(RE)ESCRITAS INDÍGENAS: A EXPERIÊNCIA LITERÁRIA NAS CULTURAS INDÍGENAS BRASILEIRAS COMO EMPODERAMENTO POLÍTICO E CULTURAL

June 24, 2017 | Autor: F. Rosa | Categoria: Literatura, Literaturas Indígenas Contemporáneas
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Descrição do Produto

UNEB - CAMPUS I SALVADOR www.apidic.uneb.br CILLAA SINBAIANIDADE -

ISSN 2179-0698 ISSN 2237-3780

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

CADERNO DE RESUMOS DO II SINBAIANIDADE (SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BAIANIDADE) E DO II CILLAA (CONGRESSO INTERNACIONAL DE LÍNGUAS E LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILIDADES) Entre Áfricas e Bahias: a diversidade de saberes

Salvador 09 a 11 de outubro de 2015

FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592

Simpósio Internacional de Baianidade. (2. : 2015: Salvador, BA) Caderno de resumos [do] II Simposio Internacional de Baianidade, II Congresso Internacional de Línguas e Literaturas Africanas e Afro-Brasilidades: entre Áfricas e Bahias: a diversidade de saberes / Organizado por Gildeci de Oliveira Leite et al. de 09 a 11 outubro de 2015 em Salvador . – Salvador: EDUNEB, 2015. 231 p. ISSN 21790698 ISSN 22373780 1. Cultura popular - Bahia - Congressos. 2. Baianidade - Congressos. 3. Bahia - Usos e costumes - Congressos. Línguas africanas - Influência sobre o português - Congressos. I. Congresso Internacional de Línguas e Literaturas Africanas e Afro-Brasilidades. II. Leite, Gildeci de Oliveira

CDD: 306.098142

1. Cultura popular - Bahia - Congressos. 2. Baianidade - Congressos. 3. Bahia - Usos e costumes Congressos. 3. Educação - Congressos.

CDD: 306.098142

3.

REITORIA JOSÉ BITES DE CARVALHO VICE-REITORIA CARLA LIANE NASCIMENTO DOS SANTOS CHEFIA DE GABINETE (CHEGAB) MARIA APARECIDA PORTO SILVA PRÓ-REITORIA DE AÇÕES AFIRMATIVAS (PROAF) MARLUCE DE LIMA MACEDO

SECRETARIA ESPECIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (SERINT) JARDELINA BISPO DO NASCIMENTO ASSESSORIA DE PROJETOS INTERINSTITUCIONAIS PARA A DIFUSÃO CULTURAL (APIDIC) GILDECI DE OLIVEIRA LEITE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS PROFESSOR DOUTOR GILBERTO NAZARENO SOBRAL (UNEB) DOUTORADO MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO PROFESSORA DOUTORA SUELY MESSEDER (UNEB) PROFESSORA DOUTORA ROSÂNGELA ARAÚJO (UFBA) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA DOUTOR MÁRCIO JOSÉ CORDEIRO FAHEL CAODH (CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS) DOUTOR CLODOALDO DA SILVA ANUNCIAÇÃO

ASSESSORIA DE PROJETOS INTERINSTITUCIONAIS PARA A DIFUSÃO CULTURAL (APIDIC) ASSESSOR ESPECIAL GILDECI DE OLIVEIRA LEITE

SECRETÁRIA TATIANE APARECIDA ASSIS DOS SANTOS TÉCNICOS SÉRGIO LUIZ ARAÚJO DE JESUS EDUARCO AIRES SANTOS

ESTÁGIÁRIOS AMANDA CHAVES ALCANTARA ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA FILHO ÊNIO SALDANHA DE AZEVEDO

Universidade do Estado da Bahia (UNEB) ASSESSORIA DE PROJETOS INTERINSTITUCIONAIS PARA A DIFUSÃO CULTURAL (APIDIC) PRÓ-REITORIA DE AÇÕES AFIRMATIVAS (PROAF) SECRETARIA ESPECIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (SERINT) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS DOUTORADO MULTI-INSTITUCIONAL E MULTIDISCIPLINAR EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA (MP-BA) CAODH (CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS) MP-BA

CADERNO DE RESUMOS DO II SINBAIANIDADE (SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BAIANIDADE) E DO II CILLAA (CONGRESSO INTERNACIONAL DE LÍNGUAS E LITERATURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILIDADES) Entre Áfricas e Bahias: a diversidade de saberes

Rua dos Vereadores Lauro de Freitas - Bahia, CEP: 41.150-000 www.apidic.uneb.br

COMISSÃO ORGANIZADORA Gildeci de Oliveira Leite (Presidente- UNEB) Carla Patrícia Bispo de Santana (Vice-Presidente UNEB – Alagoinhas) Aguida Rodrigues (Discente UNEB/ Supervisora PIBID-UNEB-Seabra) Adilma Nunes Rocha (UNEB- Ipiau) Andrea Betânia da Silva (UNEB) Aline Nery dos Santos (UNEB- Seabra) Amanda Maria Nascimento Gomes (UNEB- Seabra) Amanda Chaves Alcântara (Estagiária – APIDIC) Ana Maria Maciel (UNEB – Camaçari) Antônio Carlos Monteiro Teixeira Sobrinho (Doutorando – UFBA) Antônio Carlos de Oliveira Filho (Estagiário – APIDIC) Carla Patrícia Bispo de Santana (UNEB – Alagoinhas) Carlene Vieira Dourado (Mestranda Pós-Crítica UNEB) Camila Vaz (Discente Direito – Campus I) Camila Leite Oliver (UNEB- Seabra) Claudia Madalena Feistauer (UNEB – Brumado) Cléber Nogueira Aleluia (UNEB- Seabra) Clodoaldo Silva da Anunciação (MP-BAHIA / UESC) Daniela Galdino (UNEB – Brumado) Eduardo Aires Santos (APIDIC-UNEB) Edilson Félix Oliveira (C.A. Comunicação – DCHT-UNEB- XXIII) Enio Saldanha de Azevedo (Estagiário – APIDIC) Everton Carneiro (UNEB- Seabra) Fábio Nogueira de Oliveira (UNEB) Filismina Fernandes Saraiva (UNEB- Seabra) Gilberto Nazareno Sobral (UNEB/PPGEL) Gilmar Miranda Freire (Sintest – UNEB) Ícaro Rebouças (DCE-UNEB) Ilmara Valois Bacelar Figueiredo Coutinho (UNEB) Jamile Lessa (Professora SEC-Bahia) Jaqueline Santana Machado (Técnica Uneb) Jean Cleverson Simões Mutti Afonso Rego (Professor Substituto – UNEB) Joabson Lima Figueiredo (UNEB -Irecê) João Batista Castro Junior (UNEB – Brumado) João Evangelista do Nascimento Neto (UNEB Santo Antônio de Jesus) Jose Manuel Castrilon (UNEB – Brumado) José Carlos Bastos Josivaldo Pires (UNEB – Itaberaba) Leonardo Rodrigues Teixeira (Técnico – UNEB- Seabra) Lúcia Tavares Leiro (UNEB – DEDC) Luciana Moreno (UNEB) Maiara Macedo (Professora Município de Seabra)

Marcelo Lemos (UNEB) Maria Angélica Rocha Fernandes (UNEB -Brumado) Maria Carollina Santos Carvalho (Bolsista IC – UNEB) Marielson Carvalho (UNEB -Irecê) Marilene Lima dos Santos (Mestranda Pós-Crítica UNEB) Marinalva Lima dos Santos (Mestranda Pós-Crítica UNEB) Marluce Macedo (PROAF-UNEB) Michael Saldanha de Oliveira (D.A. Língua Inglesa – DCHT-UNEB- XXIII) Nerivaldo Alves Araujo (UNEB) Otávio Assis (UNEB- Ipiau) Raphaella Silva Pereira de Oliveira (UNEB- Seabra) Sergio Luiz Araujo de Jesus (APIDIC-UNEB) Simone Ferreira de Souza Wanderley (UNEB) Suely Santos Santana (UNEB – Santo Antônio de Jesus) Tatiana Maria Le Fundes (UNEB) Tatiane Aparecida Assis dos Santos (APIDIC- UNEB) Tatiana Maria Lefundes de Souza Vanessa Bastos Lima (UEPB) Vivian Meira de Oliveira (UNEB – Brumado) Yarda Jhordsne Silva Araújo (D.A. Língua Portuguesa – DCHT-UNEB- XXIII) Wesley Correia (Ifba) Williane Coroa (UNEB – Ipiau) Wodisney Cordeiro (UNEB – Santo Antônio de Jesus)

COMITÊ CIENTÍFICO Ricardo Tupiniquim Ramos (UNEB) Coordenação Geral Acácio Almeida (UNILAB) Andrea Betânia da Silva (UNEB) Amarino Queiroz (UFRN) Ana Rita Santiago (UFRB) Antenor Rita Gomes (UNEB) Carla Patrícia Bispo de Santana (UNEB/Pós-Crítica) Cecília C. M. Soares (UNEB) Claudia Madalena Feistauer ( UNEB – Brumado) Claudio Cledson (UEFS) Eduardo David Oliveira (UFBA) Flávio Gonçalves dos Santos (UESC) Gilberto Sobral (UNEB/PPGEL) Iaci Maia Mata (UFBA) Ilmara Valois Bacelar Figueiredo Coutinho (UNEB) Itamar Pereira de Aguiar (UESB) Jean Adriano Barros (UFRB) João Batista Castro Junior (UNEB – Brumado) João Evangelista do Nascimento Neto (UNEB – Santo Antônio de Jesus) Jose Manuel Castrilon (UNEB – Brumado) José Ricardo Moreno (UNEB) Josivaldo Pires (UNEB) Kleysson Assis (UFRB) Lucia Tavares Leiro (UNEB) Luciana Moreno (UNEB) Luis Flávio Godinho (UFRB) Luiz Valverde (UNEB) Marcos Botelho (UNEB)

Maria de Fátima Ribeiro (UFBA) Marilde Queiroz Guedes (UNEB) Marluce Macedo (PROAF – UNEB) Murilo da Costa Ferreira (UNEB) Minervina Joselí Espíndola Reis (UNEB) Nelma Arônia dos Santos (UNEB) Nerivaldo Alves Araujo (UNEB) Paulo Cézar Martins Borges (UNEB) Rita Chaves (USP) Rosemere Ferreira da Silva (UNEB) Simone Caputo (USP) Suely Santos Santana (UNEB – Santo Antônio de Jesus) Tânia Celestino Macedo (USP) Valquíria Claudete Machado Borba (UNEB) Vivian Meira de Oliveira (UNEB – Brumado) REVISÃO TÉCNICA

Ricardo Tupiniquim Ramos (UNEB) Tatiane Aparecida Assis dos Santos (APIDICUNEB)

DIGITAÇÃO Todos os textos foram digitados por seus autores. Os autores dos textos são os responsáveis por todas as informações contidas. EDITORAÇÃO

Enio Saldanha de Azevedo (Estagiário – APIDIC)

ARTE DA CAPA

George Luís Cruz

SIGLAS

BAN: BANNER (SOMENTE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO COM: COMUNICAÇÃO ORAL (PROFESSORES E PESQUISADORES)

SUMÁRIO Mensagem do Reitor da UNEB

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Entre Áfricas e Bahias: a diversidade de saberes

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Grupos de Trabalho A Bahia está em todo lugar – Dias Gomes e Jorge Amado: a baianidade no mundo A expressão inacabada da literatura afro-brasileira A potência da multidão: diálogos entre os vetores da narrativa contemporânea na literatura e no cinema brasileiro e/ ou africano Áfricas: línguas e literaturas contemporâneas Alfabetização e elevação de escolaridade de pessoas jovens, adultas e idosas na Bahia: experiências exitosas Análise do Discurso: as diversas religiões na Bahia Arte, educação e terapia na Bahia: diálogos possíveis As possibilidades da historiografia literária pensada por e para escritores baianos Bahia(s): literatura, cinema, música, TV e outras transas culturais da província-mundo Baianidades Rasuradas Baianidades, africanidades e outras latitudes Brasil – África – Mercosul: direitos humanos emancipatórios, Educação em Direitos Humanos, Filosofia da Libertação, (De)Colonialidade do Pensamento e Epistemologias do Sul. Crítica a ideologia da Dominação e exclusão Brasil e países da África: parceria sul-sul para a cooperação e para o desenvolvimento Campo religioso brasileiro: um olhar sobre a Bahia Crianças, infâncias, linguagens e interseccionalidade Cultura de tradição oral Culturas, memórias e linguagens: a proteção jurídica possível Culturas, territórios e infância Diálogos entre África e o Brasil: imagens da infância e da juventude na contemporaneidade Direito, Literatura e Relações Raciais Diversidade linguística e identidades baianas Diversidade Religiosa: limites e tolerância num país plural Educação e Diversidade: os desafios da interseccionalidade Educação literária afrodescendente Educação Profissional e Tecnológica na Bahia: de onde viemos para onde vamos? Educação, Línguas e Linguagens Pluriculturais EJA e Formação de Professores Enleituramentos na infância Escritas periféricas e (des)locamentos contemporâneos Festas na Bahia de Todos os Santos Guiné-Bissau, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique: narrativas literárias e históricas, tramas e temas de nações, culturas e identidades. História e Ficção em Narrativas Africanas O discurso anticolonial no conto "Nós matamos o cão-tinhoso" História, cultura e itinerário biográficos: questão racial, intelectuais e

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educadores baianos Impactos da Lei 10.639/03 no PNBE e mercado editorial brasileiro Intelectuais negros e a produção de conhecimento no Brasil Internacionalização e interculturalidade: mobilidade, trabalho docente e religiosidade na contemporaneidade Linguagens, vestuário e ancestralidade Literatura africanas pós-coloniais: estudo das dinâmicas do imaginário e de memória como instrumento de redescrição identitária Literatura e Diversidade: o desvelar das identidades negras e indígenas Literatura e expressões das sexualidades Literatura, cinema e quadrinhos: construções de Bahias Literatura, Educação, Formação de Identidade e Combate ao Racismo Múltiplos olhares do contemporâneo: fricções entre literatura e outra artes Negras-femininas grafias: insubordinadas e insubmissas narrativas Pensamento social negro brasileiro: por uma estética da libertação Pensando sobre gênero nas artes, na mídia e outros discursos Poéticas Afro-Brasileiras: Literatura, Corpo e Música Psicologia e relações raciais: baianidade, afro-brasilidades e outros pertencimentos em favor da saúde psíquica Representações culturais do Axé Salvador em discursos: entre a retórica e a análise do discurso Sons, versos e sentidos na produção literária África-Bahia Vozes negras na literatura espanhola

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MENSAGEM DO REITOR DA UNEB

A Universidade do Estado da Bahia realizará no período de 09 a 11/10/2015 o II Simpósio Internacional de Baianidade - II SINBAIANIDADE e o II Congresso Internacional de Línguas e Literaturas Africanas e Afro-Brasilidades - II CILLAA. Esses eventos significam muito para a nossa Universidade considerando, sobretudo, a identidade que vem sendo por ela construída, de respeito e acolhimento à imensa diversidade que caracteriza a cultura baiana, o que contribui de forma significativa para a consolidação de uma identidade local e regional. Nesta mesma perspectiva, acreditamos que esses eventos, constituem-se em mais uma iniciativa de fortalecimento dos processos de formação de professores em temáticas afro e afro-brasileiras, visto que reunirão personalidades de reconhecimento internacional na área. Esperamos que os participantes do II SINBAIANIDADE e do II CILLAA sintamse acolhidos pela UNEB e participem efetivamente das atividades promovidas por esses eventos de grande relevância científica e sociocultural para o Estado da Bahia.

Salvador, 01 de outubro de 2015.

José Bites de Carvalho Reitor da UNEB

ENTRE ÁFRICAS E BAHIAS: A DIVERSIDADE DE SABERES

Chegamos até aqui com a certeza da realização de dois dos maiores eventos acadêmicos da Bahia. A iniciativa de envolver ícones das artes e da cultura popular com pesquisadores não é coisa nova. Lembro-me de Edison Carneiro, que durante o II Congresso Afro-Brasileiro colocou lado a lado o erudito e o popular. Arrogante pretensão seria nos comparar ao "Mestre Antigo", como era carinhosamente chamado Edison Carneiro. A referência é só para lembrar dele, Edison Carneiro e do velho Antônio Joaquim de Souza Carneiro a permitir o entra e sai e as revolucionárias reuniões da Academia dos Rebeldes na grande residência em Salvador, apelidada de "Casa Brasil". Os carneiros eram negros e se não fossem, enegreci-iam-se pelo perambular nas ruas da Cidade da Baia de Todos os Santos. Não pensem que fruímos a Bahia somente como esta de todos os santos. Vou logo explicando para não merecer uma contenda dos cordéis de Bule-Bule, José Valter Pires, Antônio Barreto, um chega prá lá dos acordes de Zelito Miranda ou umas mostras de pinturas e de fotografias de Pedro Lima e Smitson. Nelson Rufino, Raimundo Sodré, Dinho Oliveira, Mateus Aleluia, Juraci Tavares, Nilo dos Santos que me defendam, untem com dendê o debate na harmonia de um "Raciocínio Lento" de "PurAxé". Daruê que o diga ! As Bahias são várias, as Áfricas também. Conhecemos algumas Áfricas daqui. Interessa-nos suas interseções, suas aproximações e distanciamentos. Não é preciso explicar, os intelectuais e candidatos que o façam, aqui há diversos. Dei-me ao cuidado de não citar as pesquisadoras e os pesquisadores que ainda andam por este mundo, pois vá lá que eu esqueça de algum. O fato é que os temas interessam, temos mais de quatro centenas de trabalhos aprovados entre comunições orais e painéis dos estudantes de graduação. Há muito que a comunidade acadêmica discute temas relativos às Bahias, Áfricas e africanidades. De maneira multi e interdisciplinar apresentamos algumas das possibilidades de debater Áfricas e Bahias e suas diversidades de saberes, que como já se sabe, são temas inesgotáveis. É preciso perambular por aqui em nossas mesas, telas e audiovisuais para ver, ouvir, sentir vozes e cheiros das Bahias, Angola, Cabo-Verde, Guinés, Moçambique e Nigéria. Que bom que estes encontros existem, que bom que a UNEB os faça com várias universidades de nosso estado, nosso país e de outros países. Na última contagem éramos cerca de 2.000 (duas mil) pessoas oficialmente cadastradas para nossas atividades. Se conheço um pouco desta terra, muita gente ainda há para chegar, muitos anos virão de Áfricas e de Baianidades.

Lauro de Freitas, 28 de setembro de 2015.

Gildeci de Oliveira Leite Presidente do II SINBAIANIDADE E II CILLAA

GRUPO DE TRABALHO: “A Bahia está em todo lugar – Dias Gomes e Jorge Amado: a baianidade no mundo” Coordenação: Maria Angélica Rocha Fernandes (UNEB) A BAIANIDADE NA OBRA “CAPITÃES DE AREIA” DE JORGE AMADO (BAN) Adriana Mendes Andrade (UFRB) Na década de 1930, escritores conhecidos como regionalistas trouxeram para a literatura brasileira um evidente compromisso ideológico, no sentido de contestar as estruturas estabelecidas e se colocar de maneira deliberada, ao lado dos desfavorecidos. Fase também conhecida como regionalista, visto que os escritores buscavam apontar a especificidade de cada região brasileira, “Não pretendi (...) ser universal senão sendo cada vez mais brasileiro. Poderia mesmo dizer, (...) cada vez mais um escritor baiano” (AMADO, 1961, p. 20). É nesse contexto que Jorge Amado como Regionalista traz para a sua obra “Capitães de areia” as representações do seu povo da sua terra em diferentes aspectos da realidade da região da Bahia. Segundo Rufino a obra desse escritor é de suma importância para a “disseminação de um discurso identitário para a própria Bahia, para o Brasil e o mundo”. Para Matos “A obra de Amado é, sem dúvida, uma obra pragmática de pesquisa e reflexão sobre os fundamentos culturais de sua terra” (MATOS, 2011, p. 12), com seus múltiplos e multifacetados personagens Jorge Amado recria em seu livro “Capitães de areia” a paisagem Humana e social da Bahia, tomando como núcleo marcante a encantada cidade de Salvador e seus habitantes. Amado através do uso de uma linguagem marcada pela oralidade, da busca da liberdade ao destaque de personagens do povo, as denúncias aos preconceitos raciais, ás desigualdades entre as classes traz uma literatura próxima das camadas populares, na qual se coloca ao lado dessas camadas desfavorecidas buscando representar a baianidade.

O PERFIL DAS MULHERES AMADIANAS EM GABRIELA (BAN) Gabriel Dias Maciel de Almeida (UNEB) Lucilene da Silva Gomes (UNEB) Romário da Silva Pinheiro (UNEB) O presente banner retratará a pluralidade das mulheres apresentadas nas obras de Jorge Amado, como referencia principal, Gabriela. Relatando as diversas situações sociais que as mulheres da época viviam e suas condições de submissão aos homens, seguido também de uma detalhada reflexão do perfil das mulheres do contexto estudado.

“EU NASCI ASSIM, EU CRESCI ASSIM, E VOU SEMPRE ASSIM, GABRIELA SEMPRE GABRIELA”: UM OLHAR LITERÁRIO E CINEMATOGRÁFICO DO ROMANCE GABRIELA, CRAVO E CANELA (BAN) Laiane dos Santos Souza (UNEB) Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise comparativa do filme Gabriela, adaptado da obra original do escritor Jorge Amado, enfatizando as mudanças ocorridas na adaptação do literário para o cinematográfico, destacando a imagem feminina e as mudanças ocorridas no papel da protagonista Gabriela, em ambas as adaptações. Para elaboração do trabalho foi feito um levantamento bibliográfico sobre o tema a ser pesquisado. Essas obras selecionadas foram lidas e fichadas, possibilitando posteriormente a redação. Inicialmente é exposta a vida e obra de Jorge Amado. O romance Gabriela Cravo e Canela foi adaptado varias vezes para o cinema e TV, ao analisar a obra literária e a cinematográfica, é possível concluir que existem duas Gabriela, uma mais contida, poética, como um ser puro, inocente e sensual, que é encontrada no texto literário e outra encontrada no texto cinematográfico que é sedutora, possuidora de prazeres, sendo assim, a mulher vista simplesmente como objeto sexual, discriminada tanto pela igreja quanto pela sociedade. Na transposição para a tela ocorreram mudanças, entre elas a redução, a omissão de certos detalhes do hipotexto, mas tanto o discurso literário quanto o cinematográfico, são de suma importância, pois propiciam ao público o privilegio de entender e a vivenciar o contexto da história tratada. Foi possível concluir que ocorreram mudanças entre o discurso literário e o cinematográfico, porém ambas as representações propiciam ao público o privilegio de entender o contexto da história tratada.

AS MÚLTIPLAS FACES DE TERESA BATISTA EM JORGE AMADO (BAN) Luana Cristina Silva Souza (UNEB) Este trabalho visa analisar as várias representações designadas à personagem central da obra de Jorge Amado Teresa Batista cansada de guerra (1972). Todas as características perceptíveis na personagem nos levam a compreender a intenção do autor em criar a imagem de uma mulher lendária. A imagem de Teresa é vazia no primeiro momento e ao longo da narrativa esse vão é preenchido, devido as grandes batalhas em seu cainho, tornando-a uma mulher guerreira e vencedora ao final. A outra intenção deste artigo é fazer a relação entre a obra impressa e a adaptação televisa da mesma, apontando os fatores que elevam o trabalho de Jorge Amado, abrindo caminhos transcendentes e instigadores. Mas, de inicio, faz se necessário evidenciar algumas informações sobre Jorge Amado quanto a sua inspiração nas obras, fazendo-nos entender um pouco mais sobre esse universo literário.

DO TEXTO AO FILME: A TRAMA, A CENA E A CONSTRUÇÃO DO OLHAR EM GABRIELA, DE JORGE AMADO (BAN) Luiz Santos Santana Filho (UNEB) Este trabalho é uma análise do filme Gabriela (1983), adaptado do romance Gabriela, Cravo e Canela de Jorge Amado. A pesquisa é de cunho bibliográfico e videográfico com objetivo primordial de realizar um estudo comparativo entre a adaptação fílmica e a narrativa literária. Busca-se também verificar as conjunções e as disjunções e como se dá o diálogo entre o romance e a adaptação, observando como algumas cenas foram retratadas na linguagem cinematográfica. Para tanto, investiga-se os conceitos das múltiplas linguagens e suas especificidades, procurando evidenciar a maneira como a linguagem literária e seus recursos narrativos são transpostos para a linguagem do cinema. Na observação do filme procurou-se demonstrar como os recursos cinematográficos constrói a imagem de Gabriela, evidenciando a fidelidade ou não ao texto amadiano. O estudo considera o fato de que uma das principais características do texto de Jorge Amado, a ênfase na regionalidade, na baianidade, na brasilidade, tanto dos costumes, dos cenários, das paisagens, quanto das personagens, é preservada e ressaltada pelas transposições fílmicas. Sob esta ótica, autores como Balogh (2005), Pellegrini (2003) e Vanoye (2006) subsidiaram este estudo. Ao final, conclui-se que a adaptação fílmica possui estratégias próprias para prender o público à trama, como o apelo à sexualidade fazendo com que a protagonista represente o estereótipo da mulher brasileira, como símbolo sexual.

A MESTIÇAGEM NA MIRACULOSA TENDA DE JORGE (BAN) Raiana Cristina Dias da Cruz (UNEB) A proposta do presente artigo é discutir a mestiçagem na obra Tenda dos Milagres (2008), de Jorge Amado, com base em pesquisa bibliográfica dos teóricos Rita OlivieriGodet, Ilana Goldstein e Gilberto Freyre, e a partir de adaptação fílmica homônima ao livro, por Nelson Pereira dos Santos (1977). Na referida obra, o personagem protagonista, Pedro Archanjo, um negro intelectual, defende a mestiçagem e luta contra o racismo, e mesmo o purismo cultural, sendo uma representação das posturas políticas e ideológicas do seu próprio autor.

GRUPO DE TRABALHO: “A Expressão Inacabada da Literatura Afro-brasileira” Coordenação: Lícia Soares de Souza (UNEB) A POESIA DE ÉLE SEMOG CONTRA O RACISMO (BAN) Adrielisson Tupinambá dos Santos (UNEB) O trabalho tem como objetivo analisa parte da poesia do intelectual afro-brasileiro carioca ÉleSemog, que com o seu trabalho expressa o pensamento de um povo brasileiro relegado pela história. A luta de ÉleSemog é para dar voz a esse povo, o que o faz conquistar voz para si mesmo. Os seus poemas apresentam o que a primeira vista seria considerado paradoxo, são textos críticos e suaves, belos e irônicos, demonstrando um grande valor literário. Além disso,objetiva-se também com esse trabalho a fomentação de discussões sobre os trânsitos da literatura afrobrasileira a partir das análises críticas da literatura brasileira. Apesar de ter grande importância, a literatura afro-brasileira ainda não está totalmente presente em todos os espaços de relevância. Ocupar esses espaços é fundamental para que haja reconhecimento dessa literatura tão relevante para o conhecimento das histórias e memórias dos afro-brasileiros.

O NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA: PONCIÁ VICÊNCIO E O CÂNONE (BAN) Glesia de Souza Paixão (UNEB) Embora o Brasil seja um país povoado de afrodescendentes, ainda é raro ver obras negras serem destaque. No contexto da Literatura Brasileira temos uma presença rara do negro, no que diz respeito a personagens, nos versos ou cenas narradas. E quando tratado nessas obras, nestes manuais canônicos vemos a reprodução de uma ideologia já batida e condicionada, a qual só tem estimulado as injustiças sociais. Diante disso, temos um país repleto de diferenças multirraciais, em que o multiculturalismo impera, ao passo que as desigualdades também. O negro aparece na literatura, geralmente, poucos são os autores que conseguem se destacar. A ideologia dominante seleciona e caracteriza o que é cânone, ditando regras e valores. Por meio de suportes institucionais controlam os discursos que não condizem com as suas perspectivas, com a sua “hegemonia” sociocultural. Têm-se poucos autores negros que se destacaram na nossa sociedade, o que é espantoso já que temos toda uma historicidade marcada pela a colonização, pela cultura escravocrata, negar a negritude seria como negar a nossa história. Dessa forma, este trabalho objetiva promover uma reflexão sobre os percalços do negro enquanto escritor, tendo como corpus de análise a obra Ponciá Vicêncio da autora Conceição Evaristo. Nos fragmentos recortados desta, é possível identificar a busca pela a (re)afirmação de sua identidade enquanto mulher negra inserida em uma sociedade marcada pelo preconceito. Esta obra mostra a ideologia elitizada da época marcada pela perpetuação escravocrata pós-abolicionismo. Assim, o negro tratado na literatura negra expressa luta por direitos políticos, pela a igualdade.

QUARTO DE DESPEJO E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: UMA VOZ DE RESISTÊNCIA CONTRA O SILENCIAMENTO (BAN) Joelma de Jesus Santos (UNEB) Neste trabalho, discutiremos o livro Quarto de despejo: um diário de uma favelada de Maria Carolina de Jesus relatando a realidade de uma moradora da favela do Canidé, na perspectiva de apontar sua obra como uma literatura afro-brasileira e mostrar a aceitabilidade desses escritos na época em que a autora vivia até os dias atuais, por se tratar da voz de uma mulher negra, pobre, catadora de lixo e marginalizada. Para isso analisamos nos escritos da autora Maria Carolina de Jesus na obra Quarto de despejo a resistência contida em suas falas, que foi uma das literaturas afro-brasileira que rompeu com os paradigmas e as desigualdades que havia nos parâmetros sociais da época. Percebendo-a como uma literatura afro-brasileira, pois, essa literatura era vista de forma perversa sendo impedida no seu reconhecimento. Assim percebemos que esta literatura de fato existe, e ela vem romper com as desigualdades existentes sobre o negro. Ao compreender um pouco sobre literatura afro-brasileira é notório que o negro era visto como um objeto e não como sujeito e que tudo de negativo caiam sobre ele. Palavras chave: linguagem, história, literatura afro-brasileira e Maria Carolina.

DA SUJEIÇÃO À SUBJETIVAÇÃO: A LITERATURA COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE, O CASO DAS OBRAS ÚRSULA E A ESCRAVA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS (COM) Luciana Martins Diogo (IEB/USP) Uma das ideias recorrentes afirmadas a respeito de Maria Firmina dos Reis (18251917) por aqueles que realizaram a análise de sua obra é que nesta se encontra expressa, pela primeira vez na literatura brasileira, a voz das identidades sociais subalternizadas durante o processo escravocrata: a da mulher e a do escravo negro; em uma narrativa da escravidão conduzida por um ponto de vista afrodescendente. Partindo disso, o presente trabalho objetiva analisar a constituição do sujeito negro na literatura brasileira do século XIX - como possibilidade de criação ética e estética de si -, por meio de inovações na estrutura textual e no direcionamento do foco das vozes narrativas efetuadas por Maria Firmina dos Reis, no romance Úrsula (1859) e no conto “A Escrava” (1887). Trata-se de investigar o modo com que a autora constrói os personagens de seus textos, para isso, estabelecemos um quadro comparativo entre os personagens Túlio do romance Úrsula e Simeão do romance As Vítimas-algozes (1869), de Joaquim Manuel de Macedo. Discutiremos a questão da representação da subjetividade negra na forma literária por meio de uma abordagem multidisciplinar que articula as contribuições da Crítica Literária, da História e da Sociologia. Para entender tais articulações, parece- nos necessária uma explanação mais geral sobre a presença dos negros na literatura afrobrasileira que constituem o pano de fundo deste trabalho.

GRUPO DE TRABALHO: “A potência da multidão: diálogos entre os vetores da narrativa contemporânea na literatura e no cinema brasileiro e/ ou africano” Coordenação: Vanessa Bastos Lima (UEPB) REALISMO LITERÁRIO E "O CHOQUE DO REAL" NA OBRA O INFERNO, DE PATRÍCIA MELO (COM) André Ângelo de Medeiros Araújo (UEPB) Este artigo visa a discutir a estética realista e algumas de suas especificidades, partindo de sua vertente clássica até chegar à sua face contemporânea. Assim, a partir do conceito de “choque do real” cunhado por Beatriz Jaguaribe (2007) e das reflexões sobre o realismo na literatura, analisamos o romance O inferno (2000) de Patrícia Melo, corpus deste estudo. Através deste procuramos entender como a proposta do choque vem se consolidando como uma tendência chave do realismo contemporâneo, que propõe pintar um retrato contundente da sociedade através da intensificação e exacerbação de cenas cruéis, do emparedamento e da tragicidade, as quais passariam despercebidas se não houvesse nelas a presença do “choque do real”.

CINEMAS AFRICANOS COMO PRODUTO DAS INDEPENDÊNCIAS: A IMPORTÂNCIA DO FILME LA NOIRE DE... DE SEMBENE OUSMANE (COM) Márcio Luis da Silva Paim (UFBA) Este artigo tem por objetivo relacionar a produção de filmes africanos com o contexto das independências na África situando, cronologicamente, o lugar ocupado pelo início da produção fílmica dos primeiros diretores africanos, assim como, a importância da obra de Ousmane Sembene no contexto mencionado.

A POTÊNCIA ORALIZANTE DA MULTIDÃO: A CIDADE COMO LÓCUS EM ELES ERAM MUITOS CAVALOS (COM) Vanessa Bastos Lima (UEPB) Na atualidade, podemos encontrar diversas análises de narrativas literárias contemporâneas brasileiras que possuem como seu lócus a cidade. Na maioria destas análises, podemos perceber uma constante: o foco das leituras está voltado para a violência como chave da explicação de toda a obra. Desta forma, acaba-se por realizar análises e estudos, de forma a perder a perspectiva do caráter múltiplo do espaço urbano e de seus atores, para realizar um estudo muitas vezes de caráter homogeneizante e por vezes estigmatizante. Buscar-se-á então, analisar e comparar obras literárias que apresentam como lócus o espaço periférico urbano, nas quais podemos através do aparente silêncio e anonimato de alguns dos personagens secundários e invisibilizados, assinalar a potência oralizante da multidão que povoa este tipo de narrativa, tendo como eixo paradigmático a obra Eles eram muitos cavalos do escritor Luiz Ruffato, e como embasamento teórico o conceito de literatura de multidão cunhado por Luciano Barbosa Justino (2012), a partir das considerações dos teóricos Antonio Negri (2003) e Paulo Virno (2013) sobre a ideia de multidão.

GRUPO DE TRABALHO: “Áfricas: línguas e as literaturas contemporâneas” Coordenação: Cláudia Rocha da Silva (UNEB) JOSÉ CARLOS LIMEIRA: POR UMA POÉTICA DA DIFERENÇA Zoraide Portela da Silva Esta comunicação propõe uma leitura do discurso poético do escritor baiano contemporâneo José Carlos Limeira, a qual é representada por Lembranças (1971), Zumbidos (1972), O Arco-Íris Negro (1978) e Encantadas (2015), privilegiando, sobretudo, as identidades afro-brasileiras e a afirmação de uma literatura que traduza essas identidades; compreendida como uma textualidade relacionada com os elementos a seguir: poesia motivada pela força da coletividade, instrumento de um processo de instrumento de um processo de conscientização e resgate da memória cultural, histórica e política do povo negro. Os poemas de José Carlos Limeira revelam-nos a história de resistência do quilombo de Palmares e da religiosidade afrobrasileira, de modo que ela se apresente como uma reflexão sobre a possibilidade da construção de uma memória coletiva, sobre a possibilidade da experiência comum e sobre a possibilidade da transmissão e do lembrar. Para tanto, é intenção da presente reflexão ir ao encontro do nexo da memória que se configura no clássico trabalho de Nora (1993), para quem os “lugares da memória são antes de tudo, os restos”, que têm de ser arquivados , materializados a serviço de uma história que marca o luto da “memória viva”. Os lugares onde a memória cristaliza-se e refugia-se estão ligados a este momento particular de nossa história, como por exemplo, a luta originada nos quilombos, a preservação das memórias e tradições do povo afro-brasileiro, a estética negra. Também nas considerações de Hall sobre “a produção de nova identidades”, a explosão de novos discursos e as políticas de diferença instauradas pela própria globalização têm suscitado um movimento de redescoberta de lugares, raízes e contextos identitários, bases imprescindíveis e necessárias para que essas minorias possam expressar-se e atingir um publico amplo.

LITERATURA AFRICANA: A LEITURA DRAMÁTICA PARA A INSERÇÃO DE LEI 10.639/03 NAS ESCOLAS PÚBLICAS NUMA EXPERIÊNCIA PIBIDIANA (BAN) Joanice Dias dos Santos (UNEB) Segundo Cunha (2009), a literatura abre novos horizontes lógicos e estéticos. O presente subprojeto titulado Literatura Africana: A leitura dramática para a inserção de Lei 10.639/03 nas escolas públicas, provém do projeto Tecendo Histórias e formando professores: memórias, contos e encantos nas expressões socioculturais e históricas no cotidiano dos afro-brasileiros, vinculado ao Programa Instituição de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID). O subprojeto visa contribuir para o ensino da História e Cultura Africana nas escolas, tendo como metodologia a leitura dramática, uma vez que, o texto é a raiz primária da montagem teatral e o teatro é uma importante ferramenta metodológica. Sendo assim, é relevante que o indivíduo se identifique com a sua cultura, como negros, brancos, pardos e indígena num país miscigenado e que venham a desconstruir estereótipos, se tornando homens e mulheres interculturais! E é por meio da arte que decidimos trabalhar, uma vez que a leitura propicia rasgos de cultura de outrem e a leitura dramática possibilita que o indivíduo tome posse das emoções impregnada na obra literária africana e venha entender melhor a riqueza daquela cultura e o quanto ela se familiariza com a nossa, nos acrescenta e é representada através de palavras escritas e agora, por sua vez, dramatizadas pelos pequenos leitores.

A ESCRITA FEMININA DE CABO VERDE REPRESENTADA PELAS ESCRITORAS DINA SALÚSTIO E FÁTIMA BETTENCOURT (COM) Sonia Maria Santos (FAP) A nossa abordagem crítica apresenta as duas autoras como expoentes da cultura caboverdiana por perpetrarem em seus contos a valorização do discurso das mulheres das sociedades periféricas construtoras de uma alteridade marcada pelo antiimperialismo e anticolonialismo. Essas mulheres da periferia do mundo, detém um discurso que contraria os modelos teóricos hegemônicos. Seus textos ecoam das margens e dos espaços silenciados pela força totalizante das grandes estruturas de poder e chamam a atenção para as máscaras sociais que impedem que se veja o emaranhado de relações sociais que configuram a subjetividade feminina. O contexto sócio cultural onde essas relações se dão são observados através dos diferentes modos de ser e estar. O nosso propósito é observar a marca e o questionamento da cultura e do lugar da mulher no discurso feminino caboverdiano assim como ressaltar as inquietações que ele provoca, tentando examinar em seus contos como se articulam as relações de identidade, sujeito, alteridade e classe. Os textos são construídos como espaços de conscientização e denúncia, pois denotam as mais vivas manifestações da criatividade popular que traçam o perfil de Cabo Verde.É nas festas, nas ruas, nos hábitos sociais e nas relações entre os grupos que se efetiva a memória coletiva. E é ela que forja a identidade caboverdiana, sob uma matriz de convívio, solidariedade e harmonia.

GRUPO DE TRABALHO: “Alfabetização e elevação de escolaridade de pessoas jovens, adultas e idosas na Bahia: experiências exitosas” Coordenação: Francisca Elenir Alves (SEC - Bahia) OS CENTROS NOTURNOS DE EDUCAÇÃO DA BAHIA E A ELEVAÇÃO DA ESCOLARIDADE DE JOVENS E ADULTOS TRABALHADORES: COMPREENSÕES DE UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA EM CURSO (COM) Ana Margarete Gomes da Silva (UNEB) A Educação de Jovens e Adultos é um campo fronteiriço, que extrapola os processos de escolarização de jovens e adultos/as, pois envolve práticas formativas em espaços e tempos de aprendizagens diversos. Compreendendo a complexidade nos processos formativos inerentes à EJA, enquanto modalidade de ensino da Educação Básica, o presente trabalho objetiva compreender os processos formativos nos Centros Noturnos de Educação da Bahia – CENEB, que se constituem em unidades escolares criadas desde 2013 com o objetivo oferecer educação de qualidade para jovens e adultos trabalhadore(a)s, através de um currículo articulado em três dimensões da formação humana: mundo do trabalho, arte e cultura, ciência e tecnologia. A proposta pedagógica do CENEB é baseada numa perspectiva interdisciplinar, estabelecendo a relação entre os saberes frutos da experiência de vida, os conhecimentos escolares, o mundo do trabalho e da tecnologia. Durante essa pesquisa, foram realizados grupos focais com estudantes e profissionais que atuam nos três Centros de Salvador, no sentido de compreender em que medida a implantação dessa proposta pedagógica vem contribuindo para o processo de elevação da escolaridade de jovens e adultos/as trabalhadores (as) e sua permanência no processo de elevação da escolaridade. Os resultados parciais da pesquisa apontam que a criação dos CENEB vem contribuindo para fomentar discussões acerca da redefinição de políticas de qualificação da educação para jovens e adultos/as trabalhadores/as na Educação Básica.

CULTURA AFRO-BRASILEIRA E O PROJETO DE REGULARIZAÇÃO DO FLUXO ESCOLAR NA ESCOLA MUNICIPAL BRIGADEIRO EDUARDO GOMES – SALVADOR/BA (COM) Debora Barbosa da Silva (UFS) No ano de 2001, a Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes foi palco de uma experiência inédita ao adotar o Projeto de Regularização do Fluxo Escolar (PRFE), integrante do Programa Educar para Vencer desenvolvido em escolas da rede pública, estadual e municipal, objetivando corrigir a distorção idade-série no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série. Este trabalho relata a experiência pedagógica vivenciada por professores da turma de alunos desse Projeto, desenvolvido na escola referida, localizada no bairro de São Cristóvão, em Salvador, caracterizando um estudo de caso – abordagem qualitativa e descritiva do objeto de estudo. A iniciativa dos docentes dessa turma antecedeu os propósitos explicitados na Lei 10.639/03. A partir do momento em que perceberam que este grupo de alunos possuía baixa autoestima em razão de serem alunos repetentes em várias séries, sendo considerados pelos colegas como indivíduos incapazes ou pouco inteligentes, os professores planejaram e realizaram um Projeto com conteúdos da Cultura AfroBrasileira. A execução das ações deu visibilidade aos alunos no ambiente escolar, tendo se constituído em uma motivação para garantir a frequência e permanência no curso. A proposta desenvolvida apoiou-se numa metodologia participativa e culminou com a participação de alunos em um seminário promovido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia. Os principais resultados observados junto do alunado foram: o autoconhecimento, o reconhecimento e valorização da pluralidade cultural brasileira, e, o posicionamento contra qualquer tipo de discriminação – cultural, étnica e/ou social.

ALFABETIZAÇÃO E ELEVAÇÃO DA ESCOLARIDADE NA BAHIA: DAS REFLEXÕES TEÓRICAS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS (COM) Francisca Elenir Alves (SEC - Bahia) A história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil tem sido compreendida como um campo de lutas. Luta por garantia de oferta em todo território nacional, por aumento de vagas nas escolas em diferentes períodos, por materiais e recursos adequados ao público jovem, adulto e idoso, por reconhecimento como uma modalidade regular, por formação inicial e continuada dos educadores/as, enfim, luta por uma educação de qualidade com garantia de acesso e permanência. Garantidas todas as condições necessárias, ainda há um novo desafio: mobilizar os/as educandos/as para romper o obstáculo maior para esse segmento: a decisão de voltar a estudar. Rompido esse primeiro obstáculo, muitos outros se apresentam e o retorno aos estudos é, via de regra, marcado por inúmeros desafios e sensações. Misturam-se a expectativa das novas aprendizagens, o medo de um possível fracasso, a vergonha de frequentar os espaços que muitos acreditam ser de exclusividade da infância, a alegria pelo inicio de uma nova etapa na vida, ou seja, uma mistura de sentimentos toma conta desses educados/as. Mas, antes de chegar à escola, os/as educandos/as já interpretam a realidade em que vivem, experimentando-a e explicando-a de maneiras muito particulares. Essas leituras de mundo não podem ser desconsideradas como um tipo de saber menor e descartável, pelo contrario, devem ser lidas e relidas pelo educador e principalmente pelo gestor público ao construir uma proposta de política pública visando uma prática pedagógica emancipadora. Perceber a relação estreita entre Alfabetização e Cultura constitui-se como uma promissora perspectiva. E foi acreditando nesse binômio que em 2007, a partir das experiências anteriores já desenvolvidas na Secretaria de Educação do Estado da Bahia, iniciamos a construção dessa grande ação alfabetizadora chamada de TOPA – Todos Pela Alfabetização. Neste sentido, na concepção do Programa, alfabetizar-se é também aprender a pensar-se em seu mundo para, a partir daí, agir como uma pessoa ética e politicamente responsável, participante e transformadora. Cada pessoa, cada grupo humano, cada cultura é, em si-mesmo(a), uma fonte original, coerente e irrepetível de experiências, vivências, valores e saberes. Essas várias experiências que desenham os modos de viver e existir desses educandos/as constituem a cultura que eles trazem consigo ao retornar à escola. Portanto, tudo o que acontece na educação, na escola e na sala de aulas faz parte de um mundo de cultura. No entanto, um dos maiores desafios da alfabetização de jovens, adultos e idosos está no saber como realizar a “incorporação da cultura e da realidade vivencial dos educandos como conteúdo ou ponto de partida da prática educativa.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE BARRO PRETO-BA: AVANÇOS E DESAFIOS (COM) Hugo de Souza Lima de Oliveira (UNIME) O presente trabalho apresenta-se, como um relato da experiência do município de Barro Preto, localizado no Estado da Bahia, o qual possui os mesmos desafios de implementação e execução, que outros municípios brasileiros, principalmente no que diz respeito à permanência do aluno. Com o objetivo de apresentar os avanços e desafios, através da análise histórica desta modalidade no município, fazendo uma retrospectiva a década de 60, quando iniciou a oferta, até os dias atuais, apresentando o Projeto SerEJA que é o mais novo meio encontrado pelo município para alfabetizar jovens e adultos. A metodologia utilizada, foi uma pesquisa bibliográfica e documental já existentes na Secretaria Municipal de Educação e o relato de experiência com professores que atuam nesta modalidade de ensino. Além, da minha experiência enquanto profissional pertencente a Rede Municipal de Ensino e que atua em uma escola que oferta esta modalidade de ensino e que vem ao longo dos anos, buscando novas alternativas de fortalecer a EJA.

CULTURA AFRO-BRASILEIRA E O PROJETO DE REGULARIZAÇÃO DO FLUXO ESCOLAR NA ESCOLA MUNICIPAL BRIGADEIRO EDUARDO GOMES – SALVADOR/BA (COM) Neise Mare de Souza Alves No ano de 2001, a Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes foi palco de uma experiência inédita ao adotar o Projeto de Regularização do Fluxo Escolar (PRFE), integrante do Programa Educar para Vencer desenvolvido em escolas da rede pública, estadual e municipal, objetivando corrigir a distorção idade-série no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série. Este trabalho relata a experiência pedagógica vivenciada por professores da turma de alunos desse Projeto, desenvolvido na escola referida, localizada no bairro de São Cristóvão, em Salvador, caracterizando um estudo de caso – abordagem qualitativa e descritiva do objeto de estudo. A iniciativa dos docentes dessa turma antecedeu os propósitos explicitados na Lei 10.639/03. A partir do momento em que perceberam que este grupo de alunos possuía baixa autoestima em razão de serem alunos repetentes em várias séries, sendo considerados pelos colegas como indivíduos incapazes ou pouco inteligentes, os professores planejaram e realizaram um Projeto com conteúdos da Cultura Afro-Brasileira. A execução das ações deu visibilidade aos alunos no ambiente escolar, tendo se constituído em uma motivação para garantir a frequência e permanência no curso. A proposta desenvolvida apoiou-se numa metodologia participativa e culminou com a participação de alunos em um seminário promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Os principais resultados observados junto do alunado foram: o autoconhecimento, o reconhecimento e valorização da pluralidade cultural brasileira, e, o posicionamento contra qualquer tipo de discriminação – cultural, étnica e/ou social.

INOVAÇÃO PEDAGÓGICA COMO ESTRATÉGIA DE CONTEXTUALIZAÇÃO DA ESCOLA DO CAMPO (BAN) Rosana de Castro Leal (UNEB) A Educação é o instrumento pelo qual a sociedade capitalista letrada orienta os indivíduos, a fim de que sejam capazes de se integrar de forma plena à cultura e ao convívio social e nele se desenvolver. De acordo com Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do ser humano se dá através da relação dialética do mesmo com o meio onde vive. Portanto, a Educação, especialmente a do campo, deve conhecer e compreender o contexto onde se insere e com ele se relacionar de forma orgânica. A Educação deve se configurar enquanto ferramenta do ser humano ao seu desenvolvimento. Através de estudo de caso, esta pesquisa documental de cunho qualitativo, teve como lócus a Escola Rural de Massaroca-BA (ERUM). Pelo acesso à proposta pedagógica da mesma, investigou-se a experiência educacional enquanto inovadora, que se desenvolve pela prática transformadora e libertadora, segundo os seguintes critérios: a concepção integral do ser humano e da educação; o sentido/rumo ao desenvolvimento territorial sustentável; e se a referência à pratica se encontra nos sujeitos do campo. Os dados foram tratados segunda a Análise de Conteúdo de Bardin. A pesquisa trabalhou a investigação para a identificação dos elementos inovadores da ação pedagógica, enquanto metodologia de Educação Contextualizada que potencializa a Educação no Campo. Tal investida colheu indícios que servem de base a abordagens da realidade de forma crítica, dando sentido aos instrumentos pedagógicos da ERUM como estratégia de fortalecimento e aprimoramento das abordagens curriculares e da aprendizagem em escolas do campo.

GRUPO DE TRABALHO: “Análise do Discurso: as diversas religiões na Bahia” Coordenação: Camila Leite Oliver Carneiro (UNEB) e Everton Nery Carneiro (UNEB) A INCLUSIVIDADE DO NOVO LOC DA IEAB: LEX ORANDI, LEX CREDENDI, LEX AGENDI (COM) Adriano Portela A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) é uma das denominações cristãs atuantes na Bahia. Foi a primeira igreja cristã não católica-romana a esse estabelecer no Estado e completa esse ano 200 de presença na Bahia. O presente artigo visa realizar a análise do discurso do Livro de Oração Comum (LOC), principal livro litúrgico dessa confissão religiosa, que recebeu uma nova edição, com adoção de linguagem inclusiva. Pautamo-nos em discursos do Bispo Primaz da IEAB e da Comissão Nacional de Liturgia, bem como em textos do próprio LOC, no axioma teológico lex orandi, lex credendi, e na interface discurso/ideologia, segundo M. Pêxeux, para realizar a análise.

O DISCURSO DA SOLIDARIEDADE NA CANÇÃO NOVA EM VITÓRIA DA CONQUISTA (COM) Claudia Madalena Feistauer (UNEB) A linguagem é um instrumento poderosíssimo de circulação de informações, de ideologias, está em toda parte, influencia e norteia diversos segmentos da sociedade. O discurso religioso tem suas peculiaridades pois tem a missão de aproximar o sagrado do humano. A religião católica tem sua base na fé, esperança e caridade. A Canção Nova é uma comunidade católica brasileira fundada no ano de 1978, seguindo as linhas da Renovação Carismática Católica. Atuando em Vitória da Conquista desde 15 de agosto de 1997 segue os preceitos da religião católica e dissemina a solidariedade por meio de ações e também dos discursos proferidos nas pregações das cerimônias religiosas. Sendo assim, buscar-se explicitar “os efeitos de sentido” (ORLANDI, 2005) presentes no discurso religioso da comunidade Canção Nova . Os sentidos são construídos socialmente, na medida em que o sujeito coloca-se na perspectiva do dizível, isto é, na confluência de se dizer o que já foi dito. (Orlandi, 1999).Considerando que as práticas sociais e as práticas discursivas se entrelaçam, este trabalho visa analisar o discurso da solidariedade na Canção Nova sob o aporte teórico da Análise do Discurso da linha francesa. Para tanto, serão utilizados os postulados da Análise do Discurso, uma vez que a Análise do Discurso constitui importante ferramenta potencializadora da investigação, pois permite desvelar as ideologias que se quer inserir na sociedade.

ISOTOPIAS FIGURATIVAS EM MEU FOLCLORE DE JOSÉ ARAS (BAN) Denise Silva Bitencourt (UNEB) No presente trabalho, alguns trechos de Meu folclore (1957), de José Aras, pelo pseudônimo de Jota Sara, são observados à luz da Semiótica Greimasiana, no que concerne, especialmente, à percepção dos Temas e das Figuras, elementos presentes na Semântica Discursiva do Percurso Gerativo de Sentido. Apresentam-se os conceitos semióticos de isotopia e figuratividade. Assim, busca-se elencar os investimentos figurativos, revelando, por conseguinte, o lugar do ideológico no discurso, isto é, a visão conselheirista. Ainda nessa busca, são destacadas as referências religiosas que, no texto em análise, tornaram-se um recurso semântico de construção dos efeitos de veracidade. Para tal efeito, lança-se mão de excertos dos seguintes autores: Belém (1940), Silva (s.d.), Cunegundes (1897), Calasans (1984), bem como de alguns trechos de Santos (1897), da Enciclopédia Católica Popular e outras obras de José Aras (1963, 2003, 2009). Ademais, Fiorin (2006), Barros (2005), Oliver (2013), baseando-se nos estudos greimasianos fornecem subsídios importantíssimos para a efetivação da análise.

ASPECTOS DA EXPRESSIVIDADE DE SEMINARISTAS EM SITUAÇÃO DE LEITURA ORAL (COM) Érica Azevedo da Costa (UNEB) O estudo da expressividade em situação de leitura oral permitiu acessar as nuances mais sutis provocadas pela linguagem e traçar um movimento dialógico e construtivo entre a Voz Profissional dentro da Fonoaudiologia e áreas afins. O ato de ler permite reconhecer traços da identidade do sujeito enunciador a partir dos recursos vocais, verbais e não verbais e a simultaneidade de visões presentes diante da mesma prática, pois reflete atitude, emoção, crença, estado físico ou condição social do sujeito enunciador. O interesse em desenvolver este estudo surgiu a partir da observação das atividades desempenhadas pelos seminaristas, em sua formação inicial, buscando compreender o funcionamento da comunicação oral destes sujeitos ao receberem o chamado vocacional. Esta pesquisa configura-se em um estudo do tipo transversal, observacional, descritivo e individuado. A análise dos resultados da avaliação fonoaudiológica bem como os resultados obtidos mediante o questionário de autoavaliação evidenciaram como o desconhecimento a cerca dos recursos de expressividade em atividades de leitura oral podem comprometer o desempenho comunicativo. Embora o caminho seja longo, as incursões fonoaudiológicas nesta área já se sustentam como fundamentais a cada categoria profissional à medida que se busca conhecer e adequar o fazer fonoaudiológico às necessidades e demandas destes profissionais.

TEOLOGIA E CULTURA: UMA CONVERSA (COM) Everton Nery Carneiro (UNEB) Buscando estabelecer uma conversa entre Análise do Discurso, Teologia e Cultura, apresentamos como ponto de partida um diálogo com Carvalhaes em seu texto "Teologia e Cultura: para início de conversa". Para esta conversa são convidados: Heidegger, Orlandi, Tillich. Tendo por objetivo primário a conversa entre Teologia e Cultura, pensamos na seara dos objetivos secundários que estes se vinculam a discutir sobre a interdependência entre a teologia e a cultura, pensando a partir do par subjetividade-imprevisibilidade. Quanto ao método utilizamos o da correlação de Tillich, que para ele pode ser usada de três formas: correspondência de dados; interdependência de conceitos; interdependência autêntica de coisas ou acontecimentos, buscando mostrar a relação entre Filosofia e Teologia. Assim, pensamos existir um nexo ontológico entre teologia e cultura, onde é preciso romper as amarras da teologia, acenando para os marginalizados e excluídos, entendendo que todos(as) são convidados(as) a não desconsiderar sua própria cultura e história, mas sim percebê-las por outra perspectiva. Incontestavelmente, Tillich pode trazer uma nova realidade para o povo sofrido e, sobretudo escravizado por atitudes desumanas de certas tradições religiosas. A cultura teônoma desconhece o exclusivismo religioso e mostra que o incondicionado pode ser concebido por qualquer cultura, pois ele está sempre ativo e espera ser descoberto além das fronteiras da comunidade eclesial. Assim, Tillich a história da religião e da cultura é a história de permanentes deformações demoníacas da revelação e de confusões idólatras entre Deus e o homem.

O FENÔMENO FALAR EM LÍNGUAS (GLOSSOLALIA): SÍMBOLO DE PODER EM AMBIENTES CRISTÃOS (BAN) Fernando Varjão de Sousa (UNEB) O presente estudo objetiva debater sobre o fenômeno da oração em línguas e suas relações de poder em ambientes cristãos, fenômeno este discutido pelo Apóstolo Paulo em (I Cor 14. 26-40). Cumpre frisar, que no corpo deste trabalho desenvolve-se um esboço da relação glossolalia/linguagem/poder, descortinando uma reflexão sobre determinada ação que pode resultar numa inclusão ou exclusão social e manifestação de soberania. Deste modo, essa pesquisa engaja-se em alguns princípios da filosofia da linguagem, interessante instrumento de análise. Serve como aporte teórico para este trabalho a obra “Microfísica do Poder” de Michel Foucault (1996); “Igreja, carisma e poder” de Leonardo Boff (1982); “Linguagem, escrita e poder” de Gnerre (1998), entre outros. A metodologia baseia-se em estudos bibliográficos, buscando-se, dessa forma, perceber a maneira como a oração em línguas ocorre em ambientes cristãos, como foi transformada em símbolo de relação de poder e as consequências advindas desta ação para a sociedade à luz das ideias do Apóstolo Paulo. Em síntese, constatase que o falar em línguas estranhas pode está sendo utilizado como instrumento linguístico para desencadear uma estrutura ideológica de poder em determinados ambientes cristãos. Nesse sentido, se a linguagem por práxis tem relação com o poder, problematizou-se aqui, uma análise rigorosa do fenômeno “falar em línguas”, tendo como suporte a ideia de que a linguagem por si só já revalida um ato de poder.

O DISCURSO RELIGIOSO NAS PRÉDICAS DE ANTONIO CONSELHEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS PRESSUPOSTOS DA AD FRANCESA (COM) Ilza Carla Reis de Oliveira (UNEB) A partir dos postulados da Análise de Discurso de linha francesa, através dos trabalhos de Orlandi (1993, 2001 e 2003), esse artigo pretende observar como se caracteriza o discurso religioso de Antonio Conselheiro, capaz de convencer milhares de pessoas a segui-lo até o fim, partindo-se das seguintes questões: como se organizam os sentidos no discurso religioso presente nos manuscritos de Antonio Conselheiro? Qual a relação entre o funcionamento desse discurso e a mobilização de tantos sertanejos que constituíam seu séquito? Como corpus para esta pesquisa, tomou-se três prédicas intituladas Sobre a obediência, Sobre o recebimento da chave da Igreja de Santo Antonio, Padroeiro do Belo Monte e Despedida. A primeira pertence ao primeiro manuscrito intitulado Preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo para a Salvação dos Homens, datado de 24 de maio de 1895, disponível apenas em cópia fac-símile no Centro de Estudos Baianos da UFBA e as duas últimas prédicas constam no segundo manuscrito, denominado Tempestades que se Levantam no Coração de Maria por ocasião do Mistério da Anunciação, datado de 12 de janeiro de 1897, editado e publicado por Ataliba Nogueira em 1974 com o título Antônio Conselheiro e Canudos: revisão histórica. Inicialmente, expõe-se uma breve apresentação dos manuscritos e das prédicas que compõem o corpus desse trabalho. Em seguida, tece-se uma discussão a respeito das formações discursivas e das condições de produção referentes ao discurso presente nas prédicas.

NA BAHIA DE TODOS OS SANTOS, UMA IGREJA BATISTA NAZARETH PARA TODOS OS SANTOS! (COM) Joel Zeferino (FBB) Tendo seu lugar assegurado dentro do campo do ecumenismo, diálogo inter-religioso e na luta pela redemocratização, a Igreja Batista Nazareth tem encarado como um novo desafio nesta última década compreender e vivenciar o que é ser uma comunidade inclusiva dentro do campo da Diversidade Sexual. Tendo como um marco a palestra do Dr. André Sidnei Musskopf “Bíblia, igreja e homossexualidade – da exclusão a plena aceitação dos homossexuais na igreja” em setembro de 2009, a Igreja Batista Nazareth tem não apenas discutido o tema, mais vivenciado na prática o que é ser uma igreja inclusiva. Mais recentemente, a visita do Pr. Marcos Lord, da Igreja Cristã Metropolitana Betel, do Rio de Janeiro, abriu uma discussão sobre como deva ser a acolhida de pessoas travestis, trans, bissexuais, e demais possibilidades no seio de uma comunidade cristã. Sem ter todas as respostas, seguimos experimentando caminhos, num processo que ainda está em aberto para um maior aprofundamento até que se alcance a devida maturidade.

NARRATIVAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES NA BÍBLIA E NO CANDOMBLÉ Laina Crisóstomo Souza de Queiroz O trabalho pretende analisar como a violência sexual contra as mulheres está presente nas religiões, a saber, Cristianismo e Candomblé, em uma através de histórias bíblicas e na outra nos contos sobre os orixás e como isso pode interferir na vida das mulheres na atualidade, especialmente no tocante a submissão, feminicídio e crimes sexuais. Este artigo trará trechos de narrativas em que são descritas situações de violação do corpo das mulheres e de Orixás femininas. No que tange a metodologia a pesquisa será de revisão bibliográfica, tendo como principais textos a Bíblia e o livro de Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás.

UMA ANÁLISE DOS PONTOS DE PRETO VELHO E ORIXÁ DA UMBANDA (COM) Leiliane Rodrigues de Araújo (UNEB) Este trabalho apresenta por analise e identificação o que revelam os pontos de caboclos e orixás da Umbanda. Esta é uma religião essencialmente brasileira, fundada no Rio de Janeiro na década de 1930, por Zélio de Morais. Sua liturgia possui elementos de três matrizes culturais distintas: a ameríndia, a cristã ocidental de linha kardecista e a do Catolicismo romano; a afro-brasileira, representada pelos orixás do Candomblé. Essas divindades são divididas em linhas, falanges e legiões. Na liturgia da Umbanda, os orixás e os pretos velhos são invocados a partir de cantos chamados pontos. Suas letras são em português, mas possuem abundante léxico de procedência iorubana e tupi. A importância deste trabalho está em ele questionar e desconstruir o preconceito social dirigido contra essa religião, historicamente constituída neste país e representante de suas varias nações e línguas.

DEUS NO PUTEIRO: ANÁLISE DO DISCURSO TEOLÓGICO-LITERÁRIO EM O SANTO QUE NÃO ACREDITAVA EM DEUS, DE JOÃO UBALDO RIBEIRO (COM) Marcos Fellipe Costa Marques Este trabalho tem por objetivo realizar um estudo analítico-interpretativo do conto O santo que não acreditava em Deus, do Livro de Histórias (1981), de João Ubaldo Ribeiro. Com base nos conceitos de dialogismo e carnavalização de Mikhail Bakhtin pretendemos expor como o autor através do riso, da anedota e da paródia questiona os discursos religiosos que criam e constituem o contexto identitário do povo brasileiro, em especial do baiano da Ilha de Itaparica. Com este fim, contextualizaremos as relações existentes entre o discurso literário presente no conto e os discursos religiosos que constroem a identidade baiana contemporânea. E, ainda, apresentaremos as relações intertextuais e/ou interdiscursivas resultantes do encontro do conto com a tradição judaico-cristã e greco-romana.

GRUPO DE TRABALHO: “Arte, educação e terapia na Bahia: diálogos possíveis” Coordenação: Priscila Peixinho Fiorindo (UNEB) MUSICA NEGRA NA ESCOLA: NO PROCESSO DE CONSCIENTIZAÇÃO E AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA (BAN) Alexnaldo Santos Palmeira (UNEB) Ícaro Santos da Silva (UNEB) O objetivo deste artigo é provocar reflexões em torno da importância do papel da música negra na escola no processo de conscientização e afirmação de identidades de estudantes negros. Tendo lugar a partir da vivência docente no Colégio Polivalente do Cabula obtido através do programa PIBID - Subprojeto - Diversidade, Docência e Pesquisa na Educação Básica, a importância desta pesquisa está em provocar reflexões acerca da função que a música de matriz africana tem na escola, a metodologia desenvolvida procurou discutir junto aos estudantes mecanismos de afirmação da identidade negra, encontrando na música esse mecanismo. Ter ferramentas na prática docente que auxiliem e deem base de em sala de aula no tratamento de questões de cultura e identidade negra na escola é essencial para o conhecimento da cultura negra e da conscientização da afirmação. Para a sociologia da educação, a prática docente não é algo meramente individual, mas sim, uma função social que se encarrega de formar indivíduos que tomam parte no espaço público. Diante disso, o professor deve intervir na realidade social-intelectual do aluno, fazendo-o consciente de que as injustiças não estão isoladas de sua identidade. Assim, a música configura-se como importante patrimônio artístico-cultural por meio do qual a identidade negra pode ser trabalhada como elemento de afirmação.

MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL (BAN) Ana Beatriz Santana Maciel O presente artigo tem como objetivo trazer os resultados de um estudo sobre como acontece o ensino com a música e qual a importância desta no contexto da educação infantil. A pesquisa aconteceu na escola pública Rui Barbosa, a qual está localizada na cidade de Central – BA, os sujeitos envolvidos foram crianças de cinco anos de idade e duas professoras que atuam na educação infantil II. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, numa abordagem qualitativa, sendo que as técnicas usadas para coleta de informações foram: observação do cotidiano escolar e um questionário aberto direcionado às professoras. Buscamos a partir de tais informações, fazer uma análise de concepções trazidas pelas duas professoras, observando assim se em sala de aula, a prática corresponde com aquilo que ambas relatam no questionário, também procuramos abordar contribuições teóricas de alguns autores que discutem o tema, além da LDBEM 9.394 (1996) e o RCNEI (1998). Com base nas informações coletadas e obtidas, notamos que embora a escola citada não disponha de infraestrutura adequada nem de recursos e materiais necessários para a prática de atividades musicais, isso não impede que a música esteja presente neste ambiente. Nesse sentido, percebemos tanto na fala, quanto na postura em aula, que as docentes pesquisadas demonstram conhecimento e tem consciência da grande parcela de contribuição que a música pode trazer no desenvolvimento integral das crianças.

TEATRO E LITERATURA INFANTIL: ESTRATÉGIA LÚDICA NA SALA DE AULA (COM) Carla Luana Santos de Souza Cirleide Barreto Santos e Santos No presente trabalho, pretendemos apresentar o roteiro de uma peça teatral elaborada como uma das formas de avaliação para a disciplina Literatura Infantil e Juvenil, ministrada pela Profa Dra Priscila Peixinho Fiorindo, durante o segundo semestre de 2014, no Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS). Após as aulas teóricas sobre a abordagem e o ensino de literatura, foram solicitadas atividades práticas, propostas de intervenções, a partir dos diferentes gêneros literários, dentre os quais selecionamos o teatro. O roteiro foi baseado em três contos infantis – Cinderela, Branca de Neve e os Sete Anões e A Princesa e o Sapo. A história acontece em dois planos, um plano real e um plano mental. O real acontece no início da narrativa e representa uma situação do cotidiano, quando uma mãe tenta ajudar a confeccionar um trabalho de escrita para suas filhas que estão fazendo um curso. O plano mental representa a execução do trabalho planejado e é, exatamente, aqui que a narrativa se desenvolve. Então são apresentadas as filhas das personagens principais dos contos citados anteriormente. São três jovens que dialogam sobre os planos para o futuro, mas, diferente de suas mães, elas direcionam a história de modo a criticar o “final feliz” tão disseminado nos contos tradicionais. Através da interação entre as personagens, questões sobre o casamento, a independência emocional e financeira feminina são discutidas. As falas das personagens, em alguns momentos, adquirem uma nuance humorística, contribuindo para a ludicidade do fazer artístico, atraindo, assim, a atenção do público para a narrativa da peça.

LIÇÃO DE MATISSE: UMA AULA DE ARTES NA POESIA DE GLAUCIA LEMOS Fabiana Mariano Moraes Aprender arte de maneira significativa necessita de intenção da parte de quem ensina e se esta intenção não se manifestar nas ações do professor. A literatura tem uma forte carga imagética sobre quem a lê com poder de criar e evocar imagens. Ao ler, imagens são criadas, imagens mentais que dão vida ao que é relatado nas páginas de um livro, do qual lemos ou ouvimos as histórias. A poesia em sua estrutura traz a prposta de leitura lúdica e plurisignificante. Ao associar poesia e ilustração é objetivo deste artigo, percorrer no imaginário de Henri Matisse através da poesia de Glaucia Lemos a interdisciplinaridade da arte e da literatura na sala de aula. Proporcionar ao aluno diferentes materialidades, que o façam remeter-se a um lugar povoado por vozes polissêmicas e imagens.

