Redes sociais e conexões semânticas como reflexo hipertextual de ilustradores

June 15, 2017 | Autor: Adriano Renzi | Categoria: Illustration, Social Media, Hipertexto
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Redes sociais e conexões semânticas como reflexo hipertextual de ilustradores Adriano Bernardo Renzi Escola Superior de Desenho Industrial – UERJ Rua Alfredo Chaves, 6 – Rio de Janeiro – RJ cep:22260-160 [email protected] ABSTRACT

Este artigo aborda conexões semânticas na internet que se expandem em redes de conhecimento com base nos princípios do hipertexto de Pierre Lèvy. Ilustradores utilizam a web para fomentar e expor seus conteúdos e projetos em um emaranhado hipertextual dinâmico que reflete sua vida profissional. A partir da 157 análises de redes de hipertexto, especificam-se 3 exemplos para melhor expor a relação entre artistas e suas redes. Author Keywords

Redes sociais, hipertexto, ilustradores. ACM Classification Keywords

H5.m. Social Interactions INTRODUCTION

Andrew Keen (autor do livro cult of the amateur), no documentário Revolução Virtual (Kotrosky 2010), aponta que com a evolução da internet (desde sua programação inicial por Tim Berners-Lee) e sua presença cada vez mais cotidiana em nossas vidas, gradativamente leitores vem se transformando em editores. Cada vez mais as possibilidades de se expressar pela web por blogs, redes sociais, sites, youtube, podcasts etc, possibilitam pessoas de todo o mundo a criar e editar seus próprios conteúdos e a opinar sobre conteúdo dos outros. No passado não muito distante, a informação movia-se hierarquicamente através de poucas opções, sendo acessada somente através de meios tradicionais de comunicação: jornal, revista, televisão, rádio etc. A partir das diversas possibilidades atuais de mídias interativas, qualquer pessoa com um Iphone ou smartphone, por exemplo, pode fotografar ou filmar uma situação na rua Permission to make digital or hard copies of all or part of this work for personal or classroom use is granted without fee provided that copies are not made or distributed for profit or commercial advantage and that copies bear this notice and the full citation on the first page. To copy otherwise, or republish, to post on servers or to redistribute to lists, requires prior specific permission and/or a fee. CHI 2009, April 4–9, 2009, Boston, Massachusetts, USA. Copyright 2009 ACM 978-1-60558-246-7/09/04...$5.00.

e imediatamente expô-la em formato de post através de suas redes sociais, blog ou site. A exemplo disso, cita-se a utilização ativa da web na divulgação em tempo real da revolta pós-eleitorais no Quenia pelo site Ushahidi, fundado por Ory Okolloh. O site cujo nome significa “testemunha” em Swahili, expunha situações da revolta, que os meios tradicionais não mostravam. Mais recentemente, pode-se citar o início da revolução do Egito e mudança de poder político em 2011, fomentado por mensagens através de redes sociais (mais especificamente, o Facebook). No mesmo ano, tem-se exemplo do mesmo trâmite de informação com as revoltas urbano-sociais em Londres, onde transeuntes com telefone documentaram e divulgaram imagens incitativas ao início das manifestações e também auxiliaram na identificação dos responsáveis por incêndios e vandalismos pela cidade. À parte dos exemplos de revoluções sociais, profissionais relacionados a ramificações de atividade criativa, como fotógrafos, ilustradores, artistas plásticos, designers etc, mostram-se inclinados a utilizar a internet como ferramenta para expressão pessoal de seu trabalho. A utilização de portfólios online para exposição de projetos e atuação profissional cresce a cada ano e já a algum tempo começam a suplantar a necessidade de se montar um portfólio físico, peça essencial a 10 anos atrás para todo aluno de design, ilustração ou fotografia mostrar seu trabalho e prospectar novos clientes e/ou emprego. Associações de artistas utilizam internet e grupos de discussão como meio de trocar experiências, informações e fomentar assuntos de interesse comum. A entidade “Sociedades dos Ilustradores do Brasil” possui seu próprio site oficial (www.sib.org.br), onde dispõe mini portfolios dos membros, notícias, newsletter, diretrizes de ilustração, orçamento e busca de ilustradores por tipo de atuação e técnica de pintura. Observa-se que entre os 180 membros da SIB, 137 possuem site pessoal para expor seus trabalhos, 29 utilizam Blogspot como exposição principal de seus trabalho, 6 uzam o Carbonmade, 5 expoem através do Flickr, 1 utiliza o Tumblr e apenas 2 não linkam seus nomes da listagem de membros da SIB a nenhuma forma de exposição pela web. Ao buscar-se especificamente esses 2

