RELAÇÕES ENTRE O HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DE PARQUES URBANOS EM BELO HORIZONTE E SUA CONSTITUIÇÃO ENQUANTO LUGAR

June 6, 2017 | Autor: J. Oliveira | Categoria: Territoriality, Geociencias, Parques Urbanos
Share Embed


Descrição do Produto

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

RELAÇÕES ENTRE O HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DE PARQUES URBANOS EM BELO HORIZONTE E SUA CONSTITUIÇÃO ENQUANTO LUGAR

Vandeir Robson Da Silva MATIAS Professor do Departamento de Geografia e História Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Av. Amazonas, 5253 – Sala 430 – Nova Suiça Belo Horizonte – MG – CEP: 30421-169 [email protected] Matusalém De Brito DUARTE Professor do Departamento de Geografia e História Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Av. Amazonas, 5253 – Sala 430 – Nova Suiça Belo Horizonte – MG – CEP: 30421-169 [email protected] João Victor Fonseca De OLIVEIRA Discente do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Av. Amazonas, 5253 – Sala 430 – Nova Suiça Belo Horizonte – MG – CEP: 30421-169 [email protected] RESUMO: A partir de 2000, com a promulgação da lei 9985, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, os parques nacionais, estaduais e municipais tiveram seus limites e funções definidos. Em Belo Horizonte diversos parques foram criados após a promulgação dessa lei, que se somado às dezenas de outros criados anteriormente, seja por iniciativa popular ou governamental, passaram a compor um sistema de parques municipais, administrados pela Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte. Devido a essa heterogeneidade histórica da criação de parques e das disparidades existentes entre as formas de uso de um parque para outro, essa pesquisa tem como objetivo analisar a situação de alguns parques com o intuito de entender as relações que existem entre a história de criação dos mesmos e a relação dos usuários com estes espaços-lugares. Palavras-chaves: Estudos socioambientais; Parques urbanos; lugar; ABSTRACT: Since 2000, with the enactment of the 9985 law that created the National System of Conservation Units, national, state and municipal parks had their limits and functions defined. In Belo Horizonte several parks were created after the enactment of this bill, which is added to the dozens of other previously created, either by governmental or popular initiative, started to compose a system of municipal parks, administered by the Foundation for city hall Parks of Belo Horizonte. Due to this historical heterogeneity of the creation of parks and the disparities between the different uses of a park to another, this research aims to analyze the situation of some parks in order to understand the relationships that exist between the story of creation of same and the relationship of users with these spaces-places. Keywords: social and environmental studies; Urban parks; place;

222

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

1. INTRODUÇÃO: CONTEXTUALIZAÇÃO, OBJETIVOS E METODOLOGIA. Após anos de discussão sobre a regulamentação das áreas de conservação, foi promulgada, em 2000, a lei 9985 de 18 de julho, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A partir desse sistema, tornou-se possível classificar e determinar as ações possíveis de serem feitas nesses espaços, bem como possibilitar a delimitação de novas áreas protegidas, de acordo com o interesse social. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação instituiu a classificação das Unidades de Conservação (SNUC) em 13 categorias. Cada uma das categorias é descrita no SNUC a partir do que é permitido ou não no interior do espaço demarcado. No caso dos parques nacionais, que podem ser estaduais ou municipais se forem criadas por essas instâncias, o objetivo principal de sua criação é a “preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e turismo ecológico” (BRASIL, 2000, art. 11). Como podemos ver, a categoria parque oferece aos sujeitos e à sociedade diversas possibilidades de acesso e uso desse espaço, figurando como uma das categorias mais próximas do conceito de desenvolvimento sustentável e da concepção de socioambientalismo. Sendo assim, diversas Unidades da Federação e inúmeros municípios, passaram a criar Unidades de Conservação utilizando o rótulo de parque como estratégia ambientalmente sustentável e como forma de oferecer à população e à indústria do turismo, espaços recreativos e de contato com a natureza. Seguindo nessa perspectiva, o município de Belo Horizonte passou a contar também com esse dispositivo legal para a criação de parques municipais, muitos deles com dimensões muito pequenas. Segundo o site da Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte – MG: com o intuito de manter a qualidade de vida de Belo Horizonte e a beleza de suas áreas verdes, no ano de 2005, a Prefeitura da capital criou a Fundação de Parques Municipais - FPM. A instituição administra e mantém 69 parques da cidade, promove programas de educação e manejo ambiental, atividades de lazer, esporte, cultura e cidadania, além de gerenciar os quatro cemitérios municipais e cinco Centros de Vivência Agroecológica (Cevaes). (PBH, 2012)

