REFLEXOS DO NOVO PANORAMA ECONÔMICO SOBRE AS CONFIGURAÇÕES DE EMPREGABILIDADE

May 28, 2017 | Autor: M. Bernardim | Categoria: Emprego, Desemprego, Mercado De Trabalho, Empregabilidade
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Revista Guairacá – Unicentro, n. 17, 2001, p. 179-201.

REFLEXOS DO NOVO PANORAMA ECONÔMICO SOBRE AS CONFIGURAÇÕES DE EMPREGABILIDADE Márcio Luiz Bernardim Departamento de Administração - UNICENTRO

RESUMO O presente estudo faz uma abordagem preliminar das questões relacionadas ao desemprego e à empregabilidade. A partir de uma retrospectiva histórica do “trabalho” e seu conceito, desemboca-se na polêmica em torno da tecnologia e do capitalismo como elementos causadores do desemprego em massa. Além disso, apresenta dados sobre o desemprego no Brasil e no mundo, bem como algumas previsões de estudiosos que têm se dedicado ao tema.

PALAVRAS-CHAVE: Emprego, desemprego, empregabilidade, mercado de trabalho.

ABSTRACT The present study is an initial approach of matters related to the unemployment and employability. From historical research of labour and its concept, we reach the controversy that exists about technology and capitalism as reasons for a massive unemployment. Besides, this piece of work presents some data about unemployment in Brazil and other countries, as well as some forecasts of researchers who have dedicated their studies to this theme. KEY WORDS: Employment, Unemployment, Employability, Labour Market.

INTRODUÇÃO Muito se tem falado atualmente sobre o fim ou a redução significativa dos postos de trabalho nas organizações. Muitos periódicos têm dedicado boa parte do seu espaço noticiando por que os empregos estão mudando, em alguns casos, e simplesmente desaparecendo, em outros. Muitos escritores e estudiosos ficaram famosos, por seu turno, pela capacidade de fazer previsões sobre o futuro da sociedade, inclusive sobre os reflexos das políticas

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econômicas e dos desdobramentos do capitalismo sobre o “emprego” e a nova configuração do mercado de trabalho. Enquanto Alvin Toffler vislumbra os meios de produção centrados no prossumo, Porter aponta as megatendências que modificarão o conceito de trabalho no novo cenário econômico. Nessa linha, outros mais (Rifkin, Thurow, Bridges, etc.) apontam tendências que de uma forma ou outra estabelecerão novos paradigmas no cenário sócioeconômico do novo milênio. Não obstante os estudos até aqui desenvolvidos, muito ainda há por pesquisar, num trabalho de prospeção social, política e econômica, que auxilie na compreensão do fenômeno, apontando ações que possam minimizar os impactos negativos do desemprego na sociedade contemporânea.

A PROPÓSITO DESTE ESTUDO Segundo Gramsci, a crise se caracteriza quando as velhas estruturas e relações não morreram e novas relações e estruturas ainda não se tornaram hegemônicas; o risco é da emergência de comportamentos mórbidos (CASALI, 1997). Bem por isso não se pode deixar vencer pela intranqüilidade do momento presente, e nem se deixar influenciar pela onda de catastrofismo que toma conta do País. Pelo contrário, mister se faz enfrentar os desafios. Não por outro motivo, SAGAN (1980) diz que a procura de regras é o único meio possível de dominar tão complexo universo, que força os que nele vivem a compreendêlo. Isso se chama ciência. Diz ainda haver pessoas que observam os problemas globais aqui na Terra (grandes antagonismos, explosão demográfica, má distribuição da renda, etc.) e concluem que vivemos num sistema que se tornou instável e que tende a logo desaparecer. Outras há que acreditam que esses problemas têm solução e que a humanidade tem muito a evoluir. Como lutador incansável para compreender o universo e os seus fenômenos, ele perfilou-se ao segundo tipo, deixando um grande legado: o de buscar soluções, sempre. É sob essa perspectiva que se desenvolve o presente ensaio. Sem maiores pretensões, nesta primeira versão apresenta apenas um trabalho inicial de compilação e condensação de pesquisa bibliográfica sobre o tema.