ilustradores sem link aparente no site da SIB, descobriu-se que utilizam o linkedin e pinterest como fonte principal de auto exposição. Ou seja, de uma forma ou de outra, todos expõem seus trabalhos e projetos através de redes associativas na web. HIPERTEXTO

Com base nas teorias de Lèvy (1993) sobre hipertexto, a imensa rede associativa que constitui nosso universo mental encontra-se em metamorfose permanente. As reorganizações podem ser temporárias e superficiais. O sentido de uma palavra não é outro senão guirlanda cintilante de conceitos e imagens que brilham por um instante ao seu redor. A reminiscência de seu brilho semântico orientará a interligação à palavra seguinte, e assim por diante. Os atores da comunicação ou os elementos da mensagem constroem e remodelam universos de sentido que nos unem e nos separam. E assim, ao ouvir uma palavra, ou clicar em um link, ativa-se imediatamente em nossa mente uma rede de outras palavras, de conceitos, de modelos, de imagens, de sons, de odores, de lembranças, de afetos etc. Inspirando-se em softwares e redes da web, Lèvy (ibidem) denomina essas ligações semânticas e conceituais de hipertexto. Preservando as possibilidades de múltiplas interpretações do modelo do hipertexto, o pesquisador caracteriza-o através de 6 princípios abstratos: 1. princípio da metamorfose: a rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode permanecer estável durante certo tempo, mas a estabilidade em si é fruto de um trabalho conjunto. Sua extensão, sua composição e seu desenho estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, como em um post do Facebook que desencadeia diversas opiniões e adições de informação ao conteúdo inicial. 2. princípio da heterogeneidade: os nós e conexões de uma rede hipertextual são encontrados ao mesmo tempo em diversas imagens, sons, palavras, sensações, modelos etc. As conexões entre as diversas absorções da infomação serão lógicas e afetivas, como por exemplo, um mesmo fato jornalístico ser divulgado por texto e fotos de um site de notícias, por vídeos gravados por testemunhas, por documentos paralelos de especialistas e por boatos espalhados por redes sociais e e-mails. 3. princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas: o hipertexto se organiza em um modo fractal. Qualquer nó ou conexão pode revelar-se composto por toda uma rede de conceitos em si, e assim por diante. Em um site complexo estruturalmente como o portal da Fiocruz, por exemplo, existe uma rede de conexões de informação sobre a Fiocruz e suas pesquisas como um todo, mas ao aproximarmos especificamente para dentro do departamento responsável

por doenças negligenciadas, existe uma rede de conteúdo e associações que trata, desde a descrição de cada doença negligenciada, à fotos e especificações de tratamento, bem como, opiniões de especialistas no assunto. 4. princípio de exterioridade: a rede não possui unidade orgânica. Seu crescimento e diminuição de significados, sua metamorfose e composição se altera pelas extremidades, como as adições semânticas feitas dentro e fora da internet, como, por exemplo, ao se navegar por conteúdos de um ilustrador: seu portfolio > seus projetos > suas exposições > suas pelestras > suas entrevistas... 5. princípio de topologia: tudo funciona semanticamente por proximidade. Por vizinhança. O curso de acontecimentos e ligações é uma questão de caminhos onde não há espaço universal homogêneo. Um internauta pode começar a sua navegação na web por um catálogo de ilustradores, como a Tupixel, e clicando em assuntos semanticamente vizinhos (ilustrador > site > projeto editorial > livro publicado > lançamento do livro > entrevista), terminar em um entrevista online de uma site sobre arte. 6. princípio de mobilidade dos centros: a rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que perpetuamente saltam de um nó a outro. Apesar de iniciar-se uma navegação em um ponto de interesse, a medida de clicamos e descobrimos conexões relacionadas, o centro do foco muda respectivamente, como exemplificado no princípio anterior. Segundo o pesquisador (ibidem), a evolução biológica fez com que desenvolvessemos a faculdade de imaginar nossas ações futuras e seu resultado sobre interações com o mundo através de modelos mentais. Por esses modelos, podemos antecipar o resultado de nossas intervenções e usar a experiência acumulada. Para futuras situações. A combinação dessas duas características, o dom da manipulação e da imaginação, pode explicar o fato de que quase sempre pensemos com o auxílio de metáforas, de pequenos modelos concretos, muitas vezes de origem técnica (Lèvy 1993). As tecnologias intelectuais misturamse à inteligência dos homens e para que as colectividades compartilhem um mesmo sentido, não basta que cada um receba a mesma mensagem. A construção do senso comum encontra-se exposta e como que materializada à elaboração coletiva de um hipertexto. ORALIDADE, ESCRITA, HIPERTEXTO