JOGOS E CORPO: HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA (BAN) Fernanda Soares de Oliveira (UESB) O PIBID /UESB /HISTÓRIA /CAIC desenvolveu em 2014 o projeto Jogos e Corpo: História e Cultura Africana, objetivando, mediante o uso da arte, movimentação corporal e jogos africanos, promover a interdisciplinaridade e possibilitar maiores reflexões acerca da história e cultura africana, estimulando o repúdio a qualquer forma de preconceito e discriminação. O projeto foi dividido em 6 etapas. A primeira de Sensibilização/Problematização objetivou levantar os conhecimentos prévios dos educandos acerca da África. A segunda dispôs de pesquisas, onde os alunos coletaram e organizaram informações acerca dos jogos africanos. Na terceira fase os discentes trabalharam na construção de tabuleiros, definição das regras e experimentação dos jogos. O quarto estágio constituiu-se da realização de aulas oficina com temáticas voltadas para o estudo da África. Na quinta etapa ocorreram torneios dos jogos, trabalhos de movimentação corporal, como teatro e dança, e confecção de artigos artesanais. Na última fase foi realizado um evento na escola, expondo os resultados obtidos e promovendo ações artísticas pelos discentes. Posteriormente foi aplicado um questionário de percepções aos alunos, enfatizando questões relativas à aprendizagem gerada com as atividades realizadas, e as respostas refletiram uma mudança de postura diante da África. Os resultados foram positivos, pois mediante os jogos e a arte conseguimos atrair a atenção dos estudantes, levando-os a refletir questões mais complexas, como respeito e tolerância, a se enxergarem como protagonistas da história e ampliarem seus conhecimentos acerca da história e a cultura africana. Essa experiência foi enriquecedora também para as bolsistas que aprofundaram questões teóricas e práticas sobre a temática.

PRÁTICAS DE ORALIDADE NA EDUCAÇÃO A PARTIR DA LEITURA DE IMAGENS (COM) Gabriela Oliveira Vieria (UNEB) Priscila Peixinho Fiorindo (UNEB) Considerando que o aprendiz deve ter “voz ativa” no processo ensino-aprendizagem, faz-se necessário desenvolvermos a prática de oralidade, em sala de aula, para que o educando seja capaz de se expressar, adequadamente, em diferentes contextos. Nesta perspectiva, apresentamos uma proposta de intervenção didática, voltada para a produção de narrativas orais a partir da leitura de imagens, desenvolvida durante o curso de Mestrado Profissional em Letras/PROFLETRAS/UNEB, Campus V. E, para tanto, nos apoiamos em autores que tratam da oralidade e de imagens, ressaltando Benjamin (1993), o qual afirma que a imagem reside na dialética, pois ela dialoga com o espectador que constrói sentido a partir da observação. O método constitui-se em mostrar, para os alunos, do 4º ano do ensino fundamental, de uma escola pública, a história “Presente”, composta por seis imagens em sequência, extraída do livro Bruxinha Zuzu e Gato Miú (FURNARI, 2010) e, após a visualização icônica, eles contaram uma história. As narrativas foram gravadas em áudio e transcritas conforme as Normas do Projeto NURC/USP (PRETI e URBANO, 1990). Os dados mostram que as imagens contribuem para o desenvolvimento das narrativas orais, que apresentam marcas de oralidade, com estruturas coerentes – início, meio e fim, além de indicarem o posicionamento dos alunos, enquanto protagonistas de suas histórias. As conclusões evidenciam que a referida proposta pedagógica favorece a interação e a reflexão para as práticas de oralidade dos alunos, por meio da leitura de imagens, e a consequente manifestação das crenças, valores, dos narradores aprendizes. Palavraschave: leitura de imagens; narrativa oral; discurso infantil.

ARTETERAPIA: O DESPERTAR DAS EMOÇÕES NA CRIATIVIDADE (COM) Priscila Peixinho Fiorindo (UNEB) A arte enquanto proposta de intervenção no processo terapêutico, Arteterapia, possibilita o desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo, conduzindo-o ao autoconhecimento. A referida prática fornece o passaporte para o ato criativo, possibilitando a ampliação da mente para o bem-estar. Maslow (1979) ressalta que por meio da criatividade o homem pode realizar a si próprio, e que as experiências artísticas fazem parte de um processo de individuação e de crescimento pessoal. O método consistiu numa atividade de pintura, em uma das sessões de arte em terapia, realizada por um grupo de idosos, homens e mulheres, residentes do Abrigo do Salvador, instituição particular, em Salvador/BA. A escolha do público alvo se deve ao fato do acúmulo de experiências vividas pelos sujeitos. Então, durante a escuta da música instrumental de violino celta do Grupo Palanco Cia dos Ícones, foi feita a pergunta: “Como eu estou hoje?”, em que os participantes deviam responder com a produção de uma pintura. Após o término da atividade eles poderiam falar sobre o que fizeram. Os resultados mostram a relevância da partilha em grupo nas trocas de experiências vivenciadas por cada um, que se descobre no outro, percebendo-se no conjunto. As conclusões evidenciam, por meio das cores utilizadas, no processo criativo/artístico, os conteúdos singulares do universo interior dos idosos, que se expressam e se reconhecem ao se apresentarem ao mundo, tanto imageticamente quanto verbalmente, transcendendo os limites do racional, deixando florescer suas emoções.

O SWING AFRO-BAIANO EM CANÇÕES QUE ABORDAM CONTEÚDOS MATEMÁTICOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA (COM) Sidcley Dalmo Teixeira Caldas (UFBA) O presente trabalho tem o objetivo geral de discutir acerca de canções com ritmos afro-baianos que abordam conteúdos matemáticos da educação básica. Para isso, apresento resultados da minha pesquisa de conclusão do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, cujo objetivo geral foi analisar como os formandos do curso de Pedagogia da UNEB compreendem a presença de canções no processo de ensino-aprendizagem da matemática nas séries iniciais do ensino fundamental, assim como trato de novas inquietações acerca desta mesma temática, agora já no Mestrado em Educação na Universidade Federal da Bahia-UFBA, onde destaco as compreensões dos graduandos em Pedagogia da UFBA sobre o lúdico nas práticas educativas do tipo em questão. Além dos caminhos percorridos e a percorrer, nas pesquisas, me detenho em canções que apresentam ritmos afro-baianos. Isto, considerando a motivação pessoal que tive para criá-las, bem como as características desse tipo de canção e suas possíveis influências no processo de ensinoaprendizagem de matemática da educação básica. Como suporte teórico, o estudo possui contribuições de Macedo (2004; 2010; 2012), Levitin (2010), Swanwick (2014), Tatit (1986; 2004; 2007; 2008), Libâneo (2010), Nacarato, Mengali e Passos (2009), Huzinga (2003), Luckesi (2014) e D’ávila (2006). Entendo que o estudo possui relevância por discutir com futuros educadores um tipo de prática pedagógica alternativa e complementar ao processo de ensino-aprendizagem da matemática da educação básica, assim como por possibilitar vivenciar e refletir acerca das informações sociais que nos cercam no contexto em que vivemos.

OFICINA CORPO LÚDICO (COM) Silvia de Paula Garcia (UFBA) O movimento corporal – contrariando o que muitos pensam – não é apenas um ato mecânico de levantar, sentar, dançar, andar etc. É também uma forma de expressão que utiliza a energia emocional. É uma linguagem sem palavras que o indivíduo aplica para comunicar-se. Em uma sociedade competitiva e estressada, os movimentos tornam-se bloqueados. A naturalidade dá espaço à rigidez. Com a repetição, o corpo vais adoecendo em conjunto com a mente e a emoção. Muitas vezes a pessoa ignora os sintomas que vão se agravando com o tempo, até que seja acometida por alguma doença. Como essa situação pode ser revertida? A resposta está no trabalho de consciência corporal. Tornar-se consciente é aprender a se ouvir, escutar o próprio corpo, necessidades, desejos e vontades. Abrir um canal de comunicação entre razão, emoção e físico. Assim, cada vez mais a pessoa conseguirá harmonizar-se nesses três níveis. A Oficina Corpo Lúdico através de atividades lúdicas como dança de roda, jogos e brincadeiras, exercícios de respiração, postura, equilíbrio e técnicas de relaxamento propõe exatamente este trabalho de reconhecimento, reelaboração, reestruturação, conscientização e transformação para a melhora da qualidade de vida.

ARTE EM TERAPIA PARA DOCENTES: PROMOÇÃO AO BEM-ESTAR E ATITUDE RESILIENTE (COM) Vanessa Di Cássia Fragoso dos Anjos (UFBA) O mal-estar e o estresse que cercam o contexto docente não estão distantes do desassossego que a sociedade contemporânea vive. Os problemas sociais e educacionais se interpelam e se imbricam sendo preciso desfazer os “nós”, especialmente, aqueles demarcados por ideologias que tendem a reduzir o prazer, a felicidade do exercício profissional. Torna-se relevante desvelar os simulacros para ampliar a consciência. Nesta perspectiva, o presente trabalho relata sobre as Oficinas Arteterapêuticas como promoção ao bem-estar docente e o despertar da atitude resiliente nos professores, frente às dificuldades no exercício laboral. O estudo aplicado contou com pesquisas e leituras da Psicologia Social, Analítica e Positiva, além a Arteterapia por possibilitar a mediação artístico-terapêutica que contemplam significativas estratégias para manifestação humana e relevantes estratégias sensoriais para expressão da criatividade e da transcendência Neste espaço de vivência houve a verbalização livre, sem julgamento de certo ou errado, sobre os desgastes e conflitos no dia a dia do trabalho, com abertura para o florescer das emoções, o olhar cuidadoso sobre os medos, sabotadores internos e as inseguranças dos docentes. As impressões socializadas revelaram que o (re) conhecimento das nossas capacidades é o alicerce da resiliência para a ação docente e, se consolida com a valorização do próprio professor. Em contato com a Arteterapia identificaram importante participação no construto de uma sala de aula mais harmônica, em comunhão com o melhor de si e o bem-estar que poderiam proporcionar.

ENTRE A BAHIA E ANGOLA: A DISPUTA PELA CAPOEIRA EM SALVADOR NA DÉCADA DE 1960 (BAN) Tauã Fernandes Junqueira (UESC) Este artigo pretende discutir as relações entre a capoeira Angola e capoeira Regional, a partir de Mestre Bimba e Mestre Pastinha, na cidade de Salvador na década de 1960, no momento em que essa divisão dentro do universo da capoeiragem já está consolidada e seus ícones travam um embate pela tradição da capoeira. Partindo do debate que a História Social Inglesa trás para a historiografia a partir da década de 1960, toma-se como foco desta pesquisa os próprios capoeiristas – suas experiências e suas intenções – a fim fazer uma escrita da História que não reverbere exclusivamente a atuação de personagens das classes sociais dominantes, mas que analise o protagonismo dos seus agentes.

GRUPO DE TRABALHO: “As possibilidades da historiografia literária pensada por e para escritores baianos” Coordenação: Thiago Martins Prado (UNEB) GILFRANCISCO: UM ÍNDIO BAIANO SACUDINDO A HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA SERGIPANA (COM) Thiago Martins Prado (UNEB) Com estudos de diversos escritores sergipanos, o pesquisador Gilfrancisco desafiou a tradição da historiografia literária em Sergipe ao valorizar as perspectivas microscópicas de diversas de suas fontes utilizadas. Sua técnica deriva da não eliminação do caráter contraditório, múltiplo ou lacunoso que compõe as vivências dos escritores investigados, permitindo uma interpretação plural e distante dos perfis congelados e consagrados pela historiografia tradicional. Alimentar as contradições, no discurso da historiografia de Gilfrancisco, é respeitar a multiplicidade de vozes que tentam enunciar, com os meios e as formações que lhe são cabíveis, outras histórias possíveis. Embora o projeto de escrita da história de Gilfrancisco não mais enuncie uma orientação central ou uma verdade histórica capazes de articular os diversos agrupamentos socioculturais, ele apresenta possibilidades de narrativas e significados históricos dentro das próprias diversidades, diferenças e inevitáveis conflitos e contradições.

GRUPO DE TRABALHO: “Bahia(s): literatura, cinema, música, TV e outras transas culturais da província-mundo” Coordenação: Marcos Botelho (UNEB) e Cláudio Novaes (UEFS) SENTIDOS QUE REMETEM A CARACTERIZAÇÃO DA BAHIA COMO TERRA DO PRAZER ESTÃO PRESENTES EM CERTAS REPORTAGENS DO JORNAL NACIONAL, PRINCIPAL TELEJORNAL BRASILEIRO (COM) Débora de Jesus Conceição (IFET) Pretendo analisar uma reportagem que foi ao ar no dia 21/10/2009. Nesta reportagem, o principal efeito de sentido é a Bahia como lugar da liberdade. A reportagem trata do Carnaval de Salvador e da prática comum de beijar uma ou várias pessoas a cada dia de festa. Costume da Bahia ou dos baianos, o fato é que o efeito de sentido nuclear da reportagem é o envolvimento dos turistas numa energia que os contagia e os convida a experimentar os prazeres que a “Boa Terra’’ tem para lhes oferecer. O Carnaval é o momento ápice das expressões de liberdade de baianos e turistas, sujeitos que se rebelam de convenções sociais que lhe prescrevem como agir, determinando o que é aceito ou não. O exagero é a demonstração de uma total liberdade dos instintos. A Bahia, principalmente durante o Carnaval, seria o local em que as pessoas exercitariam sua plena liberdade, liberando seus desejos e impulsos sexuais. Para analisar essa reportagem utilizarei conceitos da AD pecheutiana, tais como memória discursiva, implícitos, pré-construídos e efeitos metafóricos.

INTERSECÇÃO CINEMA E LITERATURA - UM PROJETO ARQUEOLÓGICO PARA O CURTA-METRAGEM CRUZ NA PRAÇA (1959), DE GLAUBER ROCHA (BAN) Fabricio Fernandez Apresentação do o projeto (an)arqueológico para o curta-metragem Cruz na Praça (1959), de Glauber Rocha. Considerado o primeiro tratamento direto sobre o tema da homossexualidade no cinema queer brasileiro, os negativos deste filme estão desaparecidos há mais de 50 anos, de acordo com registro na Cinemateca Brasileira. O trabalho de escavação dos vestígios desta produção audiovisual será realizado a partir de uma intersecção entre as áreas de literatura e cinema, tendo em vista que o filme Cruz na Praça foi produzido por Glauber Rocha a partir de um conto de sua autoria, chamado A Retreta na Praça. À execução desta arqueologia cinematográfica serão utilizadas abordagens metodológicas propostas por Michel Foucault (Arqueologia do Saber) e Ziegfried Zielinski (Arqueologia da Mídia).

A POÉTICA DE ROBERVAL PEREYR: A MIRADA ESTRÁBICA E OS OLHARES MÚLTIPLOS (COM) José Rosa dos Santos Júnior (UNEB) Roberval Pereyr nasceu na cidade de Antônio Cardoso, no estado da Bahia, em 1953. Aos onze anos, em 1964, mudou-se para Feira de Santana, onde vive atualmente. É poeta, ensaísta, ficcionista, desenhista, compositor, teórico e professor universitário. A obra poética de Roberval Pereyr é perpassada pelas diversas experiências acadêmicas, artísticas e ativistas do autor. Tais experiências fundamentalmente literárias, em um processo dinâmico e dialógico, forjam, no bojo do processo criativo do autor, uma série de confluências e de migrações críticas, poéticas, metafóricas, conceituais e criativas entre as suas diversas áreas de atuação. Não obstante, tais migrações proporcionam ao leitor uma forma específica de se ler o texto literário engendrado pelo poeta. O que nos interessa aqui, em primeira e em última instância, é a obra poética do autor. No entanto, adotamos um caminho metodológico que implica a observância das diversas nuances do poeta – enquanto produtor de poesia e produtor de poética - isso se deve pela crença no dialogismo entre as diversas esferas de atuação do cidadão Roberval. Dessa forma, objetivamos elucidar como as diversas vozes, já pontuadas acima, se corroboram no âmago dessa poética múltipla e polifônica forjada por Roberval Pereyr.

GRUPO DE TRABALHO: “Baianidades Rasuradas” Coordenação: Marcelo Aurélio, Braulino Pereira e Lidia Nunes PRÁTICAS DISCURSIVAS DA BAIANIDADE NA AXÉ MUSIC (COM) Braulino Pereira de Santana (ENEB) Esse trabalho tem como objetivo analisar práticas discursivas da baianidade presentes nas letras do Axé Music. A intenção é problematizar o discurso da identidade baiana construído por seu gênero musical mais conhecido.

ENTRE A NEBLINA DO ESQUECIMENTO E A ORIGINALIDADE: REVELAÇÕES DE ‘OUTRAS’ IDENTIDADES EM MARIA DUSÁ, DE LINDOLFO ROCHA (COM) Isaura dos Santos Souza (UEFS) A partir da interface história e literatura, a presente comunicação pretende identificar e problematizar as representações das Lavras Diamantinas – BA, no romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha (1910). Tomando a obra como discurso, e tensionando texto e contexto, procuramos analisar como se opera a construção de sentidos e significados para essa ‘outra Bahia’/ interior sertão revelada nessa narrativa regional precursora, que apresenta traços culturais, linguagem e identidades que conformam esse universo do garimpo. Enfatizo na análise as condições históricas de produção, a representação da paisagem sertaneja e os lugares de identidade garimpeira que pretende preservar ou instaurar.

REALIDADES SOCIOLÓGICAS NO SUL DA BAHIA E O IMAGINÁRIO BAIANO (COM) Joanna Mendonça Carvalho (IFBAIANO) Este trabalho visa a apresentar realidades sociológicas do interior da Bahia que contradizem às imagens que são veiculadas pela grande mídia regional e estadual.

A FRAGILIDADE DA ESSÊNCIA: A BAIANIDADE ENTRE MUDANÇAS E “CONTINUIDADES” (COM) Lidia Nunes Cunha (UESB) Esse trabalho visa a discutir a produção de discursos acadêmicos, escolares e políticos acerca da baianidade e sua fragilidade, perante a um mundo contemporâneo em constantes mudanças tecnológicas e paradigmáticas.

REMINISCÊNCIAS DA MATA ATLÂNTICA PELO FIO MEMÓRIA: REPRESENTAÇÕES DA NATUREZA EM CORPO VIVO, DE ADONIAS FILHO (COM) Manoel Barreto Júnior (UNEB) A memória natural de um povo também pode ser preservada na medida em que se acolhe as matérias difusas de suas narrativas. A tal ponto, a obra literária Corpo Vivo (1962), de Adonias Filho, revela alguns aspectos da representação da natureza, através de realidades simbólicas. Neste sentido, a narrativa adoniana, rememora um imenso substrato natural e memorialístico da região cacaueira da Bahia. Um acervo que testemunha a história e a cultura de uma época, principalmente, pelos tensionamentos das relações entre o homem e a natureza, que buscam nas contradições aparentes rotas alternativas de comunicação. Aspectos que envolvem a eficácia estética desenvolvida por Adonias que apontam para traços intersubjetivos de uma civilização singular, na medida em que se desdobra na (re)criação de terras imaginadas? Afloradas tais questões, a obra se articula pela precipitação contínua do imaginário grapiúna que se verte de memórias in natura, em preservar à Mata Atlântica sulbaiana. Palavras-chave: Representação da natureza; Memórias; Leituras contextuais; Adonias Filho.

POETA DA BAHIA: A BAHIA DE SOSÍGENES COSTA (COM) Marcos Aurélio dos Santos Souza (UNEB) Este estudo visa a analisar o poema de Sosígenes Costa "Poeta da Bahia", no intuito de entendê-lo como rasura da ideia de baianidade e regionalidade. A rasura é uma estratégia discursiva que destitui a ideia da essencialidade do pertencimento artístico, problematizando seu status de verdade apriorística.

UMA LEITURA MÍTICA DA IARARANA DE SOSÍGENES COSTA (COM) Mariana Barbosa Batista (UFLA/UNEF) Sosígenes Costa (1901-1968) na Iararana, epopeia cabocla que compõe a última parte da sua Obra Poética (1978), ao narrar a formação étnico-cultural do Sul da Bahia, compõe também a construção dessa identidade nacional: da miscigenação do branco Tupã-Cavalo, da Iara e do Índio, além do africano. O poeta de Belmonte e as influências dessa cultura híbrida operam, através da literatura, uma reafirmação de traços específicos da região Sul-baiana, juntamente com características marcantes desse povo grapiúna, valorizando a diversidade e sua resistência sobre as dominações exógenas. Destarte, Sosígenes Costa, nesse poema, propõe a reinvenção do discurso histórico, articulado tal como uma espécie de vingança contra o colonizador e seu discurso opressor, corroborado a partir de uma releitura de elementos míticos universais ressignificados pelo imaginário local através de uma linguagem coloquial e de seus contextos peculiares.

O CONTROVERSO “SER BAIANO” PRESENTE EM BAHIA DE TODOS OS SANTOS: GUIA DE RUAS E MISTÉRIOS, DE JORGE AMADO (COM) Tatiane Almeida Ferreira O presente artigo tem como proposta explorar os conceitos de veneno e remédio, em um trecho da obra Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios (1977), de Jorge Amado, onde percebemos a produção de identidade na construção do controverso “ser baiano”. Para tanto, utilizaremos as considerações do filósofo argeliano Jacques Derrida, presentes no livro A Farmácia de Platão (2005), bem como o universo argumentativo da Desconstrução para fazer tal análise, buscando refletir sobre o poder da escrita literária enquanto construtora de identidade.

GRUPO DE TRABALHO: “Baianidades, africanidades e outras latitudes” Coordenção: Comitê Científico A EXPRESSIVA CONCENTRAÇÃO SENSORIAL E PERCEPTIVA DO CONTO DEPOSIÇÃO, DA AUTORA ALAGOANA SOLANGE LAGES (BAN) Aline Daiane da Silva Oliveira Souza (ESTÁCIO UNISEB) Geane da Silva Santos (UNEAL) O presente artigo tem como objetivo principal mostrar a expressividade do conto Deposição, da escritora alagoana Solange Lages, uma doutora em literatura brasileira, premiada pela academia alagoana de letras que se iniciou na vida artística na década de 70 no ateliê de Pierre Chalita, como artista plástica, realizando exposições individuais no Brasil e no exterior. Era casado com o também artista plástico Pierre Chalita. Ambos reconhecidos pelo seu talento no Brasil. A artista tenta em seu conto invulgar a concentração da expressividade em torno da sua obra, com concisão valorizando ao extremo uma corrente sensorial e perceptiva. Em uma linguagem única, moderna, e contemporânea, a autora busca levar aos seus leitores uma sensação de prazer ao ler suas obras. Enfatiza os pontos negativos e positivos do conto com o reflexo do belo e do feio, do passado e do presente. Traça o perfil da personagem em relação ao tempo e sentimentos dos quais esta inserida. Mostra a dificuldade da personagem lidar com sua aparência envelhecida não se reconhecendo naquele rosto enrugado e olhos opacos e cinzentos, tentando com a maquiagem se livrar daquela aparência incomoda. A metodologia utilizada constitui no uso da pesquisa teórica analisando a obra pesquisada incluindo ao nosso trabalho, artigos publicados e fontes secundários de textos.

ASPECTOS CULTURAIS E IDENTITÁRIOS NA COMUNIDADE DOS BATATAS DE IBITITÁ-BA (BAN) Amanda de Araújo Braz da Silva Borges (UNEB) Este estudo busca refletir os aspectos culturais e identitários na comunidade de remanescentes de Quilombo dos Batatas que está localizada na cidade de Ibititá – BA. A comunidade, segundo os registros orais, teve sua construção iniciada no começo do século XX, com a fuga das primeiras famílias da escravidão existente nas fazendas e engenhos da região, e hoje corresponde a com cerca de 150 famílias que residem na comunidade em questão, que vem ao longo do tempo preservando suas raízes e condições para sua sobrevivência; fortemente marcada pela cultura e identidade afrobrasileira. Além disso, este estudo, ainda em âmbito introdutório, busca uma reflexão sobre as ações afirmativas com destaque às manifestações culturais realizadas periodicamente na comunidade que potencializam os discursos de matrizes afrobrasileiras que proporcionam as influências africanas no Território de Identidade de Irecê. Desse modo, através de aporte teórico, cotejaremos os aspectos culturais e identitários da comunidade em face dos debates contemporâneos.

INDÍGENAS E NEGROS: RETRATOS DO BRASIL EM CRÔNICAS COLONIAIS (COM) Carla da Penha Bernardo (UNEB) Nosso trabalho é um artigo feito a partir de antigas crônicas sobre o Brasil e, sobretudo, baseado em nossa dissertação de mestrado, intitulada Edição do manuscrito Noticiário maranhense, descrição do Estado do Maranhão, suas contendas e peregrinas circunstâncias, de 1685, de João de Souza Ferreira. A cópia do Noticiário foi obtida por intermédio do professor da UFRJ Antonio Martins de Araujo, que a recebera do lexicógrafo Antônio Geraldo da Cunha, que, por seu turno, microfilmara o manuscrito original, hoje provavelmente perdido, de seu antigo proprietário, o bibliófilo francês J. J. Renoux. Nosso intuito é o de tecer considerações acerca de temas ligados à colonização e à relação do europeu com os antigos habitantes das terras brasílicas (em especial os da então província do Maranhão e Grão-Pará), tais como: a escravidão do índio, a pequena presença de escravos negros no Maranhão, a animalização de seres humanos, a necessária dependência dos portugueses e o distinto tratamento atribuído ao indígena, a “vitória” da língua portuguesa, os embargos linguísticos sofridos pelos negros no Brasil, os estigmas ligados às línguas indígenas.

CULINÁRIA BAIANA OU CULINÁRIA DA BAHIA: EIS A QUESTÃO! (COM) Érico da Silva França (UNEB) Notadamente marcada pelos modos de preparo e condimentação de africanos (no período colonial e imperial) e seus descendentes (na contemporaneidade), pela utilização do azeite de dendê e da pimenta malagueta e, característica da cidade de Salvador e do Recôncavo Baiano, assim é a Culinária Baiana, que ”reina” na Bahia como se não tivesse rivais. A Culinária da Bahia, por sua vez, é assinalada pela diversidade regional e, apesar da pouca notoriedade, manifesta-se por meio das caranguejadas e peixadas do Sul; das comidas à base de carne e os frutos do mar do Oeste e Leste; e, também da farinha de mandioca, da carne de bode, do feijão verde e dos caldos de carne e peixe na Bacia do São Francisco. Dessa maneira, promover um estudo sobre as diferenças existentes entre os sistemas culinários da Bahia, dentro de um processo histórico-cultural é a principal finalidade desse trabalho. O mesmo procurou identificar e mapear bibliografia e fontes documentais (escritas e visuais) que tratassem do protagonismo da Cozinha Baiana em detrimento Cozinha da Bahia, da relação entre a Culinária Baiana e o turismo e, o processo de disseminação e legitimação da “cozinha negra” por intermédio da mídia e de pessoas públicas (escritores e artistas em geral).

A IDENTIDADE FEMININA NO ROMANCE A PROSTITUTA, DE HERBERTO SALES (BAN) Gabriela Hermes Dourado Neves Joabson Lima Figueiredo (UNEB) Este estudo tem o objetivo de analisar o romance A prostituta (1996), do escritor baiano Herberto Sales (1917-1999). Para tanto se levará em conta a imagem da mulher, filtrada na perspectiva da personagem central da obra, sendo essa uma transgressora das normas morais moldadas pela sociedade do século XX, sociedade essa carregada de tabus e preconceitos contra a mulher. A obra cogita a história de Maria Corumba e suas decepções de jovem que foi abandonada pelo noivo estando grávida que, sem o apoio dos pais viu-se obrigada a sair de casa, após o nascimento de sua filha viajou a Salvador em busca de seu objetivo: tornar-se uma prostituta, o que irá culminar numa transformação de identidade e ressignificação da dicotomia convencionada para as mulheres: “da vida” ou “de família”. Esta nova identidade será construída em defesa dos valores patriarcais e machistas, que constituem os atavismos da sociedade da época em que a obra é ambientada. Neste texto será abordada a trajetória acadêmica do autor. Para esta escrita, no aspecto metodológico da pesquisa bibliográfica e exploratória, serão utilizados como embasamento teórico textos de autores como: Auerbach (2013), Deleuze (1992), Hall (2011), Foucault (2013), Alves (2005) e outros.

BAHIA E AFRODESCENDENTES VERSUS HEMOGLOBINOPATIAS E/OU TALASSEMIAS EM HETEROZIGOSES – UMA REVISÃO DE LITERATURA (COM) Helen Lacerda Edington Fonseca (UNEB) Maria de Fatima Brazil dos Santos Souto (UNEB) Na Bahia, vários trabalhos se referem à presença de hemoglobinopatias (HbS, HbC, HbD) e talassemias (Th alfa e Th beta) em estados de heterozigoses (são assintomáticos). A maioria destas hemoglobinopatias veio dos escravos africanos, sendo que para a Bahia existiu a maior importação de escravos do Brasil. Estudos genéticos de DNA de brasileiros que se declararam brancos mostraram que 60% das linhagens maternas foram africanas, com características do sul do Deserto do Saara, região denominada África Negra. Na linhagem paterna é que se encontram características da população branca. Hemoglobinopatias e talassemias estão presentes no sangue (nas hemácias) e nem sempre estão associadas a características físicas externas (cor da pele, textura do cabelo, formato dos lábios e nariz etc.). A presença de hemoglobinopatias e talassemias alfa em heterozigoses também são evidências de características afrodescendentes.

DITOS POPULARES – UMA EXPERIENCIA NA ESCOLA PEDRO PARANHOS (COM) Idalia Maria Tibiriça Argolo Durante os quinze anos que trabalho na Escola Municipal Pedro Paranhos, como professora de História, tenho observado que os alunos, alguns funcionários da Escola e a comunidade do bairro de Portão, na cidade de Lauro de Freitas, onde está localizada a referida escola, utilizam no seu vocabulário diário ditos populares. Pensando em tentar resgatar essa cultura popular, decidi realizar um trabalho com os alunos do 8° e 9° ano do Ensino Fundamental II de resgate desses ditos populares considerando que estão sendo esquecidos pela nossa juventude. Busquei trazer de volta esses pensamentos que existiram principalmente na memória de pessoas com origens no interior do estado baiano, e muito utilizados entre os séculos XIX e XX, expressando valores, conselhos, advertências, cuidados com a saúde, sempre aplicados em situações corriqueiras e no momento em que o problema se apresenta. Para a realização desse trabalho, solicitei aos alunos do 8º e 9° ano da referida escola, que conversassem com mães, avós e outras senhoras com mais de 60 anos sobre ditos populares e pedissem para que elas escrevessem a medida que fossem lembrando. Após o levantamento de todo o material possível, selecionamos por temas e fizemos comentários sobre o que cada aluno entendeu sobre o dito popular que escolheu e, em seguida, fizessem desenhos sobre os referidos ditos popular. O objetivo desse trabalho é tornar os ditos populares conhecidos pelos alunos jovens e possam resgatar um pouco da nossa memória quase esquecida.

IMAGENS E ELEMENTOS SIMBÓLICOS “AFRICANOS” NAS COMUNIDADES NEGRAS RURAIS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS: UM OLHAR SOBRE O QUILOMBO DOS VICENTES (COM) Itamara Silva Damazio (UFBA) A partir do texto legal de 1988 que dispõe sobre o direito a terra às comunidades negras rurais do Brasil contemporâneo, nomeadas de “Quilombos”, diversas discussões e estudos sobre a indicação dos elementos simbólicos e imagens de representação da cultura negra no contexto destas comunidades ganham significativo destaque e conduzem a reflexão de que maneira tais elementos foram construídos nestes contextos e são considerados preponderantes no sentido de demonstrar características de uma ancestralidade negra-escrava e como os quilombolas apreendem estes constructos, tomando-os como seus ou os relativizando e ressiginificando por se perceberem imbuídos a demonstrar elementos diacríticos pertinentes a nova diferenciação identitária garantida pelo Estado, para que seus direitos e demandas sociais, econômicas, afetivas e de pertencimento com a terra sejam atendidos, como no caso aqui analisado dos quilombolas da comunidade rural e ribeirinha dos Vicentes no município de Xique-Xique na Bahia.

ZAMBIAPUNGA E A MÁSCARA AFRICANA: NOS CAMINHOS DA IDENTIDADE E CULTURA (COM) Jamile Santos de Sena Este trabalho propõe uma investigação acerca dos elementos que compõem a identidade étnica do grupo Zambiapunga, buscando compreender o processo identitário partindo das suas práticas culturais oriundas do legado africano diaspórico. A partir do questionamento de quais elementos da identidade étnica do grupo são enunciados em suas máscaras, pretendemos investigar a importância simbólica da máscara Zambiapunga, identificar, nela, elementos de diferentes grupos étnicos e analisar como essa prática cultural se mantem ao longo de gerações. Esta pesquisa é de natureza qualitativa e é norteada através do estudo etnográfico, com base na produção de Eliade (2012) – (2013); Castro (2001); Geertz (2012); Wagner(2010); Thompson (2000); Halbwachs (2006); Ricouer (1996); Stuart Hall (2003); Barth (1998).

PRESENÇA DO BLACK ENGLISH EM THE COLOR PURPLE (BAN) Joel Menezes Barreto Junior (UESC) O presente estudo decorre do projeto de iniciação científica em andamento Estudo da variante linguística Black English Vernacular (BEV) na literatura Afro-Americana. O trabalho apresenta parte dos resultados acerca dos aspectos sociolinguísticos do BEV presentes na obra afro-americana The Color Purple, de Alice Walker. Tem-se por objetivo a identificação de termos do BEV, a fim de realizar um estudo sociolinguístico com base nos dados coletados. Além disso, estabelecemos uma relação não apenas de língua, mas também de cultura e sociedade. A pesquisa é de cunho bibliográfico, com abordagem quali-quantitativa, por meio de análise e armazenamento dos dados em tabelas e gráficos. Posteriormente, tais dados são analisados sob a luz de Tarallo (1986) e Labov (1972). A partir dos resultados obtidos, visa-se fazer um balanço das ocorrências do BEV e identificar as formas mais predominantes na obra. Além de possibilitar o discernimento das variações da língua inglesa, busca-se discutir os preconceitos linguísticos existentes na sociedade acerca da variação linguística.

EXISTE BAIANIDADE NAS TRADUÇÕES DE JORGE AMADO? (COM) Laura de Almeida (UESC) Este trabalho discute as traduções de algumas obras literárias de Jorge Amado para a língua inglesa. Com base em estudos tradutórios mas também culturais visamos comparar as obras originais com sua tradução. Fundamentando em Aubert (1995; 1996) consideramos que traduzir não é apenas uma questão de léxico, morfologia ou gramática. Além disto, temos a questão cultural que permeia a questão linguística e contribui para a formação da identidade cultural presentes em Fanon (1979), Hall (2002) e Bhabha (2007). Destacamos alguns exemplos de trechos em que a cultura baiana não foi retratada ao ser transposta para a outra cultura. Desta forma, pretendemos analisar a presença da diversidade étnico-racial, cultural e linguística nas obras literárias traduzidas para ouros idiomas. Verificamos que nem sempre existe uma preocupação em manter esta diversidade ao transportar para outra cultura. Assim, entendemos que é preciso evidenciar a riqueza desta diversidade linguística e cultural presente na Bahia e que traduzir uma obra traz em seu bojo mais do que uma troca lexical.

COR, COMPADRIO E PARENTESCO NOS REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO DA FREGUESIA DE SÃO FELIPE – RECÔNCAVO SUL DA BAHIA (1889-1920) (BAN) Leticia Pereira Conceição (UNEB) O estudo tem como objetivo discutir o estabelecimento do compadrio na Freguesia de São Felipe – Recôncavo Sul da Bahia – entre os anos de 1889 á 1920 (período que se configura como Pós-abolição). Buscamos compreender as alianças estabelecidas e os interesses que as moviam, com o intuito de apreender as experiências vividas pelos indivíduos participantes do compadrio. Os registros paroquiais e cíveis foram usados como fontes de investigação, possibilitando entender os índices de apadrinhamento entre indivíduos brancos e negros, refletindo sobre os espaços territoriais e as funções ocupadas pelos moradores da localidade. Torna-se necessário também diferenciar e conceituar as faces que o compadrio possui, sobretudo, o chamado compadrio vertical e o compadrio horizontal, onde o primeiro sinalizaria o pacto estabelecido através do viés socioeconômico – pessoas com posições socioeconômicas menos elevadas firmando tais relações com pessoas de maior status econômico e social, – e o segundo seria o pacto firmado entre sujeitos socialmente iguais, de forma que a relação de apadrinhamento pauta-se sobre o afeto e a formação de alianças sociais dentro do mesmo grupo. Enfim, neste trabalho, buscamos identificar as marcas, memórias, heranças e tradições deixadas na história do atual município de São Felipe, ressaltando a importância das relações de poder ali constituídas, depois da abolição da escravidão.

O BLACK ENGLISH VERNACULAR NA OBRA POSSESSING THE SECRET OF JOY, DE ALICE WALKER (BAN) Maria Luiza dos Santos Rosa Vieira (UESC) Laura de Almeida O presente estudo trata do projeto de iniciação cientifica em andamento Estudo da variante linguística Black English Vernacular (BEV) na Literatura Afro-Americana. Este trabalho apresenta uma amostra dos resultados obtidos a partir da coleta de dados feita baseada na obra afro-americana Possessing the secret of Joy, de Alice Walker, visando à identificação dos aspectos sociolinguisticos relacionados a termos do Black English Vernacular (BEV). A pesquisa objetiva-se na identificação de termos do BEV, para que possa ser realizado um estudo detalhado dos aspectos linguísticos, sociais e culturais dessa variante com base nos dados coletados. Tem como procedimento de investigação a pesquisa bibliográfica, com abordagem quali-quantitativa, utilizando-se de tabelas e gráficos para o armazenamento e análise dos dados coletados. Em seguida, estes dados foram analisados com base em estudos dos autores Tarallo (1986) e Labov (1972). A partir dos resultados obtidos, foi verificada a quantidade de ocorrências do BEV na obra estudada e será feito um balanço para identificar os termos variantes. Busca-se um estudo da variação da língua inglesa, e desmistificar o preconceito existente na sociedade.

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO NUTRICIONAL EM ATLETAS DE CAPOEIRA DE SALVADOR-BAHIA (COM) Mariana Pereira Santana Real (UNEB) Reconhecida internacionalmente como uma modalidade esportiva, a capoeira ainda vem resistindo às várias repressões e vencendo alguns desafios que visam à valorização desta arte, considerada Patrimônio Cultural do Brasil. Objetivou-se, no presente estudo, avaliar o conhecimento nutricional de atletas de capoeira de Salvador-BA. Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva, composta por uma amostra de 31 atletas, filiados à Federação de Capoeira da Bahia. Foram utilizados dois questionários para a execução do estudo, onde o primeiro mediu o nível sócio econômico e escolaridade e o segundo o conhecimento nutricional. Os dados foram tabulados com auxílio do software Microsoft Excel 2007 e analisados com uso do programa SPSS for Windows 13. De acordo com os resultados encontrados, 74,2% da amostra foi composta por participantes do sexo masculino (n=23) e 25,8% do sexo feminino (n=8). Entre os domínios que avaliaram o conhecimento nutricional dos atletas, o domínio 1, referente à gorduras trans foi o que obteve maior pontos na média, onde atletas com o nível superior completo (0,84 ± 0,21) e pessoas pertencentes às classes sociais mais elevadas (0,81 ± 0,24) obtiveram maiores pontuações. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre o conhecimento nutricional, os domínios estudados e a raça dos participantes. Dessa forma, verificou-se a necessidade de orientação nutricional que ressalte a saúde e bem estar no esporte, tanto para aqueles atletas que alcançaram menores pontuações, quanto os que obtiveram maiores médias.

QUEM DEFENDE A HONRA DE PRETAS E PARDAS? MULHERES NEGRAS NOS PROCESSOS DE CRIMES SEXUAIS (CAETITÉ, 1912-1939) (COM) Miléia Santos Almeida Este trabalho pretende analisar experiências de mulheres negras nas primeiras décadas do século XX, tendo como cenário a região do alto sertão da Bahia, onde se localiza a cidade de Caetité. Por meio de fragmentos de suas trajetórias presentes em processos criminais de defloramento e estupro, torna-se possível vislumbrar aspectos da sociedade da época e ressignificar os papeis desempenhados por estes sujeitos. Marcos históricos como a abolição da escravidão e a implantação do regime republicano no Brasil tiveram repercussão nos discursos da elite, sobretudo, intelectual médica e jurídica. Por sua vez, as teorias de eugenia racial propagadas no país invisibilizaram o recorte de raça nos estudos sobre gênero durante muito tempo. Assim, este estudo se faz relevante por romper os silêncios da historiografia e dar visibilidade a estas mulheres pretas e pardas que, por meio de suas ações nos processos judiciais, revelam resistências aos velhos e novos padrões morais estabelecidos pelas classes dominantes, tais como a noção de “honra sexual”, trazida no bojo do código criminal de 1890 e símbolo da tentativa de moralização da sociedade republicana. Amparando-se no arcabouço teórico dos estudos de gênero e suas interseccionalidades com outras categorias, e tendo como eixo norteador as pesquisas desenvolvidas na região acerca da história das mulheres e estudos de escravidão, pretende-se contribuir com a problematização dos estudos feministas interseccionais, oferecendo ao alto sertão da Bahia novos horizontes de pesquisa.

A IDENTIDADE EM IMAGEM: RETRATOS DA FEIRA-LIVRE DE COITÉ-BA (COM) Moisés dos Santos Viana (UNEB) O objetivo é apresentar e analisar o processo das interações simbólicas através das imagens da feira-livre de Conceição de Coité-BA, buscando relacionar as imagens como amostra das referências culturais que esse evento representa. De toda sorte, mais que uma categoria da política cultural, observa-se que as referências culturais se apresentam em um campo reflexivo de ordem comunicacional. Para tanto, fez-se uma reflexão sobre as fotografias da feira-livre ao observar a construção de significados das imagens que retrata formas, processos e interações, específicas do local.

ROSAS DO JARDIM SOLITRAIO, DE ANÍSIO MELHOR, EM O CONSERVADOR: EDIÇÃO INTERPRETATIVA (BAN) Nair Caroline Santos Ramos A Filologia é uma ciência antiquíssima, possui um vasto conjunto de conhecimentos e trabalha com a linguagem de modos diversos. Por meio deste saber, objetiva-se apresentar neste trabalho uma edição interpretativa da reunião de sonetos do escritor baiano Anísio Melhor. Os versos editados foram resgatados no periódico O Conservador, este, por sua vez, no inicio do século XX tornou-se o principal órgão de comunicação e de difusão da cultura do Recôncavo Baiano. Buscou-se ainda divulgar o trabalho literário do escritor em questão, livrando do descaso dos arquivos públicos. Este artigo é fruto de um subprojeto de pesquisa intitulado Edição de Textos Literários e Não Literários Publicados em O Conservador, idealizado e coordenado pela professora doutora Maria da Conceição Reis Teixeira.

BAIANIDADES VISUAIS: CONTRIBUIÇÃO DE ARTISTAS AFRO-BRASILEIROS NAS ARTES PLÁSTICAS DO BRASIL (COM) Nelma Cristina Silva Barbosa de Mattos (UFBA) O trabalho traça um breve panorama das artes visuais afro-brasileiras, destacando a contribuição de alguns baianos para esse campo. Discute a noção de artista e de arte afro-brasileira, situando-os no sistema oficial da arte. Revisa a presença do profissional negro de artes plásticas, oriundo da Bahia, analisando sua formação e trajetória artística. O negro contribuiu com a arte brasileira desde os primeiros momentos da colonização. A mão de obra escravizada e negra serviu às corporações de ofício da Colônia, deixando importante legado para a cultura visual nacional. Com a implantação do sistema de ensino acadêmico, os artistas passaram a ter que provar seus talentos individuais. A educação profissional, no século XIX, tornou-se importante meio de formação do artista de origem negra. A criação da Academia de Belas Artes da Bahia, em 1877, também instruiu negros e mestiços no campo da arte. O modernismo influenciou o reaparecimento do artista negro no século XX, bem como a arte contemporânea ampliou os diálogos com o universo afro-brasileiro visual. Através de uma pesquisa bibliográfica, analisamos as participações de Manoel Querino, Agnaldo Manoel dos Santos, Rubem Valentim, entre outros, no campo concernente às visualidades de origem africana no Brasil. Pontua também o papel de criadores estrangeiros no fazer artístico afro-brasileiro. O negro na arte moderna e contemporânea e o ideal de Bahia. O estudo salienta a contribuição de artistas baianos ao que se conhece hoje como arte afro-brasileira.

DO MORRO AO ASFALTO OU COMO O SAMBA SAIU DOS TERREIROS PARA ENTRAR NO PALÁCIO (COM) Paulo Roberto Alves dos Santos Em menos de vinte anos, o samba se transformou de manifestação marginal a um dos principais elementos para a integração nacional, elevando-se à condição de expressão da cultura brasileira. Em seu romance Desde que o samba é samba (2012), ambientado nas décadas de 1920 e 1930, Paulo Lins traz para a literatura personagens e cenários daquele momento, quando a música popular brasileira surgia e se consolidava, participando decisivamente do esforço que o governo Vargas fazia para estabelecer uma unidade política e cultural no Brasil. Nesse processo, o samba deu voz aos negros, trouxe para o primeiro plano o cotidiano da população negra do Rio de Janeiro e seu universo cultural. Assim, pretendemos estabelecer relações entre a literatura e a música no que se refere à representação do negro brasileiro no período em questão. Palavras-chave: Literatura e música; Literatura e História; Literatura Brasileira.

JEHOVÁ DE CARVALHO: CRÔNICA E CIDADE (COM) Raimundo Dalvo da Costa Silva (UNEB) Este trabalho consiste em recuperar a vida e obra do cronista baiano Jehová de Carvalho, na sua relação com a cidade de Salvador e a cultura africana. Para melhor entendermos essa comunicação, entre Salvador e a cultura africana, recorremos às crônicas publicadas nos jornais Diário de Notícias, A Tarde e ao livro A cidade que não dorme: crônicas noturnas de São Salvador da Bahia.

CUBA BAHIA (BAN) Regiane de Souza Costa (UEFS) Este trabalho tem por meta analisar as relações interculturais entre Brasil e Cuba presentes na religião, arte e gastronomia. Essas relações não são apenas similitudes, contém em sua historicidade conexões muito mais profundas entre o Brasil especialmente a Bahia e a ilha caribenha Cuba. A diáspora negra em Cuba assim como no Brasil foi muito intensa, Cuba foi um dos últimos países a acabar com o tráfico negreiro, a escravidão na ilha foi abolida em 1886, enquanto no Brasil a abolição ocorreu em 13 de maio de 1888. Mais da metade da população cubana é composta por mestiços descendentes de várias etnias, entre elas a mais numerosa foi a Yorubá assim como na Bahia especialmente Salvador e no recôncavo, motivo pelo qual a religião dessa etnia se firmou tanto em Cuba com a santeira, como em Salvador na Bahia com o candomblé. Na dança os laços entre Bahia e Cuba estão presentes entre outros no samba e na salsa, a gastronomia também teve sua herança, a feijoada é ainda um dos pratos que definem a culinária brasileira, todavia o que podemos falar então do frijol cubano? Tanto o frijol cubano quanto a feijoada derivaram de estratégias de sobrevivência e criatividade dos antigos escravos que dispunha de pouca comida. Em suma existem ligações profundas entre a Bahia e Cuba, relações essas que fogem dos estereótipos dos livros de história, e são resultados da rica e multicultural herança africana.

ÁFRICA: SUAS PERSPECTIVAS DE ENSINO E REFLEXO EM SALAS DO ENSINO MÉDIO (BAN) Rodrigo Brito Santos (UESB) Esse trabalho vem tratar da aplicabilidade da lei 10.639 promulgada em 2003, mais de 100 anos após a abolição da escravidão, sua aplicabilidade e especificamente dos reflexos do contato dos alunos entre o primeiro e o terceiro ano no ensino médio, com a história da África, suas reações e posicionamentos, como os alunos pertencem a uma sociedade pautada no espetáculo, onde a mídia é expoente da produção do capital, esta mídia que vende o que o opressor diz, por muito tempo e até hoje, quando se trata de continente africano ou africanidade, deturpa o que realmente acontece. Ora, nossos estudantes não tem a oportunidade de ir para além do que se diz a mídia sobre África, essa visão que vem cercada de discriminação em muitas vezes, a lei vem para desconstruir isso, sem vitimar, mostrando o plural e principalmente, mostrando uma África que pode e deve ser enxergada no Brasil, pontuando nossa história em conjunto com a história de determinadas partes do continente africano. Índio, caboclo, cafuzo, crioulo, é esse o Brasil, no censo brasileiro os mestiços são classificados como pardos, mas, alguns deles por questão ideológica se consideram negros afrodescendentes, os negros do Brasil hoje, são descendentes de africanos trazidos pra cá pelo tráfico negreiro. Economicamente, culturalmente e demograficamente os africanos trazidos para o Brasil construíram esse lugar, a diáspora está explicita.

ACONTECE QUE SÃO BAIANOS: UMA ANALISE GRÁFICA DAS FOTORREPORTAGENS DE PIERRE VERGER SOBRE O LEGADO AFROBRASILEIRO NA COSTA OCIDENTAL AFRICANA (COM) Ronaldo dos Santos da Paixão O presente artigo é parte de uma pesquisa desenvolvida no mestrado, sobre a análise da diagramação de uma das fotorreportagens de Pierre Verger com texto de Gilberto Freyre, intitulada Acontece que são baianos, publicada na revista O Cruzeiro de 11/08/1951. A pesquisa objetivou analisar, por meio da diagramação, a composição da fotorreportagem nos espaços da página e como essa estrutura o sentido da narrativa visual de Pierre Verger referentes às festividades levadas pelos descendentes de afrobrasileiros, afro-baianos, conhecidos como retornados e localmente chamados de agudás , na cidade de Porto Novo no Benim, costa ocidental africana. Por meio da análise da diagramação dos leiautes das páginas da fotorreportagem procurou-se perceber como um tema relacionado a prática cultural afro-brasileira foi trabalho e organizada pela composição gráfica.

UMA EXPERIÊNCIA DE INICIAÇÃO O À DOCÊNCIA NA OFICINA DE ARTE: ABAYOMI, RESISTÊNCIA SIM, CONFORMISMO NÃO (COM) Teresa Letícia Souza Rodrigues Antonieta Miguel Este trabalho objetiva apresentar a experiência desenvolvida com os educandos do Colégio Estadual Seminário São José, localizado na cidade de Caetité, Bahia. No intuito de dinamizar uma atividade de Arte juntamente com os pibidianos da UNEB, o grupo pensou em dar enfoque na questão da identidade devido a dificuldade que os alunos têm de se reconhecerem e terem atitudes de pertencimento com a cultura afro brasileira. As ações estavam ligadas diretamente com o projeto maior da escola que é Consciência Negra, assim, todas as atividades desenvolvidas durante este ano de 2014 tiveram como foco esta temática. Os trabalhos foram pautados no subprojeto do PIBID/ História A Formação Inicial do Professor de História e sua atuação na Escola Básica: o oficio do historiador na docência, na busca de oportunizar aos discentes do curso de história, do campus VI, Caetité, a experiência necessária no cotidiano do ambiente escolar para sua formação de historiador, visando conhecer as demandas da disciplina de história nas instituições da Educação Básica. A problemática parte da visão dos educandos para com a própria identidade, por isso a proposta do trabalho com as bonecas de pano foi a forma escolhida.

OS MARGINAIS DE EVEL ROCHA (COM) Uryelton de Sousa Ferreira (UNIR) A presente pesquisa, com escopo na análise do romance Marginais (2010), do escritor cabo-verdiano Evel Rocha, visa identificar, compreender e teorizar como o discurso literário se constrói a partir de temas tabus para a literatura cabo-verdiana, tendo por norte o exame de aspectos sócio-psicológicos dos personagens, concentrando nossa visada para a análise do próprio processo fabular, que aponta, de maneira clara, as aflições e desgostos de adolescentes marginalizados por uma sociedade excludente e preconceituosa, nos moldes do mestre Jorge Amado nos seus Capitães da Areia, aspectos estes já observados pela teórica Érica Pereira Antunes. O romance Marginais tem recebido especial atenção nos cursos strictu sensu sobre o romance cabo-verdiano ministrados na Universidade de São Paulo, pela Professora Doutora Simone Caputo Gomes, portanto, trata-se da primeira tentativa de sistematização mais intensa do conhecimento dessa obra, que chama a atenção do leitor para a realidade dos excluídos de Cabo Verde, condição marcada no romance por temas como violência, a fome, drogas e prostituição, delineada por um panorama de ausência de uma perspectiva clara da superação de tais desigualdades sociais. Destarte, concentraremos nossa pesquisa, tomando por empréstimo o aporte teórico produzido por Bhabha (1998), Georg Lúkacs (1963), Louis Althusser (1985),Stuart Hall (2006), Walter Benjamin (1993), Antônio Cândido (1993) e Vima Lia de Rossi Martin (2008), dentre outros.

GRUPO DE TRABALHO: “Brasil – África – Mercosul: direitos humanos emancipatórios, Educação em Direitos Humanos, Filosofia da Libertação, (De)Colonialidade do Pensamento e Epistemologias do Sul. Crítica a ideologia da Dominação e exclusão” Coordenação: José Cláudio Rocha (UNEB), Denise A. B. F. Rocha (UNEB) e Luís Carlos Rocha (UNEB) DIREITOS HUMANOS, DIGNIDADE, DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL (COM) Ana Maria Maciel Bittencourt Passos (UNEB) O presente artigo aborda o tema Direitos Humanos, Democracia, Dignidade no Brasil e objetiva discutir a Educação, a partir da Filosofia da Libertação, e fazer uma reflexão sobre a Educação em Direitos Humanos na América Latina enquanto um projeto emancipatório. Identifica-se que alguns teóricos em diversas áreas do conhecimento, resolveram se preocupar com a Dominação e consequente Exclusão e a fundamentar o pensamento político e jurídico latino-americano na Teoria Crítica. Para afirmar-se se há emancipação, imperioso seja estendida a compreensão sobre a democracia e a cidadania ativa. A partir desse escopo, constata-se que sem Direitos Humanos não há que se falar em Democracia e que o fundamento dos Direitos Humanos é o reconhecimento da Dignidade inerente a todo ser humano.

UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O ENSINO DA HISTÓRIA AFRICANA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA A PARTIR DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS DOCENTES DE ALAGOINHAS-BA (COM) Edite Nascimento Lopes (UNEB) Através deste trabalho, pretende-se refletir a partir dos relatos e das práticas pedagógicas dos professores, das escolas públicas de Alagoinhas Bahia, quais são os obstáculos que aparecem na hora de se produzir conhecimento sobre a Cultura afrobrasileira e africana. Alagoinhas é um município brasileiro, que está localizado no leste da Bahia. Com a implantação da lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história da África e da cultura afro-brasileira no ambiente escolar. Percebem-se grandes dificuldades encontradas por partes dos professores na hora de aplicar os conteúdos em sala de aula, muitos desses educadores, não possuem cursos de formação sobre a temática. Diante destes fatos, acabam reproduzindo em suas práticas pedagógicas imagens negativas do continente africano, levando para sala de aula, conteúdos eivados de preconceitos e a ideia de uma África homogênea, que em nada contribui para entender a cultura afro-brasileira. Em geral o continente é trazido como se fosse um país primitivo, selvagem onde prevalecem as doenças, as fomes e a ausência de valores culturais. Neste aspecto, é preciso desmistificar a ideia de África monolítica, enraizadas nas práticas pedagógicas, dos professores das escolas públicas do município de Alagoinhas, para melhor trabalhar o ensino da cultura afro-brasileira na sala de aula.

A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS COMO MECANISMO EXTRA JUDICIAL DE JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA ÁFRICA DO SUL (COM) José Claudio Rocha (UNEB) O presente trabalho é fruto da pesquisa de pós-doutorado realizado no Núcleo EIRENE da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Versa sobre a Educação em Direitos Humanos (EDH) como Mecanismo Extrajudicial de Justiça de Transição na África do Sul. A partir de um leitura que tem como base os direitos humanos emancipatórios - fundados na filosofia da libertação - busca-se compreender o papel social dos diversos atores no contexto social, as distinções entre a justiça restaurativa e a justiça retributiva, como a educação em direitos humanos pode ser usada em processos de justiça de transição na reconciliação das pessoas, no combate a violência residual e na afirmação dos direitos humanos, da cidadania e do Estado Democrático de Direito.

GRUPO DE TRABALHO: “Brasil e países da África: parceria sul-sul para a cooperação e para o desenvolvimento” Coordenação: Acácio Sidinei Almeida Santos (UNILAB), Juvenal Carvalho (UFRB),Wilson Roberto de Mattos (UNEB) EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE: PROJETO DE PROMOÇÃO DE SAÚDE COMUNITÁRIA EM MOÇAMBIQUE/ÁFRICA EXPERIENCIA NO CONTEXTO SULSUL (COM) Jacqueline Meire Santos A educação para a saúde abarca o desafio de propor aprendizado voltado para mudanças de hábitos que impactem positivamente nos usos e costumes das pessoas. Nessa perspectiva, o presente trabalho se propõe a refletir sobre como a educação se constitui como uma importante ferramenta à saúde pública na Contemporaneidade, afinal a escola tem grande potencial de colaboração para a disseminação de conhecimentos sobre o tema no que se refere aos meios de prevenção e cuidados. Para isso, tomaremos como referenciais um projeto de intervenção social denominado Projeto de Promoção de Saúde Comunitária-PPS, onde a formação de professores foi realizada a luz da educação popular a partir de 2010, em Moçambique/África. Partindo de pressupostos como a colaboração, a participação e a reflexão sobre a prática como pontos centrais da discussão. Desse modo, será realizada uma análise crítica e reflexiva acerca das categorias centrais da pesquisa: educação popular, promoção de saúde comunitária, almejando problematizar e refletir sobre entrelaçamento da discussão da educação para a saúde. A discussão teórica é realizada a partir de autores como: Vasconcelos (2008), Valla (1993), Freire (2005), Brandão (2006), Santos (2006). Por ter vivenciando a experiência do projeto de intervenção social realizado em Moçambique/África acredito que o estudo possa contribuir com a discussão de educação e saúde no eixo de cooperação internacional sul-sul, uma vez que a relação saúde e doença é um problema de ordem social e os processos de ensino-aprendizagem deste conteúdo estão em diversas esferas da vida. COOPERAÇÃO BRASIL-GUINÉ BISSAU NA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO PERÍODO DE 2003-2013: O CASO DO PROGRAMA ESTUDANTE-CONVÊNIO DE GRADUAÇÃO (PEC-G) COM) Lorena de Lima Marques (UFBA) No âmbito da cooperação internacional para o desenvolvimento, o Brasil tem realizado vários projetos em parceria com a Guiné Bissau em áreas como educação, saúde, energia, agricultura, entre outras e que se inserem na perspectiva da Cooperação SulSul, apresentada no plano do discurso como um processo de parcerias e trocas entre os países em desenvolvimento nos domínios político, econômico, social, cultural e técnico a fim de obter benefícios mútuos. Neste sentido, o presente artigo tem o objetivo de analisar a experiência da cooperação acadêmica do Brasil com a Guiné Bissau por meio do Programa Estudante-Convênio de Graduação (PEC-G), o mais antigo programa de cooperação educacional promovido pelo Brasil e, desta forma, contribuir para provocar reflexões sobre a forma como o Brasil, enquanto prestador de cooperação internacional para o desenvolvimento se insere neste contexto e, se as ações brasileiras representam uma forma alternativa de prestar cooperação ou se reproduzem as dinâmicas e hierarquias observadas na tradicional Cooperação NorteSul. Ademais, busca-se compreender como a cooperação acadêmica do Brasil por meio do PEC-G, parte de uma agenda positiva de política externa, contribui para diversificá-la. Destaca-se ainda que este artigo é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento.

GRUPO DE TRABALHO: “Campo religioso brasileiro: um olhar sobre a Bahia” Coordenação: Antônio Lopes Ribeiro YEYE OMO EJA- UMA MÃE, UMA GUERREIRA, UMA SANTIDADE AFRICANA EM TERRAS BRASILEIRAS (COM) Raphael Lisboa de Souza O presente trabalho tem por objetivo falar sobre o culto a yaba Yemanja, sobre a sua importância no campo da fertilidade e da maternidade, e mostrar através dela a importância do papel feminino dentro das religiões de matriz africana. O presente texto conta ainda a trajetória de vinda dessa yaba, o processo de enbranquecimento sofrido a partir do processo do sincretismo religioso e da influencia europeia através da assimilação de sua imagem a imagem de outras deusas e divindades europeias, como por exemplo, as sereias. No mesmo texto, tratamos do nascimento da festa realizada no dia 2 de fevereiro e de suas mudanças ao longo do tempo até ser considerada um dos pontos mais altos do calendário festivo de Salvador.

GRUPO DE TRABALHO: “Crianças, infâncias, linguagens e interseccionalidade” Coordenação: Flávia de Jesus Damião (UFBA) e Ana Lúcia Soares da Conceição Araújo (UFBA) DESAFIOS DA INTERSECCIONALIDADE DE RAÇA/ETNIA, SEXUALIDADE E DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA (COM) Ana Lúcia Gomes da Silva (UNEB) Este texto objetiva apresentar, a partir de experiências pedagógicas aqui relatadas, reflexões sobre a educação libertária numa perspectiva de promoção de igualdade e equidade de gênero e etnia/raça, possibilitando construções de sentido acerca de um fazer pedagógico implicado e engajado num projeto de educação que nos desafia a articular as categorias de gênero, etnia/raça e sexualidade, numa perspectiva interseccional, percebendo as implicações de um fazer pedagógico que se constitui nos desafios de educar homens e mulheres num espaço escolar gendrado, racializado e generificante, buscando assim descontruir estereótipos e relativizar, ressignificar e deslegitimar discursos e verdades que são perpetuadas a partir das construções histórico-sociocultirais e discursivas do pensamento hegemônico. Neste contexto, é a partir da leitura analítica das interpelações dos inúmeros discursos que são veiculados na mídia e na publicidade, das construções discursivas constituídas pelas múltiplas linguagens, que buscamos ancorar nosso trabalho em sala de aula e em outros espaços de aprendizagem. Para subsidiar as reflexões e análise tecidas neste texto, escolhemos para ancorar nosso diálogo autores como Louro (2007), Safiott (1992), Freire (2007), Kimberlé Crenshaw (2002), Orlandi (2005), Fernandes (2008), Fiorin (2002), Teles(2003), dentre outros. A leitura dos textos de campanhas publicitárias e de produtos foram realizadas à luz da Análise do Discurso e gênero e raça/etnia como categorias de análise. As observações realizadas numa perspectiva de uma “etnografia crítica de sala” para utilizar uma expressão gerteziana , apontam para as possíveis intervenções que nós, educadores e educadoras, podemos realizar se a sua prática pedagógica tiver como projeto educativo o ato político implicado na formação humana com vistas à promoção da igualdade e equidade de gênero e, apontam ainda para o desafio de estabelecermos o enlace das interseccionalidades de etnia/raça e sexualidade, nos permitindo, assim, o exercício de buscar superar a nossa formação limitada, a qual deve ser constante e constitutivamente “alimentada” pela pesquisa, estudos e, diálogos interdisciplinares com outros colegas em rede de solidariedade, realizando assim, partilhas de conhecimento numa perspectiva multi, inter e transdisciplinar, buscando transcender ao especialismo e ao racionalismo cartesiano e positivista que nos deforma e nos enclausura. São as experiências exitosas que ainda são tão pouco divulgadas e circuladas, que nos move em busca de uma educação de fato emancipatória. Assim, sugerimos também necessária à ampla divulgação dessas experiências em espaços acadêmicos e transacadêmicos e, conseguintemente, a sua catalogação para que, de forma eficaz e implicada, possamos construir uma educação libertária – promotora da equidade e da igualdade.

A APLICAÇÃO DO RPG NO ENSINO ATRAVÉS DO LÚDICO Ana Carla Souza dos Santos Santos O presente estudo tem como principal objetivo apresentar uma proposta pedagógica que possibilite a melhora do ensino de História da Bahia através do lúdico (o brincar). Pretendemos discutir como o jogo digital na modalidade RPG pode contribuir e envolver sujeitos/ jogadores no espaço escolar de ensino, abordando temas transversais e fazendo, assim, uma interação com o prazer (brincar) e o dever (fazer). Nesse sentido, é necessário pensar o recreio como tempo e espaço de aprendizagem e brincadeira. Nele, os jogadores seriam responsáveis por transformar uma escola decadente na escola "ideal", que, uma vez construída, envidaria esforços para a manutenção desse espaço, a sociabilização de alunos e professores e outros profissionais nesse ambiente e a construção de uma nova relação dessa escola com a comunidade.

INFÂNCIAS, CRIANÇAS E CULTURAS: A GINGA DA (DES) CONSTRUÇÃO NA RODA DA SOCIEDADE (COM) Ana Lúcia Soares da Conceição Araújo (UFBA) Este artigo propõe-se a fazer uma reflexão teórica tendo os elementos da capoeira como eixo de discussão filosófica para as concepções de crianças e infâncias construídas da modernidade a contemporaneidade. A partir dos conceitos de desconstrução cunhado por Derrida (1967) e os aportes contemporâneos da Sociologia da Infância sobre infância, criança e geração trazidos por Jens Qvvortrup (2000), Manuel Sarmento (2003) e William Corsaro (2011) a capacidade das crianças com seus pares de sistematizarem modos de significação do mundo e de ação intencional diferentes dos modos de significação e ação dos adultos nos contextos em que estão inseridas, sendo sujeitos ativos produtores da cultura.

INFÂNCIA ENJEITADA NA SALVADOR DO SÉCULO XIX: A SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA E A EDUCAÇÃO DOS EXPOSTOS (COM) Ana Paula de Souza (UFRB) Este artigo tem como objetivo apresentar os meandros que percorrem as ações educativas voltadas para a infância que foi desenvolvida pela Santa de Misericórdia da Bahia, na cidade de Salvador. Criada para prestar assistência social à população da cidade, esta firmou sua atuação político-administrativa com ações de cunho filantrópico prestando acolhimento aos pobres e crianças enjeitadas. Entre os propósitos do Asilo estava o cuidado com a preservação da ordem através da educação religiosa e do trabalho, pois a educação rígida e disciplinar ali prestada conteria as inquietações dos internos. Nota-se que o cuidado com a infância durante muito tempo se deu unicamente por meio das ações do Asilo, que cuidavam dos seus internos desde a atenção à saúde até o cuidado espiritual – a preocupação com o batismo dos internos era candente na Santa Casa. As crianças eram educadas nos moldes religiosos para que fosse mantido o bom caráter do indivíduo, e separadamente, meninos e meninas cresciam predestinados a constituírem suas famílias e se tornarem pessoas de bem. Educadas para serem boas mães e cuidadoras do lar, as meninas se apropriavam de prendas transmitidas pelas irmãs de caridade, e aprendiam rudimento de leitura. Em tempos em que a atenção para a infância não tinha nenhum prestígio, já que a municipalidade se recusava a prestar tal cuidado, cabia a esta instituição prestar o apoio necessário para a preservação da ordem social da época.

CONTESTAÇÕES, REIVINDICAÇÕES E AFIRMAÇÕES DAS IDENTIDADES NEGRAS NO LIVRO DIDÁTICO (COM) Josane Silva Souza (UFBA) As histórias das pessoas negras são marcadas, desde o princípio, pela diversidade cultural e étnica, antes mesmo de terem seus espaços invadidos ou de serem diasporizados. O processo de hibridização não se inicia com a chegada dos europeus no continente africano, porém toma novas formas, reguladas pela opressão em alguns momentos e pela negociação em outros, especialmente por uma imposição higienista, na qual a referência cultural deveria ser, decisivamente, eurocêntrica, ainda que o espaço físico ocupado pelas negras e negros não tivesse tanta relevância para a construção desse novo projeto, demarcado pela exploração e que até a atualidade é fonte de conflitos sociais. É emaranhada nesses registros, que proponho, para este trabalho, analisar como negras e negros são representados nos livros didáticos de língua espanhola do PNLD de 2015, uma vez que o espanhol se tornou disciplina obrigatória a partir da Lei 11.161/2005 e, portanto, tem compromisso com os preceitos empreendidos pela Lei 10.639/2003 que indicam, a partir das DCN, que todas as disciplinas devem trabalhar de forma interdisciplinar para que negras e negros sejam representados de forma complexa e não estereotipada, já que suas aparições nos veículos aos quais nossos alunos têm acesso ainda tem sido ao longo dos anos, quase sempre, pautadas pela falta de afeto, de família, de vínculos, de complexidade.

PARA A INFÂNCIA NEGRA, CONSTRUIREMOS UM MUNDO DIFERENTE”: EM QUE A NOÇÃO DE RAÇA PODE CONTRIBUIR PARA COMPREENDERMOS A(S) INFÂNCIA(S) BRASILEIRA(S) (COM) Míghian Danae Ferreira Nunes (USP) O debate na área educacional sobre a importância de uma educação para as relações étnico-raciais e alguns estudos (TELLES, 2003; D’ADESKY, 2001; MOORE, 2007) que tratam sobre raça fazem-nos pensar nas possibilidades presentes para a compreensão da(s) infância(s) existente(s) em nossa sociedade, marcada pela diferença e também pela desigualdade social. Nesta perspectiva, neste texto abordase brevemente a noção de raça como conceito histórico/sociológico (MUNANGA, 2003, 2006; GUIMARÃES, 2003; CASHMORE, 2000), realizando uma relação desta noção com os estudos que vem empreendendo a sociologia da infância na pesquisa sobre/com crianças (CORSARO, 2011; PRADO, 2012; SANTIAGO, 2014). Ampliando o debate para a área educacional, busca-se recuperar as exigências contidas na legislação que aborda o tema da educação para as relações étnico-raciais, que afirma a importância de congregar as diferentes experiências de vida para a construção de uma educação justa e de igual oportunidade para todas as pessoas, o que inclui, sem sombra de dúvida, a educação das crianças desde muito pequenas. Ao incluir as questões étnico-raciais na pesquisa com crianças, questionam-se as pretensas noções de neutralidade e de universalidade presentes nas ciências humanas e destaca-se o debate sobre infância(s) de uma perspectiva que amplia olhares, buscando encontrar novas formas de compreender realidades. Parece importante também que se possam questionar os percursos metodológicos utilizados para pesquisas e perceber o quanto estas levam em conta os dados relacionados aos aspectos de raça em suas análises. Assim, pretende-se contribuir e fazer avançar a interface entre o estudo das relações étnico-raciais e a sociologia da infância.

