Referências Básicas para Análise de Relato Pessoal de Experiência Vivida

June 20, 2017 | Autor: Kátia Brakling | Categoria: Ensino Língua Portuguesa
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REFERÊNCIAS BÁSICAS PARA ANÁLISE DE RELATOS DE EXPERIÊNCIAS VIVIDAS1 Kátia Lomba Bräkling2 (out/2008)

A – CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO RELATO PESSOAL DE EXPERIÊNCIAS VIVIDAS RELATO DE EXPERIÊNCIA VIVIDA: CARACTERÍSTICAS GERAIS CLASSIFICAÇÃO DOLZ E SCHNEUWLY 3 DOMÍNIO SOCIAL DA COMUNICAÇÃO CAPACIDADES DE LINGUAGEM DOMINANTES ASPECTOS TIPOLÓGICOS PREDOMINANTES

Memorização e documentação de ações humanas. Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. Relatar.

A SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO

PRODUTOR DO TEXTO

Uma pessoa – ou um grupo - que relata fatos vivenciados por ela (individualmente ou não), a fim de compartilhar experiências ou para organizar registros que organizem a memória de aspectos da vida relacionados com situações específicas, tempos e temas determinados.

INTERLOCUTOR

Leitores que se interessarem pelo compartilhamento das experiências em questão.

PORTADORES POSSÍVEIS

Livros, revistas, blogues, diários, memoriais, dossiês.

FINALIDADE

Construir uma memória escrita de situações vivenciadas, compartilhando experiências vividas. CONTEÚDO TEMÁTICO

Situações vivenciadas por uma pessoa (individualmente ou não), relacionadas com períodos específicos da sua vida (infância, adolescência, férias na escola, segundo ano de escolaridade...), espaços determinados (acontecimentos ocorridos no sítio, tempo de residência no interior, tempo 1

Publicado em: SEE de SP. Manual para Avaliação das Redações do SARESP 2008 e 2009. São Paulo (SP): 2008 e 2009. 2

Kátia Lomba Bräkling Pedagoga e Mestre em Lingüística Aplicada pela PUC de SP; Professora da Pós-Graduação ISE Vera Cruz (São Paulo – SP); Assessora da Secretaria Estadual de Educação – e outras instituições - na Área de Ensino da Linguagem.

3

A partir da classificação de Dolz, Joaquim & Schneuwly, Bernard; Gêneros e Progressão em Expressão Oral e escrita; Universidade de Genebra, Suíça; mimeo.

vivido na cidade grande, tempo de vida num apartamento), temas pontuais (travessuras, situações engraçadas, situações tristes, momentos de medo, demonstrações de amizade, situações de bullling, p. e.).

ORGANIZAÇÃO INTERNA

a) Contextualização inicial do relato, identificando tema/espaço/período. b) Identificação do relator como sujeito das ações relatadas e experiências vivenciadas. c) Referência à(s) ação(ões)/situação(ões) que será(ão) relatada(s). d) Apresentação das ações seqüenciando-as temporalmente, estabelecendo relação com o tema/espaço/período focalizado no texto, explicitando sensações, sentimentos, emoções provocados pelas experiências. Nesse processo poderá ou não ser estabelecida relação de causalidade entre as ações/fatos relatados, pois se trata de ações acontecidas no domínio do real e, dessa maneira, o que define a relação de causalidade são os fatos, em si, ou a perspectiva/compreensão do relator. e) Encerramento, pontuando os sentimentos, efeitos, repercussões das ações relatadas na vida do relator e dos envolvidos. f)

A experiência vivenciada por uma pessoa, pode envolver terceiros, o que pode derivar na introdução das vozes desse terceiro no relato elaborado. MARCAS LINGÜÍSTICAS

a) Relato de experiência vivida é organizado na primeira pessoa, seja do singular ou do plural. Essa marca de autoria se revela na pessoa do verbo e, além disso, nos pronomes pessoais utilizados. Por exemplo:

a. Lembro-me bem da maneira como ele me falou; b. A partir de então, todos nós passamos a não mais ir pra escola por aquele

caminho;

c. Eu, Juca e Mariela, a partir daquele momento, nos coçamos de curiosidade...; d. Desde então nos sentimos responsáveis por tudo o que...; b) O relato rememora experiências. Dessa forma, na textualização sempre haverá marcas desse processo por meio da alternância entre hoje e ontem, aqui e lá: a. Hoje, quando penso na maneira como tudo aconteceu...; b. Naquela época, quando estudava na escola D. João VI, eu não pensava como

agora, certo?

