Reencontros da Comunicação: cidade, estéticas & resistências - capítulo \"Agências de Notícias Estatais e Conglomerados Privados de Mídia: cooperação em comunicação e disputa por hegemonia na América Latina\"

June 6, 2017 | Autor: Pedro Aguiar | Categoria: Post-Althusserian Theory, Latin American media systems, Gramsci and Cultural Hegemony, Pal, Althusser ,gramchi, International communication, global media; media and mediated culture in India and among South Asian diaspora, Gramscian Studies, Journalism and Media in Latin America, Althusser's Structuralism, Grupo de Diarios América, GDA, Politics and the Press, Online Media In Latin America, Latin America Media Systems, Latin America Media, Latin American Literature and Mass Media, Latin American news media, Media Hegemony, Spanish Language Media and Latino Markets, Hegemonic Press, Non-hegemonic Press, Althusser - ideología y aparatos ideológicos de estado, Latinamerican journalism, news agencies in Latin America, ULAN, Periódicos Asociados Latinoamericanos, Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias, Latin American Media, Latin America Press, Media development Latin America, Counter-Hegemonic Media, South American press, International communication, global media; media and mediated culture in India and among South Asian diaspora, Gramscian Studies, Journalism and Media in Latin America, Althusser's Structuralism, Grupo de Diarios América, GDA, Politics and the Press, Online Media In Latin America, Latin America Media Systems, Latin America Media, Latin American Literature and Mass Media, Latin American news media, Media Hegemony, Spanish Language Media and Latino Markets, Hegemonic Press, Non-hegemonic Press, Althusser - ideología y aparatos ideológicos de estado, Latinamerican journalism, news agencies in Latin America, ULAN, Periódicos Asociados Latinoamericanos, Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias, Latin American Media, Latin America Press, Media development Latin America, Counter-Hegemonic Media, South American press
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7º CONECO CONGRESSO DOS ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

REENCONTROS DA COMUNICAÇÃO: CIDADE, ESTÉTICAS & RESISTÊNCIAS

Apresentação O livro Reencontros da Comunicação: cidade, estéticas & resistências é um projeto do Congresso dos Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação (Coneco) para reconhecer o compromisso de jovens autores que percorrem o caminho dedicado à investigação na área de Comunicação. Consideramos que essa prática pode instigar e proporcionar certo estímulo para o desenvolvimento intelectual na área de pesquisa, tanto de estudantes em pós-graduação (mestrado e doutorado) quanto dos ainda na graduação e/ou pós-graduação lato sensu. O Coneco faz parte do cenário acadêmico desde 2006. O congresso é uma iniciativa dos representantes discentes dos quatro programas de pós-graduação em Comunicação do Rio de Janeiro (UFRJ, UFF, Uerj, PUC-Rio e, em 2013, FioCruz) com o apoio das respectivas coordenações e do corpo docente. Por isso, a cada ano, uma das instituições torna-se sede do evento, proporcionando desse modo a possibilidade de sua (re)construção com base na interação entre novos e antigos organizadores, bem como de toda a vizinhança. Isto posto, em 2014 a Escola de Comunicação da Universidade do Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) foi a grande anfitriã da sétima edição do congresso e abriu suas portas, entre os dias 15 e 17 de outubro de 2014, para acolher aproximadamente 300 inscritos, alunos de diversos programas de pós-graduação e de graduação de diferentes áreas e cidades de todo o Brasil. A intenção dos envolvidos na sua organização é a de firmar o Coneco como um espaço privilegiado para a produção e difusão do conhecimento, bem como torná-lo um dispositivo sem igual de preparação do corpo discente dos programas para o engajamento na carreira acadêmica. Assim, reafirmamos o objetivo do evento de ser um espaço para debater, refletir e problematizar questões que envolvem o campo da comunicação de forma democrática, a partir de encontros anuais, com o esforço de contribuir para a inclusão das pesquisas que são produzidas pelos alunos dos programas de mestrado e doutorado, no âmbito acadêmico, além de possibilitar a troca de experiências nas pesquisas realizadas e a reflexão desses pesquisadores para inúmeras questões ligadas à comunicação. Embora 2014 tenha sido um ano atípico – o país recebeu a Copa do Mundo FIFA e foi ano de eleições –, como é de costume, a temática que norteou o evento buscou salientar a identidade da instituição sede e, ainda, congregar as demais. Como podemos pensar a contemporaneidade a partir do meio em que vivemos e compartilhamos as nossas experiências? As manifestações que eclodiram no Brasil desde junho de 2013 são sintomas de algumas mudanças de paradigmas e representação que estão em curso, nas quais questões referentes à cidade têm papel privilegiado. No campo estético, os processos de subjetivação estão diretamente relacionados à produção e à vinculação de imagens e narrativas nas quais o corpo é protagonista. As mobilizações nas redes e nas ruas tornaram-se laboratórios de experiências, constituindo novos sujeitos políticos cuja relação com os meios de comunicação é um aspecto fundamental. A enunciação por meio dessas novas ferramentas possibilita outros discursos, colocando em questão a interlocução, a visibilidade e a legitimidade da informação sobre esses espaços comuns.

Manifestações, ocupações, assembleias, rolézinhos e escrachos disputam o meio urbano, apropriando-se de elementos estéticos como formas de expressão social e política. A missão de eleger somente os artigos considerados como os “melhores de cada Grupo de Trabalho” sempre é dificílima e, de certa maneira, até cruel. Por essa razão, cada artigo passou por uma dupla avaliação cega, à qual cada parecerista atribuiu uma nota e justificativa. Em caso de empate, a decisão final ficou a cargo dos coordenadores do respectivo Grupo de Trabalho (GT). Desse modo, foram selecionados apenas um artigo de mestre/mestrando e um artigo de recémdoutor/doutorando de cada um dos seis GTs, além de um artigo de iniciação científica, dentre todos os GTs, para compor este e-book. Isto é, houve o cuidado de realizar a avaliação e seleção dos melhores de acordo com a titulação de seus autores. Este livro é composto por 13 capítulos escritos por jovens pesquisadores que sustentam a vasta amplitude temática e metodológica – e também a inerente interdisciplinaridade – do campo comunicacional. O volume é, então, iniciado pelos trabalhos que representam o GT 1 – Arte, Imagens, Estéticas e Tecnologias da Comunicação, coordenado pelos Professores Doutores Victa de Carvalho (UFRJ) e Marcio Gonçalves (Uerj), sendo eles “Jogar com textos: aproximações entre leitura e jogo nos videogames do gênero roguelike”, de Ivan Mussa (doutorando, PPGCom/Uerj), e “A arte da mercadoria e a mercadoria da arte: uma exploração das confluências entre a produção artística e o campo econômico na contemporaneidade”, de Natália Favrin Keri (mestranda, ECAUSP). O GT 2 – Políticas e Análise do Cinema e do Audiovisual, coordenado pelos Professores Doutores Andréa França (PUC-Rio) e Rafael de Luna (UFF), escolheu como representantes os trabalhos de Leonardo Gomes Esteves (doutorando, PPGCom/PUC-Rio), “Serge Bard e a transfiguração do cinema no Maio de 68”, e dos autores Ramon Victor Belmonte Fontes (mestrando, Programa Multidisciplinar da UFBA) e Lidiane Santos de Lima Pinheiro (Doutora, Programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA), com “O discurso sobre os transgêneros no filme Tudo sobre minha mãe”. No GT 3 – Subjetividade e Produção de Sentido, que teve a coordenação das Professoras Doutoras Índia Mara Martins (UFF) e Renata Rezende (UFF), os escolhidos foram Julia Salgado (Doutoranda, ECO/UFRJ), “Quando o corpo é miserável, mas o espírito, empreendedor: a retórica do empreendedorismo como panaceia para a pobreza e o desemprego”, e Ana Maria Vieira Monteiro (mestranda, PPGCom/UFJF), com “Transcendência do objeto: existencialismo, tecnologia e a metáfora de A Náusea”. Para o GT 4 – Representação Social e Mediações Socioculturais, com a coordenação dos Professores Doutores José Ferrão (UFRRJ) e Letícia Matheus (Uerj), os escolhidos foram Tatiane Hilgemberg (doutoranda, PPGCom/Uerj), com “O Herói Paralímpico: análise da representação de Alan Fonteles pelo Sportv Repórter”, e Itala Maduell Vieira (mestranda, ECO/UFRJ), com “Ironia nas representações do Rio de Janeiro nas crônicas de Carlos Drummond de Andrade no Caderno B”. Já o GT 5 – Práticas de Entretenimento e Consumo, coordenado pelos Professores Doutores Bruno Campanella (UFF) e Tatiana Siciliano (PUC-Rio), teve como selecionados Affonso Celso de Miranda Neto (doutorando, ECA-USP), com “Eram deuses os guitarristas? Mito, consumo e imaginário social”, e Joana Beleza (mestranda, PPGCom/PUC-Rio), com “‘Elementar, meu caro

