Reflexões sobre a aprendizagem no contexto da Educação a Distância: colaborações epistemológicas

June 5, 2017 | Autor: R. Favero | Categoria: Epistemología, Ensino Aprendizagem
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Reflexões sobre a aprendizagem no contexto da Educação a Distância: colaborações epistemológicas Taís Fim Alberti, Psicóloga, PPGEDU/UFRGS, [email protected] Maximira Carlota da Silva André, PPGIE/UFRGS, [email protected] Paulo Gomes de Sousa Filho, PPGIE/UFRGS, [email protected] Silvestre Novak, PPGEDU/UFRGS, [email protected] Rute Vera Maria Favero, UFRGS [email protected] Luciano Andreatta Carvalho da Costa, UERGS, [email protected] Sérgio Roberto Kieling Franco, UFRGS, [email protected] RESUMO Este artigo advém de um trabalho realizado por uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul chamada “Caminhantes”. O grupo busca, através de um trabalho colaborativo e cooperativo desenvolver atividades de pesquisa em prol dos processos de ensino-aprendizagem nesta modalidade educacional: à distância. O foco do trabalho é o debate sobre o entendimento que se têm sobre aprendizagem a partir de Teses defendidas (em Educação a Distância) no período de 1998 a 2005. Para isso, a equipe Caminhantes propõe-se a discutir, neste artigo, os resultados de uma de suas atividades, mais precisamente, as reflexões oriundas do “Simpósio de Aprendizagem” a fim de dialogarmos sobre as diferentes perspectivas teóricas que têm embasado estudos em Educação a Distância e as implicações disso. Visamos, dessa forma, contribuir teórica e epistemologicamente aos estudos relacionados aos processos de ensino-aprendizagem mediados pelas tecnologias de informação e comunicação. Palavras-chave: Epistemologia – Ensino-Aprendizagem - EAD - Educação a Distância

ABSTRACT This article is the product of a work carried out by a multidisciplinary team work named “Caminhantes” at the Federal University of Rio Grande do Sul. The main goal of the group is to access how learning has been understood in the distance education field. In order to achieve such a goal we have analyz ed the several possible learning understandings in all thesis proposed between 1998 and 2005. This paper presents and brings to discussion some of the most popular understandings learning has been referred to in the field of distance education. We hope this can be of some help to the studies related to the teaching and learning processes that make use of communication and information technology. Key-words: Epistemology -Teach-Learning- Distance Education

INTRODUÇÃO O grupo de pesquisa Caminhantes surgiu tendo como característica básica o trabalho cooperativo e colaborativo em uma perspectiva multidisciplinar, sendo constituído por professores pesquisadores e estudantes de mestrado e doutorado provenientes de diferentes áreas de conhecimento como Filosofia, Pedagogia, Informática, Engenharia, Psicologia, Ciências Sociais, Letras e Música.

