RELAÇÕES ENTRE HISTÓRIA, ENSINO E PESQUISA. In: Ciências Humanas em Revista, São Luís, (UFMA), vol. 5, n. especial, p. 201-211, 2007.

June 3, 2017 | Autor: Adriana Zierer | Categoria: History, Research Methodology, Ensino de História
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RELAÇÕES ENTRE HISTÓRIA, ENSINO E PESQUISA In: Ciências Humanas em Revista. São Luís: EDUFMA, 2007, vol. 5, n. especial, p. 201-211. Adriana Maria de Souza Zierer (UEMA)1 Resumo: O objetivo deste trabalho é refletir sobre as relações entre História e Ensino e apontar a Pesquisa como um caminho para a renovação do trabalho do professorhistoriador. Pesquisar e escrever são importantes também para enriquecer a prática docente em todos os níveis de ensino. Neste sentido, proponho algumas sugestões visando levar as práticas da pesquisa historiográfica para a sala de aula, bem como estimular o professor a desenvolver pesquisas, através de material criado por ele próprio como apostilas, textos e livros didáticos. Além disso, é necessário que haja a sua constante atualização através de cursos de Pós-Graduação e também por meio da leitura de periódicos acadêmicos na forma escrita e on line, e inclusive a consulta das revistas especializadas de grande circulação. É importante lembrar, ainda, que o mercado de trabalho do professor-historiador fora dos muros escolares vem, muitas vezes, sendo ocupado por outros profissionais. Daí a necessidade de uma maior comunicação entre o profissional da História e a sociedade, o que passa essencialmente pela produção de biografias e outros materiais voltados ao público leigo. Desta forma o professorhistoriador contribuirá com a valorização da História, enquanto disciplina, e com a própria atividade do ensino. Palavras-chave: Ensino, pesquisa, professor-historiador, público leigo Abstract: The purpose of this paper is to reflect about the relationship between History and Teaching and to point Research as a way to the historian-teacher‟s renewal work. Research and writing are also important to enrich the teaching practice in all teaching levels. Thus, some suggestions are proposed to take the historiographical research practice to the classroom, as to stimulate the teacher to develop researches by producing his own job material such as texts and school books. Furthermore, it is necessary that his actualization is constantly made by Pos Graduation courses and also by the habit of reading academic journals in written and on line forms. It is still important to remember that the historian-teacher market work outside the school walls is being occupied by other professionals. Thus, there is a need of more communication between the History professional and society, which is essentially connected with the production of biographies and other materials by these specialists to the non-specialized public. In this manner, the historian-teacher will contribute with the History valorization as an academic subject and also with the teaching activity. Keywords: Teaching, research, historian-teacher, non-specialized public

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Prof. Adjunta do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Departamento de História e Geografia.

Um elemento fundamental da disciplina História e das Ciências Sociais em geral é a sua constante renovação. Longe da idéia de fatos históricos cronologicamente determinados, numa ordem “natural” e “pronta”, esses fatos estão em constante construção e é o historiador que, ao longo da sua pesquisa, constrói novos fatos. Neste sentido é que a História, no dizer de Bloch, é uma ciência na infância na medida em que os historiadores estão sempre renovando os seus métodos, descobrindo novas formas para problematizar a História e novas fontes. Um exemplo a ser dado sobre os fatos históricos é o 11 de setembro de 2001. Tudo no nosso mundo gira muito rapidamente, são tantas as fontes de informação que uma notícia produzida hoje é esquecida amanhã. Fica “velha”, não interessa mais, o que é um fator a ser discutido. Mas quando uma notícia envolve a justificação de guerras para interesses materiais é importante perpetuar determinados fatos. Por exemplo, o ataque terrorista às torres gêmeas gerou toda uma política expansionista por parte dos Estados Unidos, envolvendo o controle do Oriente Médio, através das guerras contra o Afaganistão, Iraque e outras ainda por vir, tornando, assim, o “11 de setembro” um novo marco no século XXI, um novo fato histórico2. Portanto, o controle da memória do que devemos recordar ou esquecer deve ser constantemente debatido no nosso trabalho de professores-historiadores. Quanto à questão das fontes históricas, o desenvolvimento da tecnologia permite estudos até então impensados como: estudar a corrupção através de fontes como conversas telefônicas, que atualmente estão sendo usadas pela polícia federal e que também podem originar trabalhos historiográficos. Ou, por vezes, algo que até então não era visto como fonte histórica pode auxiliar o historiador a fazer novas interpretações e derrubar determinadas verdades parciais, aceitas até então pelo meio historiográfico. Neste caso, refiro-me, por exemplo, ao uso da iconografia para a explicação da História. Questionar, por exemplo, o quadro de Pedro Américo sobre a independência, como grandes personagens históricos aparecem nas pinturas e como isso auxiliava o fortalecimento simbólico dos governantes, ou de determinada visão sobre o Brasil ou outro local, era algo incomum há pouco tempo atrás.