c) Como se trata de ações organizadas no eixo temporal, essas marcas também serão explicitadas por meio dos tempos verbais utilizados e dos articuladores textuais: a. Depois daquele dia...; b. Em seguida, MAriela saiu correndo pela praça...;

c. Naquela semana não dissemos uma palavra sobre o assunto; d. Dois dias depois para nossa surpresa, o casaco apareceu bem diante de nossos

olhos.

d) Como se trata de experiência pessoal, sempre haverá a marca das sensações, efeitos, repercussões da experiência no sujeito relator: fiquei surpreso naquele...; decepcioneime com...; fiquei confuso com a reação de...; aquela situação provocou-me uma reflexão sem precedentes..., por exemplo. e) As experiências relatadas acontecem em um contexto que pode ou não envolver terceiros. Nessa perspectiva, é possível que, no texto, sejam introduzidas as vozes desses terceiros, quer seja por meio do discurso indireto, quer seja por meio de discurso direto. Se houver essa introdução, as marcas da mesma comporão o texto com a utilização dos recursos cabíveis: a. em discurso indireto, organização sintática que recupere a fala do outro: fulano afirmou que...; naquele momento Marina disse que... , por exemplo; b. em discurso direto: i. coordenação entre dois pontos, parágrafo e travessão; ii. coordenação entre dois pontos e aspas; iii. coordenação entre dois pontos e travessão; iv. utilização de verbos dicendi: 1. antecipadamente, para anunciar a fala do outro: Então, ele me perguntou: — Posso levar esse livro emprestado?; Em seguida, ele disse: — Acho que, agora, você pisou mesmo na bola...; Ao

que ele me respondeu: — Vamos lá! Não estou fazendo nada mesmo .., por exemplo;

2. no meio do discurso do outro, explicando quem está falando (e aqui se utiliza os travessões para separar essa indicação: — Nesse

momento – disse Maria procurando justificar-se – não posso ir até o mercado...;

3. posteriormente ao discurso do outro, para recuperar a origem da fala: — Peço-te segredo disso tudo, está bem? – solicitou Jorge

misterioso.

f) Pode haver marcas do diálogo do relator com o interlocutor. Nesse sentido, poderão aparecer pronomes pessoais e de tratamento para explicitar essa relação. Por exemplo: a. Você quer saber? A partir daquele dia não me interessei mais por casas

abandonadas...;

b. Mas depois desse grito – pode acreditar – fiquei muito mais aliviado.

A – ANÁLISE DE RELATOS PESSOAIS DE EXPERIÊNCIAS VIVIDAS4 OBSERVAÇÃO INICIAL Os textos analisados a seguir foram enviados pelas escolas da Rede Estadual de Ensino, em 2008. Foram produzidos por alunos de 4ª série e selecionados de modo a atender expectativas relacionadas à formação, orientação e esclarecimento dos profissionais da Rede a respeito de quais aspectos considerar no processo de análise e avaliação dos relatos de experiência vivida a serem produzidos no processo de avaliação estadual. TEXTO 1 Passeio ao zoológico

Eu fui passear ao zoologico, foi muito legal. Quando entramos no ônibus, fizemos muita bagunça eu e minhas amigas Jéssica, Karina e outras. Chegando lá, o primeiro que vimos foi a coruja depois os viados, dromedários, leões e muito mais. Paramos para almoçar cada um tinha o seu próprio lanchinho. E as professoras que nos levavam eram Zuleide e Cleonice. Elas foram muito legais com a gente. Lá no meio daquela confusão eu e a Jéssica nos perdemos duas vezes, mais nada de muito sério. Rapidinho nos encontramos com a professora, ela nem percebeu. Depois eu e a Jéssica, Samanta e Valéria fomos andar de trenzinho era R$3,00, que caro, não é. A gente foi 8:00hs, chegamos a zoologico 10:00hs, voltamos de lá 3:00hs, chegamos na escola 5:00hs da tarde, esse passeio aconteceu 03/10/08. Foi uma viagem muito divertida espero que todos gostem. Beijos Marjory. (Marjory, 10 anos) PROPOSTA DE PRODUÇÃO Após a realização de leituras de relatos de experiências pessoais de bons autores, a professora solicitou que as crianças escrevessem um relato, a partir da seguinte 4

Publicado em: SEE de SP. Manual para Avaliação das Redações do SARESP 2008 e 2009. São Paulo (SP): 2008 e 2009.

