Reflexões sobre a construção e divulgação dos saberes: populares e científicos

May 22, 2017 | Autor: Manoel Soares | Categoria: Conhecimento, Saberes Tradicionais
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Reflexões sobre a construção e divulgação dos saberes: populares e científicos *Manoel Messias Feitosa Soares

RESUMO Neste texto, objetivo dialogar sobre dois assuntos bastante complexos, que são os saberes populares e o saber científico, buscarei apresentar aspectos e características que os definem, os diferenciam e suas conexões. Saberes são de dimensões de ordem prática, manifestadas em ações concretas, fazem parte de uma sociedade, em um determinado espaço e temporalidade. Neste sentido, construirei um diálogo com os textos estudados na Disciplina: A constituição dos saberes científicos e os conflitos com outras artes de curar, no acre territorial. Ministrado pelo professor, Sérgio R. G. de Souza. Utilizarei as reflexões teóricas de Ludwik Fleck, (1896-1961) "Foi, sobretudo, um “pesquisador de bancada” que nutria profundo interesse pela história da medicina e pelo debate filosófico" Carneiro (2015, p. 01), sobre o conceitos de conhecimento, que segundo este autor, o conhecimento é fruto de uma construção histórica e social, um fazer coletivo de uma grupo ou sociedade, para esta tecitura textual, farei uso das discussões e reflexões presentes nos artigos de: Diana Obregón, intitulado: "La construcción social del conocimiento: Los casos de Kuhn de Fleck" e João Alex Carneiro, com o título: Gênese e desenvolvimento de um fato científico Ludwik Fleck. Palavras-Chaves: Ludwik Fleck. Estilo de Pensamento. Saber Popular. Saber científico.

*Graduado em história pela UFAC, Pós-Graduação em Psicologia Educacional e Escolar pela UNINORE e Mestrando pelo Programa de Letras Linguagem e Identidade UFAC.

Aspectos dialógicos entes saberes populares e científicos Neste percurso teórico, realizarei um diálogo com os autores estudados no processo de formação e realização da disciplina: A constituição dos saberes científicos e os conflitos com outras artes de curar, no acre territorial. Foi possivel compreender que os saberes são processos construídos no interior dos grupos sociais, das comunidade, das sociedades, tem como palco de realização os sentidos que estes grupos humanos lhes atribuem. São os seres humanos que constrói os saberes, os processos de legitimação de saberes são engendrados a partir de discursos, de um coletivo de pensamento, de práticas socialmente aceitas pelo grupo praticante da técnica, do fazer da prática popular do saber ou de práticas metódicas cientificamente aceitas, dialogando a sob as reflexões de Obregón (2002, p. 09), "el conocimiento es la actividad más socialmente condicionada. El carácter social de la ciencia no es un lastre, ni una intrusión indebida, ni un obstáculo epistemológico; por el contrario, es lo que la hace factible. Sin sociedad, la cognición no es posible". Pode-se inferi que o conhecimento e as práticas realizadas pelos sujeitos, mesmo em uma atividade individual, são construções sociais, pôs os indivíduos estão em constantes relações interativas, no interior de um grupo, sociedade e deste/desta com outros/outras. Todo saber, toda relação é construida entre dois ou mais sujeitos, grupos socialmente em interação, todo conhecimento é elaborado coletivamente, para (Fleck, 1970 apud Obregón, 2002, p. 04),

o que existe são "coletivos de

pensamentos, estilos de pensamentos", neste sentido um coletivo, refere-se a qualquer grupo humano, uma comunidade escolar, um clube de futebol, uma comunidade agrícola.