Watson’: um estudo sobre a vida social da narrativa”. O GT 6 – Discurso e Poder, sob a coordenação dos Professores Doutores Fabro Steibel (UFF) e Arthur Ituassu (PUC-Rio), tem como representantes os artigos “Agências de notícias estatais e conglomerados privados de mídia – cooperação em comunicação e disputa por hegemonia na América Latina”, de Pedro Aguiar (doutorando, PPGCom/Uerj), e “Com política não se brinca? As interações dos usuários com a fan page da Prefeitura de Curitiba no Facebook: análise da comunicação política em redes sociais, a função da linguagem do entretenimento e do humor no engajamento dos usuários e na transmissão de informação”, de Marcelo Alves (mestrando, PPGCom/UFF). Para encerrar esta apresentação, estamos felizes de apresentar o promissor trabalho da jovem pesquisadora Bruna Cristina Mattos Santos (graduada, UFOP), com “Representações e intervenções midiáticas: uma análise da cobertura fotojornalística durante o processo das ocupações do Morro da Rocinha e Complexo do Alemão” artigo apresentado no GT 6, escolhido como o melhor do Coneco Jr., espaço oferecido pelo Coneco para alunos de graduação e pós-graduação lato sensu participarem dos Grupos de Trabalhos com seus artigos, que muitas vezes são desenvolvidos em disciplinas de seus cursos ou em atividades de iniciação científica/PET.

Resumo e breve perfil dos autores Ivan Mussa é doutorando do PPGCom/Uerj e atualmente pesquisa ambientes digitais em videogames como experiências comunicativas. O autor ressalta que observar um jogo em funcionamento é perceber a convivência de várias formas comunicativas que se movimentam a partir da ação do jogador e da programação da máquina. A apreensão do sentido dá-se a partir das consequências das ações e dos dados que são exibidos na tela. É possível relacionar esse tipo de experiência com a da leitura? Em seu artigo, aborda esse problema com base em um entendimento do conceito de texto e leitura. Concentra a análise empírica em três jogos do gênero roguelike – Rogue (1980), NetHack (1987) e Dungeons of Dredmor (2011) –, com o objetivo de mostrar como caracteres individuais conseguem veicular não só um significado pré-estabelecido, mas também a sensação de espaço e a possibilidade de ação sobre o software. Natália Keri é jornalista e mestranda do programa de pós-graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Para a pesquisadora, obras de arte são produzidas e fruídas em meio ao ambiente social, transpassadas por relações econômicas, políticas, históricas e comunicacionais. O presente trabalho parte de inquietações sobre o papel da obra de arte na atualidade. Como a arte insere-se na vida social? Que tipo de mercadoria é uma obra de arte? A arte é um tipo especial de mercadoria em tempos em que todas as mercadorias já nascem revestidas de valores do imaginário? Leonardo Esteves é doutorando em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Seu artigo propõe uma reflexão sobre a filmografia de Serge Bard frente ao grupo Zanzibar, criado na França em torno do Maio de 68. A análise dá ênfase aos filmes Ici et maintenant e Fun and games for everyone, ambos produzidos em 1969. Pretende investigar algumas manobras do diretor no sentido de uma transfiguração do cinema, desde a eliminação do grão, menor referência na composição do fotograma, até uma nova participação do espectador.

Ramon Fontes é Relações Públicas, formado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestrando do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da UFBA, com bolsa FAPESB. Integra o Grupo de Pesquisa CUS (Cultura e Sexualidade). A coautora Lidiane Pinheiro é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA (2012), com estágio doutoral na Université Paris X, mestra em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS e professora da UNEB. Integra o grupo de pesquisa em Análise do Discurso do CEPAD-UFBA. A pesquisa dos autores mostra que, na sociedade pós-moderna, a noção de sujeito busca abarcar uma gama de possibilidades identitárias (sexo, gênero, etnia, família etc.) que não estão mais fixas ou fechadas em si mesmas como se mantiveram desde o Iluminismo até meados do século XX. O trabalho tem como objetivo analisar de que forma a categoria sexual dos transgêneros (as travestis, em especial, as drag-queens e a transexual) é construída discursivamente no filme Tudo sobre minha mãe (1999), do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Constitui-se em uma pesquisa do tipo exploratória e está ancorada nas perspectivas teóricas da Análise do Discurso Francesa, dos Estudos de Cinema e da Teoria Queer. Julia Salgado é mestre e doutoranda em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ e bolsista do CNPq. Pesquisa as reverberações da cultura empreendedora na mídia brasileira, dedicando especial atenção às figuras do empreendedor social e do microempreendedor individual. Outros temas de seu interesse são juventude, educação e consumo. À luz de uma nova figura jurídica criada pelo governo brasileiro – o empreendedor individual (EI) –, seu trabalho busca problematizar o processo de transferência de responsabilidade pelo acesso ao mercado de trabalho – uma responsabilidade que, como veremos, deixa de ser coletiva, tornando-se individual. Sugere-se que tal processo confere aos indivíduos a responsabilização por sua situação não apenas de desemprego, mas também de pobreza e miséria. Por meio de discursos que trabalham na construção de subjetividades empreendedoras como sendo positivas, requeridas e mesmo heroicas, o empreendedorismo vem sendo elevado ao status de melhor (ou mesmo única) alternativa ao problema de desemprego e miséria. E, ao difundirem que o brasileiro é um ser “naturalmente empreendedor”, tais discursos naturalizam a noção de que qualquer um é capaz de sair do estado de pobreza por meio da ação empreendedora. Ana Monteiro é mestranda da linha de pesquisa Estética, Redes e Linguagens do PPGCOM da Universidade Federal de Juiz de Fora, com bolsa pela Capes, e membro do grupo de pesquisa “Estética e pensamento cinematográfico” (UFJF). Em seu artigo, analisa passagens do primeiro romance filosófico de Jean-Paul Sartre, A Náusea, a partir do ponto de vista das relações entre seres humanos e seus objetos tecnológicos. Sua intenção no trabalho é introduzir a retórica existencialista na abordagem dos objetos de pesquisa em ciências humanas. Enquanto esses objetos, ditos antes “inanimados”, transcendem sua condição passiva, ainda prevalece na academia o que, já nos anos 1960, Herbert M. McLuhan criticava: o método de investigação pelo espelho retrovisor. Nosso existencialista contemporâneo não mais percebe quaisquer distinções entre homem, objeto e natureza. Desse modo, a náusea transforma-se em força criativa (tecnologia), exploração da existência que, de essencial, tem apenas a contingência: uma vez que existe, seu fim é absurdo. Tatiane Hilgemberg é doutoranda em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bolsista Capes, mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto/Portugal e membro do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME). A autora ressalta que a diferença entre corpos sempre despertou interesse da humanidade, sendo que tais diferenças podem ser inseridas no contexto normal e anormal. Tais contextos sugerem que existe uma dificuldade de se