consigna: Escrevam uma experiência que vocês viveram, algo que foi importante para vocês. ANÁLISE DO TEXTO PRODUZIDO I – Adequação ao Contexto de Produção Considerando que a consigna não define interlocutor para o texto, sua finalidade, o portador de publicação ou o lugar de circulação, o que se pode analisar no que diz respeito a esse aspecto é se o texto está adequado às características do gênero, o relato de experiência vivida. Sendo assim, vamos à análise da adequação do texto à organização composicional requerida, aos aspectos relativos à textualidade, propriamente, e aos respectivos à utilização da variedade padrão na escrita. II e III – Adequação à Organização Composicional e Aspectos relativos à Textualidade. O texto apresenta uma contextualização da experiência que será relatada, ainda que esta se encontre dispersa nos parágrafos 1º e 7º. No 1º é apresentado o local e, no 7º, a data e o horário da saída e chegada. O texto é elaborado em primeira pessoa do discurso, ora 1ª do singular, ora do plural, conforme a necessidade dos fatos relatados, que incluem terceiros na participação. Uma ocorrência de 3ª do singular (7º parágrafo), é perfeitamente justificável do ponto de vista semântico. Dessa forma, podemos dizer que essa organização possibilita que o relator seja identificado como sujeito das experiências apresentadas, conforme é característica fundamental do gênero. Outro recurso utilizado no texto que colabora para a compreensão de que o relato é, de fato, de experiência vivida, é a apresentação da data e horários de realização do passeio, incluindo-se horários de saída e chegadas — parágrafo 7º: “A

gente foi 8:00hs, chegamos a zoologico 10:00hs, voltamos de lá 3:00hs, chegamos na escola 5:00hs da tarde, esse passeio aconteceu 03/10/08”. — os quais conferem ao relato a impressão de veracidade. O discurso é organizado no pretérito — o que marca as situações acontecidas e, portanto, a referência ao passado: “Eu fui passear”; “Quando entramos”; “fizemos muita bagunça; “Paramos para almoçar”; “fomos andar de trenzinho”, são exemplos dessa marca. Os episódios relatados encontram-se organizados em um eixo temporal claro, ainda que haja a inadequação referida acima, no que se refere à contextualização inicial. No entanto, é possível interpretar que o texto, dentro do critério utilizado para organizar esse parágrafo, agrupou dados relativos a informações de localização temporal específica do evento principal em um único segmento do texto. As marcas dessa organização temporal estão localizadas na seqüenciação progressiva dos episódios, o que é garantido, em especial, pela utilização dos

articuladores temporais, todos utilizados de maneira adequada:“Quando entramos no ônibus...”; “Chegando lá, o...” “Depois eu e a Jéssica...” . O texto apresenta, ainda, referências aos efeitos que as experiências provocaram no relator, como podem exemplificar as expressões: “foi muito legal” (1º parágrafo); “fizemos muita bagunça” (1º parágrafo, expressão que, colocada em seguida da anterior, explica a apreciação realizada — fazer bagunça pode ter sido um dos aspectos que conferiu ao passeio uma apreciação positiva); “Elas foram muito legais” (parágrafo 4º — referindo-se à apreciação que tiveram a respeito da relação das professoras com os alunos e, portanto, com a relatora.); “mas nada de muito sério”, “rapidinho”; “e elas nem perceberam” (5º parágrafo — referindo-se ao episódio da perda das alunas dos demais colegas do grupo e de como conseguiram resolver a situação); “que caro, não é” (6º parágrafo — referindo-se ao preço do passeio realizado em um dos recursos do parque); “foi uma viagem muito divertida” (8º parágrafo — apresentando a avaliação final da relatora), e “espero que todos gostem” (8º parágrafo). Essa última citação merece atenção especial, pois o emprego do tempo verbal no final da frase parece deixar o enunciado um tanto quanto ambíguo: a intenção pode ter sido dirigir-se ao leitor como seu interlocutor, ou, então, pode ter havido um equívoco no emprego do verbo. No primeiro caso, o enunciado pode ser lido como “(...) espero que todos [os leitores] gostem [deste relato]” e, no segundo, como “(...) espero que todos [os colegas] tenham gostado [do passeio].”. De qualquer maneira, uma expectativa de apreciação está apresentada, seja sobre o relato, seja sobre o passeio. No 8º parágrafo, organizado nesse conforme exposto mais adequado às expressão “Beijos cartas.

a autora apresenta adequadamente — como requer um texto gênero — uma apreciação geral sobre a experiência, acima. Deveria ser este o encerramento do texto, para torná-lo características do gênero. No entanto, a autora o encerra com a Marjory” — sem o emprego da vírgula —típica de bilhetes e