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Um “11 de setembro” já esquecido pela mídia é o do ano de 1973 quando o presidente do Chile, Salvador Allende, foi derrubado e morto no golpe militar comandado por Augusto Pinochet, com apoio dos EUA.

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Além disso, o uso de fontes literárias, como romances e poemas, tem revolucionado o estudo de História. Procurar compreender um determinado momento histórico a partir da produção daquele período ou do que um artista procurava mostrar para esclarecer o modo de pensar de uma sociedade. No caso do Maranhão, vem sendo lançado um olhar crítico aos intelectuais do século XIX através da análise da sua produção. Outro exemplo, o livro de Bresciani, Londres e Paris no Século XIX, sobre a situação dos trabalhadores da Inglaterra e França após o advento da Revolução Industrial, mostra o preconceito contra eles, tomando por base, principalmente, obras de literatos e discursos médicos. A população pobre era vista como uma massa turbulenta, propensa a revoltas e contra a qual deveriam ser tomadas medidas repressivas. Com relação à História Antiga e Medieval, o estudo de fontes literárias, da iconografia e de outros documentos tem auxiliado a mostrar que longe de uma posição passiva socialmente, as mulheres desses períodos encontravam brechas para burlar a dominação masculina e ter um espaço de atuação na sociedade3. Enquanto estamos ligados à academia, discutimos esses assuntos. E depois? Eis a proposta: levar para a sala de aula as discussões travadas na academia, as quais envolvem o questionamento e a renovação historiográfica. Por isso, é importante vincular os assuntos da ordem do dia com a reflexão historiográfica, para que os alunos se interessem pela disciplina. Convém mostrar a eles que tudo o que acontece atualmente pode ser questionado por um determinado olhar historiográfico, buscando inquirir o passado para entender o presente. Todos nós sabemos das dificuldades do mercado de trabalho nos dias atuais, não só no requisito dificuldade de obtenção de emprego, quanto na questão valorização profissional, principalmente quando se trata do professor. Mas para começar, é bom ressaltar o aspecto positivo de quem faz o curso de licenciatura. Ao contrário de outros cursos universitários, sempre há trabalho para o professor, embora a remuneração seja aquém das atividades e da dedicação do profissional. O mais importante é aproveitar este espaço para refletir sobre a nossa profissão e refletir em conjunto, alunos e professores. E também lembrar de um importante quesito, muito enfatizado, mas pouco praticado: a necessidade de unir pesquisa e ensino nas 3

Sobre o papel da mulher na sociedade grega da Antiguïdade e sua atuação nos espaços públicos através da participação nas festas rituais, conferir: LESSA, Fábio. O Feminino em Atenas. Rio de Janeiro: Mauad, 2004. E sobre o papel destacado das monjas cistercienses medievais no reino de Leão, na Espanha, as quais eram donas de propriedades que geriam autonomamente, ver COELHO, Maria Filomena. Expresiones del Poder Feudal: El Císter Femenino em León (Siglos XII e XIII). León: Universidad de León, 2006.

