Rede Escola Cidadã: Incentivo ao Protagonismo Juvenil por Recursos Midiáticos em Escolas Públicas (2013)

June 29, 2017 | Autor: Maria Lidia Lima | Categoria: Trabalho em Rede, Protagonismo Juvenil
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Rede Escola Cidadã: Incentivo ao Protagonismo Juvenil por Recursos Midiáticos em Escolas Públicas Flávia Souza de Almeida1 Maria Lidia Ferreira Lima 2 Maria Lúcia Gaspar Garcia3

Resumo

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Aluna do Curso de Psicologia na Universidade da Amazônia – UNAMA, e-mail: [email protected]

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Aluna do Curso de Psicologia na Universidade da Amazônia – UNAMA, e-mail: [email protected]. 3 Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Pernambuco – UFPE, Docente do Curso de Serviço Social e Pesquisadora da Universidade da Amazônia – UNAMA, e-mail: [email protected].

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O Projeto Rede Escola Cidadã desenvolvido em Belém do Pará há 3 anos com objetivo de tornar a escola um ambiente mais atrativo para a comunidade escolar, que inclui alunos, pais, professores, equipe técnica, funcionários e a comunidade em seu entorno. O projeto nasceu de colóquio entre pares institucionais (Ministério Público, Defensoria Pública/NAECA, CIPOE, SEMEC, SEDUC, UNAMA/Observatório de Violências nas Escolas/Fidesa). Posteriormente foram agregados à Rede: Cruz Vermelha, SEJUDH, Comando Maior (PM), FUNPAPA, Sociedade Bíblica, Moarana e, recentemente, Museu Emilio Goeldi e Rede Nacional de Jovens Comunicadores (RENAJOC). É uma rede de ação interdisciplinar e interinstitucional em prol da prevenção e minimização de violências no espaço escolar com a pretensão de atuar de forma integrada evidenciando as potencialidades das organizações envolvidas junto a 05 escolas da rede pública de Belém. Tem como base os resultados obtidos no programa de extensão Observatório de Violências nas Escolas (OESSELMANN, 2009; PONTES, CRUZ, 2010), assim, a Rede articula ações que, além de minimizar ou remediar o fenômeno das violências nas escolas, cria uma conexão forte e autônoma entre os participantes de forma a envolver os alunos em ações que podem aproximá-los de seus direitos através de ações que proporcionam o protagonismo juvenil como um direito humano através da produção de conteúdo midiático, como programas de rádio, jornais estudantis e grupos de teatro, promovendo uma melhor integração, comunicação e pensamento crítico entre os estudantes. Foram realizados 15 grupos focais, 4 em cada escola, de aproximadamente 12 alunos por grupo, tais grupos fizeram com que os participantes refletissem criticamente sobre a situação atual em suas escolas, expressassem suas opiniões livremente sobre como achavam que elas se encontravam e como eles mesmo poderiam contribuir para melhorar o ambiente escolar. Foram realizadas oficinas de direitos humanos em uma escola, objetivando a educação nesse tema e incentivando ao ativismo político e social entre participantes, o retorno se mostrou positivo, pois quando na eleição ao cargo de representante de turma, surgiram 7 candidatos, segundo a equipe da escola. Estão sendo organizados grupos teatrais para incentivar a formação de grupos nas escolas como meio de expressão de críticas sociais e políticas, assim como, oficinas de rádio e edição com o objetivo de melhorar a comunicação social e a articulação entre os estudantes.

Palavras-chave Protagonismo Juvenil, Trabalho em Rede, Escolas Públicas, Comunicação Social.