O texto também apresenta — como é freqüente em relatos de experiência vivida — a apresentação de referências ao leitor. Além da que foi referida acima (presente no último parágrafo), também encontramos a já citada expressão “que caro não é” (6º parágrafo), a qual também já analisamos. O texto organiza-se em parágrafos, organizados de acordo com um critério muito claro: o agrupamento, em cada um, de sub-episódios constitutivos do episodio principal, o passeio, intercalado com parágrafos de apreciações da relatora. Assim, temos: a) no 1º parágrafo: apresentação inicial e episódio inicial: entrada no ônibus; b) no 2º parágrafo: visita aos animais; c) no 3º parágrafo: parada pra almoço; d) no 4º parágrafo: comentário sobre professoras;

e) no 5º parágrafo: a perda das alunas em relação aos demais colegas do grupo; f) no 6º parágrafo:o passeio de trenzinho; g) no 7º parágrafo: o tempo de duração do passeio; h) no 8º parágrafo: apreciação final do passeio relatado. Do ponto de vista da utilização dos recursos de coesão referencial, pode-se observar que o texto utiliza recursos de apresentar posteriormente o referente em relação a dêiticos introduzidos como, por exemplo, em “Quando [nós] entramos

no ônibus, [nós] fizemos muita bagunça eu e minhas amigas Jéssica, Karina e outras.”, quando o texto introduz, por elipse, o pronome nós — inferido a partir da

pessoa do verbo — para o qual não há referência no período anterior, organizado em primeira pessoa do singular — e, só posteriormente indica a que o nós se refere: à relatora e suas amigas. Vale a pena ressaltar que este é um recurso sofisticado de coesão referencial, considerando o autor do texto e seu momento do processo de aprendizagem. Utiliza com certa freqüência a elipse do pronome da pessoa verbal como se pode observar em: “Paramos para almoçar” — 3º parágrafo; “(...) o primeiro que vimos” — 2º parágrafo. Além disso, emprega, adequadamente, pronomes do caso oblíquo: “(...) as professoras que nos levaram” (4º parágrafo); “(...) nos perdemos duas vezes” e “Rapidinho nos encontramos (...)” — (5º parágrafo). O mesmo acontece em relação ao recurso de substituição, utilizado, por exemplo, o pronome pessoal em “Elas foram muito legais com a gente” (4º parágrafo), referindo-se às professoras, citadas anteriormente. IV – Aspectos relativos à utilização da variedade padrão O texto encontra-se elaborado de modo a utilizar a variedade padrão da linguagem, apresentando um registro mais informal — adequado a um suposto contexto de produção que, quando não explicitado na consigna d atividade, passa a ser o contexto da situação social na qual a atividade se desenvolve mesmo, ou seja, o contexto escolar: escreve-se para a professora e para os colegas, supondo-se que estes ou ouvirão a leitura dos textos depois, ou os lerão em uma exposição em mural, por exemplo —, como sugerem as seguintes expressões: “muito legal” (1º parágrafo); “bagunça” (1º parágrafo); “lanchinho” (3º parágrafo); “muito legais” (4º parágrafo); “rapidinho” (5º parágrafo); “com a gente” (4º parágrafo); “A gente” (7º parágrafo). Do ponto de vista da concordância nominal e verbal, o texto encontra-se, na grande maioria das vezes, adequado. A exceção é o 7º parágrafo — “A gente foi

8:00hs, chegamos a zoologico 10:00hs, voltamos de lá 3:00hs, chegamos na escola” — o qual é iniciado em 3ª pessoa e, em seguida, nas orações seguintes, é a 1ª pessoa do plural que aparece no verbo.

No que se refere à regência verbal, há algumas inadequações, como sugerem os seguintes trechos: “passear ao zoológico” (1º parágrafo); “A gente foi [às] 8:00hs, chegamos a zoologico 10:00hs, voltamos de lá [às] 3:00hs, chegamos na escola

[às] 5:00hs da tarde, esse passeio aconteceu [em] 03/10/08” (7º parágrafo), no qual acontecem omissões das preposições às e em. No uso de articuladores que não os temporais, há um emprego equivocado de mais, ao invés de mas, no 5º parágrafo, o que pode ter ocorrido em conseqüência de uma referência baseada na pronúncia oral da palavra. Além disso, na organização dos enunciados, acontecem algumas omissões como em “Chegando lá, o primeiro [omissão] que vimos foi a coruja depois os viados, dromedários, leões e muito mais.”, que pode ser preenchida, considerando o artigo, tanto por animais, quanto por bichos, por exemplo, ou outros hiperônimos correlatos, adequados ao registro empregado no texto. A outra ocorrência encontra-se em “Depois eu e a Jéssica, Samanta e Valéria fomos andar de trenzinho [o preço] era R$3,00, que caro, não é.” Isso também pode ser explicado por um suposto apoio na linguagem oral, no qual essa expressão é costumeira em muitas variedades. No que se refere à pontuação, pode-se perceber que utiliza a pontuação final com regularidade empregando, sistematicamente, o ponto final, especificamente, para terminar todos os períodos organizados, e não os de exclamação ou reticências (cabíveis, por exemplo, no 5º parágrafo, ou mesmo no 8º), ou, ainda, de interrogação, necessário no 6º parágrafo, em “que caro, não é”. Utiliza a vírgula razoavelmente em enumerações, como se pode verificar em “fizemos muita bagunça eu e minhas amigas Jéssica, Karina e outras” (1º parágrafo); “Chegando lá, o primeiro que vimos foi a coruja [omissão] depois os viados, dromedários, leões e muito mais.” (2º parágrafo); “Depois eu e a Jéssica, Samanta e Valéria fomos andar de trenzinho” (6º parágrafo); “A gente foi 8:00hs,