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Interessados em identificar, discutir e provocar uma reflexão aprofundada sobre quais concepções da aprendizagem tem fundamentado os cursos oferecidos a distância, o grupo Caminhantes realizou sua primeira grande atividade, a saber, o Simpósio sobre Aprendizagem e Aprendizagem na Educação a Distância, sendo este encontro inserido em uma pesquisa chamada “Aprendizagem na Educação a Distância: Caminhos do Brasil”. A realização deste simpósio proporcionou ao grupo, subsídios para uma reflexão mais consistente, tanto individual quanto coletiva, com relação ao entendimento sobre como a aprendizagem tem sido entendida dependendo da concepção teórica utilizada, a partir de teses lançadas no banco de teses da CAPES, produzidas entre 1998 e 2005 na área da Educação a Distância. Na equipe Caminhantes há um forte trabalho colaborativo e cooperativo, materializado em eventos como esse simpósio e na produção de artigos acadêmicos. É claro que algumas idéias divergem entre si, outras se chocam, mas o caminho que escolhemos é este: o da dialogicidade. A seguir, passamos a alguns relatos e reflexões oriundos do debate entre as teorias e a algumas reflexões norteadas pela equipe. 1. RELATOS E REFLEXÕES SOBRE O SIMPÓSIO “APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA” No dia 30 de maio de 2007, o grupo “Caminhantes” organizou o Simpósio “Aprendizagem na Educação a Distância”, no qual diferentes pesquisadores, considerados como referências em diferentes linhas teóricas sobre a aprendizagem, expuseram os principais fundamentos de suas pesquisas. As linhas teóricas debatidas foram: aprendizagem construtivista, sob o ponto de vista Piagetiano, com o professor Fernando Becker, a abordagem sócio-histórica de Vygotsky abordada pela professora Liliana Passerino, a aprendizagem empirista, a partir de ensaios Behavioristas, com a professora Maria Ester Rodrigues, a abordagem da Aprendizagem Significativa com o professor Marco Antônio Moreira e, ainda, aspectos da Aprendizagem Empirista com o professor Leonardo Porto. A escolha desses palestrantes seguiu a diversidade de áreas de conhecimento também contidas entre os integrantes do grupo “Caminhantes”. Sendo assim, os palestrantes são provenientes da Educação, Informática, Psicologia, Física e Filosofia. Seguem as linhas teóricas abordadas no evento e uma síntese dos relatos apresentados pelos palestrantes do Simpósio. Após, seguem algumas reflexões e questões que o grupo propõe. a) Perspectiva Sócio-Histórica: A professora Liliana Passerino, vinda da área da Informática, trafegou pela área da Informática na Educação em sua formação acadêmica e nos trouxe o olhar da Teoria Sócio-Histórica de Vygotsky. Para Vygostky, a Interação Social é o elemento propulsor do desenvolvimento e a base para a cognição do sujeito, onde o conhecimento e as habilidades cognitivas constroem-se por meio de ações que se desenvolvem na interação social. Essa interação tem como ponto central o processo de mediação que desemboca na auto-regulação usando a linguagem principalmente como meio de comunicação e formadora de significados. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são fortemente estruturadas na linguagem, principalmente a escrita e criam novas possibilidades de interação e de subjetivação não previstas necessariamente no momento da sua criação. Além disso, a autora tratou da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), a qual é um fator importante a ser considerado no desenvolvimento escolar dos alunos. Para Vygotsky (1998), o ensino somente se justifica quando incide sobre a ZDP, ou seja,

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quando auxilia os alunos no desenvolvimento das funções que estão em processo de amadurecimento. Assim, a ZDP é o espaço sócio-histórico no qual acontece a transformação da regulação para a auto-regulação (Passerino, 2007). Portanto, sendo as tecnologias signos e produtos e produtoras de cultura, elas nos possibilitam, através de suas ferramentas, desenvolver um processo de interação e mediação e intervir significativamente na ZDP, promovendo o aprendizado dos alunos. Com este viés, a professora enriqueceu o Simpósio, contrapondo-o com a fala do Prof. Fernando Becker. b) Perspectiva Construtivista: O professor Fernando Becker, cuja formação inicial é Filosofia, tratou, na sua palestra, da teoria Piagetiana. Salientou a importância da relação como elemento impulsionador da