Relação entre o pensamento filosófico da Antiguidade (mímesis) e a filosofia da Idade Média

May 31, 2017 | Autor: Daniela Palazzo | Categoria: História da arte, Artes Visuais, Filosofia
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UFPEL – Bacharelado em Artes Visuais
Disciplina: Filosofia da Arte e Cultura – Professora: Úrsula Rosa da Silva
Aluna: Daniela Vieira Palazzo

Relação entre o pensamento filosófico da Antiguidade (mímesis) e a filosofia da Idade Média.
Antiguidade: Mimese e techné em Platão e Aristóteles
Na Grécia Antiga, para Platão, o conceito de belo estava atrelado ao sentido de útil. A arte, no pensamento platônico, é considerada um meio de fazer, uma forma de produção. Daí vem o conceito de téchne, ou seja, um domínio sobre a técnica de produção com finalidade utilitária. O conhecimento e experiência sobre a técnica para dar forma à matéria bruta de forma a organizar a produção artística é a chamada poiesis. Platão problematiza a existência e a finalidade da arte, a qual se manifesta, para esse filósofo, para além da mera fruição. Para Platão, o Belo está mais voltado para a virtude e a ética do que propriamente para as artes pictóricas e escultóricas, bem como a música e a poesia. O artista não cria, a não ser sob domínio dos deuses. A atividade artística só pode estar ligada a algo bom se for proveniente de uma ação divina. Assim, o artista não cria, mas sim imita, copia. Daí surge o conceito de mímesis: o artesão, em domínio da técnica (téchne) fabrica o objeto. Mesmo que tal objeto seja muito bem feito, nunca será verdadeiramente Belo. O verdadeiro Belo para Platão está no mundo das ideias e nunca pode ser criado pelo homem, só pode provir da natureza que é uma criação divina. O artista, quando pinta o mesmo objeto fabricado pelo artesão, faz a cópia da cópia (simulacro) e, com isso sua obra está em posição ainda mais distante da natureza. Para Platão, as coisas podem ser apenas o que são, o resto é aparência, imitação. O que os artistas fazem é reproduzir coisas de forma imperfeita. Isso coloca o artista abaixo do artesão em ordem de importância.
A lógica da filosofia platônica é proveniente da observação, é da ordem da permanência e regularidade em que existe apenas uma verdade, portanto, uma noção de belo. Aristóteles, por outro lado, procura encontrar respostas interferindo na natureza por meio de experimentações. Talvez essa seja a maior diferença entre os dois filósofos. Ao contrário de Platão, Aristóteles acredita na utilidade da Arte, especialmente no campo do teatro. Considera principalmente a tragédia de grande utilidade pública, uma vez que incita a catarse durante a qual o povo expulsa suas emoções a fim de restaurar seu equilíbrio - levando à pureza pela expurgação dos maus sentimentos. Para Aristóteles a beleza está na harmonia. Para o filósofo, a proporção harmônica entre as partes leva ao equilíbrio.
Embora Platão e Aristóteles considerem a Arte uma imitação, suas visões sobre a utilidade da mesma são distintas. O esquema a seguir, criado com base nas aulas de Filosofia de Arte e Cultura, ilustra as principais diferenças no pensamento a respeito da Arte enquanto mimese para ambos filósofos:

