcia Motta[15]



No interessante trabalho da respectiva autora, são tratados diversos
aspectos sobre o problema da instauração da lei de terras de 1850. Temática
esta que é abordada sob seu aspecto jurídico, e, ao que mais nos interessa
aqui, das estratégias de legalização das mesmas, assim como, dos conflitos
deflagrados entre agregados e/ou posseiros com grandes fazendeiros.
Neste trabalho são refutadas algumas teses, sobretudo aquelas que
minimizam a importância dos conflitos deste período. Outrossim, são
criticados os autores que argumentam que a Lei de Terras era erroneamente
interpretada pelos rebeldes. Entretanto, o principal alvo da autora, é
aquelas análises que relacionam a questão agrária unicamente ao problema do
fechamento das terras, e a criação de seu respectivo mercado capitalista. O
que Motta, de fato, defende é que a lei de terras não significou unicamente
um reflexo dos interesses dos cafeicultores e, igualmente não esteve tão
automaticamente ligada a problemática do fim do tráfico de escravos. Como
toda lei, ela esteve imbricada nas relações pessoais e teve de assegurar
critérios universais para se legitimar.[16]
Após a regularização da Lei de Terras em 1850, tornou-se necessário o
registro das mesmas nas paróquias de cada região. Contudo, o ato de
registrar a sua terra consistia numa estratégia política, pois na maioria
dos casos, estava em jogo decidir quem eram os confrontantes. Ser
reconhecido como confrontante podia significar a garantia legal de certo
domínio, ou, pelo contrário, a contestação do mesmo e a perda de poder. O
fato do registro de terras não significar o direito ao título de
propriedade, levou a diversas atitudes de posseiros e sesmeiros. Cabe
lembrar ainda que em muitos casos, um sesmeiro podia se transformar em
posseiro no ato de demarcação de suas terras, pois evidentemente, avançava
suas posses sobre terrenos, ou de outros proprietários, ou devolutos.
Enquanto libertos e pequenos proprietários viam no ato de registrar suas
terras uma possibilidade de legitimação, grandes proprietários, ao
contrário, podiam não registrar as suas terras no intuito de não perder seu
poder, e, outrossim, dar continuidade na expansão de seus domínios.
O conflito ocorrido em 1858 na região de Paraíba do Sul - mais
especificamente na fazenda Travessão, propriedade do Barão de Piabanha -
parece ter sido o mais significativo. Neste, os agregados se sublevaram,
reivindicando seu direito a terra. Contudo, outros conflitos marcaram a
região, como a disputa entre o agregado Antônio Pascoal e o Barão de Entre
Rios. O que chama a atenção são os estratagemas de parte a parte. Estes
homens, ao perpetrar uma demanda judicial, recorriam não apenas a Lei de
Terras, mas, sobretudo a testemunhas e as Ordenações Filipinas. Por vezes,
ter uma terra cultivada podia ser mais importante para um processo judicial
do que tê-la registrada. Traições também faziam parte dessas estratégias.
Será que podemos falar de um processo de dominação, que só é subvertido
quando existe um imperativo moral? Creio, no entanto, que o trabalho de
nossa autora, possa ajudar a perceber que o processo de dominação talvez
seja mais fluído do que poderíamos imaginar, e que mais do que isso, os
agregados e dependentes do fazendeiro se utilizam, em alguns casos, de
estratégias para galgar melhores condições de vida. Parece que nas décadas
de 1950 e 60 o problema da propriedade de terras já estava bastante
controlado, pois tanto João quanto Tio Uti afirmam não conhecer problemas
enquanto a isso. Conquanto, "Seu" Alair nos informe sobre um interessante
processo de fragmentação da propriedade agrária na região do Retiro e
Paraíba do Sul.
Seu Alair[17]: Perto desse sítio aqui é que não pertencia ao meu
bisavô. Mais isso tudo por aí a fora pertencia. Então eu nasci na fazenda
do meu bisavô, que pegava isso aqui tudo [Retiro], ia lá no Fernandó. Eram
80 alqueires de terra dessa região por aí a fora.
Guilherme: O Sr. falou que essas terras pertenciam ao seu bisavô? Aí
como é que foi dividindo isso aqui, foi passando pra filho, vendeu.?
Seu Alair: Passa pros filhos, desses passa pros bisnetos... eu não
cheguei a pegar nada não. A minha mãe pegou pouca coisa, por que a mão dela
já tinha vendido um bocado, coisa e tal. Então, sobrou pouco pra cada um,
esse aqui eu comprei.