1. Introdução O presente artigo tem como objetivo expor os resultados obtidos pelas ações do projeto Rede Escola Cidadã no processo de conscientização nas escolas sobre a importância do protagonismo juvenil nas escolas e de como os jovens podem aproveitar recursos modernos de propagação de informações como revistas, blogs, videocasts e redes sociais, como forma de reivindincar, exigir seus direitos fundamentais e expor as dificuldades encontradas por eles no dia a dia em suas escolas. Esse artigo teve origem na Rede Escola Cidadã (REC), projeto desenvolvido pela Universidade da Amazônia, SEDUC, SEMEC, entre outras organizações, com financiamento da FIDESA (Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia) e do Instituto C&A. O projeto tem o objetivo de tornar o espaço escolar um ambiente mais atrativo, através de ações que visem à diminuição da violência nas escolas e fortalecimento os vínculos familiares e comunitários em 05 (cinco) escolas públicas participantes, por meio de ações em rede que conta com o apoio de várias instituições. Essa rede desevolve ações que estimulam a participação crítica dos alunos em atividades desenvolvidas dentro do ambiente escolar, para que, apartir do que se viveu ali, eles possam reproduzir em sua vida cotidiana, de forma a assumirem uma postura de protagonistas frente à realidade social que vivem. Um exemplo de ação realizada pela REC foi: agravação de depoimentos, em vídeo, dos alunos e equipe técnica da escola com o objetivo de registrar o momento inicial das atividades do projeto. Posteriormente será gravado outro vídeo, de forma que se possa analisar como a REC influenciou na vida desses alunos e contribuiu para o desenvolvimento do protagosnismo juvenil. A gravação do vídeo também serviu com o objetivo de aproximar os alunos dos recursos midíaticos, e mostrar-lhes como é possivel se expressar por meio deste tipo de instrumento.

cada vez mais forte e eficaz. Utilizando-se desses recursos como principal meio de comunicação e propagação de informação, os jovens estão saindo às ruas e se

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No atual momento histórico a utilização desse tipo de recurso tem se mostrado

mostrando mais ativos nos movimentos sociais e na reivindicação de direitos. Todavia, ainda há grande parte de adolescentes e jovens que ainda não participam dessa construção, uma vez que não tem acesso a informações, aos recursos midiáticos, e, tão pouco, conhecem os efeitos destes. Com isso, mostra-se importante o incentivo do protagonismo juvenil através deste tipo de recurso para que cada vez mais pessoas possam dessenvolver pensamento crítico. Para compreender como isso pode se dar, é fundamental entender o significado de protagonismo juvenil, o que são os recursos midíaticos e como eles vêm sendo usados na e para a educação. Diversos projetos sociais vêm utilizando essa ferramenta para empoderar jovens e adolescentes e, assim, percebam suas condições sociais e suas histórias. Isso se dá por meio da valorização do jovem como sujeito e através de técnicas que contribuem ao desenvolvimento de sua consciência crítica a respeito do contexto que vivem. Para tanto, o trabalho dos educadores com uma equipe multidisciplinar é fundamental. Para este fim a participação de áreas como serviço social, comunicação social e psicologia social comunitária podem agregar muito. Esta última vem ao longo de anos trabalhando com comunidades em todo Brasil e América Latina. No Pará, o projeto Rede Escola Cidadã vem atuando de forma a valorizar essa maneira de trabalho e fazer com que chegue aos alunos da rede pública de ensino em Belém. Desta forma, este artigo apresenta ainda de forma preliminar os primeiros passos realizados dentro do Projeto dando enfase ao envolvimento dos adolescentes através de recursos midiáticos. Assim, o primeiro tópico trata brevemente da história do protagonismo juvenil no Brasil, o que é e como ele é visto pelos profissionais das ciências humanas. No segundo tópico, explica como surgiu o educomunicação, como projeto social e técnica de intervenção, o que é e como ele vem sendo utilizado. No tópico seguinte, é exposto no que consiste o projeto Rede Escola Cidadã, relatando brevemente sua história, seus objetivos e os avanços feitos desde sua criação. É descrito os procedimentos das principais ações do projeto realizadas este ano: a

direitos humanos. No quinto tópico, há a discussão e os resultados das ações descritas,