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aulas de História do ensino fundamental e médio. Tal união só terá ganhos a fornecer ao profissional de História e aos alunos. É importante ressaltar que não podemos nos deixar abater pelo chamado pacto da mediocridade. Sabemos que a nossa profissão não é valorizada, então não vamos fazer nada para melhorar? Pelo contrário, se concluído o curso de licenciatura, permanecemos como professores, é nossa função melhorar a qualidade do nosso trabalho. Caso contrário, poderíamos ter-nos dedicado a outras atividades que nos trouxessem uma melhor remuneração. Optamos por esta atividade por vontade própria e por isso é importante a não-acomodação. Em primeiro lugar o professor deve estar atualizado. Se entra em sala de aula desinformado sobre as coisas que se passam no mundo ou desestimulado, dificilmente conseguirá que seus alunos ajam diferentemente. A atividade do professor precisa ter um sentido, e quem dá o sentido é o próprio docente. Não existem fórmulas mágicas para o professor ter alunos interessados. Cada um, no dia a dia, terá que encontrar a sua maneira de levar o aluno a uma grande descoberta, a descoberta da História. Enfim, o que quero dizer é que o professor tem uma responsabilidade social; sua atividade, embora pouco valorizada age na formação de seres humanos e por isso deve fazer o máximo para realizar um bom trabalho. Um aspecto que tem chamado bastante a minha atenção ultimamente é o processo de ampliação do mercado de trabalho dos profissionais de História no Maranhão, através de, uma vez graduados, poderem ministrar aulas na rede pública e particular, no PQD (Programa de Qualificação Docente), no PROEB e mesmo no quadro efetivo de docentes universitários, pois a demanda nos cursos de História no Maranhão é tamanha, que é grande a necessidade de profissionais qualificados. Por isso, tem havido freqüentemente concursos não só para o ensino básico, como também para as universidades. Ao lado da ampliação das atividades profissionais relacionadas ao ensino, existe também uma exigência, neste mercado, de que o profissional de História faça um investimento constante no aprimoramento da sua formação durante e após a graduação, através da participação em Simpósios, em Cursos de Extensão e em de PósGraduação. Neste sentido acreditamos que a UEMA e a UFMA têm possibilitado essa experiência aos nossos alunos Nos últimos tempos, o considerável aumento da quantidade de alunos e profissionais participantes em eventos científicos mostra o interesse por este tipo de 4

atividade e que a mesma é fundamental na formação do professor-historiador. Através de discussões entre discentes e docentes de nível superior da instituição com os professores de fora, tem-se uma visão mais ampla dos debates acadêmicos que estão sendo travados e sua relação com a sociedade. O Encontro Humanístico realizado anualmente se encontra numa ponte de união entre as ciências humanas. Além da participação em eventos científicos, é importante que o professor leia para discutir com os seus alunos. Ele deve ser um leitor para que seus alunos também o sejam. Os livros estão caros? O professor pode freqüentar os sebos, sempre se pode encontrar uma preciosidade por lá ou mesmo acessar a Internet, um local onde além de artigos, podem ser consultados vários documentos, alguns dos quais poderão ser trabalhados em aula. Na Internet também é possível o acesso à produção historiográfica contemporânea e, nesse aspecto, cabe ressaltar as revistas acadêmicas, como, por exemplo, a Ciências Humanas em Revista, da UFMA, englobando a produção das ciências humanas como um todo e a Outros Tempos (www.outrostempos.uema.br), – Pesquisa em Foco História, revista de História da UEMA onde a produção de História é discutida, inclusive com muitos artigos sobre História do Maranhão, além de englobar outros temas e espaços. Há ainda, nas bancas de todo o país, uma série de revistas mensais especializadas em História e voltadas a um público mais diversificado, coisa que até pouco tempo, não ocorria entre nós. Muitas destas trazem uma postura mais crítica, como, por exemplo, a Nossa História4 e a Revista da História, com vários artigos de historiadores revendo diversos assuntos na História do Brasil, que podem sempre instigar novas pesquisas, novos questionamentos e idéias para trabalhar com alunos. Importante ressaltar também que, em ambas publicações, há uma seção intitulada “Ensino”, destinada a depoimentos de experiências na área do ensino que deram certo. Uma das que me chamou a atenção foi a de um professor que leciona História numa penitenciária e conseguiu sensibilizar os seus alunos através do uso de filmes e de outras atividades (ROSEIRA, 2005, p. 33-35).

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A revista Nossa História foi pioneira nas novas publicações voltadas ao grande público, tratando de forma problematizadora a História do Brasil. Inicialmente vinculada à Biblioteca Nacional houve uma cisão entre os seus coordenadores e passou a ser financiada por grupos privados. A partir de 2005 passou a concorrer com ela a Revista da História, vinculada à Biblioteca Nacional. No início de 2007 a Nossa História parou de circular, mas a sua concorrente mantém a preocupação original da Nossa História de discutir temas polêmicos e oferecer novas abordagens sobre a História do Brasil.