223

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

Apesar de grande parte dos parques serem anteriores à promulgação do SNUC, percebe-se que houve um avanço no gerenciamento e criação de novos espaços a partir de sua implantação. A definição legal das atividades permitidas nesse espaço trouxe para a discussão política a viabilização dessas unidades como forma de trazer a questão ambiental para o cotidiano urbano. Em Belo Horizonte, por exemplo, há parques, como o Parque Carlos de Faria Tavares, na Vila Pinho, que foram criados por demanda popular, cuja aprovação fora feita nos processos de deliberação do Orçamento Participativo. Analisando o histórico de criação dos 69 parques municipais de Belo Horizonte, podemos perceber que há uma parcela significativa desses inserida no contexto de demanda popular, o que mostra um estreitamento cada vez maior da população com as questões referentes à proteção do meio ambiente, mesmo que estas estejam estritamente vinculadas ao discurso midiático superficial. Essa demanda e criação de parques no contexto da comunidade, em tese deveria trazer uma ampliação da identidade dos moradores com esse espaço, uma vez que uma demanda atendida facilitaria o sentimento de pertencimento do lugar, pois como afirma Sylvia Cavalcante: a relação da pessoa com o espaço é o que permite sua transformação em lugar. Enquanto lugar, o espaço ganha importância e sua identificação situase para além de seus limites físicos. Ele é principalmente reconhecido pelo valor atribuído à vivência e aos sentimentos relacionados a ele. É neste ponto que reside a diferença entre espaço e lugar, pois “o espaço habitado transcende o espaço geométrico". (CAVALCANTE, 2011, p. 184-185)

Nessa perspectiva, o estudo do lugar torna-se um importante instrumento para entender o cotidiano de uso do espaço e da relação dos sujeitos com o mesmo, pois o lugar não é simplesmente um espaço onde os objetos estariam dispostos, mas o resultado de ações e re-ações no cotidiano, construindo sentimentos de pertencimento e de repulsa. Helena Callai, ao falar da vida encarnada lugar afirma que “cada lugar tem uma força, uma energia que lhe é própria e decorre do que ali acontece. Esta não vem de fora nem é dada pela natureza. É resultado de uma construção social, na vivência diária”. (CALLAI, 2000, p. 119) Considerando os parques por demanda popular, como espaços privilegiados para a construção do sentimento de pertencimento, facilmente poderíamos chegar a uma conclusão teórica de que esses espaços se encontram em situação de

224

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

conservação mais favoráveis em detrimento dos espaços criados por iniciativa do governo. Porém, essa conclusão não é tão simples, uma vez que envolvem outros fatores externos, que complexificam a questão: perfil econômico e cultural dos usuários, formas de uso instituídas, estratégias municipais construídas para a criação/desenvolvimento do sentimento de valorização do espaço, entre outros aspectos. Andréa Lobo, ao estudar a relação entre Unidades de Conservação e Educação Ambiental, percebe que muitas vezes o paradigma de preservação proposto pelos gestores traz resultados nocivos ao estabelecer um comportamento padrão, que prioriza as normas disciplinares, a vigilância e a normalização (LOBO, 2000, p. 51). A iniciativa de criação de um parque não significa que o acesso ao público possibilitará de imediato a construção da identidade do lugar. Ações que impossibilitam o engajamento do sujeito no espaço, e que desconsideram o lazer como uma ação de desejo e construída pelos sujeitos ativos, dificultarão a criação da identidade e com isso a valorização do lugar. A exacerbação da vigilância e da tentativa no enquadramento dos sujeitos nas políticas e, consequentemente, nas práticas do cotidiano, tem-se mostrado ineficaz enquanto técnica de controle. O que escapa desses modelos mostra o quão deshumanizadores temos conseguido ser, em nome da humanização, a partir da instituição exagerada de normatizações, inclusive de comportamentos. Nessa perspectiva Guattari e Rolnik nos apresenta o desejo não como algo nocivo, mas como uma questão a ser considerada nesse processo de sensibilização: A questão consiste em saber se não há uma outra maneira de ver e praticar as coisas, se não há meios de fabricar outras realidades, outros referenciais, que não tenham essa posição castradora em relação ao desejo, a qual lhe atribui toda uma aura de vergonha, toda essa espécie de clima de culpabilização que faz com que o desejo só possa se insinuar, se infiltrar secretamente, sempre vivido na clandestinidade, na impotência e na repressão. (GUATTARI; ROLNIK, 2010 p. 261)