NOTÍCIA HISTÓRICA

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Segundo CATTANI (1996), o trabalho como ato concreto, individual ou coletivo, é uma experiência social, podendo ter conotações ambivalentes de opressão e emancipação, tortura e prazer, alienação e criação. E isso tem uma explicação histórica, posto que já no contexto GÊNESIS (3, 19a) o trabalho aparece como uma “punição” do Criador para com a criatura, quando sentencia: “...com o suor do teu rosto comerás teu pão...”. Há muita discussão entre os lingüistas, mas tudo indica que o vocábulo “trabalho” tenha vindo do latim tripalium. Ora, tripalium era uma ferramenta constituída de uma haste com um suporte dentado numa das extremidades, utilizada pelo agricultor para triturar e descaroçar cereais. Há notícia de que, em algum momento, também fora utilizado para torturar serviçais e escravos. Nessa linha de raciocínio, não é difícil imaginar as causas da forte associação entre trabalho e penosidade, algo difícil de suportar e que deve ser evitado. Mesmo na etimologia de línguas modernas, verifica-se essa dicotomia. É o caso do alemão arbeit em contraposição ao werk, ou do inglês labor que se contrapõe ao work. Respectivamente, em ambas as línguas, enquanto o primeiro termo tem uma conotação positiva, de criação, concentrando-se no resultado do esforço empreendido, o segundo tem conotação de sacrifício. E, de fato, por muito tempo, pelo menos o homem comum, sempre precisou trabalhar para sobreviver, senão para morrer, o que se verificou até o momento em que a sociedade chegasse ao necessário grau de civilidade. Na Pré-história, há indícios de que o homem vivia em bandos por perceber que o esforço grupal contribuía para garantir as condições de sobrevivência. Muita evolução houve até a formação das comunidades gentílicas e o início do sistema escravista. Mas este último, por certo, foi o período em que começaram a surgir as desigualdades sociais, com a divisão de classes e o estabelecimento de castas com diferentes status sociais. As guerras levaram à dominação e ao jugo de alguns povos. Mesmo quando a dominação não se estabeleceu através da guerra armada, a própria “guerra de poder” dos sistemas econômicos fez com que surgisse, no decorrer do tempo, mesmo em nações consideradas democráticas, uma pequena classe dos que “tudo podem”, em detrimento de uma grande massa de dominados, que pouco ou nada têm e por isso “nada podem”. A tradição religiosa, a partir dos judeus, sempre viu no trabalho uma pena pelos pecados e uma possibilidade de expiação. Calvino e Lutero defenderam o trabalho como obrigação e uma forma de se proteger dos maus pensamentos e da má conduta. Bem antes, São Paulo dizia que o trabalho é que dava direito ao sustento. Mas é durante o Renascimento que a atividade produtiva sofre uma mudança radical. O homem deixa de ser um “animal

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teórico” para ser também sujeito ativo, construtor e criador do mundo. As nascentes relações capitalistas e o desenvolvimento da ciência criam uma nova atitude com relação às atividades humanas vinculadas à transformação da natureza, a qual não recai mais sobre escravos - como na Antigüidade, mas sobre homens livres (ALBORNOZ, 1994).

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Desde os primórdios da Revolução Industrial a sociedade vem passando por uma restruturação quanto às configurações sociais que correspondam aos desafios dos novos cenários sócio-econômicos. Ao idealizar a máquina a vapor, por certo James Watt não imaginara as profundas modificações que seu invento deflagraria, a médio e longo prazos, nas relações de trabalho e na conformação da sociedade. É sabido que as relações de trabalho eram, até então, meramente escravas, em muitos casos, e sedimentadas em oficinas e em trabalho de subsistência, em outros. Apesar do crescente impulso às empresas nascentes, já num primeiro momento haveria um problema com desdobramentos danosos aos cidadãos e aos governos: o êxodo rural. Embora tal fenômeno seja bem mais antigo, essa ocorrência é ainda mais impulsionada pela Revolução Industrial. Ainda hoje a agroindústria vai eliminando sitiantes e pequenos produtores que, sem meios de competir com os grandes latifúndios mecanizados, vêem-se obrigados a seguir para as cidades. O pior é que nas cidades a competição é ainda maior, além da dificuldade natural do trabalhador rural competir com o trabalhador urbano. Não há dúvida que, equacionados os problemas intercorrentes, a instalação das empresas contribuiu, em geral, para a melhoria das condições de vida e para o amadurecimento da civilidade, cujos reflexos faz-se sentir cada vez mais. Sob um enfoque sociológico, todavia, há que se entender que o processo de mudança, naquela época, foi doloroso e deixou profundas seqüelas sociais, das quais o ficcionista e revolucionário russo Máximo Górki pinta um quadro interessante em seu romance “Mãe”, tratando da questão da desagregação familiar e da repugnante nova sociedade, segregacionista por excelência. Da mesma forma, excepcional é a leitura da obra de Vítor Hugo, que traça em “Os Miseráveis” um perfil da sociedade francesa do século XIX, vítima da fome, da desenfreada concentração urbana e da marginalização crescente. Iniciavam-se ali os primeiros sintomas da desestruturação familiar e da ditadura da sobrevivência.

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Houve reação da classe trabalhadora, o que contribuiu para o necessário equilíbrio de forças entre os detentores dos meios de produção e aqueles que contribuíam com o “capital humano”. Mas não se pode esquecer que também houve, por muito tempo, atitudes de sufocação do movimento operário, e o Estado sempre acabou intervindo em favor dos capitalistas. Tal atitude fica evidente na Lei de Chapellier (1791), que nasceu no bojo da Revolução Francesa, e que proibia os trabalhadores de se reunirem, constituírem associações e reivindicarem quaisquer direitos (ANTUNES, 1985). Como se vê, a célebre Revolução serviu muito bem para derrotar o regime absolutista dos reis, mas flagrante é a tentativa de manter vigente o sistema de opressão do proletariado. Já no início do século XX, nos Estados Unidos, o genial Charles Chaplin faria uma sátira inteligente do novo modo de vida do século XX. Nas filmagens de “Tempos Modernos”, Carlitos daria ensejo a uma série de pesquisas nas empresas e no surgimento da “Escola das Relações Humanas”, reunindo estudos de Maslow, Herzberg e outros. A Escola das Relações Humanas procurou humanizar as relações de trabalho, resgatando no ambiente organizacional aquilo que Taylor e Fayol haviam deixado de lado quando estabeleceram os Princípios da Administração Científica. Com sucesso ou não, sabe-se que grande foi o impulso e significativas foram as contribuições desses estudiosos para a melhor compreensão do comportamento humano no trabalho e das formas de motivação do comportamento, com desdobramento em inúmeros outros estilos de administração tendo como meta o estreitamento nas relações entre trabalho x capital. De qualquer forma, inquestionável é o fato de que a Revolução Industrial proporcionou aumento de salários reais, melhor alimentação e, conseqüentemente, grande queda do índice de mortalidade, entre outros tantos avanços. Difícil imaginar um outro contexto que levasse a humanidade a alcançar um progresso tão denso e significativo em espaço de tempo relativamente tão curto.