Pierre Lèvy (1993) categoriza a comunicação e acúmulo de conhecimento em três categorias básicas e, apesar de simplistas, indica que estas disjunções são úteis por chamar a atenção para restrições materiais, elementos técnicos que condicionam formas de pensamento e as temporalidades de uma sociedade. A oralidade primária remete ao papel da palavra antes da

adoção da escrita. A palavra tem como função básica de gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana. Em uma sociedade oral primária, quase todo edifício cultural está fundado sobre as lembranças dos indivíduos, e a inteligência, muitas vezes é identificada com a memória, sobretudo com a auditiva. Bardos, artífices e griots aprendiam seu ofício escutando os mais velhos. O conhecimento acumulado é originado hierarquicamente por uma figura central, ou grupo central, que detinha o conhecimento (como o guru, pajé, contador de histórias, conselho), e transmitido ao coletivo da tribo, aldeia, cidade, ou território de alcance limitado geograficamente. Lèvy sugere a sua representação gráfica como círculos, onde o conhecimento fica restrito a cada círculo sem a possibilidade de troca com outros círculos de conhecimento. Nessas culturas, qualquer proposição que não seja periodicamente retomada e repetida em voz alta está condenada a desaparecer. Não há como armazenar as representações verbais para futura reutilização. Já a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como conhecemos hoje. O acúmulo de conhecimento pela escrita segue uma linearidade. O eterno retorno da oralidade é substituido pelas longas perspectivas da história. Reproduz no domínio da comunicação, a relação com o tempo e o espaço. Com a escrita, as representações perduram em outros formatos que não somente o canto ou a narrativa. Ao invés de estarem intimamente conectadas entre si para responder às retrições da memória de longo prazo humana, as representações passam a poder ser transmitidas e durar de forma autônoma e a partir de então, os números e palavras podem ser dispostos em listas e tabelas para futuras referências. As tecnologias culturais de fundamento escrituário permitem a circulação de microrepresentações livres, e não mais envoltas em uma narrativa. Autores como Goody, Havelock e Svembro (1998) indicam que um certo tipo de pensamento racional ou crítico só pode desenvolver-se ao se relacionar com a escrita. Calendários, datas, anais, arquivos, ao instaurarem referências fixas permitem o nascimento da história. O conhecimento é acumulado linearmente, representado graficamente por linhas, onde para se inserir novos conhecimentos, basea-se em diretrizes previamente documentadas temporalmente. A escrita hipertextual está mais próxima de um espetáculo do que da redação clássica. Ela exige equipes de autores, coordenadores, atores, iluminadores etc, em um verdadeiro trabalho coletivo. Inventar novas estruturas discursivas, descobrir as retóricas ainda desconhecidas do sistema dinâmico, do texto de geometria variável e da imagem animada, conceber ideografias nas quais cores, o som e o movimento se associam para significar. O acesso ao conhecimento da informação online é feito de

forma totalmente seletiva, e não contínua como na escrita. Em princípio, busca-se conhecimento apenas daquilo que é procurado. O conteúdo não é lido no sentido próprio da palavra, e sim nas sínteses e idéias. O conhecimento de tipo operacional fornecido pelas redes da web perde a temporalidade linear da escrita ou circular da oralidade. Lèvy (ibidem) caracteriza o hipertexto como sendo a informação em tempo real, pontual, sem querer saber de onde vem e para onde vai. O foco é a velocidade da informação. O pesquisador representa o hipertexto como pontos no espaço. Como nós conectatos entre si semanticamente, formando redes de conhecimento interligados, sem início, sem fim, infinitamente.