Conclusão

Espero que este trabalho tenha ao menos levantadas algumas reflexões
acerca das relações sociais, dos conflitos e do cotidiano desses homens que
vivem e dedicam sua vida a atividades rurais. Como, no entanto podemos
lançar nosso olhar para essas comunidades? Em seu conhecido livro, Carlo
Gizburg afirma que:
"... ultrapassando as graduações hierárquicas, existe uma contraposição
fundamental entre os superiores e os homens pobres - Menocchio é um dos
pobres. Uma imagem claramente dicotômica da estrutura de classes,
típica das sociedades camponesas" (Ginzburg 2002, p. 57).


Não podemos perder de vista certo aspecto conflitivo, ou uma tensão
latente, que creio existir entre o trabalhador rural e o grande
proprietário. Tensão esta muitas vezes diluída pelas necessidades do dia a
dia, isto é, não creio que um homem como Tio Uti fique pensando durante
muitas horas em como ele é explorado, etc. Acredito que o conflito apareça
muito mais no nível das relações cotidianas, na qual, os diferentes níveis
em que se inscrevem os interesses do trabalhador e do proprietário, em
algum momento podem colidir.
As três pessoas por mim entrevistadas mostram algum saudosismo em
relação ao campo de outrora, mas, será que esta atitude significa mais um
"fim dos campos[18]" ou será de fato, uma deteriorização das antigas
relações e da própria economia do vale do Paraíba fluminense? A imagem que
nos é chegada dos campos, tanto pode ter referências negativas, como um
Jeca Tatu[19], ou ingênuas como a de um Chico Bento[20]. O que está em
jogo? A meu ver, a imagem criada pelo citadino, aquele que compartilha dos
padrões da modernidade, e que ao lançar seu olhar sobre o campo, vê aquilo
que deve ser refutado, ou pelo contrário o lugar bucólico, longe da
violência das metrópoles, etc. O que posso sem dúvida afirmar é que o campo
é feito de pessoas, tão pessoas como as da cidade e que eles também criam
uma imagem do outro, do citadino. Neste fenômeno, também conhecido como
alteridade, só não podemos desvalorizar o outro em favorecimento daquilo
que nós somos. Nesse sentido, concordo com Pierre Vilar quando este afirma
que:
"O que me preocupa é o emprego da palavra camponês sem qualificações,
como se existisse um camponês-conceito, um campesinato em si. Pois a
figura, a imagem do camponês, desde que existia uma civilização urbana,
é objeto de uma dupla mitificação: de um lado, o desprezo pelo rústico,
do outro, o culto do lavrador, (ou do pastor!), o elogio da
aldeia".(Villar apud. Cardoso 2002, p. 24).


Os importantes trabalhos de Antônio Cândido e Maria Sylvia de Carvalho
Franco, vão de encontro aos problemas relacionados à vida do homem do
campo. Creio, contudo que, a partir de novas abordagens e de novos métodos,
possamos buscar interpretações que complementem e até encontrem novos
caminhos para a pesquisa em questão. Apesar do trabalho de Márcia Menendes
Motta tangenciar o tema aqui desenvolvido, creio que é uma análise de suma
importância para aqueles que almejam penetrar nesses, por vezes, recônditos
lugares.




Referências Bibliográficas


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WILLIAMS, Raymond. O Campo e a cidade: Na história e na literatura. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989.




-----------------------
[1] Este trabalho de pesquisa foi originalmente redigido no segundo
semestre de 2003.
[2] Meus sinceros agradecimentos àqueles que tornaram possível este
trabalho. Ao meu amigo de longa data João, para você toda minha admiração,
ao "Seu" Alair um grande abraço e um "até breve" ao simpático Tio Uti.
Obrigado a minha inteligente amiga Priscila que, mesmo sem querer, me deu
idéias muito boas. Obrigado também a minha família de Três Rios que me
abrigou durante o breve período das entrevistas. Evidentemente, deixo meu
agradecimento especial a Dona Maria do rosário (minha mãe), que me contou
um pouquinho das memórias de sua infância no campo.