O CAPITALISMO Segundo Max Weber, é na tradição religiosa que se fundamenta o “espírito do capitalismo”, haja vista a restrição do consumo combinada com a liberação da busca da riqueza. As restrições impostas pela religião puritana ao uso da riqueza adquirida incentivam o uso da riqueza como investimento de capital (ALBORNOZ, 1994).

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Em O Futuro do Capitalismo, Thurow aponta vários fenômenos econômicos relacionados como resultado do equilíbrio dinâmico de cinco grandes forças da economia mundial contemporânea: o fim do comunismo, um deslocamento tecnológico para indústrias de alto conteúdo de massa cinzenta, um crescimento demográfico sem paralelo na história, uma economia globalizada e uma era sem potências econômicas, políticas e militares dominantes (apud FERREIRA, 1997). O desemprego tecnológico é um dos problemas que emergem do choque destas forças, o que se agrava com o enfraquecimento das vantagens comparativas clássicas - terra, capital e trabalho - em função da emergência do setor do conhecimento. Junte-se a isso a globalização econômica e financeira e o envelhecimento da população, comprometendo os sistemas previdenciários, e instaura-se um grande problema (FERREIRA, 1997). Segundo CATTANI (1996), nunca o comércio externo foi tão impulsionado, nunca as políticas cambiais mereceram tamanha preocupação e em nenhuma outra época o desequilíbrio da balança comercial chegou a incomodar tanto. As dívidas externas, por muito tempo carro-chefe das preocupações dos países pobres e em desenvolvimento, passou para a berlinda, deixando espaço para outras preocupações mais urgentes. A nova crise cíclica do capital dos anos 80/90 atingiu também as nações ricas, mas elas têm um capital cultural e social que lhes traz vantagens comparativas enormes. Segundo Touraine, a condição necessária à integração é: ruptura com um dos sistemas econômicos e sociais mais desigual e injusto do mundo, ruptura com uma cultura profundamente excludente, escravocrata e elitista e a concretização de um sistema éticopolítico efetivamente democrático (apud ALBORNOZ, 1994). A maior crítica que se faz hoje ao sistema capitalista, contudo, o que passou despercebido por Marx e até pelos pensadores católicos de então, refere-se ao caráter marginalizante e excludente do sistema, e não tanto às condições de trabalho ou questões ligadas ao controle do aparelho produtivo pelo Estado ou pela iniciativa privada. O problema está no dimensionamento do espaço a ser ocupado e na seletividade da mão-de-obra: isso torna palpável a exclusão, fruto da falta de oportunidade e da falta de sincronia entre a qualificação demandada pelo sistema produtivo e a capacidade do sistema educacional. Enquanto a primeira e a segunda revoluções industriais significaram uma potenciação fantástica da força física humana, a terceira amplia a capacidade mental e intelectual. Mesmo disponibilizando um fantástico arsenal tecnológico, que permitiria a

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redução do tempo de trabalho necessário a uma sobrevivência digna, tal fenômeno tem produzido enorme precariedade, desemprego estrutural e subemprego (ALBORNOZ, 1994). Majewski lembra que a armadilha malthusiana do crescimento geométrico da população, superando o aumento aritmético da oferta de alimentos, foi rompida pela eficiência do capitalismo em geral, e da revolução industrial, em particular (apud REVISTA VISÃO, 23.11.1988). Muitas são as discussões, mas há quase que uma unanimidade quanto ao fato de que o sistema não é o problema. O problema está nas medidas de ajuste e aperfeiçoamento que se fazem necessárias em função dos novos desafios da sociedade, calcada na globalização dos mercados e na livre concorrência.

A TECNOLOGIA SANCHIS (1995) diz que a polêmica da “tecnologia x emprego” é mais velha que o próprio capitalismo. Já no século III, o imperador Diocleciano teria abdicado do uso de um equipamento em prol do emprego dos mais pobres. Hoje as máquinas substituem não só a força física, mas também a inteligência. O computador e a máquina automática substituem os trabalhadores do escritório e da fábrica. Enquanto os pensadores socialistas acreditavam na redução dos empregos, em decorrência do progresso técnico, os liberais sempre apostaram no aumento do emprego, a longo prazo. Durante os trinta anos que se sucederam à Segunda Guerra Mundial, ninguém parecia se importar com os empregos eliminados com um progresso técnico vertiginoso, e até os sindicalistas e militantes de esquerda limitavam sua preocupação às condições de trabalho e à alienação no trabalho industrial. De qualquer forma, não há lei universal dos efeitos da tecnologia sobre o desemprego, e ele é um fenômeno que divide os economistas. Uma corrente defende que qualquer mudança tecnológica que aumente a produtividade é essencialmente boa, pois maior produção pode reduzir os preços e acabar criando mais empregos e melhores salários. Outra corrente diz que o estado deve intervir na economia, nos moldes da teoria keynesiana, possibilitando o sucesso já alcançado no período do pós-guerra (FERREIRA, 1997). Não há dúvida de que o crescimento econômico está fortemente condicionado ao progresso tecnológico, é o que afirmam VOSS e VERVIER (1995). Quando os países em desenvolvimento aumentam o seu nível tecnológico mediante a absorção de tecnologias de países industrializados, também permitem que se acentue as desigualdades e os desequilíbrios

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sociais, pois o contraste entre os setores modernizados e tradicionais tende a agravar-se. O caráter intensivo em capital da tecnologia mais eficiente inibe a suficiente criação de novos empregos e o desemprego resultante, por sua vez, reforça o mecanismo de concentração de renda. A utilização desses processos tecnológicos dispensadores de mão-de-obra em universos com altas taxas de crescimento demográfico cria um desemprego crônico, agravado ainda mais com o fenômeno da impressionante fertilidade do pobre. Some-se a isso a imobilidade social intrageração e intergeração, e a desigualdade está enraizada.