HIPERTEXTO NA ILUSTRAÇÃO

Com base nas teorias das redes hipertextuais que a internet proporciona e a crescente utilização desse meio para artistas e profissionais do meio criativo se expressarem e documentarem seus próprios conteúdos e projetos, propôsse à turmas de primeiro período do curso de desenho industrial do Centro Universitário da Cidade, no Rio de Janeiro, a mapear e analisar redes hipertextuais de ilustradores como parte do projeto de aula. Cerca de 157 alunos participaram desta proposta dentro do período de 5 semestres. Cada aluno deveria escolher um ilustrador livremente, mapear e analisar suas conexões para apresentação dentro do espaço de 2 semanas. A escolha do tema ilustradores não seguiu nenhuma pesquisa científica anterior. Escolheu-se o tema pela proximidade e afinidade dos alunos por ilustração, bem como, a grande variedade de opções de escolha de ilustradores como possibilidade de análise, seja de origem brasileira ou internacional. Caso o aluno não apresentasse previamente preferência pessoal por algum ilustrador em particular, foi sugerido fazer-se uma busca pelo site da Sociedade dos Ilustradores do Brasil (www.sib.org.br) como ponto de partida para a escolha um ilustrador. A única restrição aplicada ao projeto refere-se a escolha de ilustradores que atuassem na profissão de ilustração. Artistas plásticos ou amigos considerados talentosos, mas não atuantes no meio, precisariam ser descartados. Por outro lado, artistas plásticos que atuassem também como ilustradores (como por exemplo Andrea Ebert ou Guto Lacaz) poderiam ser escolhidos para análise. As análises finais não seguiram padrões de formato ou documento. Cada aluno escolheu o meio que tivesse maior confortabilidade de construção e manuseio para entregar as informações. A não padronização de documentação objetivou antecipar que eventuais dificuldades de manuseio com algum software não distorcesse a análise. Considerando em se tratar de alunos do primeiro período, parte significativa demonstrava não ter nenhuma

familiaridade com softwares da Adobe de base vetorial, de edição de imagens ou de construção de apresentação. As análises foram entregues em grande maioria em documentos formato word, com auxílio de captura de imagens. Uma porcentagem menor utilizou-se de Powerpoint, ou similar, para construção visual das análises. Cerca de 3 alunos sentiram-se mais confortáveis entregando os resultados escritos a mão com imagens desenhadas e coladas, como paineis informativos. Todos os meios de expressar conteúdo foram aceitos. Observação dos ilustradores

Após definido a escolha do ilustrador para análise, cada aluno deveria coletar e observar todos os meios pelos quais o seu objeto de estudo se expressa na internet. As mídias a serem observadas incluiram redes sociais (Facebook, Linkedin, Behance, Twitter etc), sites pessoais, blogs, associações afiliadas, revistas online, sites relacionados, Youtube, Vimeo e canais de notícias. Proceguindo notificação de quais mídias principais o ilustrador se expõe, deveria-se analisar como essas redes são conectadas, quais mídias originam links e para onde esses links direcionam. E se essas conexões se direcionam nos dois sentidos. Orientou-se a buscar, além das redes principais fomentadas pelos próprios ilustradores, os links e redes que advinham de outras fontes as quais os ilustradores analisados não teriam influencia direta, como sites ou blogs sobre ilustração, lançamentos de livros e exposições, entrevistas etc. A partir de observações iniciais separou-se as orígens de conexões em dois tipos: (1) as sementes, nós da rede que sofrem fomentos diretos do ilustrador; e (2) os frutos, conexões resultantes de fomentos sem nenhum intervenção direta do ilustrador. Para melhor especificar as duas características de acordo com o tema abordado, as sementes são atuantes no fomento de conteúdo do trabalho do ilustrador e sofrem manipulação direta deste, como suas redes sociais, seu site e associações que está afiliado. Os frutos são reverberações dessas atuações, que proliferam sem controle e sem manipulação direta, como entrevistas, reportagens e blogs de fãs. Após traçar essas conexões em mapeamento gráfico, cada aluno deveria expor análise e opinião pessoal de como a rede hipertextual de seu objeto de estudo funciona: quais as direções das conexões vislumbradas, quais as sementes, quais os frutos e quais nós fomentam determinadas redes e expõem seu trabalho. Relatórios que não apresentassem conclusões e opiniões pessoais ou que não mostrassem profundidade de busca ou análises foram descartados. Mesmo com tamanha diversidade de apresentações e tipos de aprofundamentos dos alunos participantes, é possível observar um direcionamento comum das análises e resultados durante o período abordado.

