Referências para a educação ambiental no ensino fundamental e médio

Share Embed


Descrição do Produto

Referências para a educação ambiental   no ensino fundamental e médio  Matheus Reis  CLC – PUC Campinas        Resumo    Este  artigo  tem  como  objetivo  eleger  conteúdos  e  referências  que  enriqueçam o  vínculo  entre  a  educação  ambiental e os conhecimentos  científicos  abordados  no  ensino  fundamental  e  médio em todas  as  disciplinas.  Facilitar e encorajar práticas  pedagógicas para diminuir a dependência dos recursos industriais, capacitando os  alunos  a  desenvolverem  consciência  ecológica  e  autonomia  em  soluções  cotidianas de sustentabilidade.    Palavras 

chaves: 

Educação 

ambiental,  Referências  Didáticas,  D.I.Y., 

Sustentabilidade, Transdisciplinaridade    Abstract    This  article has the  objective  of  elect  contents and  references that enrich the  bond  between  the  environmental  education  and  the  scientific  knowledge  addressed  to  the  fundamental  and  medium schools for all disciplines. Facilitate and encouraging  pedagogical  practices  to  decrease  the  dependence  of  industrial  researches,  enabling   the  students  to  develop  an  ecological  consciousness   and  autonomy  in  daily solutions of sustainability.    Key words: Environmental education, Didactically References, D.I.Y. ,  Sustainability, Transdisciplinary   

      A  educação  diversificada  e  condizente  com   os  contextos  sociais  e  culturais  brasileiros  são  valores  garantidos  pela  Lei  de  Diretrizes  e  Bases  da  Educação  Nacional (1996):  Art. 26.   Os currículos do ensino fundamental e  médio devem ter uma base  nacional  comum,  a  ser   complementada,  em  cada  sistema  de  ensino  e  estabelecimento  escolar,  por  uma  parte  diversificada,  exigida  pelas  características  regionais   e locais  da  sociedade,  da cultura,  da economia  e   da clientela    Art. 27.   Os  conteúdos   curriculares  da  educação  básica  observarão,  ainda,  as  seguintes diretrizes:    I  –  a  difusão  de  valores  fundamentais  ao  interesse social,  aos  direitos  e   deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;​  

  Dentre esses valores, a consciência ecológica, demonstra­se vital para o momento  histórico  qual  estamos  inseridos,  onde  as  industrias  utilizam  de  modo  predatório  os  recursos  naturais  do  planeta.  A  grande  dependência  dessa  indústria  nos  centros  urbanos  resulta  na  debilidade  de  ações  possíveis  para  que  o  indivíduo  possa se relacionar ao meio ambiente com entropia, mesmo que assim deseje.   Dessa  forma  a  educação  ambiental  passa  de  uma  necessidade  a  um   dever  de  interesse social, a ser implementado de forma incisiva para garantir uma qualidade  de vida a todas as camadas sociais.   

  

A  Educação  Ambiental  como  processo  [...]  consiste   em  propiciar   às  pessoas  uma  compreensão  crítica  e  global  do   ambiente,  para  elucidar  valores  e  desenvolver  atitudes  que  lhes  permitam  adotar  uma  posição  consciente  e  participativa  a  respeito  das  questões  relacionadas  com  a  conservação e a  adequada  utilização  dos  recursos  naturais  deve  ter como  objetivos  a   melhoria  da  qualidade  de  vida   e  a  eliminação  da  pobreza   extrema e do consumismo desenfreado. (MEDINA, 2001, p.17). 

Apesar da  sustentabilidade  ser  um tema  recorrente  em  sala de  aula,  a destruição  do  meio  ambiente  raramente  é  relacionada  com  o  consumo  acentuado  que  é  incentivado pelos meios de comunicação. Porém, poucos professores tem domínio  prático  desses conteúdos para leciona­los ou tomam conhecimento das pesquisas 