identificar com corpos que apresentam diferenças marcantes, que passam a ser vistos, muitas vezes, como patológicos. O artigo objetiva analisar a representação do atleta paraolímpico brasileiro Alan Fonteles em uma edição do programa televisivo Sportv Repórter, observando principalmente os estereótipos associados a esse atleta. Como consequência desse estudo, pretende-se ampliar as discussões sobre construção da imagem do atleta paraolímpico pela imprensa brasileira. Itala Vieira é jornalista, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRio) e mestranda do programa de pós-graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). Em seu trabalho analisa as crônicas de Carlos Drummond de Andrade no Caderno B do Jornal do Brasil, para o qual colaborou de 1969 a 1984, em que se combinam na escrita a cidade do Rio, cenário e tema recorrente, e a ironia, traço forte da modernidade. Tem-se em vista que Drummond inaugurou, no Brasil, reflexão sobre o (não) lugar do indivíduo solitário na massa urbana, que se identifica com ela e dela se desidentifica, como aponta Wisnik; e a perspectiva de Octavio Paz de que a consciência do outro na produção do poeta-cronista se estabelece não a partir da semelhança, mas pela identidade do eu e do outro (otredad), experiência expressa como um sentir-se só no mundo. Como se pretende dar a ver no pequeno recorte apresentado, o sentimento do mundo constituinte da obra de Drummond em geral faz-se presente notadamente pelo viés da ironia em suas crônicas. Affonso Celso de Miranda Neto é mestre em Musicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e professor de Educação Básica e Tecnológica do Colégio Pedro II desde 2007. Atualmente o pesquisador é doutorando na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, na linha de pesquisa Linguagens e Estéticas da Comunicação. O autor observa que, desde a década de 1960, os guitarristas de rock são considerados ícones da cultura musical popular. Venerados por uma comunidade fiel de entusiastas, alguns deles são chamados de deuses, heróis e mitos. Suas histórias pessoais e artísticas são constantemente narradas e celebradas na mídia, tanto nos meios de comunicação tradicionais quanto nos ambientes digitais. E toda essa adoração pode ser visualizada concomitantemente no culto tecnológico à guitarra elétrica, instrumento musical mais vendido no mundo. A hipótese parte do princípio de que diversos mitos e narrativas heroicas são atualizados continuamente nas práticas culturais contemporâneas que orientam e transformam a visão de mundo dos atores sociais envolvidos na sua disseminação e consumo. Joana Beleza, na época da seleção, era mestre; em 2015 tornou-se doutoranda em comunicação social pelo programa de pós-graduação em Comunicação Social da PUC-Rio. Pesquisa livro, literatura, consumo e universos associados. Seu presente artigo objetiva compartilhar e discutir as primeiras intenções de um possível estudo da literatura enquanto experiência de consumo e consumo de experiência. O mote da pesquisa surge como resultado dos questionamentos suscitados pela sua dissertação de mestrado, A vida social do livro, que observou o artefato cultural analisado participando, via combinação material e simbólica, das mais variadas esferas e relações sociais, promovendo, além de novas leituras do objeto, novos leitores e consumidores em geral. Nesse próximo estudo, pretende-se investigar a simbologia e a força da própria narrativa no imaginário e na vida social do sujeito. Esse caminho estaria sendo inicialmente representado por meio do personagem emblemático Sherlock Holmes, que parece representar, segundo os estudos de Umberto Eco (1994), um exemplo do deslocamento do “acordo ficcional” entre leitor e obra a ambientes e

contextos extraficção, apontando como real o personagem. Pedro Aguiar é doutorando em Comunicação pelo PPGCom/UERJ, foi professor substituto do departamento de comunicação do IACS/UFF e mestre em Comunicação pela ECO/UFRJ, na qual também concluiu graduação em Jornalismo. É pesquisador do grupo de pesquisas em Políticas e Economia Política da Informação e Comunicação (PEIC/UFRJ). Seu artigo propõe uma análise comparativa de três iniciativas de cooperação em comunicação na América Latina, sendo duas de capital privado e uma estatal – os consórcios de imprensa GDA (Grupo de Diarios América) e PAL (Periódicos Asociados Latinoamericanos) e a associação ULAN (Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias) –, ressaltando a disputa por hegemonia entre capital e Estado, especificamente entre mídia privada e governos progressistas da chamada “Guinada à Esquerda”. À luz da divergência entre os conceitos gramsciano de hegemonia e althusseriano de aparelhos ideológicos do Estado, examinam-se as particularidades de cada corpo institucional, as condições de produção e de luta por poder e espaços de representação, de maneira a verificar a adequação dos respectivos paradigmas teóricos aos distintos modelos de cooperação regional em comunicação. Marcelo Alves é jornalista pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com período de intercâmbio acadêmico na New Mexico State University (NMSU). Atualmente é aluno de mestrado do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade Federal Fluminense, linha Mídia, Cultura e Produção de Sentido. Faz parte do corpo editorial da Revista Contracampo (B1) e do Laboratório de Mídia e Democracia (Lamide). O pesquisador explicita que a linguagem empregada na comunicação política institucional tradicionalmente adota tom sóbrio, rebuscado e formal. Contudo, o desenvolvimento dos meios de comunicação, das técnicas de marketing e da imprensa adicionou elementos que apelam às emoções do público, como em talk shows, em peças publicitárias e na dramatização jornalística. A lógica discursiva política, assim, foi transformada pelos atores de acordo com as características do veículo, da audiência e da estratégia elaborada. Esse processo se intensificou nas redes sociais, pois são mídias convergentes de uso cotidiano que criam narrativas personalizadas, inerentes às ligações e aos contatos dos perfis. Partindo do método da observação não participante, analisa-se a fan page da Prefeitura de Curitiba no Facebook, com foco na utilização de recursos de humor e de entretenimento na comunicação política e na interação dos usuários com o conteúdo, formando grupos contrapostos de lovers e haters. Com isso, pretendese contribuir com a compreensão do uso das redes sociais por instituições oficiais e suscitar problematizações acerca das tensões que a linguagem do entretenimento provoca no debate político. Bruna Santos é jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto. Em seu trabalho analisa as fotografias dos jornais O Globo e O Dia sobre o processo de “retomada de território” com a finalidade de implantar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) nas comunidades do Complexo do Alemão e Rocinha, respectivamente no ano de 2010 e 2011. A pesquisa tem por objetivo examinar como esses jornais cobriram tais eventos de grande relevância para a cidade. Por meio do método da análise de conteúdo, foi possível elencar quais as representações passariam pela análise semiótica e assim investigar de que maneira foi feita a cobertura dos casos, visando seu conteúdo imagético. O recorte realizado sobre a linguagem fotojornalística objetivou compreender de que forma suas características ajudam a ressignificar os episódios estudados. Desejamos a todos uma boa leitura!

