Reflexões sobre as indústrias criativas: o caso dos cafés “emblemáticos” da cidade do Porto

Share Embed


Descrição do Produto

19/07/2016

Reflexões sobre as indústrias criativas: o caso dos cafés “emblemáticos” da cidade do Porto | Instituto de Sociologia da Universidade do Porto

Instituto de Sociologia da Universidade do Porto

← Aspirações

Abrir a escola: do movimento de ocupação de escolas no Rio de Janeiro ao debate sobre a rede pública de ensino em Portugal →

Reflexões sobre as indústrias criativas: o caso dos cafés “emblemáticos” da cidade do Porto Publicado em 19 de Julho de 2016 por admin

Dimensão analítica: Cultura e Artes Título  do  artigo:  Reflexões  sobre  as  indústrias  criativas:  o  caso  dos  cafés “emblemáticos” da cidade do Porto Autor: Fernando Manuel Rocha da Cruz Filiação institucional: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN, Brasil) E­mail: [email protected] Palavras­chave: Cultura, Indústria criativa, Porto. A  economia  criativa  é  definida  por  Miguez  [4]  como  o  “conjunto  distinto  de  atividades assentadas  na  criatividade,  no  talento  ou  na  habilidade  individual,  cujos  produtos incorporam propriedade intelectual”. Atendendo à centralidade da cultura e das artes nas indústrias criativas, propomos, contudo, de acordo com Cruz [2], que a Economia Criativa seja definida como o ciclo económico de criação, produção, distribuição e mercado de bens e serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais ou artísticos.  Desse  modo,  ficam  salvaguardados  os  setores  criativos  com  viés  de  mercado como design, publicidade, arquitetura ou moda. Assim, as indústrias criativas seriam, por seu  lado,  definidas  como  empreendimentos  que  têm  por  objeto  a  cultura  e/ou  a  arte  ou que incluem elementos de cultura e arte na prossecução do lucro. O Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento agrupa as  indústrias  criativas  em  categorias  culturais:  (1)  Património,  (2)  Artes,  (3)  Meios  de comunicação  social  e  (4)  Criações  Funcionais  [5].  Por  seu  lado,  o  programa  da  União Europeia “Europa Criativa” destina­se a apoiar os setores culturais e criativos. O programa tem  uma  duração  de  sete  anos  (2014  –  2020)  e  um  orçamento  de  1.4  mil  milhões  de Euros.  O  Europa  Criativa  inclui  dois  subprogramas:  (1)  Subprograma  MEDIA  (dirigido exclusivamente  ao  sector  cinematográfico  e  audiovisual);  (2)  Subprograma  CULTURA (engloba as restantes expressões culturais e artísticas). Trata­se de um programa que atua em  diferentes  vertentes  que  não  somente  a  económica,  como  por  exemplo,  a  educativa, como a formação de públicos. A  crise  económica  em  Portugal,  fez  cidades  como  Lisboa  e  Porto,  olharem  para  a http://www.barometro.com.pt/2016/07/19/reflexoes­sobre­as­industrias­criativas­o­caso­dos­cafes­emblematicos­da­cidade­do­porto/

1/3

19/07/2016

Reflexões sobre as indústrias criativas: o caso dos cafés “emblemáticos” da cidade do Porto | Instituto de Sociologia da Universidade do Porto

Economia  Criativa  como  condição  inevitável  para  “fugirem”  à  crise  económica,  iniciada nos finais da década de 2000 e investir nas indústrias criativas à semelhança do que era propagado  em  algumas  capitais  europeias  como  Londres  ou  Paris  –  e,  o  Relatório  da UNCTAD e o Programa “Europa Criativa” demonstram. Há  algum  tempo,  que  na  cidade  portuense  o  refinamento  da  cultura  pós­moderna extravasou  os  circuitos  dos  museus  e  salas  de  espetáculo  e  cinemas.  Os  bares  e  os restaurantes das ruas Cândido dos Reis, Galerias de Paris e das Flores e manchas urbanas adjacentes,  por  exemplo,  deixaram  há  muito,  de  serem  apenas  locais  para  consumo  de bebidas  e  comidas,  mas  espaços  culturais  e  de  entretenimento,  onde  se  alia  música, design, vídeo, cinema, arquitetura, pintura, escultura, entre outras especialidades culturais e artísticas. Hoje, verificamos a mesma tendência na Rua das Flores. A  reunião  de  cultura  e  arte  a  outros  negócios  ou  empreendimentos  económicos  é  uma característica  das  indústrias  criativas  que  a  crise  económica  na  cidade  portuense  veio potenciar ainda mais. A isso, está aliada uma gentrificação com a consequente deslocação da população mais carenciada para fora da cidade devido à especulação urbana, resultado da  requalificação  urbana  do  centro  da  cidade.  O  resultado  é  a  instalação  de  hotéis  de quatro e cinco estrelas, como o Hotel das Cardosas, a transformação de antigos mercados públicos  em  novas  propostas  comerciais  e  de  lazer,  como  o  Mercado  do  Bom  Sucesso,  a recuperação  e  criação  de  jardins  e  canteiros,  como  o  Largo  dos  Lóios,  entre  outros.  O próprio  executivo  camarário  portuense  reconheceu  que  a  requalificação  urbana  está  a levar  a  uma  gentrificação,  tendo  anunciado  recentemente  que  as  casas  camarárias deixariam de poder ser vendidas para fins turísticos [3].  