GRUPO DE TRABALHO: “Cultura de tradição oral” Coordenação: Domingos Ailton Ribeiro de Carvalho (ABL) NARRATIVAS ORAIS NUM QUILOMBO DO SERTÃO: IDENTIDADE E CULTURA POPULAR EM VOLTA GRANDE-BA (COM) Carlene Vieira Dourado (UNEB) O presente estudo, parte integrante de projeto de pesquisa em fase de desenvolvimento, tem como objetivo identificar as representações sociais, as marcas culturais e a identidade étnico-racial representada nas narrativas orais da comunidade quilombola de Volta Grande, município de Barro Alto, sertão baiano. A coleta de dados ocorre através do registro das narrativas orais, observação participante e prática da história oral. Busca-se analisar como as manifestações culturais, costumes relacionados às práticas religiosas e artísticas e os modos de vida da comunidade se manifestam, assim como o universo sobrenatural dos monstros e dos seres encantados dentre outras marcas culturais que ainda povoam a comunidade. Assim, a reconstituição de suas histórias por meio da oralidade, o rebuscamento dos traços culturais através da memória, a que esse trabalho se propõe, se configuram como uma arma na luta pela afirmação da identidade cultural.

CULTURA, LITERATURA DE CORDEL E AS RELAÇÕES ETNICORRACIAIS ATRAVÉS DOS ESTUDOS CULTURAIS (COM) Claudia Zilmar da Silva Conceição (UNEB) A noção de cultura no crivo dos estudos culturais nos permite compreender a cultura numa perspectiva simbólica, como nos propõe Geertz (1989), uma vez que, a cultura passa a ser entendida/interpretada de acordo como a experiência vivida de qualquer grupo humano. Neste artigo refletiremos sobre este conceito na perspectiva educacional, e como a cultura negra e as relações étnico-raciais são negados e invizibilizados na escola brasileira por considerar apenas uma cultura como correta. Consequentemente, traremos a Literatura de Cordel como uma ferramenta capaz de operacionar práticas cotidianas que descortinem as relações sociais, culturais e étnicoraciais propagadas pela cultura hegemônica no cenário educacional pautada nos estudos de Gomes(1995), Cuti(2010) e Souza(2010). Como corpus do nosso trabalho, utilizaremos o cordel do escrito baiano Antônio Barreto.

(EN)CANTOS DE TRABALHO NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO (BAN) Eliane Bispo de Almeida Souza (UNEB) Este artigo objetiva discutir sobre as produções orais que animavam e ainda animam a jornada de trabalho de um grupo de moradores de uma comunidade rural do interior da Bahia. No Povoado Monte Alegre, em Rio Real/ BA, era comum os agricultores desempenharem suas atividades agrícolas cantando. Hoje, mesmo com o processo de mecanização, em que as atividades braçais são desempenhadas por máquinas agrícolas, algumas tarefas ainda são executadas de forma manual, como por exemplos a ranca do amendoim e a raspa da mandioca. Assim, mesmo na contemporaneidade, quando têm oportunidade para se reunirem, os moradores desse povoado realizam as tarefas citadas, que normalmente são em forma de mutirões, cantando e encantando a dura jornada de trabalho com canções ritmadas, relembrando uma tradição de cantar versos que era muito marcante naquela localidade. Buscando compreender o sentido dessas cantigas e seu valor cultural, serão discutidas ideias de autores que dedicam suas pesquisas às poéticas orais. E, visando uma melhor compreensão da produção dessas cantos de trabalho, serão apresentadas também relatos de narradores que ainda vivenciam essa experiência de cantar para passar o tempo enquanto trabalham. As ideias aqui apresentadas estão respaldadas em autores como: Benjamim, Zumthor, Ferreira, Pelén, Canclini, Colombo, Fernandes, Costa, Câmara Cascudo, dentre outros.

CANTOS-POEMAS: DO COURO DO TAMBOR AO CORO DAS NEGRAS CANTADORAS (COM) Gean Paulo Gonçalves Santana (UNEB) Este estudo tem como objeto os cantos-poemas, uma expressão poética oral do quilombo de Helvécia, no Extremo Sul da Bahia. Estes cantos-poemas, construídos a partir de experiências intersubjetivas, ora são respostas, ora são questionamentos às circunstâncias históricas, socioafetivas e aos confrontos da vida cotidiana. Descrever e analisar essa poética no que traz de expressões que lidam com a representação da herança africana, suas identidades, ressignificações e resistência se constituem objetivos norteadores dessa comunicação. Os cantos-poemas, como instrumento poético, de lutas e sacralidade, acionam memórias do tempo vivido e do contado e, quando vocalizados pelas cantadoras ao toque do tambor deitado, ganham corpo, ritmo e significação nas performances do bate-barriga, do embarreiro, ao explicitarem histórias ancestrais, conflitos, amores e trabalho. Contextualmente, os cantos-poemas ilustram o sentido da voz em Helvécia, negociações, reflexões e lutas pela cidadania e pela liberdade desde a Colônia Leopoldina, uma sesmaria constituída em 1818 e da qual se originou o quilombo de Helvécia. Destaca-se nessa comunicação, o papel que o canto-poema revela, a partir de seus discursos poéticos e vozes sociais, em relação a helvécia, sua história e sua gente, suas identidades.

IDENTIDADE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: NARRATIVAS ORAIS DO RIO DO ENGENHO (ILHÉUS/BAHIA) (COM) Gisane Souza Santana (UESC) Este estudo objetiva analisar as narrativas orais do Rio do Engenho, que são produzidas no cotidiano da comunidade, nas suas práticas simbólicas. Trata-se de um estudo desenvolvido interdisciplinarmente no espaço da Literatura Comparada onde são estabelecidas convergências conceituais da teoria e crítica literárias, da nova história e dos estudos da cultura. Parte-se de uma pesquisa bibliográfica, relacionando questões sobre performance, memória e práticas simbólicas (CERTEAU, 1998; IPHAN, 2000). Por meio da pesquisa de campo, foram feitas a recolha dos relatos e depoimentos através do método da história oral (PORTELLI, 1989). A pesquisa permitiu verificar que as narrativas orais podem ser entendidas como uma síntese de processos sociais e culturais, de um passado compartilhado pela comunidade; podem ser consideradas como representação das práticas cotidianas, das tradições e vivências coletivas.

“UM XANGÔ REZADO BAIXO”: O LUGAR DA ESCRITA NOS CANDOMBLÉS DA BAHIA (COM) Leandro Alves de Araújo A expressão em destaque figura-se nos discursos êmicos de muitos adeptos das mais variadas nações de candomblé como uma alcunha que denota segredo. Sabe-se que a oralidade sempre teve o seu lugar legitimado nos diversos discursos e espaços que estruturaram esta tradição religiosa ao longo dos tempos. Porém, algumas pesquisas contemporâneas refletem sobre a presença e as possíveis contribuições da escrita para esta tradição cultural. Intenta-se, aqui, relatar algumas inquietações apreendidas no percurso da pesquisa (em andamento); como também problematizar o lugar da escrita neste espaço de densa tradição oral através das análises iniciais do “corpus” da pesquisa, a saber: os cadernos de fundamentos. Neste sentido, procuro refletir sobre as produções literárias dos cadernos, salvaguardando os seus segredos e individualidades, mas registrando as narrativas e memórias coletadas em algumas entrevistas. Destarte, percebe-se que aprofundar as reflexões emergentes desses cadernos poderá proporcionar, talvez, uma crítica da cultura, das práticas religiosas de orientação africana e dos estudos sobre religião no Brasil.

NOS BRAÇOS DE NANÃ E IRÔCO: O TEMPO ESPIRALAR NA FALA DE REMANESCENTES (COM) Líbia Gertrudes de Melo (UNEB) Este trabalho propõe-se refletir sobre as concepções do tempo entre os afrodescendentes, especialmente moradores da comunidade quilombola de Alegre Barreiros, localizada no município de Itaguaçu, Bahia. Esta temática surgiu a partir de estudos feitos na comunidade citada, em que investigo rastros de africanias na fala dos remanescentes, através de pontos marcados, segundo Preti (2006), e que estão presentes como demarcadores de cultura, insígnias identificadoras, ocorrendo a todo o momento nas locuções destes narradores e que a aculturação etnocentrista não conseguiu apagar, pois estão além das reminiscências e das ações conscientes. Estes pontos marcados aparecem em forma de marcadores temporais, entonações fáticas, dêixis, entre outros recursos. Isto não quer dizer que a língua é fator determinante da cultura, mas sim que a cultura utiliza-se destes recursos linguísticos presentes na língua para expressar suas características e, neste caso, os vestígios do tempo. A pesquisa foi colhida em forma de entrevista narrativa, através de gravação e transcrita, preservando toda a oralidade, as pausas, interrupções e mudanças de tom de voz. Portanto, trata-se aqui de expor estas elucidações, a fim de localizarmos na fala destes narradores estes marcadores que trazem muito de suas histórias e de seus ancestrais. Nas sociedades ocidentais, o presente é a única realidade e o passado, estagnado e inalterável, não é tão importante quanto o futuro. Já para os bantos, segundo Kagame (In: RICOEUR, 1975), o tempo é marcado fortemente no passado, por duas razões: primeiro, porque sem o passado não existiria a referência para as atuais gerações e, portanto, enquanto identidade cultural, elas não existiriam; segundo, porque o passado é a memória dos ancestrais e a garantia da perpetuação da própria linhagem, pois, ainda segundo o autor, os homens não teriam a tutela dos ancestrais. O futuro, que já é uma existência atemporal, pois ainda não se realizou, não seria a garantia individual das gerações nem de suas descendências. A única certeza da continuidade do tempo para os bantos é esta referência do passado, dos mitos e das cosmogonias, ou seja, de sua ancestralidade.

DA AUTORIA NO CONTO DE TRADIÇÃO ORAL NA LITERATURA AFRICANA (COM) Marcela de Melo Cordeiro Eulálio (UFCG) Sempre que nos deparamos com um texto literário, indagamo-nos: quem é o autor desse texto? A narrativa curta na tradição escrita é um exemplo dessa atitude em buscado autor. Entretanto, existem textos que não possuem uma única autoria, isto é, não possuem um autor individual. Esse é o caso do conto oral, como nos lembra Nunes (2009, p.93) ao se referir a esses contos orais, afirmando que “não são criados por autores individuais, são modificados e enriquecidos, pois transmitem-se de uma pessoa para outra, de tribo para tribo, de maneira que tipos novos surgem, novas combinações se produzem e disso resulta uma verdadeira evolução”. Tendo em vista esse prisma, intentamos, no presente trabalho, discutir a questão da autoria presente em contos orais, enfocando um conto moçambicano, um angolano e um conto da tradição oral do Brasil, observando-se que o fato de não ter um autor exclusivo reflete as muitas vozes do povo. Povo esse que exerce o papel de autor dessas histórias que vão passando de geração em geração. Para tanto, basear-nos-emos nos estudos de Nunes (2009) e Leite (2012) que trabalham com a noção de oratura africana; assim como Santos (2006) e Serrani (2005), quem trabalham pelo viés da cultura. Finalmente, veremos que, em vez de ser o estilo literário de um único autor, os contos orais apresentam o estilo de um povo, que, de acordo com seus costumes, suas tradições, influencia na estrutura do gênero em processo.

LITERATURA ORAL: TRADIÇÃO E SUBJETIVIDADE EM MOVIMENTO (BAN) Suzana Santana de Souza (UNEB) O estudo de práticas culturais populares pode ser considerado estratégico no desafio da Universidade Contemporânea de investir na produção de um conhecimento emancipatório, que interpele convenções canônicas e práticas discursivas hierarquizantes. Nesse sentido, o contato com produções poéticas orais produzidas por sujeitos pertencentes às classes populares possibilita um duplo deslocamento em relação ao conhecimento cristalizado acerca da literatura. O primeiro acontece em relação ao suporte material do literário, pois, tendo sido a escrita consagrada como única forma possível de existência do mesmo, quando o texto literário nos é apresentado tendo como suporte a oralidade, as “verdades” sobre os princípios de valoração começam a ser questionadas. Em decorrência disso, somos levados a repensar os critérios que fazem com que um sujeito seja reconhecido como poeta, romancista, contista por uma dada sociedade. Nessa perspectiva, a presente comunicação tem o intuito de relatar as experiências vivenciadas no Projeto Práticas Culturais Populares: Desafios Contemporâneos, como bolsista de Iniciação Científica do subprojeto Literatura oral: tradição e subjetividade em movimento, no período de agosto de 2014 a julho de 2015, este que teve como objetivo estudar produções literárias orais de sujeitos pertencentes às classes populares nos espaços urbanos da cidade de Eunápolis-BA, baseando-se na assertiva de que o estudo de produções culturais alijadas do espaço acadêmico possibilita um conhecimento mais acurado das formações culturais brasileiras e melhor compreensão dos acontecimentos discursivos que conferem lugares hierárquicos às mesmas.

O TRÂNSITO DAS VOZES DE IBOTIRAMA: DA CULTURA POPULAR PARA OS FESTIVAIS (COM) Tâmara Rossene Andrade Bomfim (UNEB) Ao abordar as manifestações da cultura popular de Ibotirama, há uma impressão instaurada de que a sobrevivência destas está relacionada a preservação da forma como foram concebidas, imutáveis. Algumas delas são inclusive negadas. O discurso que tem perdurado é de que as manifestações tradicionais estão acabando. E o que ainda subsiste, muitas vezes é marginalizado, porque acreditam que as transformações ocorridas, fizeram com que perdessem a originalidade. Nesse contexto, observa-se que as vozes de grande parte dessas manifestações tem saído do campo da oralidade para se consolidar nos formatos de música e poesia, que são apresentadas nos Festivais de Música e de Poesia de Ibotirama (FEMPI e FEPI), em sua 39ª e 29 edição, respectivamente. A partir das fundamentações teóricas de Zumthor e Hall, este trabalho pretende tratar da movência, relacionando as transformações sofridas pelas expressões. O trânsito da voz, nos cantos e nos ritos do reisado, das rezas, das chulas, das rodas de São Gonçalo, das narrativas orais, para outras linguagens.

GRUPO DE TRABALHO: “Culturas, memórias e linguagens: a proteção jurídica possível” Coordenação: João Batista de Castro Jr. (JUIZ FEDERAL / UNEB) e Clodoaldo Silva da Anunciação (MP-BA/ UESC) PROBUS: DESAFIOS JURÍDICOS NO ALTO SERTÃO

Eunadson Donato de Barros (UNEB) A defesa jurídica de direitos sociais tem estado muito associada à atuação do Ministério Público, instituição que, apesar de suas finalidades constitucionais, está enfrentando em todo o País, um aumento de demandas superior à sua capacidade estrutural e de recursos humanos para conseguir atender dentro de prazo razoável. A Lei 7.347/85, no seu art. 5º, V, dá legitimidade processual não somente ao Ministério Público, mas também a associação que “inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”. O largo espectro interdisciplinar desses direitos tem exigido uma atuação técnico-jurídica mais articulada com o tirocínio intelectual que tem sua melhor ambientação no logus universitário.Dentro dessa perspectiva é que docentes e discentes de Direito do Campus XX Brumado criaram a Probus, uma Associação com legitimidade para ingressar com medidas judiciais e extrajudiciais na defesa dessas pautas sociais de extrema relevância. Por outro lado, surge também como a preocupação da Universidade pública, onde, ao fim e ao cabo, são discutidas e gestadas teses acadêmicas voltadas para a realidade, de devolver à sociedade, numa forma proativa, a tecnologia do conhecimento jurídico suportado pelo contribuinte. A atuação da Probus (como, onde, quando etc.) é que comporá o eixo do trabalho.

REPENSANDO PARADIGMAS DE ATUAÇÃO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO: RELATO DA EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA “O MP E OS OBJETIVOS DO MILÊNIO: SAÚDE E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE PARA TODOS” (COM) Clodoaldo Silva da Anunciação (MP-BA/ UESC) O trabalho relata a experiência do Programa O Ministério Público e Objetivos do Milênio: saúde e educação de qualidade para todos, construído nas suas bases normativas, filosóficas e sociais, como prática coletiva e paradigmática da atuação funcional, buscando romper com o modelo de ação isolada, reativa, fragmentada, verticalizada e judicializada, deliberando sobre ao agir sob um modus operandi lastreado na interação com a comunidade e nas parcerias, executado com ações conjuntas, proativas, horizontalizadas, coordenadas, contínuas e permanentes, primando pela não judicialização das demandas e por resultados céleres e eficazes. Aborda a questão do compromisso profissional de Promotores e Procuradores de Justiça na esteira do pensamento de Paulo Freire como indutores de mudanças positivas da realidade social, num processo dialético que une reflexão e ação, bem como ressalta da importância do empoderamento do cidadão realçando seu protagonismo, com o intuito de superar o individualismo e o patrimonialismo presentes na sociedade brasileira que geram a crise de valores morais, éticos e humanos. O estudo traz em seu bojo críticas contundentes acerca das as questões da invisibilidade da escola, do abandono do ambiente escolar pelas autoridades e sociedade, assim como a falta de interação enriquecedora entre professores, pais e alunos e destes com a comunidade. Com lastro no discurso de Freinet enfatiza a desadaptação da escola consoante o contexto atual comprometendo o interesse o pela desmotivação e a falta de motivação dos alunos para estudarem, geralmente, devido à manutenção de códigos de conduta ultrapassados, formas de ensino arcaicas e avaliação desconectadas com as reais necessidades dos jovens no nessa visão contemporânea. Embasando-se no referencial teórico de Alves, Bauman, Morin, Brayner, Rawls, Dimenstein, de Barros e Delors, defende que numa sociedade complexa, ambivalente e contingente, a educação de qualidade deve ser fonte de esperança para a construção de uma escola republicana para todos, formadora de valore éticos, de cidadania essenciais à consolidação da democracia. Nessa perspectiva, a mudança de paradigma implica mudanças de posturas quanto à forma de atuação do Ministério Público, oportunizando repensar o fazer profissional e aportando significativa contribuição para a efetivação dos Direitos Humanos.

DIREITO E CIÊNCIAS SOCIAIS: UM DIÁLOGO QUE PRECISA FRUTIFICAR (COM) João Batista de Castro Júnior (JUIZ FEDERAL / UNEB) Historicamente, a relação entre Direito e Ciências Sociais não tem sido fecunda, havendo, de lado a lado, por razões diferentes, pouco interesse de intercâmbio interdisciplinar. Nesse contexto, o trabalho põe em discussão que a modelagem nascida do distanciamento dos cientistas sociais deixa anêmicas as discussões propostas sozinhas pela zetética nos domínios jurídicos, vistos, a seu turno, numa perspectiva quase estritamente dogmática, colidente com problematizações de extratextualidade, que se aprofundaram a partir da década de 50 do século passado e que passaram a integrar o ensino jurídico. Por outro lado, essa impermeabilidade de ambos os lados mostra-se contraproducente quando o diálogo se torna quase obrigatório, a exemplo do que tem se dado na cena judicial quanto à definição de comunidades remanescentes de quilombos, em que ora se desenha um penoso bovarismo operacional da parte dos peritos antropólogos, ora um exclusivismo hermenêutico que ainda alija a pesquisa histórica do debate. Propõe-se, então, a necessidade de aprofundamento de uma espécie de diálogo biunívoco entre Direito e Ciências Sociais, ainda mais pela intersecção promovida pela Constituição no capítulo da Cultura, cujos dispositivos podem dar lugar a disputas judiciais de definição e afirmação.

EDUCAÇÃO DO CAMPO E O PEC/SERRA DO RAMALHO: REFLEXÕES SOBRE A HISTORIA DA EDUCAÇÃO FORMAL NAS AGROVILAS ENTRE OS PERÍODOS DE 1976 A 1986 (BAN) Marta Cristina Borges (UNEB) O presente artigo é resultado de uma pesquisa que investigou a historia da educação formal no PEC/Serra do Ramalho em seus primeiros dez anos após sua colonização. As reflexões aqui apresentadas foram construídas a partir de uma abordagem qualitativa do tipo pesquisa de campo, os dados foram coletados através de entrevista semiestruturada realizada com seis professores que trabalharam no PEC nos períodos de 1976 a 1986, quatro funcionários da (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) EBDA, dois agentes da (Comissão Pastoral da Terra) CPT, e um funcionário do (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria) INCRA. Para fundamentar as reflexões aqui tecidas foram utilizados os seguintes autores: Molina (2006), Caldart (2004), Estrela (2004), Pereira Filho (2013) entre outros. Os dados coletados e analisados nos mostram que o PEC/Serra do Ramalho em seu período de colonização atendeu algumas das necessidades básicas dos colonos como o fomento de atendimento escolar das series iniciais para os filhos dos colonos e os colonos adultos, entretanto tal ensino não contemplava as especificidades do campo cabendo aos professores adequar os textos e trabalhos para a realidade dos alunos.

O DIREITO À MEMÓRIA DO ESPAÇO URBANO: UMA ANÁLISE DA EFICÁCIA DO TOMBAMENTO NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR (COM) Milena Guimarães Andrade Tanure (UNEB) Os espaços urbanos apresentam-se como patrimônio constitutivo da identidade e memória da cidade do Salvador e devem ser tutelados pela sua natureza significativa. O presente trabalho, pensando um direito à memória do espaço urbano, analisa a eficácia do instituto jurídico do tombamento na Rua Direito do Santo Antônio, Centro Histórico de Salvador. Para tanto, foi preciso analisar os aspectos jurídicos e a história de tal instituto, a situação física do espaço urbano selecionado e as entrevistas realizadas com moradores do bairro. Ofertando maior destaque às observações e entrevistas, avalia-se, desse modo, se o tombamento, um dos mais antigos institutos jurídicos pela preservação do patrimônio, revelou-se medida eficaz para a preservação do espaço selecionado.

GRUPO DE TRABALHO: “Culturas, territórios e infância” Coordenação: Jaqueline Nascimento e Clarissa Braga VEREDAS ENTRECRUZADAS: DOIS CONTOS SOBRE A SECA , A INFÂNCIA E A POBREZA (COM) Bruna Carolina de Almeida Pinto O presente trabalho se ocupa das abordagens temáticas da infância em contexto marcado pela seca e pela pobreza a partir de dois contos: "Baleia", de Graciliano Ramos, posteriormente publicado como parte do romance Vidas secas (1938), e "Dragão e eu", de Henrique Teixeira de Sousa, inserido no livro de contos Contra Mar e Vento (1972). Partindo da aproximação desses dois textos da literatura brasileira e cabo-verdiana, respectivamente, propomos uma reflexão do tratamento temático dado a cada um deles pelos seus autores, bem como uma formulação analítica do sentido da infância em cada (con)texto e, de um ponto de vista estético, a inserção de cada narrativa na tradição literária de seu país.

NAS TEIAS DA CHÃ: UMA HISTÓRIA EM CONSTRUÇÃO Carla do Espirito Santo Xavier O trabalho é parte de um estudo sobre a construção territorial realizado na Comunidade Rural Negra Chã localizada em Teodoro Sampaio - BA. Lanço mão da história oral, com ênfase nas histórias de vida de homens e mulheres para identificar elementos constituintes de seu território de pertencimento. Em conclusão parcial, identiquei valores civilizatórios que fundamentam os modos de vida do povo da Chã.

POTENCIALIDADES DE UMA BIBLIOTECA ORAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA (COM) Clarissa Bittencourt de Pinho e Braga (UNEB) Neste artigo, relatamos a experiência do desenvolvimento de uma “biblioteca oral” (Poteca) com crianças que se encontram na primeira infância. A dinâmica foi realizada na creche da UFBA durante o primeiro semestre de 2015. Partimos do referencial teórico de Sarmento (2014), que define as culturas da Infância como a capacidade das crianças de construírem de formas sistematizadas modos de significação do mundo e de ação intencional que são distintos dos modos dos adultos de significação e ação. Para criar, a criança utiliza de mecanismos que o autor define como: a interatividade, a ludicidade, a fantasia do real e a reiteração. Perceber a criança somente como um devir é empobrecer um processo de cuja dinâmica ela se apropria continuamente e atribui significados que a constituem como sujeitos do agora. É neste contexto que foi desenvolvida a “Poteca”: formada por potes e objetos, tem como objetivo estimular a criação infantil a partir das suas referências culturais. Na biblioteca, encontramos os livros prontos onde todos os leitores irão se deparar com o mesmo conjunto de imagens e palavras, ainda que sujeitas a múltiplas interpretações. A Poteca é formada por potes recheados por objetos representativos das histórias e referências culturais das crianças que dela usufruem. A narrativa, portanto, se configura como potência e só passa a existir no momento em que a história é contada. É uma narrativa polissêmica, onde cada criança pode atribuir um diferente significado ao objeto e recontar a história de outra forma a cada vez que o pote for aberto.

A INFÂNCIA COMO INSTRUMENTO DE DENÚNCIA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO IDENTITÁRIA ANGOLANO (COM) Diana Gonzaga Pereira (UFV) O desgaste e a opressão que o processo de descolonização angolana trouxe à população desse país abriga também um mundo mágico aos olhos de quem viveu e lembra com nostalgia da infância e das lembranças dessa época. É, entretanto, inevitável separar a beleza da infância da situação de conflito na Angola pós-colonial. Neste sentido, a infância surge como fonte reveladora das mazelas e das memórias em uma tentativa inédita de resgate e formação da identidade angolana. As obras Os da minha rua, do escritor luandense Ondjaki (Ndalu de Almeida), e A cidade e a infância, de Luandino Vieira, que nos servirão de suporte para este trabalho, vêm retratar a simplicidade da infância e denunciar, nas entrelinhas, o contexto em que ocorrem diversos tipos de situações que colocam em contraste a inocência e a luta pelas conquistas, dia após dia, em um país constantemente abalado pela guerra, mas que sabe valorizar a importância da infância para a reconstrução da nação. As críticas de Tânia Macedo, Laura Padilha, Inocência Mata, entre outros, também contribuem para essa análise, na qual temos a cidade como espaço, a infância como tempo e as histórias e documentos que se pode tirar dessa intrínseca relação.

DESENVOLVIMENTO E PROTAGONISMO INFANTIL: SOBRE A DINÂMICA DO ‘E SE’ (BAN) Dielma Castro Soares Iana Braga Marques (UFBA) Esse artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa sobre apropriações culturais através do protagonismo infantil no processo de contação de histórias. Como referencial teórico, utilizamos as referências de Vygotsky sobre o desenvolvimento cultural da criança a partir de interações com o meio social e de Paulo Freire, para quem “a leitura do mundo antecede a leitura da palavra”. Discutimos, ainda, a diferença entre protagonismo e participação infantil. A análise foi realizada a partir da experiência de contação de histórias na Escola Municipal Paroquial da Vitória (Salvador-Bahia-Brasil) com crianças entre 7 e 14 anos. A dinâmica consiste em representar diversas histórias, partindo dos mesmos personagens em uma cena inicial comum a todas. As versões são intercaladas pelo “e se”, quando o narrador apresenta uma outra alternativa para o desenrolar dos acontecimentos. Posteriormente, as crianças são convidadas a contar suas próprias versões. Os resultados parciais refletem tanto as escolhas pelo desenvolvimento de um enredo fantasioso inspirado em contos de fada, quanto a descrição da realidade, muitas vezes dura, das crianças participantes.

O TRABALHO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL REFERENCIADO NA CULTURA DA INFÂNCIA: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA (BAN) Edinalva Teixeira da Silva O presente texto é resultado das reflexões feitas a partir das oficinas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) no qual discute o trabalho docente na Escola de séries iniciais do ensino fundamental pautado nas referências da cultura da infância, tendo o objetivo de trazer reflexões sobre o trabalho docente, mostrando em que medida eles desenvolvem um trabalho com crianças estudantes referenciado na cultura da infância. Este trabalho privilegiou a abordagem qualitativa e os dados foram coletados por meio de entrevista e observação participante na sala de aula no período de quatro meses, no entanto o texto esta dividido em tópicos: o primeiro definindo o que é o trabalho docente, os saberes e as competências necessárias a docência na contemporaneidade; o segundo traz a análise do desenvolvimento do trabalho docente referenciado na cultura da infância: reflexões a partir das vivências do PIBID em uma escola de anos iniciais; o terceiro discute a formação inicial e continuada dos docentes. Como base teórica, fundamentou-se em Tardif (2008), Bocelli (2008), Borba (2006/2007), Perrenoud (2000), Chimentão (2009). Este estudo identifica as dificuldades do trabalho docente, ressaltando os fatos e os saberes contribuintes para que este trabalho seja referenciado na cultura da infância tendo em vista que a criança é um sujeito ativo e produtor de cultura.

A PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA RODA DE CONVERSA: UMA REFLEXÃO SOBRE A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR (BAN) Jeane Moura Rocha (UNEB) Yone Alves de Souza (UNEB) O presente artigo surge de vivencias no âmbito do PIBID/Pedagogia, no Centro de Educação Infantil Manoelina Maria de Jesus, na cidade de Bom Jesus da Lapa/ BA, tendo como objetivo analisar a mediação do professor na participação das crianças na roda de conversa, os dados foram abordados e coletados de forma qualitativa, por meio da observação participante, entrevista e levantamento bibliográfico, baseado nas discussões de teóricos como Borba (2005), Kramer (2000), Sarmento (2003), Fernandes (2005), Ângelo (2011). Assim as reflexões sinalizadas a partir das vivencias evidenciou-se como as crianças se sentem a vontade nas rodas de conversas e querem opinar. Desta forma é importante que as crianças tenham o direito a participação, o direito a voz, e de ser ouvida e ter seus desejos e anseios levados em consideração. E que para que isso aconteça o âmbito educacional dê espaço para exposição das ideias das crianças.

OS DIREITOS DAS CRIANÇAS NAS NARRATIVAS INFANTIS (BAN) Joana Oliveira dos Santos (UNEB) O presente trabalho tem como objetivo apresentar e compreender as concepções do direito das crianças a partir de suas narrativas. A metodologia usada é de abordagem qualitativa e parte de estudos bibliográficos e observação para a geração dos dados. Desta forma, o artigo está dividido em três eixos: no primeiro relatamos sobre o surgimento da infância; no segundo, abordamos sobre a implementação do ECA; e por último, as narrativas das crianças sobre os seus direitos. Nesse sentindo, abordamos a infância como um momento de descobertas, criatividade, imaginação, sentimentos surgidos da própria criança em relação ao meio em que vive e convive, a partir dos referenciais teóricos Sarmento (2004), Kramer (2003), Borba (2006/2007) e Corsario (2002). As reflexões feitas sobre as narrativas das crianças evidenciam que as mesmas têm um conhecimento sobre os seus direitos e precisam ser ouvidas pelos adultos. Esse estudo foi de grande relevância para nós como futuras pedagogas, pois a partir dele podemos refletir sobre nossas ações em relação às práticas pedagógicas, podendo assim criar estratégias através das quais as crianças possam ter maior liberdade de expressão.

A CAPOEIRA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DO PIBID NA CRECHE TEREZINHA MENEZES MANGABEIRA NA CIDADE DE JACOBINA-BA (COM) Juliane Rosa de Oliveira (UNEB) Numa abordagem histórico-crítica da educação, a Educação Física contribui de forma direta na relação do sujeito que manifesta através de seu corpo a realidade e a cultura na qual estar inserido. A escola se torna um espaço onde o/a aluno/a, desde a infância, sistematiza seus conhecimentos e amplia as vivencias corporais e culturais construídas historicamente por seus antepassados, dentre as quais, temos a Capoeira como um elemento de nossa identidade cultural afro-brasileira, composta por diversos sentidos e significados, é uma prática importante tanto para o desenvolvimento motor quanto cognitivo da criança. A partir desse contexto, este projeto de intervenção realizado com crianças na creche Terezinha Menezes Mangabeira, em Jacobina – Ba como uma proposta de ensino do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência), tem como objetivo apresentar a Capoeira como conteúdo da cultura corporal, contribuindo com o processo de ensino-aprendizagem das crianças, tendo em vista aprendizado e desenvolvimento. Para alcançar tal objetivo, utilizamos a concepção pedagógica Critico-Superadora, aproximando a realidade sociocultural das crianças à pluralidade do universo da Capoeira. Este projeto ainda está sendo desenvolvido, portando possuímos apenas as conclusões preliminares.

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS AFRO-BRASILEIRAS COM JOGOS IMPROVISACIONAIS: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM CRIANÇAS (COM) Larissa de Souza Reis (UNEB) O presente trabalho tece reflexões a respeito das contribuições da literatura africanobrasileira ao processo formativo do público infantil. Para isso, o texto expõe um relato da experiência pedagógica ocorrida em 2014, durante a oficina “Do Conto ao Encanto: teatro e literatura infantil”, realizada com crianças da educação infantil de uma escola pública de Salvador. Destaca-se que as atividades foram desenvolvidas na III Unebrinque, evento realizado pela Brinquedoteca Paulo Freire, localizada no Departamento de Educação do campus I da UNEB. As contações de histórias envolveram contos afro-brasileiros e experimentações teatrais por meio de jogos improvisacionais, a partir do processo dialógico sobre ensinamentos e valores trazidos nas narrativas. Nesta perspectiva, ressalta-se a importância de práticas pedagógicas descolonizadoras, de modo a aproximar os territórios da cultura escolar com os saberes produzidos pela cultura popular que é representada pela tradição oral africano-brasileira.

MÍDIA TELEVISIVA: ESPAÇO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA PARA CRIANÇA? (COM) Marizete Pinheiro de Oliveira As crianças são sujeitos ativos que produzem cultura e constroem sentidos sobre a natureza e a sociedade através de sua interação com o mundo a sua volta. Desse modo, é importante refletir sobre inserção delas na ação dinâmica da formação de uma cultura científica cidadã em nosso país. Nessa perspectiva, como parte de uma pesquisa em andamento que tem como objetivo compreender o quanto a mídia televisiva tem contribuído para a divulgação do conhecimento científico para o público infantil e como tais conhecimentos têm influenciado sua vida diária, o presente trabalho visa discutir de forma sucinta a importância da mídia televisiva na divulgação do saber científico para as crianças, considerando a influência que ela exerce na formação destas. Para tanto, discutimos o resultado parcial da pesquisa supracitada com a presença da TV na vida e formação das crianças e a necessidade de divulgar o conhecimento científico para essa audiência visando à construção de uma cultura cientifica cidadã.

INFÂNCIA E ESPAÇO URBANO: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES DE UMA ETNOGRAFIA NA CIDADE (COM) Pedro Almeida Pereira da Silva (UFBA) Os espaços públicos, como as ruas, calçadas, praças e parques, foram e continuam sendo espaços importantes para as brincadeiras infantis, mesmo levando em conta as limitações impostas pela sociedade urbanizada e globalizada, que fomenta a violência, segregação sócio espacial e as “tiranias da intimidade” (MAGNANI, 2002, p. 26). Portanto, os espaços públicos se constituem como espaços singulares para a construção de sociabilidades infantis, assim como para as identidades individuais e coletivas desta categoria estrutural e geracional. Seja em interação com seus pares ou em interações intergeracionais. Este trabalho parte de uma etnografia urbana da cultura da infância, realizada na região metropolitana Salvador-BA. Através de um referencial teórico interdisciplinar este trabalho analisa a relação de crianças de classes sociais distintas com o ambiente urbano o qual abitam. Levando em conta os pontos que Sarmento (2003 e 2005) propõe como fundamenteis na demarcação da alteridade infantil – A interatividade; A ludicidade; A fantasia do real; A reiteração – é que se desenvolve esta etnografia. Aqui entende-se a criança como ator social pleno e assim é que repousa-se as discussões no universo infantil. Após a compreensão dos espaços urbanos de interação infantil em dois bairros distintos, marcados pela segregação espacial, os comportamentos e imposições às culturas infantis são discutidos, para compreender como se dá a relação da criança com rua na contemporaneidade baiana.

A VIVÊNCIA DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA ATRAVÉS DE OFICINAS LÚDICAS: UM OLHAR SENSÍVEL DA CASA DE BRINCAR ALECRIM (COM) Rafaela Sousa Guimarães Este trabalho é um relato de experiência a cerca da vivência do resgate da Cultura Popular Brasileira para os brincantes da Casa de Brincar Alecrim, situada no município de Amargosa- Bahia. A Alecrim é um espaço lúdico que oportuniza as crianças um ambiente que se destina a ludicidade, às emoções, as vivências corporais e sociais, ao desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da autonomia, da construção do conhecimento e das habilidades. É preciso destacar que na Casa de Brincar, há o favorecimento para o conhecimento da Cultura Popular Brasileira através das músicas populares, das cantigas de roda, da oralidade, das histórias, lendas e causos, da arte, das Festas Populares, dos jogos e das brincadeiras típicas, nacionais e regionais. Sendo assim, durante o mês de agosto, foi desenvolvido um projeto, a fim de proporcionar aos brincantes da Casa de Brincar Alecrim uma vivência através de oficinas de música, arte, literatura, teatro, culinária e brincadeiras, as tradições nacionais e regionais através da Cultura Popular Brasileira. Desta forma, entendemos que nossos brincantes precisam conhecer e interagir com o que não é midiático, o que referencia as nossas tradições, nossa essência e nossa identidade.

INTERPRETAÇÃO NA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS INFANTIS (COM) Rosselinni Brasileira Rosa Muniz Gonçalves (UFBA) O presente artigo tem por objetivo elaborar um estudo feito pelas autoras sobre a importância de valorizar a cultura da infância, em especial, a contação de histórias infantis. Para compor este trabalho utilizaremos como exemplo o trabalho desenvolvido pelo Projeto de Extensão Canto do Conto na creche da Universidade Federal da Bahia (UFBA), espaço em que conta histórias para crianças na faixa etária de 1 a 3 anos e 11 meses. Inspirado nos estudos referentes a narrativa e oralidade, este trabalho busca observar o resultado de histórias que são (ou não) contados com o suporte de músicas e brincadeiras.

GRUPO DE TRABALHO: “Diálogos entre África e o Brasil: imagens da infância e da juventude na contemporaneidade” Coordenação: Mônica Menezes (UFBA), Renata Nascimento (UNEB), José Welton Ferreira Junior (UNEB) O LADO NEGRO DA HISTÓRIA: A REPRESENTAÇÃO DE PERSONAGENS NEGROS NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL CONTEMPORÂNEA NO BRASIL (BAN) Aline Cesar Carvalho O presente trabalho objetiva realizar uma leitura acerca da trajetória dos personagens negros na literatura infantil e juvenil brasileira. O ponto de partida do estudo é a discussão do surgimento no país das primeiras publicações, por volta do final do século XIX e início do século XX, destinadas ao público infantil e juvenil, num contexto histórico marcado fortemente pela recém-saída do regime escravagista, no qual a personificação dos negros nas histórias infantis retratava e reafirmava a condição de sua subalternidade. Em seguida, analisar-se-á como alguns fatores históricos e sociais provocaram uma ruptura gradual e, consequentemente, uma nova abordagem dos negros nas histórias infantis, bem como mudanças de recepção no mercado editorial para as histórias que nos contam sobre a África. A partir destes cenários, direcionouse o olhar para algumas obras infantis contemporâneas que foram escritas com o “cuidado” de reconhecer e mostrar os traços da cultura negra não como uma repetição de estereótipos, mas como algo que deve ser valorizado e respeitado; contribuições valorosas para a construção da identidade negra e conscientização de seus leitores. Estas obras são: Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, Num tronco de Iroko vi a Iúna cantar, de Érica Balbino, e Obax – Um conto africano, escrito e ilustrado por André Neves.

A DIFERENÇA EM LÚCIA JÁ-VOU-INDO, OBRA DA AUTORA MARIA HELOÍSA PENTEADO (BAN) Edivania Souza Vieira No presente artigo busca-se refletir sobre a representação das diferenças presente na obra Lúcia-Já-Vou-Indo, de Maria Heloísa Penteado; o objetivo é buscar analisar como esta autora trabalha as diferenças nesta obra de literatura infanto-juvenil e como podemos aprender com seu estilo de abordagem dessa temática. O mesmo tem como foco a interpretação e busca de elementos, dentro da narrativa, que remetem à inclusão da personagem Lúcia. Vários trechos do livro são usados para sustentar os argumentos que circundam/ dialogam com um tema social e real presente na história: que é a aceitação e integração do deficiente/diferente. Bem como reforçar a importância da literatura infantil/juvenil como fonte de leitura, estudo e, sobretudo, de divulgação.

INFÂNCIAS NEGRAS BRASILEIRAS: UMA LEITURA INTERSECCIONAL A PARTIR DO COPENE (COM) Flávia de Jesus Damião (UFBA) Rosângela Costa Araújo (UFBA) O presente trabalho se constitui como parte integrante de uma pesquisa de doutorado em andamento alocada no DMMDC. Aqui temos por objetivo caracterizar a produção de conhecimento acerca das infâncias negras, a partir da intersecção entre relações étnico-raciais e de gênero, nos trabalhos do VIII Congresso Brasileiro de Pesquisadores e Pesquisadoras negras (COPENE) realizado em 2014. De caráter interdisciplinar, o trabalho apresenta uma abordagem teórica que transita nas fronteiras de diferentes campos teóricos e políticos. No campo dos estudos da infância, a discussão de Jeans Qvortrup (2004) é significativa para nós. Na área das relações étnico-raciais destacamos as proposições de Petronilha Gonçalves e Silva e Luis Alberto Gonçalves (2000). Nas relações de gênero e do feminismo negro, autoras como Souza (2005) e Hooks (1995) são referencias acolhidas. Metodologicamente, este trabalho apresenta uma abordagem qualitativa de pesquisa. Para a realização do mesmo, primeiro realizamos uma leitura dos resumos dos trabalhos contidos nos anais do VIII COPENE, a partir da eleição de alguns descritores. Em seguida, selecionamos os trabalhos que contemplassem os descritores eleitos. Depois elaboramos a montagem de um quadro que apresenta os trabalhos, as autoras/es e as instituições. Feito isso, partimos para quarto momento

PEQUENAS REVOLUÇÕES: LITERATURA E INFÂNCIA EM ANGOLA (COM) José Welton Ferreira dos Santos Junior (UNEB) Este trabalho realiza uma leitura comparada de Quem me dera ser onda (1982) e A bicicleta que tinha bigodes (2012), escritos por Manuel Rui e Ondjaki, respectivamente. Sob o olhar da criança, essas duas obras marcam a produção literária infantil e juvenil em Angola, em dois momentos distintos, trazendo ao texto literário o contexto social e político no qual se deu e se consolidou a independência em Angola. Diante disso, o conceito de Revolução, bastante mobilizado durante da guerra que conduziu à independência em 1975, aparece como palavra-chave para construção de um olhar crítico sobre as contradições que marcaram e marcam a história angolana. Tal processo, em ambos os textos, situa a criança como protagonista, mobilizando representações que simultaneamente deslocam os pressupostos da política e da história oficiais e inscrevem a visão de mundo das crianças por meio de narrativas que apontam para o futuro, ratificando que a verdadeira revolução está inacabada e por ser realizada.

FILHOS DA PÁTRIA E PÁTRIA QUE ME PARIU: UM DIÁLOGO ENTRE AS MARGENS ANGOLANA E BRASILEIRA DO ATLÂNTICO (COM) Kelly Ane Evangelista Santos (UFBA) Maria de Fátima Maia Ribeiro (UFBA) O livro Filhos da Pátria, do escritor angolano João Melo, foi lançado no Brasil em 2008, pela editora Record. Composto por 10 contos, o livro apresenta a montagem de diferentes quadros sociais, através dos quais são retratadas temáticas referentes à situação econômica, política e sociocultural da Angola pós-colonial. A frase “Esta é a Pátria que me pariu” tomada como epígrafe do livro, é citada, pelo autor, como retirada do rap intitulado “Pátria que me pariu” do escritor e compositor brasileiro Gabriel Pensador. Nesse rap, o artista narrar a vida decadente de um jovem flagelado abandonado pela mãe logo após seu nascimento e, usando de muita paródia e ironia, elabora uma análise crítica da situação social dos jovens pobres da sociedade brasileira. Por sua vez, João Melo, em dois dos contos de Filhos da Pária, “O feto” e “Tio me dá só cem”, também denuncia a situação de abandono, exploração e desesperança, vivenciada por jovens angolanos cujas famílias foram violentamente afetadas pela guerra civil. Nesse sentido, o trabalho a ser apresentado pretende, a partir de uma abordagem comparativa, realizar uma análise dos processos de intertextualidade, interdiscursividade e tradução que inter-relacionam as obras citadas, bem como, almeja identificar problemas, conflitos e demandas sociais, que interligam as margens angolana e brasileira do Atlântico.

RELEITURAS DE LOBATO (COM) Mônica de Menezes Santos (UFBA) A partir de uma leitura a contrapelo de análises constituídas por estudiosos contemporâneos da literatura e da cultura acerca da obra infantil e juvenil do escritor Monteiro Lobato, a comunicação pretende discutir como e por que – à despeito das revisões contemporâneas sobre as representações identitárias em autores modernos – os estudos analisados realizaram, majoritariamente, leituras de enaltecimento tanto da obra quanto do autor de Reinações de Narizinho, escamoteado, em muitos casos, as motivações e contradições lobatianas para a construção do seu projeto estético para modernização do Brasil, o qual tinha na literatura infantil e juvenil sua principal linha de ação. O trabalho é fruto de recorte de capítulo revisitado da minha tese de doutoramento, Por um lugar para a literatura infantil e juvenil nos estudos literários, defendida em 2011, no Programa de Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia, bem como de resultados parciais das investigações empreendidas no projeto de pesquisa Cartografias da infância: lugares e não lugares da literatura infantil nos estudos literários contemporâneos, por mim coordenado, no Instituto de Letras dessa mesma instituição.

ÁFRICA E QUILOBO: PENSAR A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE (BAN) Nayra Lilian Sacramento Silva (UNEB) Este trabalho tem como o objetivo discutir questões étnico-raciais e promover a inserção valorização da cultura negra na comunidade de Pajeú do Vento um distrito da cidade de Caetité situada no interior da Bahia. Para tanto é preciso entender que desigualdades sociais e raciais devem ser lembradas, para que não se tenha a sensação de que elas não existem ou de que são naturais; é preciso reverenciar a herança cultural africana e buscar ampliar a discussão acerca da relações étnicoraciais nos diferentes espaços escolares que recebem alunos oriundos de comunidades quilombolas, nesse sentido, a proposta visa proporcionar a estes estudantes discussões diversas da construção de Identidade Negra e da sua valorização pensando e associando legados Africanos, buscando com isso a consolidação de uma educação antirracista que olhe criticamente para questões relacionadas com a construção de nossas identidades individuais e coletivas, fazendo delas uma fonte de riqueza e de desenvolvimento.

GENOCÍDIO DE JOVENS NEGROS: QUESTÃO DE FENÓTIPO? (BAN) Sandra Maria dos Santos Souza (SABERES UNASUR) Carla Santos Pinheiro Kenia Adriana Reis e Silva As estatísticas fornecidas pelo mapa da violência demonstra que as taxas de jovens mortos - cujo perfil predominante são os de faixa etária entre 14 e 24 anos, negros morador de periferia - na região metropolitana da Bahia ascende anualmente. Embasado nas pesquisas e teorias de Yeda Pessoa de Castro, Antonia dos Santos Garcia, Raul Afrânio Garcia Jr., João José Reis dados e reflexões acerca dos indicadores que retratem as motivações no número de mortes na Cidade de Lauro de Freitas - 3º lugar no ranque de cidade mais violenta da Bahia-, bairro de Itinga, na comunidade Iolanda Pires, assim como estratégias utilizadas para dirimir tal mazela, através da perspectiva de análise do ponto de vista de poder público e dos sujeitos cujos estereótipos os destacam como público-alvo de tal(is) violência(s). E, por considerar a função social da Educação, ações socioeducativas promotoras da construção e fortalecimento identitário, serão destacadas, em especial, concernente à primeira infância, fase do desenvolvimento humano elementar na formação pessoal e social do indivíduo.

IMPRESSÕES NEGRAS: DIVERSIDADE CULTURAL NO ESPAÇO ESCOLAR (COM) Taís Rocha Ribeiro (UNEB) A tecnologia digital vem constantemente alterando as dinâmicas sociais na contemporaneidade, provocando transformações nas formas de pensar, conhecer e construir o conhecimento, causando impactos no campo da educação. Nesse sentindo, o artigo apresenta algumas considerações e reflexões sobre a experiência de trabalho “Impressões Negras” desenvolvida na Escola Municipal Malê Debalê (Salvador-BA), sobre as interlocuções entre as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e a Cultura Africana e Afro-brasileira. Com o objetivo de discutir tais interlocuções e valorizar as concepções educativas presentes nas Leis 10.639/03 e 11.645/08, foram desenvolvidas preposições teórico-metodológicas contemplando estudos tradições culturais africanas, em especial a simbologia Adinkra (que representa ideias expressas em provérbios, conceitos e aforismas dos povos Akan, da África Ocidental). Numa perspectiva de educação para a promoção da diversidade cultural, alunos desenvolveram pesquisas e conteúdos a partir de dispositivos móveis, refletindo, por meio da arte visual e da estética, sobre a relevância da dimensão cultural no processo educativo, permitindo o protagonismo desses jovens para representar sua visão sobre a Cultura Africana e Afro-brasileira como fontes legítimas de produção do conhecimento.

GRUPO DE TRABALHO: “Direito Literatura e Relações Raciais” Coordenação: Ivana silva Freitas (IFBA/UFBA), Samuel Santana Vida (UFBA)

LITERATURA NEGRA INFANTIL E O CUMPRIMENTO DA LEI 10.639/03 (COM) Aline Silva Santos Este estudo apresenta uma análise crítica construtiva dos livros infantis Princesa Violeta, Meninas Negras e Histórias da Preta observando a valorização e construção da identidade etnicoracial de crianças negras e cumprimento da Lei 10.639/03. Tratase do resgate e pertencimento da construção da auto estima e história étnica utilizando - os em escolas infantis. Observamos que há uma grande parcela de livros infantis, com falta de cuidado e sensibilidade na descrição de personagens negros quando não, a invisibilidade dos mesmos. Encontramos diversas produções literárias temáticas incluindo as citadas acima onde identificamos, nesses livros, elementos importantes e inovadores trazendo histórias onde a representação negra é positiva destarte os currículos educacionais devem atender as demandas e os indicadores que pautam as Leis 10.639/03 e os Parâmetros Curriculares, contemplando conteúdos que possam mediar a construção um raciocínio histórico pelas crianças da educação infantil. Para desenvolver essa análise nos amparamos nas orientações para a educação das relações etnicoraciais para compreender como a criança desenvolve e constrói sua autoestima e sua identidade racial. As estratégias utilizadas foram a identificação da linguagem e a estética utilizada e o quanto a história apresentada se assemelha com a realidade desse público. Nosso objetivo principal será: Analisar como os livros temáticos podem ser utilizados em sala de aula como recurso pedagógico/anti racista e para a implementação lei 10.639/03. Destacamos a relevância desse estudo por entender, a partir do olhar de professoras comprometidas com as políticas de Ação Afirmativa, o livro infantil como mais uma ferramenta de reivindicações por pertencimento racial.

OS “QUARTOS DE DESPEJO” DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: O TRABALHO DOMÉSTICO E AS MARGINALIDADES INSTITUCIONAIS DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS NO BRASIL (COM) Gabriela Batista Pires Ramos (ESTACIO DE SÁ) Quartos de despejo são aqueles cômodos que existem nos apartamentos e casas, nos quais se acomodam as trabalhadoras domésticas que residem nos locais de trabalho. Nestes mesmos cômodos são depositados objetos indesejados da casa que poderiam ser descartados, mas não o são - ou por não saber a melhor forma e local de descarte, ou porque em algum momento podem ter alguma utilidade. Quartos de despejo também é o título do livro mais conhecido de Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra, pobre, moradora de favela, que foi empregada doméstica e relatou as mais diversas formas de humilhações e mazelas a que foi submetida, não só pela sua condição de miserabilidade, como também pelo desempenho do serviço doméstico. O Brasil tem seus quartos de despejo, aqueles lugares sociais em que foram lançados grupos humanos em vulnerabilidade e que criaram uma hierarquização antidemocrática na pirâmide social do mercado de trabalho sendo o trabalho doméstico um dos quartos de despejo, aquele em que foram depositadas majoritariamente mulheres negras. Carolina Maria de Jesus é uma delas e suas figuras histórica e política trazem consigo as marcas de marginalidades institucionais interseccionalizadas pelas diversas negações e invisibilidades, desde a sua existência enquanto profissional que o Direito negou reconhecimento durante tanto tempo, até sua existência como escritora que a Literatura canônica, quando não mais pode negar, subalternizou.

PELO DIREITO À LITERATURA NEGRA NOS LIVROS DIDÁTICOS Ivana Silva Freitas (IFBA/UFBA) Este artigo é fruto de pesquisas realizadas na graduação, mestrado e doutorado, analisando a representação da história e cultura negra brasileira na literatura presente em livros didáticos. Observar o entrelaçamento entre Literatura e livro didático sob uma perspectiva étnico-racial e questionar os processos de consagração e exclusão de textos literários, revela desafios para a implementação de uma educação antirracista, em conformidade com a Lei 10.639/03. A partir dos estudos literários, históricos e culturais, analisam-se livros didáticos de língua portuguesa destinados ao ensino médio, aprovados pelo MEC e produzidos após a Lei 10.639/03. Constata-se que o livro didático apresenta uma seleção de trechos literários, discursos e imagens que corroboram com a tradição canônica, representando de forma distorcida e estereotipada, quando não relegada ao ostracismo, a população negra e seu legado. Na contramão, registra-se, também, a reação literária produtiva de autores negros rasurando os cânones e configurando encruzilhadas fecundas possibilitando outros caminhos que reconheçam a pluralidade cultural e étnico-racial e garantam o direito ao acesso a este legado e a expressá-lo através da literatura. De tal modo, a continuidade deste trabalho tem como objetivo questionar os silenciamentos das vozes literárias que lutam para serem ouvidas e saírem da exclusão, em virtude dos etnocentrismos literários.

RACISMO CIENTIFICO: INSTITUCIONALIZAÇÃO E SELETIVIDADE DO PODER PUNITIVO E AS RELAÇÕES RACIAIS NO ESTADO BRASILEIRO (BAN) Jeferson Henrique dos Santos Conceição O presente trabalho busca explicitar o pensamento intelectual brasileiro que fomentou preconceitos que se cristalizaram nas consciências e até os dias de hoje perseguem os afrobrasileiros em todos os setores da sociedade. Assim, tem-se por objetivo evidenciar a influência do darwinismo social, da eugenia e do racismo "científico" nas ideias de principal sustentação do pensamento da intelectualidade nacional, que no final do século XIX e meados do século XX foram responsáveis pela introdução da justificativa científica do preconceito racial e social, além de estabelecer como estas causas influenciaram e ainda influenciam a postura do Estado brasileiro no que se refere as relações raciais e o sistema punitivo no nacional.

O SISTEMA JURÍDICO E A NEGAÇÃO DO TERRITÓRIO NEGRO Laís da Silva Avelar A Constituição Federal de 1988, no seu art. 68 do ADCT, abre espaço para o reconhecimento jurídico dos territórios ocupados pelas comunidades negras. O reconhecimento jurídico destas espacialidades que estão ligadas a um passado/presente de resistência, formadas por comunidades negras rurais ligadas por laços de parentesco (consanguíneo ou por afinidade) e que conformam um uso comum daquelas terras e dos recursos básicos ali encontrados, é etapa fundamental em direção à mudança do padrão político nacional de negação do acesso à terra pelas comunidades negras rurais, sobretudo nos anos seguintes à abolição. Quilombolas e campesinos negros ressignificam sua base geográfica/física para muito além de uma terra, chegando ao significante “território”; um território ligado a uma cor, uma identidade, onde seus costumes e tradições aparecem como marcas para assim criar aquilo que podemos chamar de território negro, espaço de pretos, territórios etnicamente concebidos. É, entretanto, este significante - território - negado por um sistema jurídico patrimonialista e por um Direito que, assentado num "universo branco", ao mesmo tempo que reconhece é manobrado para impedir a efetivação de direitos instituídos pela luta e resistência. Coloca-se, aqui, o objetivo de debater a dimensão destes territórios para estas comunidades negras rurais, sem deixar de sinalizar como o modelo jurídico posto, ao tentar adaptar pela assimilação, fere a diferença e funciona como entrave nessa questão do reconhecimento e da garantia territorial em relação a estas comunidades.

MULHER NEGRA E DIREITO À LITERATURA: DE MARIA FIRMINA DOS REIS À CRISTIANE SOBRAL Marcele de Oliveira Santos Cruz Em “Direito à Literatura” Antônio Cândido aponta a importância da difusão dos cânones literários às classes menos abastadas e afirma ser a Literatura um Direito essencial, devendo existir meios fáticos para que seja disponibilizada aos que não tem acesso. Entendemos aqui o Direito à Literatura como não somente a leitura de obras clássicas, mas também oportunidade de expressar suas ideias. No levantamento feito por Ivana Freitas com 75% dos livros utilizados pelo Ministério da Educação (MEC) em 2008, a autora constatou que em nenhuma dessas obras houve a menção de alguma poetisa negra. A ideia do Direito à Literatura consistindo em apenas ler o que é consagrado, evidencia o jogo político que traz à tona e torna público alguns valores e sujeitos em detrimento de outros, lógica que também perpassa o conteúdo dos livros didático, indicando a urgente necessidade do MEC reavaliar os critérios desses livros e incluir em seu corpo técnico profissionais qualificados em Educação e relações raciais que tenham experiência de militância no Movimento Negro. Focaremos na literatura escrita, analisando a produção literária de autoras negras brasileiras do século XVIII até atualidade e como esta vem sendo tratada pelos livros didáticos após a Lei 10.639/03. Utilizaremos como marco da literatura afro-brasileira, a publicação de Úrsula de Maria Firmina dos Reis e obras mais recentes de Carolina Maria de Jesus, Geni Guimarães, Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves e Cristiane Sobral.

PELO DIREITO À LITERATURA NEGRA OU ENFARRUSCANDO O OLHAR CÂNDIDO (COM) Samuel Santana Vida Este artigo busca dialogar com o texto clássico “O Direito à Literatura”, publicado por Antonio Cândido em 1988, e ressignificar o alcance e os sentidos possíveis deste Direito, a partir de análise situada no plano do eixo de abordagem “Direito e Relações Raciais”, como resultado de pesquisas realizadas no Programa Direito e Relações Raciais – Faculdade de Direito da UFBA. Articula-se a partir de dois referenciais básicos: os Direitos Humanos e seus conteúdos e alcances em face de comunidades políticas multiculturais, e a constitucionalização do antirracismo na Constituição Federal de 1988 e seus desdobramentos jurídico-políticos. Problematiza a hipótese de universalidade e neutralidade das teorias jurídicas e proposições normativas da tradição ocidental moderna e propõe parâmetros hermenêutico-jurídicos para reinterpretação democratizante e mais adequada aos paradigmas constitucionais de multiculturalismo e pluralismo que regem a ordem jurídica. Destaca o papel constitutivo da literatura na expressão e produção de subjetividades e na legitimação ou contestação da ordem cultural e institucional historicamente desenvolvida no Brasil, reconhecendo o Direito à Literatura como um Direito Humano que se expressa em múltiplas dimensões: reconhecimento das variadas formas de literatura e seu papel constituinte da cultura nacional; acesso e fruição das obras disponibilizadas; acesso às condições de produção e circulação de obras por autores e narrativas divergentes da(s) hegemônica(s).

TRAJETÓRIAS INTERSECCIONAIS: A PARTICIPAÇÃO DE HOMENS NEGROS HOMOSSEXUAIS NO MOVIMENTO GAY SOTEROPOLITANO (COM) Vitor Luis Marques dos Santos O presente trabalho é sobre a participação dos homens negros homossexuais em organizações do movimento gay que atuam em Salvador/BA. Influenciado pela metodologia das feministas negras dos anos 1980 e articulando as categorias analíticas raça, gênero, sexualidade e classe, sob o prisma da interseccionalidade, ele objetiva averiguar se há uma conexão das pautas de lutas da comunidade negra com a comunidade LGBT, o papel do homem negro homossexual no cenário local de articulação política e institucional, a trajetória de (re)construção da representação social destes sujeitos (do imaginário do “cafuçu” ao reconhecimento enquanto agente político), assim como a relação entre as masculinidades negras e não negras no bojo das organizações. O conceito de interseccionalidade é imprescindível para desvelar determinadas desigualdades que atingem especificamente um público, através da soma de variados eixos de subordinação, rompendo com a suposta igualdade que haveria pelo compartilhamento da mesma orientação sexual ou pelo mesmo gênero ou classe, assim como questionando mais uma vez o mito da democracia racial. Deste modo, o trabalho vislumbra como horizonte o empoderamento político dos homens negros homossexuais, a fim de dar visibilidade a este segmento específico do movimento gay, além da construção de agendas políticas comuns, que articulem o enfrentamento ao racismo estrutural e institucional com o combate à homofobia e às variadas violências que vitimizam e cerceiam direitos, rompendo com a anulação desses eixos cruzados de opressividades.

MULHER NEGRA E DIREITO À LITERATURA: UMA ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS (COM) Emanuele Celina Maria Barbosa de Souza Este trabalho busca analisar os livros didáticos de Língua Portuguesa do ensino médio e a implementação da Lei 10.639/03 no âmbito da literatura. A supracitada lei foi sancionada para alterar a Lei nº 9.394/96 estabelecendo diretrizes e bases da educação nacional, visando incluir no currículo oficial do ensino fundamental e médio das escolas públicas e, particulares a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Nos livros serão avaliadas a inclusão de autoras negras e as formas de representação de mulheres negras nas obras literárias presentes nos referidos livros no sentido de contemplar o que preconiza a Lei 10.639/03. Ter acesso e aprender sobre a cultura africana e afro-brasileira é um direito de todos descendentes desta etnia que buscam meios eficazes para consolidar a sua cultura na sociedade. Negar à comunidade negra representatividade e referência nestes livros é desumano com os jovens que são os principais alvos da política perversa de ensino do Brasil. Esta negação torna-se mais desastrosa quando a mulher negra não possui poder de fala no discurso literário e é representada de forma distorcida, resumida ao sexo e subalternizada. Nesse sentido, torna-se relevante investigar a inclusão de autoras e personagens negras que transgridem as normas e exercitam o direito à Literatura desconstruindo padrões racistas e sexistas.

GRUPO DE TRABALHO: “Diversidade linguística e baianidades” Coordenação: Ricardo Tupiniquim Ramos (UNEB) CONSERVADORISMO E INOVAÇÃO NA NORMA LITERÁRIA BRASILEIRA: O CORPUS AMADIANO E O USO VARIÁVEL DE INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO E DAS CONSTRUÇÕES PASSIVAS (COM) Aparecida Pereira dos Santos (UNEB) Em sua escrita literária, Jorge Amado é conservador ao se utilizar de um registro que atende às exigências da Tradição Gramatical, e inovador, ao registrar, sobretudo na fala das personagens, variedades linguísticas próprias do português brasileiro. Em relação ao fenômeno indeterminação do sujeito, o autor lança mão não apenas das estratégias previstas pelas gramáticas escolares – o uso de verbo intransitivo ou transitivo indireto na P3 seguido de pronome se e uso de verbo na P6, sem sujeito explícito – como também de outras, não previstas por aquela tradição. Quanto à construção passiva, a Tradição Gramatical prevê a existência de duas formas: a analítica– formada por um sujeito e pelo auxiliar SER seguido do PaPt do verbo principal – e uma alegada passiva pronominal ou sintética – constituída de VTD+SE – já inexistente no português brasileiro, segundo literatura sociolinguística especializada. Os dados referentes a esses fenômenos, coletados em algumas obras amadianas – a novela A morte e a morte de Quincas Berro d’água e os romances O país do carnaval e Dona Flor e seus dois maridos – corroboram as conclusões dos estudos sociolinguísticos sobre a incompletude da descrição normativa em relação aos fenômenos anteriormente citados: existência de outras estratégias de indeterminação do sujeito e a inexistência, no português brasileiro atual, da passiva pronominal ou sintética. Esses fatos deixam claro que, em sua escrita literária, Jorge Amado respeitou o caráter popular de suas personagens, representando sua fala de forma mais genuína possível, transpondo, para a literatura, a expressão linguística viva do povo que tanto amou e conheceu.

CONSERVADORISMO E INOVAÇÃO NA NORMA LITERÁRIA MODERNISTA: AS CONSTRUÇÕES COMPARATIVAS NA ESCRITA AMADIANA (BAN) Danielly Pereira dos Santos (UNEB) O presente estudo investiga as inovações e os conservadorismos linguísticos utilizados por Jorge Amado, grande representante da cultura popular, em seus textos literários, principalmente nos contos As mortes e os triunfos de Rosalinda, De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto e O milagre dos pássaros, e na novela A morte e a morte de Quincas Berro D’água. As gramáticas brasileiras, tradicionalmente tomadas como única verdade da língua, excluem as formas populares da fala de um povo que, mesmo quando escolarizado, desconhece a norma padrão e se utiliza de outras variáveis para suprir suas necessidades linguísticas. É o que ocorre com as construções subordinadas adverbiais comparativas do grau de igualdade, restritas nos compêndios gramaticais a um número reduzido de estruturas; conjunções comparativas como "que nem", "feito", "igual" e "tipo", comumente encontradas na fala cotidiana do país, ainda são ignoradas pela gramática. Assim, nesse estudo, buscamos compreender a comparação como metonímia da linguagem amadiana como um todo e como esses usos conservadores e inovadores influenciam não só o modo de se ler a obra amadiana, mas também a reflexão acerca da normapadrão do português no Brasil.

O QUE NEGO TEM PARA NOS CONTAR: HISTORICIDADE, GRAMATICALIZAÇÃO E CARGA SEMÂNTICA DO PRONOME NEGO NO PORTUGUÊS DO BRASIL (COM) Danniel da Silva Carvalho (UFBA) Dos legados da presença dos negros no Brasil e dos problemas sociais que muitos negros sofrem na contemporaneidade, a História Social, a Antropologia e a Sociologia têm-se ocupado há tempos. Entretanto, no terreno dos estudos linguísticos, os trabalhos que se voltam para compreensão da língua não trazem muitas contribuições sobre as questões sociais, políticas e identitárias na construção das gramáticas da língua. Um exemplo disso é o aparente processo de gramaticalização sofrido pela palavra nego no português brasileiro que, em determinados contextos sintáticosemânticos, passou da condição de substantivo à de pronome. Este substantivo passa a ter duas leituras pronominais distintas: uma definida, caracterizada por elementos sintáticos definidores (ex.: possessivos ou tempo verbal finito e marca pessoal); e outra indefinida. Entretanto, essa leitura indefinida do elemento pronominalizado nego não é tão genérica e despida de valor quanto outros pronomes da mesma natureza, tal como alguém. Desta forma, o presente trabalho se dispõe a) a compreender a historicidade do item lexical nego no contexto da história social do português brasileiro e b) a descrever as características semânticas adquiridas por este elemento pronominal em seu processo de gramaticalização, comparando-o com seus pares indefinidos, a fim levantar o inventário de traços que o caracterizam.

APAGAMENTO DE PREPOSIÇÕES EM FRONTEIRAS SENTENCIAIS COMPLETIVAS NO PORTUGUÊS FALADO (COM) Eva Maria Nery Rocha (UNIRB) O estudo investiga o uso variável de preposições diante de que complementizador no português falado atualmente, que apresenta estruturas distintas daquelas previstas pela tradição gramatical. Partindo da hipótese de que o português brasileiro passa por um processo de mudança linguística no tocante ao uso de preposições em fronteiras sentenciais finitas iniciadas por que, e que essa é uma característica da língua portuguesa atual, em sua dimensão geográfica, este trabalho investiga a variação linguística em foco em tempo aparente e em tempo real de curta duração: duas sincronias – década de setenta e década de noventa do século passado –, propondose a observar a dimensão do fenômeno em algumas regiões do Brasil e em Portugal, num estudo de tendência (LABOV, 1994). Busca-se identificar a implementação do fenômeno no Brasil e em Portugal, assim como os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos para a variação/mudança. Considera-se como variável dependente a presença/ausência da preposição diante de que complementizador. Como variáveis independentes, são considerados: a) grupo de fatores linguísticos: tipo de oração completiva; b) grupos de fatores extralinguísticos: o sexo/gênero, a faixa etária e o nível de escolaridade do informante. Para a análise do fenômeno variável, são usados os pressupostos da Teoria da Variação Laboviana (LABOV, 1972; 1994), utilizando-se o pacote de programas GoldVarb 2001, para calcular a frequência e os pesos relativos dos fatores de cada variável e para apresentar uma seleção estatística das diferentes variáveis analisadas.

CONSERVADORISMO E INOVAÇÃO NA NORMA LITERÁRIA MODERNISTA: AS CONSTRUÇÕES NEGATIVAS NA ESCRITA AMADIANA (BAN) Fernanda dos Santos Pereira (UNEB) O português brasileiro (doravante, PB) apresenta três estratégias sentenciais de negação, que configuram um fenômeno de mudança sintática ainda em curso, pelo qual a forma padrão (negação pré-verbal – Não V),mas geral mesmo na fala, sofre a concorrência de uma dupla negativa (Não V Não – estratégia socialmente neutra, mais própria da fala) ou de construção pósverbal (V Não) estigmatizada, usos inovadores, atualizadores daquele outro. A partir desse cenário, buscamos entender como Jorge Amado emprega as sentenças negativas, em seus usos conservadores e inovadores, e os fatores determinantes desses usos. Assim, este estudo trata das construções negativas do PB, conforme registro constante de dois romances (Jubiabá e Gabriela, cravo, canela), três contos (De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto, As mortes e os triunfos de Rosalinda e O milagre dos pássaros) e uma novela (A morte e a morte de Quincas Berro d’Água), daquele escritor. A pesquisa cujos resultados este trabalho comunica leva-nos a compreender melhor que um projeto autoral de literatura, muito mais do que concretizar um ideário estético ou divulgar uma doutrina social, política, religiosa, etc., registra um estilo individual de escrita. No caso específico de Jorge Amado, temos um projeto estético e político de literatura, empenhado em representar a cultura de seu povo por meio da língua.