chegamos a zoologico 10:00hs, voltamos de lá 3:00hs, chegamos na escola 5:00hs da tarde” (7º parágrafo). Além disso, também utiliza a vírgula depois de articuladores textuais (de tempo, em especial) — “Quando entramos no ônibus, fizemos” (1º parágrafo); “Chegando lá, o primeiro” (2º parágrafo) — embora isso não aconteça de maneira regular, como se pode observar em “depois [omissão] os viados” (2º parágrafo); “Lá no meio daquela confusão [omissão] eu e a (...)” (parágrafo 5º); Há pequenas questões relativas à: a) organização dos enunciados, sem a pontuação adequada “Paramos para almoçar [pontuação ausente] cada um tinha o seu próprio lanchinho” (3º parágrafo); “Rapidinho nos encontramos com a professora,[pontuação inadequada] ela nem percebeu.” (5º parágrafo); “Depois eu e a Jéssica, Samanta e Valéria fomos andar de trenzinho [ausência de pontuação] era R$3,00, [pontuação poderia ser mais adequada] que caro, não é.” (6º parágrafo); b) ortografia: viado (2º parágrafo); c) acentuação: zoologico (1º e 7º parágrafo), embora ônibus — que também é uma proparoxítona — esteja acentuada.

AVALIAÇÃO GERAL DO TEXTO Considerando a análise acima, e relacionando-a com os critérios definidos, podemos incluir o texto na categoria de BOM, tendo sido definidores dessa conceituação: a) pequeno deslize na apresentação inicial do relato; b) apresentação de fórmula de despedida, típica de outro gênero; c) pequena incoerência da ordem de apresentação de informações (data de realização do evento e horário de início), embora haja justificativa para a textualização apresentada; d) organização dos períodos, algumas vezes sem a pontuação que os organizasse de maneira mais adequada (ou dividindo-os em dois, ou reorganizando-os por meio de vírgula ou ponto e vírgula); e) aspectos relativos à pontuação medial; f) regência verbal inadequada; g) pessoa do verbo inadequada em um parágrafo, provocando incorreção de concordância verbal.

TEXTO 2

Dançando balé Quando eu tinha quatro anos já sabia o que queria ser quando crescer. Eu ganhei de batizado do meu pai um vestidinho branco, rosa e com detalhes verdes, era muito bonito, mas me batizei cedo então obveamente quando fiz quatro o vestido ficou muito pequeno. Mesmo com o vestido não me servindo mais, eu colocava, era tão pequeno que os babados ficavam acima dos joelhos e assim ficava parecido com um vestido de bailarina, a única era que elas usam meia rosa por baixo e uma sapatilha, mas eu nem ligava, quando tocava qualquer música eu dançava com o vestido. Mais tarde já com sete anos falei para minha mãe que gostaria de ter aulas de balé, mas isso eu nem precisava falar minha família já sabia que eu adorava balé. Então minha mãe já ficou atenta a qualquer informação até que um dia ficamos sabendo que no centro da cidade na biblioteca o centro cultural de Suzano tinha o que precisávamos, e quando isso aconteceu eu já tinha sete anos.