aprendizagem, deixando de se considerar o meio (empirismo) ou o sujeito (apriorismo) como determinantes no processo de cognição. O autor reforçou que, com o uso das TIC, é possível enriquecer os processos de interação. Convém salientar que se deve deixar de considerar a aprendizagem como sendo unidirecional, passando-se a considerar os sentidos de ida e volta simultaneamente. Este é um dos pilares da teoria construtivista, que se fundamenta nas idéias de Piaget. A Teoria da Equilibração, que tem como um de seus pilares o processo de adaptação, não considera que o meio modifica o sujeito ou que os processos espontâneos deste é que precisam ser considerados exclusivamente. De acordo com esta teoria, somos modificados pelo meio ao mesmo tempo em que o modificamos. Por exemplo, ao lermos um livro, modificamos a nossa estrutura interna ao mesmo tempo em que o livro, que representa o meio, também é modificado ao longo do nosso processo de aprendizagem. A maior prova disso é a diferença que ocorre quando lemos o mesmo livro em diferentes momentos das nossas vidas. Mas como há diferença se o livro é o mesmo? Justamente pelo fato do meio não ser o fator determinante. Para o Prof. Fernando Becker (2007) o objetivo da aprendizagem escolar é aumentar a capacidade de aprender. Portanto, o autor coloca que aumentando essa capacidade de aprender, aumentamos nossa capacidade de transformar o mundo e a nós mesmos, pois "aprender a se desenvolver é aprender a continuar a se desenvolver depois da escola" (Piaget, 1970, p. 23). Esperamos assim, que os processos de ensino-aprendizagem a distância baseados nessa perspectiva, permitam ao aluno essa construção de capacidades e estruturas de assimilação para que sejam capazes de construir conhecimento critico, criativo e transformador. c) Perspectiva da Aprendizagem Significativa: O Prof. Marco Antônio Moreira presenteou-nos com uma fala sobre a “Aprendizagem Significativa” de Ausubel trazendo para reflexão importantes conceitos relacionados ao tema. Entre eles destacaram-se: Mapas Conceituais de Novak, Modelos de Mapas Mentais, de JohnsonLaird, a visão da Complexidade e da Progressividade, de Vergnaud, a visão Autopoiética de Maturana e a visão Crítica, Subversiva e Antropológica, de Moreira. O palestrante finalizou a sua apresentação apontando a necessidade de o professor questionar suas certezas e intensificar a diversificação de estratégias de ensino, concluindo ser um dos papéis do professor, o de perturbador. Compartilhando com as idéias apresentadas, entendemos que o grupo Caminhantes busca e se constitui no questionamento de suas certezas e na busca pelo trabalho multidisciplinar, haja vista as diferentes áreas de conhecimento dos componentes da equipe e as trocas que o grupo faz e propicía a partir de experiências como esta, em que reúne especialistas de diferentes campos do saber. d) Perspectiva Behaviorista: A professora Maria Éster Rodrigues cita e questiona os mitos e preconceitos relacionados à utilização dos princípios básicos do behaviorismo na educação, esclarecendo que o behaviorismo radical é definido por Skinner como uma filosofia da ciência do comportamento, cuja estratégia de

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investigação é a Análise Experimental do Comportamento (ou AEC). A autora esclarece que a concepção de homem do behaviorismo radical é otimista e progressista por aventar a possibilidade de mudança de comportamento humano em caso de contingências favoráveis. Na educação, as implicações de tal concepção são mais que otimistas e implicam o vislumbre da possibilidade de intervir sob os mais variados aspectos. Conhecendo os princípios básicos, o educador pode intervir de forma efetiva tanto na educação presencial quanto na educação a distância, sendo o professor o responsável pelo planejamento das contingências educativas, pela formulação dos objetivos educacionais tais como os acadêmicos e sociais, bem como aqueles favorecedores do auto-governo ético e intelectual. Além disso, precisa saber como minimizar ou eliminar as contingências aversivas que possam reduzir o pleno desenvolvimento do aluno. e) Perspectiva Empirista: O professor Leonardo Porto procurou demonstrar que, apesar das diferenças visíveis entre a educação presencial e a educação a distância, as semelhanças, quando a educação a distância tem o recurso da Internet, são ainda maiores e, neste sentido, a epistemologia que subjaz à investigação sobre o processo educativo na Educação a Distância