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técnica de grupo focal, a gravação em vídeo de depoimentos das escolas e as oficinas de

uma avaliação preliminar do que foi alcançado e proposições do que pode ser aprimorado, tendo em vista que o Projeto ainda está em execução. 2. Protagonismo Juvenil O protagonismo juvenil trata da participação propositiva de adolescentes e jovens em assuntos sociais, políticos e escolares, sejam eles no âmbito local ou global. Tal participação está garantida aos adolescentes no artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente: o direito de se expressar e opiniar (BRASIL, 2001), sendo assim, é obrigação do adulto, do Estado e da família oportunizar e facilitar a expressão dessas opiniões e oferecer a escuta dessas. Devido a mudanças socioeconômicas e culturais em que a sociedade estava constituída, diversos autores apontaram a necessidade de incentivar a retomada de autonomia e cidadania pelos jovens; sendo o protagonismo uma esperança de atender tanto às necessidades sociais, tais como melhores condições de saúde e educação para todos, como necessidades pessoais dos adolescentes, como atendimento psicológico, jurídico e assistência social (FERRETTI et al, 2004). No Brasil, a ideia de fazer com que o aluno se tornasse o principal ator no seu processo de aprendizagem, começou nos anos 1920 com a influência do filósofo norteamericano John Dewey em diversos teóricos de educação do país. Dewey criou a teoria da Escola Nova, em que incentivava um modelo de ensino com foco no aluno, afirmando que o conhecimento deveria ser construído a partir das bases que o aluno já teria desenvolvido previamente, a partir da cultura, por exemplo. Além disso, Dewey era grande defensor da liberdade e ativista político em prol da mesma (PEREIRA et al, 2009). Mesmo assim, somente nos anos 60 e 80, a representação estudantil nas escolas, através de grêmio e conselhos estudantis, começou a ser efetivada em escolas nacionais (FERRETTI et al, 2004). Na década de 90, foi oficializado o incentivo à participação, principalmente, dos alunos nas escolas do Brasil através das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino

Estatuto da Criança e do Adolescente citado anteriormente; o que reforçou ainda mais a

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Médio (DCNEM) e diversos outros documentos nacionais oficiais, como o próprio

importância do protagonismo e influenciou o próprio surgimento deste termo (FERRETTI et al, 2004). Entre os vários nomes dados ao “protagonismo juvenil”, como “participação juvenil” e “participação social”, a interseção entre essas denominações, segundo Ferretti et al (2004), encontra-se o aspecto da “ação cidadã”, que engloba todo o envolvimento dos jovens para além de somente o âmbito escolar, mas também o engajamento político e social de sua comunidade. Esse aspecto foi afirmado por Costa (2001), juntamente com a perspectiva de trazer o adolescente como centro do processo educativo vivenciado por ele, considerando-o “fonte de iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso (responsabilidade)”. O protagonismo juvenil também é associado à formação para a cidadania (COSTA, 2001; FERRETTI et al, 2004); sendo frequentemente relacionado à educação em responsabilidade social. Escámez e Gil (2003) afirmam a necessidade de educar os jovens para a prática de uma cidadania responsável, descrita por eles como uma série de atitudes de culminariam na “formação de um ser pleno”, tais como a formação da autonomia intelectual, solidariedade, o compromisso com excluídos socialmente ou em processo de exclusão, respeito às diferenças, cooperação. Assim, efatizam a importancia dessa postura para a formação ética-moral e cidadã dos jovens. 3. Recursos Midiáticos na Educação (Educomunicação) Soares (2001) define educomunicação como “um conjunto de ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação dos processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos” (p. 43). Ou seja, se trata de incentivar um espaço para diálogo, expressão e comunicação dos alunos e funcionários em escolas e outras instituições de ensino. (SOUZA; SILVA, 2012) Devido à influência do pensamento disseminado nos anos 60 do século passado, por Paulo Freire (1967), em que a educação deveria estar conectada com o incentivo à comunicação e à cultura entre os jovens, nessa mesma época, surgiu o primeiro projeto

Cristã Brasileira de Comunicação (UCBC). O objetivo desse projeto era qualificar educadores, alunos e a comunidade escolar a pensar criticamente de forma lúdica e