Un colectivo de pensamiento puede encontrarse en el mundo profesional del comercio, la política, la milicia, los deportes, la moda, la ciencia o la religión, con lo cual anticipa algunos de los análisis recientes del sociólogo Pierre Bourdieu, quien compara el mundo académico con el mundo de la alta costura. Según Fleck, el tamaño del colectivo de pensamiento es variable, así como su durabilidad: puede estar formado

por tan sólo dos personas intercambiando ideas. (Fleck 1979 apud Obregón, 2002, p. 04)

Os conceitos são criados para disciplinar interpretações da realidade social, são categorias de análises, mas eles devem ser problematizável, para não se tornarem universalmente aceitos,

são formulações que traduzem os fatos

sociais, procuram apreender a realidade natural, influenciando as interpretações de uma realidade, (Fleck, 1979 apud Obregón, 2002) "El colectivo de pensamiento ejerce coerción efectiva sobre el individuo, aunque los individuos no estén necesariamente concientes de elle”, esta influência acontece de forma coletiva, os indivíduos não percebem, incorporam as práticas sociais de uma determinada realidade histórica. Os fazeres humanos não são frutos de mentes brilhas, de indivíduos isolados, as realizações, descobertas, os saberes populares e científicos, são construções forjados nas interações sociais, nos diálogos e embates surgidos nos processos sociais. O conhecimento não tem validade, para um indivíduo isolado, mas para uma comunidade humana. (Fleck 1979 apud Obregón, 2002, p. 5) De acuerdo con Fleck, el colectivo de pensamiento es el sujeto del conocimiento científico. Los “descubrimientos” no son llevados a cabo por un individuo sino por un colectivo. Neste sentido, as práticas primitivas desenvolvidas pelo coletivo de um grupo

social, sofre um processo de transformação, evolui no espaço e na

temporalidade das relações coletiva do grupo. Esta transformação é percebida a partir das práticas concretas, no inicio os indivíduos realizam o fato, a atividade através de erros e acerto, de forma assistemática, só posteriormente estas práticas

são

sistematizadas,

metodicamente

organizados,

tornando-se

conhecimento científico, tendo um método, uma maneira específica de realizá-lo, que é aceito e incorporado pelo grupo social. De acordo com Fleck, o conhecimento não acontece através de processo revolucionários, de rupturas, mas sim , através de processos evolutivos no interior de um coletivo social.

Fleck no habla de “revolución científica”. Para él, existe continuidad en el conocimiento: las ideas primitivas llevan al desarrollo de los conceptos científicos modernos. Es posible rastrear la noción de enfermedad infecciosa a partir de la creencia primitiva em demonios hasta la idea de “miasma” y la de agente patógeno (Fleck 1979: 100). Sin embargo, Fleck se refiere a “grandes transformaciones” de estilos de pensamiento. (Fleck, 1979 apud Obregón, 2002, p. 08)

As relações sociais determina a forma de agir e pensar de um grupo de indivíduos, as interações sociais é determinante para influenciar a maneira de vestir, negociar coisas e serviços, relacionar-se amorosamente e amigavelmente. Tudo é fruto de processos gestado no interior de grupos, sociedades humanas. (Fleck, 1929 apud Carneiro, 2015, p. 02) A própria noção de “realidade” é entendida não de modo absoluto, mas relacional, produto de um certo “estilo de pensamento” compartilhado por uma “comunidade de conhecimento". Nas relações sociais, não tem lugar para verdades dadas a priori, os valores e práticas são construções que adquirem valor nas trocas entre os sujeitos, no campo das relações culturais, religiosas, econômicas, ideológicas, no fazer diário da sociedade. Os indivíduos estão suscetíveis a realizar e legitimar certas práticas, saberes aceitos pela coletividade.

A participação em um coletivo de pensamento é amalgamada pelo conceito de “estilo de pensamento”, que “exerce uma ‘força coercitiva’ em seu pensamento e contra a qual qualquer contradição é simplesmente impensável” (p. 84). Genericamente, um estilo de pensamento é entendido como uma “disposição” quase inconsciente que direciona e faz convergir o pensamento dos membros do coletivo. Em um sentido mais específico, expressa a capacidade desses mesmos membros para “um determinar dirigido, voltado para um objeto” nele reconhecendo de modo imediato uma “forma” ou “configuração” (Gestalt) (p. 144). (Fleck, 1929 apud Carneiro, 2015, p. 03)