Quando fiz oito, minha mãe foi tentar fazer minha escrição tinha que ser cedo se não a fila crescia... e quando chegasse a vez dela as escrições já haveriam acabado. Minha mãe fez o possível, mas as vagas acabaram e a gente teve que se conformar e esperar o ano seguinte. Já no outro ano quando eu tinha nove anos, assim que minha mãe me deixou na escola correu para lá e desta vez ela conseguiu. Hoje eu faço balé a dois anos já me apresentei quatro vezes e minha professora está montando mais uma coreografia para o fim do ano, lá tenha várias amigas e mesmo com o balé sendo uma dança diciplinada a gente brinca muito e se diverte, eu amo dançar balé. (Jéssica, 10 anos) PROPOSTA DE PRODUÇÃO Da mesma forma que para a produção do Texto 1, após a realização de leituras de relatos de experiências pessoais de bons autores, a professora solicitou que as crianças escrevessem um relato, a partir da seguinte consigna: Escrevam uma experiência que vocês viveram, algo que foi importante para vocês. ANÁLISE DO TEXTO PRODUZIDO I – Adequação ao Contexto de Produção As considerações são as mesmas realizadas para o texto anterior. Como a consigna não define interlocutor para o texto, sua finalidade, o portador de publicação ou o lugar de circulação, o que se pode analisar no que diz respeito a esse aspecto é se o texto está adequado às características do gênero, o relato de experiência vivida. Sendo assim, vamos à análise da adequação do texto à organização composicional requerida, aos aspectos relativos à textualidade, propriamente, e aos respectivos à utilização da variedade padrão na escrita. II e III – Adequação à Organização Composicional e Aspectos relativos à Textualidade. O texto começa com a apresentação de uma situação inicial do relato — “Quando eu tinha quatro anos já sabia o que queria ser quando crescer.” (1º parágrafo) —, a qual é a condição para compreensão de todas as situações relatadas posteriormente: toda a sina da aluna para conseguir estudar balé. O 2º e 3º parágrafos detalham essa situação inicial, procurando explicar as atitudes da relatora que justificam a afirmação feita a respeito de ela saber o que queria desde os 4 anos de idade. Dessa forma, a referência inicial ao tema fundamental

das experiências que serão relatadas é oferecida nos três parágrafos iniciais do texto, de maneira bastante clara. É organizado em primeira pessoa do singular, como demonstram os seguintes trechos, entre outros:“eu tinha“ (1º parágrafo); “eu ganhei” (2º parágrafo); “não me servindo mais” (3º parágrafo); “mas isso eu nem precisava falar” (4º parágrafo); “quando fiz oito anos” (8º parágrafo). No entanto, como o relato envolve a presença de terceiros — em especial a mãe da relatora — há deslizamentos para a 1ª pessoa do plural (como em “(...) um dia ficamos sabendo” — 5º parágrafo), 3ª pessoa do singular (como em “Então minha mãe já ficou atenta” — 5º parágrafo; “(...) e a gente teve que se conformar” — 7º parágrafo), perfeita e adequadamente articuladas à pessoa principal do discurso. Esse recurso garante que o texto se organize de maneira a que a relatora seja compreendida pelo interlocutor como sujeito das experiências relatadas, como requer a um texto organizado no gênero em questão. Os episódios são relatados em uma seqüência temporal crescente — como requer o gênero — organizando situações vividas pela relatora dos 4 anos de idade aos dias atuais, o que deixa bastante clara a progressão do tempo. A coerência e a coesão da seqüência é garantida pela utilização adequada de articuladores textuais de tempo, como por exemplo: “Quando eu tinha quatro anos (...)” (1º parágrafo); “Mais tarde já com sete anos (...)” (4º parágrafo); “Quando fiz oito (...)”(6º parágrafo); “Já no outro ano, quando (...)” (8º parágrafo); “Hoje, eu faço balé há dois anos(...)” (9º parágrafo). O texto apresenta, também, apreciações reiteradas dos efeitos de cada episódio na vida da relatora, possibilitando a construção da significação geral das experiências relatadas para a mesma. São exemplos dessas referências: a) “Mesmo com o vestido não em servido mais, eu colocava” (2º parágrafo) que demonstra o apreço da relatora pelo vestido e a relação com o seu desejo de ser bailarina; b) “(...) mas eu nem ligava, quando tocava qualquer música eu dançava com o vestido.” (3º parágrafo), mais um recurso para demonstrar o apreço da relatora pelo vestido; c) “(...) mas isso eu nem precisava falar minha família já sabia que eu adorava balé.” (4º parágrafo); d) “e a gente teve que se conformar e esperar o ano seguinte.” (7º parágrafo), demonstrando a decepção de mãe e relatora sobre o episódio relatado; e) “(...) mesmo com o balé sendo uma dança diciplinada a gente brinca muito e se diverte, eu amo dançar balé.” (9º parágrafo). O texto é encerrado — conferir último parágrafo — com comentários que sintetizam os resultados dos esforços de relatora e mãe para conseguir o intento da primeira, e com uma avaliação apreciativa desta a respeito dos efeitos desses esforços

na sua vida, o que é coerente com a organização interna de um relato de experiência vivida. O texto foi elaborado utilizando-se o pretérito como tempo verbal principal (tinha, ganhei, batizei, colocava, adorava, fiz, teve, por exemplo). Há, também, uma articulação entre este tempo organizador fundamental do relato e as ações acontecidas em cada um dos episódios que constituem a seqüência, assim como entre as referências às ações já acontecidas e o estado atual da relatora, em especial no último parágrafo — o que é localizado temporalmente com o advérbio hoje, e com o emprego do verbo no presente (faço, está montando,

tenho, a gente brinca e se diverte, eu amo).

