\"Reflexão teórica sobre a posição das literaturas africanas\", em SALINAS PORTUGAL, Francisco: Rosto Negro. O contexto das literaturas africanas, Santiago de Compostela: Laiovento, 1994

May 24, 2017 | Autor: Silvia Busto Caamaño | Categoria: Pan-Africanism, Negritude, Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, PALOP
Share Embed


Descrição do Produto

Reflexão teórica sobre a posição das literaturas africanas1 Silvia Busto Caamaño Língua e Cultura dos Países de Fala Portuguesa Ano letivo: 2016/17 Em 1994 vê a luz Rosto Negro. O contexto das literaturas africanas, uma obra de ensaio de Francisco Salinas Portugal2 que tem a sua origem na tese de doutoramento que foi defendida pelo autor na Universidade de Santiago de Compostela no ano 1992 sobre o escritor angolano Pepetela. No livro, o autor faz um percurso em que executa, tal e como reza o próprio título, uma aproximação face aos contextos das literaturas na África, evidenciando e reflexionando a respeito dos acontecimentos que se sucederam em relação com as literaturas produzidas nesse continente. O livro está dividido em seis grandes secções em que o autor elabora um caminho sobre o tratamento das literaturas africanas, acrescentando, para isso, factos históricos. Na primeira delas, titulada “Do outro lado da fronteira”, Salinas Portugal sustenta a falta de valorização do problema linguístico por parte de escritores africanos como C. Achebe ou J. Jahn, que consideram as literaturas produzidas em línguas europeias (anglófonas, francófonas e lusófonas) como literaturas africanas. A seguir, é oferecido o panorama geral do colonialismo europeu na África, onde é relevante mencionarmos que a África está ligada a Europa durante os séculos XV e XIX, essencialmente pela imposição dum sistema de exploração e, para além disso, foram deportados perto de 19 milhões de pessoas, pelo que houve um claro, vagaroso e até triste reajuste da África Negra. Inclusivamente, foram conformando-se espaços coloniais em função da língua que adoptaram para se expressarem: inglês, francês e português. Este facto gerou um ambiente problemático que desencadeou, por um lado, num racismo, o qual condicionará a relação entre o colonizador e o colonizado, e,

1

Francisco SALINAS PORTUGAL: Rosto Negro. O contexto das literaturas africanas. Santiago de Compostela: Laiovento, 1994. 2

Francisco SALINAS PORTUGAL é doutor em Filologias Galega e Portuguesa pela Universidade de Santiago de Compostela (1991) com a tese A escrita da angolanidade na narrativa de Pepetela. .

1

pelo outro, numa imposição linguística que, à sua vez, gerou conflitos de identidade, culturais e políticos. Esta situação de abuso que receberam os negros na África por parte dos colonizadores produziu duas revoltas de protesta: o pan-africanismo e a negritude, os quais se baseiam num processo de luta social e política pelos direitos dos negros e dos povos africanos, e num movimento de recuperação da consciência africana, respetivamente. Esta última sedição acarreou problemas na nacionalidade literária, como a angolanidade, conceito que permitirá ao/à leitor/a e também ao/à crítico/a estabelecer um enquadramento das obras e dos autores que tenham a ver com Angola. Neste ponto é preciso esclarecermos que a língua já não vai condicionar a nacionalidade literária. A angolanidade deve entender-se como uma base para a criação dum sistema de referentes culturais e literários, situação refletida nas obras do escritor de referência para Salinas Portugal, Pepetela, quem, nas suas obras, é fiel ao português padrão. Contudo, Pepetela integra nos seus textos elementos das culturas africanas presentes em Angola, quer de maneira consciente, quer de forma inconsciente. A seguir, Salinas Portugal dedica um capítulo para falar do mito no pensamento africano, o qual titula “O exílio de Xangô: o mito no pensamento africano”. Aqui é exposto que o mito é o centro do pensamento do homem africano, que se pode manifestar, de acordo com Balandier, em três modalidades: a ordem do saber escondido ou pensamento mítico, a ordem do saber comunicado e a ordem da acção ou pensamento utilitário. Além do mais, “Na fronteira do texto oral” constitui uma síntese em que o autor aponta que existe um domínio da cultura oral sobre a escrita e, para além disso, assinala estratégias próprias da oralidade, tales como a função didática de que gozam os mitos, os contos e mesmo as epopeias, a qual é adaptada à maioria das literaturas. O último capítulo, que leva por título “As literaturas em línguas africanas: outros textos”, trata-se de uma reflexão em que o autor se questiona se realmente existe uma literatura em línguas africanas. Para isso, faz uma análise sobre o problema dessas literaturas africanas atendendo a duas etapas: a época pré-colonial e a época colonial. Finalmente, desse estudo conclui-se que as relações problemáticas entre as literaturas de línguas africanas, para além dos vínculos entre oral e escrito, e passado e presente, aguardam um futuro esperançoso.

2

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.