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considerado educomunicador, o Leitura Crítica dos Meios de Comunicação, da União

utilizando recursos midiáticos. Esse projeto também teve a intenção de incentivar os alunos na produção de vídeos nas escolas, entre outros produtos, como instrumento para que se conheçam e se reconheçam como atores de suas próprias histórias. (GIRARDELLO; ORFINO, 2012) Foi na década de 70 que um educador porto-riquenho, Francisco Gutierrez, propôs pela primeira vez que a escola fosse um espaço aberto para a produção de conteúdo cultural, em que deveriam utilizar os meios de comunicação social. Na década de 80, surgiram diversas pesquisas sobre como a população em geral recebia os conteúdos que eram veiculados por esses meios, sendo os principais nomes responsáveis por este debate na América Latina: Cancilini (2006), Orozco (2005) e Martin-Barbero (2001). Como resultado desta discussão, mais estudos foram sendo feitos sobre a relação entre comunicação e educação, principalmente pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, onde surgiu o termo educomunicação e foi criada a primeira revista nacional sobre o tema, além de diversos outros grupos e associações. (GIRARDELLO; ORFINO, 2012) Recemente, pudemos observar a educomunicação se expandindo cada vez mais no dia a dia das escolas. Através do sucesso da página “Diário de Classe” na rede social facebook, com mais de 600 mil curtidas, percebemos que o uso dos meios de comunicação se tornou cada vez mais eficiente como propagador de informação e uma ferramenta importante para os próprios alunos e funcionários expressarem suas opiniões e discutir soluções aos problemas vivênciados por eles nas escolas.

4. Rede Escola Cidadã O Projeto Rede Escola Cidadã teve seu início no programa de extensão da Universidade da Amazônia (UNAMA), mais precisamente no Observatório de Violências nas Escolas, a partir de uma união com diversas instituições, como o Ministério Público, a Defensoria Pública/NAECA, CIPOE, SEMEC, SEDUC. Desde então, já foram feitas várias ações, e junções com outras instituições, como a Cruz Vermelha, SEJUDH, FUNPAPA, Comando Maior (PM), Sociedade Bíblica e Guaêre;

Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (FIDESA).

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até que este ano o Instituto C&A aprovou um apoio financeiro para o projeto através da

A proposta do projeto com apoio do Instituto C&A é de fortalecer vínculos familiares e comunitários em escolas públicas com vistas a minimizar a violência nas escolas, através de uma rede envolvendo as mais diversas áreas e programas de extensão dentro da Universidade da Amazônia e a rede de serviços, seja ou não governamental, que atendam crianças e adolescentes. As escolas em que está sendo realizado o projeto são escolas as quais já tiveram um contato prévio com o projeto em trabalhos anteriores. São escolas de Belém, sendo 03 (três) escolas estaduais e 02 (duas) municipais. O projeto Rede Escola Cidadã nasceu em um momento em que o Observatório de Violências nas Escolas estava obtendo muito destaque na mídia, devido à violência neste âmbito estar frequentemente nos noticiários. O Observatório era constantemente chamado para fazer oficinas, palestras e eventos em escolas. Durante esse período, publicou três livros pela Editora UNAMA: Clima Escolar, Relações Sociais e Violências nas Escolas, e o Educação Inclusiva e Violência nas Escolas. Logo surgiu a necessidade de fazer disso um projeto próprio e obter mais recursos para executá-lo, então houve oportunidade de submeter o projeto ao Instituto C&A no Programa de Redes e Alianças. O projeto vem se expandindo e conta com a parceria de outras instituições, como o Museu Emílio Goeldi, a Rede de Jovens e Comunicadores (Renajoc), a Vale, o Lar Fabiano de Cristo, a Fundação Curro Velho entre outras. Com isto, vem cumprindo seus objetivos de atuarem rede de forma que propicie uma articulação no sentido de enfrentar as violências no espaço escolar e buscar o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. 4.1.Ações do Projeto Rede Escola Cidadã Na primeira fase, estava prevista a realização de 20 grupos focais, sendo quatro grupos por escola, três com alunos e um com membros da equipe das escolas participantes. O objetivo dessa atividade foi inicialmente de levantar dados sobre a realidade nas escolas para o desenvolvimento de futuras atividades mais focadas nas demandas emergentes nos locais com base nestas informações e, também, estabelecer

sobre o estado em que suas escolas se encontram, promovendo um debate sobre questões como segurança, estrutura física, relação entre alunos, entre alunos e