Alessandra Maia (org.), Autores selecionados, Equipe Coneco 2014

Agências de notícias estatais e conglomerados privados de mídia70 – cooperação em comunicação e disputa por hegemonia na América Latina Pedro Aguiar71 A integração da América Latina é um vetor de projetos nos mais variados setores há cerca de 200 anos. Do sonho de Simón Bolívar, no início do século XIX, à criação dos organismos intergovernamentais UNASUL (2008) e CELAC (2011), no início do século XXI, instituições dos 20 países da região têm variado enormemente em torno da aproximação, da cooperação e da execução de iniciativas conjuntas, muitas vezes restringindo-se ao plano das intenções, com grau baixo ou nulo de sucesso. No campo da comunicação, entretanto, o projeto da integração latino-americana tem-se materializado de forma razoável e – dado o ceticismo resultante da observação em outras áreas, como infraestrutura e finanças – até surpreendente. Atualmente, pelo menos três iniciativas neste âmbito estão em andamento, sendo duas da esfera do capital privado e uma da esfera do Estado: o Grupo de Diarios América (GDA) e os Periódicos Asociados Latinoamericanos (PAL), consórcios entre órgãos de imprensa de vários países, e a Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias (ULAN), associação de agências de notícias estatais de outros tantos países. Na América Latina em especial, com o processo de mudança política conhecido como “Guinada à Esquerda”, houve um reforço do Estado e um retorno a projetos intergovernamentais de cooperação na região, inclusive na comunicação. A Telesur e a ULAN inserem-se nesse contexto, contrastando com arranjos corporativos como o GDA e o PAL. As iniciativas estatais de cooperação Sul-Sul, então, não apenas na América Latina, situar-se-iam em um campo contra-hegemônico, enquanto as da mídia corporativa são inseridas nas estratégias de hegemonia do capital, como observado por Moraes (2009). O que caracteriza a dialética entre os dois modelos é uma disputa aberta por hegemonia no universo da circulação de informações noticiosas – mais que outros bens simbólicos – entre agentes estatais e privados, como certas visões sobre o papel da imprensa no contexto regional têm buscado interpretar (MORAES, 2009; MATTELART, 2004). O corpo de análise aqui são os discursos institucionais das próprias entidades e as articulações político-econômicas que os respectivos participantes de cada iniciativa (jornais, conglomerados e agências estatais) concretizam entre si e com outros atores sociais, tanto do mercado quanto do Estado. Pelo menos na América Latina, a tendência de iniciativas institucionalizadas de cooperação entre jornais diários, materializada no intercâmbio de conteúdo editorial (não apenas notícias e

reportagens, mas também colunas e artigos de opinião), continua ocorrendo. Trata-se de um fluxo supostamente horizontal de circulação de informações, integralmente inserido no âmbito privado da comunicação de massa, que Mosco (apud AGUIAR, S. 2011) descreve como “alianças estratégicas” e situa como uma forma de concentração de mídia que não pressupõe alteração de propriedade, mas “colaboração para fins de interesse mútuo” (ibid, p.17). Além do GDA e do PAL no plano internacional, existe no plano regional a catarinense Central de Notícias Regionais (CNR) e houve temporariamente o Pool de Jornais do Nordeste (PJN), no ano 200072. Nesse enfoque, merecem análise outras formas de atuação interinstitucional, como parcerias corporativas ou alianças estratégicas e táticas para projetos específicos, que vão do compartilhamento de recursos e mão-de-obra (‘sinergia’) em tarefas pontuais a coproduções, sem que impliquem alterações na propriedade, mudanças societárias ou investimentos de uma empresa em outra. (ibid, p.7) Mosco (apud AGUIAR, S., op.cit., p.7) comenta que essas práticas “têm se tornado mais comuns”, porque agora as empresas podem reestruturar operações internas e relações externas “sem incorrer em rupturas organizacionais” e retomar seus negócios a despeito do sucesso da empreitada, com “capacidade de agenciar recursos humanos, informativos e tecnológicos de forma colaborativa, sem implicações societárias” (ibid, p.18). “Além disso”, enfatiza, “podem cooperar e competir ao mesmo tempo” (ibid, p.7). Essa onda de novos padrões de aglomeração espacial ocorre em diferentes dimensões e graus de formalidade, e cada vez mais atravessa fronteiras, em parte devido à “significativa alteração no papel do Estado” em relação aos processos de mudança estrutural nas indústrias das comunicações. Alianças estratégicas que costumavam ser resultado de esforços governamentais agora derivam de políticas corporativas visando à expansão em novas áreas, com parceiros dispostos a partilhar competências e riscos. (ibid, p.8). Cerca de dez anos após o fim da LATIN, o modelo de consórcio regional entre grandes jornais privados da América Latina foi ressuscitado na forma do Grupo de Diarios América (GDA). O grupo – que não é uma agência de notícias nem um conglomerado à parte, mas sim uma associação entre conglomerados – tem dois objetivos corporativos principais: o intercâmbio de material jornalístico e a venda conjunta de espaço publicitário para clientes internacionais (especialmente, mas não apenas, norte-americanos) de maneira a gerar divisas em dólar para os caixas das empresas participantes (AGUIAR, 2008). O GDA foi fundado em 1991, quando a redemocratização na América Latina – particularmente