O EMPREGO NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO Dentro de um novo modelo de comércio internacional, a descentralização do comércio e, por assim dizer, do poder econômico, gerou uma crescente interdependência das empresas. O conceito de concorrência, nesse novo panorama, passou por uma grande alteração. Já não é o vizinho mais próximo o nosso principal concorrente. Ele tanto pode estar aqui bem perto como no outro lado do oceano; pode ter grande ou pequeno poderio econômico, ser um grande conglomerado ou uma pequena empresa familiar. Entre as características da era moderna está a aplicação da ciência à produção, o que aumenta a produção material e melhora a qualidade dos produtos e serviços. O crescimento notável das cidades se deve tanto pelo crescimento demográfico quanto pelas melhorias na área da saúde, com o controle de certas epidemias e doenças infecciosas e a redução da mortalidade infantil. De outro lado, deve-se ao êxodo rural, motivado pelas precárias condições e pela falta de apoio no campo, bem como pela esperança de melhores dias com o mercado de trabalho urbano. Na América Latina, a concentração de grandes massas humanas em redor das cidades veio a dar-se antes mesmo da criação de suficientes oportunidades de trabalho na indústria. Foi terrível a situação de exploração da classe operária na Inglaterra e na França do século XIX, mas ela já teve tempo e condições para superar em grande parte aquela situação, e isso muito com o auxílio do esforço super-explorado da mãode-obra dos países subdesenvolvidos, até então colônias. Nos países europeus menos industrializados no século XIX - como Alemanha e Itália, as elites dominantes usaram o expediente de exportar seus camponeses e artesãos (que sobravam) para a América, contornando assim o crescimento gigantesco das cidades (ALBORNOZ, 1994). Para IOKOI (1997), o declínio da produtividade e as suas conseqüências no PIB, fato generalizado em todo o mundo, fez com que os países implementassem mecanismos

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para buscar novas formas de enfrentar os desafios, sendo os principais a modernização tecnológica e a redução de custos e encargos. Ao mesmo tempo, foi-se substituindo, em alguns casos tardiamente, a política intervencionista de Keynes pela política liberal de Friedman. Mesmo as atividades consideradas essenciais vão sendo desenvolvidas

através de uma

administração pautada na redução máxima de custos. Novos processos de trabalho emergem, proporcionando a flexibilização da produção, novos padrões de produtividade, novas estratégias de adequação da produção com a lógica do mercado, etc. De outro lado, as relações de trabalho são flexibilizadas; direitos e conquistas históricas são substituídos ou eliminados. O emprego vitalício japonês, que passou a valer concretamente a partir de 1965, foi implantado nas grandes empresas, mas apenas 30% do universo dos trabalhadores japoneses experimentaram esse modelo, o qual está em cheque em função da mais recente crise econômica (ANTUNES, 1995). Cada vez mais as grandes empresas estão reduzindo as oportunidades de emprego e obrigando as pessoas a buscar renda em atividades autônomas, na maioria das vezes na informalidade. Em função de tudo isso, o trabalho foi ganhando conotação muito peculiar. Até recentemente só era considerado trabalhador o indivíduo que exercia alguma atividade como assalariado. Excluídos estavam tanto autônomos como empregador, tanto donas de casa quanto os trabalhadores informais. Mesmo assim, na linguagem coloquial, muitas vezes se diz trabalho por emprego, e vice-versa. Segundo ALBORNOZ (1994), pode-se até cometer o absurdo de confundir “oferta de emprego” com “campo de trabalho”. Por tudo isso, a cada ano o tema emprego tem sido motivo de maior preocupação por parte de empregados, sindicatos, governos e estudiosos. Em entrevista à GAZETA DO POVO (10.08.97, p. 4), o Professor José Eduardo Faria, da USP, diz que “a globalização econômica tem componentes fortemente antidemocráticos e anti-sociais, na medida em que se baseia no trabalho escravo ou semi-escravo das ditaduras de países como a China Comunista”. E continua: “Se o Brasil não mudar sua legislação trabalhista não terá condições de concorrer com o restante do mundo. E se mudar, haverá uma degradação ainda maior nas condições sociais dos trabalhadores”. Interessante a colocação do ilustre professor, não fosse a falta de horizontes nela implícita. De fato, inquestionável é a tendência do nivelamento das condições de trabalho (aí incluída a massa salarial e a qualidade dos empregos) por baixo, num primeiro momento. Contudo, nesse contexto “país nenhum é uma ilha”, e é difícil para qualquer nação em desenvolvimento, como o Brasil, fechar as portas à tecnologia e ao mercado internacional, quando não por livre arbítrio, ao menos pelo