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Há outras publicações que misturam artigos de jornalistas e de historiadores, como, por exemplo, a História Viva5 e também a Aventuras na História, esta última com material principalmente de jornalistas. Mas, mesmo assim, todas essas publicações são válidas e oferecem caminhos e temas a serem trabalhados em sala de aula. Inclusive até mesmo alguns adolescentes lêem estas revistas, o que mostra o interesse que provocam. Enfim, opções para o professor se atualizar existem. Segundo Leandro Karnal, “ler, criticar, discutir, reunir-se com outras pessoas interessadas em não morrer profissional e pessoalmente podem ser caminhos para atenuar esse desgaste” (da sala de aula) (KARNAL, 2003, p. 11). Neste sentido é bom lembrar que existem as associações de História como a ANPUH, a Associação Nacional de História, na qual todo o profissional de História pode se associar e deve se associar. O objetivo principal é fortalecer a área, congregando vários membros que podem discutir conteúdos e estratégias de ensino, entre outras atividades. Uma outra sugestão ao professorado é substituir o ensino cronológico pelo temático. Ao invés de iniciar uma matéria intitulada, “A Idade Média” ou “Roma Antiga”, seguir um eixo condutor, algo como “A Importância da Religião na Idade Média”, “Ricos e Pobres na Roma Antiga”; ou ainda, “As Mulheres no Brasil Colônia”, “A Desumanização do Trabalhador na Sociedade Capitalista”, eixo temático que pode ser desenvolvido em várias aulas de uma mesma unidade. Isso não significa desprezar a cronologia, mas a busca de uma conexão que talvez interesse aos alunos e relacione os assuntos a um foco central. Mais do que tudo, o professor precisa mostrar, a cada momento, a importância daquilo que está ensinando e, por isso, é necessário dar um sentido ao conteúdo (se a matéria é o Egito Antigo, ele pode enfatizar as relações de trabalho, o fato de poucos terem acesso à educação, entre outros aspectos). Se o professor não gostar de algum conteúdo, certamente o aluno vai perceber e, portanto, não vai se interessar, contribuindo para reforçar a idéia de que a História está longe e não tem nenhuma relação com o mundo de hoje. Em pesquisa realizada pelos alunos da disciplina Metodologia para o Ensino de História da UEMA sobre o ensino de História Antiga e Medieval (primeiro semestre letivo, 2005) a conclusão obtida foi que, não somente determinados momentos da História, mas todo o conhecimento histórico é 5

A História Viva era voltada inicialmente à História Geral e passou a dar mais espaço à História do Brasil. Inclusive criou em 2007 a BrHistória, voltada unicamente para os temas de Brasil.

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visto pelos alunos do ensino fundamental desta forma, isto é, completamente distante e sem relação com a realidade. Portanto, a tarefa do professor para mudar essa postura deve ser intensa. Se o próprio profissional de História considera que há períodos que não precisam ser estudados, por que o aluno deve considerar os eventos de vinte, trinta, cem anos atrás ou mais, com alguma importância, num mundo onde tudo muda muito rapidamente? Por isso, é função do professor valorizar a História como um todo para a compreensão dos processos históricos. Devemos sempre nos lembrar que o principal motivo pelo qual faz sentido estudar a História é estabelecer um contato entre o passado e o presente. Investigamos o passado para compreender o hoje. Por isso, devemos instigar os alunos a fazerem pesquisas. Sabendo que na Internet é só “copiar e colar”, é importante estimulá-los depois a fazer estudos dirigidos, respondendo perguntas com base na pesquisa que apresentaram ou que exponham oralmente o conteúdo. Também é bom incentivar feiras científicas; a produção de maquetes sobre diferentes períodos históricos (o engenho, a fábrica, o feudo, etc.); visitas a museus, discutindo previamente o que vai ser visto lá e pedindo aos alunos alguma atividade. A exibição de filmes completos ou em parte também é uma interessante metodologia para complementar o conteúdo da aula, precedidos de um roteiro, no qual os alunos devem comparar as informações do que foi ensinado pelo professor com o que é visto na tela. O aluno deve ser estimulado a pesquisar, partindo inicialmente de perguntas simples: “onde”, “como”, “por que” e “quando” e depois para perguntas mais complexas. Outro elemento que podemos utilizar é a imagem através de figuras, gravuras e pinturas. Todo livro didático contém ilustrações que também podem funcionar como documentos históricos. Numa sociedade como a nossa que dá grande importância à imagem, é relevante utilizar este recurso para refletir sobre a História. Há ainda o uso da História Oral: levar o aluno a fazer entrevistas com diversos setores da sociedade para compreender a relação entre História e sociedade, passado e presente. Um grande desafio é conseguir transformar os conteúdos em problemas, captando e valorizando os pontos de vista e discutindo os elementos dos períodos históricos (SCHMIDT, 1998, p. 57). Devemos ensinar os alunos a questionar as “verdades absolutas”, nas quais os fatos falam por si só e a História é apenas um apanhado de causas e conseqüências ou então de curiosidades que em si não explicam a realidade histórica (ZIERER, 2003, p. 30). 7