Para Fleck, o conhecimento é fruto de mudanças que acontece no interior das sociedades humanas, que vão descartando formas de agir e fazer,

transformando práticas objetivas e subjetivas em suas relações sociais. Isso acontece por meio dos processos práticos e dialógicos no interior dos grupos humanos e entre os grupos por meio de relações externas. De modo geral, a história da ciência é vista como uma sucessão de estilos de pensamento, que atuam como sistemas fechados, autorreferentes. De acordo Carneiro (2015), refletindo a partir da abordagens fleckianas, "Mesmo a noção de “verdade” é entendida de modo relacional, no sentido de ser relacionada a algum estilo de pensamento". Os saberes são fruto de interações estabelecidas no interior de diversos "estilos de pensamento" que vão estabelecendo valores, validando a efetividade da prática em si, destas práticas coletivas, é que são estabelecidas as construções científicas, é que são forjado as metodologias que validam o saber da Ciência. Dado que a ciência popular abastece a maior parte das áreas do saber de cada pessoa, e dado também que o profissional mais meticuloso lhe deve muitos conceitos, muitas comparações e seus pontos de vista gerais, ela representa um fator de impacto genérico de qualquer conhecimento e deve ser considerada como um problema epistemológico. Quando um economista fala em organismo econômico, ou um filósofo em substância, ou um biólogo no estado de células, todos utilizam em sua própria especialidade do repertório popular do saber. É em torno desses conceitos que constroem suas ciências especializadas (p.165). (Fleck, 1929 apud Carneiro, 2015, p. 06)

Como podemos inferi da citação acima, o saber é fruto de interações sociais, das práticas sociais, neste sentido não podemos considerar em saber superior e saber inferior, sendo assim devemos considerar que os saberes são fruto de processo de legitimação e negação de práticas sociais. Não existe um saber puro, absoluto, determinadas experiências são benéficas para um grupo e prejudicial para outros, mas, não significa que deixe de ser considerado como conhecimento, como saber. Pois os saberes no sentido que é abordado por Fleck, são processo validados por grupos sociais, mas que são transformados, negados, validados, através dos processos históricos, mudam a partir das trocas culturais dos

indivíduos e destes com os grupos, sociedades diversas. Os saberes, as práticas não surgem do universo natural, é fruto de processos diversos, em diversos grupos humanos.

É difícil, quando não impossível, descrever corretamente a história de um domínio do saber. Ele consiste em numerosas linhas de desenvolvimento das ideias que se cruzam e se influenciam mutuamente e que, primeiro, teriam que ser apresentadas como linhas contínuas e, segundo, em suas respectivas conexões. Em terceiro lugar, teríamos que desenhar ao mesmo tempo separadamente o vetor principal do desenvolvimento, que é uma linha média idealizada (p. 55-6). (Fleck, 1929 apud Carneiro, 2015, p. 06)

Neste sentido cada saber está intimamente ligado ao espírito da época e um grupo social, ao zeitgeist do processo histórico, está relacionado ao clima intelectual da coletividade. Os saberes são transmitidos através de dois sistemas que emergem da relação estabelecidas e de como os grupos utilizam transmitem os conhecimentos construídos em coletividade. Os conhecimentos e práticas sociais são transmitidos os sujeitos, por meio de dois processos que são denominados de "círculos esotérico e exotérico" é através destes processos que os saberes são transmitidos entre os indivíduos, são divulgados os saberes populares, e as práticas sociais entre os sujeitos, mas é também através deste círculos que os saberes sistematizados são divulgados no

interior

das

comunidades

científicas.