Essa colocação de Guattari e Rolnik soa como uma provocação e nos ajudou a pensar a pesquisa, pois sabíamos de antemão que nem todos os parques por demanda popular são utilizados da mesma forma. Alguns se encontram em situação de depredação avançada enquanto outros, que nem foram criados por iniciativa popular, são altamente valorizados e bem utilizados pela população local. Sendo assim, essa pesquisa teve como objetivo compreender a relação entre o processo

225

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

de implementação de alguns parques municipais de Belo Horizonte, situados em regionais diferentes da cidade de Belo Horizonte - MG, e verificar sua constituição enquanto lugar. Para atingir o objetivo geral, alguns objetivos específicos foram considerados, sendo eles: fazer um levantamento das principais características de um parque nacional, estadual e municipal segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (RODRIGUES, 2005); pesquisar na Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte o histórico de construção dos parques municipais de Belo Horizonte, para a seleção dos parques que serão visitados; selecionar parques criados por iniciativa popular e parques criados por iniciativa governamental; construir uma ficha de avaliação da situação material e gerencial e das atividades oferecidas pelo parque, para verificar a relação existente com o processo de criação dos parques; visitar os parques selecionados para observação e avaliação segundo a ficha construída e fazer uma avaliação comparativa crítica entre os parques visitados, considerando a necessidade de constituição desses espaços enquanto lugar.

2. SELEÇÃO DOS PARQUES ESTUDADOS A Fundação de Parques Municipais (FPM) foi criada em 2005 com o intuito de criar e gerenciar os parques urbanos de Belo Horizonte e assim manter a qualidade de vida de Belo Horizonte e a beleza de suas áreas verde. A fundação administra e mantém 69 parques, que somam uma área, aproximadamente, de 8,6 milhões de metros quadrados. A proteção ambiental está associada à preservação da flora nativa, e também, para a recarga dos lençóis freáticos e proteção dos mananciais, conservando os recursos hídricos. Promove programas de educação e manejo ambiental atividades de lazer, cultura e cidadania, e gerencia os quatros cemitérios municipais e os cinco Centros de Vivência Agroecológica (CEVAES) (PBH, 2012; FPM). A partir da análise do material fornecido pela FPM, contendo informações diversas dos parques, e da visita a alguns destes, selecionamos três parques para a análise comparativa entre o histórico de sua criação e sua situação atual, com o intuito de entender se havia uma relação direta entre estes dois componentes. Um dos primeiros parques a serem analisados é o parque da Serra do Curral, dada a sua importância para o prestigio cultural e histórico da cidade, sendo um 226

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

marco entre os habitantes de Belo Horizonte. O parque se localiza na Serra do Curral, regional Centro-Sul. No parque é possível caminhar por uma trilha na crista da serra, na qual se visualiza uma bela e reveladora vista da capital de Minas e cidades vizinhas. O parque se localiza em área ocupada por população de alta renda e faz parte do projeto de tombamento da Serra do Curral. O segundo parque escolhido é o Parque Burle Marx, mais conhecido como Parque das Águas. O parque se localiza na Regional Barreiro, na porção sul da capital. É uma reserva cultural, que oferece diversas atividades, atende um público mais local: em torno da comunidade, que por sua vez, em maioria, ainda não reconhece a importância do parque, observando o baixo número de visitação em relação à quantidade de moradores da região. O Parque se localiza numa região de população com menor poder aquisitivo e foi criado por iniciativa popular, na década de 1990, pelo Orçamento Participativo. O terceiro parque, também construído por iniciativa popular pela comunidade, foi o Parque Carlos Faria Tavares, localizado em uma vila de população de baixa renda, também na regional Barreiro.

3. CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DOS PARQUES URBANOS Primeiramente foi feita uma visita à Fundação de Parques Municipais para formalizar o pedido de autorização para a execução da pesquisa, bem como levantar material sobre os parques municipais de Belo Horizonte – MG. Nessa visita, tivemos a autorização formalizada e conseguimos recolher folders dos parques por regionais. Nesses folders havia informações sobre a localização do parque, dimensão e, em alguns casos, sobre o histórico de criação daquela Unidade de Conservação. Esses documentos foram imprescindíveis para o mapeamento da distribuição dessas UCs pelo município de Belo Horizonte, bem como para a seleção dos parques a serem pesquisados e construção das fichas avaliativas. Após essa visita, realizamos trabalhos de campo nos parques selecionados para a avaliação do entorno e dos critérios estabelecidos na ficha avaliativa. Essa visita prévia foi escolhida por acreditarmos ser importante a ampliação da compreensão da organização espacial a partir da vivência, que possibilita apreender e compreender os dados fundamentais para uma pesquisa qualitativa uma vez que leva em conta aspectos subjetivos e intersubjetivos.

227

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

A partir da análise dos vários parques que permeiam o município de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, buscando estabelecer uma comparação entre o processo de formação destes parques, levamos em conta alguns aspectos relevantes para a composição destes, a partir de critérios que possam inferir em uma avaliação destas áreas:



Recepção /informações: Presença de algo ou alguém mantendo o controle de entrada e saída dos usuários do parque, satisfazendo as dúvidas do público local, quanto aos serviços oferecidos, horário de funcionamento e outros aspectos locais.



Informações iconográficas: Presença de banners, panfletos ou pôsteres que pudessem esclarecer os usuários sobre o local.



Guia Turístico: Presença de um orientador com o objetivo de esclarecer o usuário sobre o histórico dos parques e o que ele oferece em termos culturais e socioambientais.



Infraestrutura: Observância da estrutura oferecida aos usuários para acesso e uso sustentável do espaço: sanitários, recipientes para coleta de resíduos sólidos, trilhas, etc.



Acessibilidade: Referente ao acesso do parque, ou seja, se o parque está muito afastado da população, localizado em áreas mais longínquas, que permitem ou não o rápido e fácil acesso das pessoas. Ou até mesmo a proibição ou licenciamento para visitas diversas.



Segurança: Recursos de segurança pessoal, enquanto utiliza-se dos recursos do parque, como presença de guardas municipais, policiais capacitados e formados para as adversidades que possam vir a ocorrer nas dependências dos parques.



Atrativo social: Serviços oferecidos, tais como: Academia da Cidade, Oficinas de realização de atividades interativas e outras formas de entretenimento e de incentivo ao convívio social.



Manutenção: O estado de conservação das dependências do parque.



Localização e Público-Alvo: Área de Belo Horizonte em que se localiza o parque, levando em conta os seus frequentadores, tendo em vista a correlação entre a situação ambiental dos parques, de preservação,

228

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

manutenção, reconhecimento, e a situação socioeconômica dos visitantes e do local onde estes se situam. •

O Governo e o Parque: A relação entre o Governo e o Parque, as condições que o governo proporciona a estes. Verificação dos baixos investimentos e desinteresse, ou supervalorização destes locais.

4. AVALIAÇÃO DOS PARQUES

PARQUE DA SERRA DO CURRAL Eleita pela população, em 1997, símbolo de Belo Horizonte, a Serra do Curral constitui a História de Minas Gerais. No período de colonização do Estado, era a referência de localização para os viajantes que ao avistar a Serra se situavam no espaço como estratégia de chegar ao lugar desejado. Tombada pela Lei Orgânica do Município e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Serra do Curral é uma dos elementos que compõe o cenário de Belo Horizonte. No intuito de proteger esse patrimônio foi criado o Parque da Serra do Curral que protege este patrimônio. O parque é dotado de uma área de 400 mil m² e apresenta altitudes médias variando entre 1.200 e 1.380m (figura 1).