em  torno da  educação ambiental  e  suas  abordagens, fazendo­se  necessário uma  orientação mais ampla sobre a mesma.    Sendo  assim,  esse artigo propõe­se a expor conteúdos e referências pertinentes a  serem  utilizadas  como  suporte pedagógico  nas disciplinas trabalhadas em sala de  aula.  Promovendo  a  articulação  do  conhecimento  teórico  com  soluções   práticas  direcionadas a uma educação  ecológica adequada,  visando que  o  aluno encontre  maneiras  sustentáveis  de  lidar  com  suas  necessidades  vitais  como  alimentação,  saúde,  construção, marcenaria,  energia e  por fim, autonomia, como descrita pelos  Parâmetros Curriculares Nacionais:     "Isto  é,  a  autonomia  fala  de  uma  relação  emancipada,  íntegra  com  as  diferentes   dimensões  da  vida,  o  que  envolve   aspectos  intelectuais,  morais, afetivos e sociopolíticos"​ . (PCN 94/95) 

  Alimentação e saúde    Poucas escolas preocupam­se em envolver­se na alimentação dos alunos além  da  merenda,  ou  transmitir  de  um  conhecimento  básico  sobre  nutrição,  embora  existam  muitas  pesquisas  e  extensões  direcionadas  nesse  sentido.  Com  a  escassez  de  tempo  que  as  atividades  cotidianas  como  trabalho,  estudo  e  transporte  demandam,  é  comum  que  a  preocupação  alimentar  seja  delegada  a  terceiros  –  solucionada  na  maioria  das  vezes   com  refeições  rápidas  ou  congeladas.  A  grande dificuldade, é que  na  maior parte dos casos estas refeições  não satisfazem  a  necessidade de nutrientes  que devemos consumir  para  ter  uma  saúde  equilibrada  como  também  não  prezam  pelos  benefícios  dos  alimentos  orgânicos  e  nas  formas  de preparo que sejam mais apropriadas para absorção do  organismo.   Com  isso,  os  conteúdos  de  nutrição,  gastronomia  e  horta  urbana  podem  ser  abordados  em  sala  de  aula,  já  que  a  alimentação  faz  parte  de  um  processo  de  aprendizagem  que  demanda atenção,  pois previne doenças, aprimora a qualidade  de vida e regula a saúde do indivíduo.   A  educação  nutricional  não  é  uma   ferramenta  mágica  para  levar  o  educando  a  obedecer  a dieta,  pelo contrário, ela deve ser conscientizadora  

e  libertadora,  por  isso  deve  buscar  justamente  o  oposto:  a  autonomia do  educando. (MAINARDI, 2005, apud Boog, 1995 p. 17)  

Para  que  essa  preocupação  seja  passada  ao  aluno  de  forma  com  que  relacione  sua vida  e  consiga  fazer uma aplicação  prática  desses conceitos, existem artigos,  livros  e  materiais  que  ensinam  de  forma  simples  maneiras  de  aplicá­los  a  diferentes situações, sendo a maioria deles de fácil acesso.  Um  deles  é  o  “Livro  da  Autossuficiência”  de  John  Seymour  que  informa  os  benefícios  nutricionais  dos  alimentos  plantados  expondo  conteúdos  sustentáveis  de  produção   agrícola  e  horta  urbana.  Sua  linguagem  é  simplificada  para  que  os  conceitos  possam  ser  aplicados  a  qualquer  contexto  ou  escala.  Apesar  de  ser  redigido  pensando­se  num  clima  diferente  do  brasileiro,  muitas  informações  contidas nele independem da localização geográfica.   Porém,  existem  diversos  estudos  importantes  com  linguagem  acessível  direcionados  ao clima brasileiro,  como  o  "Manejo  Ecológico do Solo"  livro de  Ana  Maria  Primavesi,  agrônoma  pesquisadora  do  manejo  agro  ecológico,  da  biodinâmica  e  do  cultivo  de  orgânicos.  Vinculando  a  agronomia  com  o  contexto  urbano, pode­se citar como referência o manual de “Horta Orgânica Doméstica” de  Carlos  Torres  que  demonstra  um  passo  a  passo  da  construção  caseira da horta  em  detalhes,  introduzindo  as  fontes e funções das vitaminas  e  dos sais  minerais  no organismo humano.