Dos

sistemas

elaborados

de

conhecimento. Carneiro (2015, p. 06) "Nesse sentido, o círculo exotérico e seu “saber popular”, ainda que distante do debate especializado, cumpre um papel fundamental ao fornecer um repertório de ideias capazes de serem transformadas e aplicadas em diferentes círculos especializados". Mas além desta concepção de conhecimento, que leva em conta a construção social da coletividade, temos uma abordagem que considera os saberes como paradigmas, que posteriormente foi chamada de "matriz disciplinar" que é representada pelo Físico Teórico, Thomas S. Khun. Segundo Khun (2005,

p. 78) "A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal". Neste sentido o conhecimento são fenômenos que são descobertos por sujeitos com mentes brilhantes, os saberes estão na sociedade, mas precisa ser descobertos por indivíduos que realizam atividades especificas de estudos. Os saberes são sistematizados através de estudos, individuais ou por comunidades científicas, que sistematizam paradigmas para estudarem fatos, fenômenos, práticas que são utilizados pelas sociedades.

De início, o sucesso de um paradigma - seja a análise aristotélica do movimento, os cálculos ptolomaicos das posições planetárias, o emprego da balança por Lavoisier ou a matematização do campo eletromagnético por Maxwell - é, a princípio, em grande parte, uma promessa de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda incompletos. (Khun, 2005, p. 44)

Pode-se depreender a partir desta citação que o conhecimento, sob o prisma desta abordagem teórica, são formulados através de processos exterior ao grupo social, em laboratório, sistematizado e aplicados no mundo natural e social. Khun (2005) "A ciência normal como solução de quebra-cabeças", são saberes sistematizados para resolver problemas nos interior de uma determinado grupo social, datado e localizado, que podem ser eficazes para um tempo e espaço, mas que podem perderem a validade, perdem sua capacidade de resolução dos problemas, surgindo novos paradigmas, que para tornarem-se hegemônicos e aceitos por um determinado grupo científico,

A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através de uma articulação do velho paradigma. é antes uma reconstrução que altera algumas das generalizações teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e aplicações. (Khun, 2005, p. 116)

Estes conhecimentos elaborados, sistematizados devem desenvolver soluções para os problemas enfrentados pela sociedades, quando não estão sendo eficazes na solução das dificuldades sociais, são necessário a elaboração, a sistematização de novos saberes, novos conhecimentos. Que precisam ser avaliados e ratificados pela comunidade científicas. Por isso que:

No desenvolvimento de qualquer ciência, admite-se habitualmente que o primeiro paradigma explica com bastante sucesso a maior parte das observações e experiências facilmente acessíveis aos praticantes daquela ciência. Em consequência, um desenvolvimento posterior comumente requer a construção de um equipamento elaborado, o desenvolvimento de um vocabulário e técnicas esotéricas, além de um refinamento de conceitos que se assemelham cada vez menos com os protótipos habituais do senso comum. (Khun, 2005, p. 91)

Para Khun (2005), o desenvolvimento científico acontece através de mudanças de paradigmas, de rupturas, as revoluções científicas são processos que acontecem no interior de uma determinada comunidade de conhecimento, não é fruto de um processo individual, mesmo que indivíduos diversos sejam influenciados por determinadas formas e práticas de saberes, estes saberes precisam ser aceitos como validados, legitimados pela comunidades científica. Por exemplo, em fins do século XVIII, epidemias foram explicadas a partir dos conhecimentos médicos, políticos e raciais, fundamentados em perspectivas ideológicas. Estes pressupostos foram elaborados pelos Filósofos Materialistas, que elaboraram este discurso, contrapondo ao discurso religioso que acreditavam ser as epidemias um castigo divino. O novo discurso foi tecido a partir de uma lógica higienista, legitimado por um grupo, comunidade científica, o discurso médico é um discurso de poder, a preocupação não é com a profilaxia, mas pelo poder de nomear, de legitimar, de disciplinar os fazeres sociais. Khun (2005, p. 210) "Desse modo, no seu estado normal, a comunidade científica é um instrumento imensamente eficiente para resolver problemas ou quebra-cabeças