O USO VARIÁVEL DA REGRA DE REGÊNCIA DOS VERBOS DE MOVIMENTO NA ESCRITA AMADIANA (BAN) Ionara Martins Araújo (UNEB) O presente estudo trata da regra variável de regência dos verbos de movimento ir, vir e chegar, conforme registro constante de dois romances (Cacau e Dona Flor e seus dois maridos), três contos (De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto, As mortes e os triunfos de Rosalinda e O milagre dos pássaros) e uma novela (A morte e a morte de Quincas Berro d’Água), do escritor baiano Jorge Amado. Notamos que, exceto VIR, os verbos estudados apresentam regência variável; todos têm largo emprego, como predicadores, nos romances; - IR, como predicador, tem alta frequência na novela, só aparecendo num dos contos; boa parte de seus usos é conservadora, embora haja variação na novela; - VIR e CHEGAR, como verbos predicadores, têm baixa frequência nos contos; além disso, não há registro daquele na novela nem deste num dos contos; - · CHEGAR registra uso variável apenas em um dos romances. – Percebemos ainda, que os empregos inovadores dos verbos acorrem na maior parte das vezes nas falas das personagens, contudo, mesmo o narrador, entidade ficcional cujas falas constituem sequencias textuais em geral conservadoras, emprega formas inovadoras em algumas de suas falas. – Entendemos que esses usos fazem parte do projeto estético do autor de criar uma literatura de caráter popular, que refletisse a alma do povo brasileiro e espelhasse, entre outros elementos da cultura, a fala.

A VARIAÇÃO DO TÓPICO FRASAL NA ESCRITA DO ALUNO SURDO (COM) Jaci Leal Pereira dos Santos (UNEB) Josane Moreira de Oliveira A língua espaço visual, L1, tem sido uma abordagem de estudos presentes na LDB da cultura surda (2002), para sustentar o discurso da igualdade social e o respeito às diferenças. Este trabalho surge a partir de uma pesquisa de natureza qualitativa com questionário e entrevista semiestruturada feita com os alunos surdos da Escola Raimundo Mata, da cidade de Catu, para analisar a estrutura do tópico frasal escrito por esses alunos. Tendo como enfoque apresentar a variação do tópico frasal na passagem de L1, para L2, (QUADROS, 1997). A partir da análise da variação presente no tópico frasal da escrita de alunos surdos, objetivamos compreender que essa variação decorre da marca da estrutura textual da língua brasileira de sinais. Isso prova que ela tem uma estrutura própria, assim como tem a língua portuguesa. Pesquisas apontam variações na língua portuguesa escrita (LABOV, 2008; LUCCHESI, 2994; CALVET, 2002) sendo mais visíveis na passagem de L1 para L2, quando se percebe que a estrutura frasal entre uma e outra diverge (ALMEIDA e SILVA, 2009), sendo necessária uma preocupação dos espaços educacionais e das políticas públicas por uma educação bilíngue, por entender que Libras é língua materna do surdo e que a marca da estrutura frasal adotada por essa comunidade não está ligada à “incapacidade”, mas sim a um modelo apresentado pela língua de sinais.

A VARIAÇÃO NA CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL: UM PARALELO ENTRE O PORTUGUÊS URBANO CULTO E O AFRO DO BRASIL (BAN) Josany Maria de Jesus Silva (UNEB) Este trabalho tem por objetivo analisar a variação na concordância verbal de terceira pessoa do plural (CVP6) fazendo um paralelo entre o português urbano culto e o português afro do Brasil para se verificar o quadro de variações em ambos os segmentos. Os dados do Português Urbano Culto (PUC) foram retirados da pesquisa de Souza (2009) e os dados do Português Popular Afro (PP Afro) foram retirados da pesquisa de Silva (2003), ambos os autores investigaram corpus de comunidades baianas. As pesquisas foram analisadas de acordo com o fator social Faixa Etária e com o fator linguístico Saliência Fônica. Os resultados encontrados mostram que o PP Afro está adquirindo marcas de concordância e isto é comprovado quando são confrontados com os dados do PUC. Devido à história do contato linguístico no Brasil e a propagação do português que foi transmitida de forma irregular, há variações dentro do próprio sistema linguístico do país. A influência desse contato tem ligação direta com a fala dos brasileiros até os dias de hoje. Dessa forma observou-se que o PP Afro devido ao contato com grupos diferentes que aplicam mais as regras de concordância está aumentando o uso das marcas de CV.

MABAÇO: UM ESTUDO DIALETÓLOGICO NA BAHIA A PARTIR DOS DADOS DO PROJETO ALIB (COM) Lauro Ferreira dos Santos (UFBA) Este artigo traz a análise de uma amostra do semântico-léxico do Estado da Bahia, destacando a determinação dada para gêmeos, conhecido popularmente por “MABAÇO”, uma designação afro-brasileira. Trata-se, portanto, de uma acepção encontrada num estudo dialetológico, cuja origem é da língua do grupo banto, falada na região africana de Angola, trazido para o Brasil pelos escravos e observados facilmente na fala dos baianos. Com o intuito de fazer um estudo diacrônico, a partir da produtividade das variantes por meio de um estudo minucioso coletados por informantes, analisando a distribuição diatópica, computando a porcentagem das ocorrências, em gênero e distintas faixas etárias, a qual está na carta de nº 100 do Atlas Prévio dos Falares Baianos (1963), o Questionário lexical – IX CICLOS DA VIDA, cuja pergunta é: Nome dado a duas crianças que nasceram no mesmo parto. Nesta análise, torna-se possível identificar fatores condicionantes para entender a variante MABAÇO, que teve maior número de ocorrências. Este será o principal aporte de estudo, a partir da origem e dos significados, a partir dos termos das mostras dialetais dos informantes. Visto que as respostas dadas pelos informantes mostram que o conhecimento dessas pessoas tem seus significados, e fazem parte do seu vocabulário ativo. Frequentemente, o seu uso, está limitado às pessoas mais velhas ou pode estar condicionado na variação livre do contexto.

BRINCADEIRAS COM O LÉXICO: D’ANGOLA OU DA BAHIA? (COM) Leandro Almeida dos Santos (UFBA) Neste trabalho, apresenta-se uma investigação sobre o léxico da língua portuguesa, o nível da língua mais dinâmico e que evidencia o caráter rico e plural da língua. A pesquisa busca apurar as denominações para uma pergunta do Questionário Semântico-Lexical do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (2001) - 161. ‘Como se chama a ave de criação parecida com a galinha, de penas pretas com pintinhas brancas?’. Assim, foram utilizadas 92 elocuções dos informantes que estão sistematicamente estratificados entre os dois sexos (homem e mulher), duas faixas etárias faixa I (18 a 30 anos) e faixa II (50 a 65 anos) e dois níveis de escolaridade (fundamental e universitário), 08 (capital) e 04 (interior), em 22 cidades do estado da Bahia, conforme metodologia do Projeto ALiB. Utiliza-se os fundamentos teóricos da Dialetologia e da Sociolinguística, duas ciências que advogam que a língua é um fenômeno diversificado, heterogêneo e multifacetado, por tais motivos, suscetível as variações e mudanças, sob diversos aspectos, internos ou externos à língua. Objetiva-se analisar as possíveis variações inerentes à língua e como tais denominações estão distribuídas no espaço geográfico. A fim de alcançar os objetivos mencionados e após leitura da bibliografia acerca do tema, a metodologia empregada foi: a) escolha e formação do corpus; b) audição atenta das elocuções dos informantes; c) análise do corpus; d) cartografia dos dados e, por fim, e) pesquisa em dicionários de língua portuguesa. A pesquisa visa contribuir para os estudos dialetológicos, sociolinguísticos e lexicais do Brasil.

CONSERVADORISMO E INOVAÇÃO NA NORMA LITERÁRIA BRASILEIRA: O CORPUS AMADIANO E O USO VARIÁVEL DO “ONDE (BAN) Lucivanda Rita da Silva (UNEB) A tradição gramatical apresenta uma visão muito simplificada do uso das lexias "ONDE", registrada ora como pronome relativo, ora como advérbio ou pronome interrogativo ligado à noção espacial, e "QUE" registada ora como pronome, ora como adjunto adnominal. Por outro lado, a pesquisa sociolinguística aponta outros valores para essas lexias polivalentes, rejeitados por aquele outro modelo de descrição linguística, valores esses ligados a noções como condição, causa, mediação, disjunção, tempo, conformidade, modo e posse, relacionados ao uso da lexia "ONDE", e os valores ligados as orações copiadoras e cortadora referindo-se a lexia "QUE". Como, em sua escrita literária, o prosador baiano Jorge Amado registra essas variáveis linguística, de forma conservadora ou inovadora? Quais as variantes envolvidas e que fatores textuais podem explicar seu uso na escrita amadiana? Entre outras, essas questões norteiam essa pesquisa, cujos resultados são ora apresentados.

CONSERVADORISMO E INOVAÇÃO NA NORMAL LITERÁRIA MODERNISTA: A REGRA VARIÁVEL DE CONCORDÂNCIA NA OBRA AMADIANA (BAN) Maria Helena Gonçalves Oliveira (UNEB) A tradição gramatical apresenta uma visão muito simplificada e rígida sobre as regras de concordância. A concordância de número no interior do sintagma nominal se faz de uma única forma: os constituintes determinantes (artigos, demonstrativos, possessivos e quantificadores) seguem o número (singular ou plural) do constituinte determinado (o nome). A concordância verbal se faz pela conjugação do verbo em número e pessoa conforme o sujeito. Por outro lado, a pesquisa sociolinguística aponta que a marcação do plural no interior do sintagma nominal está condicionada a diversos fatores estruturais, como, por exemplo, à posição do elemento no interior do SN, à sua classe gramatical, ao grau de saliência do próprio plural marcado, mostra, ainda, que a concordância verbal não é só definida pelos pronomes retos, mas também pelas novas formas pronominais, como “a gente” e “você”. O estudo aqui proposto é investigar o emprego conservador e o inovador da concordância nominal e da concordância verbal. Como fonte de pesquisa para coleta desses fenômenos de variação adotamos algumas obras do escritor Jorge Amado, o prosador baiano. Situado na segunda geração do Modernismo, foi um marco para uma nova literatura brasileira, carregou caráter nacionalista, principalmente por adotar o falar popular das ruas. Nos romances: Gabriela Cravo e Canela e Suor, observaremos o fenômeno de variação da concordância nominal e em Tieta do Agreste pastora de cabras, a concordância verbal, para comprovamos em que medida este escritor usa em suas obras a inovação e o conservadorismo linguístico.

COMPLEMENTOS INFINITIVOS SELECIONADOS POR VERBOS PERCEPTIVOS E CAUSATIVOS NO PORTUGUÊS (COM) Nicelia da Silva Neves (UNEB) Este trabalho objetiva através de um estudo sincrônico, estudar os tipos de predicados que envolvem complementação sentencial no português brasileiro, especialmente os infinitivos em verbos perceptivos e causativos (P&C). A questão de interesse é investigar quais aspectos sintáticos e semânticos caracterizam a complementação infinitiva desses verbos bem como entender quais os traços semânticos dos predicados em complementação que permitem em alguns contextos Referência Disjunta e em outros contextos Controle ou Referência Livre. Esta pesquisa se desenvolverá, portanto, através do estudo da complementação sentencial, como nos tipos descritos por Meira (2013), a saber, por exemplo: João fez Pedro sair da sala e João sentiu que Maria encostou em seu braço; e terá como base a Teoria de Princípios e Parâmetros, proposta por Chomsky (1981, 1986), que entende a capacidade humana de falar e entender uma língua como inata e, portanto, interna ao organismo humano. Com isso, este projeto visa contribuir para a teoria sintática bem como para a caracterização da variedade linguística brasileira e também para uma melhor compreensão acerca dos aspectos da faculdade humana da linguagem, de que é dotado todo ser humano e contribuir também para um maior entendimento sobre a complementação sentencial do português brasileiro e para questões referentes às propriedades da Gramática Universal.

A FORMAÇÃO DE PREDICADOS COMPLEXOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO (BAN) Quelle Taísa da Chaga Oliveira (UNEB) O presente trabalho tem por objetivo desenvolver um estudo sobre predicados complexos no português, de modo a verificar como se dá o seu processo de formação e analisar se existe esse tipo de predicado no português brasileiro (PB). Partindo de pressupostos gerativistas, tomando por base a Teoria de Princípios e Parâmetros, proposta por Chomsky, esta pesquisa visa abordar o processo de constituição dos predicados complexos no PB, apontando como os mesmos se estruturam no português europeu e o comportamento sintático/semântico das formas verbais envolvidas nessa formação, dentre elas, os verbos “querer”, “dever” e “poder”. Caso seja confirmada a formação de predicados complexos no PB, analisaremos seus tipos e seus aspectos sintáticos. Para tanto, essa pesquisa se fundamentará nos pesquisas de Andrade (2010) e de Meira (2013), objetivando, com isso, contribuir para os estudos sintáticos das Línguas Românicas, mais especificamente, ao que refere ao PB e fornecer subsídio para as pesquisas que envolvam predicados complexos, bem como, colaborar para uma maior compreensão da Teoria Gerativa.

ANÁLISE DOS TERMOS TRADUZIDOS REFERENTES À GASTRONOMIA BAIANA NAS OBRAS DE JORGE AMADO (BAN) Laura Almeida (UESC) Rhanna Ellen Silva Almeida (UESC) Reconhecendo que há poucas avaliações sobre as traduções para a língua inglesa dos livros de Jorge Amado, renomado autor baiano, espera-se realizar com este trabalho uma análise comparativa dos termos gastronômicos das obras Gabriela, Cravo e Canela e outras do autor, assim como de suas respectivas traduções. Os termos que estão sendo coletados de cada livro se referem à gastronomia, e a coleta será feita nos livros em versão na língua portuguesa e inglesa. Visamos realizar um estudo dessas obras com intuito de identificar a maneira como os tradutores passaram palavras (termos da gastronomia típica) marcadas da cultura baiana do português para o inglês. Avaliaremos e identificaremos o modo como foi feita a tradução de cada um desses termos, além disso o projeto buscará fazer a classificação destes. Depois de O exame teórico será feito de acordo com os modelos sugeridos por Vinay e Darbelnet (1960) e sua releitura feita por Aubert (1995;1996), os modelos seguidos para a categorização são os de Nida (1945) complementadas por Mounin (1971) e discutidas por Ronái (1976).

A PESQUISA ONOMÁSTICA NA BAHIA (COM) Ricardo Tupiniquim Ramos (UNEB) Embora a Onomástica tenha iniciado no Brasil ainda no início do século passado – com a publicação do célebre O tupi na geografia nacional, de Theodoro Sampaio –, na Bahia, apenas no início deste século é que surgem os primeiros projetos de investigação sistemática nos dois campos desta área da Lexicologia. Ramos (2008) foi o estudo pioneiro da toponímia baiana, concentrando-se na descrição em cinco diferentes sincronias dos nomes dos municípios baianos e em sua mudança histórica. Ainda nesse campo, surgiram trabalhos de conclusão de curso no âmbito da graduação ou pós-graduação latu sensu na área de Letras na Universidade do Estado da Bahia (Araújo; Lino, 2007; Bastos, 2008, 2013; Vilasboas, 2013, entre outros), todos vinculados ao Projeto ATEBA – Atlas Toponímico do Estado da Bahia, e, na UFBA, um trabalho de Mestrado decorrente de Ramos (2008). No PPGEL da UNEB, mais recentemente, surgiu um grupo de pesquisas toponímicas e na UFBA, uma pesquisa vinculada ao Mestrado em Língua e Cultura acerca da antroponímia baiana, temática que tinha, nessa mesma universidade, um projeto de pesquisa de um de seus doutores, hoje desativado. Na UNEB, nos últimos cinco anos houve pelo menos um TCC de graduação em Letras acerca da antroponímia vigente na região Oeste do Estado no início do século XX. Isso demonstra o interesse crescente por essa área dos Estudos Lexicológicos na boa terra.

BEIRU, UMA MARCA IDENTITÁRIA NA TOPONÍMIA SOTEROPOLITANA (COM) Rosane Cristina Prudente Rose Thioune (UFBA) Refletimos como a investigação toponímica fincado no pertencimento cultural e na referencialidade onomástica foi imbricada à editoração que o Jornal do Beiru priorizou na rearticulação de valores comunitários no Beiru (Salvador/BA). A Lexicologia ampara a realização do estudo de caso interpretativo, de base etnográfica com abordagem qualitativa. O paradoxo entre as representações do poder e cultura que nortearam o processo de socialização negra foram, veiculadas como uma estratégia motivadora para uma variação da fortuna crítica que amparasse, sobre a ótica de posições afirmativas, a reformulação do senso crítico do público e dos sujeitos do Jornal. Nestes contextos estas ações ponderaram uma política de renovação estética e de produção de sentidos nos multiletramentos que inferiram nas ações do jornal.

OS ASPECTOS SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS QUE POSSIBILITAM O REDOBRO DE CLÍTICOS EM PB (COM) Sirlene Freire dos Santos Pereira (UNEB) Esta pesquisa objetiva analisar o redobro de pronomes clíticos em Português Brasileiro (PB), assumindo para tal uma abordagem gerativista. Este fenômeno “ocorre quando um pronome átono co-aparece com outro elemento (um XP), argumento temático do verbo lexical” (DINIZ, 2007, p.152), conforme na sentença a seguir: “Eu te dei para você”. A análise dos dados mostra que o redobro é causado por restrições que são impostas ao importe sintático-semântico do sintagma que será redobrado. Como restrição sintática, o objeto redobrado não pode ser um NP nu, devendo, obrigatoriamente projetar uma capa funcional. Como restrição semântica, o objeto redobrado deve referenciar um elemento previamente dado no contexto pragmáticodiscursivo e o D/NP objeto direto ou indireto deve apresentar os traços semânticos [[+REFERENCIAL] [+ESPECÍFICO] [+DEFINIDO]] (cf. DINIZ, 2007). Com relação a outras línguas, é possível perceber que ocorre uma variação paramétrica, pois cada língua pode acionar ou não estes traços de formas diferentes. Constatamos também que a rara ocorrência de redobro em 3ª pessoa ocorre devido ao enfraquecimento (referencial) ou reanálise deste tipo de clítico no PB contemporâneo (cf. DINIZ, 2007), e também por que “os pronomes de 1ª e 2ª pessoas possuem os traços [falante] / [destinatário]”, enquanto os pronomes de 3ª não possuem. (cf. MACHADO ROCHA, 2010, p. 105). Verificamos ainda que o tipo de predicado é uma restrição para ocorrências desse fenômeno. Assim dos três tipos pesquisados, ações/atividades, processos e não-dinâmicos, somente no tipo ações/atividades é possível redobro.

GRUPO DE TRABALHO: “Diversidade Religiosa: limites e tolerância num país plural” Coordenação: Felipe Bomfim (UNEB) A IGREJA DO ROSÁRIO DOS PRETOS, NO PELOURINHO: UM ESPAÇO DE ENCONTRO ENTRE CULTURAS (COM) Ana Rita Reis de Almeida (IFBA) O objeto de estudo são as práticas multiculturais existentes na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, localizada no Pelourinho, Salvador, Bahia. Uma igreja negra que tem uma relação étnica de resistência e referência histórica, onde a memória é plenamente preservada, representada por uma religiosidade católica peculiar e que consiste no seu culto ou na sua missa um ritual litúrgico católico que insere elementos de matriz africana, resultando em um sincretismo simbólico. Um espaço de encontro entre culturas. Os elementos que representam essa multiculturalidade são a música e a dança praticadas durante a missa, complementadas por vestimentas, adereços e oferendas, diferentes de um ritual litúrgico católico tradicional. As missas festivas, dedicadas a alguns santos que fazem parte dessa Igreja, cativam e contagiam fiéis de todas as classes e níveis sociais. Ainda hoje, é preservada essa tradição, fazendo com que a missa do Rosário dos Pretos seja simplesmente deslumbrante. Principalmente às terças-feiras, dedicadas à Santo Antônio de Categeró e na última quarta-feira de cada mês, dedicada à Santa Bárbara.

“QUEIXAS DO POVO”: O CANDOMBLÉ FRENTE ÀS PERSEGUIÇÕES MIDIÁTICAS DO JORNAL A TARDE EM SALVADOR NA DÉCADA DE 1920 (COM) Bárbara Santana Nogueira (UFRB) Este trabalho objetiva analisar através de uma abordagem histórica o discurso que o Jornal A Tarde traz sobre os candomblés em Salvador na década de 1920, buscando em aportes teóricos compreender o contexto histórico em que as notícias estão inseridas. A fim de ressaltar a importância do povo de fé na construção cultural da Bahia e como estes lutaram por espaço diante das perseguições midiáticas.

TOLERÂNCIA RELIGIOSA, SECULARIZAÇÃO DO ESTADO, RESISTÊNCIA E ENGAJAMENTO CIDADÃO: UM TERREIRO DE UMBANDA, EM BATURITÉ-C (BAN) Francisco Érick de Oliveira (UNILAB) Este trabalho é resultado parcial de uma pesquisa que visa problematizar a discriminação religiosa, com foco em um Terreiro de Umbanda, em Baturité - CE. Em primeiro plano, conceituaram-se hipóteses que apontavam para um trajeto históricosocial, entendendo a discriminação religiosa como um produto do racismo colonial, renovado, silenciosamente, entre as disputas religiosas. No entanto, por meio da observação de ritos, e da coleta de dados através de entrevistas, detectou-se que, no caso da Umbanda, não se poderia entender a situação por este viés. Não foram encontrados relatos de enfática discriminação, resultado do envolvimento politizado do chefe do Terreiro, inserido em alguns âmbitos administrativos e culturais da cidade. Por meio disto, analisa-se esta participação politizada do Pai de Santo na perspectiva do conceito de laicidade de Estado que, ao invés de excluir todas as crenças religiosas, em respeito ao pluralismo brasileiro, passou a conferir a presença de muitas (mas não de todas), defendendo que a participação plural é mais democrática que a ausência destes elementos. O engajamento cidadão do Pai de Santo gera tolerância?

ONDE DEUS FEZ A MORADA: RELAÇÕES DE GENERO NO REISADO DE SÃO SEBASTIÃO (BAN) Neide Gonçalves de Oliveira (UNEB) As histórias dos reisados estão permeadas de fatos referentes à cura através de promessas. Seja onde for, sempre se ouve “causos” de alguém que sofreu alguma doença e foi curado por causa de uma promessa feita aos santos reis. Fato é que tais práticas populares em determinados locais, tem despertado a curiosidade de alguns estudiosos, tais como (cf. BRITO, 1999; NASCIMENTO, 2013). A igreja Espírita Nossa Senhora das Graças, localizada no bairro Rosa Neto, periferia norte de Eunápolis/Ba possui uma diversidade de elementos que contemplam traços do catolicismo, do candomblé, do espiritismo e da umbanda. Este trabalho deseja analisar o papel D.Zilda como representante da relações de gênero (cf. TILLY, 1994), nesta ''irmandade'' e sua luta pela permanência desta tradição no seio desta família, percebendo como a inserção de vários elementos das diversas religiões contribuem para a prática das devoções. Nessa manifestação cultural e religiosa percebemos dona Zilda, uma viúva, de 68 anos, que criou seus 11 filhos e manteve a tradição precedida pelo seu marido, como detentora de poder, pois agrega e centraliza os diversos papeis e funções desde mãe, dona de casa, costureira, reiseira, anfitriã, organizadora, auxiliar nos tratamentos de cura, e sobretudo pela sua imensa sabedoria é que se constituiu, como mentora espiritual dos diversos sujeitos que participam dessa festividade.

COMBATE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA EM SALVADOR: UMA ABORDAGEM DAS AÇÕES DA SECRETARIA DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL (BAN) Tamila Silva dos Santos (UFBA) Este trabalho consiste nos resultados da minha pesquisa de monografia enquanto atividade de conclusão do Curso de Bacharel em Serviço Social. Sendo assim, considera o histórico de perseguição e violência que o Candomblé, como religião de matriz africana, sofreu e sofre no contexto da capital baiana, tendo em vista sua relação com a negritude e ancestralidade. Dessa forma, problematizaremos o contexto de seu surgimento, os processos de opressão ao qual estavam sujeitos, principalmente pelo intermédio das instâncias do Estado, com a proibição de seu culto, bem como, os mecanismos criados para a sobrevivência da religião, até a entrada da mesma na agenda das Políticas Públicas a partir das investidas do Movimento Negro. Estas investidas também resultaram em outras conquistas, como a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial - SEPROMI, que em Salvador, possui o objetivo de gerenciar Políticas de Igualdade Racial. Assim, essa pesquisa possui enquanto objetivo elencar e analisar as mobilizações da SEPROMI no combate à Intolerância Religiosa contra o Candomblé em Salvador. Para tanto, serão entrevistadas 5 pessoas de diferentes perspectivas, sendo 2 funcionários da SEPROMI, 2 representantes de Terreiros de Candomblé, e 1 representante não pertencente a nenhuma das duas categorias e que consideramos enquanto neutro, para problematizar as ações da Secretaria nesta direção, sendo apresentada neste trabalho apenas a análise parcial. Por fim, a relevância deste estudo se pauta em compreender quais são estas ações, e como se configura na contemporaneidade a relação historicamente conflituosa entre Estado e Povo de Santo.

A ARTE RELIGIOSA DE "MESTRE GERÁR": EXPRESSÃO E ESTRATÉGIAS DE RES(EX)ISTÊNCIAS (COM) Terezinha Oliveira Santos Trata-se de uma pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC), em curso na Universidade Federal do Oeste da Bahia, Centro Multidisciplinar Campus da Barra, na qual a professora e o aluno pesquisador dirigem suas atenções para os artesãos de Barra, uma cidade ribeirinha do Vale São Francisco, buscando trazer, para o campo da visibilidade, discussão e memória, as narrativas de si pertinentes àqueles sujeitos nas suas experiências cotidianas e identidade cultural nas suas artes do fazer. Destaca-se, nesse contexto, a arte religiosa de José Geraldo dos Santos , o "Mestre Gerár", um babalorixá, com suas peças eivadas de semioses e dualidade, quando, na sua produção, ele traz a representação de um santo católico e na mesma peça, do outro lado, a representação de um orixá. Vale ressaltar que a cidade é conhecida pela sua tradição católica fato presente na sua origem e nos dias corridos, sendo assim essa agência muito pode nos dizer das estratégias utilizadas pelo artista como forma de expressão, bem como das possibilidades de convivência na diversidade de uma região conhecida pela presença singular e plural.

GRUPO DE TRABALHO: “Educação e Diversidade: os desafios da interseccionalidade” Coordenação: Ana Lúcia Gomes da Silva (IFBA), Izanete Marques Souza (IFBA) e Roberto Santos Teixeira Filho (IFBA)

DISTORÇÕES E DEFORMIDADES: DO SILENCIO AO SILENCIAMENTO DA EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL NOS LIVROS DIDÁTICO DA BAHIA (COM) Eryson de Souza Moreira (UFRB) Este trabalho tem como fim discutir a partir de reflexões sobre o ensino de História, os silêncios que imperaram e o silenciamento que impera na educação baiana e as representações deformadas sobre o negro e sua cultura, tomando como alicerce para reflexões os livros didáticos propostos pelo Governo do Estado da Bahia e proposições que obrigam a efetivação da Lei 10.639/03 como um importante vetor de conhecimento no processo de ensino aprendizagem, sendo que este é composto pelos principais pontos norteadores do currículo escolar.

VOZES E CONTRA-VOZES DE UM DISCURSO UNIVERSITÁRIO LUSÓFONO: O CASO DA UNILAB (COM) Francisca Mônica Rodrigues de Lima (UNINOVE) A pesquisa em andamento tem como objeto de estudo a inclusão da diversidade cultural e epistemológica presente nos discursos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). A questão que orientou a investigação foi a seguinte: Os discursos que compõem a UNILAB promovem uma ruptura com a colonialidade e a colonização? A mesma tem como objetivos: averiguar, identificar, analisar e comparar nos discursos institucionais e nas diretrizes pedagógicas aspectos da colonização e da colonialidade. As hipóteses levantadas foram as de que os documentos que descrevem os objetivos da UNILAB, no que diz respeito à formação de recursos humanos para integrar o Brasil com os demais países, estão valorizando a cultura africana no contexto brasileiro ou português; os documentos (estatuto, livro institucional, diretrizes etc.) trazem marcas silenciosas da cultura dominante de matriz eurocêntrica (Portugal); há, por parte do corpo diretivo da instituição, bem como dos agentes que a instituíram, a consciência de que se trata de uma universidade popular considerando a integração entre o Brasil e os países da África. O referencial teórico deste trabalho é composto pelos seguintes autores: Foucault, Bakhtin, Pêcheux, Quijano, Mignolo e Freire. A metodologia de pesquisa utilizada é qualitativa que se desdobra em revisão bibliográfica, levantamento documental, entrevistas (gestores/formuladores dos textos) e análise do discurso onde serão examinadas as categorias de análise Popular/Educação Popular, Colonização/Colonialidade, Opressor/Oprimido e Discurso/Poder/Ideologia.

EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: O DESAFIO DAS INTERSECCIONALIDADES (COM) Izanete Marques Souza (IFBA) Este texto objetiva apresentar, a partir de experiências pedagógicas aqui relatadas, reflexões sobre a educação libertária numa perspectiva de promoção de igualdade e equidade de gênero e etnia/raça, possibilitando construções de sentido acerca de um fazer pedagógico implicado e engajado num projeto de educação que nos desafia a articular as categorias de gênero, etnicidade e sexualidade, numa perspectiva interseccional, percebendo as implicações de um fazer pedagógico que se constitui nos desafios de educar homens e mulheres num espaço escolar gendrado, racializado e generificante, buscando assim descontruir estereótipos e relativizar, ressignificar e deslegitimar discursos e verdades que são perpetuadas a partir das construções histórico-sociocultirais e discursivas do pensamento hegemônico. Neste contexto, é a partir da leitura analítica das interpelações dos inúmeros discursos que são veiculados na mídia e na publicidade, das construções discursivas constituídas pelas múltiplas linguagens, que buscamos ancorar nosso trabalho em sala de aula e em outros espaços de aprendizagem. Para subsidiar as reflexões e análise tecidas neste texto, escolhemos ancorar nosso diálogo em autores como Louro (2007), Safiott (1992), Freire (2007), Crenshaw (2002), Orlandi (2005), Fernandes (2008), Fiorin (2002), Teles(2003), dentre outros. A leitura dos textos de campanhas publicitárias e de produtos foram realizadas à luz da Análise do Discurso e de da Análise de Conteúdo. As observações realizadas numa perspectiva de uma “etnografia crítica de sala”, para utilizar uma expressão gerteziana, apontam para as possíveis intervenções que nós, educadores e educadoras, podemos realizar se a sua prática pedagógica tiver como projeto educativo o ato político implicado na formação humana com vistas à promoção da igualdade e equidade de gênero e, apontam ainda para o desafio de estabelecermos o enlace das interseccionalidades de etnicidade e sexualidade, nos permitindo, assim, o exercício de buscar superar a nossa formação limitada, a qual deve ser constante e constitutivamente “alimentada” pela pesquisa, estudos e, diálogos interdisciplinares com outros colegas em rede de solidariedade, realizando assim, partilhas de conhecimento numa perspectiva multi, inter e transdisciplinar, buscando transcender ao especialismo e ao racionalismo cartesiano e positivista que nos deforma e nos enclausura. São as experiências exitosas que ainda são tão pouco divulgadas e circuladas, que nos move em busca de uma educação de fato emancipatória. Assim, sugerimos também como necessária a ampla divulgação dessas experiências em espaços acadêmicos e transacadêmicos e, conseguintemente, a sua catalogação para que, de forma eficaz e implicada, possamos construir uma educação libertária – promotora da equidade e da igualdade.

EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: VALORIZANDO AS REPRESENTAÇÕES CULTURAIS LOCAIS COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL EM CACHOEIRA-BA (COM) Tamires Conceição Costa (UFRB) Este trabalho pretende analisar a importância das representações e manifestações culturais existentes na cidade de Cachoeira no Recôncavo baiano como conteúdos pedagógicos nas escolas de educação básica do município. Por meio de uma analise bibliográfica que vislumbra tencionar a necessidade de possibilitar ao alunado uma educação pautada na valorização da diversidade cultural existentes no seu próprio território, propiciando uma aprendizagem emancipatória e mais democrática.

COMO TORNAR-SE O QUE SE É: A CONSTRUÇÃO DO CORPO E DA IDENTIDADE DA MENINA/MULHER NEGRA NO COTIDIANO ESCOLAR (BAN) Thaislane Lopes da Anunciação Macêdo (UFBA) A construção de corpos normalizados e/ou normatizados por padrões culturais hegemônicos invisibilizam a multiplicidade e hierarquizam as diferenças. Os padrões normativos de beleza legitimados pela escola criam estereótipos que aprisionam e moldam o corpo da menina/mulher negra, transformando-o em espaço de coerção, exploração e disciplinarização. Com o intuito de problematizar os padrões normativos de beleza naturalizados e privilegiados no cotidiano escolar, esta pesquisa objetiva cartografar a construção identitária da menina/mulher negra a partir dos processos de subjetivações, identificando se elas conseguem se perceber nos discursos assumidos pela escola. Os modelos de beleza institucionalizados na escola pelas práticas pedagógicas e/ou educativas constroem territórios rígidos que excluem os distintos corpos que não se enquadram nos padrões normativos de beleza. Por não se reconhecerem nessas redes discursivas, diversas meninas/mulheres negras não se sentem pertencentes àquele espaço e não conseguem se perceberem bonitas em um ambiente que deveria dialogar e respeitar as diferenças, as multiplicidades, a alteridade. As experiências sócio-históricas e/ou socioculturais pelas quais as mulheres negras passaram são diferentes das histórias presentes no cotidiano escolar. O corpo feminino negro assume as diversas características que melhor convêm aos discursos colonizadores. A mulher negra tem o seu corpo silenciado pelas práticas pedagógicas e discursivas que negam, rotulam, estereotipam, remetendo às velhas práticas coloniais.

GRUPO DE TRABALHO: “Educação Literária Afrodescendente” Coordenação: Murilo da Costa Ferrera (UNEB)

EDUCAÇÃO E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: AS IMAGENS DE ÁFRICA E OS AFRODESCENDENTES (BAN) David Alves Gomes (UFBA) A educação brasileira, em sua maioria, ainda está centrada em bases teóricas europeias ou eurodescendentes. Em uma sociedade composta em mais da metade por negros e mestiços, torna-se incompreensível a atual conjuntura da não diversidade de saberes a serem adotados pelas vias institucionais. Neste artigo, em diálogos com textos literários, observaremos como as imagens eurocêntricas de um continente africano exótico, selvagem, sem saberes e sem História contribuem para a existência da colonialidade e as consequentes subalternização, desumanização e o genocídio da população negra brasileira. Assim, abordaremos questões relevantes dos seguintes textos literários: o conto Estranhos pássaros de asas abertas, de Pepetela; o livro 'Histórias de Tia Nastácia', de Monteiro Lobato; o conto 'Zito Makoa, da 4ª classe', de Luandino Vieira; o poema 'A pedra', de Gonesa Gonçalves; e o poema 'Porto-me estandarte', de Cuti. A partir dessas leituras e através de uma interlocução com referenciais teóricos, perceberemos que, para uma efetiva aplicação da Lei Nº 10.639/2003, é imprescindível combater a colonialidade existente na sociedade brasileira, propondo-se uma educação intercultural por meio de uma pedagogia decolonial, nas quais saberes africanos, afrodiaspóricos e também indígenas estejam apresentados de forma equitativa e sem hierarquias juntos aos de origem europeia nos programas educacionais brasileiros.

MACHADO DE ASSIS E AFRODESCENDÊNCIA: ENTRE DITOS E NÃO-DITOS (BAN) Fábio Pereira dos Santos (UNEB) Este trabalho resulta da pesquisa de iniciação cientifica que foi realizada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias/DCHT-Campus XXI, durante o período de vigência do ano de 2014 a 2015. Tomamos o método histórico-sociológico, a crítica cultural e a análise do discurso como suportes conceituais. O objetivo da presente pesquisa foi o de investigar o escritor brasileiro Machado de Assis, levando em consideração a sua afrodescendência e seu modo de fazer literatura. O que nos permitiu constatar que o autor em questão não negligencia seu caráter identitário (afrodescendente) e tão pouco sua literatura engajada e “realista”. Não se trata da omissão de temáticas afrodescendentes, mas no “como” ele faz literatura e como isso é dito. Através de um estudo bibliográfico, analisamos e fichamos os textos teóricos de alguns autores tais como Barthes, Bosi, Proença Filho, Duarte, Bernad, entre outros, como suporte para nossas análises.

LITERATURA DE CORDEL E AFRICANIDADES: APLICAÇÃO DA LEI 10.639/03 (BAN) Greicymara dos Santos Silva (UFS) Isabela Batista dos Santos (UFS) Esta apresentação tem a finalidade de relatar experiências realizadas pelo PIBID/Letras – Itabaiana, no Colégio Estadual Eduardo Silveira, no ano de 2014. A partir do cordel da sergipana Josineide Dantas (Gigi), intitulado Zumbi, o sonho da igualdade, que apresenta a cultura e a luta do líder Zumbi dos Palmares em busca da igualdade e da liberdade do povo negro. Focalizando esse gênero literário e a obra em si, desenvolvemos diversas oficinas, com o objetivo de explorar a temática que norteia a Lei 10.639/03, cujas diretrizes estabelecem o ensino da história e cultura afrodescendentes no ensino básico. Nossa base teórica se deu, principalmente, em conceitos afirmados por Marchuschi (2008), Santos (2007) e Xavier (2010), que fazem referência acerca de letramento, letramento digital, multiletramento e gêneros textuais; e nos PCN do ensino fundamental, que orientam o trabalho com língua portuguesa em sala de aula. Durante a atividade, conseguimos mostrar aos alunos diversos aspectos culturais africanos e afrodescendentes, além de proporcionarmos uma reflexão a respeito do preconceito racial, o que despertou nos estudantes uma necessidade de se manifestarem frente a essas questões, já que alguns estudantes relataram experiências pessoais. Palavras-chave: Cordel, Lei 10.639/03, PIBID.

O PIBID NA ESCOLA COMO FERRAMENTA PARA SE REFLETIR SOBRE POSTURAS E DISCURSOS RACISTAS (COM) Josenéia Silva Cota (UNEB) Neste artigo, pretende-se apresentar alguns percursos feitos no desenvolvimento de aulas no ensino médio, em uma escola pública de Salvador, que participa do Subprojeto intitulado Afrodescendência: a representação do negro na Literatura brasileira e a produção de escritores afrodescendentes e africanos de Língua Portuguesa na Contemporaneidade, do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), no Curso de Letras Vernáculas, do Departamento d Ciências Humanas, Campus I, da Universidade do Estado da Bahia, a fim proporcionar os alunos a refletirem sobre o processo de construção da identidade negra. O PIBID, especificamente o subprojeto mencionado, tem como um dos objetivos apresentar-se como um espaço de discussão que visa contribuir para a criação de diálogos sobre as diversidades de grupos etnicorraciais e a reinvenção da educação brasileira para o combate de práticas racistas que ainda são disseminadas no ambiente escolar. Para tanto, pautamo-nos na reflexão acerca da imagem do negro em obras literárias brasileiras e em recursos audiovisuais, como letras de músicas, documentários, dentre outros, para que os alunos conheçam um pouco da cultura e da história do povo negro e pense coletivamente em estratégias para o combate do racismo.

ESTUDO DOS CADERNOS NEGROS NO ENSINO FUNDAMENTAL II: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA PARA PRODUÇÃO DE TEXTOS (COM) Julice Vieira de Jesus (UNEB) O trabalho resulta de uma proposta de intervenção pedagógica para alunos do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal de Salvador, construído no PROFLETRAS. O referido trabalho é fruto de uma análise diagnóstica a respeito da produção textual desses alunos, os quais não construíram o hábito de escrever por razões que estão sendo ainda investigadas, dentre estas razões, está a hipótese do aluno não possuir familiaridade com o conteúdo sobre o qual versa a proposta de produção escrita. Diante do exposto, fica evidente a necessidade de elaboração e uma proposta que vise reduzir as dificuldades de produção textual, a qual sempre fará parte da vida cotidiana destes sujeitos, contribuindo também para a prática da escrita de outros gêneros textuais. O público para o qual se destina esta proposta é formado por alunos negros, moradores da periferia, pobres, vítimas de violência e racismo, por este motivo, a temática racial foi escolhida, para que eles sintam-se representados, desejando que desperte nos alunos, o gosto pela leitura e produção de texto, já que os assuntos que envolvem este tema são bem próximos da realidade cotidiana desses sujeitos, esta também é uma oportunidade de cumprir a lei 10.639/03, nem sempre contemplada nos projetos didáticos e no planejamento diário das atividades escolares.

A COR DA TERNURA: ROMPENDO O SILÊNCIO E DESVELANDO O RACISMO NO CONTEXTO ESCOLAR. (COM) Jurandy Vitoria de Almeida Costa Este trabalho propõe uma discussão sobre o ensino da Literatura afro-brasileira na escola, visando unir a teoria e a prática a partir da sugestão de aplicação de uma proposta de intervenção no Ensino Fundamental. O objetivo dessa proposta é colaborar para a formação de leitores críticos através da leitura de obra literária com temática afro-brasileira. Pretende-se estimular a leitura crítica dos alunos por meio da discussão da obra A Cor da Ternura de Geni Guimarães (1988), fazendo inferências e relacionando o enredo com situações vivenciadas pelo aluno. Sob o viés da Literatura será abordada a temática racial buscando influenciar o rompimento de atitudes e concepções preconceituosas e racistas, desempenhando a função humanizadora da Literatura proposta por Antônio Cândido (2011). Essa obra tem a autoria de uma mulher negra, que defende o ponto de vista na posição de alguém que viveu a situação do preconceito e racismo e viu a história do seu povo ser negada e, por isso, busca, por meio da temática abordada, fazer uma denúncia do tratamento dado aos negros. A obra ainda reflete sobre a mazela que perdura por um longo período de humilhação, além de alcançar, dentre outros, o público leitor afro-brasileiro que está em fase de formação e precisa ver suas histórias serem recontadas de uma forma mais consistente nos livros lidos na escola. .

DOS BATUQUES E SAMBA À MUSICALIDADE DAS MEMÓRIAS E IDENTIDADE AFRODESCENDENTES (COM) Maira Elidy Brito Junqueira (IAT-BAHIA) Este trabalho objetivo ressalta a musicalidade africana banta presentes nos ritmos, nos instrumentos e nas danças tradicionais no Brasil, denominados batuques, que foram determinantes na gênese do Samba . Através do estudo da música como bem simbólico, produto da história e da interação do homem com o homem, deste meio ambiente, descobrem-se estratégias da afirmação da identidade afro-brasileira. Trabalhar a formação da identidade através da musica também é uma maneira de abordar a especialidade por outro ponto de vista. Apresentando o papel ativo do negro de criar resistências ao processo que tentava desumanizá-lo, e valorizando, assim, a cultura daquele que foi escravizado, em detrimento de possíveis abordagens que insistem em tornar o nego mero agente passivo da história. Buscou-se no presenta artigo, no entanto, uma abordagem da dança, dos instrumentos e suas denominações, para a formação da identidade afrodescendente. Contudo a cultura africana se faz presente no Brasil nas diversas esferas . Talvez a mais perceptível e disseminada, na qual encontra-se na música e na dança, nos passos e cantos de jongo e do batuque de umbigada, formas de resistência , afirmação de identidade e preservação da história, Nestas manifestações tradicionais percebe-se o continuum africano no Brasil, que faz-se presente a cultura banta nosso território.

EDUCAÇÃO LITERÁRIA AFRODESCENDENTE (COM) Murilo da Costa Ferreira (UNEB) O trabalho demonstra o que vimos construindo em nosso laboratório de pesquisa de Educação Literária Afrodescendente (CNPq/UNEB) e de extensão na UNEB - campus XXI – Ipiaú: a promoção de práticas pedagógicas que objetivem a elaboração e a utilização de materiais didáticos de Literatura vinculadas à Educação Étnico-Racial e a Educação Escolar Quilombola na formação inicial e continuada de educadores. O trabalho se localiza na região de comunidades de quilombo, situado na sede quilombola do município de Maraú. Isto se justifica porque tem sido amplamente discutida em diversos contextos sociais, inclusive no âmbito universitário, a reprodução pelos livros didáticos e currículos escolares da Educação Básica brasileira de distorções, omissões e equívocos em relação à história e a cultura dos povos africanos e seus descendentes no Brasil e nas Américas. Tais distorções são visíveis nos livros didáticos de textos literários do ensino fundamental e médio das escolas brasileiras. Nota-se aí, então, a ausência de uma referência explícita de textos literários afro-brasileiros e de africanos de língua portuguesa e de uma análise e uma crítica didaticamente correspondente a este assunto. Por isso, do escopo do GT Educação Literária Afrodescendente, aplicado aos objetos estudados, resultam os seguintes objetivos: rediscutir historicamente, em termos ideológicos e estéticos, os fatores responsáveis pelo surgimento do movimento da negritude literária e sua transtextualidade diaspórica; mostrar, a partir da leitura crítica de textos teóricos e literários, a ressonância da negritude literária nas literaturas produzidas no Brasil e na África de língua portuguesa; refletir criticamente, em termos ideológicos e estéticos, os fatores responsáveis pela formação do discurso literário afro-brasileiro, sua abrangência identitária e cultural nas comunidades quilombolas brasileiras; e elaborar, sistematizar e publicar estes estudos e análises no formato de material didático e paradidático para ser assumido em sala de aula, tanto na graduação em Letras, ou em outras graduações como na de História e Artes, também na Educação Básica.

ANGOLA E BRASIL: UM ENCONTRO LITERÁRIO EM BUSCA DE IDENTIDADES (COM) Patrícia Conceição Silva Santos (UNIJORGE) A nossa apresentação pretende abordar a temática da Educação literária afrodescendente, à partir das reflexões entre dois autores da literatura angolana e outros dois representantes da literatura afro-brasileira. Os escritores angolanos que faremos referência são: Pepetela e Luandino Vieira com suas respectivas obras, o romance As aventuras de Ngunga, no qual e o conto Vavó Xíxi. No que que se refere ao romance, o objetivo é retratar o significado da guerra de libertação de Angola na busca de seu povo pela identidade. Em relação ao conto enfatizaremos a questão da perda da identidade e a luta pela preservação de valores, representada por uma anciã. Quanto aos contos afro-brasileiros, selecionamos Trajetos, de Luiz Silva (Cuti) e Era madrugada e Deus Falou, de Helton Fesan. No primeiro conto, o autor demonstra a sua preocupação com a perda da identidade, através da figura de um ancião e, no segundo conto são travadas discussões sobre o racismo no Brasil e a importância da conquista dos afro-brasileiros pelos seus direitos. Por fim, faremos um paralelo entre os textos selecionados para demonstrar a proximidade das temáticas abordadas pelos escritores angolanos e brasileiros em torno da busca pela identidade.

CURRÍCULO EM MOVIMENTO: AFIRMAÇÃO DA DIFERENÇA E EMPODERAMENTO POLÍTICO-CULTURAL AFRODESCENDENTE (COM) Selma Maria Batista de Oliveira (UNEB) O ser humano ao nascer se vê rodeado de uma série de costumes que aos poucos vai assimilando através da linguagem e da imitação com base nos conhecimentos e hábitos adquiridos dos que lhes antecederam, constituindo assim sua subjetividade com base na cultura a qual esta inserido. Seguindo este raciocínio e tendo como respaldo a história europeizada da classe dominante brasileira, não é de se estranhar que um pensamento preconceituoso foi agregado e perpetuado por gerações, estigmatizando pejorativamente qualquer cultura não ligada a do continente europeu. Ensaiando um movimento de deslocamento curricular, apresentamos um breve cotejo que aborda a partir das concepções de cultura a importância do ajuste curricular educacional brasileiro e sua relação direta com a legitimação da identidade políticocultural afrodescendente. Teoricamente, utilizamos algumas contribuições da filosofia e dos estudos culturais, no intuito de compreender aspectos dos processos educacionais relacionados à legitimação e empoderamento indenitário afrodescendente.

GRUPO DE TRABALHO: “Educação Profissional e Tecnológica na Bahia: de onde viemos para onde vamos?” Coordenação: Luzia Matos Mota (IFBA) SONHOS OU MIRAGENS: APONTAMENTOS SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DISCENTES EM RELACAO EDUCACAO PROFISSIONAL NO CETEP RECONCAVO II ALBERTO TORRES (COM) Alex de Jesus Oliveira (SEC-BA) O artigo pretende discutir as representações que os alunos dos Cursos Técnicos dos 3 anos dos cursos de Informática, Zootecnia, Análises Clinicas, e Segurança do Trabalho do CETEP Alberto Tôrres em Cruz das Almas - BA têm em relação a sua formação e perspectivas de inserção no mercado de Trabalho. Por meio de aplicação de questionário fechado e entrevistas tercemos uma reflexão, ainda que embrionária sobre a Educação Profissional na Bahia,- mas especificamente no Recôncavo - a partir da perspectiva dos educandos com a finalidade de colaborar com o debate sobre a temática.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DA BAHIA: O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E SUAS INTERFACES COM O MUNDO DO TRABALHO (COM) Amanda da Silva Rios Tendo em vista a necessidade da formação plena dos estudantes, conforme propõe a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases, em seu Art. 1, inciso 2º: “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social, esta proposta de trabalho se propõe a uma análise da concepção do trabalho como princípio educativo proposto na base legal da Educação Profissional da Bahia e como essa concepção pode contribuir para a formação humana integral dos sujeitos que dela fazem parte. A educação profissional nos dias de hoje, seja no âmbito Federal ou Estadual, não pode se ater a formação de reprodutores de atividades repetitivas, como já nos colocava Charlie Chaplin em Tempos modernos, de 1936. Urge atentarmos para as novas demandas da sociedade contemporânea e para a necessidade do protagonismo do sujeito enquanto ser emancipado e agente de transformação, que deve ter uma educação voltada para seu desenvolvimento pleno, numa dimensão crítica, o que demanda uma formação profissional que não seja tecnicista, visando apenas a instrumentalização de mão de obra para desempenhar determinadas funções, oportunizando aos sujeitos qualificarem-se profissionalmente e obterem uma formação humanística e crítica. O trabalho precisa ser compreendido como extensão do homem, mas não o objetivo principal de sua existência. Segundo Ramos (2010), o resgate do sentido ontológico do trabalho é um caminho para a superação da alienação, compreendendo o conhecimento humano como produto de necessidades e práticas do ser social, que, historicamente condicionaram o contraditório avanço das forças produtivas.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DA BAHIA: O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E SUAS INTERFACES COM O MUNDO DO TRABALHO (COM) Flaviane Leite Araújo Tendo em vista a necessidade da formação plena dos estudantes, conforme propõe a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases, em seu Art. 1, inciso 2º: “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social, esta proposta de trabalho se propõe a uma análise da concepção do trabalho como princípio educativo proposto na base legal da Educação Profissional da Bahia e como essa concepção pode contribuir para a formação humana integral dos sujeitos que dela fazem parte. A educação profissional nos dias de hoje, seja no âmbito Federal ou Estadual, não pode se ater a formação de reprodutores de atividades repetitivas, como já nos colocava Charlie Chaplin em Tempos modernos, de 1936. Urge atentarmos para as novas demandas da sociedade contemporânea e para a necessidade do protagonismo do sujeito enquanto ser emancipado e agente de transformação, que deve ter uma educação voltada para seu desenvolvimento pleno, numa dimensão crítica, o que demanda uma formação profissional que não seja tecnicista, visando apenas a instrumentalização de mão de obra para desempenhar determinadas funções, oportunizando aos sujeitos qualificarem-se profissionalmente e obterem uma formação humanística e crítica. O trabalho precisa ser compreendido como extensão do homem, mas não o objetivo principal de sua existência. Segundo Ramos (2010), o resgate do sentido ontológico do trabalho é um caminho para a superação da alienação, compreendendo o conhecimento humano como produto de necessidades e práticas do ser social, que, historicamente condicionaram o contraditório avanço das forças produtivas.

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E A INSERÇÃO DOS JOVENS NO MUNDO DO TRABALHO NO “COMÉRCIO MAIS BARATO DA BAHIA”: UM ESTUDO EM SANTO ANTÔNIO DE JESUS (COM) Tatiane da Silva Bispo (IFBA) Este trabalho tem por objetivo principal identificar se a oferta de educação profissional da rede pública estadual no município de Santo Antônio de Jesus - Bahia tem atendido às demandas do arranjo produtivo local. Sabe-se que nos últimos anos, o Governo da Bahia vem ampliando consideravelmente a oferta de cursos técnicos de nível médio em todo o estado, e diante disso, têm surgido alguns questionamentos a respeito da qualidade da formação que os estudantes da rede estadual de educação profissional têm recebido. Portanto, este trabalho buscou identificar se os jovens formados por esses cursos no munícipio têm encontrado espaço para atuarem profissionalmente no mundo do trabalho, pois Santo Antônio de Jesus ocupa um lugar de destaque dentre as cidades do Recôncavo Baiano devido ao grande comércio local, popularmente conhecido como “O Comércio Mais Barato da Bahia”.

OS REFLEXOS DA LEI.10.639/03 NAS DIRETRIZES CURRICULARES NO ENSINO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO MODALIDADE INTEGRADA (BAN) Dandara dos Santos Silva (UNEB) O presente trabalho tem o objetivo analisar as mudanças curriculares nacionais da Educação Profissional Técnica de Nível Médio a partir da lei 10. 639/03. Tratar de tal Lei na perspectiva do Ensino Técnico significa pensar a sua aplicação dentro de outras instituições publicas de ensino, bem como, seu caráter que visa à quebra da discriminação racial presente nas políticas de educação. A Lei está pautada em políticas de Ações Afirmativas, uma vez que ela tem como principio a garantia do direito e a construção histórica da diversidade étnico-racial da sociedade brasileira. Utilizaremos como fonte de analise o Documento de Base da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada de 2008 e as Diretrizes curriculares para a Educação técnica de nível médio, busca-se perceber quais modificações efetivadas nas diretrizes curriculares a partir da promulgação da lei e quais são seus alcances na educação técnica de nível médio. A partir de tais investigações pretende-se perceber as contribuições das políticas de Ações Afirmativas no cenário da educação técnica brasileira. Fazer uma reflexão sobre a estrutura curricular da educação técnica brasileira é perceber como os projetos: Políticos, Sociais, Econômicos e Culturais estão sendo pautados na formação da educação básica profissional.

GRUPO DE TRABALHO: “Educação, línguas e linguagens pluriculturais” Coordenação: Abílio Manuel Marques de Mendonça (UNEB), Rosângela Accioly Lins Correia (UNEB) e Mônica Corrêa Marapara PALAVRAS DE LÍNGUAS NEGROAFRICANAS REFERENTES AO SEXO E À SEXUALIDADE NO PORTUGUÊS FALADO NA BAHIA Abílio de Mendonça (UNEB) As palavras negroafricanas referentes à sexualidade que foram trazidas pelos escravizados na época colonial e representam a diversidade e riqueza do legado que este imenso caldeirão de culturas e línguas chamado África deixou no Brasil, ficaram no falar descontraído dos baianos até os dias atuais. Elas foram principalmente introduzidas pelas mulheres negras que serviam de amas-de-leite e as yayás em uma interação sociolinguística. Conhecer essas palavras é uma forma de resgatar a dignidade de seu povo, sem que haja exclusão, não se tratando simplesmente de fazer um levantamento lexical, mas sim de perceber nas línguas de origem africana toda sua riqueza histórica e cultural que contribuíram para a nossa formação lexical brasileira referente à sexualidade.

DESCOLONIZANDO O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL E OS MULTILETRAMENTOS (COM) Elâine Cristina Matos da Paixão (UEFS) O presente trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa homônimo, que será desenvolvido no Mestrado Profissional em Letras – Profletras/UEFS com o propósito de elaborar uma sequência didática como um projeto de intervenção educacional no Ensino Fundamental. A proposta será aplicada numa escola pública da zona rural, com os alunos do 8º ano, seguindo a metodologia da pesquisa-ação (investigação-ação). As atividades do projeto propõem a leitura crítica do curtametragem de ficção “Vista minha pele”, de Joel Zito Araújo, e do documentário “Lápis de cor”, de Larissa Santos, para, a partir da reflexão de como é construída a autoimagem e a autoestima do negro, produzir um documentário em apoio à implementação da LDB alterada especialmente pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, desenvolvendo competências e habilidades para os multiletramentos. Com o aporte teórico na perspectiva sociodiscursiva e apoiando-se nos estudos de Bakhtin (1997), Bagno (2002), Marcuschi (2001, 2010) e Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), a sequência didática pretende trabalhar com atividades que contemplem os novos usos da linguagem na prática social e cultural dos educandos.

JOGOS AFRICANOS: ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA (BAN) Fabrício de Oliveira Ferro Dias (UFOB) O presente trabalho corresponde a um relato parcial de experiência referente à participação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID). As atividades aconteceram no Centro Territorial de Educação Profissional (CETEP), localizada em Vitoria da Conquista, durante o primeiro semestre de 2015, apresentando o dia a dia com as observações das aulas, as reuniões e palestras. As reuniões acontecem semanalmente envolvendo leituras teóricas, debates e reflexões sobre o que foi observado durante as aulas. Este relato de experiência se refere ao subprojeto do curso de licenciatura em História, e apresenta as observações de campo e todos os momentos da execução do projeto 2015 com tema “JOGOS AFRICANOS: ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA”. O objetivo foi compreender as representações do continente africano registradas por esse universo de alunos, contrastando-as com outras histórias, imagens e percepções da África. A coleta dos dados foi realizada através de questionário aberto e das anotações de vivência de campo. Os desafios e as conquistas de todo percurso do projeto foram especialmente, perceber o quanto é importante o contato com a escola. As observações foram realizadas em dupla, durante as quartas-feiras, no 3° ano do curso Técnico em Edificações, modalidade EPI (Educação Profissional Integrada) nos dois primeiros horários, com a professora supervisora Micheline Alves Marques.

AKPALÔ: COMPONDO LINGUAGENS AFRICANO-BRASILEIRAS PARA O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO DE IPITANGA (COM) Rosângela Accioly Lins Correia Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, apoiada numa perspectiva etnográfica, dedicada a lidar com a singularidade do bairro de Itinga que abriga a presença de comunalidades, que influenciam o viver cotidiano dessa territorialidade. Apresenta reflexões teórico-epistemológicas no campo da Descolonização e Educação, tendo como referência as arkhés civilizatórias presentes em Santo Amaro de Ipitanga advinda dos patrimônios civilizatórios tupinambá, africano e europeu. Procuramos extrair desses legados civilizatórios a riqueza de valores e linguagens que constituem suas formas de comunicação, elaboração de mundo e sociabilidades. Assim, nos dedicamos a propor linguagens lúdico-estéticas e metodologias para a Educação Infantil. A análise que desenvolvemos se estrutura através do conceito de alteridade radical ou escuta radical do filósofo Emmanuel Levinas, e através desses conceitos desenvolvemos análises sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, documento normativo publicado pelo MEC em 2010. Analisamos as práticas pedagógicas das educadoras na Escola Municipal, indagando se essas práticas consideravam o ethos cultural da territorialidade da pesquisa. As reflexões e proposições que apresentamos nesta pesquisa dialogam com as perspectivas indicadas nas Leis 10.639.03 e 11.645.08 que incluem a obrigatoriedade do ensino no que tange aos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, da história da África e afro-brasileira e dos povos indígenas no Brasil. Finalmente, convidamos o/a educador(a) para arriscar a pensar a partir de outros campos conceituais que florescem através das narrativas que comunicam a identidade profunda das nossas crianças.

GRUPO DE TRABALHO: “EJA e Formação de Professores” Coordenação: Tânia Regina Dantas (UNEB) A POESIA DE CORDEL NO BRASIL E A IDENTIDADE CULTURAL: UMA DISCUSSÃO POSSÍVEL Sílvia Gomes de Santana Velloso A poesia de cordel é considerada literatura popular produzida pelo povo e difundida para o próprio povo, funcionando como um dos maiores meios de comunicabilidade popular, o qual possibilita a todos participarem da atuação poética através do código linguístico oral. Nessa perspectiva, este trabalho discute a literatura de cordel como um gênero de texto que favorece o diálogo com diferentes culturas e identidades, revelando-as e desvendando-as, num intenso trânsito. Objetiva-se, desse modo, evidenciar o potencial significativo desse gênero discursivo, o qual o torna, além de objeto epistêmico, importante aliado no trabalho com leitura literária em sala de aula. O referido estudo é parte de uma pesquisa de mestrado que investiga a literatura de cordel como instrumento de leitura e letramento na educação de jovens e adultosEJA. Assim, apresentaremos um levantamento bibliográfico pautado em autores como Hall, Bakhtin, Abreu, Zumthor e outros.

LEITURA E ESCRITA NA EJA: UMA ABORDAGEM AMBIENTAL Yara da Paixão Ferreira Nas classes da Educação de Jovens e Adultos o processo educativo deve ser trabalhado de forma contextualizada com as temáticas inerentes a sociedade e interligadas ao cotidiano dos educandos. Diante de tal perspectiva o presente trabalho tem como objetivo trabalhar a Língua Portuguesa precisamente a leitura e a escrita, atrelada à questão Ambiental, através de diversos gêneros textuais com abordagens de ordem social como: desigualdade econômica; desenvolvimento da sustentabilidade contra a cultura do desperdício; o consumismo e a questão capitalista; e a força do trabalho vinculada ao mundo da produção. A metodologia utilizada será de caráter bibliográfico-empírico, através de leituras, interpretações, discussões e construções, orais e visuais. Tendo como suporte teórico Paulo Freire; Carvalho; Loureiro e os Módulos do Processo Formador em Educação Ambiental Distância (2009). Tal proposta visa favorecer a construção e expressão do sujeito. Promovendo uma aprendizagem pautada na responsabilidade e no compromisso social em relação ao futuro do planeta e dos seus habitantes.

GRUPO DE TRABALHO: “Enleituramentos na Infância” Coordenação: Rosemary Lapa de Oliveira (UNEB) LEITURA NA ESCOLA: A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO LEITOR (COM) Andressa Silva dos Santos (UNEB) A presente pesquisa de iniciação científica tem por objetivo investigar como se dá a mediação do sujeito leitor no ensino fundamental da Educação Básica, considerando ser a leitura o fio condutor do ensino-aprendizagem, prevendo a capacidade de inferência, interpretação e letramento. A investigação lança mão dos dispositivos etnográficos de observação e escuta do ambiente escolar de escolas públicas da capital baiana escolhidas aprioristicamente. A análise das evidências levantadas serão tratadas como dados a seres analisados e generalizados para se entender a situação da leitura através da constituição do sujeito leitor na educação básica. Como estudantes bolsistas de iniciação científica, procuramos investigar o processo de ensino- aprendizagem em relação a leitura.

A APRENDIZAGEM DAS DIFERENÇAS NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL CLÁSSICA (BAN) Beatriz Evangelista Silva Santos (UNEB) Este trabalho foi desenvolvido de acordo com a proposta inicial, com o objetivo de compreender melhor como as diferenças estão sendo representadas na literatura e acrescentar qualitativamente no rol de pesquisas nesta área. Com ele, pretendemos analisar criticamente como as diferenças, em particular aquelas marcadas pelas deficiências, são tratadas na literatura infanto-juvenil clássica, mais especificamente no livro “O corcunda de Notre-Dame” de Victor Hugo, bem como, traçar um paralelo entre o livro e o filme produzido pelos estúdios Disney. Refletir sobre a recepção da obra por alunos do ensino fundamental I, da escola pública da cidade de Seabra-BA, no que se refere a diferença abordada no livro e no filme, buscando investigar como eles pensam/percebem as diferenças no contexto social e escolar. Para isso, foram utilizados como suporte teórico BHABHA, EIZIRICK, HALL, AQUINO, POUGY, EDLER, YÚDICE, Luciene Maria da Silva, entre outros. A obra escolhida para esse estudo foi o clássico O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo, uma obra publicada na França, em 1831, que também é conhecida pelo nome de Notre-Dame de Paris, sendo considerado um romance histórico. O estudo aqui desenvolvido busca apresentar assim três aspectos de reflexão sobre as diferenças: no livro, no filme e na escola. Na escola propôs-se a realização de oficinas sobre o livro de Victor Hugo, como um modo de provocar a reflexão dos alunos e observar qual a percepção deles sobre as diferenças.

CONTO E O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO (BAN) Cristina Ribeiro de Souza Bispo (UNEB) O presente estudo propõe uma reflexão sobre a prática de produção textual, a partir de uma experiência realizada através do Programa Institucional de Bolsa á Iniciação á Docência-( PIBID )em uma instituição pública de ensino, atentando para a importância de propostas metodológicas que oportunizem por um lado, o professor de Língua Portuguesa a desenvolver atividades voltadas para tal prática e assim avançar em sua práxis pedagógica, e por outro lado, conduzir o aluno a ler, escrever e produzir textos com base em um processo contínuo e crescente de aprendizagem , a fim de fortalecer e corroborar para a formação de escritores autores, uma vez que a produção da textos pode ser utilizada como estratégia pedagógica capaz de contribuir para a formação de escritores autônomos. Considerando que a produção de um texto engloba uma reflexão sobre o mundo, destacamos a importância do aluno, mediante sua produção textual, através da atividade de escrita posicionar-se, expondo seu ponto de vista expressos no texto, o que permite a apropriação de uma cultura escrita carregada de novos sentidos ao letramento em suas vidas e ao mesmo tempo que essa atividade sirva como instrumento de autonomia e conhecimento. Nesta compreensão, o intuito desse estudo é evidenciar possibilidades de construção de aprendizagens significativas através do desenvolvimento de habilidades e competências pertinentes ao exercício da produção textual, privilegiando o gênero conto.

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL DA CRECHE MUNICIPAL TEREZINHA MENEZES MANGABEIRA EM JACOBINA-BA: UMA VIAGEM PELO MUNDO DA IMAGINAÇÃO ATRAVÉS DO PROGRAMA PIBID (BAN) Naiara da Rocha Matos (UNEB) O presente trabalho tem como objetivo geral desenvolver oficinas pedagógicas na Educação Infantil, utilizando a contação de histórias, no intuito de incentivar a prática da leitura para a criança, estimulando a vivência com manifestações da cultura popular, e como objetivos específicos: estimular o gosto pela literatura infantil, utilizando fantoches e dramatizações; promover a interdisciplinaridade entre a Educação Física e os demais conteúdos trabalhados na sala de aula. Para tanto, a metodologia está pautada na Pedagogia Histórico-Crítica de Gasparin (2002). As atividades são desenvolvidas nos estágios II, III, IV e V da creche, por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, com o Subprojeto “Escola como espaço da cultura corporal na cidade de Jacobina-BA”. As vivências acontecem no momento das intervenções, na sala de aula, no pátio da instituição ou na quadra externa do ginásio de esportes, com auxílio da supervisora, onde busca-se estimular à imaginação e a fantasia das crianças, respeitado a faixa etária e adequando as atividades de acordo com o estágio. Ao longo de sete meses de intervenção, notamos o gosto das crianças no trato com os conteúdos trabalhados e a carência de mais momentos como estes, que possibilitem essa “viagem pelo mundo da imaginação”, e que o trabalho com a leitura nas aulas de Educação Física contribui para a formação integral dos alunos.

GRUPO DE TRABALHO: “Escritas periféricas e (des)locamentos contemporâneos” Coordenação: Ilmara Valois Bacelar Figueiredo Coutinho (UNEB), Lílian Almeida (UNEB), Luciana Sacramento Moreno Gonçalves (UNEB) ESPAÇO COMO REPRESENTAÇÃO E FOCALIZAÇÃO NARRATIVA NA LITERATURA E NO RAP ANGOLANO Bruna Borges de Almeida (UFRGS) O presente estudo se insere no projeto de pesquisa “Letras e vozes anticoloniais” coordenado pela professora doutora Ana Lúcia Liberato Tettamanzy, do Instituto de Letras da UFRGS, e objetiva estudar o conceito de espaço na literatura angolana em suas dimensões física – enquanto espaço social representado – e simbólica – como foco de enunciação que materializa perspectivas narrativas. São analisadas obras dos escritores Jofre Rocha, Luandino Vieira e João Melo que tratam dos musseques de Luanda. O estudo também se estende ao rap, buscando compreender como essa poética representa o espaço social e quais perspectivas de enunciação traz à luz em sua elaboração estética. Partindo do entendimento de que as recentes produções literárias dos países africanos que se independentizaram de Portugal em 1975 trazem as marcas do colonialismo e das guerras civis que a ele sucederam, este estudo entende as obras estudadas enquanto discursos anticoloniais, no sentido de que propõem discursos críticos às estruturas de poder coloniais e representam os musseques como espaço físico e simbólico de resistência ao colonialismo. O projeto no qual tal estudo está inserido busca a aproximação entre perspectivas africanas e ameríndias no campo dos estudos literários, a fim de estimular a reflexão sobre poéticas orais e escritas não-ocidentais.

DESESCRITA, LITERATURA E SAÚDE: UMA PINTURA E UMA MÚSICA PRÓPRIAS DA ESCRITA DE MANUEL RUI (BAN) Bruno Emanuel N. de Araújo (FACULDADE SALVADOR) O presente trabalho analisa nos textos críticos do escritor angolano Manuel Rui, apresentados em diversos congressos de literatura no Brasil e em Portugal, a proposição e composição do projeto estético-político denominado de desescrita, delineado pelo escritor como um modo de “pensar” e escrever o texto angolano enfrentando o jugo colonial e as suas sequelas, ressonâncias e resíduos. A desescrita idealizada por Manuel Rui é perpassada por ideias de reconstituições subjetivas, além de posicionamentos políticos e epistemológicos na relação texto-leitor-escritor, problematizando o uso da escrita de língua portuguesa no espaço literário angolano e o compromisso com novas formas de dizer para tornar legítima a sua posse. A desescrita foi denominada nesse trabalho como saúde, tomando de empréstimo a metáfora “A literatura é uma saúde” de Gilles Deleuze a fim de asseverar a importância social e subjetiva da proposta escritural. Ela é uma das estratégias, dentre muitas, de reescrever África no interior dos seus conflitos, atendendo a diversas demandas que se modificam e se reformam a cada momento.