[3] De fato as discussões teóricas e opiniões acerca do campesinato já há
muito tempo ocupam o pensamento de diversos autores. Karl Marx tratou da
questão nos seguintes termos: "Os pequenos camponeses constituem uma imensa
massa, cujos membros vivem em condições semelhantes, mas sem estabelecerem
relações multiformes entre si. Seu modo de produção os isola uns dos
outros, em vez de criar entre eles um intercâmbio mútuo (...) a grande
massa da nação francesa é assim, formada pela simples adição de grandezas
homólogas, da mesma maneira por que batatas em um saco constituem um saco
de batatas (...) na medida em que existe entre os camponeses apenas uma
ligação local e em que a similitude de seus interesses não cria organização
política, nessa exata medida não constituem uma classe" MARX, Karl. O 18
brumário de Luiz Bonaparte. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969. p. 115.
Malgrado toda a importância de Marx para diversos campos do saber, concordo
com Manoela Pedrosa quando esta afirma que: "Quando chegou à conclusão que
no ocidente a classe camponesa nunca consistiria numa força revolucionária
autônoma, Marx dirigiu sua crítica diretamente aos camponeses que não se
levantaram na França (...) Portanto, a falta de interesse na análise dos
camponeses no capitalismo era devida, sobretudo à visão um tanto
evolucionista de que eles estariam fadados à extinção e, enquanto
vestigiais, não deveriam ser objeto de maiores preocupações políticas e/ou
analíticas".PEDROZA, Manoela. Resumo adaptado dos capítulos 1 e 2 da
dissertação de mestrado intitulada: Terra e resistência: táticas e
estratégias camponesas nos sertões cariocas 1950-68. PPGHIST-UFRGS, 2003.
p. 21-22. Já Ciro Cardoso sistematiza algumas características presentes no
camponês, algumas delas como dito anteriormente, estão presentes nos homens
a que me refiro em minhas entrevistas. "Em nossa opinião, uma estrutura
camponesa se define do ponto de vista econômico, sobretudo por quatro
características: 1) acesso estável a terra, seja em forma de propriedade,
seja mediante algum tipo de usufruto; 2) trabalho predominantemente
familiar (o que não exclui, em certos casos, o recurso a uma força de
trabalho adicional, externa ao núcleo familiar); 3) economia
fundamentalmente de subsistência, sem excluir por isto a vinculação
eventual ou permanente com o mercado; 4) certo grau de autonomia na gestão
das atividades agrícolas, ou seja, nas decisões essenciais sobre o que
plantar e de que maneira, como dispor do excedente, etc." CARDOSO, Ciro
Flamarion S. "Camponês, campesinato: questões acadêmicas, questões
políticas". In: O campesinato na história. André Leonardo Chevitarese
(org.) Rio de Janeiro: Relume Dumará - FAPERJ, 2002. p. 20. Na conclusão
deste artigo o referido autor acredita ser impossível abandonar a adoção de
camponês devido ao fato de ser uma idéia amplamente difundida, mas faz uma
ressalva dizendo que: "Campesinato é noção vaga, ampla demais, carregada de
esteriótipos e de lugares-comuns culturas e políticos" CARDOSO, Ciro
Flamarion S. op cit. p. 35. Nesse sentido, para os dois últimos autores
citados, o que define ser camponês passa tanto por suas relações de
trabalho, quanto de sua inserção ou não no que tange uma acumulação de
capitais. Deste modo, ao me referir a um de meus entrevistados relacionando-
os uma categoria como a de camponês pode tornar-se demasiadamente
imprecisa.
[4] Para René Gallisot não haveria uma identidade social ou étnico-cultural
que guardasse seus significados em si, mas sim, a identidade encontrar-se-
ia num processo relacional, numa dinâmica em que o outro é fundamental, que
o antropólogo francês propõe ser chamado "identificação". Gallissot propõe
este termo, em substituição ao de identidade por considerar que este último
dá a impressão de algo fixo, estático, acabado, e não de um processo num
permanente devir. GALLISSOT, René. "Sous l'identité, le procès
d'identification" L'Homme et la Société. 83, 1987, p 12-27
[5] Na tentativa de estabelecer uma identidade/identificação étnica
mediante processos relacionais, encontramos o conceito de fronteira étnica.
Fredrik Barth percebia que o estabelecimento de fronteiras entre as etnias
utiliza a cultura, isto é, toma como base uma seleção de elementos
culturais, variáveis no tempo: deste modo, agrupamentos sociais
determinados poderiam excluir-se mutuamente no sentido étnico. O aspecto
mais interessante no conceito de Barth é não lidar com culturas completas
que se opõem, mas sim, afirmar que os agrupamentos sociais em processo de
constituir-se etnicamente podem escolher determinados elementos de sua
cultura, variáveis no tempo, numa relação de alteridade, isto é, em
contraposição a outros agrupamentos. Na criação das fronteiras étnicas
assim constituídas, o que está em jogo são as estratégias de identificação
e os processos relacionais. BARTH, Fredrik. "Grupos étnicos e suas
fronteiras". In: POUTIGNAT, Philippe e STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da
etnicidade seguido de Grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth.
Trad. Elcio Fernandes. São Paulo: Editora da UNESP, 1998, pp. 185-227