Dado a amplitude de ilustradores selecionados pelos alunos para análise e a impossibilidade de descorrer sobre todos o ilustradores no espaço de um artigo, optou-se por utilizar exemplos de apenas 3 ilustradores como representantes do desenvolvimento da pesquisa: Benício, Carla Pilla e Patrícia Perez. A escolha dos ilustradores mencionados baseia-se em suas atuações profissionais e carreira, onde os três monstram-se em estágios diferentes de tempo e experiência. A possibilidade de se aplicar entrevista não-estruturada posterior para eventual necessidade de esclarecimento de dúvidas também foi determinate para reafirmar as escolhas. As entrevistas não-estruturadas contribuiram para certificação do mapeamento da carreira de cada um dos ilustradores. A sequencia e desenrolar das perguntas da entrevista basearam-se em técnicas sugeridas por Roger Mucchielli (1979) de modo a não distorcer resultados coletados. RESULTADOS

Iniciando análise dos ilustradores pelo exemplo de maior experiência no mercado, observa-se que o ilustrador Benício (conhecido como o maior representante de ilustração de pin-ups no Brasil e criador de diversos cartazes nacionais de cinema), além de estar afiliado à SIB e consequentemente ser exposto por esse canal, possui seu próprio site e é atuante no Facebook. Essas são as 2 mídias que ele fomenta diretamente. Por outro lado, ao pesquisar-se seu nome pela ferramenta de busca do Google, os resultados apontam diversas entrevistas, reportagens e prêmios associados ao artista. Estes não são fomentados por ele diretamente. São conexões que se originam em pessoas que admiram seu trabalho, instituições que reconhecem sua importância e reverberações de lançamentos e premiações que recebeu ao longo da carreira. No caso do ilustrador Benício, as sementes seriam o seu site, o seu Facebook e o site da SIB. Todos as 3 são mídias que o próprio (ou seu assitente) utilizam para expor conteúdo e projetos pessoais. Os frutos, ou reverberações, seriam as entrevistas, filmagens e homenagens ao artista ao qual ele próprio não tem ação direta. Filmagens no site Globo.com, entrevista no canal UOL, na Veja, no Jornal das Dez, no Bom Dia PE, releases de livros e tantos outros são reconhecimentos de sua importância por meios de comunicação diversos e adimiradores de seu trabalho. A representação gráfica de sua rede de conexões pode ser observada na figura 1. As conexões em azul representam origem em sementes e conexões em rosa representam origem em frutos.

em sementes e conexões em rosa representam origem em frutos.

Figura 1. Painel gráfico representativo da rede hipertextual do ilustrador Benício. Seta e quadros azuis representam as “sementes”, setas rosas de linha contínua representam os “frutos” com link direto para seu site, setas rosas de linha tracejada representam “frutos” sem link direto para seu site. Obs: muitos outros frutos foram encontrados durante a pesquisa, mas não seria possível representa-los todos graficamente no espaço disponível.

Carla Pilla atua no mercado de ilustração ligada a literatura infantil desde 2008. Antes disso, considera que seus trabalhos eram espalhados por diversas áreas de atuação. Possui mídias que expõem seu portfólio online: seu site pessoal, o site Filé de Gato (a partir de 2010) e o blog Garatuja. Possui também quatro mídias “sementes”: Facebook pessoal, Twitter pessoal, Twitter Filé de Gato e o Facebook Filé de Gato, que fomentam notícias e novidades e direcionam conexões para seus 3 portfolios online (bem como se conectam entre si). Além desses, os sites da SIB e da AEILIJ fazem ligações diretas com seu site (a SIB e a AEILIJ permitem que cada membro indique apenas um link para portfolio pessoal) e o Linkedin aponta tanto para o site quanto para o blog. Todos esses nós citados são sementes que a própria Carla Pilla fomenta regularmente. A rede de conexões da ilustradora é representado graficamente na figura 2. Assim como no anterior, As conexões em azul representam origem

Figura 2 – representação gráfica das conexões semânticas de Carla Pilla. Elementos azuis são referentes a “sementes”, elementos rosas são referentes a “frutos”. Ligações rosa tracejadas são “frutos” provenientes de sites que falam da ilustradora, mas não oferecem link direto.