CARTOGRAFIAS DA MARGINALIDADE NAS OBRAS CAPITÃES DA AREIA, DO BRASILEIRO JORGE AMADO, E MARGINAIS, DO CABO-VERDIANO EVEL ROCHA (COM) Érica Antunes Pereira (USP) As obras Capitães da areia, do brasileiro Jorge Amado, e Marginais, do cabo-verdiano Evel Rocha, publicadas, respectivamente, nos anos de 1937 e 2010, guardam semelhanças quanto ao tema da violência e da marginalidade. Nesta apresentação, procuro estabelecer alguns pontos de contato entre as literaturas dos dois lados do Atlântico, atentando para as características das personagens e as situações sociais retratadas nos referidos romances, podendo ser citadas: 1) a marginalidade social focalizada a partir da experiência na participação de grupos formados por crianças e adolescentes (os capitães da areia e os pitboys) que, desprovidos da proteção familiar, lutam pela sobrevivência e, para tanto, às vezes agem ilicitamente, contrariando comportamentos considerados morais e desejáveis pela comunidade; 2) a educação como um pretenso ponto de equilíbrio rompido pelo esfacelamento do núcleo familiar; e 3) a sexualidade que oscila entre a violência (abuso sexual, pedofilia) e a afetividade (carinho e amor).

OS ESPAÇOS DA ESCRITA DE AYAAN HIRSI ALI (COM) Eumara Maciel dos Santos (UFOB) Neste estudo, investigou-se como a somali Ayaan Hirsi Ali, em sua escrita autobiográfica Infiel, a história de uma mulher que desafiou o islã (2007), constituiu a si nos diferentes espaços entre Oriente e Ocidente. Essa obra tem como marca fundamental a fragmentada subjetividade contemporânea de uma imigrante que, ao renunciar ao Islã, empreendeu uma luta pela liberdade de expressão enquanto mulher, que lhe rendeu a condenação à morte por fundamentalistas islâmicos. A fim de alcançar o objetivo proposto, a investigação estabelece diálogo com os estudos de autores como Bhabha (1991; 2005; 2007), Ki-Zerbo (2010), Hampâté Bâ (2003; 2010), Hall (1996; 2000), Edward Said (1990; 2003; 2005), Arfuch (2010; 2013), GarciaCanclini (2005) entre outros. A autobiografia de Ayaan Hirsi Ali representa o narrar-se pós-moderno que conflui em textos híbridos e fragmentados, performáticos e midiáticos de um eu múltiplo e descentrado frente aos espaços pelos quais passou e como se constituiu a partir deles.

O FRAGMENTO NA CONTEMPORANEIDADE: POESIA E PENSAMENTO (COM) Ilmara Valois Bacelar Figueiredo Coutinho (UNEB) O texto discute o fragmento literário presente na prosa contemporânea, tendo como universo empírico o livro Ó, de Nuno Ramos (2008). Trata-se do resultado de uma pesquisa bibliográfica, de natureza multirreferencial, fundamentada teoricamente por Agamben (2013), Blanchot (2005, 2010), Dalcastagnè (2012), Dias (2011), Foucault (2011), Maffesoli (2007), Mosé (2005), Nietzsche (1999), Schollhammer (2011), Steiner (2012), Vaihinger (2011), entre outros. No veio do enraizar indisciplinado que vai amalgamando temas, discursos, pontos de vista, linguagens, espaços-tempos, entre outras territorialidades postas em dispersão, a poética do fragmento edifica-se por meio da intempestividade de “um eterno retorno” (NIETZSCHE, 1999) cuja expressividade problematiza a condição estilhaçada, multirreferenciada e autorreflexiva da contemporaneidade. Durante o estudo, foi possível adensar a percepção de que a ordem do fragmento é a ordem da itinerância entre poesia e pensamento tanto na forma como a escrita vai moldando-se lacunar, nômade, imprevisível, quanto na propensão por solicitar leituras sediadas no entrechoque das (im)possibilidades concernentes à construção dos sentidos.

LITERATURA E PERIFERIA: A ONÇA EM VERSO A (AUTO)REPRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS MARGINAIS O VIÉS DA LITERATURA PERIFÉRICA/MARGINAL BAIANA NAS ANTOLOGIAS O DIFERENCIAL DA FAVELA POESIAS QUEBRADAS DE QUEBRADA E A POESIA CRIA ASAS (COM) Jacqueline Nogueira Cerqueira (BARÃO DE MAUÁ) O presente trabalho visa discutir a (auto) representação do sujeito-marginal nas antologias O Diferencial da Favela Poesias Quebradas de Quebrada e A poesia cria asas (2014) a partir da relação literatura e periferia, analisando como se dá o processo de (auto) representação do sujeito-marginal nestas antologias. Analisar as produções poéticas de autores marginais e seu processo de (auto) representação na literatura periférica/marginal da Bahia, é de suma importância no cenário da literatura contemporânea, pois além promover e analisar a discussão sobre essa produção escrita, trata-se da produção de jovens negros baianos em ascensão no mercado editorial como protagonistas do processo simbólico, vozes marginalizadas socialmente, que estão invertendo a imagem estereotipada desses sujeitos na literatura e do espaço onde vivem, além de constitui-se como uma nova face de representação da periferia para a própria periferia. Imagem que é (re)construída a partir da poesia e da (des)sacralização da literatura por meio dos Saraus Literários, conscientizando jovens negros a se munirem a partir da leitura, buscando a produção de conhecimento como forte arma de reação e poder na sociedade. A pesquisa fundamenta-se a partir dos discursos de Nascimento, Reyes, Hollanda e outros.

UM (IM)PACTO DE AMOR: UMA LEITURA DO CONTO AMOR CRISTÃO DE MARCELINO FREIRE Joelson Santiago Santos A literatura, em suas performances, (re)inventa histórias, realidades e conceitos. A acepção de amor é um dos motes preferenciais de diversos textos literários e matéria de composição de vários artistas. O escritor pernambucano Marcelino Freire, na coletânea de contos Rassif: mar que arrebenta, 2008, no conto Amor Cristão delineia uma definição de amor avessa, inversa, paradoxal, periférica às recorrentes significações registradas no universo das letras. A partir dessa perspectiva da narrativa de Freire, pretende-se nesse trabalho apresentar uma leitura do conto Amor Cristão, buscando explorar o (im)pacto dos sentidos propostos no texto e perscrutando as inter-relações com outros textos e/ou conceitos sobre o amor sugeridos nessa narrativa de Marcelino Freire.

O EU RETORCIDO ENTRE A DOR E O DESEJO NOS VERSOS DE RITA SANTANA (COM) Lílian Almeida de Oliveira Lima (UNEB) O eu retorcido entre a dor e o desejo nos versos de Rita Santana Alforrias, livro de 2012 de Rita Santana, traz na composição gráfica e literária as aberturas pressupostas no título. A poeta, grapiúna de Ilhéus, desloca das margens o desejo e a dor, trazendoos para a carne dos versos, exibindo imagens de um eu lírico feminino que ama, sofre e deseja. Neste trabalho, pretendo focar o olhar na dor e no desejo vividos pelo eu poético a partir da materialidade do corpo. A relação do sujeito mulher com o homem, suas venturas e frustrações, seus ardores de fêmea e desapontamentos de mulher ferida, ultrapassa o arame farpado da vida em sociedade e as normatizações de corpos e comportamentos, especialmente aqueles relacionados à sexualidade. A partir dos versos de Rita Santana pretendo pensar a mulher contemporânea e seus “caprichos” de fêmea.

POÉTICA AFRO-BRASILEIRA: ESCRITURAS DA ALTERIDADE FEMININA NEGRA (COM) Marluce Freitas de Santana (UNEB) Este ensaio destaca a importância da Literatura Afro-brasileira enquanto formulação discursiva contra-hegemônica de questionamento ao Cânone Literário Nacional que tem obliterado as representações da diversidade cultural brasileira e silenciado o protagonismo dos grupos socialmente desprestigiados. Objetiva-se refletir sobre o potencial da escrita de mulheres negras na luta contra a opressão sexista e racista, considerando essa produção artística e intelectual como transgressão ao silenciamento que historicamente oprimiu as mulheres, bem como estratégia políticoideológica capaz de operar a subversão de princípios e valores da tradição patriarcal por meio das subjetividades negro-femininas que perpassam essa textualidade. Nossa proposta metodológica apoia-se na crítica literária feminista contemporânea, nos Estudos Culturais e Afro-brasileiros, partindo do conceito de Literatura Afro-brasileira de Eduardo de Assis Duarte e Feminismo negro de Lélia Gonzales. Esperamos contribuir para o interesse de outros estudos acadêmicos que tomem por objeto esse corpus literário, evidenciando a positividade de representações da mulher negra, como forma de contraposição ao racismo e ao sexismo que a sociedade brasileira faz de conta não enxergar.

REPRESENTAÇÃO DA LITERATURA PERIFÉRICA CONTEMPORÂNEA NA OBRA LITERÁRIA, LITERATURA, PÃO E POESIA, DO ESCRITOR PERIFÉRICO SÉRGIO VAZ (COM) Mércia de Lima Amorim (UNEB) Este trabalho trata da Representação da Literatura Periférica Contemporânea na obra literária, Literatura, Pão e Poesia, do escritor periférico Sérgio Vaz. Tal discussão é de grande relevância porque a Literatura possui um valor específico que torna legítimo os estudos literários e o confronto com as diversas obras nos enriquecem existencialmente ao abrir o campo para as várias possibilidades de entender, interpretar e interagir com mundo e com o sujeito que nele habita. Investigar como os movimentos periféricos se consolidam e se inserem na Literatura Brasileira Contemporânea; investigar as noções do termo periferia, utilizando como referência o campo de conhecimento literário e analisar como a Literatura Periférica Contemporânea é representada na referida obra literária são os objetivos deste trabalho. Esta investigação apoia-se no referencial teórico sustentado por Reyes (2013), Dalcastagné (2012), Nascimento (2009), Pellegrini (2008), Resende (2008), Vaz (2001), entre outros. Tem-se como resultados finais indicações de que a periferia produz e consome muita arte e cultura e que a “Literatura Periférica” se contrapõe à visão equivocada que os periféricos não leem ou são maus leitores. O fenômeno das produções literárias periféricas está se alastrando pelo Brasil, e é através dessas produções literárias e artísticas produzidas pelos periféricos que os mesmos não são mais vistos como vítimas passivas diante da violência tanto física quanto simbólica. As periferias não são mais apenas espaços que representa pobreza. Ela transforma-se também em espaço com sujeitos interessados em educação, buscam ter acesso aos bens culturais, sobretudo, àquilo que é associado à elite – a Literatura.

SARAU ENEGRESCÊNCIA E AS LITERATURAS AFRO-BRASILEIRA E AFRICANAS (BAN) Paulo Sérgio Silva da Paz (UNIJORGE) Este trabalho objetiva analisar como o Sarau Enegrescência atua na circulação e divulgação da literatura afro-brasileira e nas literaturas africanas, além de estudar o espaço onde funciona o evento. Historicamente excluída do cânone literário nacional e dos principais espaços de consagração, a literatura negra tem circulado em espaços marginais trazendo pra cena vozes silenciadas por centros culturais hegemônicos. Neste artigo procuro discutir, principalmente, dois pontos: o primeiro diz respeito ao título do evento “enegrescência”, que é composto pela aglutinação de dois outros nomes/signos, que são “enegrecer” mais “essência”. O outro ponto está relacionado ao encontro que o sarau busca fazer entre as literaturas negro-brasileira e as literaturas africanas em língua portuguesa. É uma atitude inovadora, já que, poucos saraus têm essa preocupação em trazer para cena as literaturas africanas. O sarau toca num ponto importante quando se propõe a trabalhar essa questão de ligação destas duas literaturas, já que são consideradas pertencentes ao mesmo quadro social, já que tem um discurso ético voltado pros mesmos propósitos. Os saraus literários de Salvador são os principais eventos onde a poesia negra tem circulação, onde autores das periferias – geográficas, étnicas, culturais – divulgam suas poesias. Devido ao seu engajamento ético, é possível observar que o Sarau Enegrescência tem se utilizado da poesia como um importante veículo de fortalecimento das identificações étnico-raciais em um processo de resistência aos paradigmas ocidentais, que estigmatizam e subjugam a população negra.

DO SILÊNCIO COLONIAL AO GRITO PÓS-COLONIAL: A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO MERCADO EDITORIAL DOS PALOP (COM) Pedro Manoel Monteiro (UFRO) No dia 25/04/1974, explode o golpe militar, assume a presidência o general Spínola, a história registra o apoio popular com a distribuição de cravo aos soldados rebelados. A Revolução não é importante só para a redemocratização de Portugal, põe fim ao sofrimento causado pela guerra colonial e o terror instaurado pela PIDE. Hoje compreendemos o mundo sem maniqueísmos, acompanhamos ao surgimento das novas nações africanas. Contudo, testemunhamos o surgimento das guerras civis nas ex-colônias portuguesas, essas também legaram ao povo o seu próprio quinhão de sofrimentos, de acordo com a premissa de substituição pregada por Fanon. A luta das mulheres acontecerá em outras trincheiras tão difíceis de serem vencidas, quanto às do velho imperialismo, que possuía o rosto do “tuga”, na nova luta não há rosto algum. Portanto, o combate ocorrerá dentro das novas sociedades nacionais, só que desta feita, entre cidadãos invisíveis, conforme define Perrot. “Onde estavam as mulheres no 25 de Abril? A revolução dos cravos não teve heroínas nem relatoras.” segundo esse registro Edite Estrel que serve de norte para as nossas inquietações buscamos identificar esse percurso da literatura escrita por mulheres nos PALOP’s, partimos desse silenciamento chegando até a A oportunidade do grito, de Dina Salústio que emblematiza o instante de revolta e de tomada de voz, que implica na saída da subalternidade a que propõe Spivak

UM MODO DE ESTAR ENTRE AS ILHAS E O COSMOS: A POÉTICA DE FILINTO ELÍSIO (COM) Raquel Aparecida Dal Cortivo (USP) A obra do escritor cabo-verdiano Filinto Elísio transita entre temas de cor local, que traduzem um modo particular de estar no mundo, sobretudo no que se refere ao sentimento de insularidade e temas de cariz universal, cujo foco recai sobre aspectos existenciais e ontológicos. A tensão entre esses dois polos atua como elemento de criação norteador da poética do autor, resultando na expressão de um “eu” que se coloca em busca de uma subjetividade. Tal busca resulta na escrita marcada pelo movimento contínuo, pelo trânsito de temas e formas, pelo reconhecimento da multiplicidade e da polifonia como respostas às inquietações do poeta, cuja escrita se apresenta, assim como o sujeito, em processo e inacabada.

MULHER EM VIA CRUCIS: UMA ANÁLISE DOS PERFIS FEMININOS NA CONTÍSTICA CLARICIANA (BAN) Rute Alves Leite Este trabalho analisa as personagens femininas presentes nos contos do livro Via Crucis do corpo, de Clarice Lispector. O objetivo é observar os perfis de mulher que são compostos a partir deles. A importância da discussão aqui proposta é entender os aspectos da obra clariceana que a inserem na escrita de autoria feminina e compreender o contexto da obra de acordo com o que a autora vivenciou na época; para isso, o percurso metodológico foi o da pesquisa bibliográfica. O referencial teórico utilizado foi Márcia Moreira no que se refere ao gosto dos jovens pela obra de Clarice e Antônio Candido que sinaliza que as obras de Clarice seguem um ritmo de procura que permite tensão psicológica raramente encontrada em nossa literatura contemporânea. Nesta obra, percebemos várias mulheres que apresentam desejos carnais e trazem certos conflitos, fazendo com que elas entrem numa busca constante por suas identidades. Diante disso, notamos que em Via Crucis do corpo, a mulher se coloca num lugar em que ela passa a ser vista como um ser desvalorizado pelos seus comportamentos, pois na maioria das vezes ela se entrega ao desejo sem se importar em como poderia ser vista pela sociedade.

BATALHAS DA LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA (COM) Sally Cheryl Inkpin (UNEB) Neste trabalho, discuto características da literatura negro-brasileira e como elas desviam e desafiam diversos edifícios da literatura brasileira canônica, apresentando linguagem, representações, temáticas e lugares de fala considerados periféricos. Em meu estudo de doutorado, descrevo as entidades literárias de brancura e negrura que rebaixam e inferiorizam o negro, enquanto idealizam o branco, ajudando a estabelecer e manter sua dominância sociocultural. A literatura negro-brasileira se levanta contra tais modos de opressão, imprimindo suas histórias em vozes e estilos distintos. Como exemplo dessa literatura no novo milênio, encontramos o romance Um defeito de cor uma rede de histórias sobre o Brasil, narradas a partir da perspectiva de uma mulher negra, raptada em sua infância na África no início do século 19, que se torna uma cidadã brasileira. A voz de Kehinde, a protagonista e narradora do romance, reverbera e ecoa pelo universo literário brasileiro, agindo contra as ações de apagamento e marginalização do negro e da literatura negro-brasileira e reivindicando para eles um lugar de destaque nesse universo.

RITMO E POESIA NAS CARTOGRAFIAS URBANAS DA DIÁSPORA (BAN) Silvana Carvalho da Fonseca (UFBA) Este trabalho tem como foco buscar as representações das identidades negras no Brasil, Angola e Portugal, na poética do rap, um dos elementos do movimento hip hop. A perspectiva de análise será a comparação das obras do rapper angolano MCK, do rapper português Mc Valete e do grupo baiano Simples Rap’ Ortagem. Nesse processo, parto dos conceitos de diáspora, rizoma e rasura (espaço de (des)locamentos identitários em movimento inacabado e imprevisível, que descentra as hegemonias e dissemina a multiplicidade no cenário mundial) para problematizar uma expressão literária não convencional e suas novas propostas estéticas no cenário das contranarrativas da contemporaneidade, demonstrando as possíveis relações entre a produção estética do rap e a experiência histórica dos sujeitos diaspóricos.

OS LABIRINTOS DA ESCRITURA: UMA LEITURA DO ROMANCE NO INFERNO, DE ARMÉNIO VIEIRA (COM) Vilma Aparecida Galhego Considerando que o romance na contemporaneidade não mais se oferece como um objeto de fácil apreensão, já que os seus elementos fixos e lineares perderam a aderência aos moldes, anteriormente cultuados, tornando-se cambiantes, diluídos e até apagados em consonância com o tempo e a experiência individual do sujeito, pretende-se, com este trabalho, observar de que maneira o romance No Inferno, do escritor cabo-verdiano Arménio Vieira nos permite uma experiência de leitura articulada ao conceito de rizoma, elaborado pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Gattari e de observar a forma com a qual a figura do narrador desloca-se, contribuindo para que a narrativa apresente-se de forma "labiríntica" para o leitor.

ONDE CABOCLO NÃO TEM PÁTRIA (COM) Wellington Amâncio da Silva Na perspectiva geral de “pureza étnica”, os misturados são expatriados, desterrados, numa profunda heterotopia identitária e de pertencimento. No plano espiritual, assim como no plano histórico, esses mestiços de pai branco e mãe índia, no Brasil do século 17 e 18, não eram recebidos em casa de branco, em casa de preto, nem na aldeia. Ontem e hoje, caboclo é obrigado a se descobrir no espaço inabitado, das matas fechadas, nos entremeios dos campos sem veredas, e ali, obrigado a fundar sua pátria, o devir, a margem do “onde” dessas heterotopias. Disso, objetivamos discutir as características do caboclo a partir da oralidade do Candomblé; pensar o conceito de encruzilhada como heterotopia e questionar sobre o “lugar” do caboclo nesses contextos. Ainda visamos esboçar uma Geografia Humanista fora dos lugares instituídos dos Orixás, as Casas de Terreiros. Nossas hipóteses principais são: a expatriação constante do caboclo para nenhum lugar é, por assim dizer, uma espécie de alegoria da condição existencial e social dos “misturados” da vida deste lado; a ausência de uma identidade definida ou o choque identitário entre brancos, o preto e o indígena desencadeia invisibilizações, silenciamento e desterros constantes entre os caboclos daqui e de plano espiritual; a simples presença de um caboclo em qualquer “lugar” faz deste “onde” uma interrogação heterotópica; o ponto de onde se delimitam as cercas.

GRUPO DE TRABALHO: “Festas na Bahia de Todos os Santos” Coordenação: Fátima Tavares (UFBA) e Cleidiana Patricia Costa Ramos (UFBA) LEITURAS GEOGRÁFICAS DA FESTA DO SENHOR DO BONFIM EM MURITIBA/BA: ANÁLISE DAS DIMENSÕES ESPACIAIS DO SAGRADO AO PROFANO (BAN) Aisllan Damacena Souza da Silva (UNEB) A Festa do Senhor do Bonfim tornou-se uma referência ao estado da Bahia devido ao seu grande reconhecimento a nível nacional e até internacional. Com isso surge uma relevância nos estudos desta que não ocorre apenas na capital do Estado, mas também nas cidades interioranas, como é o caso da cidade de Muritiba, cidade situada no Território de Identidade do Recôncavo e que há mais de duzentos anos realiza os festejos em louvor ao santo. No presente trabalho analisa-se a festa do Bonfim da referida cidade sob a ótica espacial, considerando suas dimensões sagradas e profanas, bem como as transformações ocorridas pelo processo de mercantilização da festa popular, o qual aderiu à inserção de novos elementos no contexto do evento e a transformação dos mesmos já existentes, destacando sobretudo as formas de uso do espaço público. A pesquisa revelou que a festa do sagrado, na igreja, fez surgir e crescer uma festa profana expressiva, a qual dinamiza a economia local, mesmo se tratando de um evento sazonal, o qual é visto como uma das maiores manifestações culturais existentes na região do recôncavo baiano. Quanto ao poder público local, constatou-se que o mesmo contribui com a descaracterização do evento por meio da incorporação de outras atividades no seu transcorrer, assim modificando a cultura da Festa do Senhor do Bonfim na cidade de Muritiba/BA.

NAVEGAÇÕES FESTIVAS DO QUILOMBO ENSEADA DO PARAGUAÇU (COM) Magnair Santos Barbosa (UFBA) Neste trabalho, trataremos mais especificamente sobre o caráter religioso e simbólico da Festa da Barquinha, uma manifestação que acontece tradicionalmente na virada de cada ano, em forma de um presente às águas. Apresentará ainda os elementos que compõem a festa - indumentária, cânticos, participantes, composição de cortejo e locais sagrados. Esse trabalho objetiva entender os sinais diacríticos contidos na festa, tentando chegar o mais próximo possível de como pessoas que circulam por espaços de trabalho comuns, entre a maré e a lida da terra, enxergavam o mundo, dialogam e vivenciam o sagrado.

FESTA DE COSME E DAMIÃO: DEVOÇÃO E PARTILHA (COM) Vanusa Mascarenhas Santos (UNEB) O argumento de ser a cultura popular desprovida de qualquer hermetismo tem nos assegurado, enquanto estudiosos, a certeza de poder acessá-la e compreendê-la a partir de nossas lógicas interpretativas. Como se nada escapasse à racionalidade a partir da qual operamos, minimizamos saberes e fazeres poéticos. Discutir o desperdício de experiências resultante de tais posturas, bem como a necessidade de investir em possibilidades interpretativas não redutoras dos saberes populares é o que se propõe neste trabalho. Discussão a ser empreendida a partir da Festa de Cosme e Damião, realizada pelo Reisado de São Sebastião, localizado no bairro Rosa Neto no município de Eunápolis, Bahia. Performance cultural protagonizada por sujeitos que a organizam a partir de princípios cuja compreensão exige a rasura de dicotomias e de supostas verdades plasmadas pela cientificidade moderna. Uma delas é o fato de o ambiente escriptocêntrico, do qual fazem parte muitos de seus participantes, não ser uma força contrária à oralidade, mecanismo de composição, de expressividade e transmissão dos saberes que lhe dão existência. De igual modo, é à memória coletiva/afetiva que seus integrantes recorrem para (re)viverem, em performance, tradições que, ritualisticamente, se apresentam num tempo fronteiriço, coexistência de presente, passado e futuro. Sagrado e profano também não são categorias válidas se tomadas em separado, posto que são criativamente articuladas numa complexa semiose festiva. Enfim, trata-se de um agenciamento que, mesmo quando motivado por uma demanda individual, só se materializa coletivamente, evoca parcerias e promove autonomia e rearranjos identitários.

A FESTA DO DIVINO EM SALVADOR: UMA PERFORMANCE COLONIZADORA? (COM) Viviane Paraguaçu Nunes (UFBA) A tradicional festa do Divino Espírito Santo na cidade do Salvador acontece há mais de dois séculos e tem como personagem principal um menino, que durante a sua performance realiza a libertação de um preso (s) do sistema penitenciário da Bahia. Este estudo de mestrado possui um caráter multidisciplinar que abarcam os campos: cultural religioso, etnográfico, histórico, sociológico e com bases nos estudos da performance e da história oral. Entendemos que estes festejos compõem uma fronteira entre a Arte e o Sagrado, entre a performance do menino Imperador e a fé no Divino.

GRUPO DE TRABALHO: “Gênero, raça/etnia, sexualidades e outros temas contemporâneos na docência: saberes, práticas e desafios” Coordenação: Clebemilton Nascimento (UNEB) IDENTIDADE(S) NEGRA(S) EM ALUNAS DO ENSINO FUNDAMENTAL I: LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA E INTERLOCUÇÕES DOCENTES (COM) Claudia Moreira Costa (UESB) A proposta a ser apresentada nesse encontro objetiva pontuar algumas reflexões provenientes de um levantamento bibliográfico acerca da identidade étnica-racial. Esta discussão é recorte de uma Pesquisa de Mestrado em andamento que objetiva compreender como se dá a construção da identidade de meninas negras do ensino fundamental I, dentro do ambiente escolar, a partir do trabalho com o livro didático de História e das interlocuções docentes. O encontro interétnico que ocorre no espaço escolar,é pensado na perspectiva dos estudos culturais pontuando que o mesmo tem se construído na fricção dos diferentes grupos étnicos, uma vez que as diferenças culturais de alguns grupos específicos costumam ser comunicadas, a partir de uma tendência à folclorização reforçadora de estereótipos inferiorizantes. Nesse sentido, refletir acerca da identidade étnica requer uma consciência de pensar e problematizar as diferenças presentes no cotidiano da escola.

COLOCANDO DENDÊ NA TEORIA QUEER (COM) Clebemilton Gomes do Nascimento (UNEB) O debate em torno da discussão de gênero e sexualidade no currículo está mais do que nunca na ordem do dia. A entrada da teoria queer no Brasil via educação ampliou o debate em torno das políticas de identidade e normalização dos corpos no contexto escolar. Desde então muitos teóricos e teóricas vêm investindo no seu potencial crítico, ou seja, na sua capacidade de levar para a sala de aula um debate político para questões como homofobia, racismo, sexismo, transfobia e lesbofobia, dentre outras formas de violência. No âmbito da Linguística aplicada algumas vertentes mais transgressivas passaram a lançar mão de suas contribuições. A presente comunicação aproxima os Estudos Queer do ensino de língua inglesa, especialmente as ações voltadas para o trabalho com textos imagéticos em um subprojeto do PIBID/UNEB. Compreendemos que a sala de aula pode ser um espaço potente de ativismo queer. No ensino da Língua Inglesa a teoria queer é afirmativa, negativa e interrogativa, fazendo aqui menção ao paradigma formalista, historicamente dominante no ensino da Língua Inglesa em escolas públicas, especialmente baianas, locus da nossa investigação. No entanto, o queer não é exatamente forma, é significado em suspenso. O que acontece quando as aulas de leitura em língua inglesa são tomadas por imagens não convencionais de gênero, raça e sexualidades? Quais as contribuições dos Estudos Queer para a leitura dessas imagens no ensino da língua inglesa? O que nos revela essas experiências em escolas públicas de ensino médio? O presente trabalho discute os desafios teórico-epistemológicos de um exercício de aplicação desses pressupostos, seus alcances e limites.

CORPOS QUE FALAM : FIANDO E DESFIANDO O TEXTO LITERÁRIO NA SALA DE AULA (COM) Cléria Santana de Souza (UNEB) Ao pensar um projeto de pesquisa voltado para a inserção da literatura infanto-juvenil de temática homoafetiva no contexto escolar, pretendo contribuir, sobretudo, para suscitar reflexões acerca de práticas que produzem diferenças, discriminações e exclusões. A partir de leituras à luz da teoria Queer, pretendo desenvolver um intervenção pedagógica que provoque questionamentos acerca das representações da diversidade sexual. Para tanto, irei propor uma metodologia que identifique através das obras literárias ” É Proibido Miar” de Pedro Bandeira ( Editora Moderna) e “O gato que gostava de cenouras” de Rubem Alves ( Editora Loyola) práticas rotineiras de exclusão das diversidades sexuais na sociedade a partir das discussões levantadas a partir da análise das obras literárias. A partir destas constatações, nascem alguns questionamentos pertinentes e inquietantes: Como inserir uma literatura para um público infanto-juvenil de temática homoafetiva dentro de um contexto sociocultural heterocêntrico? Como contribuir, dentro de um contexto tão controverso, para que a escola seja um espaço de rupturas? Como, enfim, criar condições de inserção do sujeito, cuja sexualidade difere do padrão normativo, na escola? Desta forma, pretendo contribuir para colocar em cena discussões acerca das sexualidades presentes no universo escolar que, por conta de uma cultura sexista, foram confinadas e silenciadas nos muros conservadores das salas de aula.

MIGRAÇÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO E O PROCESSO DE DES-RE-MULTITERRITORIALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SERRINHA- BAHIA (COM) Eliana Rodrigues dos Santos (UNEB) Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo sobre a migração de trabalhadoras domésticas e o processo de des-re-multi-territorialização no município de Serrinha – Bahia, a partir do bairro denominado Centro neste município. A escolha do tema desta pesquisa deu-se em grande medida por questões pessoais e profissionais. Utilizei a abordagem fenomenológica, evidenciando que os conhecimentos vividos, é um fator revelador das práticas sociais. A partir disso, refleti sobre a realidade das trabalhadoras domésticas de Serrinha. Como suporte teórico, utilizei autores como Franco (1996), Hasbaert (2004), Saquet (2010), Davis (1982), e Dutra (2012). Evidencio que a migração das mulheres negras e pobres, trabalhadoras domésticas, mulheres que migram de áreas rurais/urbana para o Município de Serrinha, contribuem na formação de multi-território; a formação de novos territórios, influência na construção de uma nova identidade, na busca de um refúgio como meio de sustento da família, e melhores oportunidades de empregos, de estudos, bem como, fonte de renda para melhorar de vida. O multifuncionalismo, os baixos salários, demonstram o atual contexto, o qual as trabalhadoras domésticas estão expostas.

A ESCRITA LITERÁRIA FEMININA NOS ARQUIVOS DA FUNDAÇÃO IRACI GAMAFIGAM (BAN) Elizabete Damasceno dos Santos (UNEB) O subprojeto em questão visa verificar como a escrita literária feminina se faz presente nos arquivos da Fundação Iraci Gama (FIGAM), situada em Alagoinhas-BA, observando como este texto é arquivado, se aparece, em que medida aparece e como aparece. Com isso, buscamos mapear formas, elementos, estilos, gêneros e temáticas que compõem o arquivo da escrita feminina, bem como as contribuições, destes arquivos, para o campo cientifico, para se recontar uma estória de mulheres e de Alagoinhas. Para tanto, buscou-se, além da leitura de um referencial teórico-crítico condizente com a pesquisa pautado nos estudos culturais, na crítica literária feminista e estudos de gênero, realizar visitas constantes à FIGAM para investigação sistemática dos arquivos da fundação, procurando saber as contribuições destes para a formação da identidade feminina na cidade de Alagoinhas, em contexto de politização do conceito de arquivo e memória, de revisão de uma história patriarcal e de institucionalização de políticas públicas culturais. Dessa forma, esperamos não só um mapeamento e analise de como a escrita literária feminina se faz presente nos arquivos da Fundação, mas também uma politização e atualização do conceito de arquivo, nos fazendo refletir sobre a importância de tal pesquisa para o campo das letras, da cultura, do feminismo e da própria arquivística, fortalecendo também, através de todo este processo junto a FIGAM, a atividade de mediação acadêmica.

O BLACK ENGLISH VERNACULAR PRESENTE EM PÁGINAS DO FACEBOOK (BAN) Luana Santos Melo (UESC) Variações linguísticas estão presentes em todas as línguas e diversos fatores influenciam o surgimento e permanência das variações na sociedade. Na Língua Inglesa está presente a variação Black English Vernacular (BEV), que é uma variante afro-americana e está presente no uso cotidiano dessa língua. Sabe-se que no uso coloquial da língua é “permitida” a presença de variantes; assim sendo, essa variante permanece presente na sociedade e já penetrou a fala e escrita de diversas camadas sociais, apesar de inicialmente, na história da variação, apenas negros a usavam. O Facebook, uma rede social de uso mundial, é hoje uma ferramenta que pode ser usada para o estudo de língua e de suas variações. Com a sistematização do BEV feita por Labov (1966), pode-se constatar um vocabulário diferenciado, uso de gírias e abreviações, distinções de tempos verbais e muito comumente a dupla negativa. Assim, com o apoio do método de pesquisa sociolinguística, desenvolvido por Tarallo (1986), é possível estudar a variação BEV também na internet. Esse trabalho visa apresentar os resultados do estudo de ocorrências da variação supracitada presentes nas postagens escritas de determinadas páginas norte-americanas na rede social Facebook, bem como a aplicação de atividades com essa variação em sala de aula do projeto PIBID.

O ATO DE ESCREVER E DE SE REESCREVER: EM FOCO RAQUEL DE QUEIROZ E CONCEIÇÃO EVARISTO (COM) Luane Tamires dos Santos Martins (UNEB) O artigo em questão trata-se de um recorte do projeto de pesquisa intitulado “O ato de escrever e de se reescrever: em foco Raquel de Queiroz e Conceição Evaristo.” A discussão aqui proposta visa refletir sobre a construção do cânone literário considerando uma perspectiva de análise da cultura e a invisibilidade da escrita feminina. Para tanto, nos valeremos das perspectivas teóricas de alguns autores, como Roberto Reis (1992), Jorge Wanderley (1992), Antonie Compangon (1999) e Roberto Acízelo de Souza (1992) para discutir o conceito de literatura; teóricas feministas, a exemplo de Gaucira Lopes Louro (1997), Maria Inês de Moraes Marreco (2010) e Zilda Freitas (2002) para discutir a escrita feminina e invisibilidade da mulher na literatura; e Adam Kuper (2002), John Thompsom (1995) na discussão sobre cultura. Por fim, esperamos contribuir para uma reflexão crítica sobre a relação entre cultura, literatura e escrita feminina, ao passo em que questionamos a exclusão da mulher escritora e a sacralização do cânone literário reforçado culturalmente nos moldes patriarcalistas.

DESAFIOS E AVANÇOS NA APLICABILIDADE DAS LEIS 10639/2003 E LEI 11645/2008 NAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ITIRUÇU BAHIA LUCIANA DOS SANTOS BRANDÃO CARDOSO (BAN) Luciana Cardoso Brandão O presente artigo inicia uma breve abordagem sobre a formação pluriétnica do povo brasileiro. O texto discute e analisa os desafios e avanços a partir da promulgação dos marcos legais 10639/2003 e 11645/2008 que torna obrigatório o ensino de cultura afro brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino público e privado. Nesse sentido, apresenta reflexões acerca de experiências de práticas educativas vivenciadas como discente nos cursos de extensão em culturas afro brasileiras promovido pelo ODEERE/UESB que resultou numa iniciativa inédita de criação de um órgão municipal que valorize a diversidade étnico racial, bem como, no campo educacional atue efetivamente na aplicabilidade das leis supracitadas em todas as escolas da rede municipal de Itiruçu-Bahia. Esse trabalho menciona também propostas pedagógicas em consonâncias com as diretrizes curriculares das relações étnico raciais. Nessa perspectiva de uma educação pautada para a etnicidade considera-se relevante o papel do educador/pesquisador como agente transformador do modelo educacional vigente.

UMA EXPERIÊNCIA PIBIDIANA: O PROTAGONISMO NEGRO NO CONTO CLARO DOS ANJOS DE LIMA BARRETO- UMA LEITURA A PARTIR DOS ESTUDOS PÓSCOLÔNIAIS (BAN) Paula Pereira de Souza Este estudo tem a finalidade de compartilhar uma experiência pibidiana, investigando o protagonismo negro no conto Clara dos Anjos de Lima Barreto, observando esses importantes aspectos, da literatura afro-brasileira a partir dos estudos pós-coloniais. Mostrar-se-á neste estudo também a importância de se trabalhar dentro do PIBID com textos clássicos da literatura afro-brasileira para assim desmistificar a imagem negativa do negro, embutida na sociedade, parte-se do pressuposto de que levando estas discussões para a escola os alunos poderão mudar esta realidade. A figura do negro também sempre foi vista no território brasileiro carregado de estigmas sendo que as mulheres eram boas na cozinha, e os homens símbolo de virilidade, “burrice”, só serviam para o trabalho pesado, a leitura jamais poderiam ter acesso, sobre pena de perder alguns de seus membros ou mesmo a morte. Esta era a história contada por brancos de negros por muito tempo o negro foi tratado até mesmo na arte literária como algo menor, o branco criou uma imagem do negro como coitado e preguiçoso. A arte literária sempre foi e é instrumento de propagação das grandes denúncias principalmente das injustiças sociais, mas no que diz respeito à escravidão isso pouco foi retratado e quando tratado percebe-se o endeusamento do branco e a demonização do negro, o cativeiro é sempre tratada como algo pouco vantajosa para os brancos, nunca como algo cruel e desumano, muitas vezes o retrato do negro na literatura serviu apenas para criar estereótipos negativos, com a falsa liberdade advinda pela abolição da escravatura.

ESTUDANDO O BLACK ENGLISH VERNACULAR ATRAVÉS DE MÚSICAS EM SALA DE AULA (BAN) Renato Gonçalves Peruzzo (UESC) O Black English Vernacular (BEV) é uma variação linguística afro-americana do Inglês e está presente no uso cotidiano dessa língua. Logo, estilos musicais que surgiram com influência dos negros americanos comumente têm presentes em suas produções o uso da variação em estudo. Os falantes dessa forma da língua usam um vocabulário diferenciado, distinções de tempos verbais e muito comumente a dupla negativa; a partir disso, foi possível sistematizar o estudo da variação e assim, constatá-la nas músicas do corpus do estudo. Essa variação foi apresentada em salas de aula do Ensino Fundamental II, através do subprojeto Letras/Inglês, do PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, durante o ano de 2013, seguindo orientações presentes na Lei 10.639/03, além das orientações prestadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Estrangeira (1998). As músicas ao utilizarem o BEV, abordam também temas como o preconceito, desigualdade social, cultural e discriminação. Pretende-se constatar nesse estudo as ocorrências da variação nas letras das músicas de atividades aplicadas e apresentar os resultados obtidos em sala de aula através do projeto desenvolvido.

INTERFACES DE GÊNERO E RAÇA: ANÁLISE DE VÁRIAVEIS CONDICIONATES PARA A VIDA E SAÚDE (COM) Tamiz Lima Oliveira (UESB) Entendendo saúde não só como ausência de doença, mas como estado de completo bem-estar físico, mental e social, a Organização Mundial de Saúde subsidiou um debate sobre como a vulnerabilidade social influência nas condições de saúde dos indivíduos através da moradia, educação, condições de trabalho, alimentação, e demais variáveis. Partindo desse pressuposto, em interface com os dados que apontam que a população negra encontra-se nas piores condições sóciodemográficas, e a mulher negra em sua situação de dupla opressão, pretende-se fazer uma analise de como as expressões do machismo e do racismo fazem mal a saúde. No bojo dessa analise, é imprescindível tratar da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), seus avanços, desafios e perspectivas a serem alcançadas, com fundamento em autores como Crenshaw (2002), Werneck (2009), Oliveira (2013), dados produzidos pelas academia e instituições governamentais.

EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE COMO PRÁTICA DE EMPODERAMENTO FEMININO: INSERINDO NOVAS ABORDAGENS EDUCATIVAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE (COM) Vanessa Nascimento Machado Trata-se de uma pesquisa-ação que tem por finalidade realizar grupos de oficinas educativas voltadas para a educação sexual de mulheres do município de AlagoinhasBA que aceitarem em participar das mesmas. Acredita-se que as oficinas permitirão identificar os saberes e práticas das mulheres em relação as suas sexualidades, além de contribuir para que adquiram conhecimento. Para Além disso, é de extrema relevância que façam durante as oficinas uma reflexão crítica sobre educação sexual, abrindo espaço para discutir sobre a sexualidade feminina, melhorando sua autoestima como mulher e sua vivência sexual com seu companheiro/a, concretizando a educação sexual como uma etapa importante para o empoderamento e emancipação feminina. A educação sexual passa a se constituir um elemento significativo de mudança e progresso, uma tentativa de por ao alcance das pessoas condições para que possam usufruir e conviver com a própria sexualidade e com a de seus semelhantes, numa forma consciente, moderada e respeitosa. A realização de um trabalho, voltado para essa linha de pensamento, pode proporcionar as mulheres discernimento no que tange a questão da promoção da saúde e conhecimento sobre seus valores e suas crenças. Busca-se com este trabalho, fornecer informações valiosas para as mulheres do referido município, para que elas possam se apropriar, transformar e disseminar as questões relacionadas à sexualidade.

LEITURAS NA AULA DE LÍNGUA INGLESA: ENTRE VERDADES, SABERES E AFETOS (BAN) Vanezza Santana da Silva (UNEB) O objetivo do presente trabalho é abordar as experiências vivenciadas no subprojeto do PIBID/UNEB-Campus V cujas ações acontecem no Colégio Estadual Francisco da Conceição Menezes em Santo Antônio de Jesus- BA. O subprojeto é denominado de “Tecendo leituras, (re) construindo identidades: o lugar das diferenças no ensino aprendizagem da Língua Inglesa”. Neste trabalho, pretendo mostrar as dificuldades e desafios dessa intervenção desde o lugar de bolsista de iniciação à docência. A partir das provocações lançadas pelos Estudos Queer questiono a aula de língua Inglesa enquanto um espaço marcado pela homogeneização dos corpos e valores que acarreta o apagamento e silenciamento das diferenças e singularidades dos sujeitos envolvidos. Quando lançamos mão dessa proposta no nosso subprojeto, estamos colocando algumas crenças e verdades sobre o ensino da língua Inglesa em suspenso, experimentando outros saberes e outras formas de compreender e vivenciar o ensino da língua estrangeira. Nessa experiência, os corpos, afetos e saberes nos convidam a fazer uma leitura de mundo mais dialógica que possibilita uma reflexão sobre nossas identidades e valores perante a sociedade. Em síntese, a intenção é mostrar os impactos dessa experiência na minha formação pessoal e profissional.

O FIES, AS AÇÕES AFIRMATIVAS E SEUS IMPACTOS NA INCLUSÃO RACIAL E SOCIAL NO BRASIL (COM) Vyrna Isaura Valença Perez (UNEB) O FIES - Fundo de Financiamento Estudantil, as ações afirmativas e os impactos de ambos na inclusão racial e social no Brasil são temas relevantes e que geram consequências no meio acadêmico e na sociedade. Dados de 2005 do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada revelam que menos de 2% dos estudantes afrodescendentes estão em universidades públicas ou privadas, tornando as universidades territórios brancos. O objetivo do trabalho é demonstrar se e como o FIES a partir de 2010 está possibilitando o direito de acesso aos estudantes afrodescendentes ao Ensino Superior particular, analisando o impacto desse ingresso no convívio universitário e na formação dos seus professores, confrontando esse avanço inicial com a atual política pública adotada pelo Governo Federal, principalmente através das Portarias n.21 e 23, publicadas no final de 2014. A análise da legislação vigente sobre políticas públicas e das obras recentes sobre as ações afirmativas irão desconstruir o mito da democracia racial na educação brasileira, principalmente na educação superior, evidenciando não só o despreparo dos docentes para a política pública que é o FIES, como as consequências deste sistema educacional excludente na vida dos educadores brasileiros.

GRUPO DE TRABALHO: “Guiné-Bissau, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique: narrativas literárias e históricas, tramas e temas de nações, culturas e identidades” Coordenação: Suely Santos Santana (UNEB) e Denilson Lessa dos Santos (UNEB) RETRATOS DE MOÇAMBIQUE PÓS-GUERRA CIVIL NOS FILMES DE LICÍNIO AZEVEDO (COM) Alex Santana França (UFBA) A guerra civil em Moçambique iniciada em 1977, dois anos após o fim da guerra de Independência entre o país e seu antigo colonizador, Portugal, foi um conflito civil entre, de um lado, o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e as forças armadas moçambicanas, e, de outro, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que recebia financiamento da Rodésia e, mais tarde, da África do Sul. Durante o conflito, cerca de um milhão de pessoas morreram em combates ou sofreram amputações por causa das minas terrestres e cerca de cinco milhões de civis migraram para outras regiões ou países, por conta de crises de fome e seca. O conflito só terminou em 1992 com o Acordo Geral de Paz. Ainda assim, as consequências dele ainda estão marcadas no imaginário do país e a temática tem sido constantemente revisitada, seja na literatura, através, principalmente da obra do escritor Mia Couto, seja no cinema, com os filmes do cineasta brasileiro-moçambicano Licínio Azevedo. A proposta desse trabalho é discutir, pautado na perspectiva sóciohistórica de análise fílmica, as relações entre cinema, história e memória a partir dos filmes selecionados A árvore dos antepassados (1994) e A guerra da água (1995).

ENTRE A HISTÓRIA E A FICÇÃO: CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS NA LITERATURA MOÇAMBICANA (BAN) Bárbara Luiza Menezes Lago Neste trabalho, apresentam-se os resultados finais da pesquisa que teve como problematização reconhecer os processos identitários presentes em contos moçambicanos publicados no final do século XX: “Boas-Vindas, Mamã”, de Orlando Mendes e “Godido”, de João Dias que compõem a antologia Contos moçambicanos (1990), organizado por Ricardo Ramos. De cunho bibliográfico, a investigação fundamenta-se teoricamente no âmbito dos Estudos Culturais e na Teoria Póscolonial. O estudo realizado permite afirmar que, de modo geral, nas narrativas analisadas, a memória e a oralidade aparecem como alicerces da identidade moçambicana em curso, sendo o passado retomado no presente, questionando-se as heranças coloniais e os descaminhos do processo revolucionário vivido pelo país no período posterior à independência. Especificamente em relação aos contos selecionados, as histórias se passam no período da colonização em Moçambique e denunciam a violência dessa dominação que perdurou durante séculos, deixando marcas profundas na memória do povo moçambicano, mas sempre existindo formas mais ou menos veladas de resistência à imposição dos valores coloniais. Assim, podese reconhecer que a história e a literatura estão entrelaçadas nesses textos, sendo tal entrelaçamento importante estratégia de resistência e de afirmação identitária moçambicana.

ENTRE SONHOS E IDEOLOGIAS, A PESTANA CONTINUA VIGIANDO O OLHAR: PEPETELA E SUA ARTE (COM) Cibele Verrangia Correa da Silva (UFES) O presente trabalho pretende apresentar um dos principais autores, intelectuais, político, ativista da História e da Literatura de Angola: Pepetela. Sendo um importante escritor das literaturas de língua portuguesa, seu nome se consolida não só como autor de narrativas ficcionais de sucesso, mas sua carreira política, como ativista e intelectual orgânico, bem como militante e atuante das transformações políticas e sociais que se deram nos últimos cinquenta anos em território angolano (guerra de independência e civil; formação do Estado democrático; influências neoliberais e capitalistas etc.) o coloca com um ícone dos anseios e desejos de se produzir um ambiente autônomo e independente, assim como uma figura emblemática na literatura de resistência, de denúncia, revelando, através de suas obras, os problemas fundamentais de seu povo, a busca pela formação da identidade nacional, as questões políticas, econômicas e culturais. Desejamos aqui observar seu papel como sujeito pós-moderno, que atua e dialoga com as perspectivas fragmentadas e plurais da formação da identidade na contemporaneidade e como os estudos pós-coloniais remetem à necessidade de se pensar novas epistemologias e outra práxis para o devir intelectual-escritor-ativista que organiza sua expressividade na luta e no combate às injustiças e às inúmeras formas de violência e dominação neste contexto pós-colonial.

ANGOLA, CABO-VERDE E MOÇAMBIQUE: AS NARRATIVAS DE LÍNGUA PORTUGUESA DA COLEÇÃO DE AUTORES AFRICANOS DA EDITORA ÁTICA (COM) Clauber Ribeiro Cruz (UNESP/FCL-Assis) Márcio Roberto Pereira Entre os anos de 1979 e 1991, a editora Ática lança no Brasil a primeira coleção de autores africanos no mercado editorial brasileiro, numa versão compacta de 27 livros que traçam um mapeamento das produções literárias do continente africano durante as fases pré-colonial, colonial e pós-colonial. Com a seleção realizada por Fernando Augusto Albuquerque Mourão, através da iniciativa e convite do então presidente da Ática, Anderson Fernandes Dias, foi possível um dos primeiros contatos com romances, contos, poesias de escritores africanos no país. Para tanto, nesta comunicação, evidenciaremos algumas nuances das criações literárias de língua portuguesa presente na coleção dos seguintes autores: Pepetela, Luandino Vieira, Agostinho Neto, Manuel Lopes, Manuel Ferreira, Orlando Mendes, entre as quais notamos as relações indissociáveis entre nação e narração, texto e contexto, forma e conteúdo, condensadas a um tipo de escrita que encontra na palavra um espaço de "re-existência" em face das amarras do colonialismo.

“MAFINGHARAWÉ?..”: O PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA E SUAS DESILUSÕES (BAN) Ellen Caroline Oliveira Lima (UESC) A colonização de Guiné-Bissau agiu de forma violenta sobre as culturas e costumes desse país com o objetivo de assegurar o efetivo funcionamento do aparelho colonial. Chegada à independência, viu-se no território bissau-guineense uma prática governamental autoritária e incoerente, promovendo impasses para a sua reconstrução. Considerando-se esse contexto, no presente trabalho desenvolve-se uma análise sobre o período posterior à independência de Guiné-Bissau, no que diz respeito ao desmantelamento do país devido aos grandes acontecimentos que marcaram a sua história: colonização, luta de libertação, os conflitos armados que se seguiram. Por esse percurso analítico, tem-se o objetivo de perceber sentidos de identidade e resistência na literatura bissau-guineense tomando-se como corpus da investigação o conto “Mafingharawé?..” (2000), integrante do livro Admirável diamante bruto e outros contos, do escritor Carlos Edmilson Vieira. Assim, a partir de pesquisa eminentemente bibliográfica e situada no campo da Teoria e Crítica Pós-colonial, intenta-se demonstrar que, se a identidade se constitui como processo em permanente construção, as marcas de oralidade são elementos relevantes nesse processo vincado na complexidade de movimentos de resistência/negociação.

EMELINA, A LOUCA DE VENTOS DO APOCALIPSE (COM) Ianá Souza Pereira (USP) Emelina é uma personagem que só aparece no capítulo final de Ventos do apocalipse, romance da moçambicana Paulina Chiziane. Uma mulher enigmática, que carrega no olhar uma “tristeza absoluta”, pois “os abismos e as fissuras produzidas pela guerra na sua alma” (CHIZIANE,1999, p. 251) são indecifráveis aos olhos dos aldeões. No romance, a personagem sonega informações sobre seu estado de alma; não sabemos ao certo a que atribuir sua tristeza e sua melancolia – sabemos apenas que os aldeões a consideram louca, e também que muito desse seu estado de espírito está associado à guerra e à sua condição de mulher no grupo. Emelina é apresentada ao leitor por meio do seu sofrimento, revelando sua dor que chega do passado e corre para o presente, seu drama dará o desfecho do romance. É uma personagem que oscila entre a tristeza e a loucura, sua caracterização diz muito mais dos medos e das ansiedades de uma mulher do que da guerra em si. Sua representação é a de uma mulher insatisfeita com as condições reais de sua existência; é uma personagem golpeada muitas vezes pela humilhação social, que experimentou o golpe das mensagens de rebaixamento que desarrumaram sua percepção, suas fantasias e a sua busca pela felicidade. Ela pouco ou nada se identifica com o grupo de refugiados da guerra, estando sempre à deriva, incapaz de dar conta de seus sentimentos de não ter direitos e de inferioridade.

LITERATURA E QUESTÕES IDENTITÁRIAS EM A PALAVRA E OS DIAS, DE VERA DUARTE (COM) Inara de Oliveira Rodrigues (UESC) Apresenta-se uma análise sobre o livro de crônicas A palavra e os dias (2013), da escritora cabo-verdiana Vera Duarte, destacando-se a dimensão literária dessas narrativas que, de diferentes modos e por variados temas, permitem reconhecer elementos caracterizadores de certa caboverdianidade. Para esse percurso analítico, são problematizadas perspectivas epistemológicas nos embates entre literatura, história e cultura, abordando-se, entre outros, conceitos como pós-colonial e decolonial em relação à obra literária referida.

PASSEANDO PELAS DÓRCADES ENCANTADAS: UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS CULTURAIS DA ETNIA BIJAGÓ NA GUINÉ BISSAU Iuri Santos Silva do Rosário A presente comunicação tem como foco apresentar os resultados iniciais de um Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, a respeito das práticas culturais dos povos Bijagó na Guiné-Bissau. O objetivo principal do projeto é analisar as práticas socioculturais relacionadas às cerimônias religiosas, rituais de matrimônio e os rituais festivos dentro da etnia Bijagó, em uma perspectiva histórica, a fim de observar as transformações pelas quais passaram no decorrer dos últimos 40 anos pósindependência. Essa pesquisa será realizada através de entrevistas, estudos de caso e diálogos com os alunos guineenses da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro – Brasileira (UNILAB), que pertencem à referida etnia. No espaço deste congresso pretendemos provocar momentos de reflexão acerca dos desafios árduos e diários de constituir uma Universidade cuja base está centrada na África e em suas relações históricas e contemporâneas com o Brasil. Trata-se também de compartilhar as experiências das pesquisas com relação das vivências entre os alunos brasileiros e africanos, partindo dos dois cursos atuais do IHL - Instituto de Humanidades e Letras da Universidade (Bacharelado em Humanidades e Licenciatura em Letras).

MERGULHOS NO MATERNO MAR DE BOAVENTURA CARDOSO: UM OLHAR SOCIOCULTURAL SOBRE ANGOLA NO PÓS-INDEPENDÊNCIA (COM) Jorge Luiz Gomes Junior (UFF) A partir da apreciação do romance Mãe, materno mar, de Boaventura Cardoso (2001), pretende-se investigar a cartografia identitária encenada em sua trama. Através da análise crítica de uma Angola pós-independente, revisitaremos arquivos culturais que dialogam com a identidade e a memória de uma sociedade em caminhos de ressignificação. Nesse sentido, passado e presente interagem personificados, em dados momentos, nas figuras da tradição e modernidade, oferecendo corpo e movimento a uma Angola ficcional, retratada de maneira alegórica por uma locomotiva. Diante da travessia por uma linha férrea, que liga o interior à capital litorânea, levando em conta a espacialidade em diferentes aspectos, tais como o físico, político e, sobretudo, cultural, pensaremos Angola. Sendo assim, tendo como base o romance Mãe, materno mar, refletiremos sobre a literatura e a construção do país, no período pós independência, tendo em vista questões como as línguas e a linguagem, oralidade, uma escrita angolanizada e outras formas de afirmação das identidades, assim como sincretismos, críticas e aspectos socioculturais, que refletem o processo de busca da nação por seu centro. Por fim, perspectivas de futuro se evidenciam, reiterando uma valorização da esperança.

MUDANÇA DE PELE: A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO PÓS-COLONIAL NA OBRA MAYOMBE, DE PEPETELA (COM) Maiane Pires Tigre (UESC) O romance Mayombe, de Pepetela (1980) apresenta um painel social e político do processo de libertação de Angola fazendo entrever o conjunto de fraturas expostas da sociedade angolana: tribalismo, sexismo, socialismo, corrupção e ingerências no seio do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Tomando como objeto o romance Mayombe, o trabalho propõe-se a analisar a construção do sujeito póscolonial na obra supra, através da metáfora “mudança de pele”, elegendo como ponto fulcral das discussões, a experiência da construção do sujeito angolano pós-colonial no seio da luta de independência de Angola. A inevitável “mudança de pele” surge à proporção que são questionadas a usurpação do território e dos sujeitos angolanos pelo colonialismo e capitalismo português revelando um novo sujeito, inserido em uma geografia específica do pós-colonial. O trabalho possui capital importância visto que inaugura uma discussão sobre a metamorfose do sujeito colonial para pós-colonial, a partir da metáfora empregada Mudança de pele, ilustrando a transformação sofrida por este sujeito. De cunho bibliográfico a pesquisa fundamenta-se no campo dos Estudos culturais e Pós – coloniais. A grande eloquência demonstrada por Pepetela na obra Mayombe reúne em si os esforços de um autor emblemático, dentro e fora da história.

O PAPEL DO INTELECTUAL CABO-VERDIANO PÓS-INDEPENDENTE EM O MEU POETA, DE GERMANO ALMEIDA (COM) Mariana Andrade Gomes (UFBA) Germano Almeida é um dos escritores cabo-verdianos com significativa projeção internacional no panorama literário do país e suas obras se caracterizam, majoritariamente, pelo intenso viés político potencializado pela linguagem cômica com as quais discutem os temas relacionados às conjunturas sociais do arquipélago africano. Em seu segundo romance, O meu poeta, publicado em 1990, o autor satiriza a burguesia mindelense no contexto pós-independência e problematiza a ausência de símbolos nacionais fragmentados/fragilizados após a libertação política com Portugal em 1974. Neste período político, anterior à instauração do multipartidarismo, o livro conclama a uma “nova literatura”, cujos autores – sim, no masculino, pois a voz feminina é obnubilada – adotem como projeto político-literário uma escrita que verse sobre a(s) identidade(s) do(s) homem(ns) cabo-verdiano(s) de uma maneira mais “engajada” e crítica, mesmo que isso implique em um rompimento com o regime político vigente. O artigo atual, integrado a pesquisa de doutorado em curso, discute como o escritor se traduz em intelectual (SAID, 2005) e como essa “elite intelectual” atua nas demandas políticas e identitárias nacionais em Cabo Verde. Por conseguinte, utilizarei como arcabouço teórico principal as pesquisas de Said (2005), Onésimo Silveira (2014 [1963]), Mata (2015), Gândara (2008) e Tutikian (2006a; 2006b).

AS VISÕES DE ESTRELINHO: IMAGENS DE MOÇAMBIQUE NO CONTO O CEGO ESTRELINHO DE MIA COUTO (COM) Odara Perazzo Rodrigues (UEFS) Após Moçambique proclamar sua independência do governo português, em 1975, o país mergulhou em um longo período de guerra civil, que teve fim, somente, em 1992. É nesse período que há um aumento na produção literária de obras que objetivavam a afirmação do ser africano e a valorização de sua cultura e suas tradições autóctones. A literatura produzida na África de língua portuguesa desde então objetiva ressignificar a identidade dessas ex-colônias/recentes países, que por tanto tempo estiveram sob o domínio de Portugal e tiveram sua cultura menosprezada e quase extinta pelo colonizador. Mia Couto, escritor moçambicano, autor da obra de que trata este trabalho, se destaca no papel de ressignificar a identidade Moçambicana através da literatura. Suas obras utilizam-se de vários mecanismos de resistência anticolonial, desde a forma inovadora como utiliza a língua portuguesa ao resgate de mitos típicos da cultura moçambicana. Com este trabalho objetiva-se analisar o conto O cego Estrelinho, parte da coletânea Estórias abensonhadas (1994), que narra a história de um homem cego que teve a oportunidade de conhecer, através de dois guias diferentes, as duas faces da mesma África: a fantástica e a assolada pela guerra. Pretende-se comparar a perspectiva da realidade ao qual o personagem é submetido com as mudanças ocorridas em Moçambique antes, durante e depois da guerra civil.

O TRANÇADO DA IDENTIDADE EM AMERICANAH, DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE (COM) Paula de Sousa Costa (UFCG) Josilene Pinheiro-Mariz As identidades são enxergadas, em sua maioria, mais pela aparência do que por atitudes e personalidade. De certa forma, a nossa aparência representa quem somos, de onde viemos, pois são os traços genéticos que nos diferenciam e identificam em relação à nacionalidade e etnia. A escritora nigeriana, anglófona, Chimamanda Ngozi Adichie traz em seu romance Americanah (2013) uma intensa discussão acerca do cabelo enquanto elemento identitário, em um contexto de diáspora, mostrando os estereótipos negativos presentes nos cabelos crespos e/ou trançados. A narrativa ressalta esses estereótipos como uma herança que se configura em resultado “natural” do processo de colonização, destacando a dificuldade e o desafio da personagem Ifemelu em assumir a identidade de seus cabelos. Assim, este trabalho discute, com bases no pensamento de Khedekar (2014), a “política do cabelo” existente na obra, como símbolo de raça, classe e nação; além disso, reflete sobre como se dá essa relação entre cabelo e identidade na sociedade pós-colonial, ancorada no referido romance. Também abordaremos pelo viés das concepções de Hall (2006), a mudança de descentralização das identidades culturais na pósmodernidade e os impactos na articulação das relações sociais contemporâneas.

PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM TERRA SONÂMBULA, DE MIA COUTO (COM) Regina Costa Nunes Andrade (UFV) Buscamos analisar neste trabalho a problemática da construção da identidade dentro da obra Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto, publicada em 1992. Muito notamos da problemática do que seria a construção da identidade moçambicana por meio da jornada os dois personagens que se destacam na trama: Muidinga/Gaspar e Kindzu. A construção da identidade, do eu, das características definidoras, é algo universal presente em todas as culturas e épocas. A busca por quem somos, o quê representamos é uma lida constante para todos. Em Terra Sonâmbula essa temática é explorada de maneira consistente sem abandonar as características locais (moçambicanas) no ambiente pós-independência, onde a violência das guerras civis ainda prevalece. Para tal recorremos aos conceitos de Homi K. Bhabha, Stuart Hall, Zygmunt Bauman e Eliade Mircea a fim de compreendermos, sob a ótica dos Estudos Culturais, como o universo identitário é construído neste ambiente pós-colonial. Recorremos aos conceitos teóricos sobre a identidade, mas sem abrir mão da abordagem dos recursos utilizados na obra, como a paisagem e personagens secundários.

ANGOLA EM TEMPOS DE GUERRA NA VOZ TRAUMÁTICA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES (COM) Romiton Batista de Oliveira (UFBA) Este artigo tem como objetivo analisar o trauma oriundo da catástrofe angolana, detectando os signos traumáticos tecidos na voz do escritor português Antônio Lobo Antunes. Foram selecionados para fazer parte do corpus desta pesquisa os seus três primeiros romances, Os Cus de Judas, Memória de elefante e Conhecimento do inferno (1979-1980). O escritor, através da literatura, consegue quebrar os lacres da irrepresentabilidade que o impediam de escrever sobre os horrores presenciados por ele em Angola. Lobo Antunes é um sobrevivente e esses romances são o testemunho de sua experiência na guerra. O trauma é uma ferida que se aloja no corpo, tornandolhe um potente lugar de inscrição. A memória individual carrega traços e resíduos de uma memória coletiva, daí entendermos que toda memória pessoal está circunscrita a uma memória contextualizada social e historicamente, como bem esclarece Halbwachs (2006). Assim, através da contribuição de autores como Seligmann-Silva (2005), Sarlo (2007), Benjamin (1994), Gagnebin (2006), Hall (2006), Tedesco (2004), entre outros, realizou-se um estudo interdisciplinar e dialógico. Os resultados obtidos nesta pesquisa apontam para uma reflexão literária em torno do contexto histórico que gerou traumas em todas as partes envolvidas, tanto africana quanto portuguesa. Desta forma, a literatura torna-se um complexo lugar de vozes que foram subalternizadas e marginalizadas e ao mesmo tempo porta-voz de uma dimensão testemunhal, amparada por finos e trágicos signos que se movem de forma a desconstruir e ressignificar o velho amigo de todos: o passado.

NARRAÇÃO DA NAÇÃO NA GUINÉ-BISSAU: ABDULAI SILA E A SUA “TRILOGIA” ROMANESCA (COM) Suely Santos Santana (UNEB) Após a conquista da independência a Guiné-Bissau depara-se com a difícil tarefa de (re)construir a nação e a literatura tem papel fundamental, haja vista que as narrativas contribuem na instituição e consolidação de uma nação. No contexto de pósindependência e luta pela (re)construção da nação bissau-guineense insere-se o escritor Abdulai Sila. Empreendo uma leitura das narrativas do escritor, através da sua “trilogia” , entendendo que o mesmo narra a nação bissau-guineense por meio da crítica aos fatores responsáveis pelo fracasso dos projetos da independência problematizando tais fatores e demonstrando uma vontade de participar da (re)construção da nação, inclusive, apontando uma ponta de esperança no futuro. Na leitura proposta, enfatizo a figura de Sila como escritor que lança mão de temas e discussões que concorrem para uma nação moderna, onde reinem a igualdade, a justiça, a solidariedade e progresso, apontando o modelo do pan-africanismo como ideal de nação a ser seguido.

IDENTIDADE CULTURAL NO ROMANCE MOÇAMBICANO O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO, DE MIA COUTO (BAN) Thaíse de Santana Santos (UESC) Apresenta-se uma leitura do romance O último voo do flamingo (2005), de Mia Couto, com o objetivo de reconhecer e apontar algumas especificidades da realidade sociocultural moçambicana, a partir da análise sobre os sentidos de identidade e resistência presentes na narrativa. Esta investigação tem caráter bibliográfico e fundamenta-se, principalmente, no campo dos Estudos Culturais e Pós-Coloniais. A abordagem justifica-se porque se pretende investigar como essa obra da literatura moçambicana discute questões identitárias, considerando que o país tem apenas quarenta anos de independência política. Ao longo da narrativa, Mia Couto mostra acontecimentos históricos de Moçambique, como a problemática da guerra, e tece críticas aqueles que semeiam e se beneficiam da miséria provocada por ela. Contudo, impregna sua narração com elementos próprios da cultura local e a dissemina ao longo das páginas do seu livro. Sua narrativa aponta para a reconstrução de um país que se encontra devastado pela guerra e pela ganância de seus governantes. Desse modo, pode-se entender O último voo do flamingo como metáfora da esperança de reconstrução de um novo Moçambique.

O DISCURSO ANTICOLONIAL NO CONTO “NÓS MATAMOS O CÃO-TINHOSO”

Vércia Gonçalves Conceição (UFBA) Maria de Fátima Maia Ribeiro (UFBA) O texto "O discurso anticolonial no conto Nós Matamos o Cão-Tinhoso" reflete sobre como o conto "Nós Matamos o Cão-Tinhoso" pode ser considerado um simulacro do discurso colonial, ao considerarmos o contexto em que se deu sua escrita, na Moçambique da década de 1960, ainda sob domínio do Império Português. O texto de Honwana, que atuou nas lutas de libertação, pela FRELIMO, é tomado, aqui, como a escrita da Diferença, ao portar a voz do Outro, nesse caso a voz do sujeito colonizado, que denuncia os males da colonização, ao mesmo passo em que projeta a independência de Moçambique e, quiçá, sugere uma ideia de Nação. A exposição será guiada pelos estudos de Cabaço (2009), Bhabha (2010), Deleuze (1974), Honwana (1980), Machado (2010) e Silva (2007), dentre outros.

GRUPO DE TRABALHO: “História e Ficção em Narrativas Africanas” Coordenação: Wesley Barbosa Correia (IFBA) CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE: UMA OUTRA HISTÓRIA É POSSÍVEL ATRAVÉS DA LITERATURA Alyxandra Gomes Nunes Chimamanda Ngozi Adichie é uma jovem autora nigeriana da terceira geração de escritores nigerianos que tem uma produção que já é bastante difundida no Brasil, em especial sua palestra The danger of a single story ou We all should be feminist. O conjunto de sua narrativa engloba temas que são de relevância sobre a cidadania em seu país, tais como o protagonismo feminino, os diálogos possíveis com os homens, o crescimento e maturidade, imaginário sobre a guerra de Biafra e as diferentes conjunturas políticas contemporâneas na Nigéria e sobre o movimento diaspórico de nigerianos para os Estados Unidos. Minha apresentação visa apresentar o projeto político e literário da autora e debater como ela transita entre a ficção e a história em seus romances e contos, tais como Meio sol amarelo, Hibisco Roxo e The thing around your neck.

BRASILEIROS NA ÁFRICA: A REPRESENTAÇÃO DOS RETORNADOS NAS PRODUÇÕES ETNOGRÁFICA E FICCIONAL DE ANTONIO OLINTO (1961-1988) Bethânia Leal Tamburi (UESC) Os afro-brasileiros que retornaram à África a partir do século XIX marcaram com a influência brasileira regiões situadas no Golfo do Benin. Esses ex-escravos tinham as origens mais diversas e, chegando à África, se organizavam a partir da experiência de vida adquirida no Brasil. Esta pesquisa tem a intenção de investigar como estes retornados foram retratados por Antonio Olinto nos romances que compõem a trilogia “A alma da África” que conta a história de uma ex-escrava que retorna à África levando consigo filha e netos. Antonio Olinto, reconhecido como crítico literário, poeta e romancista, foi nomeado em 1962 Adido Cultural em Lagos, na Nigéria onde desenvolveu pesquisas e, como resultado publicou em 1964 a obra etnográfica “Brasileiros na África” onde trata dos retornados, e mais tarde retoma o assunto sobre a ótica da ficção na trilogia de romances – A Casa da Água (1969), O Rei de Keto (1981) e Trono de Vidro (1987). Adotou-se como marco cronológico inicial o ano de 1961 pelo contexto da Política Externa Independente desenvolvida no governo de Jânio Quadros, que proporcionou a ida de Antonio Olinto para Nigéria tendo início as suas experiências junto aos retornados. Em 1987 “Trono de Vidro”, o último volume da trilogia, é publicado no momento que se concretiza a reabertura política e se estabelece um novo regime no país consolidado com a promulgação da Constituição de 1988, marco final da pesquisa. A porção do continente africano pesquisada será a Costa Ocidental, onde Olinto desenvolve a trama da trilogia.