definidos por seu paradigma. Além do mais, a resolução desses problemas deve levar inevitavelmente ao progresso". Portanto, a ciência formal não está necessariamente empenhada em melhorar a qualidade de vida dos indivíduos de uma coletividade social, mas de exercer uma certa influência no interior da comunidade, a comunidade cientificas busca mecanismo para influenciar e disciplinar as práticas sociais. Desta forma, os avanços que acontecem no interior de uma comunidade científica, são processos que buscam negar as práticas antigas, estes grupos utilizam a categoria de tempo para negar o desenvolvimento e as práticas sociais em torno de um coletivo de pensamento, de práticas de saberes populares, a tradição é vista como antiquadro, ultrapassado, arcaico, obsoleto. Busca-se sempre o novo, em detrimento dos valores tradicionais, populares. Para Khun (2005, p. 78) "A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal". Mas em um sentido geral, Fleck concebe o conhecimento como produção de um coletivo de pensamento, que é elaborado, gestado no interior de um grupo social, este processo é elaborado em coletividade, mesmo que este coletivo seja entre dois indivíduos, enquanto Khun concebe o conhecimento como um processo construido através de estudos sistemático, gestados no interior de uma comunidade científica, podendo ser elaborada por indivíduos ou grupos de indivíduos, que se dedica a estudar e elaborar sistematicamente estruturas e mecanismos para resolver problemas das sociedades. Em um ponto os dois teóricos estão em comum acordo em um aspecto referente a formulação dos saberes, este aspectos está relacionado como a construção do conhecimento. Que este empreendimento não deve se dá através de regras rígidas no interior dos sistemas de pensamento nem no interior das comunidades cientificas, com suas matrizes disciplinar, seus paradigmas.

El entrenamiento científico incluye elementos que no están regulados por las reglas de la lógica formal, tales como: alcance de habilidades psicológicas y físicas, acumulación de cierto número de observaciones y experimentos y competencia para forjar conceptos. En este momento, Fleck está hablando acerca de una manera específica de aprender por medios no verbales, que Kuhn posteriormente llamará ejemplares, esto es, la concreta “solución de enigmas” que reemplaza las reglas explícitas en el proceso de entrenamiento científico (Kuhn 1970: 175). En este sentido, tanto para Fleck como para Kuhn, la ciência no puede ser reducida a una actividad gobernada por reglas y la autoridad de la ciencia radica en la comunidad científica o colectivo de pensamiento (Barker 1986: 164). La educación científica es otro aspecto similar en los trabajos de Fleck y de Kuhn: Fleck señala cómo el ser introducido a un campo de conocimiento es un tipo de “iniciación” llevada a cabo por otros. (Fleck, 1979 apud Obregón, 2002, p. 06)

Para que se estabeleça uma prática cientificamente aceito são necessário a construção de um corpo teórico em torno do fenômeno, do objeto estudado, estas construções são elaborada e divulgadas por uma coletividade, que ambicionam controlar uma determinada camada da população. Neste sentido os médicos são os sociólogos dos espaços, ordenando os espaços para intervir sobre, no Brasil os médicos atuaram no sentido de organizarem os espaço, para evitar as epidemias, neste sentido , o problema era o tipo de habitação, em um segundo momento o problema da saúda pública era a área em que estava situadas as habitações, as construções deveriam ser construidas em espaços amplos, para que o vento circulassem, o saber médico se constitui como disciplinadores sobre os espaços, sobre os corpos que habitam os espaços geográficos. As doenças são conceituadas, as doenças são narrativas que são construidas a partir de interesses políticos, que são legitimados, naturalizados pelo/por um coletivo de pensamento, por uma comunidade científica. Neste sentido os médicos não inventaram as doenças, mas disciplinaram os espaços de origem das doenças, os fatores que provocam, as profilaxias, os espaços e os sujeitos que apresentam determinadas doenças. O que em um determinado momento

é

um

determinante

geográfico,

passa

a

ser

traduzidos

em

determinantes social ou econômico, dependendo do interesse do grupo dominante em exercício.