no Cone Sul – era recente e a região começava a entrar na onda neoliberal que a varreria pelo resto da década. A desestatização, evidentemente, afetou os negócios das empresas de mídia, tanto por criar a concorrência em setores antes sob monopólio estatal, o que estimulou o mercado publicitário, quanto por inserir no próprio setor das comunicações atores privados, muitas vezes multinacionais (MORAES, 2009: 109-110). Bastante “dormente” na primeira década da sua trajetória, o GDA passou a ser “ativado” com frequência a partir da chegada ao governo de partidos progressistas e ligados a movimentos sociais (como trabalhistas, sindicais, de agricultores e indígenas) em diversos países da região. A começar pela eleição do venezuelano Hugo Chávez, em 1999, seguido de Ricardo Lagos no Chile (2000), Lula no Brasil (2003), e Néstor Kirchner, após a crise devastadora na Argentina (também em 2003), o continente escolheu governantes que frearam o projeto neoliberal e restauraram o protagonismo do Estado na promoção do desenvolvimento, processo que teve ainda as eleições (e reeleições) de Tabaré Vázquez (2005) e depois José Mujica (2010) no Uruguai, Evo Morales na Bolívia (2006), Rafael Correa no Equador (2007), Michelle Bachelet no Chile (2006 e 2014), Fernando Lugo no Paraguai (2008), Ollanta Humala no Peru (2011), além de países da América Central e Caribe. Nessa virada histórica, conhecida como “Guinada à Esquerda”, setores liberais e conservadores voltaramse para a mídia como frente de oposição a esses governos, não apenas domesticamente em cada país, mas também de forma articulada na região. Com o aumento dessa articulação, surge em 2008 um consórcio concorrente do GDA: os Periódicos Asociados Latinoamericanos (PAL), reunindo outros conglomerados, muitos dos quais são concorrentes dos jornais do GDA em seus respectivos países. Frente ao bombardeio midiático, os governos da “Guinada à Esquerda” investiram na criação de agências de notícias, como a AVN da Venezuela (refundada em 2005), a ANDES do Equador (fundada em 2009) e a IP-Paraguay, no mesmo ano (AGUIAR, 2013). Em 2011, finalmente, nove desses governos, somados ainda por Cuba (e pelo Uruguai, como observador), criaram a Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias (ULAN), de alguma forma restaurando a parceria vivida três décadas antes com a ASIN. Embora tenham em comum o princípio da cooperação corporativa no campo da comunicação (particularmente regional/internacional), o GDA, o PAL e a ULAN guardam entre si mais diferenças que semelhanças. Para começar, é válido voltar-se para o discurso institucional de cada entidade, de modo a examinar como cada uma se apresenta. O GDA define-se como “um consórcio exclusivo integrado pelos onze jornais independentes com mais influência na América Latina”73. Arvora-se de poder “informar e influenciar a opinião pública em seus respectivos mercados” e reivindica o objetivo de “fortalecer o intercâmbio de

conteúdos jornalísticos e editoriais” (AGUIAR, P. 2008: 3). O grupo inclui apenas um jornal por cada país, de maneira que não competem entre eles nos respectivos mercados. Já o PAL se apresenta como “a maior associação de imprensa da América Latina”, “constituída por títulos líderes em seus contextos e uma grande diversificação de produtos para chegar a todos os targets, proporcionando informação de qualidade e entretenimento”74. O PAL agrupa mais de uma empresa por país, e em alguns casos reúne concorrentes históricos, como El Espectador e La República, ambos de Bogotá. A ULAN, finalmente, prefere caracterizar-se como “uma associação supranacional que reúne as agências de notícias da América Latina e do Caribe”, dedicada à “construção de um bloco regional de produção informativa para promover a democratização da comunicação na América Latina”75. Cada país participa com uma agência, todas estatais. O PAL inclui tanto jornais em posição de liderança no mercado interno (como o Clarín argentino e El Universal, venezuelano) quanto publicações em segundo lugar em rankings de tiragem e circulação e receita publicitária, bem como diários de cidades além das capitais nacionais. Agrega ainda as revistas e websites dos respectivos conglomerados de seus jornais-membros, expandindo o leque de suportes para publicação do consórcio. Outro aspecto importante é que o PAL se preocupa não com o intercâmbio de material jornalístico, mas exclusivamente com a integração dos conteúdos comerciais (publicidade) e a venda de espaços para anunciantes estrangeiros. Assim como o GDA, o PAL estabeleceu sua sede administrativa em Miami (na Flórida, EUA), para facilitar o contato com os clientes norteamericanos, mas criou uma subsidiária específica, a Médula Network LLC, uma espécie de agência de publicidade comum aos participantes, para gerenciar as contas.

países

GDA

PAL

ULAN

Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Peru, Porto Rico, Uruguai, Venezuela

Argentina, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Espanha, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Rep. Dominicana, Venezuela

Brasil, Argentina, Bolívia, Cuba, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Venezuela *Uruguai

é

observador O Globo, La Nación, El Mercurio, El Tiempo, La Nación (CR), El Comercio (Quito), El Universal (México), El Comercio (Lima), El Día, El País (Montevidéu), El Nacional (Caracas)

Clarín, La Tercera, El Universal (Caracas), El Mundo, Marca (Madri), Olé, La República (Lima), El Colombiano, La República (Bogotá), El Espectador, El País (Cáli), entre outros

ABr (EBC), Télam, ABI, Prensa Latina, ANDES, AGN, Notimex, IPParaguay, AVN

11 jornais

45 jornais

150 revistas e suplementos

130 revistas e suplementos

9 agências de notícias

fundação

1991

junho de 2008

2 de junho de 2011

sede

Miami (EUA)

Miami (EUA)

rotativa (atual: Buenos Aires)

privada

estatal

14 milhões (impresso, dom.)

não disponível

membros

propriedade privada leitorado

10 milhões (impresso, dom.) 27 milhões (web)

serviços e pacotes publicitários, gestão pacotes publicitários, objetivos integrada do comercial, integrada do comercial intercâmbio de conteúdo, pools de cobertura, fotos

gestão intercâmbio de conteúdo, pool de cobertura, cooperação técnica, coordenação política

fonte: websites institucionais dos respectivos consórcios; dados coletados pelo autor em julho de 2014. As comparações quantitativas fazem o PAL verificar-se muito maior que o GDA, e ambos mais abrangentes que a ULAN. Em 2014, ambos os conglomerados privados estavam presentes em 11

países cada na região latino-americana, sendo que o PAL atinge ainda a Espanha, enquanto a cooperativa de agências incluía nove países. Do ponto de vista territorial, o PAL destaca-se por uma abrangência maior, que inclui uma presença mais extensa na América Central (incluindo Honduras, El Salvador, Nicarágua, Panamá e República Dominicana, enquanto o GDA alcança apenas a Costa Rica) e, inclusive, saindo do continente americano e agregando jornais na Espanha (ver mapa). Dos pontos de vista qualitativos, há diferenças relevantes entre as estratégias dos dois consórcios privados. Um deles é a modalidade de associação empresarial. Enquanto o GDA é baseado em títulos (ou marcas, como jornais específicos, e menos na variedade de veículos em um mesmo conglomerado), o PAL é orientado por empresas: assim, a associação ao consórcio é do grupo de imprensa (ou “casa editorial”, no jargão hispânico), vindo a reboque todos os jornais e revistas que dele fazem parte. Exemplificando: no GDA, o que é considerado participante é O Globo; fosse no PAL, a titularidade de sócio seria da Infoglobo, empresa das Organizações Globo que publica os jornais O Globo, Extra e Expresso, mais o website oglobo.com.br. GDA