AS TRAMAS HISTÓRICAS E LITERÁRIAS: A POÉTICA DE NOÉMIA DE SOUSA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA COLONIAL (COM) Carla Maria Ferreira Nogueira (UNEB) O estudo das produções literárias dos países africanos de língua portuguesa se conjuga com a introdução dos fundamentos históricos e culturais dessas nações, principalmente no que tange a experiência colonial nesses territórios. Focalizando as marcas decisivas em seu processo de formação, tendo em vista a sua constituição como fenômeno estético e como fator cultural, as questões ligadas às relações entre linguagem e identidade nacional, a projeção dos movimentos africanistas, a incorporação e reformulação dos gêneros literários, com atenção especial para as articulações entre as matrizes das tradições orais e as modulações da modernidade estarão na base das abordagens da ficção e da poesia. Nesse aspecto, pretende-se discutir a literatura moçambicana, com foco na poética de Noémia de Sousa, a partir dos elementos que a constitui, desenhando no conjunto do texto, os problemas colocados pelo contexto histórico no período do colonialismo. Nas relações entre literatura e história, literatura e cultura, literatura e identidade a abordagem na leitura e análise dos poemas de Noémia de Sousa confluem com o discurso literário da constituição da identidade nacional, juntamente com os aportes dos movimentos africanistas e a interpretação das propostas do Movimento da Negritude.

UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA: A DUALIDADE TRADIÇÃO/ CONTEMPORANEIDADE NA OBRA DE MIA COUTO (BAN) Eliene dos Santos Silva (UFRB) Simone Porcino de Jesus (UFRB) A literatura africana em língua portuguesa, sobretudo a produzida neste período póscolonial apresenta, não raras vezes, problemáticas referentes ao processo de colonização dos países africanos e às guerras em prol da independência. Esses dois momentos históricos infligiram profundas cicatrizes aos povos de África, deixando como consequência graves prejuízos nas esferas econômicas, políticas e culturais, os quais contribuíram para desencadear a crise pela qual estão passando os países africanos. A tentativa de reconstrução/ reinvenção dessas nações e de suas identidades certamente passa por um percurso no qual deve ser resolvido, entre outras coisas, o “conflito” entre as tradições ancestrais e os valores da contemporaneidade. Neste contexto, a literatura coutiana em prosa aparece, recorrentemente, com temáticas que apontam para a importância de se valorizar as culturas tradicionais africanas, mas sem deixar de fora elementos que representam um legado da cultura do Colonizador. Nessa perspectiva, o presente trabalho visa fazer uma reflexão sobre a forma como Mia Couto realiza o cruzamento entre as concepções e valores tradicionais e os costumes contemporâneos e examinar como estes elementos estão representados em Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, analisando como ao longo da narrativa o autor vai tecendo um caminho que aponta na direção da necessidade de se encontrar um equilíbrio entre o tradicional e o contemporâneo como uma forma de “recuperação” e reconstrução dos países africanos.

RELIGIÃO E CULTURA EM THINGS FALL APART, DE CHINUA ACHEBE (COM) Evelyn Santos Almeida (UESC) Trata-se de um dos resultados de pesquisa de projeto de iniciação científica (FAPESB – 2014-2015) cuja abordagem se dá em torno das representações de rituais de sacrifício do povo Igbo, em Things fall apart, do nigeriano Chinua Achebe (1958), em cotejo com a voz do personagem histórico do Padre Las Casas, em "A conquista da América", de Tzvetan Todorov (2003). Alguns rituais descritos na narrativa literária de Achebe podem ser interpretados como cruéis pelo olhar ocidental américoeurocêntrico contemporâneo. Esse estranhamento também se deu no choque entre europeus e indígenas durante a colonização da América (neste estudo, a conquista hispânica). Las Casas descreve rituais e sacrifícios que se assemelham aos encontrados na ficção nigeriana analisada. Em ambos os relatos – o do povo Igbo da Nigéria, no início do século XX, e o dos autóctones do México, em meados do século XVI –, demonstra-se que a cultura ocidental utilizava a religião para justificar seus atos de dominação e inferiorização do outro. O trabalho fundamenta-se também nos conceitos de outrização (SPIVAK, 1985) e de outrização produtiva (CARVALHO, 2012), no que concernem aos esforços ou negligências no (des)entendimento cultural entre povos. O campo crítico-teorico é o dos estudos culturais pós-coloniais, com abordagem de cunho bibliográfico. Este relato de pesquisa empreende uma provocação acerca dos estudos pós-coloniais, ao apontar semelhanças, admitidas as distinções, entre encontros colonizador-colonizado em dois continentes distintos, com dois impérios (o inglês e o espanhol) e dois momentos históricos diferentes, revelando um modus operandi comum ao pensamento europeu dominante na Modernidade.

O MÍTICO E O HISTÓRICO NA LITERATURA DE BOAVENTURA CARDOSO E DE MIA COUTO (COM) Everton Fernando Micheletti (USP) Em contos e romances do angolano Boaventura Cardoso e do moçambicano Mia Couto, há a preocupação com a situação histórica de seus países. Concentram-se, na maior parte das obras, no período de luta anticolonial e no pós-Independência com a guerra e suas terríveis consequências. Também trazem às narrativas as tradições ancestrais africanas, a religiosidade, o hibridismo e suas tensões, recorrendo, portanto, ao universo mítico. Com o interesse maior pelos mitos africanos, não deixam de explorar os mitos europeus, entre outros do imaginário humano profundo universal, como nos casos das constantes referências aos elementos da matéria - água, terra, fogo, ar. Desse modo, o que se propõe neste trabalho é analisar e comparar, em algumas obras dos dois escritores, as relações que se estabelecem entre o mítico e o histórico. Geralmente abordados como opostos, o mítico como criação imaginária e o histórico como realidade objetiva, será verificado se na literatura os autores subvertem essa oposição, recorrendo ao mítico como forma de representação do histórico. Os referenciais teóricos e críticos consistem em autores e pesquisadores da área de estudos pós-coloniais e das literaturas africanas de língua portuguesa, como Abdala Jr., Leite, Padilha, Chaves, Macedo, Secco, entre outros.

QUANDO O QUE SE DISCUTE É A REALIDADE: UM DEFEITO DE COR, DE ANA MARIA GONÇALVES, COMO PROVOCAÇÃO À HISTÓRIA (COM) Fabiana Carneiro da Silva (USP) O romance Um defeito de cor, publicado em 2006 por Ana Maria Gonçalves, além de se destacar por seu fôlego e pela matéria da qual se propõe a ser uma reelaboração o nosso ainda traumático passado escravista -, tem um foco narrativo inédito nas letras brasileiras: uma escrava ou, se consideramos a condição da narradora quando dita o relato, uma liberta. A coadunação desses elementos faz do romance uma notória obra que, apesar de (re-) apresentar o século XIX, surge de uma necessidade contemporânea e sobre a contemporaneidade perfaz um discurso significativo, ainda que marginal. A constituição desse texto se realiza como contraponto à, declarada, obliteração da história do povo negro no país. Nesse sentido, o romance estabelece intrínseca relação com a disciplina História e a ela faz uma provocação. O presente trabalho pretende compartilhar algo da investigação acerca do modo como são criadas correspondências entre a forma do romance e um discurso histórico. No mesmo contínuo, procuraremos sinalizar os aspectos passíveis de ocupar o campo do literário e que compõem os esforços dos historiadores empenhados em elaborar narrativas comprometidas com as perspectivas dos negros em relação aos séculos XVIII e XIX. Ancorados nessa trama complexa, delinearemos um movimento presente no qual as oposições “ficção e realidade” e “ficção e história” voltam a interpelar da crítica literária uma revisitação e ressignificação de seus critérios.

MOTIVOS SIMBÓLICOS E AMBIGUIDADE IDENTITÁRIA EM “GALO CANTOU NA BAÍA”, DE MANUEL LOPES (COM) Júlio Cesar Machado de Paula (UNILAB) Nesse trabalho, analisa-se a importância da narrativa “Galo cantou na baía”, de Manuel Lopes, para o processo de criação de um sistema literário em Cabo Verde. Para tanto, procuramos demonstrar como o autor, a despeito de estar imbuído de um espírito de busca de uma literatura identificada com as culturas das ilhas, acaba por lançar mão de um repertório simbólico ainda fortemente vincado à tradição ocidental. Como resultado, tem-se uma narrativa relativamente ambígua, dividida entre o anseio de afirmação identitária cabo-verdiana e a sensação de pertencimento ao universo literário português, característica observável em grande parte da literatura da fase da revista Claridade.

ANÁLISE DA ATUAÇÃO FEMININA NA GUERRA DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E NO CANGAÇO DE JEQUIÉ, ATRAVÉS DA LITERATURA (COM) Kalyane Bárbara Oliveira Novaes (UESC) Escrever sobre a presença da mulher na História e nos fatos que marcaram a humanidade não é tarefa simples, pois a complexidade começa no ato de gerar uma nova vida, que certamente acompanhará e terá forte influência na construção da identidade dessa geração. A pesquisa consistiu em analisar a atuação da mulher no contexto sócio político do século XX na região de Jequié/Brasil e de Luanda/Angola, fazendo um contraponto com Anésia Cauaçu personagem histórica presente no romance de Domingos Ailton com a personagem fictícia Sara de Pepetela. Ao analisar o contexto histórico e sua relação com a construção do gênero, fez-se necessária a caracterização do objeto: Anésia e Sara. Ambas as personagens possuem representações instigantes nos romances, sendo que na obra de Domingos Ailton a mulher é uma personagem heroica e na de Pepetela a mulher é um fio condutor para a construção de uma ideologia de nação livre e igualitária. A sociedade do século XX, tanto no Brasil como em Angola, era extremamente patriarcal, limitando as mulheres ao lar e aos afazeres domésticos, evidenciando uma nítida divisão de papéis entre os sexos, na qual foram atribuídas ao homem, a esfera pública e à mulher, a doméstica. O comportamento, o espaço, o tempo são partes da estrutura narrativa que desencadeiam dúvidas em relação ao real e ao fictício. Sara e Anésia são apenas dois exemplos de mulheres que lutaram pelos seus ideias, seja no sertão brasileiro comandando um bando de cangaceiros ou em uma cidade angolana assegurando uma ideologia de liberdade.

QUESTÕES DE MULHERES NEGRAS: O DISCURSO EPISTEMOLÓGICO EM DISCUSSÃO (COM) Lívia Maria Natália de Souza (UFBA) Este trabalho pretende, a partir das reflexões da escritora nigeriana Chimamanda Adiche em "Sejamos todos feministas", discutir cinco temas que atravessam a vivência das mulheres negras a partir de poemas e contos escritos por mulheres negras brasileiras e africanas. Ao pensar as questões de intelectuais negras, maternidade, padrões estéticos, relação com o homem e a inserção destas mulheres no mercado de trabalho, pretendo aventar um caminho de reflexão sobre como as representações correntes destas mulheres precisam de um urgente corte epistemológico.

O DISCURSO SÓCIO LITERÁRIO EM NAÇÃO CRIOULA, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA (BAN) Lucimeire dos Passos Rodrigues Neste trabalho, pretende-se analisar, de forma crítica, o romance “Nação Crioula – a correspondência secreta de Fradique Mendes” (2002), do angolano José Eduardo Agualusa. Tivemos como principal objetivo identificar a visão do autor em relação aos temas que abrangem a obra, no que se refere aos campos: político, cultural, social, histórico e literário, os quais são apresentados de forma implícita, ou seja, nas entrelinhas do texto. A estrutura da mesma é baseada apenas em remetentes - uma representação da política colonial. Sob esta perspectiva, a sociedade existente no passado é apresentada através da narrativa do autor por meio do seu protagonista Fradique Mendes, tornando-se possível ao leitor realizar uma análise por meio dos dados obtidos, sobre os aspectos positivos e negativos que circundam o romance. A exploração do triângulo Angola, Brasil e Portugal pode ser identificada como um reflexo da formação identitária do próprio autor, mediante o reconhecimento de sua biografia. Um ponto importante presente na obra é a intertextualidade, uma vez que Agualusa utiliza-se de um jogo metaliterário, no que diz respeito à principal referência da obra “As correspondências de Fradique Mendes” (1900), do autor Eça de Queirós. Em síntese, pode-se concluir que os acontecimentos descritos em “Nação Crioula” é um reflexo dos acontecimentos ocorridos no passado, em relação à explanação da escravatura em uma abordagem diferente, instigando o leitor a obter um leque de conhecimentos sobre este tema, tornando, assim, uma oportunidade de estudo de várias questões sob um ângulo diferente, sem, contudo, tornar-se enfadonho.

O PROCESSO DE REIFICAÇÃO NOS CASAMENTOS INTER-RACIAIS EM A GLORIOSA FAMÍLIA: O CASO DE BALTAZAR VAN DUM E DONA INOCÊNCIA; RODRIGO E CRISTINA; MATILDE E JEAN DU PLESSIS (BAN) Márcio Santos Matos O presente trabalho configura como uma tentativa de reflexão acerca da ideia de casamento inter-racial a partir deste romance cuja autoria pertence a Pepetela. É dentro do contexto da ocupação holandesa em Angola no século XVII que a narrativa desenvolve-se. Por tratar-se de um enredo denso em personagens, escolhi três relacionamentos que estão presentes no subtítulo para exemplificar as discussões. Embranquecimento, africanização e cristianização seriam as hipóteses para explicar o processo de reificação existente dentro destes casamentos mestiços, uma vez que a despersonificação dos sujeitos envolvidos na estória era uma espécie de condição sine qua non ante este tipo contrato matrimonial. Embora o objeto abordado tenha um caráter ficcional, ele é bastante útil para se fazer um paralelo com a realidade racial brasileira. Por fim, apesar de a união miscigenada ter sido explorada há bastante tempo pelas ciências sociais, a exemplo dos antropólogos Thales de Azevedo, Marvin Harris e Laura Moutinho, fica mais uma vez a contribuição da literatura como documento etnográfico.

MEMÓRIA E SEUS DISCURSOS: LITERATURA E ARTE AFRICANAS Maria Nazareth Soares da Fonseca (UFMG) A experiência artístico-literária, no continente africano, em geral, e nos países africanos de língua portuguesa, em particular, ao fazer da memória um dos grandes temas que a enriquecem, formaliza intensos diálogos com contextos “de câmbios monumentais” , que, conforme acentua Aijaz Ahmad (2002), explicitam a ascensão e queda dos nacionalismos culturais. Escritores e artistas, ao se debruçarem sobre as intensas transformações provocadas pela globalização e pela urgência de a memória dos traumas do continente ser narrada e exibida aos leitores e espectadores, como uma espécie de catarse, assumem estratégias e recursos de criação que se mostram, de forma significativa, em diferentes "locais de cultura". Ao mesmo tempo, se intensificam agenciamentos e articulações que garantem novas formas de visibilidade a narrativas literárias e peças artísticas expostas em diversos países do continente e fora dele. Interessa a essa palestra discutir, ainda de forma breve, como o tema da memória vem produzindo novas abordagens sobre os traumas do continente e as obsessões relacionadas com as identidades locais. Na reflexão, as relações entre literatura e arte em geral dirigem-se a narrativas angolanas e moçambicanas e a produções de artistas africanos - alguns deles presentes na Mostra Africa Africans que esteve no Brasil de maio a agosto de 2015 - procurando discutir o esforço da literatura e da arte africanas para retomar o passado distante e o recente em busca de explicações necessárias ao presente.

LITERATURA AFRICANA COMO POSSIBILIDADE PARA O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA: UMA ANÁLISE DO ROMANCE NIKETCHE (BAN) Marlos Candido Souza Rezende (UNEB) Este artigo tem por objetivo discutir as contribuições da literatura africana, de modo particular, o romance Niketche da moçambicana Paulina Chiziane, como meio para ressignificar o ensino de história da África. Desde 2003 com a implementação da lei 10.639/003 o ensino de história da África e dos afro-brasileiros tornaram-se obrigatórios no nosso currículo, no entanto, a forma como maioria das escolas aborda a temática está carregada de preconceitos e traduzem valores etnocêntricos que contribuem propagação de racismo, existindo ainda hoje um vazio em relação à história do continente nos bancos escolares, preenchido por imagens marcadas por estereótipos negativados. A literatura africana se mostra como uma possibilidade para ressignificar a consciência histórica dos nossos estudantes apresentando o continente, sob o ponto de vista de uma escritora moçambicana.

SUBJETIVIDADES: SEXUALIDADE FEMININA, LITERATURA E HISTÓRIA (COM) Meyre Ivone Santana da Silva (UFMT) O trabalho propõe uma reflexão sobre as estratégias de reconstrução da subjetividade feminina nas obras das autoras das autoras Ken Bugul e Ama Ata Aidoo. No romance Changes, da ganesa Aidoo e em Le baobab fou da senegalesa Ken Bugul, as autoras desafiam as convenções que regulam as relações de gênero, através de personagens que revelam seus desejos e descolonizam sua sexualidade. Ao subverter aspectos culturais que geralmente funcionam em detrimento dos interesses femininos, as narrativas ocupam um espaço simbólico na reconstrução da história. Neste sentido, as obras estabelecem uma relação entre o mundo ficcional e a realidade extranarrativa. A partir daí, investigaremos como Aidoo e Bugul subvertem e desafiam as instituições coloniais e patriarcais, focalizando o local feminino nas sociedades africanas, ao mesmo tempo em que nos informa a respeito da existência de um lugar diverso daqueles que fazem parte das representações que povoam os livros de História, as obras literárias, os discursos científicos e o nosso imaginário.

LITERATURA INFANTIL E IDENTIDADE (BAN) Rosemary de Jesus Santos (UNEB) A pesquisa ainda está num estágio inicial, o que pode justificar certas lacunas normais a qualquer trabalho inicial. Uma breve apresentação de Mia Couto Nascido em Beira, Sofala, Moçambique, no dia cinco de Julho de 1955, António Emílio Leite Couto (Mia Couto) tem sua primeira formação académica em Biologia. Fez os estudos secundários na Beira e frequentou, de 1971 a 1974, o curso de Medicina em Lourenço Marques (actualmente, Maputo), onde se vivia um ambiente racista. Por esta altura, o regime exercia grande pressão sobre os estudantes universitários. O conjunto destas circunstâncias leva-o a colaborar com a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), partido marcado pela luta pela independência de Moçambique de Portugal. Após a Independência Nacional, em 1975, ingressou na actividade jornalística, dirigindo três veículos de comunicação: Abandonou a carreira jornalística voltando a ingressar na Universidade para, em 1989, terminar o curso de Biologia, especializando-se na área de Ecologia. A partir daí mantém colaboração dispersa com jornais, cadeias de Rádio e Televisão, dentro e fora de Moçambique. Hoje realiza a sua profissão como biólogo na área de estudos de impacto ambiental. Para refletirmos acerca da existência de uma produção literária moçambicana voltada às crianças, Assim como alguns de seus contemporâneos, preocupa-se com a identidade dos povos africanos e busca solidificar a independência

REVISITAR PARA QUESTIONAR: QUEM MATOU SUHURA? ESTÓRIAS QUE ILUSTRAM A HISTÓRIA DE LÍLIA MOMPLÉ (COM) Silvaneide da Silva Costa (USP) A escritora moçambicana Lília Momplé ficcionaliza a história dos silenciados de Moçambique, na obra Ninguém matou Suhura: Estórias que ilustram a história, no período de 1935 a 1974, sob o gênero do conto. Segundo, Moama Lorena de Lacerda Marques (2012), a preferência pelo gênero se dá por uma série de questões sociais e políticas, que abarcam desde a incapacidade do “sistema editorial de publicar obras maiores quanto a possibilidade que o conto oferece ao escritor africano de captar e representar, de forma breve e ao mesmo tempo intensa, o cotidiano, a realidade circundante, sua principal fonte de inspiração” (MARQUES, 2012, p.1). Ninguém matou Suhura é composta por cinco contos que abordam questões do cotidiano, em especial daqueles silenciados pela história oficial. O subtítulo da obra explicita a relação entre as micronarrativas e a macronarrativa histórica e determina o lugar a partir do qual se pretende enunciar a história, para a partir das histórias do cotidiano (re)contar a história do país. Propomos, nesse artigo, estabelecer uma reflexão acerca das condições materiais da vida em Moçambique entre os anos de 1935 a 1974, destacando e problematizando a presença, as estratégias opressoras de dominação, segregação e aversão dos colonizadores, e suas consequências na vida dos moçambicanos, sobretudo, aqueles que viviam à margem da sociedade.

HISTÓRIA E FICÇÃO NA LITERATURA ANGOLANA: DIÁLOGOS ENTRE MEMÓRIA E IDENTIDADE EM ROMANCES DE ONDJAKI E PEPETELA (BAN) Viviane Carvalho Lopes (UESC) Inara de Oliveira Rodrigues (UESC) Os romances angolanos O quase fim do mundo (2008), de Pepetela, e Os transparentes (2013), de Ondjaki, abordam dois vieses distintos acerca da invisibilidade do povo de Angola, que, país africano, viveu processos de colonização em que foi imposta a cultura eurocêntrica. Nessa lógica, os romances apresentam diálogos com a história angolana e pretende-se compreender, no presente trabalho, como se dá o processo de entrelaçamento da história e da ficção nessas narrativas literárias. Para tanto, problematiza-se de que maneira é acionada a memória no andamento dessas criações literárias, reconhecendo-se as inter-relações entre memória e construção de um sentido nacional de ser angolano, ou seja, as interrelações entre memória e identidade cultural. O desenvolvimento da análise proposta, de teor eminentemente bibliográfico, fundamenta-se, principalmente em Chartier (2010) Hall (1999), Matta (1993), Memmi (1969), Tutikian (2006), Candau (2011), Santos (2003) e na perspectiva histórica de Visentini (2012) e Abdala; Paschoalin (1990). Os resultados da pesquisa, ainda parciais, demonstram que esse processo de construção identitária se encontra, entre outros aspectos, na luta pela visibilidade do passado para construção de uma angolanidade firmada no presente. Desse modo, espera-se, contribuir com os estudos mais recentes acerca das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e, mais especificamente, com a Literatura Angolana e a obra de Pepetela e de Ondjaki.

REPRESENTAÇÕES DO PASSADO HISTÓRICO: UMA LEITURA DA OBRA DE PEPETELA (COM) Wesley Barbosa Correia (IFBA) A interface História e Ficção tem estruturado parte significativa da produção literária africana nas últimas décadas: o foco na colonização ou nas recentes guerras pela independência dos países africanos refletem, nos textos ficcionais, essa característica. Este trabalho propõe discutir o dilema da representação do passado histórico, suas abrangências e ambiguidades, a partir da escrita de Pepetela, observando em que níveis de linguagem e sentido a literatura e os discursos históricos se retroalimentam na medida que conhecidos episódios são reposicionados.

GRUPO DE TRABALHO: “História, cultura e itinerário biográficos: questão racial, intelectuais e educadores baianos” Coordenação: Josivaldo Pires (UNEB) e Silene Arcanja Franco (UNEB)

DIFUSÃO SOCIAL DO CONHECIMENTO: UMA VIVÊNCIA DE VALORIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA DO ARTISTA MIGUEL ARAÚJO (COM) Ana Carla Nunes (IFBA) Kathia Marise Sales (UNEB) Este trabalho apresenta e analisa a vida e obra do artista Taperoense Miguel Araújo. Com objetivo de trabalhar o conteúdo Patrimônio Material e Imaterial nas aulas do curso técnico de Turismo, o referido autor através dos seus relatos e obras concretas sensibilizou os 30 discentes do IFBA / Valença para importância da manutenção e construção da história local. A análise desenvolvida aborda a importância da Difusão Social do Conhecimento, e na sua relação do modo como os alunos percebem o significado e relevância deste conhecimento. Durante os meses de Outubro a Novembro, foram realizadas junto com os alunos, algumas visitas técnicas a sua casa. Neste ambiente foi verificado e vivenciado a riqueza da história regional através do seu vasto acervo. Cada espaço da sua casa contém um pouco da história da cidade, simbolizando a essência do seu pertencimento à cidade de Taperoá. Com as visitas e sensibilizados com o olhar de preservação do artista, os alunos foram incentivados a pesquisar o seu trabalho. Assim, como afirma Vygotsky, o conhecimento foi se construindo na relação do sujeito com o objeto de conhecimento, mediados pelo contexto sócio-cultural no qual estão imersos, e a partir dos desafios que lhe foram colocados. Como desdobramento deste trabalho, objetiva-se construir um museu virtual para que a partir da exposição da obra do artista Miguel Araújo, contribua para a Difusão Social do Conhecimento que se constitui na cultura local, reconhece, valoriza e preserva esta cultura.

DAS MEMÓRIAS DO VELHO JUIZ: ABOLIÇÃO, QUESTÃO SOCIAL E CIDADANIA NOS ESCRITOS BIOGRÁFICOS DE FILINTO BASTOS (1898-1917) (COM) Josivaldo Pires de Oliveira (UNEB) Filinto Justiniano Ferreira Bastos foi um abolicionista, poeta, professor e jurista baiano, nascido em Feira de Santana em 1856 e falecido em Salvador em 1939. Sua trajetória foi marcada pelo protagonismo social em defesa da liberdade. Durante sua vida estudantil, atuou de forma veemente no movimento abolicionista que tinha lugar nas Faculdades de Direito de São Paulo e Recife. Voltando para Bahia, após bacharelarse em Direito, Filinto atuou como juiz nas comarcas do interior, até que foi aprovado em concurso do antigo Tribunal de Apelação e Revista, exercendo a partir de 1897 o cargo de desembargador na capital baiana. Em Salvador, além de juiz desembargador e professor da Faculdade Livre de Direito da Bahia, Filinto Bastos foi membrofundador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, no qual, por conta de sua atuação de orador substituto, foi autor de algumas biografias de personalidades baianas, a exemplo do jurista Teixeira de Freitas, do abolicionista Joaquim dos Remédios Monteiro e do educador Pe. Ovídio de São Boaventura. Sua experiência como biógrafo será o foco da presente comunicação. Utilizando como fonte as publicações periódicas da Revista do IGHB, Conferências de sua autoria e periódicos jornalísticos baianos, procuro evidenciar nas entrelinhas das biografias que escreveu sobre algumas personalidades, críticas à escravidão, a defesa do abolicionismo e o protagonismo social que sempre marcaram a vida do próprio Filinto Bastos. Ou seja, procuro evidenciar que Filinto tratava das suas próprias experiências através da biografia de outros.

EFETIVOS E PROTETORES: PERFIL SOCIAL DOS MEMBROS DA SOCIEDADE PROTETORA DOS DESVALIDOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX (COM) Lucas Ribeiro Campos (UFBA) A Sociedade Protetora dos Desvalidos foi uma associação de homens negros, fundada em 1832, na capital baiana, pelo africano livre Manoel Victor Serra. Esta entidade exercia a função de junta de alforria, com o nome de Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos, ajudando africanos escravizados e seus familiares, a adquirirem sua liberdade. A partir de 1851, a SPD se tornou uma associação de socorros mútuos, com o objetivo de auxiliar seus associados em momentos de doença, desemprego e ajudando as famílias destes em casos de morte. Congregava trabalhadores livres, que enxergavam ali, além de um espaço de promoção individual, uma oportunidade de proteção e garantia de um futuro melhor. O presente trabalho almeja analisar o perfil social dos sujeitos que integravam o quadro de sócios da SPD. Contudo não pretende-se apenas discutir o perfil dos chamados sócios efetivos, mas também daqueles que orbitavam ao redor daquela entidade, assumindo o papel de sócios protetores, como os grandes nomes da política e outros sujeitos de enorme poder e importância na Bahia da segunda metade do século XIX. A partir dos pedidos de inscrição, estatutos, atas das reuniões e outras fontes, procurase demonstrar como os membros dessa entidade, apesar de marcados pelo estigma da cor, fizeram desse espaço um ambiente de defesa dos trabalhadores inválidos e desempregados, assim como um lugar privilegiado de sociabilidade e de promoção individual.

GRUPO DE TRABALHO: “Impactos da Lei 10.639/03 no PNBE e mercado editorial brasileiro” Coordenação: NULL LEI 10.639/03: DISCURSOS DA REVISTA NOVA ESCOLA (2004-2014) (COM) Adriana dos Santos (UESC) Este estudo tem por objetivo analisar o tratamento dado pela Revista Nova Escola aos temas referentes à Lei Federal 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica. Compreendermos que tal periódico é uma ferramenta muita utilizada na formação dos professores, que desde sua origem, é distribuída gratuitamente a escolas públicas, e vendida, segundo seus editores, a preço de custo. A hipótese é de que a referida Revista é um veículo formador de opinião, e tendo isso em vistas, investigaremos as publicações ocorridas entre os anos de 2004 a 2014. A preocupação com a Revista Nova Escola surgiu através do diálogo que este periódico se propõe a fazer com os docentes, tendo em vista que estes por sua vez são mediadores do conhecimento e um dos responsáveis por uma atuação adequada da escola, de modo que esta cumpra sua função social, que perpassa em garantir cidadania aos seus discentes. Buscaremos, pois, identificar possíveis marcas que permitam situar o periódico como objeto cultural, instituidor de práticas e posturas político-pedagógicas entre o professorado brasileiro, para isso analisaremos a cadeia discursiva gerada pelas publicações, receita da aula, carta ao leitor, carta do leitor e auto apresentação presentes na revista.

A LITERATURA INFANTO-JUVENIL ANGOLANA: UM OLHAR SOBRE YNARI, A MENINA DAS CINCO TRANÇAS, DE ONDJAKI (COM) Carla Juliana Almeida dos Santos (UNEB) O presente trabalho pretende estudar a representação do personagem inicialmente intitulado de “Homem pequenino” no livro Ynari: a menina das cinco tranças, do escritor angolano Ondjaki (Ndalu de Almeida). Pensando na importância desse personagem dentro da obra, não só como guia de Ynari pelas aldeias, mas também como despertador das discussões sobre as palavras e seus significados, que se cria a importância de discutir as diversas significações dele dentro da obra escolhida. A análise contempla duas edições da referida obra: a primeira da Editora Caminho (Lisboa), que tem Danuta Wojciechowska (artista canadense que reside em Lisboa) como ilustradora, e a segunda, da editora Companhia das Letrinhas, (São Paulo) e quem assina as ilustrações é Joana Lira, natural de Recife. Levando em consideração que numa obra de literatura infantojuvenil a linguagem visual é tão importante quanto a verbal, procurar-se-á analisar a construção desse personagem nas duas linguagens. Ressalta-se que após a Lei 10.639/2003 o número de livros infantojuvenis com personagens negros aumentou de tal forma que começaram a surgir não só editoras especializadas, como também o MEC (Ministério da Educação) vem investindo nesse tipo de literatura. A divulgação desses livros está cada vez maior, principalmente nas feiras de livros pelo país, o que justifica a sua abordagem. A análise que será apresentada tem como referencial teórico Bhabha, Achugar, Glissant e Hall.

VISÕES E VERSÕES SOBRE O ENSINO DA CULTURA AFRICANA NAS ESCOLAS (COM) Conceição Maria Alves Sobral (UESB) Objetivamos a partir desta pesquisa, desvelar os motivos que contribuem de forma significativa para a não efetivação da Lei 10. 639/03, nas escolas Polivalente Edvaldo Boaventura e César Borges, ambas situadas no município de Jequié. Para isso criamos o projeto de pesquisa nomeado de Visões e versões sobre o ensino da cultura africana. Para além desta pesquisa com fins diagnóstico, apresentaremos também os resultados de um projeto pedagógico que realizamos e que tencionou colocar em evidencia as questões étnicas, e cujo o tema foi “Visitando nossas raízes: a literatura infantil com ênfase na história e na cultura afro-brasileira”. O projeto foi apresentado em uma escola de Educação Infantil denominada de Dr. Eliel Cerqueira Mendes, localizada no bairro Km03. Essa foi uma ação vinculada ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - Pibid Subprojeto de Pedagogia da Linha de Ação Educação Infantil (PIBID/UESB/ Campus Jequié). Ao longo do trabalho o intuito foi o de propor uma reflexão sobre o ensino da diversidade cultural no ambiente formal de educação, e para tanto julgamos necessário a elaboração de um questionário nas escolas Polivalente Edvaldo Boaventura e César Borges, que pudesse refletir a visão dos alunos e professores sobre ensino da cultura africana nas escolas, já na escola de educação infantil Dr. Eliel Cerqueira Mendes, objetivamos potencializar nos educandos a construção da sua identidade e a formação de valores morais, pessoais e éticos através das histórias infantis protagonizadas por personagens negros e negras. Palavras chaves: Lei 10.639/03, História e cultura afro-brasileira, Preconceitos.

PROVOCAÇÕES E CONTRADIÇÕES: IMPACTOS DA LEI 10.639/03 NO ACERVO LITERÁRIO DO PNBE E MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO (COM) Daniela Galdino Nascimento (UNEB) O presente trabalho se dedica a analisar criticamente as repercussões da lei 10.639/03 nos acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e de editoras brasileiras especializadas e não especializadas na temática afro-brasileira, enfocando o período de 2003 a 2010. Ressalto que a referida lei foi aprovada no ano em que o PNBE passou por dois monitoramentos realizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), portanto, o contexto imediato de implementação da lei coincide com o segundo momento de reestruturação do programa (2004), o qual se destinou à garantia da equidade na distribuição dos acervos e desenvolvimento de ações para estimular a prática leitora e ambientação propícia à leitura (bibliotecas escolares, salas de leitura e dinâmicas da sala de aula). Ressalto que o período supracitado também corresponde ao aumento substancial da publicação (via editoras brasileiras) de obras literárias infanto-juvenis afro-identificadas. Nesses temos, discuto a reconfiguração do PNBE numa perspectiva comparativista que leva em consideração em que medida esse acervo das editoras especializadas e não especializadas foi contemplado pelo PNBE. O cruzamento de tais aspectos permite discutir de que maneira o maior programa de difusão do livro no Brasil tem dialogado com o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira.

O QUE AINDA PRECISA MUDAR? DOZE ANOS DA PROMULGAÇÃO DA LEI 10.639/03 (COM) Jussara Oliveira de Souza (UNEB) No Brasil, a história da população negra foi amplamente documentada por sua condição escrava. Mas do que isso, na literatura sobre escravidão predominou uma visão que insistiu em circunscrever os negros e negros, de formas estereotipadas. Tomando consciência, de forma tardia, entendemos a importância de levar essa abordagem ao ensino de História, que, desde 1996, com a LDB e os PCNs em 1997, já sinalizavam a importância dos temas transversais, das questões étnicas e pluriculturais do nosso país e que em 2003 é tornado lei que obriga, nas instituições escolares o ensino de História e cultura Afro-brasileira. O presente artigo tem com o objetivo analisar as relações existentes entre a escola e a lei 10.639/03, de que forma essa relação interessa à indústria do livro e como ela é realimentada pelas ações do Estado. Para este trabalho foram analisados os livros didáticos de História, adotados na rede estadual de Santaluz, bem como autores que discutem as questões relacionadas com o Ensino de História, estudos da cultura negra e do continente africano.

MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO E A LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: CAMINHOS MARCADOS POR DESENCONTROS (COM) Manoela dos Santos Barbosa (UNEB) Pretende-se analisar a trajetória e as obras da escritora Conceição Evaristo para observar de que forma a intelectualidade negra tem se organizado e quais as estratégias utilizadas por ela para formar uma identidade negra combativa e reivindicatória de direitos em uma sociedade dominada pela ideia hegemônica da democracia racial. Buscaremos, ainda, perceber de que forma Conceição Evaristo estabelece uma rede de relações para viabilizar suas publicações, com o objetivo de compreender alguns aspectos do funcionamento do campo editorial de literatura afrobrasileira. A questão a ser respondida diz respeito à dinâmica de funcionamento do campo editorial da literatura afro-brasileira no Brasil, acreditando, que as discussões de tais questões podem contribuir para compreender a atuação militante de escritoras e escritores negros na contemporaneidade, suas conquistas e seus desafios em uma sociedade ainda marcada por discriminações.

GRUPO DE TRABALHO: “Intelectuais negros e a produção de conhecimento no Brasil” Coordenação: Rosemere Ferreira da Silva (UNEB) A INVENÇÃO DE SI: REFLEXÕES AUTOBIOGRÁFICAS EM LIMA BARRETO Clêuma Santos Alves (UNEB) Sendo contemporâneo de uma sociedade marcada por preconceitos nos setores políticos, econômico, social e étnico, Lima Barreto não se isentou de revelar suas impressões e vivências. A literatura produzida por este reflete como uma forma de inserção, questionamento e critica diante do painel social brasileiro da época, contexto cheio de lacunas, e opressões. Sua obra, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, contempla analise de caráter sócio-racial e autobiográfico, cuja problemática esta nas relações existentes entre vida do autor e a obra ficcional, bem como, no espaço que é reservado ao afrodescendente dentro do contexto social do romance. É apresentado o panorama das limitações enfrentadas pelo afrodescendente que lhes são impostas e pela sociedade do início do século XX, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro e mostrando ao mesmo tempo como eram tratados pobres e afrodescendentes. As questões analisadas parte da leitura dessa obra, e dos questionamentos e indagações diante das vivências da personagem principal, Isaías Caminha, e do “narrar” de suas recordações. Para embasar teoricamente este estudo, utilizo: Bosi (2002); Foucault ((1992); Legeune ( 2008); Schwarcz (2010).

INTELECTUAL NEGRA: CONTRIBUIÇÕES DE BEATRIZ NASCIMENTO PARA OS ESTUDOS DE RAÇA E GÊNERO NO BRASIL (COM) Cristiane Santos de Souza Paixão O presente trabalho tem como objetivo apresentar as contribuições intelectuais de Beatriz do Nascimento para os estudos de raça e gênero no Brasil. Tendo em vista que a intelectual tem vários artigos, decidimos delimitar o corpus privilegiando o seguinte trabalho da autora: A mulher negra no mercado de trabalho (1976). Para desenvolvimento deste estudo, dialogarei com proposta teórica de intelectuais como Carneiro (2003), Lino (2009), Souza (2005), Gonzalez (1988), Hooks (1995), Said (2005) entre outros, que problematizam sobre a temática em questão. Há uma série de discursos que foram utilizados e suficientemente sofisticados para manter os negros na condição de segmentos subordinados. Quando se pensa em intelectual o que vem à mente, de uma maioria, é a imagem de homem e branco, isso foi cristalizado no imaginário coletivo através de uma pedagogia repetitiva que excluiu o negro da possibilidade de exercer essa atividade. Quando se trata da mulher negra, percebemos exclusão ainda maior, por conta de uma dupla discriminação: gênero e raça. Historicamente, esperou-se que essa mulher estivesse na condição de “servir”, “a mãe preta”. Apesar desses discursos que estereotipa a mulher negra, percebemos que intelectual como Beatriz Nascimento propõe narrativa a partir de um ponto de vista que recusa a colonização intelectual eurocêntrica, subverte os discursos hegemônicos que há séculos construiu uma imagem da mulher negra estereotipada.

AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS POÉTICAS: UM ESTUDO COMPARADO DAS POESIAS DE LUIZ GAMA E CASTRO ALVES Joelia de Jesus Santos O trabalho em questão trata de uma investigação acerca da trajetória político, intelectual e literária de Luiz Gama e Castro Alves, poetas do século XIX, engajados na causa abolicionista. Tem-se o intuito de descobrir porque Luiz Gama não é intelectualmente conhecido, estudado, pesquisado e homenageado como Castro Alves se os dois compartilharam em suas produções poéticas de temáticas semelhantes. Um dos objetivos é problematizar o fato de Gama ser menos referenciado pelos críticos literários nas historiografias da literatura brasileira. Tendo-se em vista as possíveis hipóteses: como intelectual negro Gama tivera mais dificuldades em ser ouvido que Castro Alves, além de poeta Gama atuara como rábula extrapolando em demasia a atividade de escritor no século XIX. Para isso, será utilizada a metodologia de pesquisa qualitativa seguida da coleta de dados, através do levantamento bibliográfico e análises de poesias dos poetas em estudo.

A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO: DO PÓS-ABOLIÇÃO A CONTEMPORANEIDADE (COM) Lucas Lima de Andrade (UESB) No Brasil, os primeiros episódios sobre a Mobilização Negra, organizada em um movimento, se deram logo após um ano da abolição do trabalho escravo, com a chamada Guarda Negra (1088-1889). Formada por libertos no Vale do Paraíba, a Guarda reivindicava a responsabilidade dos proprietários de escravos em relação àqueles nascidos livres e beneficiados pela lei que previa destinar impostos para a educação dos filhos dos libertos. Mas suas lutas não se resumiam tão somente a isso. Nas primeiras décadas do pós-emancipação, outras entidades viriam fortalecer a mobilização, com a FNB (1936) e o MNU (1976) e ainda, algumas associações regionais de menor visibilidade. A partir de então, a população negra passou a enfrentar uma intensa batalha na luta por autonomia, terras, moradia, reconhecimento de direitos, melhores condições de vida e trabalho. Através disso, a presente comunicação almeja analisar a trajetória do Movimento Negro brasileiro e seus processos de resistência até a constituição do Movimento Negro contemporâneo, dando relevo às reações deste com as diversas práticas sociais com que interage, como também suas formas de combate ao racismo e aos estigmas que cercam a população negra brasileira há séculos.

UM ESPECIALISTA: DESCONSTRUINDO ESTEREÓTIPOS NA LITERATURA BARRETIANA (COM) Maria Aparecida Santos de Souza (UNEB) Maria Anória J. Oliveira (UNEB) Visa-se, através da leitura do conto barretiano Um Especialista, desconstruir estereótipos acerca do negro como personagem literário, bem como analisar como a Literatura Barretiana pode instigar questionamentos em relação à imposição da hierarquia racial, provocando reflexões das realidades humanas retratadas por personagens marginalizados, comparando, historicamente, algumas situações, numa intencionalidade de quebra da superioridade racial. Para tanto, o artigo baseia-se em estudos realizados por teóricos que abordam essa problemática, a exemplo de Alfredo Guimarães (s.d), Cuti (20010 e 2011), Leites (2012), Nascimento (2002), Telles (2005), entre outros.

INTELECTUAIS AFROBRASILEIROS: LUIZ GAMA NA LITERATURA DO SÉCULO XIX (COM) Meila Oliveira Souza Lima (UEFS) O Romantismo foi um movimento artístico e literário que surgiu no final do século XVIII na Alemanha. No Brasil, aconteceu no século XIX, e foi marcado por grandes mudanças econômicas, políticas e sociais. Durante esse período foram revelados grandes nomes da nossa literatura como Castro Alves, Álvares de Azevedo, José de Alencar, entre outros. O movimento foi marcado por três fases. É na segunda que surge o pensamento abolicionista, com poetas e romancistas citando o negro em suas obras, diferente da primeira, que tem o índio como herói nacional. Porém, o negro não foi exaltado nem sua cultura valorizada, apenas foi retratada a condição escrava. Este trabalho tem como finalidade mostrar a afirmação cultural presente na obra de um autor negro romântico, não muito conhecido e estudado em nossas escolas. Ele é Luiz Gama (1830-1882), nascido em Salvador, mas que passou a maior parte da vida em São Paulo. Gama é mais conhecido por sua luta abolicionista na capital paulista, onde morou desde os dez anos de idade. Sua única obra poética é considerada a melhor sátira da literatura brasileira. O poema escolhido neste trabalho é Uma Orquestra (1859), publicado no único livro do mesmo, Trovas Burlescas (1859). A partir do poema teceremos comentários sobre a crítica social feita por Gama. O trabalho tem caráter bibliográfico e fundamenta-se nas obras de Ferreira, Bastide, Sodré, Azevedo, além de outros.

CRUZ E SOUSA: O ABOLICIONISTA E SUAS HISTÓRIAS SIMPLES (BAN) Niure Nobre de Jesus Garcia (UNEB) O presente trabalho busca analisar de forma objetiva parte da prosa de Cruz e Sousa de teor abolicionista, a qual não é tão estudada e referenciada quanto os outros trabalhos do poeta. A pesquisa de caráter bibliográfico tem o seu corpus basicamente composto pelas “Histórias Simples”, uma série de contos publicados por Cruz e Sousa em 1887 no jornal do Partido Liberal A Regeneração, objetiva-se, portanto, o estudo do conteúdo dos textos, destacando a importância dos contos mencionados para o período dos debates sobre a abolição da escravatura e, consequentemente a identificação, através da realização da pesquisa, das questões políticas e literárias que circundam a temática das relações raciais no século XIX, mas que refletem sérias consequências no processo de formação da identidade racial do sujeito negro ainda hoje.

MILITÂNCIA E INSURGÊNCIA: ABDIAS NASCIMENTO E A POÉTICA AFROBRASILEIRA (COM) Rosemere Ferreira da Silva (UNEB) No dia 14/03/2014 comemorou-se o centenário do ativista, ator, jornalista, artista plástico, político e escritor, Abdias Nascimento. A atividade de Nascimento, como intelectual e homem das letras, extrapolou, em todos os sentidos, o tempo em que viveu sem deixar lacunas sobre reflexões profundas a respeito das inúmeras interpretações e significados das relações etnicorraciais no Brasil. O trabalho, em evidência, objetiva discutir algumas intervenções intelectuais e literárias de Abdias, sob o ponto de vista de total insurgência contra os poderes hegemônicos no Brasil. O intelectual, também poeta, valeu-se da militância na literatura, bem como de outras atividades artísticas, para questionar as hierarquias estabelecidas socialmente e, sobretudo, para ressignificar formas interpretativas de ser negro no Brasil hoje. A poesia de Nascimento, ainda pouco conhecida pelas historiografias da literatura brasileira, se constitui como um verdadeiro desafio às discussões que envolvem raça, religiosidade, identidade etnicorracial e racismo. Sem dúvida, a produção literária do intelectual marca um momento ímpar para mudanças em torno da valorização do indivíduo negro e da recusa imediata do negro como “problema”. A questão prioritária levantada na poética de Nascimento está relacionada a um modo criativo de exercício de linguagem, articulado à política cotidiana da cidadania, em que o negro é o protagonista das suas próprias subjetividades, assumindo para si, e em momentos diferenciados, uma voz autoral individual, mas prioritariamente coletiva. Abdias Nascimento, junto com outros intelectuais afro-brasileiros, inaugura uma forma de elaboração poética, de organização textual e discursiva, em consonância com os desejos e os anseios de uma parte da população que integra, majoritariamente, o desenho da geografia humana brasileira.

O OLHAR DE UMA ABORDAGEM AFROCÊNTRICA: FOCO NO FUNCIONAMENTO DA PSIQUÊ AFRICANA (BAN) Samuel da Luz Barros (FADEPE) O presente artigo propõe uma reflexão sobre a afrocentricidade, como um novo conceito de transformação do ser e discute questões a respeito do funcionamento da psique africana e o olhar de uma abordagem afrocêntrica e sua influência na saúde mental dos povos de culturas de matrizes africanas. O artigo irá propor uma transformação neste atual contexto, mostrando a concepção de uma sociedade afrocentrada sobre a pessoa, sujeito do seu próprio conhecimento, decidindo a sua autodireção, sob a ótica da cultura Yorubá.

GRUPO DE TRABALHO: “Internacionalização e interculturalidade: mobilidade, trabalho docente e religiosidade na contemporaneidade” Coordenação: Eduardo Santos (Universidade de Coimbra), Sandra Célia Coelho G. da Silva (UNEB) e Jardelina Bispo do Nascimento (UNEB) DIÁSPORA AFRICANA NO CEARA: UM ESTUDO SOBRE A TRAJETÓRIA DE ESTUDANTES AFRICANOS EM UNIVERSIDADES DO CEARÁ (BAN) Antonio Gislailson Delfino da Silva (UNILAB) O presente artigo está divido em duas partes. A primeira pretende analisar algumas pesquisas que problematizaram a trajetória de estudantes africanos oriundos dos países que tem o português como língua oficial. Dentre deles, abordaremos os casos de estudantes Guineenses do Programa Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) na cidade de Fortaleza/CE, objetivando compreender as formas de adaptações desses estudantes e a sua convivência no cotidiano cearense. Na segunda parte, proporemos uma abordagem teórica sobre a migração dos estudantes africanos para o Brasil, seu modo de adaptação na realidade brasileira e a perspectiva de retorno ao seu país de origem.

PIBID: POSSIBILIDADES DE COMPLEMENTAÇÃO CURRICULAR E FERRAMENTA PEDAGÓGICA (BAN) Jonathan Oliveira Mercêz O presente trabalho tem o objetivo de pensar o PIBID enquanto um complemento curricular tanto acadêmico quanto escolar e relatar as principais ações que foram desenvolvidas pelos bolsistas nos colégios onde o subprojeto esta sendo aplicado, ações essas que foram desenvolvidas durante as suas experiências nas observações em sala de aula, fazendo um nexo com a bagagem teórica do próprio curso de licenciatura em História que também serviram para que essas ações pudessem surgir.

GRUPO DE TRABALHO: “Linguagens, vestuário e ancestralidade” Coordenação: Lúcia Leiro (UNEB) TRADIÇÃO, CULTURA E ANCESTRALIDADE: ESTÉTICA, ENTALHE E ARTE EM ROUPAS E APARAMENTAS DE ORIXÁS (COM) Cecilia C. Moreira Soares (UNEB) O objetivo é propor uma reflexão histórico e antropológica do estilo, composição estética e arte reproduzida em aparamentas para representação dos Orixás. Estes aspectos refletem as apropriações e reelaborações culturais na representação das divindades reproduzidas nas insígnias, riscos e adereços estéticos, expressando a linguagem mítica e mágica. Pretende, também, dar visibilidade a importância do trabalho das costureiras, bordadeiras, artesãs e ferreiros que devotam suas habilidades para atender a um público específico.

GRUPO DE TRABALHO: “Literatura africanas pós-coloniais: estudo das dinâmicas do imaginário e de memória como instrumento de redescrição identitária” Coordenação: Kleysson Assis (UFRB) e Jean-Paul D’Antony (UFRB) O REAL E A FANTASIA NA ASSUNÇÃO DA IDENTIDADE QUILOMBOLA (COM) Arleide Farias de Santana (UNEB) Este trabalho é uma analise da caracterização cultural nos eventos da festa realizada na região do Buri no município de Pedrão-Ba, pelo reconhecimento junto à fundação Cultural Palmares, a partir de uma assunção prévia da identidade quilombola. Durante as festividades algumas cenas merecem destaque: a presença do bumba-meu-boi, folguedo que se desenrolava completamente fora de um contexto dramatizado como ocorre em outras regiões do país e também na sede do município, sendo na comunidade uma brincadeira nova. Além dessa cena, outra se destacou: um rapaz negro algemado sob o sol quente, durante quase toda a festividade, até o momento que o libertaram em um espetáculo, representando o fim da escravidão. Outra cena referente à religiosidade destacou-se por si só ao ocorrer uma manifestação do primeiro líder, o qual contribuiu para o inicio da luta pelo reconhecimento quilombola. Estas cenas demonstram que a assunção da identidade quilombola se reveste de uma lira imaginativa que recria um espaço romantizado a serviço das necessidades presentes de quem as evoca. No limite entre o que se tem/é e o que “deseja” conseguir/ser “inventa-se” a figura arquetípica do quilombola, o guerreiro negro que resistiu tenazmente à escravidão consciente de sua humanidade, de sua negritude e do seu direito à cidadania. Nesse sentido, este artigo vem fazer uma comparação entre o real e a fantasia que ocorre em muitas comunidades como forma de qualificálas como quilombolas.

DIÁLOGOS LITERÁRIOS: A PENA É UMA ARMA (BAN) Cláudia Cristina de Oliveira (UNINOVE) A literatura tem um poder transformador. Poemas há que podem encantar e levar à fruição, assim como podem contribuir para a formação do sujeito e o exercício de construção da identidade. A análise proposta neste artigo contempla poemas de autores de Angola e Moçambique, dos poetas Arlindo Barbeitos, Antero Abreu, Ruy Duarte de Carvalho, Mutimati Barnabé, Reinaldo Ferreira e Armando Guebuza, cuja literatura africana é a de expressão portuguesa, abordando os temas da identidade e da pertença nacional – inclusive contemplando o problema de distopia. Pretende-se, com esse exercício, um exemplo pragmático sobre o que a literatura pode propiciar, amparada pela Lei n.º 10.639, de 2003, que determina o ensino de História e cultura afro-brasileira, História da África e dos Africanos. O apoio teórico para aliar a literatura à educação apoia-se na abordagem das obras de Abdala Júnior e Freire em direção à educação libertadora, cujo fim único está na busca de emancipação, de tomada de consciência de si mesmo.

A REINVENÇÃO DAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA: O HIBRIDISMO CULTURAL-RELIGIOSO NO BRASIL (COM) Felipe Rodrigues Bomfim (UNEB) As discussões e análises apresentadas nesse artigo trazem à tona questões referentes às religiões de matriz africana e seus desdobramentos étnico-culturais. Nosso objetivo principal é compreender de que maneira essas manifestações religiosas contribuem para a formação da identidade brasileira e como a influência africana concorreu para este processo. Desta forma, analisaremos quais são os limites e possibilidades de uma religião genuinamente brasileira, ainda que com raízes africanas. O estudo foi desenvolvido com sustentação teórico-metodológica na abordagem qualitativa, tendo como dispositivo de coleta de dados a pesquisa bibliográfica. O referencial teórico foi produzido à luz de estudiosos renomados na temática em questão, como Appyah (1997), Hall (2003), Freire (1977); Fernandes (1983); Iani (1994) e Albuquerque & Fraga (2006), dentre outros.

LITERATURAS AFRICANAS PÓS-COLONIAIS: ESTUDO DAS DINÂMICAS DO IMAGINÁRIO E DA MEMÓRIA COMO INSTRUMENTO DE REESCRITA IDENTITÁRIA (COM) Jean Paul d’Antony Costa Silva (UFRB) Kleyson Rosário Assis (UFRB) Este trabalho consiste em apresentar algumas questões emblemáticas e problematizadoras no tocante à identidade no filme O último voo do flamingo, do diretor moçambicano João Ribeiro, baseado no romance homônimo O último voo do flamingo, do autor moçambicano Mia Couto. Aquilo a que chamamos identidade está em constante enfrentamento do poder instaurado pela história daqueles que remontam seu acontecimento a favor da sua ordem da verdade, portanto nos debruçaremos na reformulação do jogo de poder, da memória e do sujeito pós-colonial que, conforme Mia Couto “a palavra esconde uma briga em volta da definição do sujeito: quem descoloniza quem? Os africanos resolveram o assunto cirurgicamente: expulsaram a palavra do vocabulário” (COUTO, 2005, p.52).

PERFUMES IDENTITÁRIOS E AS SOMBRAS DA MEMÓRIA EM UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA, DE MIA COUTO (BAN) Manuela Solange Santos de Jesus (UFRB) As profundas mudanças sociais verificadas tanto nos países colonizados como nos antigos impérios coloniais podem ser entendidas nas obras pertencentes às literaturas pós-coloniais. Mia Couto, em suas narrativas, problematiza a indefinição enfrentada pelo povo moçambicano face à tantas problemáticas sociais, individuais e discursivas. Ao observar a obra Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto, em que o estudante universitário Marianinho volta à ilha de Luar-do-Chão depois de anos de ausência, pois fora incumbido de comandar as cerimônias fúnebres do avô Dito Mariano, trabalhamos com a narração de si mesmo como alimento à fome de identidades. Para isso, dialogamos com base nos pressupostos teóricos de Hall (2004), Bauman (2005). O cruzamento de várias memórias postas no percurso de Marianinho também, ao ser interligado com a discussão de identidade mostra, segundo afirma Santili (2003), como a memória acaba sendo “o melhor ponto de partida para computar registros que remetem ao nó do vínculo que todos juntou”, além de ser a expressão dos pensamentos e a consciência reflexiva de si mesmo que espelham enraizamento e desenho próprio. Sendo a existência da cultura o que possibilita o aparecimento da identidade, a memória bem como o devir do sujeito estão em constante diálogo no que tange a reconstrução da nossa essência. Palavraschave: identidade, memória, literatura.

UNGULANI BA KA KHOSA, MEMÓRIA E CATÁSTROFE (COM) Rainério dos Santos Lima (UFOP) Este trabalho é um estudo sobre o romance Entre as memórias silenciadas (2013) de Ungulani Ba Ka Khosa, e visa compreender as relações críticas entre ficção, memória e testemunho. Preocupados com as políticas sobre o passado, os textos literários desse autor têm problematizado as identidades e a memória cultural em Moçambique, principalmente aquelas que no período pós-colonial destoavam da nação imaginada pelo poder revolucionário. Na narrativa em tela, voltada para fatos passados nas primeiras décadas da independência, os sujeitos ficcionais são entendidos como inimigos do projeto nacional oficial e, por isso, são tomados como indesejáveis pelo poder soberano. Deportados para campos de reeducação na região do Niassa para serem ressocializados, os indesejáveis são submetidos a processos de subjetivação e de dessubjetivação para renascerem como o Novo Homem moçambicano, através do trabalho forçado nas machambas coletivas e pelo controle político de seus corpos e mentes. Assim, rasurando a fronteira entre discurso ficcional e escrita testemunhal, a narrativa de Ba Ka Khosa não só dá voz aos sujeitos que foram silenciados historicamente nos campos, mas, ao subjetivá-los na narrativa, também traz para o plano literário as identidades e as subjetividades que, mesmo na independência, não possuíam cidadania. As memórias daqueles que viveram a experiência concentracionária nos campos de reeducação são apropriadas no tecido narrativo para mostrar as fraturas e atrocidades do projeto de nação homogênea, assumindo o importante papel da literatura nas redefinições da memória nacional e na redenção dos sobreviventes do dispositivo prisional.

ENTRE PISTAS E CHIPOCOS: A VARANDA DO FRANGIPANI, DE MIA COUTO (A DENÚNCIA DA MORTE DE UM PASSADO) Regina Margaret Pereira (USP) O presente trabalho tece uma breve análise de alguns aspectos do romance A varanda do frangipani, do moçambicano Mia Couto, observando os personagens e suas relações com os espaços físico-culturais presentes nesse que é o segundo romance do autor. Tal análise procura mostrar a forma como o escritor reinventa o padrão do romance policial clássico, que já foi símbolo da exaltação da racionalidade europeia, e traz à luz, no campo literário, elementos como animais sagrados, rituais de iniciação e de adivinhação, espíritos de falecidos que convivem com os viventes e árvores divinizadas, entre outros aspectos da cultura tradicional moçambicana. Dessa forma, iluminam-se também questões culturais e sociais do país de onde Mia Couto fala, no qual a tentativa de esmagamento cultural foi operada por anos de dominação e guerras.

A REINVENÇÃO DAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA: O HIBRIDISMO CULTURAL-RELIGIOSO NO BRASIL (COM) Vanessa Neves Riambau Pinheiro (UFPB) As discussões e análises apresentadas nesse artigo trazem à tona questões referentes às religiões de matriz africana e seus desdobramentos étnico-culturais. Nosso objetivo principal é compreender de que maneira essas manifestações religiosas contribuem para a formação da identidade brasileira e como a influência africana concorreu para este processo. Desta forma, analisaremos quais são os limites e possibilidades de uma religião genuinamente brasileira, ainda que com raízes africanas. O estudo foi desenvolvido com sustentação teórico-metodológica na abordagem qualitativa, tendo como dispositivo de coleta de dados a pesquisa bibliográfica. O referencial teórico foi produzido à luz de estudiosos renomados na temática em questão, como Appyah (1997), Hall (2003), Freire (1977); Fernandes (1983); Iani (1994) e Albuquerque & Fraga (2006), dentre outros.

VESTÍGIOS DE MEMÓRIA E RASTROS DE APAGAMENTO EM O LIVRO DOS CAMALEÕES, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA (COM) Vanessa Neves Riambau Pinheiro (UFPB) Segundo Anderson (2009), a linguagem na literatura pós-colonial aparece como elemento fundamental para a invenção da nação. Assim, o discurso narrativo adquire um dupla finalidade: como crítica colonial e como fixação identitária, a partir da rememoração do passado recente. Projeta-se, então, a partir das narrativas, o limiar de um discurso memorialístico que aspira ser uma memória plural, representativa de uma comunidade. Obviamente, este partilhar de situações ou mesmo a ficcionalização destes se dá através da subjetividade individual, mas no momento em que esta memória é levada a público ela se projeta como coletiva e social. Dessa forma, para além da história pessoal dos personagens retratados na diegese, o contexto históricosocial se impõe, como representação desta macro-história residual que permanece como subjacente à história atual do país. A partir deste viés, analisaremos O livro dos camaleões, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, observando de que modo concorrem a memória e o esquecimento à construção identitária dos personagens na tessitura narrativa. A obra, publicada em 2015 em Portugal e ainda inédita no Brasil, é constituída por 14 contos que têm como eixo relacional a memória e/ou apagamento de seus vestígios. Para embasar nossa análise, utilizaremos os pressupostos teóricos de Anderson (2009), Hallbacks (2008), Ricoeur (2007) e Benjamin (2006), entre outros.

GRUPO DE TRABALHO: “Literatura e Diversidade: o desvelar das identidades negras e indígenas” Coordenação: NULL MACUNAÍMA: LIVRO E FILME SOB O PRISMA DA ACULTURAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL (BAN) Alana Rodrigues Teixeira (UNEB) O presente trabalho, feito sob o prisma da identidade nacional e sua aculturação, analisa as semelhanças e diferenças de olhares causadas pela obra Macunaíma: O herói sem nenhum caráter (1928), escrita por Mário de Andrade e da adaptação para o cinema através do filme homônimo, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1969). A partir dessa perspectiva, busca-se identificar o processo de aculturação do personagem protagonista, símbolo da metáfora de construção da identidade nacional. Baseado em pesquisa bibliográfica e fílmica, está fundamentado em Stam, Hutcheon, Santaella e Hall. Percebeu-se a importância da análise das obras (livro/filme) para o universo literário e entendimento de uma cultura identitária brasileira multifacetada. Macunaíma nessa vertente situa os que buscam uma compreensão sobre toda a representação do desmentido de uma cultura unívoca, sem que se defina a nação brasileira como pertencente de uma cultura miscigenada por culturas de outras nações.

AFIRMAR PELA DIFERENÇA, (RE)CONHECER PELA IGUALDADE: A ASSINATURA INDÍGENA NA LITERATURA BRASILEIRA (COM) Ana Claudia Pacheco de Andrade (UNEB) O artigo propõe uma discussão acerca da literatura dos povos indígenas e seu reconhecimento como sujeitos da diversidade cultural, implicando aí a valorização da diferença e do Outro. Neste sentido, o objetivo reside em destacar como escritores indígenas utilizam suas narrativas para manifestarem uma cosmovisão de mundo no bojo da construção de suas identidades/alteridades. Busca ainda enfatizar a importância da Lei nº 11.645/2008 que determina a inclusão da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo escolar das instituições públicas brasileiras. No entanto, tal medida não foi capaz de reverter a condição de desconhecimento da literatura indígena no país, visto que o ambiente escolar ainda enaltece um conjunto de conhecimentos literários de acordo com os cânones da perspectiva ocidental. Em decorrência dessa suposta resistência, as narrativas indígenas terminam por encontrar dificuldades desde a sua adoção até a sua compreensão, pelo fato de suas características não fazerem parte da ideia tradicional de literatura, especialmente porque carrega marcas da oralidade, somado a um pensamento circular. Isso repercute na valorização do Outro, reconhecendo-o como Sujeito, e no reconhecimento de novas visões estéticas referentes à produção das narrativas indígenas. Neste caso, (re)conhecer a literatura indígena significa entrar em contato com esse Outro que foi silenciado por longos períodos na história da literatura brasileira, porém sempre provocou e ainda provoca a possibilidade de pensarmos nossa relação com o mundo e problematizar nossa identidade.

RESISTÊNCIA E FÉ PARA SOMAR EM HISTÓRIAS DE NEGRO DE UBIRATAN ARAÚJO (COM) Ana Cristina da Silva Pereira (UNEB) O presente trabalho apresenta uma análise sobre a construção identitária de alguns personagens do livro Histórias de Negro, do escritor Ubiratan Araújo e parte do pressuposto de que esta obra se constitui como reflexo de uma subjetividade distinta ao modelo eurocêntrico e hegemônico presente na literatura brasileira. Este estudo busca demonstrar que através de uma construção estilística própria, o autor reelabora a história dos negros de modo afirmativo, em consonância com a lei 10.639/03. Considerando a necessidade de aplicação desta Lei no que versa sobre a obrigatoriedade de abordagem da cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental ao ensino médio, deparamonos com a necessidade de se reconhecer a importância de conhecer, ler, adotar e selecionar obras literárias que desenvolvam bem esse intento, num compromisso com uma reparação social capaz de reelaborar a identidade negra, silenciada e oprimida e que, em última instância, estabeleça outro paradigma, afirmativo e positivado. A investigação aponta o papel da religiosidade num sentido de aglutinação, concentração e elaboração de formas de resistência, capazes de dar condições de trânsito na intrincada e complexa relação escravista a que estavam submetidos os personagens, apresentando a fé no candomblé como fonte de autoestima, fortalecimento identitário e estreitamento dos laços de irmandade a forjar a ação dos personagens.

CADERNOS NEGROS: EXPERIÊNCIA DE LEITURA COM A LITERATURA AFROBRASILEIRA EM SALA DE AULA (COM) Cláudia dos Santos Gomes (UNEB) O presente projeto surgiu da necessidade de inserir no espaço escolar uma literatura que apresenta autores afro-brasileiros e que representa a maioria dos educandos cujas vozes são, muitas vezes, silenciadas por conta de aspectos sociais, políticos, ideológicos e culturais. A ausência de um trabalho de leitura com a Literatura AfroBrasileira, contrariando a Lei 10.639/03, que obriga as Instituições Escolares a inserem em seus currículos a História e Cultura Afro-Brasileira, em salas de aula do Ensino Fundamental II torna distante o reconhecimento de produções de escritores negros que retratam aspectos inerentes à vida do negro. Assim, a Literatura AfroBrasileira será apresentada aos educandos através do gênero conto. A introdução nas aulas de Língua Portuguesa de discussão sobre negritude ancorada na Literatura cujas vozes são de autores afro-brasileiros, a compreensão de elementos textuais (narrador, ponto de vista do negro, tema do negro, enredo, personagens, tempo, espaço, clímax e desfecho) presentes nos contos afro-brasileiros, o conhecimento de alguns autores afro-brasileiros e suas produções, o estímulo à leitura de alguns contos nos Cadernos Negros e a discussão da temática Literatura Afro-Brasileira através de uma página criada pela pesquisadora no facebook, cuja finalidade, também, seja a divulgação da literatura afro-brasileira, são os objetivos que permeiam o projeto. A proposição será desenvolvida a partir da pesquisa qualitativa e participativa dos sujeitos envolvidos através da leitura em sala de aula dos contos afro-brasileiros cujos temas possibilitam maior aproximação entre os leitores e as histórias narradas, pois são contos que abordam questões sobre moradia, infância, abandono, preconceito, aspectos culturais, gravidez na adolescência dentre outros temas muito comuns na realidade atual. Espera-se com a aplicação da proposição tornar o contato e a leitura da Literatura Afro-Brasileira nas aulas de Língua Portuguesa possíveis através dos contos apresentados nas salas de aula do Ensino Fundamental II, a fim de formar leitores multiplicadores, mais conscientes e críticos diante da realidade em que estão inseridos, valorizando sua cultura, sua ancestralidade e elevando sua autoestima num ambiente favorável à discussão em torno da temática afro-brasileira e sua contribuição para a forma de identidade nacional. Também espera-se estreitar a relação leitorconto-reflexão como uma proposta oportuna para discussão sobre as histórias presentes nos contos lidos.

O DESVELAR DA IDENTIDADE NEGRA EM ULALAPI, DO MOÇAMBICANO UNGULANI BA KA KHOSA (COM) Denise Rocha O objetivo do estudo é apresentar, conforme o romance Ualalapi, de Ungulani Ba Ka Khosa, as distintas facetas da identidade negra, imersa na perversa engrenagem colonial portuguesa no final do século XIX, durante o reinado de Ngungunhane (c. 1850-1906), o último rei de Gaza, que foi capturado, aprisionado, levado para Lisboa e exilado na Ilha terceira dos Açores. Publicado em 1987, o romance do consagrado escritor moçambicano, que se baseia na tradição da oralidade, revela as articulações ideológicas da política de expansão lusa nas terras localizadas no sul do continente africano, ao longo do oceano Índico, que era motivo de disputa da Inglaterra e Portugal.

(RE)ESCRITAS INDÍGENAS: A EXPERIÊNCIA LITERÁRIA NAS CULTURAS INDÍGENAS BRASILEIRAS COMO EMPODERAMENTO POLÍTICO E CULTURAL (COM) Francis Mary Soares Correia da Rosa (UNEB) Trata-se de uma investigação sobre as formas de deslocamento de valores (linguístico, estético, político) impostos à literatura indígena no Brasil, a partir da obra do autor guarani Olívio Jekupé. O tema central circundará a análise da obra de Olívio Jekupé: O Saci Verdadeiro, experienciada como mecanismo de deslocamento e contradiscurso literário aos modelos canônicos consagrados. Objetiva-se pensar como na obra analisada, tal literatura se pronuncia como uma ruptura em meio ao cenário das representações dos indígenas nos textos indianistas, assim como uma proposta de deslocamento conceitual que permite propor, baseando-se na teoria do perspectivismo ameríndio, uma teoria literária nativa. Busca-se apresentar hipóteses para a compreensão do processo de desenvolvimento da tradição escrita nestas culturas de tradição oral e como a literatura indígena contemporânea pode se pronunciar com um espaço de enfrentamento aos discursos consagrados e unilaterais sobre a alteridade ameríndia. Espera-se contribuir para um conjunto de reflexões críticas sobre o uso político e afirmativo com que estas literaturas se apresentam, assim como a configuração de uma identidade literária marcada pelo transcultural e pela luta do reconhecimento de direitos, valorização das culturas e cosmogonias indígenas.