 

Um  direcionamento  interessante  seria  instruir  os  alunos  a  reconhecer  as  plantas  alimentícias  não  convencionais  (PANC's)  de  sua  região,  para  que  se  alimentem  delas  e  transmitam esse conhecimento tradicionalmente, pois além de serem mais  fáceis  de  serem  cultivadas,  devido  ao  curto  processo  até  chegarem  à  refeição,  evita­se  a  perda  de  nutrientes.  Para  isso  o   Ministério  da  Agricultura,  Pecuária  e  Abastecimento,  disponibiliza  gratuitamente  o  “Manual  das  Hortaliças  Não  Convencionais” que pode ser uma rica fonte de informação.    Energia, recursos hídricos e bio­construção   

Reflexões  sobre  as  tecnologias  que  envolvem  o  ambiente  doméstico  e  as  estruturas  que o compõe,  são de grande  importância para compreender  o impacto  ambiental de cada domicílio sobre o meio ambiente.  Apesar  de  conhecimentos  sobre  construção  e  energia  serem  passados  pela  tradição  oral  para  as  novas  gerações  em  alguns  casos,  a  compreensão   dos  mecanismos  domésticos  normalmente  é  um  mistério.  Para  uma  sustentabilidade  efetiva, é  necessário pensar em possibilidades  de como tratar essas questões  nos  domicílios  populares, levando seu conhecimento aos alunos através da educação.  Assim,  pode­se  alterar  o  modelo  de  consumo  dos  centros  urbanos  e  o  comportamento  consumista  de  forma  com  que  o  indivíduo  em  desenvolvimento  atinja na idade adulta, autonomia para lidar com essas necessidades.   Dessa  forma,  é  necessário  que esses  conceitos  sejam apresentados desde  cedo  para  que  a  possibilidade  de  optar  por   fontes  e  formas  alternativas  seja  viável,  acessível,  bastando  apenas  força  de  vontade  para  relacionar  esses  conhecimentos  colocando­os em prática.  Como acontece na alimentação, existem vários livros que também demonstram de  forma  simples  utilizar  recursos  e  utensílios  disponíveis  a  todos.  Dentre  eles  é  importante  citar  o  “Manual  do  arquiteto  descalço”,   um  livro  acessível  sobre  bio­arquitetura  e  tecnologia  intuitiva  escrito  por   Johan  Van Lengen,  arquiteto que  hoje  mantém  Tibá,  um  local  próximo  a  Cabo  Frio,  voltado  para  a  realização  de  uma  consciência ambiental  mais plena  buscando  desenvolver,  transmitir e aplicar  tecnologias de baixo custo e baixo impacto ambiental apropriadas para todos.   O  diálogo  entre  a  bio­construção, permacultura  e ecologia com a educação formal  é uma  possibilidade e existe um grande empenho para que torne­se realidade. Tal  relação  foi  registrada por diversos autores no livro “Ecoalfabetização – preparando  o  terreno”,  uma  compilação  da  ONG  americana  ​ Learning  in  the  real  world,  que  publica  histórias  de  comunidades  escolares  sobre  entendimento  ecológico  e  reflexões sobre  sistemas  educativos que  promovam a sustentabilidade. Esse livro  demonstra  o  esforço  de  inúmeros  educadores,  pensadores  e  ativistas  preocupados  com a evolução de suas ideias e práticas, podendo ser utilizado para  pensar na inserção desses conteúdos na metodologia de ensino e realidade social  de cada professor. 

  Um incentivo a criação    As  referências  citadas   nesse  artigo  são  um  direcionamento,  pois  existe  uma  quantia  significativa  de  pesquisas  sobre  educação  ambiental  e  desenvolvimento  sustentável  que  podem  ser  utilizadas  para   elaboração  de  um  material  pelo  professor,  adaptando­as  para  cada  faixa­etária  desde  conceitos  básicos  até  que  um  aprofundamento para o ensino médio. Com a orientação adequada, os alunos  podem ser  capazes de reconhecer um repertório de conhecimentos práticos sobre  sustentabilidade.  Cada  contexto  tem  suas  particularidades  e  essas  sutilezas  não  inibem  a  criatividade,  mas  são  um  estimulo  para  que  os  alunos  identifiquem  soluções a partir dos recursos que estão ao seu alcance.   "Cada   aluno  é  sujeito  de  seu  processo   de  aprendizagem,   enquanto  o   professor   é  o  mediador  na  interação  dos  alunos  com   os  objetos  de  conhecimento". ​ (PCN;1998:93)   