PAL

ULAN

fonte: websites institucionais dos respectivos consórcios; dados coletados pelo autor em julho de 2014. Em comum, os dois projetos caracterizam uma forma pouco estudada de concentração de mídia que não envolve alteração de propriedade ou de estrutura gerencial das empresas associadas. Ambos apresentam um discurso de articulação de interesses locais sob uma identidade regional, mas afinado com as estratégias neoliberais do capitalismo globalizado, o que permite abordá-los como estratégias e táticas de caráter geopolítico, no sentido da disputa por hegemonia referenciada por um território. (AGUIAR, S. 2011: 3). Por último, mas não menos importante, é notável a ausência de ambos os consórcios privados

dos dois países com menor PIB per capita na América do Sul: o Paraguai e a Bolívia. Embora tenham ambos mercados de imprensa consolidados, com cadeias de jornais pertencentes ao capital (e opositores dos respectivos governos progressistas76), nos mesmos moldes dos congêneres do GDA e do PAL, esses dois países aparentemente não apresentam condições satisfatórias para atrair interesse de nenhum dos grupos, restando a eles a representatividade na ULAN por meio de suas respectivas agências estatais. A proposta de criação de uma associação latino-americana para reunir as agências estatais da região teria circulado durante o III Congresso Mundial de Agências de Notícias, que foi sediado pela Télam em Bariloche, na Argentina, em outubro de 2010 (ASSUNÇÃO, 2014). Na ocasião, foi assinada uma carta de intenções reunindo as empresas que participariam da fundação oficial, em 2 de junho do ano seguinte, em Caracas. A ULAN congrega as agências estatais de Brasil, Argentina, Bolívia, Cuba, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru e Venezuela77. A última a ingressar no consórcio foi a agência peruana ANDINA, em novembro de 2012. Apesar da tentativa de criar um suporte unificado para publicação, em seu estatuto a ULAN não é uma agência de notícias, nem pretende sê-lo, mas sim uma associação que visa a estabelecer uma cooperativa permanente entre as agências associadas, nos mesmos moldes que outras entidades regionais que congregam agências. Referir-se à ULAN como uma “agência” única para a América Latina é um equívoco institucional e político, certamente fruto da incompreensão de seu projeto jornalístico e operacional. Antes mesmo da fundação da ULAN, Moraes (2009: 125) já verificava um aumento da cooperação entre agências de notícias estatais na América Latina, citando explicitamente a AVN, a ABI, a Télam e a Agência Brasil. Para o autor, embora esse modelo de cooperação já exista há mais de 40 anos, esses acordos instituem um novo tipo de circularidade informativa: sem passar pelo estuário midiático convencional, são distribuídos e divulgados pelas agências materiais impressos e audiovisuais sobre atos e posicionamentos governamentais de repercussão nacional e regional, favorecendo o conhecimento de iniciativas e cooperações em curso naqueles países, pela ótica dos poderes e órgãos públicos.78 Várias das grandes agências do mundo, especialmente europeias, têm natureza organizacional do tipo “cooperativa” – não entre trabalhadores, mas entre os próprios jornais e órgãos de mídia, privados, que são seus clientes (MURO BENAYAS, 2006: 217-219). Nesse modelo, os custos operacionais são rateados proporcionalmente entre os assinantes em relação a fatores como porte empresarial, faturamento e aproveitamento do conteúdo. Dessa maneira, a agência é mantida por uma

joint-venture permanente entre órgãos privados de imprensa, funcionando como uma estrutura distributiva entre eles, de capital privado, porém de controle compartilhado entre os conglomerados. Esse modelo, que seria um intermediário entre o GDA/PAL e a ULAN, é adotado na América Latina pela agência colombiana Colprensa e pela agência argentina DyN (Diarios y Noticias). Piernes (1990: 88) registra como esta última surgiu quando o último governo de Juan Perón, em 1973, proibiu a distribuição direta de agências estrangeiras para a imprensa doméstica, o que efetivamente criaria um monopólio para a Télam (situação comum em diversos países do mundo na época), que tinha sido criada pelo mesmo Perón em 1946 para conter a penetração da AP e da UPI. Para burlar a legislação, os jornais Clarín, La Nación e La Razón associaram-se e formaram a DyN, uma empresa de fachada para receber o serviço da AP, enquanto a UPI fez o mesmo com a Noticias Argentinas, outra agência “laranja” montada pelos jornais do interior. Ambas são até hoje existentes. Essas iniciativas contrastam com modelos de intercâmbio jornalístico estatais, muitas vezes fundados sobre a lógica distributiva de agências de notícias (e baseados quase somente no suporte de texto), que predominam na periferia do capital em outros continentes. A estratégia estatista é adotada em iniciativas de cooperação regional entre agências estatais de países em desenvolvimento na Ásia, África, Oceania e Caribe desde os anos 1970. O problema que as acometeu e que ameaça a ULAN é não o estatismo, mas o oficialismo, vício que, no jargão jornalístico brasileiro, é designado como “chapa-branca”. Seu conteúdo é formado por boletins de agências estatais que oscilam entre o propagandístico e o irrelevante. O futuro portal ANSUR, da ULAN, deve cuidar para não incorrer no mesmo erro, sob pena de ser relegado ao esquecimento até mesmo pelos veículos da mídia progressista e pública79, as quais pretende atingir. O nó górdio do problema consiste na ruptura do hábito de pensar que uma agência de notícias deve colocar-se a serviço dos interesses políticos de um governo ou de suas instituições, ou a serviço dos interesses econômicos das atividades privadas. (...) Jamais se poderá iniciar o caminho rumo à integração se esperarmos que coincidam num mesmo tempo os regimes de esquerda, de direita ou de centro. Este tema das comunicações está por cima de qualquer eventualidade política interna das nações. O importante é começar o caminho com a tecnologia que temos, a gente que temos e com os que queiram fazê-lo. (PIERNES, 1990: 89-90). Os dois modelos vêm configurando polos opostos de uma disputa que ocorre atualmente na região latino-americana, que teorias de matriz crítica permitem classificar como disputa por hegemonia por meio da comunicação. Dentro dessa matriz, duas linhas distintas oferecem subsídios para embasar análises sobre a relação entre mídia e poder: a primeira, fundada nas conceituações