LITERATURA E DIVERSIDADE: O DESVELAR DAS IDENTIDADES NEGRAS E INDÍGENAS (COM) Izanete Marques Souza (IFBA) Neste trabalho, analisamos a presença da diversidade étnico-racial, cultural e linguística em obras literárias escritas em língua portuguesa enquanto estratégia de desvelamento das identidades dos povos negros e indígenas na produção africana e brasileira. Também estudamos as articulações ideológicas libertárias e discriminatórias presentes nas obras literárias em análise enquanto processo antagônico de denúncia dos problemas sociais, especialmente nos contos de Mia Couto, publicados no livro Vozes anoitecidas, nas ilustrações do Jornal Foia dos Rocêro, dentre outros escritos, numa perspectiva multicultural.

REPRESENTAÇÕES DO GRIÔ NA LITERATURA AFRICANA EM LINGUA FRANCESA (COM) Jacilene Felix de Moura (UNEB) No imaginário brasileiro o griô é o elemento principal para assegurar a transmissão do conhecimento das culturas que não possuem linguagem escrita. à mediada em que novas narrativas se apropriam destes personagens, sua representação adquire novas formas. No caso da literatura africana de lingua francesa, podemos destacar duas obras que representam a figura do griô. A primeira, Amkoulle, l'enfant peul de Amadou Hampâté Bâ que se insere na tradição, representando um griô transmissor dos conhecimentos e da cultura africana, mais precisamente dos peuls. A segunda, Le soleil des independance de Amadou Kourama, vem romper com essa imagem idealizada do griô, mostrando a decadência do griô apos a independência. O griô é com efeito o elemento que estabelece o contato entre o colonizador e o colonizado. Como possui o dom de manipular as palavras, as ajusta tanto de um lado como para o outro, ja que é o único a dominar os dois sistemas. Amadou Kourama rompe com a idealização da Africa pelos que acreditavam que os africanos pudessem reencontrar sua cultura com a saidas dos europeus. A decandência dos griôs é inherente à decadência da civilização africana que se encontra numa grande crise identitaria: por um lado ela perde a vantagens econômicas propocionadas pelo colonizador; e por outro, ela se encontra desprovida de sua historias. enquanto aquele apresenta um griô ancorado na ancestralidade da sua missão, esse, investe em um griô moderno sem vinculo com o passado. Vivendo pela sobrevivência, esquecendo seu passado.

A MORAL DA DIFERENÇA EM O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ (COM) Jorge Augusto de Jesus Silva (UFBA) O presente trabalho busca discutir o tema da diversidade e da diferença presente na obra, "O gato malhado e a andorinha Sinhá", de Jorge Amado. Nosso intuito é mostrar como, por meio da fábula, Amado retoma um tema caro a sua escrita que é uma politização da diferença, para tanto discutiremos como o enredo traçado na narrativa, põe em questão a relação natureza x cultura, problematizando e questionando as proibições e convenções socioculturais, além de sinalizar, brevemente, como Jorge Amado se inscreve no modernismo brasileiro a partir de um lugar de rasura.

MEMÓRIAS CONTRAPOSTAS: A VISÃO SOBRE O ÍNDIO NA LITERATURA DE JORNAIS EM VITÓRIA DA CONQUISTA DURANTE O SÉCULO XX (COM) Renata Ferreira de Oliveira (IFMG) A literatura que versa sobre os povos indígenas brasileiros se confunde com a história da formação da identidade brasileira. Do heroísmo romântico ao heroísmo desconstruído pelos modernistas, a história dos índios no Brasil é a história de cada um de nós brasileiros. Não diferente do cenário nacional, a representação do indígena do Planalto da Conquista na literatura, é marcada por impressões que serviam para justificar o suposto desaparecimento das etnias nativas durante o processo de colonização. Partindo desse pressuposto, essa comunicação objetiva-se a discutir as diversas narrativas sobre os indígenas do Planalto da Conquista, a partir da literatura local tendo como marco as crônicas e poemas publicados nos jornais de Vitória da Conquista durante o século XX. Os fatos históricos acerca do processo de colonização dessa região são narrados de forma mítica nas páginas dos jornais, mas que, na verdade, ajudaram a construir um discurso hegemônico e justificador da colonização. Dessa forma, é possível perceber que a literatura dos jornais servia para edificar uma memória já difundida na cidade, a de que os índios teriam sido exterminados numa mítica batalha com a intervenção da padroeira Nossa Senhora das Vitórias, que teria lutado ao lado do colonizador contra os nativos. Com base nesses relatos, apresento dois discursos. O primeiro, versa sobre esse extermínio e o segundo, afinado com a literatura a nível nacional, apresenta o índio como vítima da sanha dos portugueses.

A NARRATIVA DAS CONTRADIÇÕES: UMA ANÁLISE DO ROMANCE A GLORIOSA FAMÍLIA, DE PEPETELA (COM) Vilma Santos da Paz (UFBA) O presente trabalho intenta analisar as relações de poder entre dominador e dominado, senhor e escravo, existentes no romance A gloriosa família, de Pepetela. Refletir sobre essas relações é também confrontá-las e relacioná-las à sociedade brasileira, pondo em discussão as trocas culturais, relações sociais, raciais e as relações de poder, em territórios que foram submetidos à colonização e à escravidão. Para dar embasamento a este trabalho foram utilizados, como referencial teórico, os livros: O local da Cultura, de Homi Bhabha; O trato dos viventes, de Luiz Felipe de Alencastro, entre outros textos que ajudaram na construção deste breve estudo sobre os mascaramentos nas relações sociais e raciais que estão presentes tanto no romance em estudo quanto em nossa sociedade baiana e brasileira.

GRUPO DE TRABALHO: “Literatura e expressões das sexualidades” Coordenação: Raphaella Silva Pereira de Oliveira (UNEB) e Aline Nery dos Santos (UNEB)

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE O CONTO FLOR DE ESTERCO, DA AUTORA ARRIETE VILELA (BAN) Andreza Maria dos Santos Tavares O presente estudo tem como principal objeto de pesquisa, proporcionar ao leitor uma visão ampla e objetiva sobre a abordagem predominante no conto, e por intermédio dele fazer uma analise critica da temática que envolve o enredo de “Flor de Esterco”, da autora Arriete Vilela; e fazer uma reflexão sobre o abuso sexual, vividos na atualidade por adolescentes, que mesmo sendo um fator divulgado nos meios de comunicação, as vitimas preferem omitir o abuso sofrido, que na maioria das vezes são pelos próprios familiares ou pessoas de seu convívio, e suprime a verdade até de si mesmas para esquecer o sofrimento e a dor proporcionada por pessoas que confiavam e amavam, e que nunca imaginará que poderiam fazer tal malignidade.

QUESTÕES DE GÊNERO: A MASCULINIDADE HEGEMÔNICA E AS MASCULINIDADES SUBORDINADAS NA OBRA MARGINAIS DE EVEL ROCHA Claudia Bernadete Veiga de Almeida A masculinidade hegemônica e as masculinidades subordinadas na obra Marginais de Evel Rocha. O romance trata de questões familiares importantes dentro do sistema patriarcal vigente em Cabo Verde. O autor enfoca estas relações a partir de situações que propõem questionamentos sobre o referido sistema. Além de situações conturbadas expostas a partir das relações entre homens e mulheres, são apresentados temas relacionados ao gênero, como o homossexualismo, por exemplo, ainda tabu na sociedade cabo- verdiana. A caracterização da masculinidade hegemônica padrão da sociedade patriarcal, heterossexual, branca, também é questionada com a presença de personagens que revelam as contradições presentes nestas relações. Perfis típicos da ilha do Sal, espaço cabo-verdiano que ressalta uma vocação turística globalizada, são apresentados juntamente com a parcela de excluídos que o narrador coloca em cena, sob a pincelada do grotesco.

ORGASMO LITERÁRIO – DO VERBO AO DESEJO: O DEUS SEXUAL E SUBSERVIVO DE HILDA HILST (BAN) Maicon Novaes Lima (UNEB) Em sua obra, Hilda Hilst apresenta a imagem de um deus carnavalizado e dicotomizado entre o sagrado e profano. Ao analisar sua poética pode-se comprovar a desconstrução e a construção que Hilst faz de um chamamento explicito do divino, e o entendimento de seus propósitos, atribuindo a este, características de retraimento, melancolia, amor e cólera como qualquer mortal. Em sua produção, Hilda demonstra seus anseios de enfurecimento com Deus, expressando ao mesmo tempo a necessidade de uma aceitação da divindade. A autora nega o divino e ao mesmo tempo aceita a sua existência, a autora o procura desesperadamente a partir de sua necessidade questionadora e de contestações a respeito da não existência de Deus no mundo. Evidencia-se no sagrado hilstiano um caos homogêneo onde o sagrado se revela num “ponto fixo”. Para tanto, a autora busca desesperadamente o sagrado a partir de sua necessidade questionadora e de reivindicações acerca da não existência do divino no mundo, onde o ser humano faz uso de um profano sarcástico e irônico paralelo ao reconhecimento da plenitude daquele que o representa. Isto enfatiza a presença do profano como elemento essencial na busca de uma razão da existência do criador, o que denota uma profunda ambiguidade presente neste paradoxo hilstiano. Para tal, utilizarei de pressupostos teóricos que busquem intermediar e conduzir o diálogo da obra da autora com o divino.

GRUPO DE TRABALHO: “Literatura, cinema e quadrinhos: construções de Bahias” Coordenação: Marinalva Lima (UNEB) e Patrícia Kátia da Costa Pina (UNEB) A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NA SALA DE AULAS: VIVÊNCIAS PIBIDIANAS NA ESCOLA NORMAL DE SERRINHA- BA (BAN) Manuela Santos Lima O presente trabalho tem por objetivo, apresentar algumas das várias possibilidades de interação existentes no ensino geográfico, destacando a linguagem cinematográfica e literatura de cordel a partir de vivências proporcionadas pelo Programa Institucional de Iniciação à Docência - PIBID, na Escola Normal de Serrinha (Ba), a partir da ação propositiva do atelier Geográfico intitulado: A linguagem cinematográfica na sala de aula: dispositivo didático-pedagógico para ensinar e aprender conceitos e temas da geografia escolar, no âmbito do subprojeto "Formação docente e Geografia Escolar: das práticas e saberes espaciais à construção do conhecimento geográfico". O já citado atelier teve como objetivo principal, traçar um paralelo entre as discussões das aulas de Geografia Agrária com a película fílmica: Sem Terra - MST 2013 (Documentário - Cesar Conventi), abordando a temática: O espaço rural e a agropecuária no Brasil, tendo como resultado final, a construção de cordéis. A interpretação dessas imagens devem permitir que os educados compreendam a organização sócio-espacial da sociedade atual, desmistificando o movimento que a grande mídia alienadora repassa para suas casas, tornando-os marginais invasores de terras alheias.

“O QUE É QUE A BAHIA TEM”: A CIDADE DA BAHIA E A CONSTRUÇÃO IMAGÉTICA DO NEGRO" (COM) Marilene Lima dos Santos (UNEB) É proposta deste estudo fazer uma análise comparativa entre o filme Os pastores da Noite (2002), dirigido por Maurício Farias e a narrativa O compadre de Ogum (1964), do escritor Jorge Amado buscando compreender o espaço urbano da Bahia, das obras em questão, enquanto representação discursiva da Baianidade. Trata-se de duas narrativas em que o negro e suas práticas culturais tornam-se o eixo central das narrativas. Assim sendo, o estudo busca entender a importância dessa literatura na construção de um novo discurso sobre o negro bem como, o potencial tanto da literatura, quanto da obra fílmica, para a desconstrução de estigmas, nos quais os negros são referenciados como subalternos e suas práticas culturais como menores, o espaço urbano da cidade da Bahia por esse viés, ganha um novo olhar, passa de uma perspectiva apenas geográfica para referencial de estudo do negro e de suas práticas culturais. Para a realização do estudo será utilizado os fundamentos teóricos da sociologia, filosofia, antropologia e a contribuição de estudiosos e críticos literários sobre a cidade, o negro e a obra de Jorge Amado.

JUBIABÁS: A NEGRA BAHIA DAS PÁGINAS À TELA (COM) Marinalva Lima dos Santos (UNEB) O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise comparativa entre o romance amadiano Jubiabá (1935), e suas adaptações homônima para o cinema, com direção de Nelson Pereira dos Santos. Partindo da noção de que quando uma narrativa é traduzida para outra linguagem artística há democratização e alcance a um público cada vez maior e compreendendo também que essas artes influenciam na construção das identidades, este trabalho terá como foco discutir aspectos relacionados a presença de personagens negros no romance e no filme Jubiabá, assim como de elementos da religiosidade afro-brasileira. Espera-se compreender como as diferentes linguagens operam na produção de sentido e como a disseminação desses influenciam nas construções identitárias negra e baiana.

GRUPO DE TRABALHO: “Literatura, Educação, Formação de Identidade e Combate ao Racismo” Coordenação: Domingos Oliveira de Sousa (Universidade do Porto) “L’ETUDIANT NOIR” A VOZ DA NEGRITUDE" Antonio Marcos de Almeida Ribeiro Vanicléia Silva Santos O Imperialismo colonial do Século XIX tinha o racismo como aparato ideológico de dominação: os brancos eram “mais aptos” que os negros, considerados inferiores. O movimento político ideológico pan-africano questionou, reinterpretou e readaptou o conceito de raça de forma positiva aos negros. Nesse contexto historiográfico discutimos uma publicação militante que redefiniu o termo negritude. O veículo de comunicação utilizado por jovens negros para expandir esse pensamento era o jornal L’Etudiant Noir ‘O Estudante Negro’. Buscando os princípios de valorização das culturas do povo afro em dimensões universais e definindo o papel do negro no mundo em qualquer circunstância. A partir daí surgiram várias concepções a respeito do termo negritude, entre uma delas a noção de pertencer à raça negra, civilização negra ou cultura negra. Que repercutiu inclusive no Brasil, sobretudo na Bahia, onde o termo negritude foi amplamente utilizado e discutido. Dentro de um contexto histórico delineado no presente trabalho a palavra negritude passou por uma ressignificação reafirmando a identidade negra de forma positiva. Seus idealistas concebiam a linguagem como principal instrumento de poder e que deveriam no mesmo terreno combater a ideologia dominante. O periódico tornou-se objeto de pesquisa onde um conjunto de metodologias (historiográficas, análise do discurso, etc.) foi aplicado para o presente trabalho. Um lugar de fermentação intelectual significativa nos estudos sobre identidade negra.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM CURRÍCULO POSSÍVEL (COM) Eliane Gonçalves da Costa (UFES) A partir da lei 10.639/05 e da alteração feita a LDB 9394/96, observamos uma maior valorização dos universos estéticos e culturais problematizados pelo campo das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Afro-brasileira. As literaturas africanas de língua portuguesa e afro-brasileira, em consonância com outras linguagens artísticas, começaram a ocupar os currículos escolares e vem fomentando novas discussões sobre à criação de novas práticas pedagógicas e, portanto, práticas sociais em diálogo com o conceito de “diversidade étnico-racial” e seus desdobramentos nos diferentes níveis de ensino e de aprendizagem. Nessa perspectiva apresentamos algumas estratégias práticas-teóricas desenvolvidas em cursos aplicados em redes de ensino comprometidas com a implementação de políticas públicas focadas no trato efetivo de uma educação para a diversidade. A construção do currículo escolar, as práticas pedagógicas e a elaboração do material didático, como aponta o documento Diretrizes Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino de História Afro-brasileira e Africana (2004) são estratégias fundamentais para que a escola seja de fato um espaço democrático e plural.

A TURMA DO PELEZINHO E JEREMIM: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E DA ALTERIDADE NO PÚBLICO LEITOR INFANTIL ATRAVÉS DA HQ DE MAURÍCIO DE SOUZA (BAN) Érika Paloma Dantas de Sousa Torres O presente artigo objetiva investigar as possíveis interferências da representação dos personagens negros nas histórias em quadrinhos de Maurício de Souza, e seus aspectos na (re)construção da identidade, alteridade do público leitor infantil, em especial a criança negra. Desde o fim dos anos de 1950, as HQs de Maurício de Sousa figuram entre as principais e mais lidas no Brasil. O cartunista destaca personagens infantis representativos de diferentes tipos da cultura nacional não havendo, personagens representativas de um segmento significativo da população brasileira, o negro ou afrodescendente. Ao longo de mais de meio século de produção quadrinhística, Maurício só produziu duas séries de HQ centralizadas em personagens negros: Jeremim na década de 1950 e Pelezinho, em 1970. O trabalho foi realizado combinando procedimentos da pesquisa documental e da pesquisa de campo. Assim, em uma escola da rede pública de Ensino Fundamental do município de Barreiras, a partir de fontes documentais, ministrou-se a oficina “Leitura de Quadrinhos”, com carga horária de nove horas-aula, voltada para um público de 10 a 13 anos de idade, constante de seis meninos (três negros, três não negros) e seis meninas (três negras, três não negras), após a qual aplicou-se uma ficha de avaliação com quesitos sobre a percepção dos oficinistas de como a criança negra é retratada nas histórias lidas e das relações dessa representação, eles mesmos e o outro.

MONTEIRO LOBATO: IDEOLOGIA, RACISMO E DISCURSO EM DUAS NARRATIVAS (BAN) Ítila Raiane da Silva (UNEB) Este artigo tem por objetivo analisar nos contos Negrinha e Jardineiro Timóteo, do escritor Monteiro Lobato, publicados no livro de contos Negrinha em 1950, como as imagens do negro são construídas. Monteiro Lobato é considerado um escritor prémodernista. É possível a partir da leitura das narrativas perceber de que forma a literatura brasileira representava o negro; como esses discursos de inferiorizarão do sujeito ganharam força na sociedade brasileira. Procuro evidenciar os reflexos e impactos dessas ideologias que historicamente foi se reproduzindo e atravessam o sujeito negro na contemporaneidade. Para tanto recorro a uma análise crítico literário e alguns elementos da analise do discurso, com o apoio dos seguintes referenciais teóricos Orlandi (2007); Hall (2006); Fernandes (2008), entre outros.

A LITERATURA COMO REPRESENTAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA EM CLASSES REGULARES DE ENSINO – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA (COM) Jeovane Soares Rodrigues Este trabalho consiste um relato de experiência do projeto I APERITIVO CULTURAL: SABORES E SABERES DA BAHIA construído juntamente com os alunos do 9º ano da Escola Municipal em Tempo Integral Professor Ayrton Viana Silva na cidade de Brumado – BA. O projeto visa valorizar a importância de inserir a Lei 10.639/2003 no processo de formação do leitor no contexto escolar destacando a valorização da identidade negra e relacionando às condições do bairro vivido, visto que este é considerado periférico. Nesse processo a culinária foi inserida como forma de representação cultural e herança dos antepassados, procurando dar sentido à palavra ancestralidade. Sabendo-se que a literatura afro-brasileira surge também como forma de resistência foram utilizadas as obras de Rita Santana, Lívia Nathalia e Celeste Bastos que serviram como base para as discussões relacionadas às heranças africanas. Para tanto, tivemos como referencial teórico Martins, Chaves, Ribeiro e Macedo.

A IDENTIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PÓSMODERNIDADE (BAN) Jônatas Nascimento de Brito (UNEB) Este artigo tem por objetivo apresentar algumas vertentes a respeito da identidade dos sujeitos. Discutiremos aqui as três concepções de identidade e como essas concepções fundamentam as identidades dos sujeitos. Propomos também discutir sobre alguns aspectos que ocasionaram a chamada crise de identidade na pósmodernidade. Para isso, tomamos como objeto desse estudo o sujeito professor de língua portuguesa e os discursos que o atravessam como válvula constituidora de sua identidade. Os argumentos e ideias apresentados aqui são fundamentados em leituras de autores como Hall e Coracini, que subsidiaram as bases para a construção desse texto. Visa-se aqui discutir as passagens pelas quais passa o sujeito professor de língua materna. Discutir a relação que os discursos estabelecem nessa chamada identidade desse sujeito professor na pós-modernidade.

A ESCOLA PÚBLICA E A CULTURA DA PAZ: CONSTRUÇÃO DE VALORES MORAIS E ÉTICOS PARA UMA COMUNIDADE CIDADÃ (COM) Josias Benevides da Silva (UNEB) O presente artigo desta pesquisa buscou compreender como a cultura de paz é trabalhada nas escolas públicas municipais de Bom Jesus da Lapa , numa perspectiva dialógica e dialética, a partir dos valores morais e éticos que permeiam as relações interpessoais, buscando ações estratégicas para minimizar a violência nas escolas. A metodologia é de natureza qualitativa, o tipo de pesquisa é de campo, como técnicas de pesquisa foram realizadas a observação, pesquisa documental e entrevistas. A temática abordada traz como palavra-chave: paz, um desejo humano, em que todos querem a paz tanto no pessoal como no social, a mesma almejada universalmente, mas para que ela ocorra é preciso que haja iniciativas da sociedade como um todo e inclusive da comunidade escolar. Esta deverá andar de mãos dadas com a família, pois ambas tem influências sobre o indivíduo, para que possa assim construir uma cultura da paz com valores morais e éticos. Elas são responsáveis por esses valores, nos seus diferentes aspectos, exercidos no processo ensino-aprendizagem. Assim, este trabalho está organizado em quatro eixos: introdução, metodologia, contexto da pesquisa e análise dos dados. A pesquisa aponta para um resultado em que a escola, a gestão escolar, e gestão de sala de aula, bem como a família têm grande influência para que seja introduzida uma cultura de paz na construção de valores morais e éticos. Nesta perspectiva estabelece-se uma comunidade cidadã no cotidiano das escolas, promotoras de convívio social respeitoso e valorativo da condição e emoções humanas.

QUILOMBOS LITERÁRIOS: FRONTEIRAS NEGRAS DE RESISTÊNCIAS (COM) Maria Gabriela Batista Neiva de Menezes (UNEB) Osmar Moreira dos Santos (UNEB) A pesquisa adota a poética negra brasileira como instrumento (contra)discursivo, capaz de oferecer uma ampla compreensão acerca das representações identitárias positivamente afirmada do ser negro na cultura brasileira. Assim, o trabalho parte do princípio de que tais obras possam contribuir tanto para combater o racismo, como potencializar um modelo de representação e auto-representação consciente. Desse modo, através de oficinas literárias, conduzida pela poética dos Cadernos Negros, analisar-se-á a recepção de estudantes do Ensino Médio, pertencentes à comunidade quilombola de Lagoinha, situada no município de São Gabriel-BA. Além disso, esperase perceber como esses jovens desenvolvem e constroem suas subjetividades e modos de vida a partir dessas oficinas político-pedagógicas, as quais buscam fortalecer a identidade negra.

DIÁLOGOS ALÉM MAR: JORGE AMADO E LUANDINO VIEIRA Lilian Barbosa Os escritores Jorge Amado e José Luandino Vieira possuem, em comum, além de uma escrita que promove a visualização da realidade social de sua cultura e região, uma estreita relação de escrita, sendo o segundo apreciador do primeiro e tendo-o como uma espécie de protótipo. Entretanto, o conceito prototípico aqui não quer significar cópia ou imitação, mas antes um estilo de escrita que vincula os dois escritores dentro de um modelo produtor literário que visa ao esclarecimento e, ao mesmo tempo, ao deleite do leitor; um realismo formal proporcionador de um espaço de resistência via escritura. Dentro desta perspectiva, nosso intuito será o de aproximar os dois escritores em questão demonstrando como que a escrita de Amado e Luandino, respectivamente em Capitães de Areia e A Cidade e a Infância, dialogam e convergem entre si. O recorte analítico será feito entre o último conto do livro do escritor angolano e algumas passagens do romance do escritor brasileiro para demonstrar como, à luz da literatura comparada, o texto angolano nasce da leitura do brasileiro. Tendo como escopo a questão do dialogismo bakhtiniano, proporemos a filiação temática, engajada e literária dos dois escritores em questão e demonstraremos, por meio de nossas análises em que medida tais semelhanças (e as possíveis divergências) servem para a compreensão do todo do livro tanto de Jorge Amado quanto de Luandino Vieira.

PROCESSOS ESTILÍSTICOS E CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM JORGE AMADO: O CASO A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D’ÁGUA Nefatalin Gonçalves Neto O escritor baiano Jorge Amado possui uma vastíssima obra, divulgadora da cultura brasileira e composta em uma escrita bem peculiar, na qual a visualização da realidade social é uma constante enquanto elemento literário. Seus romances, traduzidos pelo mundo inteiro e com adaptações fílmicas, novelísticas ou para séries televisivas refletem a popularidade da escrita amadiana e sua forte característica ideológica, que erige a bandeira socialista e denuncia os desmandos do capitalismo. Entretanto, dentro deste seu complexo rol de romances e novelas, em que o social parece emergir enquanto elemento precípuo da narrativa há um pequeno texto em que a questão política parece ceder lugar a uma espécie de brincadeira literária de alta classe, sendo o espaço do bar e da aldrabice o locus de observação do narrador. A morte e a morte de Quincas berro d’água, novela que ganhou uma adaptação fílmica representa um espaço de diferença na obra de Jorge Amado, que merece ser levado em conta e analisado com o mesmo rigor que seus romances politizados. Dentro desta proposta de voltarmos nosso olhar para esta novela menos valorada do escritor baiano e, partindo dos estudos de Bakhtin que avaliam os processos de construção do romance, nossa proposta é a de resgatar esta obra para o harém dos escritos qualitativos de Jorge Amado por meio da análise de seu viés carnavalizado. Nosso intuito será o de demonstrar sua qualidade literária, revelando a performance estilística da narrativa e um jogo de alta qualidade em relação ao foco narrativo.

GRUPO DE TRABALHO: “Múltiplos olhares do contemporâneo: fricções entre literatura e outra artes” Coordenação: Nerivaldo Alves Araújo (UNEB), Andréa Betânia da Silva, João Evangelista do Nascimento Neto NOTAS SOBRE NOMADISMO E MEMÓRIA: A CANTORIA DE IMPROVISO E SUA MOVÊNCIA (COM) Andréa Betânia da Silva (UNEB) O presente trabalho apresenta reflexões em torno da cantoria de improviso, prática cultural brasileira inserida no rol das poéticas orais e também conhecida como repente. De constituição híbrida, pode ser definida como uma criação lítero-musical que se dá a partir de uma performance resultante do vínculo estabelecido entre os cantadores e seu público de modo a torná-los cúmplices, na medida em que a criação dos versos improvisados é retroalimentada pela parceria criada entre os que cantam e os que escutam. Nesse sentido, o elo que os aproxima é fortalecido por lembranças que circulam entre a memória individual e a memória coletiva, tendo a voz como vetor para a consolidação e a manutenção de saberes cunhados por sujeitos que se valem da poesia e da oralidade para expor seus modos de se pôr no mundo. Forjada na tradição, a cantoria se reinventa de modo a manter-se inserida nas novas demandas socioculturais que exigem um contínuo e profícuo diálogo entre as produções culturais e as alterações que se dão no contexto cultural circundante. Assim, atendem aos apelos que apontam o espetáculo como meio mais eficaz para alcançar novos públicos, recorrendo à mídia e às novas tecnologias a fim de permanecerem em frequente movência. Os pressupostos teóricos apresentados desenvolvem-se a partir de discussões propostas por Zumthor (2010, 2005, 2000), Hobsbawn (1984), Canclini (2006), Debord (2007) e Halbwachs (1997), dentre outros.

VOZ E AUTO REPRESENTAÇÃO MBYA-GUARANI: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO MOKOI TEKOÁ PETEI JEGUATÁ: DUAS ALDEIAS, UMA CAMINHADA (COM) Francisco Gabriel de Almeida Rego (UNEB) Priscila Cardoso de Oliveira Silva Este artigo pretende analisar a voz, enquanto objeto de experiência, e a autorepresentação, como elemento de legitimação de uma alteridade indígena. Para tanto, utilizaremos como corpus o documentário Mokoi Tekoá Petei Jeguatá: Duas aldeias, uma caminhada. O texto é dividido em 3 momentos: 1) breves considerações acerca do conceito de voz, em que enfocaremos a voz guarani 2) A dimensão oral da representação indígena: o caso do cinema, em que analisaremos de que forma o indígena se auto representa a partir do documentário 3) Do diálogo campo/antecampo no documentário, em que procuraremos tecer algumas conclusões acerca da voz Mbya-guarani.

MÚSICA COMO MANIFESTAÇÃO SOCIAL: DISCURSO ANTIRRACISTA (BAN) Iasmim Santos Ferreira (UFS) Este trabalho foi fundamentado a partir da análise da letra da canção Racismo é Burrice, do músico e compositor Gabriel Contino, artisticamente conhecido como Gabriel, o Pensador. Procurou-se identificar quais os discursos que se fazem presentes, suas posições ideológicas e quais são as expressões que retomam outros discursos e dialogam com a principal temática abordada. Embasou-se nos conceitos apontados pela análise do discurso de linha francesa com os posicionamentos de Althusser (1995), Marx e Engels (1995) acerca da ideologia; e pela abordagem de Foucault (1996). Posto isso, identificou-se a ideologia antirracista através do discurso, e a importância da música como manifestação social. Os resultados alcançados demonstram que a problemática racista persiste apesar dos avanços histórico-sociais.

DE SÃO SARUÊ AO HOMEM QUE DESAFIOU O DIABO: CENAS DA CULTURA NORDESTINA (COM) João Evangelista do Nascimento Neto (UNEB) Neste trabalho, discute-se a construção da cultura nordestina a partir do cordel "Viagem a São Saruê" e sua adaptação para o cinema "O homem que desafiou o Diabo". Desse modo, visibilizam-se os diálogos entre a literatura e o cinema na idealização do Nordeste enquanto espaço mítico-real, ou seja, na elaboração da ideia de espaço e a vivência por parte dos habitantes do local. Com o apoio de teóricos que analisam o Nordeste e seu imaginário, aliado a estudiosos acerca da cultura popular e do cinema, nesta pesquisa, o humor é o instrumento básico para a (re)criação dessa região, resultado da intersecção étnica que gera a multiplicidade de discursos.

VOU LÁ VISITAR PASTORES: ESPAÇO E NARRATIVA EM RUY DUARTE DE CARVALHO (COM) Laura Regina dos Santos Dela Valle (UFRGS) Este trabalho propõe observar, principalmente na análise da obra Vou lá visitar pastores (2000), a relação do autor angolano Ruy Duarte de Carvalho com o espaço vivido – resultado de seu ofício como antropólogo junto do povo Kuvale, do Sul de Angola. A leitura dessa obra permitiu-me observar que, para o autor, o espaço transcende os limites da realidade física, visto que também é o lugar da criação e da ficção. Para o outro esse espaço vivido representa a extensão da própria vida, já que essa relação de pertencimento estabelece um acordo coletivo entre esses sujeitos e o lugar. Ruy Duarte empenhou grande parte de sua vida ao estudo dessas relações, propondo-se a ir ao deserto do Namibe viver com eles, para, assim, poder “dizer” sobre eles. Para a realização de tal análise faz-se necessário o diálogo entre a Literatura e a Antropologia, pois a obra transita entre esses campos do saber. Sendo assim, alguns teóricos como Bachelard, Mata, Padilha e Chaves, além do próprio Ruy Duarte de Carvalho, serão necessários para que a compreensão da análise da obra ocorra de modo mais amplo.

TRADIÇÃO ENCRUZILHADA: ORALIDADE, CULTURA POPULAR E CANDOMBLÉ (COM) Leandro Alves de Araújo (UNEB) Mauren Pavão Przybylski (UNEB) Walty (2012) pontua que a narrativa fundacional, ou por excelência o mito, traz em si marcas cosmogônicas e escatológicas e, ao ser recontada e deslocada, integra uma outra história ou outras histórias, num movimento rizomático infinito, configurando a história nômade. Por outro lado, e não sem motivo, Zumthor (1993) afirma que a “predominância das comunicações vocais se restringe, então, aos meios pobres, zonas marginalizadas, hoje ligadas à cultura popular”. Assim, e entendendo a comprovada importância que a oralidade ocupa no candomblé, esta comunicação pretende enfocar como a cultura popular, a partir das manifestações das poéticas da oralidade, pode ser elemento de legitimação dos saberes e fazeres religiosos.

REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NO PROJETO MUSICAL DO DISCO BRASILEIRINHO DE MARIA BETHÂNIA (COM) Lucival Fraga dos Santos (UFBA) A identidade nacional não existe de modo objetivo, mas enquanto uma idealização representacional, portanto, por sua natureza político-cultural está em constante construção. Neste sentido, o presente estudo analisa a representação da identidade nacional no projeto musical do disco Brasileirinho (2003) de Maria Bethânia a partir das canções e textos poéticos que compõe o álbum, buscando estabelecer conexões teóricas no contexto da música popular e da literatura no século XX, mas precisamente do movimento literário modernista, observando as formas como estas se articulam para a construção do “ser brasileiro” na concepção da artista.

A REPRESENTAÇÃO DO ANTI-HERÓI NO LIVRO E FILME HOMÔNIMOS TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA (COM) Marcela Ferreira Lopes (UNEB) Este trabalho objetiva realizar um estudo comparativo entre o texto teatral "Toda nudez será castigada", de Nelson Rodrigues e o filme homônimo de Arnaldo Jabor com a intenção de analisar como a figura do anti-herói é trabalhada em ambas as produções. Para tanto, parte-se da ideia de que livro e filme dialogam não na relação binária original versus cópia, mas numa perspectiva de complementaridade e expansão dessa caracterização do anti-herói que o filme proporciona a partir dos pontos de contato e distanciamento que mantém com o livro. A escolha por fazer a análise sobre a adaptação da peça em filme a partir de um personagem específico se dá em virtude deste personagem ser, à primeira vista, trabalhado de modos distintos nessas produções. Entre o referencial teórico dispensado a essa análise, incluem-se Eagleton e Cândido.

ELEMENTOS DE BRASILIDADE NA ÓPERA MALAZARTE DE MÁRIO DE ANDRADE (COM) Maria José Lopes Pedra (UFBA) No presente trabalho pretende-se analisar o libreto Malazarte escrito por Mário de Andrade (1931) durante o período modernista, como uma das formas de romper com a estética-estilística da Europa. Assim, Mário buscou no campo temático da música e da literatura, elementos de brasilidade, por meio da cultura popular para construir a unidade e identidade nacional. O libreto Malazarte foi escrito a partir do conto de Pedro Malasartes, personagem que surge como uma reinvenção do sertanejo e caipira esperto. Ao recriar a história para o libreto, Mário acrescentou elementos folclóricos, para ligar à ideia de brasilidade construída por ele na época. Para tal discussão, os teóricos; Contier (2004), Hall (2002), Santos (1992), Pereira (2006), dentre outros serão de suma importância para fundamentar o trabalho. Assim, verificou-se que Mário, ao buscar se firmar como escritor nacionalista, partiu de elementos folclóricos, a fim de definir um tipo de literatura que se aproximasse da realidade do povo brasileiro, cujo país se caracterizava ainda como rural, se apoiando principalmente nas músicas e personagens de cunho popular.

NO RITMO DA PISADINHA, ENTRE GIROS E UMBIGADAS: POÉTICA DO CORPO E PERFORMANCE NO SAMBA DE RODA DAS MARGENS DO VELHO CHICO (COM) Nerivaldo Alves Araújo (UNEB) Nas rodas de samba do grupo É na pisada ê, formado por sambadeiras e sambadores das margens do Velho Chico, na cidade de Xique-Xique, estado da Bahia, o corpo configura-se como um instrumento que, aliado às composições poéticas, produz toda uma linguagem performática, a qual se mantém viva na própria memória corporal do sambador, pois ele (o corpo) pode ser visto, também, como espaço de memória, o qual faz emergir as tradições de um povo. A poesia e a dança se dão as mãos para caírem nas rodas de samba do grupo É na pisada ê, para, através de toda uma conjuntura performática, constituir a trama poética das margens do Velho Chico. Ao cantar e dançar, os participantes das rodas de samba reescrevem a sua poesia, deixando-a mais marcante, tornando-a mais completa no sentido de perpetuar as suas tradições. Neste estudo, traz-se um retrato da poética oral do samba de roda ribeirinho, em especial, do papel do corpo e da performance. Amparada nos incursos teóricos de Antonacci, Merleau-Ponty, Porter, Zumthor, dentre outros, tais reflexões apresentam o corpo como elemento indispensável para, através do canto, da dança e de toda uma conjuntura performática, dar vida e sentido à poesia oral.

MEDIAÇÕES ENTRE ORALIDADE E ESCRITA EM CORDÉIS DE MINELVINO FRANCISCO SILVA (COM) Orlando Freire Junior (UNEB) Este trabalho pretende investigar alguns princípios narrativos presentes nos folhetos João Acaba-mundo e a serpente negra e O Martim Tomba-serra e o gigante do deserto, do poeta baiano Minelvino Francisco Silva, com o intuito de observar procedimentos de mediação entre oralidade e escrita cuja regularidade marca o estilo do autor.

CEDDO: A TRADIÇÃO ORAL NO CINEMA (COM) Rita de Cássia Nascimento dos Santos (UNEB) O cineasta senegalês, Ousmane Sembène, lança em 1977 a narrativa fílmica Ceddo. Uma obra que trata de um conturbado momento na vida da sociedade Ceddo. O rei e a elite converteram-se ao islamismo e pretendiam que toda a população se convertesse, também. Assim, na tentativa de liberar o povo da conversão, um guerreiro desta nação sequestra a filha do rei, a princesa Dior Yacine. Nesse ambiente encontram-se ainda comerciantes de armas e de escravos e um padre. Segundo, o autor e diretor do filme, Ceddo não existiu como uma nação. Essa é uma palavra, do dialeto senegalês Pulaar, que significa aqueles que resistiram à escravidão e também, aqueles que preferem continuar a serem orientados pela tradição. O povo Ceddo seria então, “o povo da resistência”. Uma marca do trabalho de Sembène é a preocupação em retratar o povo senegalês. O cineasta pretendia que os senegaleses se vissem nas telas do cinema, do jeito que são. Em consequência dessa pretensão, os diálogos no filme são em wolof, uma das línguas faladas no Senegal. Por aquela razão ainda, percebemos no transcorrer do filme a introdução de provérbios, um importante gênero da tradição oral senegalesa. Em trabalho anterior, esse foi o objeto de nossa análise – a utilização de provérbios no transcorrer da história - e defendemos a hipótese de que a utilização desse gênero oral no filme, caracterizaria o mise en abyme ou uma narrativa em profundidade, segundo Lucien Dallenbach. Agora, pretendemos ampliar um pouco mais a pesquisa no sentido de perceber em quais momentos os provérbios são empregados na narração.

O MÚLTIPLO DA IMAGEM EM ME-XENDO NO BAÚ. VASCULHANDO O U DE FILINTO ELÍSIO (COM) Rute Maria Chaves Pires (UEMA) Esta comunicação tem por objetivo fazer um estudo sobre a construção poética multifacetada da obra do autor cabo-verdiano Filinto Elísio, tendo como corpus de investigação, o livro de poesias Me-xendo no baú. Vasculhando o U (2011), última incursão do autor (por enquanto) em busca da mais alta escala poético/visual através de uma coletânea de poemas/quadros costurados a quatro mãos, a saber, as pinturas de Luís Geraldes, que deságuam num outro diálogo, agora sonoro, no CD que o acompanha. Esse percurso trilhado por Elísio nos faculta olhares e possíveis investigações acerca da construção da sua obra, bem como inseri-lo no processo de discussão deste II CILAA Congresso internacional de línguas e literaturas africanas e afro-brasilidades.

GRUPO DE TRABALHO: “Negras-Femininas Grafias: insubordinadas E insubmissas narrativas” Coordenação: Hildalia Fernandes Cunha Cordeiro (UNEB), Júlio Cézar Barbosa (UNEB) e Carla Maria Ferreira Nogueira (UNEB) ENCONTRO DE MARIAS: VOZES DE MULHERES NEGRAS E SUAS POTENCIALIDADES (COM) Gislene Alves da Silva Sheila Rodrigues dos Santos (UNEB) O que é ser escritora ou escritor? Ainda permeia o imaginário a ideia de que a escritora, o escritor é um ser iluminado, predestinado, que nasceu com um dom divino para a escrita. Daí talvez a dificuldade de algumas mulheres se reconhecerem como tais, ou ainda falarem timidamente que escrevem. Assim, neste texto, reuniremos as vozes de mulheres negras falando de uma coletividade, ou melhor, lançaremos um olhar sobre a singularidade de três mulheres, três vozes negras que ousaram romper com o silêncio ao qual foram, e em alguma medida ainda são, conduzidas. Marcas que estas mulheres ousaram rasurar os estereótipos históricos, ao ressignificarem seus processos de (auto)formação e empoderamento. Deste modo, discorreremos sobre o encontro de Marias, três mulheres negras escritoras, Carolina Maria de Jesus, Maria da Conceição Evaristo de Brito e Margarida Maria de Souza, mulheres que resistiram as lutas, fazendo uso da palavra como instrumento.

TIARA, UM CONFLITO ITINERÁRIO: UMA MULHER DIVIDIDA ENTRE O IDEIAL DE VIDA E O AMOR (COM) Maria Dnalda Pereira da Silva Compreendendo a Literatura Africana como expressão do universo do ser africano, não apenas como uma maneira de representar ou de interpretar o mundo, mas, sobretudo, de (re)inventá-lo, voltamos nossa atenção ao romance Tiara, da escritora guineense Filomena Embaló, que aborda as relações no seio familiar, em especial da figura da mulher, de questões relacionadas à tradição e aos conflitos de gerações no contexto guineense. Objetivamos, pois, estudo explora esses conflitos, tendo como mote a protagonista da narrativa, analisando a mulher como símbolo de manutenção das tradições, mas também como aquela que estar além do seu tempo, que quebra preconceitos e estereótipos e, por conseguinte, como aspectos da tradição são rompidos através da figura da mulher, vendo Tiara como a personificação de um conflito itinerário, numa existência dividida entre o ideal de vida e o amor. Trata-se de um estudo relevante que compreende a literatura guineense, por vezes tão relegada a segundo plano, enquanto espaço de construção de sentido propício ao registro de apreciações, reflexões e mudanças sobre a sociedade, instaurando imagens que podem ser usadas como ponto de partida para sua compreensão. Para tanto, realizaremos uma pesquisa bibliográfica, tendo como aportes teóricos estudos como os de: Augel (2007), Semedo (2010), Hall (2006), Fonseca (2012), dentre outros que se fizerem necessários.

NEGRAS CANDACES DO AGRESTE BAIANO: A REPRESENTATIVIDADE DAS MULHERES NEGRAS CATIVAS NAS FAMÍLIAS ESCRAVAS NA PRIMEIRA FREGUESIA DE FEIRA DE SANTANA, SÃO JOSÉ DAS ITAPOROROCAS, SÉCULOS XVIII E XIX – 1785-1826 (COM) Yves Samara Santana de Jesus (UNEB) O presente trabalho objetiva elencar a representatividade das mulheres negras escravizadas na região de Feira de Santana. Na localidade abordada, a Freguesia de São José das Itapororocas( atual distrito de Maria Quitéria) e pouco se sabe sobre as reminiscências da população negra cativa, as experiências cotidianas, resistências, trajetórias individuais e coletivas dos egressos do sistema escravista. Dessa forma, abordo a representatividade das cativas através das informações presentes nos registros eclesiásticos que trazem dados sobre essas mulheres cativas, libertas e livres do agreste baiano e assim construir a historicidade sobre as relações sociais construídas por elas através dos batismos e casamentos de escravos. Dessa forma, analiso as relações afetivas e sexuais dos escravizados/as nesta Freguesia nos séculos XVIII e XIX (1785-1826) e compreender o que regia as escolhas afetivas e sexuais dos escravizados/as e se existia a intervenção dos senhores de escravos ou não nas preferências para os relacionamentos entre cativos e cativas. E assim sistematizo as trajetórias individuais e coletivas das relações afetivas dos cativas, destacando a historicidade das negras escravizadas baseadas nas questões de gênero e o poder no interior da Bahia, na Freguesa de São José das Itapororocas em Feira de Santana. Por fim, essa produção historiográfica visa contribuir com as discussões de gênero numa localidade que excluíu das discussões sobre escravidão e relações sociais construídas pelos cativos/as,

GRUPO DE TRABALHO: “Pensamento social negro brasileiro: por uma estética da libertação” Coordenação: Eduardo Oliveira (UFBA) CONTOS POPULARES DE MESTRE DIDI: ACERVO HISTÓRICO CULTURAL (COM) Antonio Marcos dos Santos Cajé (UFRB) Este trabalho tem como objetivo principal analisar os contos afro-brasileiros de Mestre Didi através de uma reflexão epistemológica e problematizar o vazio que os contos afro-brasileiros têm na sociedade contemporânea. Traçar uma junção histórica cultural dos contos de Mestre Didi, sendo analisado por uma episteme da tradição africana que se caracteriza no mundo por variantes da linguagem e valores constitutivos que desta forma peculiar nos abarca a compreender a cultura afro-brasileira através dos contos de Mestre Didi. Entender que os contos afro-brasileiros possuem um conhecimento carregado de saberes e fazeres cognitivos da tradição da oralidade que não podem ser perdidos ou ignorados. Para compor o suporte teórico, foram abordados autores clássicos e hodiernos em várias áreas de conhecimentos, uma vez que o objeto do estudo é lançar comunicações entre os âmbitos dos saberes históricos populares e com os saberes encontrados nos contos de Mestre Didi. O resultado que se espera, revela-se na necessidade do resgate constitutivo dos contos na cultura de uma axiologia dos costumes, hábitos e tradição do povo negro no fluxo da força e da diversidade humana. As metodologias a serem seguidas são qualitativas, análise de conteúdo, com métodos de abordagens dialética e indutivos. Portanto este trabalho busca fomentar as possibilidades existentes nos contos pelo prisma da historicidade.

RELAÇÕES RACIAIS, RACISMO E IDENTIDADE NEGRA NO CANDOMBLÉ BAIANO DE ALAGOINHAS (COM) Ari Lima (UNEB) De um modo geral, os estudos sobre religiões de orientação africana no Brasil se detêm sobre o modo como estas religiões se organizaram, destacando o maior ou menor grau de sincretismo em relação à religião católica ou o grau de preservação de valores e rituais tidos como originalmente africanos. Embora tenha sido constituída por negros, africanos ou descendentes, ao longo do tempo as religiões de orientação africana passaram também a agregar brancos ou mestiços sem que aparentemente as hierarquias e tensões geradas pelo racismo e desigualdade racial interferissem na prática religiosa. Este trabalho propõe identificar a prática religiosa do candomblé em Alagoinhas, seu público constituinte em termos de identidade racial, supostas relações raciais e o dinamismo destas relações nos espaços destas práticas religiosas.

NO BUCHÊ-BUCHÊ (COM) Gilldeci Oliveira Leite (UNEB) A presente proposta de trabalho pretende discutir e elucidar forma (s) de aprendizado e de acesso à informação no candomblé de tradição nagô-ketu, usando como exemplo cenas e fatos ligados à religiosos iniciados e à familiares de Mãe Senhora, terceira Matriarca do Ilê Axé Opô Afonjá com reinado até 1967. Mãe Senhora também foi a iniciadora de Mãe Stella de Oxóssi, atual dirigente do Afonjá, e dentre outras homenagens é eternamente lembrada na letra da música Samba da Bênção. Será discutido o quão se faz necessário o exercício e a compreensão das subjetividades para a busca do êxito na pesquisa, portanto ao aprendizado e no acesso à informação em tradições negras baianas de orixás ou de ancestrais. O total abandono dos paradigmas de distanciamento do objeto como pretensa forma de obter seriedade na pesquisa, típico de relações estabelecidas em pesquisas de cunho quantitativo será desconstruído. Também será apresentada uma tese preliminar, segunda a qual os autores afonjá divulgaram e difundiram conhecimento Afonjá através de suas obras, como forma de valorização de si mesmos, pois eles falavam de suas próprias identidades. Estes autores e autoras souberam respeitar o segredo e conviveram no grupo, respeitando as regras e todas as proibições e limites, do contrário não teriam acesso à informação, ao segredo, ao awò. A intenção principal é apresentar discussões preliminares para serem desenvolvidas durante a tese que ainda está sendo construída, à maneira nagô baiana com a fruta amadurecendo no tempo certo e com o desejo contido e ao mesmo tempo impulsionado pelas regras do axé, as vezes velozes, as vezes nem tanto, mas sempre buscando a medida do equilíbrio.

CAPOEIRA ANGOLA E RESISTÊNCIA, EPISTEMOLOGIA COSMOAFRICANA INCORPORADA AO COTIDIANO, DESCOLONIZANDO A PRÁTICA CULTURAL (COM) Ivanildes Teixeira de Sena (UNEB) Esse artigo tem como objetivo enfatizar a potencialidade da Capoeira Angola, enquanto lócus da cultura ancestral afro-brasileira, capaz de contribuir com a produção de conhecimento cientifico a partir dos elementos culturais de base filosófica e ideológica que a fundamentam, suscitando relações sociais descoloniais, interseccionadas em questões de gênero, raça, sexo e sexualidades, situamos a discussão em torno das relações de gênero inspirada em abordagens da mitologia africana para repensar a elaboração dos discursos e resignificar as práticas das relações de gênero no universo da Capoeira Angola, objetivando destrilhar a elaboração do conhecimento cientifico das rotas viciadas de abordagens. Essa reflexão resulta do Projeto de Pesquisa “No Ventre da Capoeira: Marcas de Gente, Jeito de Corpo - Um Estudo das Relações de Gênero na Cosmovisão Africana da Capoeira Angola”, realizado no Programa de Pós-graduação em Pós-Critica – Mestrado em Critica Cultura da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). A pesquisa, estruturou a elaboração textual a partir de entrevistas semiestruturadas e da presença de “mulheres de corpos encapoeirados”, as capoeiristas. A prática de apropriação de uma metodologia de pesquisa situada, se consolida na corporeidade ritualística da Roda de Capoeira Angola sistematizada textualmente, embasada na cultura cosmoafricana que fundamenta uma prática descolonial, em contraponto com a ideologia repressora da cultura ocidental que tende a hierarquizar as relações sócio culturais em corpos encapoeirados para além desse universo da capoeira.

BRANQUITUDE, BRANQUIDADE E A IDENTIDADE RACIAL BRANCA ENTRE O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO SOBRE A QUESTÃO DO NEGRO (COM) Joyce Souza Lopes (UFPEL) O conceito de raça sofreu alterações de sua concepção científica biológica, conforme um conjunto de correntes como o evolucionismo social e o darwinismo social. A obra de Gilberto Freyre por vezes é tomada como salutar, já que introduziu o conceito antropológico de cultura entre espaços erudito-acadêmicos que possuíam uma hegemonia das doutrinas racialistas do século XIX. A partir de 1950 o conceito volta à cena intelectual devido a uma série de pesquisas, financiadas pela UNESCO, com o propósito de investigações sobre as relações raciais. Inaugura-se uma nova problemática: o lugar do negro nas sociedades de classes no pós-abolição. O despertar científico acerca do branco enquanto sujeito racializável marca outra transição histórica dos estudos sobre raça na década de 90, à medida que coube ao branco o papel de objeto de pesquisa. Retira-se o negro do foco problemático em que condicionavam as análises e é proposto, também, o foco na identidade branca. Meu objetivo neste ensaio é apresentar o percurso temático da branquitude entre os estudos das relações e hierarquias raciais no Brasil, uma vez que dimensionamos a abordagem de um tema caro para o pensamento social negro: a branquitude como poder, como hegemonia racial. Quando mencionamos e nos apropriamos dos estudos sobre branquitude/branquidade trata-se da indicação de superação da ausência entre as Ciências Sociais de investigações particulares sobre a identidade branca. Este despertar contribui para desconstrução da ideia de quem tem raça é o negro, na medida em que os brancos se beneficiam do seu status humano generalizado.

MÚSICA SACRA NEGRA E OS PROCESSOS DE DIFUSÃO E POPULARIZAÇÃO NA MODERNIDADE (COM) Julice Oliveira Dias dos Santos (UNEB) Reflete sobre a utilização de TIC’s nos processos de difusão cultural, transmissão e popularização da música sacra de matriz africana na Bahia nos Séc. XX e XXI. Parte da ideia de que o conhecimento é produto de múltiplas origens e resultado da troca de experiências e de conteúdos entre o conhecimento canônico e os saberes tradicionais que nascem nos Terreiros de Candomblé e comunidades afins (quilombos e irmandades, por exemplo); aborda portanto música sacra negra ou de “matriz africana da Bahia”. No cenário da Modernidade em que as mudanças contínuas no sistema de comunicação em rede global interferem no contexto da crise de identidade de grupos sociais diversos (minorias e povos tradicionais) identificamos o quanto tem impactado nos mecanismos de transmissão e no uso das redes de informação para a realização que tem como um dos efeitos a dessacralização e de ataques à cultura negra e suas instituições. O uso positivo na difusão e popularização de tais conteúdos deve obedecer a um conjunto de proposições éticas. A difusão da música sacra de matriz africana deve preservar a não transposição entre o limiar entre a música sacra negra destinada à execução pública e (rituais secretos ou de fundamento). A popularização visa à perpetuação da tradição, compreendida como “cultura viva”; e a promoção de uma educação estética que integre a expressão da música sacra ao panteão de composições.

DO CÁRCERE À HUMANIDADE: POR UMA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL E ANTIRRACISTA NO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO (BAN) Lidiane do Espirito Santo Ferreira de Jesus (UFBA) A educação é um direito de todo cidadão, ao qual não prescreve com a idade, muito menos com a condição social, esteja ele desprendido ou privado de liberdade. Tal afirmação encontra-se no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, e, a partir dela, compreende-se que o indivíduo privado de liberdade não perde seu direito à educação. Compreendemos que ao refletirmos acerca da condição de que mulheres e homens, grande parte negros oriundos das periferias, são submetidos dentro do espaço carcerário, nos direcionamos para questões que permeiam desde a arquitetura dos presídios, quanto à marginalização e a completa desumanização desses indivíduos. Essa violenta forma de encarceramento pode ser entendida como uma das mazelas do racismo institucional brasileiro. Entendemos também que o encarceramento teria por finalidade reeducar indivíduos para que num futuro próximo estes sejam reinseridos na sociedade. No entanto, o processo de prisionalização, contribui fortemente para a reincidência ao crime. A partir dessas problemáticas, este artigo pretende demonstrar como práticas educacionais interculturais e antirracistas permitem ao indivíduo encarcerado compreender sócio e politicamente a sua posição de algoz, bem como perceber que os seus antigos crimes favorecem a reprodução de estereótipos raciais que contribuem para a manutenção de um racismo estrutural no Brasil.

O ENSINO AFRO-BRASILEIRO: O DISCURSO LEGAL E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NAS UNIVERSIDADES DE SALVADOR (BAN) Mariluse da França Dias (UFBA) Transcorrido mais de uma década da promulgação da lei Federal n° 10.639/03, que institui a obrigatoriedade do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar da educação básica, questiona-se o porquê da dissociação entre o discurso legal e a prática pedagógica. Nesse sentido, implica compreender os pontos relevantes para a consonância ou divergência do discurso no processo pedagógico, fazendo-se necessário observar a estreita relação entre a esfera do político e o cultural nos diferentes currículos e reformas curriculares nas instituições de ensino superior. De acordo com os dados do censo de 2010, a região metropolitana de Salvador é o centro da cultura afro-brasileira, com maior concentração de população negra. Assim, considera-se que, em uma cidade composta por um percentual tão grande de descendentes africanos, a implantação da Lei 10.6393/03 possibilitará o conhecimento das sociedades africanas, os processos de formação, assim como desvendar os elementos por trás das construções históricas e ideológicas dos preconceitos contra os africanos e o negro. Desse modo, teremos condições de analisar com mais coerência o lugar que os africanos e seus descendentes ocuparam no passado e ocupam no presente. Nesta perspectiva, propõe-se análise de textos legais que balizar a abordagem das práticas pedagógicas do estudo da História e Cultura Afro-brasileira no âmbito das Universidades de Salvador, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais, Lei 10639/03, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicas- Raciais, e contribuições teóricas no campo do currículo e práticas pedagógicas.

GRUPO DE TRABALHO: “Pensando sobre gênero nas artes, na mídia e outros discursos” Coordenação: Carla Patrícia Santana (UNEB), Ívia Alves (UFBA), Alvanita Almeida Santos (UFBA) AS POETAS DO RECÔNCAVO BAIANO: INSUBMISSÕES ÀS NORMAS BURGUESAS E ROMÂNTICAS (COM) Ívia Alves (UFBA) Nem sempre as mulheres foram proibidas de se expressar na literatura. Na era das conquistas marítimas (1500- alta Idade Média), as aristocratas escreviam ou então desinteressadas no casamento, ingressavam em ordens e irmandades religiosas, e ali continuavam suas instruções e escritas. No entanto com o advento da Modernidade, com o capitalismo e a burguesia predominando, novas regras sociais são implantadas, e a divisão sexual do trabalho em ambiente público e privado passou a limitá-las. Seu papel social era desempenhar o papel de esposa, mãe, além de dirigir os afazeres domésticos e orientar a criadagem. Com todas estas tarefas, a pouca instrução (no máximo primária), esta nova ordem, deixava pouco tempo para contemplar e escrever, principalmente em uma sociedade católica escravocrata como a baiana. Grande parte foi autodidata. Além disso, o próprio movimento literário, o romantismo, patrocinavam temas vivenciados como a diversificação do amor, o mar, a vastidão, as florestas e a pátria. Se as mulheres viraram Musas amadas, idolatradas e idealizadas, elas perderam a voz. Mesmo assim, Adélia Fonseca, Amélia Rodrigues, Maria Augusta Guimarães criticaram tais normas e limitações românticas que as impediam de escrever os grandes temas.

PLURALIZANDO A ARTE DE AMAR: DISCURSO SOB A LUZ DO JORNAL LAMPIÃO DE ESQUINA (BAN) Joel Bastos Alves (UNEB) O presente trabalho tem como objetivo apresentar o estudo realizado sobre as discussões de gênero e sexualidade inseridos no impresso alternativo O Lampião da Esquina (1978 – 1981), assim como sua relevância para a imprensa brasileira. O referido impresso foi pioneiro em tratar de temas destinados aos homossexuais em uma fase de cerceamento da liberdade de expressão, decorrente do regime militar de 1964. Como eixo norteador da pesquisa, realizou-se o estudo de quatro edições do jornal, em diferentes épocas, no qual foram analisados aspectos textuais, gráficos e de discurso. É preciso desconstruir o estereótipo homossexual utilizando um prisma que permita a dispersão do discurso trazendo à tona a contribuição de teóricos como Foucault e Chartier, empreendendo a compreensão sobre o status que o homossexual ocupa em dado período relacionando às relações de poder, aqui interpretadas sob um viés em que emergem características históricas, sociais, sexuais e culturais. O impresso alternativo O Lampião da Esquina, marcou significativamente a história da imprensa nacional, obtendo êxito dentro dos ideais a que se propôs. Em três anos de existência, abriu espaço para grupos sociais antes ignorados: homossexuais, mulheres, negros, travestis etc. Para a referida pesquisa foi utilizada a metodologia de análise do conteúdo, que se constitui em descrever e interpretar os documentos e textos. Primeiramente foi feita uma análise textual e temática, para em seguida obterse conclusões sobre o discurso, suas ideologias, influências e restrições sociais. Logo, é possível afirmar que o trabalho não se limita apenas a interpretar aspectos objetivos da leitura comum, mas sim, alcançar novas subjetividades.

AS MULHERES NO HIP-HOP: O CONTEXTO BAIANO (COM) Lícia Maria de Lima Barbosa (UNEB) As reflexões apresentadas no artigo integram uma pesquisa mais ampla intitulada “Eu me alimento, eu me alimento, força e fé das iabás buscando empoderamento!”: expressões de mulheres negras jovens no hip-hop baiano. A pesquisa aborda as expressões de mulheres negras jovens nos elementos que constituem o repertório cultural, estético e político do Hip-hop. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, realizada com onze mulheres negras, na faixa etária entre 18 e 32 anos, que atuam como rappers, b.girls, grafiteiras e ativistas no Hip-hop em Salvador e Lauro de Freitas/BA. A geração de dados se deu a partir da realização de entrevistas, observações sistemáticas na participação de eventos, dos produtos culturais e pesquisas em sites, blogs, relacionados ao movimento hip-hop. Neste texto defino o Hip-hop e, mostro o surgimento do movimento hip-hop na Bahia, a partir de Salvador e sua Região Metropolitana. Ao final do texto apresento como se organizaram as mulheres negras jovens no hip-hop baiano e evidencio de que forma os marcadores sociais de gênero e raça são dimensões constituintes do hip-hop baiano.

DA RESISTÊNCIA E DO GUETO: A ESCRITA POÉTICA DE MULHERES NEGRAS DO BAIRRO DE SUSSUARANA (COM) Lissandra da França Ramos (UFBA) Esta comunicação trata da escrita poética de mulheres negras, integrantes de grupos mistos de poesia, oriundas do bairro de Sussuarana, periferia soteropolitana; bem como, de sua divulgação em saraus realizados em regiões periféricas. Nos últimos anos, em Salvador, tornou-se frequente a ocorrência desses saraus, tais eventos estão voltados para classes populares e apresentam forte tendência a discussões relativas a questões que envolvem dinâmicas de classe, raça e gênero. Nesse cenário, a escrita de mulheres negras promove discursividades e representações de mulher; desse modo, fazem frente ao racismo, machismo e sexismo. A produção das mulheres que integram o Grupo de Poesia Resistência Poética e o Grupo Ágape: Poetas do Gueto, ambos, grupos mistos formados por homens e mulheres, aponta para a presença de temáticas que manifestam, através da escrita poética, um compromisso com a discussão sobre o papel mulher na sociedade. A classe social das autoras, o grupo racial com o qual se identificam e sua condição de mulher funcionam como base e fundamento de suas produções.

AUTOAFIRMAÇÃO DE UMA INTELECTUAL NEGRA: CRISTIANE SOBRAL EM NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS (BAN) Luaclara Vieira Lima (UNEB) O presente artigo tenciona analisar a relevância do trabalho da escritora negra contemporânea Cristiane Sobral, enquanto intelectual negra, no poema Não Vou Mais Lavar os Pratos, publicado no livro homônimo, em 2011. Cristiane Sobral, por meio da literatura afro-brasileira, tem buscado ressignificar imagens de representação da mulher negra e combater os discursos de racismo e sexismo que permeiam a realidade brasileira. Em Não Vou Mais Lavar os Pratos, a voz poética vislumbra a emancipação e Cristiane Sobral tece um deslocamento dessa condição inferiorizada feminina, configurando o seu empoderamento. Neste sentido, fundamentado no estudo da afroamericana Hooks (1995), esse texto busca construir reflexões que enfatizem o trabalho intelectual das escritoras negras como uma parte fundamental na luta pela libertação e descolonização de sujeitos historicamente oprimidos e/ou explorados.

CONFIGURAÇÕES DA NARRATIVA AMADIANA A PARTIR DA PERSONAGEM GABRIELA: UM DESAFIO À SUPREMACIA MASCULINA (BAN) Marlon Lucas Leite Alves (UNEB) Investigação sobre as estratégias utilizadas pelo narrador amadiano para a construção da personagem Gabriela do romance Gabriela Cravo e Canela: Crônicas de uma cidade do interior. Este romance é instigante, pela forma sutil com que o narrador vai construindo sua personagem principal, apresentando-a e desvelando-a, inicialmente muito discreto e gradual, vai descrevendo sua personalidade marcada pela liberdade interior, sua capacidade de transpor as amarras sociais. Gabriela é sem dúvida uma personalidade extremamente paradoxal, na sua humildade e singeleza consegue ser livre e não se prender aos padrões sociais que segregam a mulher e a reduzem a um papel coadjuvante, em que se alcança valor somente quando, ao lado de um homem, e nesse sentido, ela se mostra de algum modo, subversiva. Busca-se discutir a narrativa de Gabriela, com vistas à sua relação com o universo masculino, no intuito de se analisar o seu modo de ser e, nesse ínterim discutir o conceito de gênero social e estratégias narrativas. Para se alcançar esse objetivo, buscamos identificar e, em seguida, analisar as estratégias utilizadas pelo narrador para a construção/descrição da personagem fictícia Gabriela. Por fim, discutiremos o conceito de gênero social a partir da elaboração narrativa da personagem Gabriela que se constitui um desafio à supremacia masculina. Pesquisadores como D’Onofrio, Goldstein, Patrício, Almeida, Paz, Beauvoir e Freire, fundamentam as reflexões presentes nesse trabalho.

GÊNERO E NEGOCIAÇÃO EM MEMORIAL DE MARIA MOURA, DE RACHEL DE QUEIROZ (BAN) Milena Santos de Jesus O presente estudo tem por objetivo compreender a relação entre corpo e gênero dentro das relações de poder. Para tanto, foi escolhido como corpus à personagem Maria Moura, pertencente ao romance Memorial de Maria Moura (1992) de Rachel de Queiroz. O corpo feminino sempre esteve no centro das representações feitas pela metafísica ocidental que conferiram uma visão essencializada no concernente à relação sexo-gênero-desejo. A naturalização do discurso de gênero como consequência direta do construto discursivo do sexo permaneceria inquestionável e distanciada das relações de poder até os estudos críticos de gênero. A narrativa em questão corrobora para se pensar os limites da construção discursiva em torno do sexo e do gênero, já que as práticas discursivas de Maria Moura não comungam com as impetrações discursivas, que surgem por meio da subordinação do gênero ao corpo. No romance, as mudanças da heroína estão atreladas ao desejo de poder. A presente análise classifica-se como qualitativa cujos procedimentos são desenvolvidos por meio da pesquisa bibliográfica. Para tanto, adotamos como base teórica o Estudo de Gênero com isso destacou os seguintes autores Badinter (1993), Foucault (1998), Beauvoir (1991), Butler (2008), Irigaray (2009) e Machado (2009).

GRUPO DE TRABALHO: “Poéticas Afro-Brasileiras: Literatura, Corpo e Música” Cooreenação: Marielson Carvalho(UNEB), Cristian Sales (UNEB), Joabson Figueiredo (UNEB) e Moisés Alves ILÊ AIYÊ: O MAIS BELO DOS BELOS DOS ANOS 80 (BAN) Ayeska Paula Freitas de Lacerda (UESC) Danillo Batista de Santana (UESC) Este artigo é parte do projeto “O que dizem as canções: estudo de canções produzidas na Bahia nos anos 1980”, e tem como finalidade uma análise de canções do grupo Ilê Aiyê gravadas em disco na década de 1980. O bloco afro possui um repertório de enaltecimento do povo negro e das culturas de matrizes africanas. Para a realização deste estudo, foi utilizada como base teórica uma literatura sobre movimentos sociais, identidade, negritude, história da música e indústria fonográficas locais. A metodologia utilizada foi a da Análise de Conteúdo, segundo Bardin. As análises quantitativa e qualitativa das letras das canções demonstraram que o grupo utilizou, com sucesso, a arte da música e o espaço do carnaval soteropolitano para firmarem-se enquanto luta e resistência de um segmento social em busca de seu lugar na sociedade, abrindo as portas para uma nova baianidade através do resgate da história, da estética e das culturas de matrizes africanas para a formação da diáspora africana na sociedade baiana.

TRAVESSIAS NA BAÍA: ENCONTRO DE SAVEIRISTAS, FESTEIRAS E BRINCANTES (COM) Célia Conceição Sacramento Gomes (FACULDADE SÃO BENTO) As festas possuem um lugar de destaque no contexto histórico e cultural das expressões tradicionais da Ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos. Podem ser consideradas fatores de desenvolvimento humano, que vinculam o simbólico, os rituais, o cultivo de repertórios, construindo uma teia de significados que remetem às trajetórias de vida das pessoas. O texto revela uma prática cultural, a Terça-Feira da Festa de Santo Amaro de Cacha Pregos, em Vera Cruz - Ilha de Itaparica, que torna oportuno o encontro de saveiristas, festeiras e brincantes, num cortejo lúdico que coloca em cena as práticas cotidianas dos nativos, seus enredos e suas histórias; esboça uma ambiência de permanências e inovações que vêm ocorrendo, e, de alguma forma, repercutindo na forma como os nativos se movem num cenário de mudanças e novidades. As referências geosociais são o município de Vera Cruz e o município de Jaguaripe. Essa experiência coletiva irmana os nativos e outros participantes que se reúnem para festejar o Senhor Santo Amaro, padroeiro de Cacha Pregos, num contexto de carnavalização, competição esportiva e prática devocional, no trânsito festivo para Jaguaripe. A brincadeira difunde as fortes raízes de um rico acervo cultural da Bahia. Com o brincar se traz o sonho para o cotidiano. Entrelaçar os fios da festa representa, então, romper com a ordem prevista nas ações ordinárias da vida, invertendo-as para inaugurar outro momento, onde o brincar é a forma de fazer emergir uma 'segunda vida'.

VOZES DE INTELECTUAIS AFRO-CARIBENHAS: SOBRE PIEL Y PAPEL, DE MAYRA SANTOS FEBRES (COM) Cristian Souza de Sales (UNEB) Este artigo busca evidenciar o posicionamento intelectual agenciado pela escritora afro-caribenha Mayra Santos Febres, frente às questões de raça e gênero, no ensaio Confesiones de una mujer lucía (2010). O intelectual é um sujeito que examina, reflete ou especula acerca de ideias e questões, de modo que este uso possua uma relevância social e atenda às demandas coletivas. Exercendo essa função, Santos Febres constrói um horizonte ético-político no qual descortina motivações ideológicas, potencializando outra interpretação para as narrativas tradicionais. A escritora é uma intelectual que se apresenta comprometida e preocupada com mudanças sociais radicais, assumindo o compromisso de representar um grupo e de, principalmente, conscientizá-lo. Na América Latina e nas Ilhas do Caribe, na segunda metade do século XX, tem sido significativa a presença de intelectuais negras produzindo obras ficcionais (romances, contos, novelas, peças de teatro e poemas) e não ficcionais (ensaios e artigos) que buscam refletir e problematizar o processo do escravismo colonial ocorrido no século XIX. São textualidades que questionam e interpelam a própria escritura dessa história, vista como espaço de realização de um discurso de poder elaborado por uma cultura hegemônica, falocêntrica e eurocêntrica. Assim, por meio desse trabalho, procuro compreender o agenciamento dessa voz intelectual afrocaribenha que se pronuncia, nesse espaço-tempo, munida de um engajamento político dissonante, tendo em vista as situações de exclusão vivenciadas pelas mulheres negras em Porto Rico. Para tanto, recorro aos seguintes referenciais teóricos: Hooks (1996), Hall (2003), Said (2003), Setenta (2008), Glusberg (2009), entre outros.