Figura 1- parque da Serra do Curral

229

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

Parte da sua formação geológica contém características comuns do cenário que compõe o quadrilátero ferrífero do qual também faz parte (BELO HORIZONTE, 2013). Pelo relevo íngreme da trilha e pela dependência das condições meteorológicas, o parque frequentemente é fechado ao público. De acordo com os critérios estabelecidos, a avaliação do parque é a seguinte: Recepção/Informações: A recepção é abastecida por fôlderes sobre o parque e possui um profissional para atender ao público, inclusive no que diz respeito às dúvidas. É um espaço bem equipado com um televisor para instruções e bancos para o aguardo do início da visita. Todos os visitantes são checados pela recepção recolhendo o formulário de responsabilização assinado por eles. O parque possuiu um

site

onde

é

realizado

o

agendamento

prévia

de

visita

[http://http://www.parqueserradocurral.com.br/]. Informações iconográficas: o parque apresenta é composto por excelente infraestrutura iconográfica que permite a identificação de onde se estar, com medidas de prevenção a diversos perigos que os turistas possam ser expostos, curiosidades sobre o parque, direcionamento da trilha, entre outras placas que nos auxiliam e permitem um maior aproveitamento do espaço em que estamos. Contém fotografias panorâmicas que identificam o cenário natural para o qual apontam. Guia Turístico: O parque apresenta diversos profissionais da área ambiental, que trabalham de forma terceirizada conduzindo todo o percurso por entre as trilhas. Durante o percurso, eles apresentam informações gerais sobre a infraestrutura e histórico do parque. Durante nossa visita, fomos acompanhados por uma Bióloga e um técnico em meio ambiente. Infraestrutura: O parque possui uma área aproximada de 400mil/m².

É

composto por vários banheiros e bebedouros. Acessibilidade: A acessibilidade do parque é favorável para um público local e para aqueles que possuem automóvel ou acesso particular. Àqueles que desejam ir ao parque utilizando os serviços de transporte público contam apenas com uma linha de ônibus que possui desembarque há mais de 200 metros da portaria. Segurança: O parque possui vigilantes que colaboram para a preservação do espaço, e verificam possíveis desvios das normas de utilização do espaço dos parques. Os vigilantes possuem medidas de comunicação eficiente com os outros policiais por meio de rádios comunicadores o que auxilia seu trabalho.

230

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

Atrativo Social: Constituído de trilhas, mirantes e locais para interação interpessoal, possui amplos espaços para descanso, caminhada, além de proporcionar uma maravilhosa vista das belezas presentes na capital mineira. Manutenção: extremamente bem conservado, com nenhum problema estrutural aparente. O parque se mantém íntegro em todo o seu prolongamento sem nenhum dano prejudicial a sua composição. Localização e Público-alvo: Está localizado no extremo sul de Belo Horizonte, na Avenida José do Patrocínio Pontes, 1951, no bairro Mangabeiras, famoso por seu estilo rebuscado e com população com um alto poder aquisitivo, o que favorece a presença maior deste determinado público nas dependências do parque. Além dos habitantes do entorno, o público que frequenta esse parque é composto também por turistas de aventura, e habitantes de cidades vizinhas da região metropolitana. O governo e o parque: Carlos Drummond de Andrade foi peça fundamental para a conscientização ambiental, de que a Serra era de fato elemento a ser profundamente. Vivia por entre árvores saudosas da Serra. Assim após algum tempo houve o tombamento da serra que hoje é considerada uma das várias unidades de conservação existentes em nosso país. Por se tratar de um destino turístico em um símbolo da capital, o governo mantém-se amigável em suas relações com o parque.

PARQUE ROBERTO BURLE MARX (PARQUE DAS ÁGUAS) O Parque Municipal Roberto Burle Marx, popularmente conhecido por Parque das Águas, faz parte do complexo ecológico da Serra do Rola-Moça, divisa da Serra do Curral, e faz limite com a reserva de proteção do manancial Barreiro (figura 2). Inaugurado em 1994, já abrigou a antiga "Casa de Descanso do Prefeito" de Belo Horizonte e a "Cidade do Menor" - alojamento para crianças e adolescentes em risco social (BELO HORIZONTE, 2013). Recepção/Informações: O parque, apesar de possuir uma guarita, não foi encontrado um profissional no interior da mesma, dificultando o contato inicial dos usuários e o esclarecimento de dúvidas. Informações iconográficas: O parque é composto de estruturas e/ou informações icnográficas que apelam ao visitante para que este não jogue lixo no chão, não jogue lixo nas águas, entre outras medidas que prezam a conservação e

231

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

uma boa manutenção do parque. Fora isso, não há indicações sobre o uso do parque e informações sobre o que é oferecido ao público.