difusas do italiano Antonio Gramsci, escritas principalmente em seu período de prisão, na Itália do anos 1920 e 30; e a segunda, em um breve ensaio do francês Louis Althusser publicado em 1970. Ambos os pensadores foram membros militantes (no caso de Gramsci, dirigente) dos respectivos partidos comunistas de seus países, e, embora suas obras tenham inúmeros pontos de contato e ofereçam rico dialogismo, são frequentemente tratadas como conflitantes e inconciliáveis, como se uma fosse superação da outra80. Assume-se, aqui, uma crítica a essa falsa rivalidade, por serem identificados, nas contribuições de um e de outro, elementos que se conjugam para dar conta de realidades distintas, em configurações socioeconômicas e culturais diversas. Tanto a sistematização estruturalista de Althusser quanto a abordagem de Gramsci se apoiam em categorias semelhantes, por vezes paralelas, como as classes dominantes e subalternas, ideologia, “aliança de classes” e “bloco histórico”, noções de Estado que distinguem o aparelho repressivo daqueles ideológico-culturais e se aproximam por considerarem que os próprios aparelhos são espaços de luta (ALTHUSSER, 1974: 49). Ambas, também, buscam distanciar-se de um positivismo a-histórico e não científico, que tenderia a “naturalizar” relações sociais (especialmente as de poder), em preferência pela dialética e pelo materialismo histórico como método e epistemologia. No entanto, a visão althusseriana vem sendo alvo de ataques, como situa Mattelart (2004: 99101) na passagem dos anos 1970 para os 1980 (anos depois, aliás, das traduções da obra de Gramsci), quando ocorre um retorno do sujeito ao protagonismo das análises críticas e uma ascensão do relativismo epistemológico. De modo geral, as críticas ao estruturalismo apoiam-se numa crença de que ele negligenciaria aspectos contextuais (mormente os culturais) e incorreria numa espécie de determinismo, além de enfatizarem o chamado “economicismo” do marxismo ortodoxo em calcar as interpretações dos fenômenos sociais e humanos em causas materiais, relegando a segundo plano os vetores simbólicos ou sígnicos das relações de poder – enfatizadas, por exemplo, pelos bakhtinianos. Sobre isso, Mattelart (2004: 113) sublinha um fenômeno mais relevante, que é o fato de os usos sociais das instituições não serem presos à lógica racional aplicada nas análises estruturalistas, compreendendo um razoável grau de imprevisibilidade e irracionalidade. Tratando da comunicação, o autor assinala que “os usos sociais da mídia não reproduzem forçosamente as lógicas destacadas pela análise das estruturas dessa mídia”. E, mesmo o que for “pretensamente concebido para isso não tem forçosamente o efeito previsto. Toda hipótese que não aceita o princípio dessa descontinuidade inscreve-se antes na ficção científica do que em uma análise real da mídia”. No entanto, esse determinismo, que seria de fato limitado e falacioso, não é defendido por Althusser. Pelo contrário: ele enfatiza, em paz com Gramsci, como os aparelhos ideológicos do Estado são local da luta de classes e como a relação entre estes e as camadas subalternas está

sujeita a uma dialética de poder e resistência. A classe (ou a aliança de classes) no poder não domina tão facilmente os AIE como o Aparelho (repressivo) de Estado, e isto não só porque as antigas classes dominantes podem durante muito tempo conservar neles posições fortes, mas também porque a resistência das classes exploradas pode encontrar meios e ocasiões de se exprimir neles, quer utilizando as contradições existentes (nos AIE), quer conquistando pela luta (nos AIE) posições de combate. (ALTHUSSER, 1974: 49-50). Além disso, a crítica ao suposto “economicismo” althusseriano dificilmente sobrevive a um exame pormenorizado das variáveis levantadas pelo filósofo francês em sua conceituação dos aparelhos ideológicos do Estado. Com efeito, Althusser (1974: 46-47), citando o próprio Gramsci, ressalta a relação dialética existente entre estes e os aparelhos (repressivos) do Estado, salientando como os primeiros não são puramente ideológicos, mas também repressivos, enquanto os últimos não são puramente repressivos, mas também ideológicos, ainda que a função primordial de cada categoria se dê sob esses aspectos respectivos. Segundo ele, “nenhuma classe pode duravelmente deter o poder de Estado sem exercer simultaneamente a sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos de Estado” (idem: 49). O que Moraes (2009: 40-41) salienta como principal ponto de divergência entre Gramsci e Althusser, no entanto, diz respeito à estratégia de “conquista do poder”, no ponto nevrálgico se esta depende ou não do efetivo controle do Estado como condição para o exercício do poder – e, assim, da eventual substituição de hegemonia. O conceito de aparelho privado de hegemonia não se confunde com o de Louis Althusser sobre os aparelhos ideológicos de Estado. A teoria althusseriana implica uma ligação umbilical entre Estado e aparelhos ideológicos, enquanto a de Gramsci pressupõe uma maior autonomia dos aparelhos privados em relação ao Estado em sentido estrito. Essa autonomia abre a possibilidade – que Althusser nega explicitamente – de que a ideologia (ou o sistema de ideologias) das classes oprimidas alcance a hegemonia mesmo antes da conquista do poder de Estado. Em condições de hegemonia, a burguesia solidariza o estado com as instituições que reproduzem os valores sociais, conformando o que Gramsci chama de Estado ampliado. Essas instituições se comportariam como aparelhos ideológicos de Estado, de acordo com Althusser. (MORAES, 2009: 40-41 – grifo meu) Gramsci, diferentemente, defende que a conquista do poder deve “ser precedida por sucessivas batalhas pela hegemonia e pelo consenso dentro da sociedade civil” (a ideia de “guerra de

posições”), “enquanto a vertente althusseriana leva à ideia de choque frontal com o Estado” (MORAES, 2009: 41; grifo meu). Nesse ponto, entretanto, crê-se aqui ser esclarecedor examinar brevemente o lugar de fala de cada pensador. O capitalismo surgiu na Europa, onde uma sociedade burguesa foi construída ao longo de séculos de desenvolvimento acumulado de instituições da sociedade civil – que, por sua vez, foram negadas aos territórios colonizados pelos próprios europeus. A escola laica, a universidade, os partidos, a imprensa, só conseguiram efetivamente florescer na periferia do capital após as emancipações políticas dos respectivos Estados. A diferença principal da América Latina em relação à Europa e à América do Norte é ser uma região periférica do capital, no entendimento wallersteiniano, e esse posicionamento global marginalizado impacta os modelos de distribuição de informação que nela são construídos. Em primeiro lugar, a concentração de propriedade da mídia em grupos familiares é uma característica marcante da região (MORAES, 2009; LAZZARO, 2010), o que já reduz a diversidade de mercado para as “atacadistas de notícias”. Em segundo lugar, a dependência do Estado para o financiamento da imprensa e para as concessões públicas de radiodifusão (ao contrário de modelos financiados por taxas pagas por usuários, como o britânico) gera um inerente conflito pelo qual a mídia tenta reafirmar sua “independência” frente aos governos justamente para camuflar o fato de que seu modelo de negócio é baseado em publicidade oficial e amplos subsídios concedidos pelos mesmos governos. Embora a contribuição gramsciana seja evidente ao ressaltar o papel estratégico dos intelectuais orgânicos e dos “movimentos moleculares” – que, no contexto latino-americano de imprensa, têm presença difusa porém ubíqua –, sua análise se distancia dos contextos periféricos ao tomar como pressuposta a articulação avançada e orgânica das classes subalternas. Isso era realidade na Europa, não no mundo pós-colonial. Entende-se perfeitamente a convicção do filósofo italiano, dada a realidade empírica que ele pôde tomar como material. No entanto, os centros altamente industrializados e precocemente aburguesados do norte da Itália (onde surgiram alguns dos primeiros bancos do mundo) que Gramsci conheceu eram marcadamente distintos das regiões semiindustrializadas e, até recentemente, majoritariamente rurais da América Latina, onde a organização do operariado foi por muito tempo ou coibida ou dirigida pelo Estado. Assim, a “conquista do Estado” para a substituição da hegemonia ganha, na periferia do capitalismo, uma dimensão diferente e mais crucial que nos contextos centrais, como o europeu. Aqui, a “guerra de posições” gramsciana, travada muito no front dos jornais e outros meios de comunicação (MORAES, 2009: 44-45), encontra mais dificuldade no terreno árido do subdesenvolvimento, da dependência econômica, do analfabetismo funcional generalizado, da extrema disparidade de renda, do pouco constrangimento dos aparelhos coercitivos e repressivos

