REGISTRO DE PREDAÇÃO DE LOBO-GUARÁ SOBRE ANIMAIS DE CRIAÇÃO

July 5, 2017 | Autor: B. Corrêa Barbosa | Categoria: Ecology
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REGISTRO DE PREDAÇÃO DE LOBO-GUARÁ SOBRE ANIMAIS DE CRIAÇÃO Bruno Corrêa Barbosa (1); Rogério Vicentini (2); Tatiane Tagliatti Maciel (1); Mariana Paschoalini Frias (1) & Fábio Prezoto (1) (1) Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (LABEC), Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. (2) Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora

Palavras-chave: Carnívoros, conflito, silvestres. INTRODUÇÃO A predação é um comportamento natural e fundamental para a manutenção da estrutura da cadeia alimentar e a coexistência das espécies nos ecossistemas (ORMEROD, 2002). Contudo, a redução das presas naturais devido à fragmentação e degradação dos habitats aliada ao aumento da concentração de criação doméstica em áreas próximas aos poucos remanescentes de mata, pode levar ao ataque dessas criações por predadores silvestres (AZEVEDO & CONFORTI, 2002) resultando na perseguição destes pelo homem, algumas vezes levando-os até ao perigo de extinção. Classificado como predador de aves domésticas (MARCHINI et al., 2011) e listado como ameaçado de extinção no Brasil (RODDEN et al., 2004), o Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus Illiger, 1815) apresenta alimentação onívora (MARCHINI et al., 2011) e distribuição geográfica desde a desembocadura do rio Parnaíba no nordeste do Brasil, no sul do Chaco no Paraguai, ao estado do Rio Grande do Sul, Brasil, e oeste dos Pampas del Heath em Peru, com registro ainda em algumas partes de Argentina e Uruguai (QUEIROLO et al., 2011). O Lobo-Guará habita principalmente o bioma Cerrado, mas têm sido cada vez mais comuns registros de sua ocorrência em áreas de outros biomas como Pantanal, Floresta Atlântica, áreas de transição do Cerrado com a Caatinga e também em terras cultivadas e pastos (MACHADO et al., 2005). Com a redução no tamanho dos hábitats originais e com alto requerimento espacial por utilizar grandes e exclusivas áreas de vida, o Lobo-Guará fica exposto a encontros com humanos e animais domésticos causando conflitos (RODRIGUES, 2002). A identificação correta do predador é de suma importância para as listas de registros de ataques, pois por serem grandes e facilmente avistados e identificados, muitas vezes são atribuídos aos Lobos-Guará ataques causados na verdade por animais menores de hábitos noturnos que passam despercebidos aos criadores. Entender a ecologia da predação dos carnívoros silvestres nas criações domésticas é fundamental para o desenvolvimento de planos de manejo das espécies e das criações. Com isso, o objetivo do presente trabalho foi registrar a presença e predação de criação doméstica por Lobo-Guará na área rural no município de Goianá na Zona da Mata Mineira. MATERIAL E MÉTODOS Os registros ocorreram no período de setembro a dezembro de 2013 na zona rural do município de Goianá, Minas Gerais (21°31´40"S e 43°9´56"W; 410m de altitude). O município é constituído de cinco fisionomias bem distintas: campos de pastagens, pomares, bambuzais, charco, áreas de edificações e áreas de proteção permanente (APP), abrigando um fragmento de Mata Atlântica do tipo Floresta Estacional Semidecidual. A coleta de dados foi feita através de vistorias pelas áreas do município em busca de fezes, pegadas, vocalizações e visualização direta do animal em horários esporádicos do dia além de relatos feitos por moradores do município. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram relatados 22 ataques a criações domésticas em nove áreas rurais, com número estimado de perda de 31 galinhas, cinco patos e cinco gansos. Os proprietários locais não sabem o