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compromisso moral concernente ao seu expressivo endividamento externo e dependência internacional. Não resta dúvida que encaminha-se para uma grande precariedade dos contratos de trabalho (CATTANI, 1996). Assim, vive-se um grande impasse, pois de um lado apresenta-se a necessidade de implementação tecnológica e de mudanças nas formas de gestão com vistas à redução de custos e ao aumento da competitividade; de outro, cresce o exército dos marginalizados (sem emprego e sub-empregados). De qualquer forma, MATTOSO (1996) diz que a informalidade no mercado de trabalho - leia-se pessoas que trabalham sem carteira assinada ou que atuam no mercado sem qualquer preocupação previdenciária -, impulsionada com a forte recessão verificada a partir da década de 1990, dificilmente será revertida ou estancada. Apesar disso, ainda há posições divergentes com relação ao aumento indiscriminado da informalidade no mercado de trabalho. Enquanto alguns afirmam que a informalidade representa uma redução na qualidade de emprego, outros defendem que seria demasiado inocente pensar que somente os empregos formais podem ser de qualidade.

O DESEMPREGO Conforme definição da OIT, desempregado é o indivíduo sem trabalho, disponível para exercê-lo e à procura de um emprego. A População Economicamente Ativa compõem-se da soma dos indivíduos entre 15 e 64 anos, trabalhando ou procurando um emprego, excluídos os aposentados e estudantes, bem como aqueles que, embora necessitados, desistiram de entrar ou permanecer no mercado. No Brasil, estima-se que a PEA situe-se em torno de 80 milhões de pessoas (50% da população), e de que os empregos formais não passem de 27 milhões (REVISTA ÉPOCA, 1998). Quando os economistas falam de pleno emprego, referem-se àquele volume de emprego compatível com a evolução equilibrada da economia, pressupondo a existência de uma taxa de desemprego considerada natural. A população total fica assim dividida: os ativos empregados, os ativos desempregados, os inativos. Todavia, a diferenciação entre um ocupado e um inativo está calculada no trabalho produtivo e este conceito é bastante abstrato, senão vejamos: enquanto um sacerdote e um escritor estão incluídos na população ativa, uma dona de casa fica de fora. O trabalhador padrão de atitude keynesiana é um homem maduro, com família para sustentar e sem outras possibilidades de subsistência do que as oferecidas pelo

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mercado de trabalho. Para SANCHIS (1995), quanto menos numerosas as atitudes keynesianas, mais difícil será distinguir nitidamente entre desempregados e inativos. Segundo Freeman, há importantes precedentes históricos levando a crer que não há uma razão intrínseca pela qual um rápido crescimento da população ativa deva estar acompanhado de um aumento do desemprego. A Alemanha dos anos 50, o Japão dos 60 e os EUA de finais do século XIX e princípios do século XX são exemplos de economias que foram capazes de absorver um rápido crescimento da população ativa, mantendo baixos os níveis de desemprego (apud SANCHIS, 1995). Não há dúvida de que uma das principais causas do desemprego atual é a desaceleração do crescimento econômico, que é um fenômeno mundial e a longo prazo. A nova composição da demanda de consumo provoca transformações na estrutura produtiva: a indústria pesada entra em crise estrutural, a qual afeta todos os setores de produção de bens materiais e sobretudo os que produzem bens de consumo duradouro e, na seqüência, passa a haver uma demanda crescente de serviços que, ao não induzir um empresariado de tipo tradicional - motivado pelos lucros - tende a se converter em demanda de serviços públicos, pagos ou não (Archibugi, apud SANCHIS, 1995). Percebe-se em grau cada vez maior o sucateamento das qualificações, fruto das rápidas modificações verificadas nos locais de trabalho, na tecnologia utilizada, nos processos de produção, nas formas de prestação de serviços, no armazenamento de dados e até nos modernos conceitos de trabalho e de qualidade. A forma de prestação dos serviços não é mais aquela tradicional, com horário e local pré-determinado. O conceito de qualidade, tanto de produtos quanto de serviços,

mudou significativamente. Na mesma proporção da

obsolescência de alguns cargos, outros vão surgindo, envolvendo novos conteúdos e exigindo novas habilidades de seus ocupantes. As preocupações com atualização e autodesenvolvimento são cada vez maiores. Um efeito positivo desse novo cenário está relacionado à valorização do capital humano (o problema reside naqueles que estão fora do mercado, que não têm de quem receber referida valorização). Outro aspecto importante é a ampliação da possibilidade de participação na esfera produtiva. Com a desconcentração espacial, CATTANI (1996) diz que muitas empresas menores têm sido incentivadas e têm conquistado um mercado antes inatingível. A própria tendência moderna de deslocamento de empresas, instalando-se preferentemente no interior e não mais nas capitais ou nas grandes metrópoles, pode contribuir para fazer frente ao grande índice de desemprego nas cidades-pólo que, mesmo sem perspectivas de trabalho,