No antigo Território do Acre, na primeira década do século XX, a crise da produção gumífera foi traduzida como fruto de um quadro mórbido, pela falta ou ausência de hábitos higiênicos dos habitantes destes espaços, a ausência da ciência era o motivo que tornava a Amazônia, um lugar infernal, tornando-a um lugar inabitado. A ausência das práticas científicas, tornava este espaço um lugar propícios as outras práticas de curar, segundo o professor Sérgio (2016) "a falta de médicos, o que deixava a população à mercê dos diagnósticos de curiosos e dos regimes das pílulas que tudo curavam". Desenvolveu-se um discurso que era necessário sanear os sertões para que estes voltassem a ser produtivos para a Nação. As dificuldades de acesso as longínquas regiões no interior da região amazônica, contribui para a inoperância das ações do Estado, por isso o desenvolvimento de práticas populares de cura é corriqueira. Souza (2014) "os quadro mórbido aparecem como reflexos da ausência absoluta de políticas sanitárias na região, o que contribuía para agravar ainda mais, a crise econômica gerada pela concorrência dos seringais de cultivo do sudeste asiático".

O fato de o poder público encontrar dificuldades para estruturar os serviços de saúde, pode ter contribuído, para que considerável parcela dos moradores do Acre intensificasse a busca por outras artes de curar, aumentando com isso o prestígio da medicina popular no Território. (Souza, 2016, p. 176)

Nestas

comunidades

os

saberes

são

elaborados

e

utilizados

assistematicamente, são saberes tradicionais, que utilizam plantas e tubérculos encontrados no interior da floresta, mas alguns são cultivados por comunidades tradicionais, como as comunidades indígenas e ribeirinhas. Um exemplo, é a utilização da planta crajiru, que as pessoas utilizam em forma de chá, ingerido esta bebida para servi de anti-inflamatório natural, como unguento, segundo a crença popular cura anemia, conjuntivite, diarreia, entre muitos outros males.

À guisa de conclusão, ainda hoje as práticas da cura popular são comum pelas comunidades amazônica, mesmo nos locais que o atendimento médico chega as pessoas utilizam as propriedades das plantas medicinais para curaremse das doenças chamadas tropicais. A tradição convive em harmonia com as práticas moderna da ciência médica. As cidades localizadas na Região amazônica, são cidades florestas, no sentido dado por Sarraf Pacheco (2015) "...as memória gesta conhecimentos nas interfaces de teorias nômades com diferentes memórias, seus lugares, usos, e significações. Para este campo os saberes locais não são puros, as tradições são sempre reinventadas e as etnias historicamente misturadas'. Neste sentido podemos inferi que o conhecimento é nômade, construido por/através de processos socioculturais, no interior de diversos grupos, comunidades, sociedades, etnias, e que os saberes não são universais, depende de cada grupo situado em um espaço temporal determinado.

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Disponível

no

seguinte

endereço

eletrônico:

HTTP://redalic.uaemex.mx/redalyc/html/414/41400707/41400702.htm OLIVEIRA, O. G. Oswaldo Cruz e suas atividades na direção da Saúde pública Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1955. SCHWEICKARDT, Júlio César. As doenças tropicais e o Saneamento no Estado do Amazonas, 1890, 1830. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2011. SOUZA, Sérgio Roberto Gomes de. Saberes médicos, feiticeiros e curandeiros no Acre territorial (1904 a 1930). In: Diálogos: pesquisas e escritas amazônicas / Organizado por: Francisco Bento da Silva, Hélio Rodrigues da Rocha. – Rio Branco: Nepan Editora, 2016. pp. 166-198. SARRAF-PACHECO, Agenor e SILVA, Jerônimo da S. (Organizadores). Cartografia de Memórias: Pesquisa em Estudos Culturais da Amazônia Paraense. Belém: IFPA, 2015. SOUZA, Sérgio Roberto de. "Desnervados, desfibrados e amarelos" em busca de cura: saúde pública no Acre Territorial (1904-1930). Tese (Doutorados em História Social) Faculdade de Letras e Ciências Humanas, Universidades de São Paulo, São Paulo, 2014. THIELEN, Vilela Eduardo. et al. A Ciência a Caminho da Roça. Imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Brasil. Rio de janeiro: FIOCRUZ/casa de Oswaldo Cruz, 1991.

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