número exato de animais que existem em suas propriedades, o que impossibilitou a exatidão do número de animais predados. Quando questionados por qual animal sua criação foi atacada, muitos proprietários desconheciam o predador, sendo citados raposa-do-campo, gato-do-mato, lontra, jaratataca, quati, gavião, teiú e até cachorro doméstico, contudo, quando foi possível determinar de fato o predador, o Lobo-Guará foi o responsável pela maioria dos casos. Em um caso especial, um proprietário descreve a presença de vários cães vermelhos pequenos, que foram identificados como cachorrovinagre. Hurtando (2007), em seu trabalho com ataques de Lobo-Guará no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, confirma a ideia de que os animais mais conhecidos e abundantes são os mais culpados de causar ataques nas criações domésticas. Com as vistorias realizadas pela área, foi possível encontrar vestígios como fezes (Figura 1A e 1B), pegadas (Figura 1C e 1D) e vocalização em torno de todas as propriedades com registro de ataque, entretanto não houve registro direto do animal. Moradores locais, assim como a responsável pela fauna do Aeroporto Regional da Zona da Mata, Laila Hauck, relataram a presença dos animais cruzando a estrada que liga o município de Goianá à cidade de Rio Novo (Figura 1E) e a pista de pouso do aeroporto (Figura 1F), sendo vistos com filhotes ou sozinhos. Quanto aos outros animais apontados como predadores, somente raposa-do-campo (Lycalopex vetulus (Lund, 1842)), jaratataca (Conepatus semistriatus Boddaert, 1785) e quati (Nasua nasua Linnaeus, 1766) foram avistados na área dos ataques. Marchini (2011) aponta os mesmos animais como frequentes predadores de criações domésticas em áreas rurais, corroborando os resultados. O Lobo-Guará foi responsabilizado pela maioria dos ataques às criações de galinhas e outras aves. Assim, com os relatos obtidos pelo presente estudo e analisando as condições das criações, a maioria criada livre, é possível concluir que a melhor prevenção das predações seria o manejo adequado das criações através do aumento do cuidado dos animais durante o dia com presença de cães de guarda, recolhendo os animais em galinheiros durante a noite ou instalando luz nas áreas de estância das criações ou alguns outros estímulos visuais ou aditivos que afastem o predador

Figura 1: Registros de fezes (A e B) e pegadas (C e D) encontradas no entorno das propriedades atacadas; (E) Logo-Guará atravessando a estrada que liga Goianá a Rio Novo; (F) Registro feito por celular por funcionários do Aeroporto Regional da Zona da Mata.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, F.C.C. & CONFORTI V.A. 2002. Fatores predisponentes à predação. In: Manual de identificação, prevenção e controle de predação por carnívoros (M.R.P.L. Pitman; T.G. Oliveira; R.C. de Paula & C. Indrusiak). Edições IBAMA, Brasília, p. 27-28. HURTADO, L.C. 2007. Avaliação da predação de criações domésticas por Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, p. 83. MACHADO, A.B.M.; MARTINS, C.S. & DRUMMOND, G.M.. 2005. Lista da fauna brasileira ameaçada de extinção: incluindo as espécies quase ameaçadas e deficientes de dados. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, MG. 157 p. MARCHINI, S.; CAVALCANTI, S.M.C. & PAULA, R.C. 2011. Predadores Silvestres e Animais Domésticos: Guia Prático de Convivência. Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. ICMBio, 45 p. ORMEROD, S.J. 2002. Applied issues with predators and preation: Editor´s introduction. Journal of Applied Ecology vol. 39, p.181-188. QUEIROLO, D.; MOREIRA, J.R.; SOLER, L.; EMMONS, L.H.; RODRIGUES, F.H.G.; PAUTASSO, A.A. ;CARTES, J.L, & SALVATORI, V. 2011. Historical and current range of the Near Threatened maned wolf Chrysocyon brachyurus in South America. Oryx (Oxford. Print) vol. 45, p. 296-303. RODDEN, M..; RODRIGUES, F.H.G. & BESTELMEYER, S. 2004. Maned wolf (Chrysocyon brachyurus). In: Canids: Foxes, wolves, jackals and dogs. Status survey and Conservation action plan (Sillero-Zubiri, C.; M. Hoffmann & D.W. Macdonald). IUCN/SSC Canid Specialist Group. Gland, Switzerland and Cambridge, UK, p. 38-44. RODRIGUES, F.H.G. 2002. Biologia e conservação do Lobo-Guará na Estação Ecológica de Águas Emendadas, DF. Dissertação de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 96 p.

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