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vinham atraindo uma grande massa de trabalhadores rurais, que ficavam literalmente à margem da sociedade de produção e consumo, simplesmente pela falta de uma oportunidade de trabalho, aliada ao total despreparo até para os mais rudimentares trabalhos urbanos. Remontando aos primórdios da Administração Científica, verifica-se uma verdadeira reengenharia nos conceitos de trabalho de concepção e trabalho de execução. O trabalho dito gerencial, daquele que manda mas não faz e do que idealiza mas não realiza está, quando assim concebido, com os dias contados. Não se admite mais um profissional que se limite a controlar, fiscalizar, determinar. As empresas sentem que precisam cada vez mais de pessoas que tenham condições, elas próprias, de serem as catalisadoras e as implementadoras do que deve e precisa ser feito, o que explica o grande volume de demissões de pessoas que ocupavam os níveis intermediários da estrutura organizacional. Inúmeras pesquisas têm demonstrado a redução de empregados, justificadas principalmente pela crise econômica e pela restruturação do negócio. Todavia, há que se reconhecer que enquanto no Brasil os cortes se dão em função da situação econômica e falta de competitividade, em países desenvolvidos as reduções se devem à implementação tecnológica e obsolescência da qualidade da mão-de-obra. Para se ter uma idéia dos impactos que as reduções de empregados podem acarretar, cite-se apenas alguns casos, que tiveram ampla divulgação pela imprensa, com grandes impactos no mercado de trabalho: a Navistar Trasportation Company eliminou, em 1987, 42 mil postos de trabalho, em função de uma redução de operações; desde 1982 a Du Pont já reduziu, no mundo todo, 37 mil empregos; a Philips reduziu 45 mil empregados; em 1993, a Daimler-Benz anunciou a redução de 35 mil postos; a partir de 1999, a Boeing manifestava a decisão de cortar 48 mil trabalhadores em três anos. O tema se torna ainda mais instigante quando estudiosos renomados apresentam, para um mesmo assunto, opiniões as mais divergentes, partindo dos mesmos pressupostos. Tal se pode notar na Edição 649 da REVISTA EXAME (11.1997). Rifkin diz que a tecnologia cria poder e seu uso provoca desigualdade social e que é ilusão achar que a indústria da computação irá criar milhões de empregos. Heckman diz que um dos grandes erros é investir em treinamento para trabalhadores acima de 40 anos, posto que sua capacidade e motivação para o aprendizado é reduzida; de fato, um dos problemas dessa nova era, é o da linguagem de gerações: há uma grande dificuldade de absorção das novas tecnologias pelo corpo funcional mais antigo. Ainda no mesmo artigo, Davis diz que o número de empregados em relação à força total de trabalho cresceu incrivelmente (antes as mulheres nem sequer eram

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consideradas desempregadas); o que causa maior impacto, todavia, é a afirmação de que num país como o Brasil, onde muitos nem sequer consomem, é irreal prognosticar o fim dos empregos, pois as necessidades exigirão produção e empregos. E era com esse pensamento que COLLERY (1975) dizia não entender que, na economia rica norte-americana, pessoas estivessem desempregadas e passassem fome e frio, quando havia energia e produção suficiente para todos; não se concebe crianças sem escolas, quando há tantos professores desempregados. Do ponto de vista conceptual, pode-se dizer que o desemprego é voluntário ou involuntário. Voluntário é o caso das donas de casa e dos estudantes, que optam por não ter renda. É também o caso de pessoas que se recusam a trabalhar sob certas condições (serviços que se adequam ao seu perfil mas que são de baixa qualidade ou por salários inferiores aos que desejariam receber). O desemprego involuntário pode ser classificado como friccional ou nãofriccional. O desemprego involuntário, mas não-friccional ocorre quando existe menos trabalho do que pessoas dispostas a trabalhar. O Brasil tem quatro indicadores de desemprego, mas apenas dois têm periodicidade mensal e abrangem, cada um, seis regiões metropolitanas: a Pesquisa Mensal de Emprego - PME, do IBGE, e a Pesquisa de Emprego e Desemprego, do SEADE/DIEESE. Por tratarem de áreas e períodos comuns, são os índices mais comparáveis. Porém, diferenças metodológicas fazem com que as taxas da PED sejam mais altas do que as da PME. Na apuração da PME, o IBGE considera três situações distintas: pessoa ocupada; desempregada (sem ocupação mas procurando emprego) e inativa (nem trabalha e nem procura emprego). Para considerar uma pessoa como desempregada, o IBGE pergunta se ela procurou emprego nos últimos 7 ou 30 dias. Se a resposta for “não”, a pessoa é considerada inativa e não desempregada, posto que só é considerado o desemprego aberto. Se a pessoa exerceu um trabalho eventual remunerado (pelo menos uma hora) ou não-remunerado (pelo menos 15 horas), é classificada como ocupada. Na apuração da PED, o SEADE/DIEESE utiliza basicamente a mesma metodologia do IBGE, mas acrescenta duas outras análises, para medir o chamado desemprego oculto por desalento ou desemprego oculto por trabalho precário. O primeiro ocorre quando a pessoa procurou emprego nos últimos 12 meses, mas desanimou nos últimos 30 dias. O segundo se dá quando a pessoa exerceu algum tipo de trabalho eventual remunerado nos últimos 30 dias.

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Dados da FIESP e do IBGE mostram que o emprego industrial sofreu uma queda na ordem de 25% a 30% no período de 1989 a 1995. Se a PEA está crescendo na ordem de 2,5% a.a. e a taxa de produtividade na ordem de 3 a 3,5% a.a., era preciso que a taxa de crescimento da economia se situasse perto de 6% para que não houvesse aumento no desemprego (SILVA, 1997). Diante da incontinência do desemprego, Cain (apud SANCHIS, 1995) diz que os melhores substitutos do mercado de trabalho entre os trabalhadores secundários são as tarefas domésticas (mulheres), a escolarização (jovens) e a aposentadoria (idosos). O que não se pode é permitir a informalidade desenfreada, pois, bem ou mal administrados, os recursos do INSS têm uma destinação social importante: a saúde e a seguridade. E não se pode pensar em competitividade com um mercado de trabalho destituído dessas duas garantias básicas, principalmente quando os empregos não são de boa qualidade (SILVA, 1997).