é a mesma da educação tradicional. Partindo desse ponto, buscou trazer à luz um conceito bastante usado na epistemologia educacional, mas pouco compreendido no seu aspecto histórico-filosófico: o empirismo. Em sua fala, evidenciou o quanto o empirismo filosófico está associado com a tese do filósofo inglês John Locke, segundo o qual, a mente é uma tabula rasa e como esta tese se associa a noção equivocada de que, para os empiristas, todo o conhecimento vem da experiência, tendo a mente um papel apenas passivo. Através das filosofias de Thomas Hobbes e David Hume, outros dois filósofos do empirismo britânico, demonstrou onde reside o equívoco desta noção, propondo o resgate do verdadeiro sentido do empirismo filosófico. A partir das concepções abordadas pelos palestrantes, podemos dizer que na educação, seja ela presencial ou a distância, se fazem presentes as escolhas teóricas que norteiam ou subjazem o ato de ensinar. Tanto presencialmente, como em uma modalidade de educação a distância, poderemos ver repetidos inúmeros processos de ensinar e aprender a partir da abordagem tradicional – fundamentada no behaviorismo – na qual os conhecimentos são praticamente transmitidos. Da mesma forma, nos é possível assistir propostas inovadoras em ambas as modalidades, com o trabalho das possibilidades de inovar, representadas, na Educação a Distância, pelas TIC. Apesar de alguns palestrantes não transitarem pelo campo da educação a distância, todos parecem concordar com as possibilidades que esta modalidade nos dá para um efetivo processo de ensino-aprendizagem. A seguir, alguns tópicos abordados no debate e a sua relação com a Educação a Distância. 2. APRENDIZAGEM & APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Estudos mostram que a mediação, através do uso de signos e também de ferramentas (incluindo as TIC), dentro de um contexto social, pode ser materializada também através de mediação tecnológica, pois, apesar da distância física, nesse espaço se constroem relações de interação social, afetividade e aprendizagem. Na educação, mediada por tecnologias, a interação social é igualmente fundamental no processo de mediação, pois aprende-se e ensina-se em inter-ação, consigo próprio e com o outro, seja ele algum objeto, professor, tutor ou colega. A educação, diz-nos Belloni (2003, p. 54), "é e sempre foi um processo complexo que

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utiliza a mediação de algum tipo de meio de comunicação como complemento ou apoio à ação do professor em sua interação pessoal com os estudantes". Na Educação a Distância, essa interação com o professor é indireta (pela separação do espaço físico) e tem de ser mediatizada por uma combinação de tecnologias de comunicação e informação, o que a torna mais dependente da mediação. Nessa mediação, inúmeros processos complexos de trocas ocorrem permitindo ao sujeito modificar suas estruturas cognitivas e, também, a colaborar ou cooperar com outro colega, ajudando a desencadear aprendizagens e/ou outras estruturas em seus colegas também, através dessas interações. Como as tecnologias também são signos e produtoras de cultura, que nos permitem interagir, podemos, através delas, tornar o conteúdo da mediação mais rico ou mais pobre, dependendo do que nos proporcionarmos dialogar com uma outra mente, situada “do outro lado”, da mesa ou do mundo (Passerino, 2007). O fato é que neste processo de implantação de cursos em Educação a Distância estamos sempre nos (re)inventando enquanto professores, alunos e, se desejarmos realmente desenvolver uma prática colaborativa e cooperativa, independentemente da modalidade que atuemos na educação, precisamos desenvolver a sensibilidade de ouvir e respeitar o outro através do diálogo e compreender que não somente o outro ou o aluno aprende, mas que eu ou "quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender" (Freire, 1996, p. 23). O Prof. Fernando Becker (2007) também trouxe, durante a sua exposição, as inúmeras possibilidades de aprender a partir de diferentes verbos, que podemos e devemos conjugar em processos de ensino-aprendizagem, mediados por tecnologias, inclusive. Alguns destes verbos são: descentrar-se, cooperar, repetir, descobrir, criar, construir, ultrapassar, fazer, compreender, inventar. A partir destes verbos, o palestrante nos abre um leque de possibilidades que aumentam ou otimizam a própria capacidade de aprender. Para o autor, aprender é aumentar nossa capacidade de transformar o