Ninguém está dizendo que vai dar tudo certo e que é fácil. Buscar novas maneiras de ensinar é trabalhoso. O professor também não é Deus, não pode resolver todos os problemas. Muitas vezes, tudo o que não vai bem no ensino é atribuído ao professor. Assim, se o aluno não aprende, não sabe interpretar textos, não desenvolve a consciência crítica, a “culpa” é do professor. Claro que estamos imersos num sistema educacional, muito maior do que nós, para o qual nos vemos muitas vezes impotentes. Falta de material, turmas superlotadas, desinteresse dos alunos, dos setores públicos e até mesmo dos pais e/ou da escola. Tudo isso muitas vezes pesa mais do que a vontade de fazer um bom trabalho. Também é importante lembrar que o profissional de História e outros da educação são sobrecarregados de tarefas, têm muitas turmas e lecionam em várias escolas. Mesmo assim, vale a pena procurar “furar o bloqueio”, fazer algo diferente. Nesta profissão pouco valorizada, um dos maiores reconhecimentos é conseguir levar o nosso aluno a pensar, questionar, criticar a realidade. Às vezes a metodologia não vai funcionar, mas paciência, o importante é continuar tentando. Algumas vezes as turmas vão responder positivamente e muitas vezes não. É uma questão de empatia e de buscar estar mais próximo da realidade dos alunos. Depois do primeiro aspecto sobre o ensino, é importante mencionar a relação fundamental entre ensino e pesquisa e entre ensino básico e universitário. Parar com a idéia do divórcio entre aquele que escreve e aquele que dá aula. Nós somos os dois quando selecionamos o material a ser trabalhado em sala de aula, quando elaboramos provas ou exercícios e quando confeccionamos apostilas ou preparamos qualquer outro texto para ser trabalhado em aula. O ramo da pesquisa tem crescido muito no meio universitário. Hoje quase todos precisam passar pela monografia para receber o diploma universitário e a excelência das universidades está relacionada à pesquisa. Por isso, um campo que vem se desenvolvendo com sucesso é o das pesquisas de iniciação científica, que estão em plena ascensão. Um exemplo é aumento das pesquisas na área de História com bolsas da UEMA, CNPq e FAPEMA, possibilitando um maior acesso do graduando às fontes primárias com um acompanhamento constante do professor-orientador e com uma remuneração, o que permite uma maior dedicação ao curso de História. É importante pensar que os alunos que mais se dedicarem às atividades do curso serão os que poderão buscar melhores oportunidades de trabalho. Além do crescimento nas áreas de ensino e pesquisa, uma área extremamente carente é a de produção escrita. 8