A EMPREGABILIDADE Em linhas gerais, pode-se dizer que empregabilidade é a condição daquele que, apesar das mudanças no mundo do trabalho, continua apto para nele permanecer. Também pode ser encarada como um sistema de competências profissionais ou extraprofissionais possíveis de serem transferidas de uma posição funcional a outra. Outro conceito possível é o da capacidade de se autogerenciar, de administrar seu itinerário ou mesmo de o construir e dirigir. Na França, com carga ideológica e política muito grande, a noção de empregabilidade está associada à política de seleção da empresa e implica em transferir a responsabilidade da não contratação ao trabalhador. O acesso ou não ao emprego aparece como dependendo da estrita vontade individual de formação, quando se sabe que fatores de ordem macro e mesoeconômicas contribuem decisivamente para essa situação individual. (CASALI, 1997). Para MINARELLI (1995), empregabilidade é a condição de ser empregável, de dar ou conseguir emprego para os seus conhecimentos, habilidades e atitudes, fruto de uma educação sintonizada com as novas necessidades do mercado de trabalho. Para ele, as relações de trabalho já não são mais duradouras como antigamente e os empregos vitalícios não mais existem. O mercado de trabalho é feito de problemas para resolver que, às vezes, não estão traduzidos em forma de vagas. Nos EUA, há vinte anos, de 6 a 8% dos profissionais demitidos acabavam abrindo seu próprio negócio ou trabalhando por conta própria. Hoje essa proporção já chega a 20%. A maior parte do trabalho na Europa, Japão e EUA, se concentra no setor de

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serviços, e a maioria das pessoas que nele atua o faz de forma autônoma ou terceirizada. Assim, a tendência a uma formação geral se justifica pela grande redução das oportunidades, de modo que, além de conhecer muito bem uma área específica, o trabalhador precisa se envolver com tantas outras questões indispensáveis a uma boa performance. FERREIRA (1997), por sua vez, lembra que o mercado de trabalho se expande em função das necessidades das empresas e do sistema, e não o contrário, de forma que as empresas não mantêm empregados sem que sejam estritamente necessários. As oportunidades não carecem do aumento da riqueza, mas sim do aumento no giro da riqueza existente. Assim, a pobreza pode ser gerada pela falta de trabalho ou pela sobra de gente em relação às oportunidades de trabalho que o mercado comporta. Segundo BARDWICK (1996), o crescimento e a prosperidade norte-americana gerou o entitlement, que é uma atitude, um modo de encarar a vida (gente que não colabora, mas que conta com aumento salarial). As empresas mantinham nos seus quadros mesmo os improdutivos, porque estavam crescendo e obtendo lucros assim mesmo. Isso começou com os empregados de fim de carreira, se estendendo depois aos demais. O custo disso é a perda de produtividade, inovação e criatividade. O conceito de empregabilidade atual aponta na direção contrária ao do entitlement. Na economia de mercado só é empregável aquilo que é rentável ou útil. Mas FORRESTER (1997) critica, afirmando que a sociedade está organizada no trabalho e não na falta dele, de forma que o desemprego tende a equiparar aos poucos os países desenvolvidos com os países pobres, instaurando-se a mundialização da miséria. Nem o modelo trabalhista europeu (que permite pouca flexibilidade e maior assistência social) e nem o modelo norteamericano (que permite maior flexibilidade com mais postos de trabalho, mas a custo de pouca assistência) têm conseguido deter o desemprego.

E AS PREVISÕES? Já em 1983, TOFFLER vislumbrava uma nova sociedade, baseada no prossumo, bem como um novo perfil do trabalhador. Caracterizava o desemprego em grandes correntes e previa conflitos de 1a., 2a. e 3a. ondas para o Brasil. Diante do internacionalismo de uma economia global, onde dinheiro e informação não têm pátria, e do regionalismo, com a formação dos blocos econômicos, Drucker defende a reengenharia do setor público (apud FERREIRA, 1997). Ainda estima que