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um espaço em que os participantes pudessem expressar suas opiniões e preocupações

funcionários, entre alunos e professores, entre a escola e o bairro e entre a escola e a família. Os grupos citados aconteceram nas escolas durante os meses de abril e maio, devido ao próprio calendário e a disponibilidade das mesmas. Ao todo, a atividade contou com 199 (cento de noventa e nove) participantes nas 5 (cinco) escolas envolvidas. Para a realização dos grupos focais, universitários foram orientados previamente para sua execução a fim de que tentassem estabelecer vínculo com os participantes e promover um ambiente propício para que pudessem se expressar com relação às suas escolas. Uma das variáveis que auxiliaram em estabelecer proximidade com os alunos foi destacar a eles que as informações reveladas ficariam apenas entre os participantes e os universitários que conduziam a dinâmica, e que os funcionários da escola não saberiam quem disse o quê, nem de que grupo focal os dados foram retirados, estabelecendo uma confidencialidade entre eles. Assim, nesta relação horizontal, ou seja, não diretiva durante o grupo focal, proporcionava aos alunos total liberdade para expressar suas opiniões sobre quaisquer assuntos que surgissem no momento da atividade, mesmo sem que fossem evocados diretamente. Concomitante a realização dos grupos focais, foram desenvolvidas Oficinas de Direitos Humanos apenas em uma escola estadual, semanalmente, às terças feiras, tendo começado no início do mês de abril e encerrado ao fim de maio. Essa ação tinha como objetivo disseminar direitos humanos e tornar a prática e o pensamento sobre estes um hábito aos participantes, assim como torná-los capazes de identificar quando seus direitos estão sendo violados e a serem sujeitos ativos na reivindicação deles. Ao todo foram realizadas 08 oficinas, com alunos do 3ª ano do Ensino Médio de uma das escolas envolvidas no Projeto, sendo três turmas do turno da tarde contempladas, com aproximadamente 50 alunos participantes. As gravações em vídeo de depoimentos dos funcionários e alunos das escolas ocorreram durante os meses de abril, maio e junho em todas as cinco escolas

e funcionários das escolas tinham sobre a realidade que presenciavam diariamente lá, além disso, também tínhamos interesse de apresentar a eles uma nova forma de

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participantes. Com o objetivo de registrar depoimentos sobre a percepção que os alunos

expressão através do vídeo, pretendendo fazer com que a vissem como uma possibilidade e, assim, gerar interesse sobre esse recurso. Ao fim da atividade, foram totalizadas 45 Autorizações de Uso de Imagens assinadas participantes. 5. Resultados e Discussão Durante a execução dos grupos focais foi possível observar que o processo de reflexão e debate sobre os problemas que eles vivenciavam os faziam pensar também em como eles mesmos poderiam agir e intervir para que houvesse melhoria em suas escolas, visto que uma das perguntas-tópicos oferecidas pelo moderador sugeria exatamente isso. Também houve bastante reflexão a respeito de como a estrutura das ruas, como buracos e enchentes, facilitava ou dificultava o acesso às escolas, o que na maioria dos casos gerou indignação; assim como a segurança no perímetro da escola que foi vista como precária em todas as escolas consultadas. Com as oficinas de Direitos Humanos, os resultados obtidos foram positivos. Segundo depoimento do representante da Escola Estadual, única escola em que a atividade ocorreu, após as oficinas houve uma perceptível melhora no engajamento e interesse dos alunos em reivindicar seus direitos e, especialmente, demostraram interesse em se candidatar ao cargo de representante de turma, onde geralmente apenas um se candidatava, que alcançou um número de sete candidatos numa mesma turma da escola. O mesmo representante também informou que uma participante da atividade foi eleita integrante do Conselho Fiscal da escola. Sobre a atividade da gravação em vídeo de depoimentos, os representantes das escolas também deram um relato positivo, afirmaram que “Foi muito benéfico, pois os alunos se sentiram muito importantes e lembrados. Ajudou muito na melhora da autoestima dos participantes”. Esses dados contribuíram para elaborar novas atividades. Para o segundo semestre estão previstas: a excução de oficinas de rádio e edição de som, pois já observamos através da gravação de video, que eles estão dispostos a utilizar novos recursos de comunicação e expressão, assim, também estamos planejando grupos de teatro como

Também prevemos a expansão das oficinas de direitos humanos para as demais escolas, utilizando a concepção de educomunicação para fundamentar o trabalho, tendo

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meio de expressar críticas sociais e reivindicaçóes de direitos.