mundo e a nós mesmos. Perguntamos: seria isso possível também por meio da Educação a Distância? Pensamos que sim. Mudam-se o espaço e o tempo, mas a capacidade de aumentarmos a nossa possibilidade de transformar o mundo a nós mesmos, continua sendo nossa. Ou seja, a qualidade do processo de ensinoaprendizagem, desenvolvido através da mediação tecnológica, deve ser priorizada assim como em qualquer situação de ensino-aprendizagem, para que não comprometamos ainda mais a formação que temos sido capazes de dar e receber. Os que optarem por esta modalidade de ensino à distância, não devem preocupar-se com o fato de ser “à distância”, mas em fazer dela uma boa educação, rompendo com um ensino de segunda categoria, fortemente enraizado em nossas práticas educacionais e possibilitando a criação e a transformação num processo de inclusão social (Franco, 2006). Vê-se que a Educação a Distância pode ser boa ou ruim, bem como qualquer processo educacional presencial. Assim, conforme falou a Profª. Liliana Passerino (2007), “não importa as tecnologias. O que importa é como nós fazemos a educação”. Podemos, com as tecnologias computacionais ou não, inovar e conjugar todos aqueles verbos de forma a transformar os alunos, como citou o Prof. Fernando Becker, ou podemos continuar a trabalhar com o verbo “transmitir” apenas. Dependerá de quem faz a educação e de como a vê. Conforme expuseram os palestrantes, o professor precisa de uma epistemologia para amparar e definir a sua prática. Precisa saber qual é a sua teoria de ensinoaprendizagem e quais as conseqüências dessa opção na aprendizagem de seus alunos. Os que optam por um ensino comportamentalista, precisam responsabilizar-se pelo planejamento de contingências educativas e saber o quê e para quem está ensinando e

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quais os seus objetivos (Rodrigues, 2007). Em nenhuma das concepções debatidas há espaço para “fazer qualquer coisa”. É preciso definir sua epistemologia. A partir dos posicionamentos de cada palestrante em sua perspectiva epistemológica, nos dirigimos à segunda etapa de nossa pesquisa: investigar como estas concepções têm sido implementadas em teses sobre Educação a Distância. Como estará sendo desenvolvido o processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias? 3. O ENTENDIMENTO DE APRENDIZAGEM EM ESTUDOS SOBRE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com a preocupação de entender como a pesquisa brasileira sobre educação a distância tem abordado o fenômeno da aprendizagem na educação a distância, desenvolvemos o projeto "Aprendizagem na Educação a Distância: Caminhos do Brasil" . A pesquisa se justifica pelo fato de que enquanto, a partir da segunda metade do século XX, vários países intensificavam o uso da Educação a Distância, no Brasil a resistência permanecia. Esse cenário começa a se modificar a partir da década de 90, com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e, em 1996, com a criação da Secretaria de Educação a Distância no MEC e a Regulamentação da educação a distância, através de decretos presidenciais, a partir de 1998. A educação a distância passou a ser fortemente marcada pelo aporte das novas tecnologias de informação e comunicação que se encontravam em franco desenvolvimento. No entanto, há alguns indícios de que tais inovações não necessariamente repercutiram em um redimensionamento dos processos de ensinoaprendizagem. Por esta razão nos dispomos a analisar as teses de doutorado, que constam no Banco de Teses da CAPES e que tenham como palavras-chave a "Educação a Distância" ou "Ensino a Distância", produzidas no período de 1998 a 2005, quanto às concepções de aprendizagem que as fundamentam. Educação a distância pode ser uma inovação pedagógica, principalmente a partir do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. O desafio é que não seja somente uma inovação tecnológica (como a substituição do quadro-negro pela tela do computador ou da explicação oral do professor pelo uso de uma animação computadorizada), mas principalmente uma inovação pedagógica que contribua para a aprendizagem dos alunos de forma colaborativa e cooperativa. Assim, as TIC disponibilizam uma gama de informações e possibilidades telemáticas na mediação, mas isso não basta para obtermos uma educação de qualidade e a emancipação das pessoas, pois a educação no escopo da ciência e da tecnologia tem um lugar de destaque nas transformações da sociedade e na formação dos sujeitos