  Coloca­se  como  desafio  ao  professor  ter  alteronomia   ao  vincular  o  conteúdo  didático  ao  contexto  cultural  e  social  envolvido, reconhecendo  com  o  convívio  os  interesses  dos  alunos  nas  respectivas  disciplinas  para  traçar  um  paralelo  com  questões  ecológicas,  relacionando­as  com  o  cotidiano  e  aproximando­as  de  sua  realidade.   “...uma  dimensão  do  discurso  e  da  prática  da  educação,  orientada  à  prevenção  e  a  resolução   dos  problemas  concretos   colocados  pelo  meio  ambiente,  graças  a  um  enfoque  interdisciplinar  e  à  participação  ativa  e  responsável de cada indivíduo e da coletividade” (DIAZ, 2002, pág. 53).      

Referências    MEC/SEF,  Secretaria  de  educação  fundamental.  Parâmetros  Curriculares  Nacionais, Brasília, 1997.   Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 4024/61. Brasília : 1961.  

Ministério  da  Agricultura,  Pecuária  e  Abastecimento.   ​ “Manual  das  Hortaliças  Não­Convencionais“, Brasília, ​ 2010.  CARVALHO,  I.  C.  de  M.  Educação  Ambiental:  a  formação  do  sujeito  ecológico.  São Paulo: Cortez, 2004   FREIRE,  Paulo.  Pedagogia  da  Autonomia:  Saberes  Necessários  à  Prática  Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.  Lengen, J.  V.,“Manual do  Arquiteto  Descalço",  Livraria do Arquiteto, Porto Alegre,  2004.   SEYMOUR,  John.  Guia  prático  da  auto­suficiência.  Martins  Fontes,  São  Paulo,  1997.  PRIMAVESI,  ANA.  Manejo  ecológico  do  solo.  São  Paulo:  Nobel,  Rio  Grande  do  Sul, 2002.  BUCKLEY,  P.,  BARLOW,  Z.  Ecoalfabetização:  Preparando  terreno.  Califórnia,  Learning in the Real World, 2000.    TORRES, Carlos. Horta orgânica doméstica. _________ 2008.  ADAMS,  Berenice  Gehlen.  A  Importância  da  Lei  9.795/99  e  das  Diretrizes  Curriculares  Nacionais   da  Educação  Ambiental  para  Docentes,  Monografias  Ambientais, v(10), nº 10, p. 2148 – 2157, OUT­DEZ 2012.  TEIXEIRA,  L.A.;  NEVES,  J.  P.;  SILVA, F.  P.; TOZONI­REIS,  M. F.  C.; NARDI, R.  Referenciais  teóricos  da  pesquisa  em  Educação  Ambiental  em  trabalhos  acadêmicos.  In:ENCONTRO  NACIONAL  DE  PESQUISA  EM  EDUCAÇÃO  EM  CIÊNCIAS, 2007, Florianópolis.  VARGAS, Liliana Angel. "Educação ambiental: A base para uma ação  político/transformadora na sociedade." ​ Revista Electrónica do Mestrado em  Educação Ambiental​  15.1 (2005): 1­8.  BARCHI, Rodrigo. "Uma educação ambiental libertária." ​ REMEA­Revista  Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental​  22 (2012). 

PIPITONE,  M.  A.  P.;  SILVA,  M.  V.  D.;  STURION,  G.  L.;  CAROBA,  D.  C.  R.  A  educação  nutricional  no  programa de  ciências  para  o  ensino  fundamental. Saúde  Rev., Piracicaba,  2003.     Matheus Reis  Nascido  em  Campinas  em  15  de  dezembro  de  1990,  é  artista  plastico  e  estudante  de  licenciatura  e  bacharelado  em  Artes   Visuais  da  PUC  de  Campinas.  Desenvolveu  atividades  ligadas  a  arte  educação  no  Programa  Institucional  de  Bolsa  de  Iniciação  à  Docência  em  2014  e  no   projeto  de  extensão  Arte  nas  Escolas  em  2013,  quanto  também  atuou como educador na itinerância da Trigésima Bienal de Artes de São Paulo no SESC.   

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.