Reflexões sobre a questão do divórcio

May 20, 2017 | Autor: Iara Paiva | Categoria: Crítica textual do Novo Testamento, Estudos do Novo Testamento, Divorcio
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Reflexões sobre a questão do divórcio
Jesus era contra o divórcio. Essa é uma das verdades inconvenientes atestada por muitos estudiosos do Jesus Histórico.
Em Marcos (10: 2-11), Jesus reinterpretou a Lei de Moisés (Dt 24:1), que permitia o divórcio, afirmando que a lei só existia por causa da dureza dos corações dos homens. Jesus completou: "o que Deus uniu o homem não separe". Mateus e Lucas modificaram a forma de apresentar a proibição, afirmando: "quem repudia a esposa comete adultério". Mateus (5: 32) introduziu uma exceção: em caso da prostituição da mulher, haveria a possibilidade do divórcio.
Paulo nos apresenta o quadro mais interessante. Ao mesmo tempo que afirma que Jesus proibia o divórcio, apresenta uma nova regra criada por ele incluindo uma nova exceção. Na Primeira Epístola aos Coríntios, no capítulo 7, encontramos: "Quanto àqueles que estão casados, ordeno não eu, mas o Senhor: a mulher não se separe do marido [...] e o marido não repudie sua esposa! Aos outros digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem esposa não cristã e esta consente em habitar com ele, não a repudie [...]. Se o não cristão quer separar-se, separe-se".
Paulo vivia uma situação diferente de Jesus e seu público era outro. Como incluiu a possibilidade da mulher querer se separar do marido, não estava se referindo aos judeus, visto que na lei judaica apenas o homem poderia repudiar a mulher. Seu público majoritário eram os cristãos gentios. Mesmo sabendo da proibição do divórcio por Jesus, que ele chama de Senhor, ousou acrescentar uma exceção, assim como Mateus já havia feito antes.
Moisés trouxe a lei original, Jesus a modificou, seus seguidores acrescentaram exceções e assim várias leis e preceitos religiosos foram modificados, ao longo do tempo, pelos diversos representantes religiosos que as interpretaram. É uma prática comum e faz parte de todas as religiões.
Para o especialista em Jesus Histórico, Bart D. Ehrman, Jesus proibia o divórcio para proteger a mulher. Quando casava, a mulher passava a fazer parte da família do marido. Quando repudiada, se não fosse aceita por sua família anterior, ela não teria meios de sobreviver dignamente, entregando-se à mendicância ou à prostituição. A dureza dos corações dos homens condenava a mulher repudiada a uma vida de miséria e pecado. Nesse contexto, faz todo sentido que Jesus proibisse o divórcio. Para o autor do Evangelho de Mateus, a prostituta não merecia permanecer casada, então a excluiu da proibição. Na época de Paulo, o contexto era outro. Os cristãos começavam a ser hostilizados pela sua escolha de fé e havia a expectativa do retorno iminente de Jesus. Desta forma, Paulo permitiu que houvesse a possibilidade do divórcio no caso do cônjuge não ser cristão.
Nos dias atuais, a maioria das mulheres não necessita mais da proteção do casamento para sobreviver com dignidade. Nada mais justo que, em se modificando o contexto, haja novas exceções permitindo o divórcio, como aliás, já ocorrera com Jesus, Mateus e Paulo.




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