que atuam nela. A adesão a essas tecnologias não deve acontecer de forma incondicional como se fossem solucionar todos os problemas educacionais. É preciso estudar e desenvolver recursos tecnológicos que potencializem os processos de ensinoaprendizagem e “evitar o deslumbramento que tende a levar ao uso mais ou menos indiscriminado da tecnologia por si e em si, ou seja, mais por suas virtualidades técnicas do que por suas virtudes pedagógicas” (Belloni, 2003, p. 73) e “esse afã de educadores por receitas prontas é reflexo da ‘coqueluche dos métodos’ e da influência do tecnicismo (...) uma concepção de que a técnica era mais importante do que as próprias pessoas da sala de aula (alunos e professor), pois era ela que garantia a aprendizagem” (Franco, 2000, p.12). Dessa forma, acreditamos que a pesquisa que a equipe “Caminhantes” está realizando contribuirá para uma discussão teórica e epistemológica numa efetiva avaliação do quadro da educação a distância no Brasil. Essa qualidade pode ser

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sustentada por uma concepção que dê conta de proporcionar a construção do conhecimento ao sujeito que participa desse processo. Como e quais são as formas mais adequadas de se pensar o desenvolvimento de oportunidades eficientes de ensino e aprendizagem a distância? Esta é uma das questões que ficam em aberto para discutirmos e trabalharmos em um outro artigo, tão logo a pesquisa avance. 4. RESULTADOS: Perspectivas e Futuros Desafios A Educação a Distância está transformando o espaço educacional e proporcionando que a educação se torne cada vez mais abrangente. No entanto, não podemos pensar apenas em termos quantitativos sobre essa nova modalidade de ensino, nem continuar a fazer as mesmas coisas, acreditando que estamos inovando. Assim, com a análise das teses e definição dos processos de ensino-aprendizagem que embasam as mesmas, poderemos indicar fundamentações teóricas consistentes e correspondentes a esta modalidade, metodologias adequadas, bem como parâmetros de avaliação para o quadro de educação a distância no Brasil. É preciso dar atenção à qualidade de ensino-aprendizagem desenvolvida nesta modalidade e as suas formas de trabalho, pois em virtude dessa nova modalidade, as mudanças são inevitáveis nos modelos de ensino-aprendizagem e no papel do professor e do aluno. Implica uma mudança no modo de estudar, aprender e interagir. Assim, é preciso pensarmos um processo complexo de trocas em que os sujeitos possam modificar suas estruturas cognitivas, assim como as estruturas cognitivas dos colegas através das relações e interações que estabelecem através da mediação tecnológica (Nevado, 2005). Para tal, precisam existir em um processo de ensino-aprendizagem que proporcione estas interações e produções individuais e coletivas, bem como processos de colaboração e cooperação. 5. CONCLUSÕES: Caminhos a Percorrer Nesse espaço de aprendizagens interativas, o aluno não pode ser um mero receptor dos conteúdos e, ao invés de ficar isolado para aprender, precisará participar, colaborar e interagir com as atividades escolares através das mais diversas estratégias de comunicação que os ambientes virtuais de ensino-aprendizagem oferecem. Trabalhando de forma colaborativa, dialógica e problematizadora alunos e professores tornam-se sujeitos críticos da construção do conhecimento. Assim, o conhecimento mediado por tecnologias, ou não, deverá passar pela etapa de conhecimento ingênuo para a curiosidade e finalmente a partir da passagem por essa primeira etapa, para a construção do conhecimento crítico (Freire, 1996). Para essa passagem de um conhecimento ingênuo ao crítico é preciso saber ensinar e também saber criar as possibilidades para a sua própria construção. Com o surgimento das tecnologias da informação e comunicação, o processo de ensino-aprendizagem ganha um novo impulso, principalmente em relação às ferramentas envolvendo metodologias pedagógicas que podem vir a tornar a aprendizagem mais colaborativa e cooperativa, com esforços mútuos de seus participantes. Por isso, saber criar as condições a partir de uma base epistemológica é fundamental para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem. Como será que esse processo está acontecendo no contexto da Educação a Distância? Estamos criando e inovando ou apenas repetindo? A partir das próximas etapas da pesquisa, quem sabe poderemos responder a essa pergunta.

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