No entanto, recentemente, observa-se um aumento de nós “frutos” que surgem gradativamente com sua maior atuação no mercado e sucesso das tiras Filé de Gato (publicadas no jornal Zero Hora em 2011) e atuação na coluna de Marta Medeiros. Editoras que publicam e distribuem livros com sua participação apontam diretamente para lançamentos e as vezes para um dos portfolios da Carla; blogs e sites relacionados a quadrinhos e literatura infantil também expõem trabalhos sobre a artista. Em entrevista nãoestruturada, Carla conta que a quantidade de trabalho crescente vem impedindo que ela se dedique tanto quanto antes ao fomento das sementes. A repercursão do Filé de Gato, participação em livros infantis e seus lançamentos, além de ilustrar coluna da Martha Medeiros acabam fomentando seu trabalho a partir do aumento da popularidade. Atualmente, mesmo que em rítmo menor, insere conteúdo

em seu Facebook pessoal e mantém atenção ao site Filé de Gato (que repete posts do respectivo Facebook). Anda pensando em quais mídias deverá “apagar” para focar em menos nós de conteúdo e facilitar a atenção que as suas redes requerem. Como último exemplo, Patrícia Perez atua mais recentemente no mercado e entrou na SIB (Sociedade de Ilustradores do Brasil) este ano (2013). Quando entrevistada diretamente aponta iniciar como ilustradora desde 2004, apesar dos trabalhos se resumirem a materias mensais para o jornal da UFRJ e ser muito mais atuante como designer. Seu portfolio é exposto pelo seu site profissional e apesar de possuir blog, este atua como uma ramificação do site. Além do website, seu Linkedin também expõe seu curriculo como ilustradora e designer, assim como a SIB expõe uma imagem sua e aponta para seu site pessoal.

conexões em azul representam origem em sementes e conexões em rosa representam origem em frutos. CONCLUSÃO E DISCUSSÃO

Mesmo exibindo-se apenas 3 objetos de estudo dentre as mais de 150 análises feitas, observa-se que as redes de conexões de cada ilustrador reflete metaforicamente seu posicionamento no mercado de ilustração e respectiva metamorfose durante o passar do tempo. A própria proporção de nós fomentadores, denominados sementes neste artigo, e de nós e conexões que reverberam e se proliferam sem controle, denominado frutos neste artigo, parecem ser resultados da rede hipertextual de cada um dos ilustradores. Tem-se em uma ponta o ilustrador Benício, com anos de experiência e com traço e trabalho bastante reconhecidos em todo o país (pelo menos nos ramos relacionados a sua atuação). Ele possui um site como base para expor seu portfolio, uma mídia fomentadora (Facebook) e uma associação de fomento (SIB). Ao ser indagado sobre suas sementes, admitiu que os posts do Facebook passaram a ocorrer este ano por conta da atuação direta do genro para promover seu trabalho. Ele próprio não tem afinidade para alimentar os posts continuamente. Por outro lado, os nós e conexões que levam ao seu site se proliferam sem controle nenhum. As diversas reportagens, entrevistas, admiradores, referências acumuladas no decorrer de sua trajetória artística criam e proliferam amplamente conteúdos e nós de conhecimento pela rede. Carla Pilla mostra uma metamorfose na rede no decorrer dos anos, reflexo das mudanças qua ocorreram em sua carreira como ilustradora. A partir de 2010, quando o Filé de Gato se inicia na web, sua atividade fomentadora era crescente com 3 bases para portfolio, duas bases de associação e 4 fontes fomentatoras de posts. Todas interligadas e ativamente disseminando e gerando conteúdo com foco em suas ilustrações. Poucas referências se apresentavam como frutos.