Principais diferenças entre o pensamento de Platão e Aristóteles
Filosofia na Idade Média: concepções de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
O período da Idade Média, compreendido entre os séculos V e XV, inicia-se com a queda do Império Romano do ocidente e termina quando os turcos-otomanos conquistam a cidade de Constantinopla. Segundo Hauser (2003, p.124) a unicidade da Idade Média como um período histórico é algo inteiramente artificial. Para o autor, a Idade Média se divide em três períodos culturais muito distintos: a economia natural de seus primeiros tempos, a cavalaria galantesca da Alta Idade Média e a cultura burguesa urbana no final deste período. O presente trabalho não pretende aprofundar-se nas divisões compreendidas nele, pois embora as transformações estéticas tenham atingido níveis diferenciados em cada uma dessas fases, a arte se mostra como a expressão de uma sociedade extremamente religiosa, permanecendo a espiritualidade e religiosidade o caráter essencial de todo o elemento artístico medieval. Assim, esta parte da abordagem pretende exibir as principais ideias filosóficas que caracterizavam o pensamento da época.
No período Medieval, as pessoas portadoras de instrução e conhecimento eram membros do clero. Eles davam prioridade à fé e tinham o pensamento voltado para a salvação das almas (muito mais do que para questões do universo material). A maior parte da arte medieval que chegou aos dias de hoje tem um foco religioso fundamentado Cristianismo. A arte era, muitas vezes, financiada pela Igreja e por pessoas influentes do clero (bispos, monastérios ou por patronos seculares ricos). A grande maioria dos camponeses não sabia ler. Sendo assim, as artes visuais aliadas aos sermões, eram o principal método para comunicar a religião aos fiéis. Além disso, as iluminuras, ilustrações em livros religiosos realizados por clérigos, também cumpriam o papel de comunicar ao povo a religião. A função da arte era a de iluminar a compreensão das pessoas a respeito de passagens religiosas, visto que poucos sabiam ler.
A arte na Idade Média é operativa e a beleza, contemplativa. As obras possuem utilidade, portanto são importantes na formação do conhecimento e pensamento da época. Sobre a beleza na Idade Média, Eco (2010, p.19), apud Curtius diz que "Quando a Escolástica fala da beleza, ela a entende como um atributo de Deus. A metafísica da beleza (por exemplo, Plotino) e a teoria da arte não tem nenhuma relação entre si". Não se tem registros de artistas das iluminuras, uma vez que ela era desempenhada por monges, com fundamentação na técnica (téchne) operacional.
A partir do século V, os pensadores cristãos procuraram aprofundar sua fé no intuito de combinar a ela um pensamento filosófico. Com isso, a Filosofia passou a receber influências da cultura judaica e cristã. O pensamento da época trazia instrução e conhecimento por meio da fé e da Igreja: providência, revelações divinas, criação a partir do nada. Nessa linha filosófica as propostas educacionais e de formação estavam ligadas à ideia de que na Terra, os homens devem seguir os parâmetros divinos.
Santo Agostinho, bispo da Igreja Católica, grande representante da filosofia Patrística, foi um dos mais importantes filósofos no desenvolvimento do pensamento filosófico cristão no Ocidente. Desenvolveu em De Civitate Dei o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus. Com isso, pode se evidenciar a influência da filosofia de Platão fundida aos princípios cristãos.
São Tomás de Aquino representante da Filosofia Escolástica, aprimorou esse pensamento, unindo a religião cristã com a filosofia aristotélica. Associou uma visão espiritual às ideias de Aristóteles. Sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época, pois em seu viés de pensamento, tudo possui explicação racional. Assim, realizou a primeira defesa argumentativa da existência de Deus com base na razão. O esquema a seguir, realizado com base nas aulas da referida disciplina, procura comportar as principais diferenças entre o pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino:

Principais diferenças entre o pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
Eco complementa a respeito do entendimento da beleza no viés medieval, da seguinte maneira:
O campo de interesse estético dos medievais era mais dilatado que o nosso, e sua atenção para a beleza das coisas era frequentemente estimulada pela consciência da beleza enquanto dado metafísico; mas também existia o gosto do homem comum, do artista e do amante das coisas de arte, vigorosamente voltado para aspectos sensíveis. Os sistemas doutrinais procuravam justificar e digerir esse gosto, documentado de muitas maneiras, de modo que a atenção para o sensível não sobrepujasse jamais a tensão para o espiritual. (ECO, 2002.p.19-20)
Enfim, diante de todas as colocações até então no presente trabalho, percebe-se que a principal questão que perpassa o pensamento filosófico medieval é a harmonização da fé e da razão. O pensamento de Santo Agostinho reconhecia a importância do conhecimento, porém defendia uma subordinação maior da razão em relação à fé. Por outro lado, São Tomás de Aquino defende razão como fundamental para obtenção de respostas (apesar de não negar subordinação da razão à fé).

BIBLIOGRAFIA, REFERÊNCIAS E SITES CONSULTADOS
Anotações realizadas em sala de aula no decorrer da disciplina de Filosofia da Arte e Cultura, ministrada pelas professoras Úrsula Rosa da Silva e Caroline Leal Bonilha. 2015
CARVALHO, Frank Viana. A Educação na Idade Média - Agostinho e Tomás de Aquino. Acesso em setembro de 2015.
De Civitate Dei. Acesso em: setembro de 2015.
ECO, Umberto. Arte e Beleza na Estética Medieval. Rio de Janeiro. Record, 2010.
HAUSER, Arnold, A Idade Média. In: História Social da Arte e da Literatura. São Paulo. Martins Fontes, 2003.
NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo. Ática, 1999.




De Civitate Dei (A Cidade de Deus) é obra de Santo Agostinho, onde descreve o mundo, dividido entre o dos homens (o mundo terreno) e o dos céus (o mundo espiritual). Teria sido a obra preferida pelo imperador Carlos Magno.Uma das criações mais representativas do gênero humano. A propósito da filosofia ou teologia da História, trata dos mais variados e complexos assuntos que sempre apaixonaram e torturaram o espírito humano: da origem e substancialidade do bem e do mal, do pecado, das culpa e da morte, do direito, da lei e das penas, do tempo e do espaço, da contingência e da necessidade, da Providência, da ação humana e do destino no desenvolvimento da História: do ser, do conhecer e do agir do homem, de Deus, da natureza e do espírito, da temporalidade, do eterno, da perenidade e dos ciclos cósmicos, da profecia e do mistério como argumento apologético, da pessoa, da cidade e da comunidade humana. Fonte: Acesso em: setembro de 2015.


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