Fig.  1:  À  esquerda,  cartaz  no  Café  Guarany  a  anunciar  noite  de  fado  (quintas­feiras  e sábados). Às sextas­feiras, este mesmo Café promove noites de piano e violino. À direita, cartazes  no  Café  Ceuta  a  anunciar  noites  temáticas  de  dança  como  forró  (terças­feiras  e sábados) e afro­latino (sextas­feiras). Fonte Própria (3 de junho de 2016). Deste  modo,  verificamos  que  cafés  tradicionais  e  emblemáticos  da  cidade  do  Porto passaram  a  oferecer  atividades  culturais  como  música  e  dança  como  forma  de  captar público para seus empreendimentos tradicionais. No entanto, se verificamos o “modismo” dessa associação do cultural com outras atividades culturais, devemos lembrar que o Café Guarany,  na  Avenida  dos  Aliados,  fundado  em  1933,  era  conhecido  como  o  “café  dos músicos”.  Igualmente,  o  Café  Majestic,  na  Rua  Santa  Catarina,  fundado  em  1921,  era http://www.barometro.com.pt/2016/07/19/reflexoes­sobre­as­industrias­criativas­o­caso­dos­cafes­emblematicos­da­cidade­do­porto/

2/3

19/07/2016

Reflexões sobre as indústrias criativas: o caso dos cafés “emblemáticos” da cidade do Porto | Instituto de Sociologia da Universidade do Porto

célebre por suas tertúlias. Hoje, inclui também uma programação cultural com noites de música. Já o Café Ceuta inaugurado nos anos 1950, famoso por suas tertúlias nessa época, apresenta hoje noites de dança com destaque para o forró, dança latina e quizomba. Hoje,  tal  como  no  passado,  verificamos  que  a  arte  e  a  cultura  aparecem  associadas  à dinamização de empreendimentos tradicionais,  como  o  gastronómico.  A cidade do Porto apresenta no seu passado essa ligação entre economia e cultura, mas hoje verificamos uma intensificação  desse  fenómeno  com  a  introdução  de  conceitos  “estranhos”  à  identidade portuense.  A  cultura  da  cidade  “palimpsesto”  [1]  é  cada  vez  mais  global  e  menos  local, procurando satisfazer as necessidades da “moda” e do turismo internacional. O “local” e a identidade  portuense  se  reduzem  cada  vez  mais  a  conceitos  estilizados  e  decorativos.  A cultura portuense é o “cenário” das indústrias criativas e o conteúdo é genérico e global. Notas [1] Cruz, Fernando Manuel Rocha da (2011). A tematização nos espaços públicos: estudo de  caso  nas  cidades  de  Porto,  Vila  Nova  de  Gaia  e  Barcelona.  Uma  análise  sobre  a qualidade e estrutura dos espaços públicos. Tese de doutoramento. Porto: FLUP. [2]  Cruz,  Fernando  Manuel  Rocha  da  (2014),  Políticas  Públicas  e  Economia  Criativa: subsídios  da  Música,  Teatro  e  Museus  na  cidade  de  Natal/RN,  In:  B.  F.  Linhares,  (Org), [Anais do] IV Encontro Internacional de Ciências Sociais: espaços públicos, identidades e diferenças, de 18 a 21 de novembro de 2014, Pelotas, RS: UFPel. [3]  Lusa  (2016).  Rui  Moreira  admite  taxa  turística  no  Porto  para  proteger  património. In:Observador.  Disponível  em  http://observador.pt/2016/06/07/rui­moreira­admite­ taxa­turistica­no­porto­para­proteger­patrimonio/. Acesso em 30 jun 2016. [4]  Miguez,  Paulo  (2007).  Economia  criativa:  uma  discussão  preliminar,  In:  G.  M. Nussbaumer  (Org.),  Teorias  &  políticas  da  cultura:  visões  multidisciplinares,  Salvador: EDUFBA. [5] Unctad (2010), Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável, Genebra: Nações Unidas. . . Esta entrada foi publicada em Cultura e Artes com as tags Cultura, Indústria criativa, Porto. ligação permanente. ← Aspirações

Abrir a escola: do movimento de ocupação de escolas no Rio de Janeiro ao debate sobre a rede pública de ensino em Portugal →

Uma Resposta a Reflexões sobre as indústrias criativas: o caso dos cafés “emblemáticos” da cidade do Porto Pingback: 2ª Série de 2016 de Artigos de Opinião (junho de 2016) | Instituto de Sociologia da Universidade do

Porto

http://www.barometro.com.pt/2016/07/19/reflexoes­sobre­as­industrias­criativas­o­caso­dos­cafes­emblematicos­da­cidade­do­porto/

3/3

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.