Figura 2- Parque das Águas

Guia Turístico: O parque não possui guias turísticos, dificultando o conhecimento do público sobre a história do parque, sua infraestrutura e curiosidades sobre o local por outros meios, o que compromete o desenvolvimento da sensação de pertencimento. Infraestrutura: Com uma área de aproximadamente 174 mil metros quadrados, o local apresenta um pequeno lago e diversas nascentes que formam o Córrego do Clemente. O parque também tem importância na comunidade pelo cultivo de plantas medicinais e atividades de educação ambiental e de educação física. Acessibilidade: O parque possui fácil acesso aos moradores locais. Já para os visitantes que não conhecem o local, o acesso é comprometido pela escassez de placas na região informando a localização do parque. O acesso por meio de transportes públicos é feito por meio de três linhas de ônibus. Segurança: O parque possui agentes da Guarda Municipal, que fazem constantes rondas no interior do espaço. Atrativo Social : Como atrativo social o parque oferece quadras de esportes, playgrounds, pista de caminhada e mesas de jogos. Este também conta com a CONARTE (Cooperativa de Confecção e Arte) um grupo de artesãs que desenvolvem seu trabalho no parque, com os mais variados. O Centro de Apoio 232

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

Comunitário (CAC) Parque das Águas oferecem projetos culturais , sociais e de pesquisa científica, utilizado por diversas escola e instituições para a realização de eventos. O projeto Academia da Cidade é utilizado pela população que quer adquirir uma melhor qualidade de vida. Possui também o programa Escola Integrada. Manutenção: O estado de conservação do parque é moderado já que as guaritas estavam com vidros quebrados, demonstrando a depredação de um patrimônio importante para toda a população. Localização e Público-alvo: Localizado na região do Barreiro, na Avenida Ximango , 809 - Bairro Flávio Marques. O público pertencente a este parque normalmente é composto por população local das mais diversas faixas etárias, que procuram estabelecer um contato direto com a natureza e pode se exercitar de forma saudável e tranquila. O governo e o parque: A população em volta do parque teve que lutar pela área, após o local ter sido abandonado pela prefeitura. Pelos relatos, a área ficou abandona e servindo à prática de atividades ilícitas, como espaço para usuários de drogas. Após aprovação no Orçamento Participativo, por pressão popular, o local foi inaugurado para atender à população local.

PARQUE CARLOS FARIA TAVARES Criado em outubro de 1992, o Parque Carlos Faria Tavares foi implantado em 2000 por meio do Orçamento participativo (figura 3).

Figura 3- Parque Carlos Faria Tavares

233

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

O local é de grande importância ambiental e também serve com travessia para a comunidade. O parque localiza-se no bairro Vila Pinho – Regional Barreiro – Belo Horizonte – MG. Recepção/Informações: O parque, apesar de possuir uma guarita, não foi encontrado um profissional no interior da mesma, dificultando o contato inicial dos usuários e o esclarecimento de dúvidas. Informações icnográficas: O parque não possui informações iconográficas, este fator é ruim já que o parque é frequentado constantemente por crianças e moradores locais, que usam o espaço sem conhecimento do que é oferecido pela administração. Guia Turístico: O parque não possui guia turístico, dificultando a estreitamento entre o parque e o visitante. Infraestrutura: Com uma área de aproximadamente 78.800 metros quadrados, abriga nascentes que abastecem o córrego Vila Pinho, afluente do Ribeirão Arrudas. Apresenta vegetação típica do cerrado, uma área de academia, um campo de futebol e uma trilha, com alguns bancos no caminho. Nem toda a trilha é calçada, dificultando o acesso de alguns usuários. Acessibilidade: o parque é de fácil acesso à população local. A comunidade a qual atende, fica localizada do outro lado da avenida. Por estar localizado próximo a Estação Rodoviária Diamante, há variadas linhas de ônibus que abastecem a região. O