em vista a possibilidade de melhor alcance e assimilação dos estudantes das escolas integrantes ao projeto. Para esse modo de execução focado na educomunicação, os atores foram capacitados pela Rede Nacional de Jovens e Comunicadores (RENAJOC), através de 04 (quatro) oficinas que ocorreram durante os meses de julho e agosto. A discussão trazida foi a da importância de se utilizar recursos atraentes aos jovens para fazer uma discussão crítica, e até política, de direitos humanos aplicado à realidade específica dos participantes, discutindo protagonismo juvenil e o ativismo do jovem em movimentos sociais. Os recursos apresentados na capacitação em questão foram de explorar o meio audiovisual, pedindo, por exemplo, para que sejam elaborados pequenos vídeos documentários sobre a realidade deles; ou mesmo a reprodução de uma mídia impressa, como fanzines artesanais e de baixo custo, como meio e comunicação interna nas escolas. (ARARIPE, 2013) Vigotsky, o fundador da abordagem sócio-histórica da psicologia, considera o homem como um sujeito cuja sua natureza foi determinada pelas trocas culturais sociais que ele fez com o ambiente. Para ele, a adolescência é a fase mais importante para se estabelecer o ser adulto como cidadão e um ator de seus direitos, pois nesta fase, o indivíduo reestrutura seu pensamento, atenção, memória, percepção e vontade, a fim de chegar a uma autoconsicência de si. (STAMATO, 2009) Enquanto eram realizadas as atividades foi possível perceber o quanto se afiniza ao pensamento vigotskyano. Durante a execução das ações, conforme a discussão, os adolescentes iam exercitando suas capacidades de rever suas opiniões e debater sensatamente sobre os assuntos que surgiam naquele momento. As duas primeiras atividades descritas tinham este objetivo como principal: o debate e a reflexão de temas do cotianos dos participantes, portanto, o resultado foi positivo em ambas as atividades, pois durante sua execução os jovens desenvolveram criticidade e desenvoltura para se expressarem e até questionarem a opinião um dos outros, gerando debates que algumas

6. Considerações Finais

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vezes precisaram da intervenção dos atores para controlá-los.

Neste momento, é fundamental destacar que o percurso teórico prático percorrido pela equipe do Projeto Rede Escola Cidadã tem trazido a possiblidade de aprender cada vez mais com as comunidades escolares que tem mantido relação, assim como com as demais organizações que tem buscado atuar em rede visando garantir direitos de crianças e adolescentes. Tem deixado explícito que estabelecer relações horizontais, atividades lúdicas e especialmente as que utilizam recursos midiáticos, definidas aqui prioritariamente dentro do conceito “educomunicação”, os quais apontam para o alcance de resultados mais consequentes. A importância de oportunizar um espaço de debate e reflexão sobre as realidades encontradas nas escolas públicas, a educação em direitos humanos e a introdução de meios de comunicação diferenciados aos alunos e funcionários desse tipo de local mostrou-se muito favorável para que haja melhora nesse âmbito. É importante o processo de informação para possibilitar a conscientização de que devem ser os principais atores da reivindicação de seus direitos e cada atividade realizada pelo projeto tinha um foco e um modo de construir essa consciência política e social. Os grupos focais foram essenciais para os participantes expressassem os problemas que visavam criar a aproximação com a realidade social das escolas e respectiva comunidade escolar e também apontassem caminhos a serem buscados coletivamente para superar os problemas. As oficinas de direitos humanos foram importantes para fazê-los saber como exercer sua cidadania, saber identificar quais seus direitos e como reivindicá-los. E a gravação em vídeo foi um meio de introduzi-los a esse meio de comunicação e como fazer uso deles para a reivindicação de direitos. Assim, o protagonismo juvenil e a utilização dos recursos midiáticos se uniram de forma muito construtiva para juntos contribuírem na expressão dos adolescentes e na construção de sua cidadania. Pela equipe do projeto, há a convicção de que muito tem sido feito a fim de alcançar os objetivos do projeto e de que, no entanto, ainda há um longo caminho a ser

ambiente social, escolar e politico mais favorável aos jovens exercerem sua cidadania.

Referências

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percorrido, a fim de aprimorar cada vez mais técnicas e recursos que possibilitem um

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