Relações entre dois diálogos \'Íon\' e o capítulo X da \'República\' de Platão

October 4, 2017 | Autor: Pablo Rodrigues | Categoria: Literatura Latinoamericana, Platão, Teoria da literatura, A república de Platão
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 02 de Outubro de 2012
Aluno: Pablo Baptista Rodrigues DRE: 11120197 Turma: LED
Matéria: Teoria Literária 3
Professor: Marcelo Diniz



COMPARAÇÃO ENTRE OS DIALÓGOS PLATÔNICOS:

ÍON E REPÚBLICA (CAPÍTULO X)



Possuindo grande importância para crítica literária ocidental, Íon é
um diálogo entre Sócrates e Íon de Éfeso sobre questões que abordam a arte
e a poesia. É considerada a primeira manifestação de Platão em relação à
condição do poeta e o seu feito, não possuindo uma voz tão forte e decisiva
sobre o futuro do poeta, quanto na República, também de Platão, em especial
o livro X.

O que já era pensado por Platão, possivelmente, é o futuro da cidade
ideal e a formação dos cidadãos. Presente em um mundo oral, onde a Paidéia
Poética era quase que exclusiva, o filosofo começa, então, a questionar o
modelo de ensino grego, a Paidéia grega. Como pode se perceber no diálogo,
Íon de Éfeso acaba de chegar de um concurso altamente valorizado pelos
gregos:



"Sócrates: Saudações, Íon. De onde nos vens agora, de tua casa, em
Éfeso?
Íon: De nenhum desses lugares, Sócrates, mas de Epidauro, das festas
de Asclépio.
Sóc.: Então também os epidáurios ofertam ao seu Deus disputas de
rapsodos?
Íon: Exatamente, e também de outras músicas.
Sóc.: O quê? Competiste com os nossos? E o que ganhaste?
Íon: Ganhamos os primeiros prêmios, Sócrates." (PLATÃO)




Platão nos apresenta uma sociedade de base oral e que terá sua base
questionada Ele projeta o futuro da polis ideal onde não poderia haver o
uso do que não é de fato verdadeiro segundo a instituição da nova Paidéia:
a Paidéia filosófica. Vemos no decorrer de todo o diálogo que Sócrates
busca desconstruir e revelar ao rapsodo que seu desempenho, nada mais é que
originada da musa e não de si próprio.

O que temos é o discordar do saber e conhecimento, onde o rapsodos,
simbolizados por Íon, possui a técnica, saber, mas, não o conhecimento. Ele
está plenamente envolvido na recitação dos poemas homéricos, mas não os
domina completamente. Ele seria simplesmente, como afirma Platão, o anel
que forma uma cadeia com outros anéis magnetizados, sendo a fonte desse
magnetismo a musa e o rapsodo um simples elo dessa cadeia "e o primeiro é o
próprio poeta."

O poeta tem acesso a uma memória imortal, graças à inspiração pelas
musas revestindo a experiência poética de um valor divino. Platão toca no
concernente ao discurso poético. O poeta é subordinado a outro, e somente o
filósofo possui o discurso correto e coerente: o discurso filosófico.
Platão crítica Homero e o desmonta na intenção de substituir o discurso
mitopoético pelo discurso da racionalidade.

Inicialmente a tônica sobre o poeta no diálogo Íon é branda em
comparação com o capitulo X da República. Platão afirma ser necessária a
expulsão do poeta e do sofista da futura cidade ideal, pois a presença do
poeta corromperia a futura cidade. Para ele, então, o poetas "afiguram ser
a destuição da inteligência dos ouvintes". (PLATÃO, 2000) Ele ainda diz
que somente com o conhecimento da verdadeira natureza da poesia ela poderia
ser utilizada da polis.

O que se lê no capítulo X é uma crítica mais bem fundamentada a
respeito do espaço que arte teria na polis. Para Platão "a arte de imitar
está bem longe da verdade". (PLATÃO, 2000) O poeta é o que "sabe colorir
devidamente cada uma das artes, sem entender delas." (PLATÃO, 2000)
Relembrando do diálogo de Íon de Éfeso, vemos que inicialmente Sócrates
começa o questionamento da fonte de inspiração do rapsodo. Agora de maneira
mais profunda o filósofo afirma que, de fato, o poeta nada mais é que um
imitador. O que ele produz é simplesmente sombras do real.

A poesia, então, representaria o mundo sensível. O poeta convive "com
a parte da alma, sem ser a melhor." (PLATÃO, 2000) A arte está muito
distante do real, ela se une ao vulgar e produzindo somente vulgaridade.
Como se pode notar a alma é importante para Platão, ela é mais real. A alma
não morre e, portanto, é o mais importante. Assim como a humanidade é
transcendente, mas o homem em si, ser individual, morre. O mundo visível
para Platão é ruína, e sua perfeição é chegada pelo alcance ao
transcendente.

Desde o inicio podemos ver nos diálogos, tanto com Íon como com
Glauco, que a preocupação do filósofo não é o simples desprezo pelo
Paidéia. O que ocorre é que baseado na verdade da nova Paidéia, a
filosófica, todos os meios que faziam parte do antigo Estado, poderiam
pertencer ao novo Estado desde que a serviço da nova Paidéia. No momento em
que o poeta provar que deve estar presente na cidade bem governada poderá
retornar para a República ideal, já que o poeta bem como os cidadãos tem
plena "consciência do encantamento." (PLATÃO, 2000) que ela gera.

Conclui-se então, que Íon apresenta o discurso inicial de Platão sobre
a poesia, e que posteriormente seria aprofundado no livro República, em
especial no capítulo X. Em benefício da nova cidade e baseado na Paidéia
filosófica a melhor atitude a ser tomada é a expulsão do poeta da futura
cidade até que sua poesia seja regida pelo discurso da racionalidade.






































BIBLIOGRAFIA


COELHO, L. A.; BULHÕES, I. C. D. A poesia no livro X da República de
PLatão. Existência e Arte, São João Del Rei, Janeiro a Dezembro 2005.

JARESKI, K. A Inspiração Poética em Íon. Kínesis, São Paulo, v. II, n. 3,
p. 284-305, Abril 2010.

PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2000.

PLATÃO. Íon. Consciência.org - Filosofia e Ciências Humanas. Disponivel em:
. Acesso em: 04 out. 2012.

TAKAYAMA, L. R. Sobre a crítica de Platão à Poesia. Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas - USP Teses, São Paulo, 2006. Disponivel em:
. Acesso em: 04 out. 2012.
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