Figura 3 – representação gráfica das conexões semânticas de Patrícia Perez. Elementos azuis são referentes a “sementes”, ligações rosa tracejadas são “frutos” provenientes de sites que falam da ilustradora, mas não oferecem link direto.

Utiliza Facebook, Behance, Twitter e Flickr como mídias fomentadoras que direcionam para seu site. Além desses, possui trabalhos a venda no Cazulo, que retorna link para seu site, e uma ilustração para download gratuito no site Casa e Jardim. Não foi observado nenhum nó fruto sem seu fomento direto que direcionasse para seu portfolio. A representação gráfica de sua rede de conexões pode ser observada na figura 3. As

O despertar do interesse pelas tiras Filé de Gato e seleção para atuar no jornal Zero Hora em 2011, bem como, paralela atuação na coluna de Martha Medeiros e projetos de livros infantis nos últimos 2 anos, diminuiu consideravelmente seu tempo disponível para atuar no fomento de posts e gradativa aparição de reverberação de nós na rede que a ilustradora não possui ação direta. Observou-se que as origens de fomento tem relação com projetos que participa, ao qual editoras, blogs de assunto relacionado, seguidores começam criar conteúdo e apontar links para seu trabalho. Na outra ponta encontra-se a ilustradora Patrícia Perez, recentemente integrante da SIB, com 3 bases de portfolio (apesar do blog mostrar-se como ramificação do site) e 1 associação de referência (SIB). Os canais de fomento são

principalmente 3, mas o mais atuante é o Facebook. Atualmente sua exposição no Linkedin tem trazido bons resultados, mas relacionados frequentemente com design. Até o momento de formulação deste artigo, foi observado apenas um link de origem do blog Estante diferente como nó de fomento sem seu controle direto. Além do reflexo metafórico de suas vidas profissionais na rede hipertextual da web, o que é interessante observar é a mutação constante dessa rede. As ligações e conexões de todos os 3 exemplos mudaram durante os anos influenciados pela metamorfose de suas vidas profissionais, assim como a de tantos outros observados. Mudanças de foco para fomento de conteúdo, aumento e diminuição de referências na rede, mídias abandonadas em prol de novas e interessantes opções, ou simplesmente abandonadas por perder importância na hierarquia de prioridades do artista. A rede cresce e diminui pelas beiradas, como o princípo da exterioridade de Lèvy (1993), assim como a moblidade dos centros de foco e a constante metamorfose das conexões. Em poucos anos foi possível notar algumas dessas mudanças de conexões e tudo indica que possivelmente continuarão a se modificar, infinitamente e sem controle. Com os futuros surgimentos de novas opções de exposição e interação na rede hipertextual, mudanças na cultura virtual e influências das transformações da vida, novas observações são necessárias para mapear e entender como esses reflexos se dão na rede. AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos os alunos que cursaram a

disciplina Design e Interatividade e participaram do projeto de análise de hipertexto. Cada gráfico criado, cada opinião exposta, cada discussão em cima das observações foram de extrema importância para a coleta de informação durante o período citado no artigo. Agradecimento especial à Patrícia Perez, Carla Pilla e Benício pela disponibilidade em tirar dúvidas sobre pontos de suas carreiras para uma maior precisão nos exemplos expostos. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Goody, Jack. La logique de l'escriture: aux origines de societè humane. Armando Colin, Paris 1986 2. Associação dos Escritores e Ilustradores Infantis e Juvenis. Disponível até 31 de maio de 2013 no site: www.aeilij.org.br 3. Junior, Gonçalo. E Benício criou a mulher. Ópera Gráfica Editora, São Paulo, 2013. 4. Kotrosky, Aleks. Virtual Revolution. BBC, London 2010. Disponível , até 31 de maio de 2013 no site: http://www.bbc.co.uk/programmes/b00n4j0r. 5. Lèvy, Pierre. Tecnologias da inteligência. Editora 34, São Paulo 1993. 6. Mucchielli, Roger. O questionário na pesquisa psicosocial. São Paulo: Martins Fontes, 1979. 7. Svembro, Jesper Phrasikleia. Antropologie de la lecture en Grèce ancienne. La Dècouvert, Paris, 1998 8. Sociedade dos Ilustradores do Brasil. Disponível até 31 de maio de 2013 no site: www.sib.org.br

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