[6] João Carlos Batista nasceu na fazenda 'Chacarinha' no município de
Paraíba do Sul no ano de 1959.
[7] Este tipo de configuração espacial, não era necessariamente
predominante, no caso se Seu Alair, também existe uma distância
considerável entre as casas, fato que não acontece na Fazenda do Paiol, na
qual Tio Uti morava. Contudo, a distância de Paraibuna até a fazenda do
Paiol pelo caminho mais curto era de 1h 40' a pé.
[8] Oswaldo Mariano na Fazenda do Paiol, localizada no distrito de
Paraibuna, pertencente ao município de Três Rios, no ano de 1942.
[9] Dona Rosália Nasceu no ano de 1946 na fazenda da estiva, e aos cinco
anos de idade se mudou para a fazenda do Campo Alegre, na região de
Vassouras.
[10] Tio Uti fala que a principal relação que eles estabeleciam com a
região central do distrito de Paraíbuna, se devia a necessidade de gêneros
alimentícios como o sal e outros artigos como sabonete e roupas. Afirmou
ainda que, em alguns, casos as pessoas iam até o antigo distrito de
serraria, atual município de Leví Gaspariam.

[11] Idem, Ibidem. pp. 89.
[12] Idem, Ibidem. p. 94-99.

[13] Nas cidades do interior, as festas religiosas ainda possuem grande
importância, vide, por exemplo, a festa os padroeiros de Paraíba do sul,
São Pedro e São Paulo.
[14] João se refere às brigas de outras pessoas.
[15] MOTTA, Márcia Maria Menendes. Nas Fronteiras do poder: Conflitos de
terras e direito agrário no Brasil de meados do século XIX. Niterói: Vício
de Leitura, 1999.
[16]Encontramos esta Idéia em Thompson, quando este afirma que "A maioria
dos homens tem um forte senso de justiça, pelo menos em relação aos seus
próprios interesses. Se a lei é manifestadamente injusta parcial e injusta,
não vai mascarar nada, legitimar nada, contribuir em nada para a hegemonia
de classe alguma. A condição prévia essencial para a eficácia da lei, em
sua função ideológica, é a de que mostre uma independência frente a
manipulações flagrantes e pareça ser injusta".THOMPSON, Edward P. Senhores
e caçadores: A origem da lei negra. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
[17] Seu Alair nasceu em 1936 na região do Retiro em Paraíba do Sul, e
durante boa parte da sua vida trabalhou com agricultura. Seus produtos
eram, via de regra, vendidos em feiras de Três Rios e Paraíba do Sul.
[18] Cf. WLLIAMS, Raymond. O Campo e a cidade: Na história e na literatura.
São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

[19] Ver sobre esse assunto: NAXARA, Márcia Regina Capelari. Estrangeiro em
sua própria terra: Representações do Brasileiro 1870/1920. São Paulo:
Annablume - FAPESP, 1998. Ou ainda, LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado
Brasil: Intelectuais e representação geográfica da identidade nacional. Rio
de Janeiro: IUPERJ - UCAM, 1999.

[20] A revista infantil Chico Bento é uma criação de Maurício de Souza, e é
publicada semanalmente pela editora Panini.
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