para exercer a violência e da incipiência das instituições da sociedade civil, inclusive burguesas. Por outro lado, a sistematização althusseriana parece ser “muito mais apta a dar conta do funcionamento da mídia em regimes autoritários do que nas sociedades em que a longa tradição democrática fez proliferar os locais da produção e não mais apenas da reprodução do poder” (MATTELART, 2004: 94). Ora, se algum país da América Latina tiver de fato uma “longa tradição democrática”, nos moldes europeus (burgueses), e já tiver varrido as estruturas de poder herdada dos recentes regimes autoritários, então, aí, sim, aplica-se a crítica antiestruturalista. Caso contrário, a sistematização althusseriana parece, por isso mesmo, estar mais adequada a descrever seu modelo de comunicação social. Portanto, a experiência histórica e política da América Latina vem dando razão mais ao francês que ao italiano, uma vez que foi apenas a partir da tomada de controle sobre o poder do Estado estrito, por via eleitoral (em geral, explorando as contradições do neoliberalismo), que se deu a Guinada à Esquerda, quando partidos progressistas e movimentos sociais representativos de setores subalternos puderam, de cima para baixo, acelerar a construção de hegemonia. A designação do Estado como local de origem dos aparelhos ideológicos (como a escola, a igreja e a própria imprensa) verifica-se nos países descolonizados como paradigma empírico, dados os modelos patrimonialistas e clientelistas que as elites locais desenvolveram sobre a estrutura estatal, privandoa de uma autonomia de que desfruta no contexto europeu (e, portanto, na análise gramsciana) e, finalmente, dada a já mencionada incipiência da sociedade civil. Referências ADGHIRNI, Zélia; GIRALDI, Renata. Em busca de consenso para a criação de uma agência latinoamericana de notícias. In: 10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Anais... Curitiba: PUC-PR, 2012. AGUIAR, Pedro. Agências de Notícias, Estado e Desenvolvimento: modelos adotados nos países BRICS. In: VIII Congresso Internacional da ULEPICC. Anais... Quilmes (Argentina): ULEPICC, 2013. ___________. Cooperação Sul-Sul em Comunicação como Estratégia de Hegemonia: o Grupo de Diarios América. In: III Congresso de Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação, Anais... vol.3. Rio de Janeiro: CONECO, 2008. AGUIAR, Sonia. Geografias e economia política da comunicação: diálogos de fronteira. Revista Eptic (UFS), v. 13, p. 1-15. São Cristóvão: ULEPICC-Br, 2011. ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado (notas para uma investigação).

Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1974. ASSUNÇÃO, Karol. Agências de notícias latino-americanas e caribenhas debatem criação de Ulan. ADITAL, Fortaleza, 2/6/2011 (disponível em http://site.adital.com.br/site/noticia.php? lang=PT&cod=57065; acessado em julho/2014) BOYD-BARRETT, Oliver. Communications Media, Globalization and Empire. Eastleigh (Reino Unido): John Libbey, 2006. LAZZARO, Luis. La Batalla de la Comunicación. Buenos Aires: La Crujía, 2010. MATTELART, Armand; MATTELART, Michelle. Pensar as mídias. São Paulo: Loyola, 2004. MORAES, Dênis de. A Batalha da Mídia. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2009. MURO Benayas, Ignacio. Globalización de la Información y Agencias de Noticias. Madri: 2006. PIERNES, Guillermo. Comunicação e Desintegração da América Latina. 1990. SALINAS, Raquel. Agencias Transnacionales de Información y el Tercer Mundo. Quito: The Quito Times, 1984. 70 Trabalho apresentado no GT 6 – Discurso e Poder do VII Congresso de Estudantes de PósGraduação em Comunicação, na categoria Pós-Graduação. UFRJ, Rio de Janeiro, 15 a 17 de outubro de 2014. 71 Doutorando em Comunicação pelo PPGCom/UERJ, professor substituto do Departamento de Comunicação do IACS/UFF e mestre em Comunicação pela ECO/UFRJ, onde também concluiu a graduação em Jornalismo. É pesquisador do grupo de pesquisas em Políticas e Economia Política da Informação e Comunicação (PEIC), da UFRJ. E-mail: [email protected] 72 A pesquisa encontrou ainda referência a uma Rede Fluminense de Notícias, que seria ligada à Associação de Diários do Interior, seção Rio de Janeiro (ADJORI-RJ), mas nenhuma informação adicional pôde ser obtida. Em junho/2014, a página oficial, www.adjorirj.com.br/rfn, estava vazia. Rubricas similares (e igualmente vazias) são encontradas nos sites da ADJORI-Paraná (http://www.adjoripr.com.br/rcn) e ADJORI-Sergipe (http://www.adjorise.com.br/rsn), indicando intenções coordenadas de montar mecanismos regionais de intercâmbio de notícias. 73 Disponível em www.gda.com/Quienes_Somos/index. php, acessado em julho/2014 74 Disponível em latpal.com/quienes-somos, acessado em julho/2014 75 Disponível em agenciasulan.org/historia, acessado em julho/2014 76 O alinhamento político do Paraguai foi alterado com a deposição do presidente Fernando Lugo, em junho de 2012. 77 Embora não possua agência de notícias própria, o governo do Uruguai participa das reuniões da ULAN por meio de sua Secretaria de Comunicação da Presidência da República. 78 Há uma certa genealogia entre essas distintas fases de cooperação latino-americana em comunicação. Por exemplo, o primeiro diretor da Telesur (2005-2007), o uruguaio Aram Aharonian, tinha sido diretor da ASIN até 1992.

79 A respeito de uma distinção frequentemente levantada entre “mídia pública” e “mídia estatal”, faz-se aqui a opção consciente e deliberada por ignorá-la, considerando ambos os termos como referentes a uma mesma realidade empírica, pelo fato de as primeiras estarem invariavelmente, pelo menos no contexto latino-americano, subordinadas à gestão, ao financiamento e à propriedade do Estado, seja sob a forma de autarquia ou de administração ligada ao Poder Executivo. Especificamente no Brasil, situamos essa equívoca distinção na ambiguidade do texto do artigo 223 da Constituição Federal de 1988, que menciona as duas categorias sem distingui-las em momento algum. Rejeita-se aqui a própria existência de uma mídia “pública” que não seja simultaneamente estatal, uma vez que é administrada, financiada e apropriada pelo Estado (não necessariamente pelo governo), mesmo quando se arvora de dirigir seu conteúdo ao “interesse público”, e não “governamental”. Trata-se de uma dualidade de rótulos para um mesmo modelo de propriedade que, no entanto, pode diferir em aspectos de gestão. Tal falso dilema é exclusivo do Brasil e não se verifica nos demais países. 80 A distinção de complexidade entre as obras dos dois autores, que fundamentalmente concordam mais que discordam, talvez seja compreensível pelo fato de Althusser sistematizar conceitos introdutórios, explicitados como “investigação em curso”, para atividades de formação de quadros partidários, enquanto Gramsci passou anos em reclusão e sob censura, escrevendo anotações para si mesmo e de maneira codificada. Dados os devidos contextos, parece razoável esperar um “didatismo” maior por parte do francês e uma abstração mais complexa por parte do italiano.

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