Assim, considero que o profissional de História ideal é aquele que, de algum modo, consegue conciliar as atividades de ensino e pesquisa. Sabemos do estafante trabalho de um professor, porém a pesquisa é uma atividade que deve ser realizada com os alunos na própria sala de aula, pois faz parte da profissão a busca do conhecimento através da análise das fontes, e essa prática deve ser levada aos alunos do ensino básico (CERRI, 2004, p. 66-68). É bom lembrar que o professor também é um pesquisador e que as escolas privadas têm preferido aqueles profissionais que investem na profissão com a continuidade dos estudos e participação nos eventos científicos. Serão estes os escolhidos para trabalhar nas melhores escolas e, a eles, será atribuída a função de elaborar projetos e materiais didáticos como apostilas, o que também pode e deve ser feito pelo professor nas escolas públicas. Acredito sinceramente que, para nós professores, a atividade de pesquisa é fundamental para o nosso trabalho. Se produzimos conhecimento nos tornamos melhores professores, melhores profissionais. Deixamos de ser meros reprodutores de livros didáticos e nos voltamos a produzir e a ajudar os nossos alunos a refletirem sobre o mundo. Só construindo o nosso próprio conhecimento, é que estaremos aptos a levar de alguma maneira essa experiência aos alunos do ensino fundamental e médio. Quando conseguimos levar os alunos a se sentirem produtores da História, ao buscarem informações para participarem de uma feira de cultura, para elaborarem uma história em quadrinhos, uma peça teatral, um debate ou outra atividade criativa, eles passam a se interessar pela nossa disciplina. Nesta complexa batalha para despertar o interesse do aluno, é fundamental o professor que estuda, que produz conhecimento e que está sempre em busca de se aprimorar no ofício de professor, ofício este que é indissociado da atividade de pesquisa. Neste sentido, é fundamental reforçar o papel da pesquisa na gradução não só através da iniciação científica, como também da elaboração da monografia. Muitos alunos se queixam da necessidade de produzir a monografia para a obtenção do diploma. No entanto, justamente quando o aluno vai escrever a sua monografia – produção que tem as suas determinadas regras acadêmicas a serem respeitadas, é que ele aprende a fazer pesquisa com fontes primárias, a problematizar algum assunto e, desta forma, produzir conhecimento original, tarefa essencial da profissão.

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Porém, é bom lembrar que ao escolher o tema da monografia, o aluno deve gostar daquele tema que escolheu para realizar um trabalho que lhe dê prazer, já que escrever é importante e imprescindível, mas é também uma tarefa que requer muita dedicação. Portanto, procurem gostar daquilo que vão pesquisar e uma vez pesquisando, busquem fazer o melhor trabalho possível, pois isso se refletirá no trabalho do profissional enquanto professor. O professor que passou pela experiência da monografia e não gostou da sua pesquisa, terá muita dificuldade para despertar os seus alunos para pesquisar e questionar o mundo, principalmente os alunos do ensino básico, que precisam de muito estímulo. Como já ressaltamos anteriormente, precisamos parar com a idéia de que o professor não escreve. Por que não? O professor também pode escrever. Quem disse que é habilitado unicamente para dar aulas? Por que um professor não pode ocupar o espaço de escrever livros didáticos? Quem conhece melhor o que o seu aluno entende e precisa aprender senão ele? É importante salientar que toda a renovação historiográfica ocorrida desde o século XX, com a historiografia marxista e a Escola dos Annales, nos ensina a questionar os documentos, fazer perguntas a eles para buscar compreender determinada realidade e sua ligação com o presente. Por isso, é fundamental que o professorhistoriador continue a sua formação uma vez terminada a graduação e se empenhe na produção historiográfica utilizando fontes primárias, capazes que são de, através das perguntas do historiador, produzir conhecimento original a ser consumido por diversos setores no Maranhão, que vão do ensino básico ao universitário. Numa capital que é Patrimônio da Humanidade, repleta de museus e centros de cultura, existe uma necessidade enorme de “descobrir” a História do Maranhão. O Vestibular exige e a própria população deseja conhecer melhor a sua História. Portanto, quem pode fornecer uma nova visão da História do Maranhão somos nós, os professores-pesquisadores. Muitas vezes o próprio aluno de graduação se sente afastado deste meio e cobra esta produção aos professores. No entanto, o aluno, a partir do momento que entra na universidade é também do meio acadêmico e tem compromisso com ele. Acabaram-se os anos do ensino médio e ele é também “academia”. Não são apenas os seus professores que devem produzir, escrever. Ele enquanto aluno e futuro professor também possui este atributo a ser desenvolvido na pesquisa de iniciação científica, na 10