Embora haja a presença de terceiros nos relatos, não se encontra, no texto, a introdução de seu discurso no discurso do relator. A organização dos parágrafos, no texto, obedece a um critério regulador coerente, que procura apresentar uma situação no parágrafo antecessor e, no posterior, ou explicar para detalhar, ou apresentar a conseqüência da ação exposta anteriormente. Dessa forma, podemos identificar no texto, 5 blocos de parágrafos: a) 1º bloco: a) no 1º parágrafo: apresentação da situação inicial do relato (relatora gostava de balé desde os 4 anos de idade) e do motivo implícito aos episódios que serão apresentados (a sina da relatora para conseguir aprender balé); b) no 2º e 3º parágrafos: explicação da proposição inicial (já sabia o que queria desde os 4 anos de idade), por relato de episódio menor, que implica na rememoração de fato (ganhou vestido de batismo) e conseqüência do mesmo para os 4 anos de idade (mesmo estando pequeno, vestia o vestido e ficava parecendo bailarina), citados no 1º parágrafo; b) 2º bloco: a) no 4º parágrafo: alteração de tempo dos 4 para os sete 7 anos e relato de episódio significativo (comunicação do desejo da relatora) ; b) no 5º parágrafo: conseqüência do fato anterior (atitude da mãe); c) 3º bloco: a) no 6º parágrafo: alteração de tempo dos 7 anos de idade para os 8 e relato de novo episódio (tentativa de inscrição no curso de balé); b) no 7º parágrafo: conseqüência do fato anterior (não foi possível realizar a inscrição apesar dos esforços realizados); d) 4º bloco: a) no 8º parágrafo: alteração de tempo de 8 anos para 9 e relato de episódio com conseqüência de ação indicado no 7º parágrafo; e) 5º bloco:

a) no 9º parágrafo: alteração de tempo dos 9 anos para os tempos atuais e relato da situação da personagem, conseqüência da ação realizada no parágrafo anterior. Como se pode observar, o critério utilizado é coerente, tanto do ponto de vista semântico, quanto do ponto de vista do eixo temporal, típico do gênero. Certamente, os blocos poderiam, inclusive ser organizados em um único parágrafo, mas, certamente, não seriam produzidos os mesmos efeitos de sentido como, por exemplo, o destaque que é dado no 1º parágrafo ao desejo da relatora, motivador da seleção do tema. Do ponto de vista da coesão referencial, podemos dizer que o texto emprega tanto elipses para retomar referentes apresentados (como, por exemplo, “(...) [elipse] era muito bonito”, para referir-se a vestido, anteriormente citado e posteriormente retomado; “(...) [elipse]falei pra minha mãe”; ); utiliza a substituição por pronomes, seja do caso reto ou oblíquo (como, por exemplo: “(...) não me servindo mais”; “(...) e quando chegasse a vez dela (...)”, para referir-se à mãe, citada anteriormente), ou, ainda, uma espécie de hiperônimo, como em“(...) a gente brinca muito (...)” , para se referir à relatora e suas amigas. IV – Aspectos relativos à utilização da variedade padrão No que se refere à utilização da variedade padrão, pode-se dizer que o texto está adequado a ela, com pequenos deslizes reconhecíveis. Utiliza um registro pouco formal, mas não muito coloquial demais, o que se confirma na presença, basicamente, da utilização de “a gente” para substituir nós (7º e 9º parágrafos). Do ponto de vista da pontuação, podemos dizer que, como o texto anterior, há a utilização sistemática de pontuação final, em especial, do sinal ponto final, especificamente, não havendo utilização dos demais sinais possíveis, considerandose o texto (exclamação e reticências). Em relação à pontuação medial, podemos dizer que: a) há uma utilização freqüente nos seguintes casos:  para separar orações condicionais “Mesmo o vestido não me servindo mais,(...)” (3º parágrafo); 1. para separar adversativas: “(...) era muito bonito, mas me batizei cedo” (2º parágrafo); “e uma sapatilha, mas eu nem ligava” (3º parágrafo); “Minha mãe fez o possível, mas (...) (7º parágrafo); b) há uma utilização menos regular:  para separar articuladores textuais de tempo: “Quando eu tinha 4 anos [ausência de pontuação] já sabia o que queria ser quando crescer” (1º parágrafo); “Quando fiz oito, minha (...)” (6º parágrafo); “Já no outro ano [ausência de pontuação] quando eu tinha nove anos, assim (...)” (8º parágrafo), por exemplo;