parque,

porém,

diferentemente

do

Parque

da

Serra

do

Curral,

é

predominantemente visitado pelos moradores locais. Segurança: o parque possui vigilância de dia e a noite em suas duas portarias. Atrativo Social: Como atrativo social o parque oferece a seus visitantes, playground , aparelhos de ginástica , na qual se realiza o projeto Academia da Cidade que possui 400 matriculados, recantos com mesas de jogos , locais que propiciam aos visitadores fazerem piqueniques, quadras de peteca e vôlei, que são utilizadas no programa Escola integrada, o parque também abriga um Centro de Saúde e pista de caminhada, oferecendo uma melhor qualidade de vida à todos. Manutenção: O Parque se encontra em ótimo estado de conservação, já que está sendo restaurado o plantio de áreas verdes no local e construído um banheiro ao lado da Academia da Cidade dando mais confortos aos cidadãos que participam do projeto. Com várias lixeiras, o local não possui dejetos jogados ao chão, a organização e limpeza fazem parte do lugar. 234

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

Localização e Público-alvo: Localizado nos Bairros Vila Pinho/Santa Cecília, avenida Perimetral, 800. É bastante freqüentado, principalmente por jovens e crianças que procuram diversão nos playgrounds e quadras de esportes. O governo e o parque: Implantado por meio de Orçamento Participativo e com bons resultados no processo de inclusão e aproximação da sociedade com o parque.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a análise comparativa dos três parques concluímos que o parque localizado na área mais favorecida economicamente possui uma maior atenção da administração municipal e oferece maiores equipamentos humanos e materiais aos usuários. Todos os elementos avaliados foram encontrados com maior qualidade no Parque da Serra do Curral, mostrando seletividade nos investimentos. Os dois parques criados por iniciativa popular, apesar de equipados com menor infraestrutura de pessoal e material, se encontravam em bom estado de conservação. Em um dos parques, o relato do administrador local, porém, mostrou que foi necessário construir uma política de acesso, com a comunidade local, de modo a evitar depredação. Nesse sentido, verificamos que o trabalho cotidiano de sensibilização ambiental, por parte da administração local, precisa ser incentivado e implementado pela prefeitura com maior ênfase e com profissionais habilitados para tal tarefa. As desigualdades econômicas também foram claramente perceptíveis na visitação dos parques. Muitos parques que se localizam em áreas periféricas são menos privilegiados, contendo menor índice de segurança, estrutura e suporte. Além da influência da iniciativa de criação dos parques que também compete para que este seja menos ou mais valorizado. O histórico de criação dos parques influencia no processo de constituição do espaço enquanto lugar, pois a comunidade, ao ser atendida na sua demanda, tem como objetivo a conservação daquele espaço. A manutenção, porém, desta sensação de pertencimento precisa ser continuamente suscitada através da criação de projetos de acolhimento dos usuários com a co-responsabilização do uso do espaço público. A existência, porém, da maior conservação do parque localizado na área nobre da cidade, que não foi construído por demanda popular, está relacionada ao público 235

Anais do III Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, 27 a 30 de outubro de 2014

usuário que é de maior capital cultural. Além disso, o controle deste espaço, por ser mais rígido, contribui para a vigilância e manutenção do mesmo. Enfim, a criação dos parques seja por iniciativa popular ou por decreto precisa ser acompanhada de políticas de acesso e de construção da sensibilização ambiental pela co-responsabilização pelo uso do espaço. Em vista desses elos percebemos que quando estes estão efetivamente unidos promovem uma cultura de preservação e utilização sustentável dos espaços tão importante para todos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BELO HORIZONTE. Site do Parque da Serra do Curral. Disponível em . Acesso em 20 mai. 2013. BRASIL. Lei 9985/2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. 18 jul. 2000. Disponível em: . Acesso em: 20 mai. 2012. CALLAI, Helena C. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, Antônio. (Org.) Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. p. 83-134. CAVALCANTE, Sylvia. NÓBREGA, L. Espaço e lugar. In: CAVALCANTE, S. ELALI, G. (org.) Temas básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011. p. 182-190. GUATTARI, Félix. ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 2010. LOBO, Andréa de S. Unidades de conservação e educação ambiental: a natureza enquanto espaço de formação de subjetividades. In: TEIXEIRA, Carla Costa (org.). Em busca da experiência mundana e seus significados: George Simmel, Alfred Schutz e a Antropologia. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2000. p. 35-64. PBH. Fundação de Parques Municipais. Disponível em: Acesso em: 20 mai. 2012. RODRIGUES, José E. R. Sistema Nacional de Unidades de Conservação. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2005.

236

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.