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os níveis de emprego no setor secundário norte-americano deverão continuar caindo até chegar em 12% da massa de trabalhadores e que apesar de apenas 1% de todas as empresas norteamericanas empregarem mais de 500 pessoas, elas continuam dando emprego a mais de 41% dos trabalhadores do setor privado. Logo, o desemprego tende a aumentar, posto que são essas grandes empresas que mais estão reduzindo seus quadros (RIFKIN, 1997). Para BRIDGES (1995), todavia, a premissa verdadeira de que boa parte das empresas tem mais empregados do que necessita, não pode levar à falsa conclusão de que a melhor opção é a de demitir o excedente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Em sua fantástica obra, BELLAMY (s/d) afirma que o direito de um homem de prover-se à mesa da nação origina-se do fato de que ele é um homem, e não da quantidade de saúde ou força que possa ter (desde que faça o melhor possível, é claro). Além disso, não é um cidadão porque trabalha, mas trabalha porque é um cidadão. Apesar da utopia (escrita no século XIX), conclui-se que, de fato, tudo o que se dispõe hoje é herança das realizações e conhecimentos passados da raça. Logo, toda a humanidade deve ter direito de usufruir da engenhosidade das gerações passadas, e não só os que têm oportunidade de trabalhar. Ao se admitir que o homem se realiza pelo trabalho, também deve-se aceitar que ele pode “perderse” nele. Para GADOTTI (1995), sendo o trabalho uma necessidade humana, o processo de trabalho que escapar ao seu domínio, aliena o próprio homem. Tal é a preocupação, que a Comunidade Econômica Européia decidiu fixar as linhas diretoras para o emprego no âmbito dos seus países-membros, procurando combinar objetivos sociais e econômicos de flexibilidade, a saber: melhorar a capacidade profissional, desenvolver o espírito empresarial, incentivar a capacidade de adaptação das empresas e de seus trabalhadores e reforçar as políticas de igualdade de oportunidades. Uma das metas fixadas a curto prazo é a oferta de uma proposta concreta a todo jovem, antes de seis meses de desemprego, ou a todo adulto, antes de doze meses de desemprego, o que pode se concretizar através de emprego, formação ou experiência profissional (CESIT, 1998). O desemprego está instalado em todos os países, em maior ou menor grau. O mundo do trabalho está se modificando de forma vertiginosa. A tecnologia é sem dúvida um fenômeno que não só aumenta o desemprego, como exige uma modificação nos padrões de empregabilidade. Só recentemente o Brasil iniciou a valorização do capital humano, sem o que

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a competitividade internacional ficaria totalmente comprometida. Mas apesar do recente impulso ao sistema educativo, ainda deve levar algum tempo até que se chegue a uma escolarização satisfatória ou ao menos comparável ao dos países desenvolvidos. Mais do que empregos, é urgente a atuação dos órgãos governamentais para formação profissional que atenda à demanda do mercado, pois não são raras as reclamações de empresas que não conseguem suprir determinada vaga. Outra política necessária é a fixação das crianças e jovens na escola, vez que tal medida, além de abrir novas oportunidades aos adultos, impulsionará o setor educacional, aquecendo o setor e gerando novos empregos (e de qualidade) numa escalada extraordinária. Quanto mais localizados forem sentidos os reflexos, melhor para a comunidade. De qualquer forma, ao se considerar que perto de um terço da população mundial vive em completa miserabilidade, sem as mínimas condições de saúde, alimentação, higiene e educação, não será difícil constatar que o potencial de crescimento é extraordinário. Para tanto, há necessidade de investimento para que esse enorme contingente de pessoas possa também consumir e produzir, o que representará uma inclusão sem precedentes no mercado de trabalho. A partir daí, precisa-se entender que qualquer ação que possa ser envidada para melhoria desse quadro, é de todo benéfica e permitirá uma reversão da situação alarmante do nível de desemprego, e mais do que isso, no nível de desesperança e de medo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBORNOZ, Suzana e outros. O que é trabalho, empresa e marketing - Coleção Primeiros Passos – vol. 13. São Paulo: Círculo do Livro, 1994. ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? São Paulo: Cortez, 1995. _____. O que é sindicalismo? São Paulo: Abril/Brasiliense, 1985. BARDWICK, Judith M.. Perigo na zona de conforto. São Paulo: Pioneira, 1996. BELLAMY, Edward. Daqui a cem anos - revendo o futuro. São Paulo: Record, s/d. BRIDGES, William. Um mundo sem empregos. São Paulo: Makron, 1995. CASALI, Alípio et al. Educação e empregabilidade. São Paulo: EDUC, 1997. CATTANI, Antônio David. Trabalho & autonomia. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

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COLLERY, Arnold. Análise do emprego e a renda nacional. São Paulo: Pioneira, 1975. DIEESE. Quadro 1 – principais conceitos, www.dieese.org.br, 1999. FERREIRA, Ademir Antônio et al. Gestão Empresarial. São Paulo: Pioneira, 1997. FORRESTER, Viviane. El horror económico. B. Aires: Fondo de Cultura Económica, 1997. GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação. São Paulo: Cortez, 1995. GAZETA DO POVO. Edição de 10.08.94, página 4. Curitiba. IBGE. Conceitos. www.ibge.gov.br, 1999. IOKOI, Zilda Márcia Grícoli. O Brasil atual e a mundialização. São Paulo: Loyola, 1997. MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. São Paulo: Global, 1987. MATTOSO, Jorge E. E BALTAR, Paulo E. de. Transformações estruturais e emprego nos anos 90. Campinas: UNICAMP.IE.CESIT, 1996, Cad. 21. MINARELLI, José Augusto. Empregabilidade. São Paulo: Gente, 1995. OIT. Relatório sobre o emprego no mundo. Genebra, 1996. REVISTA ÉPOCA. Edição de 17.08.98. Entrevista com Cláudio Salvadori Dedecca, p. 17. REVISTA EXAME. Edição No. 649, de 11.97. REVISTA VISÃO. Edições de 23.11.88 e 18.07.83. São Paulo. RIFKIN, Jeremy. El Fin del trabajo. Buenos Aires: Paidós Estado y Sociedad, 1997. SAGAN, CARL. O romance da ciência. RJ: Francisco Alves, 1980. SANCHIS, Enric. Da Escola ao desemprego. Rio de Janeiro: Agir, 1995. SILVA, Luiz Inácio Lula da – coord. Custo Brasil - mitos e realidade. RJ: Vozes, 1997. TOFFLER, Alvin. Previsões & premissas. São Paulo: Record, 1983. VOS, H. e VERVIER, J. Utopia Cristã e Lógica Econômica. Petrópolis: Vozes, 1995.

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