2. nas orações explicativas: “Eu ganhei de batizado [ausência de pontuação] do meu pai [ausência de pontuação] um vestidinho rosa (...)” (2º parágrafo), por exemplo. No que se refere à organização interna dos parágrafos, podemos dizer que há uma dificuldade em organizar os períodos em orações, como podemos observar, em especial, nos parágrafos 2º, 3º, 5º e 9º. Por exemplo, duas possibilidades de reorganização de parágrafos: a) 3º parágrafo: Possibilidade 1: “Mesmo com o vestido não me servindo mais, eu o colocava. Era tão pequeno que os babados ficavam acima dos joelhos e, assim, ficava parecido com um vestido de bailarina. A única diferença era que elas usavam uma meia rosa por baixo e uma sapatilha. Mas, eu nem ligava: quando tocava qualquer música eu dançava com o vestido.” Possibilidade 2: “Mesmo com o vestido não me servindo mais, eu o colocava: era tão pequeno que os babados ficavam acima dos joelhos e, assim, ficava parecido com um vestido de bailarina. A única diferença era que elas usavam uma meia rosa por baixo e uma sapatilha. Mas, eu nem ligava... Quando tocava qualquer música eu dançava com o vestido.” b) 9º parágrafo: Possibilidade 1: “Hoje eu faço balé há dois anos! Já me apresentei quatro vezes, e minha professora está montando mais uma coreografia para o final do ano! Lá, tenho várias amigas e, mesmo com o balé sendo uma dança disciplinada, a gente brinca muito e se diverte!... Eu amo dançar balé!.” Possibilidade 2: “Hoje eu faço balé há dois anos! Já me apresentei quatro vezes, e minha professora está montando mais uma coreografia para o final do ano. Lá, tenho várias amigas e, mesmo com o balé sendo uma dança disciplinada, a gente brinca muito e se diverte. Eu amo dançar balé!.” Possibilidade 3: “Hoje eu faço balé há dois anos: já me apresentei quatro vezes, e minha professora está montando mais uma coreografia para o final do ano! Lá, tenho várias amigas e, mesmo com o balé sendo uma dança disciplinada, a gente brinca muito e se diverte. Eu amo dançar balé!.”

Em relação à concordância verbal e nominal, podemos dizer que o texto tem raríssimos deslizes, como no 1º parágrafo, quando se usa crescer, ao invés de

crescesse.

Na organização dos enunciados há algumas omissões que merecem ser ressaltadas, como em: a) 2º parágrafo: “(...) quando fiz quatro [anos] o vestido ficou muito pequeno”; b) 3º parágrafo: “(...) a única [diferença] era que elas usam (...). No que tange às questões ortográficas, aparecem inadequações em, por exemplo: “escrições”, para inscrições e“escrição”, para inscrição (6º parágrafo); “disiplinada” para disciplinada (9º parágrafo); “a”, para há (9º parágrafo); “obveamente”, para obviamente (2º parágrafo). De maneira geral, não há problemas relativos à acentuação e são pequenas as questões relativas a repetições desnecessárias de informação (como no 5º parágrafo, que repete informação já apresentada no anterior). AVALIAÇÃO GERAL DO TEXTO Considerando a análise acima, e relacionando-a com os critérios definidos, podemos incluir o texto na categoria de MUITO BOM, tendo sido definidores dessa conceituação, entre outros, os seguintes aspectos: a) coerência geral na organização interna do texto no que se refere às características do gênero: apresentação inicial do relato muito consistente; organização em primeira pessoa, articulando as demais de maneira coerente; utilização do pretérito e articulação adequada com os demais tempos verbais típicos do esquema do relato; presença das apreciações relativas aos efeitos dos episódios no relator; articulação do ontem com o hoje na apresentação da avaliação final da experiência vivida relatada no texto; b) apesar das questões relativas à organização interna dos parágrafos (pontuação e estruturação dos períodos), há a presença de períodos complexos, com utilização de intercaladas — ainda que não pontuadas —, presença de advérbios sofisticados (como obviamente), descrição cuidadosa do vestido para justificar a imagem que a relatora construíra de si ( 2º e 3º parágrafos); c) critérios sólidos de organização dos parágrafos; d) quase nenhum erro ortográfico e nenhuma questão de acentuação.

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