A IDENTIDADE FEMININA NO ROMANCE A PROSTITUTA, DE HERBERTO SALES (BAN) Gabriela Hermes Dourado Neves (UNEB) Joabson Lima Figueiredo (UNEB) Este estudo tem o objetivo de analisar o romance A prostituta (1996), do escritor baiano Herberto Sales (1917-1999). Para tanto se levará em conta a imagem da mulher, filtrada na perspectiva da personagem central da obra, sendo essa uma transgressora das normas morais moldadas pela sociedade do século XX, sociedade essa carregada de tabus e preconceitos contra a mulher. A obra cogita a história de Maria Corumba e suas decepções de jovem que foi abandonada pelo noivo estando grávida que, sem o apoio dos pais viu-se obrigada a sair de casa, após o nascimento de sua filha viajou a Salvador em busca de seu objetivo: tornar-se uma prostituta, o que irá culminar numa transformação de identidade e ressignificação da dicotomia convencionada para as mulheres: “da vida” ou “de família”. Esta nova identidade será construída em defesa dos valores patriarcais e machistas, que constituem os atavismos da sociedade da época em que a obra é ambientada. Neste texto será abordada a trajetória acadêmica do autor. Para esta escrita, no aspecto metodológico da pesquisa bibliográfica e exploratória, serão utilizados como embasamento teórico textos de autores como: Auerbach (2013), Deleuze (1992), Hall (2011), Foucault (2013), Alves (2005) e outros.

CANTOS-POEMAS: DO COURO DO TAMBOR AO CORO DAS NEGRAS CANTADORAS (COM) Gean Paulo Gonçalves Santana (UNEB) Este estudo tem como objeto de estudo os cantos-poemas, uma expressão poética oral do quilombo de Helvécia, no Extremo Sul da Bahia. Estes cantos-poemas, construídos a partir de experiências intersubjetivas, ora são respostas, ora são questionamentos às circunstâncias históricas, socioafetivas e aos confrontos da vida cotidiana. Descrever e analisar essa poética no que traz de expressões que lidam com a representação da herança africana, suas identidades, ressignificações e resistência se constituem objetivos norteadores dessa comunicação. Os cantos-poemas, como instrumento poético, de lutas e sacralidade, acionam memórias do tempo vivido e do contado e, quando vocalizados pelas cantadoras ao toque do tambor deitado, ganham corpo, ritmo e significação nas performances do batebarriga, do embarreiro, ao explicitarem histórias ancestrais, conflitos, amores e trabalho. Contextualmente, os cantos-poemas ilustram o sentido da voz em Helvécia, negociações, reflexões e lutas pela cidadania e pela liberdade desde a Colônia Leopoldina, uma sesmaria constituída em 1818 e da qual se originou o quilombo de Helvécia. Destaca-se nessa comunicação, o papel que o canto-poema revela, a partir de seus discursos poéticos e vozes sociais, em relação a helvécia, sua história e sua gente, suas identidades.

É PRA DESCER QUEBRANDO: INSURGÊNCIA, PAGODE E NEGRITUDE (COM) Ivanilde Guedes de Mattos (UEFS) O objetivo aqui proposto é apresentar algumas reflexões a partir de uma investigação, em torno de um novo discurso cultural denominado Pagode Baiano, que se constitui como parte da musicalidade negra diaspórica e emerge na contemporaneidade como um componente curricular para se pensar a educação das relações etnicorraciais no ambiente de formação. Parto das representações corporais e etnicorraciais das músicas produzidas pelos novos estilos musicais que surgiram a partir da década de 1990 na Bahia, elaboradas por jovens negros da periferia, cuja linguagem oral, escrita e corporal se diferencia daquela permeada por um passado de colonização e passa a valorizar a musicalidade de matriz africana como um instrumento de expressão cultural. O lócus dessa investigação é a escola pública e seus atores principais: estudantes e professores. Acredito que a problematização do Pagode Baiano propicie um debate bastante polêmico dada às singularidades do referido gênero musical, além de garantir a visibilidade de performances contemporâneas elaboradas no cotidiano sócio-cultural daqueles que são protagonistas no ambiente escolar. Buscam-se a partir do Pagode outras interpretações para a Lei 10639-03 e possibilidades pedagógicas para as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Etncorraciais.

QUEM PRECISA DE BAIANIDADES? (COM) Joabson Lima Figueiredo (UNEB) A tomar de empréstimo - e com o devido trocadilho – o título do estudo de Hall no livro organizado por Silva (2000) constata-se que entendemos que a discussão é pertinente ao momento contemporâneo, onde o eu fragmentado se insere num mundo marcado pelas redes sociais, pela liquidez identitárias e simbólicas dos processos do sujeito, com insurgências do local sobre o mundo homogeneizado global e não é gratuito o assalto diligenciado ao texto supracitado – essa lógica será a tônica e o esteio do nosso estudo – logo, o conceito de identidade aqui desenvolvido não é, portanto, um conceito essencialista, mas um conceito estratégico e posicional. [...] Essa concepção aceita que as identidades não são nunca unificadas; que elas são, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas; que elas não são, nunca, singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições (HALL, 2000, p.108).Busca-se nesse estudo introdutório refletir sobre a construção definida como baianidades (já delineando aqui que a identidade baiana é múltipla por isso a escolha do plural do termo) e a sua importância hoje, no mundo cosmopolita e fragmentado, e que não podemos olvidar os seguintes questionamentos à própria subjetivação que o discurso apresenta em sua formulação: quem precisa definir-se dentro de uma ou várias identidades baianas? E que baianidades estamos falando?

CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE AFRO-BRASILIDADES NA INVENÇÃO DO POPULAR EM ASCENSO FERREIRA: EXPERIÊNCIAS DE (DES)LEITURAS (COM) Liana Dantas de Medeiros (UFM) Mergulhar no universo imagético da poética de Ascenso Ferreira, permite-nos experienciar pela bússola do poeta-marujo, a viagem que percorre dos sertões desses brasis aos mangues recifenses – com passagem pelas casas grandes, canaviais, com seus senhores de engenho ao movimento das senzalas das nossas ascenstralidades – rumo à mãe África, em busca da identidade atirada ao oceano dos navios negreiros que de lá partiam para em nossos portos atracarem. A poética de Ascenso Ferreira, cuja titularidade de sua obra composta pela trilogia Catimbó, Cana Caiana e Xenhenhémpor si só já aponta não só a verve do pesquisador das africanidades e sua raízes fincadas na cultura brasileira e pernambucana, em plena efervecência do movimento modernista brasileiro e regionalista cristalizado como marco inicial desta contínua busca identitária de um Brasil afro-tupiniquim-europeu. Nessas idas e vindas da diáspora africana em terras da maior colônia portuguesa, nasceu o Brasil das africanidades e negritudes. Brasil esse, ainda imerso na sua cegueira identitária para reconhecer-se apenas nos olhos do colonizador .A poética Ascensiana, ancorada na influência africana no português de Pernambuco, cristaliza as condições de novas leituras aportadas nas teorias sociológicas, antropológicas e históricas dos fenômenos de hibridização cultural e identidades fragmentárias, assim como no embate das margens com o centro na experiência do caos-mundo Glissantiana. Munanga, Hall aportam estudos e teorias para uma (des)leitura regionalista para a temática das negritudes e das afrobrasilidades. Assim como fio condutor da história que transportanos do projeto de um Brasil dos Modernistas da década de 20 para a ancestralidade africana e a colonização do Brasil. Este trabalho de pesquisa imbricado na (des)leitura poética , busca validar a poesia de Ascenso Ferreira imanada no seu valor estético, cultural e representativo para a formação identitária de afrobrasilidades ancoradas nos entreolhares das teorias da modernidade e pós-modernidade.

DO BENIM À BAHIA: O ATLÂNTICO AFROBAIANO DE ANGÉLIQUE KIDJO (COM) Marielson Carvalho (UNEB) Angélique Kidjo, 55, é cantora e compositora nascida em Ouidah, Benin. De família interétnica (o pai é de origem Fon e a mãe, Iorubá), ela cresceu em um ambiente cultural no qual as referências simbólicas tanto beninenses quanto negras nas Américas identificariam sobremaneira sua dicção musical em todos os seus trabalhos desde 1981, quando lançou seu primeiro álbum, ainda no Benim. Reconhecida internacionalmente tanto por sua performance artística quanto por seu ativismo social na África, Angélique Kidjo tem uma relação cultural intensa com o Brasil. Em 2002, com participação de Carlinhos Brown, produziu o CD “Black Ivory Soul”, o segundo de uma trilogia, no qual celebra a música negra nas Américas, mas nesse especialmente, reconstrói memórias com seus antepassados que foram escravos na Bahia e, ao retornarem para o Benim, passaram a ser conhecidos por “Agudás”. Para ela, estar na Bahia é como estar no Benim, devido mesmo às textualidades que em sua história ressignificam uma identidade africana no Atlântico Negro. Nesta comunicação, pretende-se destacar cinco canções do CD com o objetivo de mapear não só sua dicção musical, mas também sua produção intelectual e seu ativismo social. Sua performance artística, através de um discurso contra-hegemônico sobre a "invenção da África", dentro e fora do continente, é uma das características de seu projeto, na qual a Bahia é ponto cardeal nesse território reconfigurado da música negra.

AS CONTRIBUIÇÕES DE OSCAR DA PENHA (O BATATINHA) PARA O SAMBA BAIANO (BAN) Oyama dos Santos Lopes (UNEB) No século XX, o samba baiano teve em Batatinha um dos seus maiores poetas e compositores, com mais de 100 canções sendo que muitas delas foram gravadas, porém não tenha atingido vendagens significativas nem grande popularidade, era extremamente respeitado pelo meio artístico, administrava com humildade as barreiras que o impedira de vivenciar o sucesso, colocando, talvez, a cada obra o cuidado, o rigor, e a polidez, que constituiu na sua personalidade. Este artigo pretende incluir e analisar a contribuição do cantor e compositor baiano Oscar da Penha, conhecido no meio artístico como Batatinha, levando-se em consideração os principais aspectos de sua obra, contribuinte direto para a música e cultura baiano-brasileira além de também poder analisar a afirmação identitária nas letras de algumas das suas músicas sendo possível conhecer a relação e os sentimentos do afrodescendente ao longo das suas afirmações como se pode exemplificar na composição Hora da Razão, “se eu deixar de sofrer, como é que vai ser para me acostumar” (...) . Pesquisar a trajetória do negro em Salvador, tomando por base os elementos que compõem a cultura, sensibilidade, a sua música, os seus instrumentos e religiosidade, é um dos itens imprescindíveis para compreender a obra de Batatinha. Portanto, valida-se mais uma vez a importância de se investigar a música afro-baiana através das composições de Batatinha.

A POESIA NEM TÃO MARGINAL ASSIM DA BAHIA (COM) Rosemary Lapa de Oliveira (UNEB) A poesia marginal, nascida na virada cultural dos idos da década de 60 e 70 do século XX apontou para a desierarquização do espaço nobre da poesia – tanto em seus aspectos materiais gráficos quanto no plano do discurso, segundo Hollanda (2007). Os poetas passeavam de bar em bar, vendendo sua poesia de mimeógrafo, abordando em sua poética assuntos do dia a dia. Hoje, nos bares, circulam os Compact Disc gravados em pequenas gravadoras domésticas que retratam uma poética dos desempodeirados, refletida no "É Tudo Nosso, Nada Deles" de Igor Kannário. Essa poética de batida afro, traz uma poética brasileira de busca de identidade e de afirmação cultural que marca o empodeiramento das massas massificadas socialmente. Essa literatura feita de corpo e música, tem cada vez mais feito parte do cotidiano baiano e revela aspectos desafiadores de estudo no âmbito cultural, estético, literário que precisa estar nas escolas. O presente trabalho, com base bibliográfica, busca discutir esses caminhos da novíssima poesia marginal baiana das ruas para os planejamentos de aula.

NAVIOS NEGREIROS: SOLANO TRINDADE, CASTRO ALVES E O JOGO DA REPRESENTAÇÃO Vitor Rafael Oliveira Alves (UFBA) Este artigo põe em confronto os poemas Navio Negreiro, de Solano Trindade (1961), e O Navio Negreiro, de Castro Alves (1869). O poema de Trindade emerge na cena literária propondo-se como paródia do poema de Castro Alves. A paródia, que para alguns autores é procedimento inerente à sucessão de formas literárias na história, na Literatura Negra assume outros sentidos. Esses sentidos são aqui explorados, primeiramente, por meio das descrições que Genette (1989) e Huchteon (2000) fazem desse procedimento literário. As descrições desses autores são então articuladas à noção de simulacro, de acordo com a leitura que Gilles Deleuze (2000) propõe da filosofia platônica e às noções de semelhança e similitude conforme a análise de Michel Foucault, no ensaio “Os sete selos da afirmação”. A partir desse arranjo conceitual, discute-se, então, a posição que o poema de Trindade assume em relação ao de Castro Alves no contexto dos discursos literários produzidos no Brasil, apagando, no que diz respeito às formas literárias, uma suposta hierarquia entre parodiado e paródia e, instituindo, no que diz respeito à representação, um jogo de perspectivas, no qual o poema moderno se propõe como critério de leitura para o poema romântico. Por esse caminho, discutem-se, por fim, as consequências que a emergência da Literatura Negra Brasileira pode gerar para os signos da identidade nacional veiculados por meio da literatura brasileira.

GRUPO DE TRABALHO: “Portos baianos e diáspora africana” Coordenação: Ricardo Moreno (UNEB), Flávio Gonçalves (UESC) e Graça Leal (UNEB)

ENTRE CANDOMBLEZEIROS E DOUTORES: O SABER MÉDICO E A PERSEGUIÇÃO ÀS PRÁTICAS DE CURA DO CANDOMBLÉ EM ITABUNA (19301960) (COM) Michelle Caroline Moreira Mansur (UNEB) O presente artigo trata sobre a relação entre a medicina científica e as práticas de cura do candomblé em Itabuna, cidade localizada na região sul da Bahia, entre as décadas de 1930 e 1960. Durante o este período, Itabuna vivia um momento de intensas reformas urbanas que previam, além de uma intervenção nas ruas e prédios do centro da cidade, uma atuação na higiene pública e no saneamento da cidade para o combate ás doenças e epidemias nos espaços públicos e privados. Nessas ações, os médicos tiveram uma função primordial, atuando contra práticas e hábitos populares que o poder público considerava insalubres e perseguindo grupos que rompiam e resistiam aos padrões de higiene impostos pelo poder público. Nesse sentido, a imprensa, a polícia e os médicos da cidade fizeram uma campanha contra os candomblés, que em muitos casos eram preferidos pelos moradores das cidades na busca de uma cura para seus problemas de saúde, valendo-se de aspectos como denúncias de feitiçaria e charlatanismo.

GRUPO DE TRABALHO: “Psicologia e relações raciais: baianidade, afro-brasilidades e outros pertencimentos em favor da saúde psíquica” Coordenação: Clélia R. S. Prestes (USP), Carla França (UNEB) e Anni de Novais Carneiro (UFBA) PADRÕES HEGEMÔNICOS DE BELEZA E VIOLÊNCIAS SIMBÓLICAS: UMA ANÁLISE SOBRE RACISMO E REPERCUSSÕES SUBJETIVAS (COM) Anni de Novais Carneiro (UFBA) Este trabalho consiste no aprofundamento de um dos temas abordados na dissertação “Padrões de Beleza e Elementos Identitários de Mulheres Negras da Periferia de Salvador/Bahia”, pautada teoricamente na Antropologia do Corpo e nos Feminismos Negro e o Pós-Colonial. Aponta-se para um entendimento político da estética e de elementos identitários de mulheres baianas, moradoras do bairro de Plataforma, no subúrbio ferroviário da capital baiana. Indica-se a centralidade das categorias raça e gênero nas experiências vividas, com destaque para compreensões acerca dos padrões de beleza e relações com cerceamentos de corpos e estéticas plurais com base no racismo. O corpo é compreendido como produto e produtor da cultura, lócus privilegiado de contato e limite entre estrutura e autonomia, com destaque para questões subjetivas relacionadas saúde psíquica e relações interpessoais. A análise apresentada neste estudo refere-se à mescla de discursos coletivos, tratando-se de uma pesquisa qualitativa exploratória-descritiva realizada no bairro de Plataforma, no ano de 2014, com 16 mulheres participantes do Bloco do Bacalhau, com idades entre 35 e 90 anos, com base em um roteiro semiestruturado. A análise dos dados fundamenta-se no Discurso do Sujeito Coletivo. Os principais resultados são: a) o corpo que não se adéqua ao padrão hegemônico por envelhecimento ou traços negros, sofre interdições e exposição à violência simbólica; b) a aparência física adaptada ao padrão hegemônico facilita o trânsito social, mas não extingue violências simbólicas; c) há construção de identidades de resistência de mulheres negras.

PERTENCIMENTOS E SAÚDE PSÍQUICA DE NEGROS(AS): RESISTÊNCIA, IDENTIDADE E RESILIÊNCIA Clélia Prestes Elisabete Figueroa dos Santos Os dados reunidos são oriundos de duas pesquisas de doutorado em psicologia social (uma concluída e uma em andamento). Será apresentada uma análise da influência do pertencimento a manifestações africanas e afro-brasileiras sobre a saúde psíquica de negros(as), considerando-se como elementos da discussão os simbolismos e significados compartilhados e como esses favorecem a resistência política, identificações positivadas com a negritude e processos de resiliência. Nos diversos tipos de manifestações (políticas, filosóficas, culturais, religiosas, artísticas), os vínculos de filiação/afiliação facilitam o compartilhamento de conhecimentos e práticas, ao mesmo tempo em que favorecem a ressignificação da negritude, atacada durante tanto tempo pelo racismo. O contexto de vulnerabilidades individuais, sociais e programáticas a que negros(as) estão expostos(as) de modo repetido e histórico leva a efeitos psicossociais danosos, mas acompanhados muitas vezes de superações, que podem, por sua vez, ficarem mais frequentes na trajetória dessas pessoas e de seus descendentes e ascendentes, por meio da transmissão psíquica inter/transgeracional. A reflexão identificará no pertencimento a manifestações africanas e afro-brasileiras aspectos que favorecem a resistência política e a identificação positiva com a negritude, potencializando processos de resiliência e favorecendo saúde psíquica.

RACISMO INSTITUCIONAL E SAÚDE PSÍQUICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE COMO AMBOS SE MANIFESTAM NO ATENDIMENTO OFERECIDO À POPULAÇÃO NEGRA DE SALVADOR (BAN) Terezinha Conceição dos Santos (UFBA) A presente comunicação tem por finalidade esmiuçar os modos como o racismo institucional opera no campo da saúde, especificamente nas relações entre pacientes e profissionais de medicina e de enfermagem. A partir da minha experiência pessoal obtida em mais de trinta anos de atuação como auxiliar de enfermagem em hospitais das esferas pública e privada da cidade de Salvador, pretendo mostrar como o tratamento dispensado a pessoas brancas distingue-se do dado a pessoas negras, que, por sua vez, desencadeia danos psíquicos a estas. Em muitos casos, isso exerce influência direta na autoestima dos indivíduos que recorrem aos serviços de saúde. Não devendo desconsiderar ações desenvolvidas por grupos religiosos de matriz afrobrasileira e segmentos da sociedade civil organizada para a superação de estigmas que aviltam o ethos da população negra de Salvador.

GRUPO DE TRABALHO: “Representações culturais do Axé” Coordenação: Antônio Carlos Sobrinho (UNIJORGE) e Filismina Fernandes Saraiva (UNEB) POR QUE ENSINAR LITERATURA AFRO-BRASILEIRA E AUTORE(A)S BAIANO(A)S EM ESCOLA DA BAHIA?: UMA REFLEXÃO SOBRE O SUBPROJETO PIBID (COM) Aguida Rodrigues de Araújo (UNEB) O presente trabalho apresenta reflexões acerca do subprojeto: Literatura: afrobrasilidades, autores(as) baiano(a)s, uma parceria do PIBID/ CAPES/UNEB e o Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos, Seabra-Bahia. Muito mais que atender a lei 10639/03 pensa-se aqui na importância desse trabalho como estratégia de fortalecimento/ reconhecimento da cultura baiana e afro-brasileira dentro do espaço escolar baiano, a partir da identificação e valorização da literatura e das personalidades locais, que muitas vezes não se encontra no livro didático, mas que trazem questões, discussões e ensinamentos muito próximos da realidade dos alunos, propiciando assim uma identificação que permite com que eles reconheçam o legado de seus ancestrais nessas discussões.

JORGE AMADO E O CANDOMBLÉ: PERCURSO E SENTIDO DE UMA RELAÇÃO (COM) Antonio Carlos Sobrinho (UNIJORGE/UFBA) A compreensão dos sentidos atrelados às representações amadianas do Candomblé passa, necessariamente, por um entendimento do que as tradições culturais religiosas afro-brasileiras significam para Jorge Amado – não tanto como indivíduo, mas em sua condição de autor. Neste sentido, o trabalho aqui proposto recupera entrevistas concedidas pelo escritor a periódicos nacionais e estrangeiros, entre as décadas de 1950 e 1990, em que, através de uma performance na qual responde assumindo a posição romancista, ele se coloca diante de um mesmo questionamento: sua relação, como sujeito/escritor, com o Axé. Não se trata, com isso, de acreditar ou referendar acriticamente o conteúdo enunciado pela voz autoral entrevistada, mas de, a partir do cruzamento e da sistematização das respostas emitidas, construir hipóteses acerca do investimento amadiano na representação do Candomblé, suas razões e seus sentidos.

ASPECTOS VESTIMENTAS AFRICANAS NA CULTURA BAIANA (BAN) Autoras: Brenda Souza dos Santos (PIBID-UNEB) Gelma Ribeiro de Sá Teles (PIBID-UNEB) Orientador: Gildeci Leite O objetivo de trabalhar de forma breve aspectos de vestimentas africanas na cultura baiana é demonstrar contribuições de culturas africanas para a cultura baiana, bem como demonstrar a valorização e a conservação desta cultura. A partir daí se obterá um conhecimento mais amplo sobre as raízes da nossa cultura bem como a valorização da mesma. O estilo afro sempre esteve entre nós, mas, atualmente esta presença está mais acentuada através da tendência afro, que é marcada por estampas grandes e atraentes, cores fortes e com muitos tecidos e franjas, roupas com estampas de bichos, bolsas de franjas, colar e brincos. Entretanto, a maioria das pessoas que usa esse estilo desconhecem a origem e não sabem que existem também roupas que trazem uma simbologia própria. Sabe-se que é imprescindível trabalhar a cultura negra e baiana, isso por termos a consciência que faz parte da construção da história do Brasil que sofreu influências em diversos aspectos. Assim, realizamos esse trabalho através do PIBID/UNEB, com o subprojeto Literatura: afrobrasilidades, autores(as) baianos(as) em parceria com o Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos.

DA FEIRA POPULAR AO TERREIRO DE CANDOMBLÉ: ASPECTOS CULTURAIS AFRO-BAIANOS EM FEIRA DE ÁGUA DE MENINOS E ABC DO CANDOMBLÉ DE VASCONCELOS MAIA (BAN) Autora: Daniela Teixeira Lázaro (FAPESB-UNEB) Orientadora: Filismina Fernandes Saraiva (UNEB) O presente trabalho é resultado das pesquisas realizadas como bolsista de Iniciação Científica no subprojeto Marcas culturais afro-brasileiras na obra de Vasconcelos Maia: feira de água de meninos e ABC do candomblé, do projeto maior Vasconcelos Maia: Literatura e Afro-baianidades, orientado pela professora Filismina Fernandes Saraiva, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). O artigo pretende analisar as representações da cultura negra baiana nas obras Feira de Água de Meninos (1951) e ABC do Candomblé (1977) do escritor baiano Carlos Vasconcelos Maia identificando se há alteridades e colonialismos como também estereótipos nas narrativas. Para elaboração deste artigo utilizou-se a Literatura Comparada, tendo como base para o estudo as referidas obras literárias, bem como, o aporte teórico. Na elaboração do trabalho procurou-se descrever o posicionamento do autor, em relação à cultura negra como também nos elementos das afro-baianidades e nos cultos aos ancestrais representados, bem como, mostrar a valorização que Vasconcelos Maia faz ao descrever as classes populares da cidade de Salvador.

O “DEBOCHEIRO DE RAIZ AFRICANA” – CONSTRUINDO MASCULINIDADES NOS PRIMEIROS ANOS DA AXÉ MUSIC (COM) Debora Carla Pereira Guimarães (IFAM) A Axé Music de Luiz Caldas, Sarajane, Gerônimo, entre outros artistas, redefiniu o carnaval baiano, com os seus ritmos influenciados pelas músicas dos blocos afros e do candomblé, ao proporcionar uma “levada” mais tranquila pelas ruas da cidade, além de redistribuir espacialmente o carnaval na cidade de Salvador, com a ocupação de novos espaços, como Barra e Ondina. Caracterizada como uma música pop, facilmente consumida pelo mercado nacional e internacional, a Axé Music redefiniu também gostos, formas de vestir e de expressão. O objetivo desta pesquisa é analisar as construções de identidades masculinas racializadas no contexto dos primeiros anos da Axé Music em Salvador- Bahia. Como a Axé Music caracterizou os sujeitos masculinos negros neste novo contexto do carnaval baiano? Como eles se percebiam e como se posicionaram diante de um modelo de masculinidade hegemônica já existente? A Axé Music, através de sua proposta musical homogeneizadora trouxe novas configurações para o carnaval. Se a diversidade de representações anteriores no carnaval ainda consolidavam certas posturas heteronormativas, a partir da Axé Music, novas reformulações para o entendimento destas masculinidades racializadas passaram a ser necessárias, indicando novos percursos para o reconhecimento das diversidades sexuais e de gênero.

AFRO-BRASILIDADES: A QUEBRA DE ANTIGOS GRILHÕES NA EDUCAÇÃO (BAN) Autoras: Débora de Souza Silva (PIBID-UNEB) Yarda Jhordane Silva Araújo (PIBID-UNEB) Orientador: Gildeci de Oliveira Leite (UNEB) O presente trabalho faz parte do subprojeto da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior): Literatura: Afro-brasilidades, autores (as) baianos (as), que é coordenado pelo professor Gildeci de Oliveira Leite e por meio deste foram realizadas oficinas nas aulas do 3º ano do ensino médio no Centro Educacional de SEABRA supervisionado pela professora Maria de Fátima Pina. Trabalhamos vários aspectos afro-brasileiros em sala, mas entre eles focamos na influência africana presente na culinária e na música. Nas oficinas realizadas em sala de aula, trabalhamos com vários aspectos de afro-brasilidade, afro-baianidade, e conceitos relacionados a cultura como xenofobia, xenofilia, alteridade positiva/negativa, porém dando enfoque maior para as influências africanas presentes na culinária e na música. Por meio das abordagens feitas sobre o tema, pudemos perceber que não era um assunto novo para eles, então houve uma grande participação nas discussões e nas atividades realizadas. Utilizamos de métodos como produções textuais, debates, produção de painéis além das aulas expositivas com slides entre outras atividades.

AFRO-BRASILIDADES: HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADE NEGRA (BAN) Autoras: Deisicleia Araújo de Souza (PIBID-UNEB) Rosilene Damacena da Silva (PIBID-UNEB) Orientador: Gildeci de Oliveira Leite (UNEB) O presente trabalho, desenvolvido pelo PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) corresponde a um breve relato das atividades desenvolvidas em 2014 no subprojeto LITERATURA: AFRO-BRASILIDADES, AUTORES (AS) BAIANOS (AS), onde foram desenvolvidas oficinas em uma turma de 1º ano do ensino médio do Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos. A Coordenação do subprojeto é do professor Gildeci de Oliveira Leite e a supervisão da professora Águida Rodrigues de Araújo. Ao longo das oficinas foram discutidos conceitos como: xenofobia, xenofilia, alteridade, alteridade positiva e negativa, estereótipo e mito, cujo objetivo era levantar questões sobre a cultura africana e afro-brasileira que são pouco discutidos dentro do âmbito educacional. O que ficou evidente é que muitos dos conteúdos trabalhados no subprojeto eram inteiramente novos para os alunos e, não obstante, esse fato se torna revelador quanto ao ainda deficiente estudo acerca da história do negro e valorização de sua cultura. Foi gratificante observar o interesse e ânsia por conhecimento por parte dos alunos e, nessa perspectiva, o subprojeto contribuiu e certamente continuará contribuindo para a assimilação de conceitos e, sobretudo para a formação de cidadãos críticos, autônomos e reconhecedores das múltiplas culturas do país como ponto positivo e indissociável das relações sociais.

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS: AS INFLUÊNCIAS DA CULINÁRIA AFRICANA EM PRATOS TÍPICOS DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA REGIÃO DE SEABRA (BAN) Autoras: Diane Nascimento Oliveira (PIBID-UNEB) Juliane Menezes Araújo(PIBID-UNEB) Orientador: Gildeci de Oliveira Leite (UNEB) O presente trabalho, que foi desenvolvido através do PIBID, faz parte do subprojeto da CAPES: Literatura: Afro-brasilidades, autores(as) baianos(as), coordenado pelo Professor Ms. Gildeci de Oliveira Leite, no qual foram realizadas oficinas no Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos, na turma do 3º ano do ensino médio, supervisionado pela professora Águida Araújo Rodrigues. As ações têm como objetivos conhecer, entender e difundir conceitos de afro-brasilidade e de afrobaianidade e reconhecê-los em textos literários baianos, com estratégias e contextualização para a aplicação no ensino médio, melhorando as atividades de ensino e de aprendizagem. Dentre os vários aspectos afro-brasileiros trabalhados em sala, foram focalizadas as influências africanas na culinária. A temática não era inédita para os discentes, no entanto o grau de discussão foi expandido. Foram utilizados métodos de produção textual (relatos de vivências), confecção de painel com textos e imagens de pratos afro-brasileiros, além de aulas expositivas e atividades lúdicas, como cruzadinha e caça-palavras. A partir daí foi possível identificar nos alunos uma nova perspectiva envolvendo alguns aspectos afro-brasileiros, quando mostrado que essa temática faz parte da realidade deles, os mesmos se interessam e participam mais das atividades desenvolvidas na turma. Conclui-se que esse trabalho amadureceu as concepções dos alunos sobre afro-brasilidades e contribuiu para as minhas experiências como futura docente.

REPRESENTAÇÕES DA IDENTIDADE E CULTURA NEGRA NAS LETRAS DAS MÚSICAS DO BLOCO AFRO ILÊ AIYÊ (COM) Edmilson de Sena Morais (UNEB) A identidade enquanto forma dos indivíduos ver a si no mundo e estar no mundo, também, se dá na dinâmica da alteridade, afinal, somos aquilo que o(s) outro(s) vê(em) e percebe de nós. O ser humano enquanto constructo cultural se constitui nas relações que se estabelece entre si e seu grupo social, portanto, fruto de suas idiossincrasias. No contexto das relações sócio-histórico-culturais e interpessoais, os indivíduos elaboram representações de mundo, do outro e de si, a partir do seu grupo de origem e convívio. Nessa perspectiva, o presente artigo analisa as representações de mundo e da identidade negra presentes nas letras das canções do Bloco Afro Ilê Aiyê, sediado no bairro do Curuzu, cidade do Salvador- BA. Para tanto foi utilizada a perspectiva da identidade cultural a partir dos Estudos Culturais (HALL, 1992, 2011; WOODWARD, 2000) e da teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978; JODELET, 1998). Como corpus de pesquisa utilizamos as canções gravadas no CD Ilê Aiyê 25 ANOS e para analise documental, a analise de conteúdo na perspectiva de Bardin (1977). O estudo possibilitou compreendermos como os sujeitos a partir de seus ethos constituem-se enquanto seres do/no mundo, seres-sendo, na medida em que se constituem enquanto tal, nas suas relações entre si e suas próprias leituras de mundo, construindo um conhecimento próprio e apropriado enquanto resultado das reflexões de si mesmo e do outro e da sua própria história, dando-lhes significado do mundo e das suas existências.

(DES)CONSTRUINDO CONHECIMENTOS SOBRE CULTIRA AFRO NAS AULAS DE LINGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO (BAN) Edna Costa Santos (PIBID- UNEB) Tulio Nepomuceno de Oliveira (PIBID- UNEB) Gildeci de Oliveira Leite (Orientador) A experiência no PIBID durante o período que estivemos em sala de aula, numa turma de 3º ano do Ensino Médio do Centro Educacional de Seabra, foi bastante proveitosa, pois nos proporcionou um conhecimento na prática docente, e crescimento pessoal. Fomos bem acolhidos pela turma e principalmente pela professora Adir Brandão, que nos contemplou com uma das suas turmas, e nos auxiliou nas discussões durante as oficinas. As oficinas se deram a partir de exibição de slides, vídeos, paródias e análise de músicas, proporcionando uma mediação das discussões críticas e reflexivas sobre a temática da afro-brasilidade, conteúdo este ainda em formação no cotidiano de cada discente. Os textos trabalhados foram de fundamental importância para que pudéssemos ajudar aos discentes reconhecerem suas identidades e entender o que é afro-brasilidade e afro-baianidade, além das riquezas que envolvem essa temática, quebrando assim os estereótipos atribuídos a ela. Durante este processo de ensinoaprendizagem, pudemos orientar os alunos a produzir materiais para participação deles e do PIBID na “II Exposição Consciente 20 de Novembro e outras Artes”, evento este que comemora o dia nacional da consciência negra, efetivando a participação do subprojeto no cotidiano escolar.

HISTÓRIAS DE “AXÉ”: UMA RONDA PELA PROSA DE ORDEP SERRA Elis Angela Franco Ferreira Santos No presente trabalho, analisaremos o romance Ronda: oratório malungo (2011), do escritor Ordep Serra, sob a perspectiva de um texto que destaca as marcas identitárias de um grupo étnico estabelecido no Recôncavo baiano, e sua luta por legitimação do espaço quilombola, núcleo importante para o exercício da religiosidade e costumes afro-brasileiros. Desse modo, buscaremos identificar como o escritor representa tais marcas, e qual a importância de tal romance para os debates culturais, visto que a conjuntura atual problematiza o apagamento das culturas/religiões oprimidas e propõe a igualdade de direitos e tratamentos que deem conta das diferentes necessidades de cada grupo.

PIBID 2014: DIÁLOGO ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA DO ENSINO BÁSICO (BAN) Autoras: Elma Lopes (PIBID-UNEB) Jandeane Oliveira (PIBID-UNEB) Orientador: Gildeci de Oliveira Leite (UNEB Trataremos de um “Diálogo entre Universidade e Escola do Ensino Básico” com noções, através da literatura, sobre história e influência Africana no Brasil, sobre o descobrimento da ancestralidade que formam características da identidade nacional. Serão apresentados resultados das experiências obtidas com o subprojeto do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) intitulado "Literatura: afrobrasilidade, autores (as) baianos (as)", desenvolvido em 2014, em uma turma de EJA VI (Educação de Jovens e Adultos, nível seis), turno noturno do Centro Educacional de Seabra, na qual também foram trabalhados os conceitos de alteridade positiva e negativa; xenofobia; xenofilia; literatura Baiana e seus aspectos. A construção desses conceitos relacionados à afro-brasilidade e à afro-baianidade permite, desde o ensino básico, o respeito ao próximo, a seu pertencimento étnico, sua religião e às diferenças em geral. Esses aspectos tornam o indivíduo, no caso o discente, um ser crítico a respeito da história brasileira, de suas influências e dos construtores desta terra.

OS BABÁ-EGUM COMO PERSONAGENS Filismina Fernandes Saraiva (UNEB) O presente trabalho se propõe a fazer uma análise de personagens que aparecem na novela O leque de Oxum (1961) de Vasconcelos Maia, porém, não se trata de personagens comuns, mas, de Babá-eguns que aparecem na narrativa e ocupam lugar de importância no desfecho da referida história. Além disso, discute-se a importância de criações literárias que representem religiões afrodescendentes e o povo de axé como uma ferramenta no combate à intolerância religiosa e a difusão de estereótipos, mas, para isso, também se faz necessário o entendimento da lógica cultural negra.

“O NEGRO DO POMBA QUANDO SAI DA RUA NOVA, ELE TRAZ NA CINTA UMA COBRA CORAL”: O PERTENCIMENTO ÉTNICO-RACIAL E HISTÓRICO MUSICADOS NO AFOXÉ POMBA DE MALÊ. Flávia Santana Santos (UFBA) O objetivo deste trabalho é traçar uma discussão sobre a noção de pertencimento étnico-racial e histórico musicada no Afoxé Pomba de Malê, entidade cultural do bairro de Rua Nova – uma comunidade negra que surgi em meio ao efervescente crescimento populacional de Feira de Santana por conta do êxodo rural, entre as décadas de 40 e 50. Essa comunidade foi o pouso de muitas mulheres e homens negros (as) que trouxeram consigo seus saberes e suas práticas culturais e religiosas, sua ancestralidade, (re) criando o legado cultural peculiar das populações negras na diáspora. O afoxé – candomblé de rua – representa uma das várias formas de recriação das celebrações festivas as quais negras e negros eram excluídos. Ir ás ruas também era uma forma de empoderamento e representatividade. Em 1985, um grupo de jovens negros influenciados pelas relações estabelecidas com os terreiros de candomblé, e pelos blocos afros e escola de samba existentes na comunidade, tiveram a necessidade de ocupar o espaço na micareta – festa de largo que durante muito tempo foi espaço privilegiado da elite Feirense – representando sua comunidade, cantando para a cidade seu pertencimento, ecoando aos quatro cantos de Feira de Santana o orgulho de pertencer a Rua Nova, uma das comunidades mais negras da cidade e, que tinha suas raízes ancestrais vivenciadas no cotidiano.

ESTUDO COMPARATIVO DOS TERMOS RELIGIOSOS VOLTADOS PARA O CANDOMBLÉ EM OBRAS DE JORGE AMADO (BAN) Géssica Leite Leal (UNEB) Laura de Almeida (UESC) O presente trabalho apresenta uma análise comparativa da tradução cultural em Gabriela, Cravo e Canela de Jorge Amado para a língua inglesa. Pretende-se identificar e delinear aspectos relacionados à tradução cultural. Assim coletamos exemplos de termos religiosos voltados para o candomblé e observamos a discordância encontrada nos termos traduzidos e culturalmente marcados no par linguístico português-inglês. A metodologia utilizada no estudo é quantitativa e qualitativa, apresentamos tabelas de frequência e a partir desta listagem realizamos uma análise com base na teoria apresentada por Vinay e Dalbernet (1977) e rediscutida por Campos (1987). Em suma, o estudo tem por foco o modo como o tradutor transferiu a cultura baiana para a língua inglesa. Aspectos valorosos no que se diz respeito à tradução não foram negligenciados durante a análise, como por exemplo, a tradução cultural, a intraduzibilidade, problemas da tradução e os procedimentos teóricos da tradução e as estratégias da tradução discutidas em Alves (2000). Objetiva-se, portanto, ampliar os conhecimentos acerca dos processos tradutórios de uma cultura para a outra assim como seus efeitos.

REPRESENTAÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRO-BAIANA NAS OFICINAS DO PIBID NO COLÉGIO FILINTO JUSTINIANO BASTOS (BAN) Autoras: Gilma Souza Oliveira (PIBID-UNEB) Hisla Dias (PIBID-UNEB) Gildeci Leite (UNEB) O presente trabalho é resultado de oficinas realizadas através do subprojeto da CAPES: Literatura: Afro-brasilidades, autores (as) baianos (as), que é coordenado pelo Professor Ms. Gildeci de Oliveira Leite, tendo como supervisora a professora Águida Rodrigues. As oficinas foram desenvolvidas numa turma de 3ª serie do ensino médio na Escola Estadual Filinto Justiniano Bastos (Seabra-Bahia), no qual foram discutidos conceitos relacionados a cultura afro-brasileira e afro-baiana , como xenofobia, xenofilia, estereótipos, alteridade positiva/negativa, mas a ênfase maior foi acerca dos escritores e escritoras afro-brasileiros(as) e afro-baianos (as) e suas obras que retratam e discutem tal cultura . Percebemos que muito do que foi discutido era novo para os (as) alunos (as), apesar do trabalho desenvolvido pela professora regente da turma , Najara Queiroz, durante todo o ano letivo com o tema abordado. Como resultado final das discussões feitas em sala os (as) alunos (as) dissertaram sobre o que discutimos e construíram cartazes como linha do tempo sobre escritoras afro-brasileiros(as) e afro-baianos (as), desde Castro Alves a Gildeci Leite.

CULTURA AFRO-BRASILEIRA: REVALORIZAÇÃO, RESSIGNIFICAÇÃO (BAN) Autoras: Jandiely Gonçalves Cassimiro (PIBID-UNEB) Maíra dos Anjos de Novaes(PIBID-UNEB) Gildeci Leite (UNEB) O Estudo “Cultura Afro-Brasileira: Revalorização, ressignificação” é resultado das experiências obtidas com o subprojeto do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) intitulado "Literatura: afro-brasilidade, autores (as) baianos (as)". Relata as atividades desenvolvidas na sala de aula durante as oficinas, desconstruindo os preconceitos, revalorizar os conceitos e elementos que constroem a cultura afro-brasileira. Refletir sobre a mesma, tendo em vista que se trata de uma temática pouco trabalhada em sala de aula. Desenvolvidas no ano de 2014 na turma do 2° C, turno vespertino do Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos. Dentre os conceitos trabalhados podemos destacar os conceitos de alteridade, alteridades positivas e negativas; xenofobia; xenofilia; O que é uma literatura Baiana e seus aspectos? Afro-brasilidade; Afro-baianidade. Podemos assim concluir que o projeto brotou belos frutos, quando tratamos de uma educação integral daqueles alunos, ampliando suas noções de leituras, permitindo-os compreender e simbolizar cada experiência em seu meio social.

EXISTE BAIANIDADE NAS TRADUÇÕES DE JORGE AMADO? (COM) Laura de Almeida (UESC) Rita de Cássia Freire dos Santos O presente trabalho discute as traduções de algumas obras literárias de Jorge Amado para a língua inglesa. Com base em estudos tradutórios mas também culturais visamos comparar as obras originais com sua tradução. Fundamentando em Aubert (1995; 1996) consideramos que traduzir não é apenas uma questão de léxico, morfologia ou gramática. Além disto, temos a questão cultural que permeia a questão linguística e contribui para a formação da identidade cultural presentes em Fanon (1979), Hall (2002) e Bhabha (2007). Destacamos alguns exemplos de trechos em que a cultura baiana não foi retratada ao ser transposta para a outra cultura. Desta forma, pretendemos analisar a presença da diversidade étnico-racial, cultural e linguística nas obras literárias traduzidas para ouros idiomas. Verificamos que nem sempre existe uma preocupação em manter esta diversidade ao transportar para outra cultura. Assim, entendemos que é preciso evidenciar a riqueza desta diversidade linguística e cultural presente na Bahia e que traduzir uma obra traz em seu bojo mais do que uma troca lexical.

AFRO-BRASILIDADES, CONCEITOS, CULTURA E PLURALIDADE (BAN) Márcia Santos de Souza (UNEB) Talita Francisca Alves de Souza Silva (UNEB) Gildeci de Oliveira Leite (Orientador) Este estudo resulta de experiências obtidas com o subprojeto do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) intitulado "Literatura: afro-brasilidade, autore(a)s baiano(a)s” por meio da execução de oficinas realizadas no ano de 2014 na turma 1° ano B, turno vespertino, do Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos. Compreende-se a legitimidade de tal prática pois propõe a inserção da temática da cultura afro-brasileira na sala de aula, objetivando desmistificar alguns preconceitos reproduzidos pelos alunos. Neste estudo aborda-se a experiência vivenciada na realização de oficinas do subprojeto em questão, voltada para o trabalho com os conceitos básicos relacionados à crítica da cultura, a saber: xenofobia, xenofilia, alteridade positiva e negativa e estereótipos, com vistas à reflexão acerca da formação docente e discente matizada pelo estudo das diferenças. Para isso, descreve-se as metodologias utilizadas em sala de aula que favoreceram a apreensão dos conteúdos pelos estudantes, permitindo que os objetivos propostos pelas oficinas fossem alcançados. Considera-se assim que as oficinas resultaram em consequências positivas para os envolvidos, visto que os discentes demonstraram entendimento sobre os temas desenvolvidos e salientaram a relevância de disseminar o respeito às diferentes culturas em contraponto às práticas preconceituosas e opressoras que ainda imperam na sociedade. Compreende-se também que as temáticas abordadas precisam continuar a ser exploradas a fim de que o espaço escolar se torne um espaço de mais alteridade e respeito.

LITERATURA: AFRO- BRASILIDADES, AUTORE(A)S BAIANO(A)S (BAN) Autoras: Patrícia Pires da Silva (PIBID-UNEB) Regiane Araújo (PIBID-UNEB) Orientador: Gildeci Leite (UNEB) Este relato de experiência tem como objetivo enfatizar o desenvolvimento e contribuições das oficinas do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de iniciação à Docência) no subprojeto Literatura: Afro-brasilidades autores (as) baianos (as), em parceria com a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus XXIII Seabra, apresentadas por nós, na escola de ensino médio Centro Educacional de Seabra – Bahia. O PIBID é um programa que faz parte do MEC, vinculado à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), cujo objetivo é a valorização dos cursos de Licenciatura, promovendo aos acadêmicos o contato com a realidade escolar, realizando a interação de instituições de ensino superior com escolas de ensino básico. O subprojeto é realizado por uma equipe de 20 bolsistas ID do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas, duas supervisoras e pelo coordenador de área Gildeci de Oliveira Leite. O objetivo é desenvolver conteúdos e metodologias que possibilitem aos alunos do ensino médio trabalhar com autores da Literatura Afrobrasileira e Afro-baiana enfatizando e resgatando a historicidade da cultura negra e suas contribuições na formação do povo brasileiro.

VIVA O POVO BRASILEIRO: ASPECTOS RELEVANTES SOBRE RELIGIOSIDADE (COM) Rosangela Santos Silva (UEFS) O presente trabalho tem como objeto central a obra Viva o povo brasileiro (1984) de João Ubaldo Ribeiro. O autor aponta traços marcantes em sua narrativa que podem ser associados a reflexos da realidade. Após mais de trezentos anos de sofrimento e lutas dos descendentes africanos, em Itaparica - BA, ainda conservam terreiros de Candomblés cujas origens remontam os tempos da escravatura. O objetivo é analisar a representação da religião afro-brasileira no romance estabelecendo comparações com performances ritualísticas na Ilha de Itaparica. Como fontes de reflexão teórica serão acionados: Elbein, Stella, Van Gennep, Gárcia-Canclini, Zumthor, dentre outros.

CANDOMBLÉ EM SALA DE AULA, POSSO FALAR DISSO? (COM) Valdomiro Ferreira dos Santos A formação religiosa na cultura brasileira tem um histórico impresso em lutas e conquistas, e os credos de matriz africana têm constituído talvez o alvo principal desse quadro divergente, estando o candomblé entre os mais expressivos. A partir das iniciativas escolares dos Jesuítas, iniciou-se o discurso religioso no Brasil, sendo o catolicismo o credo predominante. De lá para cá, outras denominações foram enriquecendo a diversidade religiosa no país, sendo deslocadas para o âmbito escolar. Porém, com o candomblé preterido às demais crenças, ou, pode-se dizer, calado na escola, contrariando o princípio cultural da religião e da diversidade como matéria de ensino e, portanto, passível de ser falado como unidade disciplinar de estudo no esboço da cultura africana no Brasil. A partir dessas considerações, este artigo objetiva discutir as possibilidades discursivas do candomblé em sala de aula, tendo em vista as barreiras discriminatórias existentes na sociedade. Trata-se de uma pesquisa teórica de análise cultural e histórica. O estudo demonstrou que o candomblé, assim como outras denominações religiosas, deve ser discutido não só em sala de aula, mas em qualquer âmbito social. Isso por direitos essenciais marcados na cultura, na sociedade, na história e no conjunto da educação.

GRUPO DE TRABALHO: “Salvador em discursos: entre a retórica e a análise do discurso” Coordenação: Gilberto Nazareno Telles Sobral (UNEB) A ESCRAVIDÃO COMO UTILIDADE PÚBLICA NO SÉCULO XVIII: EDIÇÃO E ESTUDO DA ARGUMENTAÇÃO DE UM REQUERIMENTO DA CÂMARA MUNICIPAL DA CIDADE DE SALVADOR (COM) Alan da Hora Silva (UNEB) Este trabalho apresenta uma análise argumentativa de uma correspondência enviada pela Câmara Municipal da Cidade de Salvador ao então rei de Portugal, D. João V. Nela, a Câmara se posiciona contra um requerimento que obriga os senhores de escravos locais a abolirem à prática da escravidão. Para tal fim, utilizamos como embasamento teórico a Nova Retórica de Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (1996 [1958]). O corpus deste trabalho é constituído por uma correspondência oficial do Senado da Câmara, colhida in locu, no Arquivo Municipal da Cidade de Salvador (AMS). Pelo fato de se tratarem de documentos manuscritos, o referido texto foi submetido a uma edição semidiplomática conservadora, com base nos critérios estabelecidos pela Crítica Textual.

SALVADOR DE BAHÍA: A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA CIDADE BRASILEIRA NA MÍDIA ESPANHOLA (COM) Carla Severiano de Carvalho (UNEB) O estudo forma parte do projeto de pesquisa "Salvador de Bahía: Estudo da argumentação em periódicos hispanos sobre a cidade brasileira", em fase de desenvolvimento, e investiga a construção da imagem da cidade de Salvador entre os principais formadores de opinião pública da América Latina e Espanha. Deste modo, selecionamos notícias que tratam dos aspectos culturais de Salvador - Bahia, publicadas a partir do ano de 2014, e a analisamos sob a orientação especialmente das teorias da argumentação (retórica aristotélica e nova retórica), além de outras subsidiárias (análise do discurso). Nessa perspectiva, o estudo fomenta a leitura crítica e difunde os aportes teóricos dos estudos retórico-argumentativos, através de uma pesquisa que explora as referências culturais do Brasil no gênero discursivo das notícias periodísticas.

ETHOS MIDIÁTICO EM SALVADOR: ANÁLISE DO ETHOS DISCURSIVO NO JORNAL MASSA (COM) Elias Ramos da Silva O presente trabalho tem como objetivo analisar o ethos discursivo do Jornal Massa na construção do ethos midiático em Salvador. Para a análise, tomamos como base teórica Maingueneau, Charaudeau, Perelman e Olbrechts-Tyteca. Sendo assim, estabelecemos um diálogo entre os conceitos da Análise do Discurso e da Nova Retórica como um instrumento para compreender melhor o nosso objeto de estudo. Procuramos explicitar que desde seu nascimento em 2010, o ethos midiático do Jornal Massa está ligado a uma formação discursiva sensacionalista como estratégia para persuadir o seu público. Explicitamos que o discurso sensacionalista adotado pelo Jornal Massa, gera vários efeitos de sentidos produzidos por esse gênero discursivo.

CONSTRUÇÕES DISCURSIVAS NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE SALVADOR (COM) Gilberto Nazareno T. Sobral (UNEB) Salvador é uma cidade que, devido a sua historicidade, caracteriza-se pela heterogeneidade, seja pela diversidade cultural, linguística, religiosa, ideológica, entre outros aspectos. Contemporaneamente, a cidade do Salvador destaca-se, também, por ser um pólo cultural e turístico, atraindo, anualmente, muitos turistas nacionais e estrangeiros, o que proporciona o desencadeamento de novas discursividades sobre a cidade. Neste trabalho, a partir dos pressupostos teóricos da Análise de Discurso filiada a Michel Pêcheux, analisamos a heterogeneidade significativa do discurso urbano na e sobre a cidade do Salvador, a fim de compreender os processos de significação das práticas sociais dos sujeitos nela inseridos.

ITAMAR, GAY, NEGRO, ESTUDANTE, ASSASSINADO EM UMA PRAÇA NO CENTRO DE SALVADOR, CERTAMENTE MAIS UMA VÍTIMA DO ÓDIO AOS HOMOSSEXUAIS: O CAMPO GRANDE E OS DISCURSOS Liliane Silva de Aquino Localizada no Largo do Campo Grande, a Praça Dois de Julho, também conhecida como praça do Campo Grande pulsa no coração da cidade do Salvador. Construída no século XIX, foi palco de muitos acontecimentos históricos e passou por diversas alterações para acompanhar as modificações urbanas impostas pela cidade. Nos dias atuais, além de ser um espaço de lazer e práticas esportivas, é também reduto para a diversidade turística e cultural. Adultos e jovens que buscam diversão e paquera encontram nela um ponto de encontro singular. Entretanto, outros significados passaram a circular a partir do assassinato do estudante Itamar Ferreira Souza. Encontrado morto na praça, o jovem atrelou ao Campo Grande novos sentidos: violência urbana e homofobia. Observar as condições de produção é buscar compreender, em um determinado momento histórico, o surgimento do discurso e sua forma de significar. Nesse trabalho, objetivamos analisar os discursos constituídos a respeito da praça do Campo Grande a partir do assassinato do estudante. Fundamentamos essa pesquisa na teoria metodológica da Análise do Discurso, cujos conceitos foram articulados pelo Filosofo Michael Pêcheux, na França, século XX, partindo do ponto de que é possível analisar a linguagem e seu funcionamento, atrelando-a aos contextos sócio-históricos e ideológicos.

MARCA, LUGAR E ETHOS: O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DO ETHOS DISCURSIVO DA MARCA-LUGAR NA COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA DA CIDADE DE SALVADOR (COM) Nelson Soares Pereira Junior (UFBA) Na perspectiva da Análise de Discurso, este artigo propõe a compreensão do fenômeno das marcas contemporâneas a partir dos conceitos de ethos e cena de enunciação presentes no discurso publicitário das marcas, na perspectiva de Maingueneau. Assim, o texto discute a constituição de um fiador do discurso e as relações entre o seu processo de incorporação e a adesão do leitor ao discurso das marcas, orientando a formação subgrupos sociais e a demarcação de territórios a partir do consumo simbólico das marcas na contemporaneidade. Serão utilizados, para efeito de análise, filmes publicitários da Prefeitura Municipal de Salvador, a fim de discutir o engendramento de um ethos da marca “Salvador”, no contexto do conceito de Marca-lugar, na perspectiva de Semprini – a, saber, o efeito discursivo de marca constituído por manifestações culturais diversas, dentre elas a comunicação publicitária, de cidades ou regiões geográficas.

O DISCURSO NO ESPAÇO URBANO NA CIDADE DE SALVADOR Paulo César Soares de Freitas Junior (UNEB) Neste trabalho, fruto da pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida no DCH I/UNEB, procuramos analisar a construção dos diversos discursos materializados em pichações encontradas no Campus I – Salvador, da Universidade do Estado da Bahia/UNEB. Para análise do corpus, utilizamos os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso de linha francesa filiada a Pêcheux, no qual se acredita que a linguagem possui relação com a exterioridade. Das imagens registradas no decorrer da pesquisa (2015), algumas trazem temáticas interessantes a serem debaditas, como: violência, aborto, feminismo, pacificação, entre outros. Para um estudo mais elaborado, contaremos com as noções de sujeito, discurso, formação ideológica, formação discursiva e interdiscurso, com finalidade de registrar e estudar esses diversos discursos que surgem nos muros do nosso ambiente acadêmico. As analises apresentadas nessa pesquisa teve como objetivo uma preocupação em estudar as vozes marginalizadas e materializadas nas paredes e muros da UNEB. Também buscamos discutir esses temas com o restante das pessoas que fazem parte do ambiente acadêmico. Pois acreditamos que todo discurso tem algo importante para transmitir, seja ele um artigo acadêmico ou uma pichação em muro.

ORNATUS VIEIRIANO: ENTRE O SENTIDO VERDADEIRO DAS PALAVRAS (COM) Thomaz Heverton dos Santos Pereira (UFBA) O presente texto pretende apresentar uma discussão acerca do que se pode encontrar nos textos de Vieira: o processo de construção literária e discursiva. Ou seja, um traço no discurso de padre Antonio Vieira. Esta é uma proposta de pesquisa que se desenvolve em investigação no nível de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura da UFBA. Nos textos de Antonio Vieira, sermões, cartas, entre outros, não se descartam os enviesamentos de seu discurso para a retórica. É bem verdade que o processo de construção literário se dá no autor em questão sob a forma da retórica, que está munida das variadas figuras, as quais ornam as letras vieirianas. Em muitos textos pode ser verificada uma abordagem discursiva política, religiosa, como por exemplo, no Sermão de Santa Cruz, pronunciado em 1638, na Bahia. Há, por conseguinte, um discurso que ia sendo construído em uma fonte de retórica aristotélica, cuja fundamentação, sobretudo, aconteceu sob certas nuances de uma história que se formou e se forma, além de uma base escriturística cristã, e, por conseguinte, profética. Sabendo que tais discussões acerca da obra de Vieira não se encerram, dado o seu caráter literário e sociocultural, enfim, tenta-se reaproximar gerações e tornar significativa a memória e a história nas quais são apresentadas o povo luso-brasileiro. É importante salientar que, de acordo com Coutinho (2004), foi a partir dos prosadores, dos cronistas e dos poetas do seiscentos que tivemos oportunidade de reconstruir a cultura nacional de maneira fidedigna e a história baiana.

GRUPO DE TRABALHO: “Sons, versos e sentidos na produção literária África-Bahia” Coordenação: Rafael Alexandre Gomes dos Prazeres (UNEB) e Lílian Lima Gonçalves dos Prazeres (UFES) SONS, VERSOS E SENTIDOS NA POESIA DE ANA PAULA TAVARES (COM) Lílian Lima Gonçalves dos Prazeres (UNEB) Rafael Alexandre Gomes dos Prazeres (UFES) Este trabalho visa analisar a obra November without water da escritora angolana Ana Paula Ribeiro Tavares no que tange à ética e a estética presentes no poema, entendendo como a musicalidade (melopeia) e as imagens internas (fanopeia) que o poema suscita são elementos importantes para compreensão do sentido texto. Destaca-se, ainda, o modo como a representação da cidade inscrita no poema pode ser visualizada nas veredas de Salvador, a partir de algumas fotografias de Pierre Verger. Para tanto, há uma breve biografia da escritora a fim de apresenta-la aos leitores e disseminar a literatura feminina de angola no Brasil. Como suporte teórico, vê-se a contribuição de Suassuna (2008) sobre a ética e estética na arte, Pound (2006) a respeito das características da poesia, Travaglia (1986) e Nitrini (2000); no que se refere à literatura comparada, Lerma (2010), Martín (2013) para tratar da literatura feminina, dentre outros.

IDENTIDADE E ANCESTRALIDADE AFRICANAS NA MÚSICA MANDUME DO RAPPER BRASILEIRO EMICIDA (COM) Tamires de Lima Sousa Santos (UNEB) Neste trabalho fazemos uma Análise Crítica de Discurso (ACD), seguindo proposta metodológica de Teun Van Dijk (1997) da música?Mandume, do disco do rapper paulista Emicida: Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, lançado em agosto de 2015, com o propósito de identificar e conhecer como Emicida verbaliza, através do gênero musical Rap, a sua identidade ancestral e sua produção literária. Cabe destacar que para essa música Emicida teve, como parceiros, mais cinco rappers – e recorreu a uma variedade de elementos das culturas negras brasileiras e africanas, mostrando, segundo Stuart Hall (2002), deslocamentos e fragmentações de sua identidade, unindo culturas brasileiras a africanas. Nesse artigo também contamos com o apoio de Paul Zumthor (2010), Martin Bauer (2002), Ecio Salles (2007), e Deleuze e Guattari (1975) sobre rap e literatura. Na música analisada, Emicida e seus parceiros tecem comentários e críticas ácidas sobre a escravização do povo africano, o racismo, violência policial, exclusões de ordem religiosa, social e econômica. A partir da identificação do discurso deste músico, acreditamos que alcançaremos nossos propósitos de tornar mais explícita a forma como Emicida, através do gênero musical rap, amalgama seu estilo poético e o seu jeito pessoal de protestar contra as desigualdades. Ora extremamente agressivo, visceral, ora suave, romântico. Esse disco é fruto de sua recente viagem a países africanos de língua portuguesa: Cabo Verde e Angola e o título da música, Mandume, é uma referência ao nome de um rei do país hoje chamado de Namíbia.

GRUPO DE TRABALHO: “Vozes negras nas literaturas de língua espanhola” Coordenação: Amarino Queiroz (UFRN), Liliam Ramos da Silva e Wodisney Cordeiro (UNEB) DONATO NDONGO- BIDYOGO, FRANCISCO ZAMORA LOBOCH E JUAN TOMÁS ÁVILA LAUREL: TRÊS VOZES HISPANO-AFRICANAS DA GUINÉ EQUATORIAL (COM) Amarino Oliveira de Queiroz (UFRN) A experiência literária escrita em língua espanhola a partir da perspectiva equatoguineana encontra destaque em alguns aspectos que lhe são bastante peculiares, dentre os quais referiríamos a simbiose entre as culturas bantas e a ibérica, o vínculo estabelecido entre a oralidade e a escritura, o labor com a memória e sua recriação ficcional e poética ou, ainda, a problemática da ditadura, da diáspora e do exílio. A designação hispano-negro-africana, por muito tempo utilizada para classificar essa literatura subsaariana em particular, aparece aqui como elemento de distinção frente à ideia de uma literatura afro-hispânica mais amplamente assimilada, pois, de acordo com a caracterização pretendida por Jorge SALVO (2003), o hispano-negro-africano, ou hispano-africano compreenderia, em linhas gerais, o recorte cultural expresso em língua espanhola a partir da Guiné Equatorial, diferenciando-se da etiqueta afrohispânica pelo fato de que esta última se aplicaria a princípio, e mais especificamente, às experiências culturais e literárias desenvolvidas pelos povos afrodescendentes no âmbito da América de colonização espanhola. Assim, através da leitura crítica de textos assinados por Donato Ndongo-Bidyogo, Francisco Zamora Loboch e Juan Tomás Ávila Laurel, o presente artigo busca dar algum relevo à inserção estética das letras hispano-africanas dentro do conjunto maior representado pelas literaturas de língua espanhola.

ABDIAS DO NASCIMENTO Y MANUEL ZAPATA OLIVELLA: INTELECTUALES AFROLATINOS Y LA DISCURSIVIDAD ANCESTRAL YORUBA Y BANTÚ (COM) Denilson Lima Santos (Universidad de Antioquia) La literatura afrolatinoamericana es una buena herramienta para repensar la presencia de las culturas yorubas y bantúes en las sociedades de América Latina. En este sentido planteamos en esta ponencia que las tradiciones africanas aparecen reelaboradas en la escritura literaria con propósitos políticos particulares, en especial como parte del reconocimiento del aporte africano a las naciones del continente. La herencia africana ocupa un lugar de relieve en la religiosidad, la culinaria, el deporte y, por supuesto, en la literatura. Ejemplo de esta singular manera de entender a América Latina son las obras de Abdias do Nascimento (1914-2011), Sortilegio II: mistério negro de Zumbi redivivo (1973) y de Manuel Zapata Olivella (1920-2004), Changó, el gran putas (1983). Los autores recrean las tradiciones yorubas y bantúes, partiendo de un proyecto estético con fines sociales. La escritura afro en este sentido se plantea como un delito, es decir, una violación de lo establecido como normal y oficial. En conclusión, podremos percibir como las demandas culturales del siglo XX estuvieron presentes en la producción artística de los escritores afros y fueron utilizadas como un confronto estratégico para visibilizar la episteme africana recreada en las Américas con fines estéticos y políticos.

VOZES NEGRAS NA LITERATURA CUBANA: REPRESENTAÇÕES DA MEMÓRIA COMO EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA (COM) Eidson Miguel da Silva Marcos (UFRN) No tocante à discussão em torno das identidades situadas à margem da História hispano-americana oficial, faz-se necessário repensar o processo de formação sociocultural que remete à chegada do colonizador europeu ao Novo Mundo e seu contato com os povos originários do continente, realçando nesse debate a efetiva participação dos negros africanos cooptados para o trabalho escravo. Durante séculos, essa discussão se desenvolveu a partir de um viés eurocêntrico, cristalizando leituras do contexto americano oriundas de um único ponto de vista, o do chamado “vencedor”. Nesse sentido, a literatura constitui um espaço onde a memória e a experiência dos “vencidos” também ganham lugar e voz, tanto sob a perspectiva autoral como a partir das próprias representações inscritas no corpo narrativo. No presente trabalho, portanto, investiremos numa breve leitura de obras literárias hispano-americanas recortadas da produção cubana em particular, a exemplo de Cecília Valdes, de Cirilo Villaverde e Memórias de um Cimarrón, de Miguel Barnet, procurando destacar vozes narrativas que evidenciem a experiência social, histórica e cultural de alteridades pouco visibilizadas ao longo dessa trajetória, mas igualmente conformadoras das identidades hispano-americanas como um todo.

REPRESENTAÇÃO, REPRESENTAÇÕES: UM ESTUDO COMPARATIVO DE IMAGENS DE ESCRAVIZADAS EM TEXTUALIDADES PRODUZIDAS NO BRASIL E EM PORTO-RICO (COM) Rejane Sousa dos Anjos (UFBA) Este trabalho objetiva examinar exemplares da literatura brasileira e porto-riquenha, com vistas à análise dos modos como são representadas as mulheres negras escravizadas em discursos poéticos e narrativos. O curpus selecionado é constituído pelos romances "As vítimas algozes" do brasileiro Joaquim Manoel de Macedo e "Fe en disfraz" da escritora porto-riquenha Mayra Santos Febres; sendo este último meu objeto de estudo na pesquisa de mestrado que se encontra em fase inicial de desenvolvimento. Para desenvolvimento desta proposta, dialogarei com alguns proposições da Teoria da Literatura, da Literatura Comparada e dos Estudos Culturais. Partindo do pressuposto de que o lugar de enunciação define toda produção discursiva, asseguro que as imagens produzidas por Macedo – por estarem comprometidas com o discurso hegemônico na tradição ocidental – reiteram uma série de estereótipos acerca das escravizadas ao apresentá-las como extremamente sexualizadas, histéricas sexuais, lascivas etc. No entanto, negras/os têm-se apropriado do sistema de representação e produzido narrativas outras, díspares das que circulam na hegemonicamente na tradição literária. Santos-Febres – uma escritora comprometida em fornecer imagens positivas de negras/os e suas histórias/memórias – engajou-se na luta por fissurar, rasurar os discursos hegemônicos redutores e estereotipantes, representando as escravizadas como sujeitos que lutaram com as armas que dispunham para por fim às violências sofridas.

A PERTINÊNCIA DA LITERATURA AFRO-HISPANO-AMERICANA E A REPRESENTAÇÃO DE “JUYUNGO”, DE ADALBERTO ORTÍZ (COM) Rogério Mendes (UFRN) A pouca visibilidade da contribuição africana nos estudos literários hispanoamericanos resulta no distanciamento de conhecimentos necessários para compreender o caráter multiconstitutivo do espaço mestiço latino-americano. Aprofundar as diretrizes de estudos sobre Literatura e Etnia aqui, na perspectiva decolonial, ultrapassa o sentido reivindicatório sugerido pelos Estudos Culturais, quase sempre articulado a partir da perspectiva de subalternidade (BEVERLEY, 2004), para inclui-la como representação válida no exercício democrático de redes que oportunizam o conhecimento de particularidades ignoradas. O objetivo da proposta da comunicação visa, então, substituir o que Dussel (1997) chama de “práxis racional da violência” dos cânones por propostas interessadas em redefinir a ideia de expansão de fronteiras culturais onde a contribuição africana na América Espanhola estaria mais visível por meio de sua literatura. Nesse sentido, o fundamento da novela “Juyungo”, do escritor equatoriano Adalberto Ortíz, revela-se oportuno por construir, pela primeira vez na tradição cultural afro-equatoriana, um universo literário que chama a atenção para áreas historicamente negligenciadas. Principalmente ao propor um diálogo intercultural entre negros, índios, mestiços e brancos a partir da ótica e ascensão de consciência de um negro que vive e observa a reação de uma casta social predominante.

ENTRE CRUZES E SILÊNCIO, ANNOBÓN: METÁFORA DE UM POVO ESQUECIDO (COM) Wodisney Cordeiro dos Santos (UNEB) Nas últimas duas décadas a literatura de Guiné Equatorial tem se apresentado como um contradiscurso, numa tentativa de minimizar os obstáculos, políticos, sociais, econômicos e culturais criados pela ditadura. Escritores divergentes da administração política atual se exilaram, a fim de se manterem vivos e escrevendo. Contudo, há aqueles que resistem em sair do país. Um deles é Juan Tomás Ávila Laurel. Autor de poemas, contos, ensaios e romances, é neste último que ele externa as angústias vividas por uma sociedade há muito silenciada. Em seu romance "Arde el monte de noche", Ávila Laurel, denuncia uma sociedade abandonada, deixada à própria sorte, isolada. No romance, Annobón, importante ilha do Atlântico, é retratada como um lugar esquecido, abandonado, silenciado. Tal isolamento propicia que atrocidades sejam cometidas sem a interferência dos de "fora". A obra de Ávila Laurel, então, se constitui numa metáfora, em um diálogo entre os que não tem voz e assim, estão abandonados, esquecidos e aqueles que precisam saber. A obra permite ultrapassar as barreiras impostas pelo cerceamento da liberdade de expressão e nos revela uma cultura diferente, porém com conflitos tão universais. Sendo assim, através do olhar literário, é possível melhor compreender o processo de colonização e descolonização de Guiné Equatorial, uma vez que o romance convida o leitor a conhecer um mundo que ainda se mantém fechado, mas que urge ser desvelado.

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