monografia e depois na produção de textos aos seus alunos, de apostilas e também de livros didáticos. Estamos num momento de grande interesse pela História, o que é retratado por filmes históricos, biografias, mini-séries na televisão, revistas nas bancas. Cabe ao profissional de História ocupar o seu espaço, produzir livros para o público nãoacadêmico, produzir textos didáticos sobre a História do Maranhão, do Brasil e do mundo. Esta é uma maneira de o historiador ocupar o seu papel na sociedade e também de melhorar os seus rendimentos. Fundamental na nossa profissão de professores-historiadores é falar e escrever. Falar porque, mesmo os tímidos, quando forem professores vão usar principalmente a oralidade com o seu “público”, os alunos. E escrever porque todo professor precisa produzir algo por escrito através das suas próprias pesquisas e apostilas, do material que elabora para trabalhar com os seus alunos e dos livros que pode escrever e vender. Por isso, escrever é necessário e além disso, é um campo de trabalho amplo e aberto à espera de todos nós. Sem pesquisar os documentos, sem rever a historiografia, ainda que se produzam novos livros didáticos ou para-didáticos voltados ao público leigo ou do ensino básico, o que se fará será a reprodução da História tradicional que já foi contada por vários autores, isto é, uma história narrativa, com uma sucessão de fatos em ordem cronológica, que é incapaz de nos explicar a nossa realidade. Por isso, a função das novas gerações é justamente rever os documentos e produzir uma História explicativa, para problematizar e responder as nossas perguntas, principalmente, sobre a sociedade maranhense no passado e hoje. Alguns criticam os livros universitários, com a sua linguagem “difícil”. No entanto, defendo que o mais importante é trabalharmos para produzir a escrita da História para diversos tipos de leitores. O público universitário nos exigirá as notas de rodapé, e referências bibliográficas e de fontes com maior precisão. Já o público não especializado requer uma linguagem mais simples, mas nem por isso, os temas tratados deverão deixar de ser aprofundados. Portanto, é sim, da nossa profissão de professores-pesquisadores: sermos capazes de dar aulas, produzirmos apostilas, livros didáticos, artigos para revistas científicas e livros para o público universitário. Assim, a atividade de pesquisa associada ao ensino terá a sua função completa e um papel fundamental na transmissão de conhecimento e na reflexão sobre a nossa sociedade. O historiador deve estar comprometido com as mudanças na sociedade, com 11

o aumento da sua capacidade de refletir e criticar o que pode ser melhorado e por isso, o professor-pesquisador deve estar sempre em busca de cumprir a sua função social. Creio firmemente que apesar das enormes dificuldades da nossa profissão, que ainda não foi sequer reconhecida oficialmente pelo governo, a nossa importância tem crescido muito. Ainda é difícil ficarmos ricos, mas aqueles que melhor conseguirem conciliar as atividades de escrita da História e ensino da História possuem um grande leque de opções de trabalho e podem chegar mesmo a conseguirem uma remuneração mais satisfatória. É importante aproveitar o momento de aquecimento do mercado e da necessidade de profissionais qualificados para ocuparmos o nosso papel na sociedade, que é o de agentes de transformação da realidade (conforme dissemos ou diremos no nosso discurso de formatura), pois a característica essencial da nossa profissão é estimular as pessoas a pensar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. BITTENCOURT, Circe (Org.). O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1998. CERRI, Luis Fernando. “O Valor das Fontes (Direto à Fonte)”. In: Nossa História. Ano 1, nº 7, maio 2004, p. 66-68. KARNAL, Leandro (Org). História na Sala de Aula: Conceitos, Práticas e Propostas. São Paulo: Contexto, 2004. GUAZELLI, César A. B. et alii. Questões de Teoria e Metodologia da História. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000. NIDELCOFF, María Teresa. As Ciências Sociais na Escola. São Paulo: Brasiliense, 1987. Outros Tempos. Pesquisa em Foco História. www.outrostempos.uema.br RIBEIRO, Marcus Venicio. “Não Basta Ensinar História”. In: Nossa História. Ano 1, nº 6, abril 2004, p. 76-78. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. “A Formação do Professor de História e o Cotidiano da Sala de Aula”. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1998, p. 54-66. ROSEIRA, André Luis. “Um professor „alemão‟. O Aprendizado da História nas Penitenciárias do Rio de Janeiro”. In: Revista da História, Ano 1, nº 1, julho 2005, p. 33-35. ZIERER, Adriana. “Conquistas e Desafios da História como Disciplina no século XXI”. In: Ciências Humanas em Revista. São Luís: EDUFMA, V. 1, n. 2, 2003, p. 21-36.

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