Relato de Experiência Agroecologico

June 15, 2017 | Autor: Izabela Gomes | Categoria: Agroecologia
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II Simpósio de Agroecologia da Bahia Novos caminhos para o desenvolvimento rural sustentável

RECUPERAÇÃO DE SOLO DEGRADADO COM TECNOLOGIA AGROECOLÓGICA Murilo Oliveira Guedes¹, Sérgio Costa Trindade², Izabela Gomes Neves³, Eliza Catharina Mota Byrro , Camilla Bomfim Cagussu 4

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¹Discente do curso de Engenharia Agronômica – UESB email: [email protected]; ²Agricultor - Sitio Sul e-mail: [email protected]; ³Discente do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UESB email: [email protected]; Bacharel(a) em Agronomia - UFVJM email: [email protected]; Discente do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas – UESB email:[email protected]. 4

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RESUMO: Esse trabalho tem como objetivo relatar as primeiras atividades agroecológicas realizadas no Sítio Sul em Vitória da Conquista- Bahia, durante o primeiro curso de formação prática em agroecologia ministrado por Luiz Geraldo de Oliveira Moura. O mesmo foi resultado da construção coletiva de estudantes e alguns agricultores. A metodologia utilizada foi com os princípios da agricultura biodinâmica, prezando uma forma pedagógica construtivista buscando a horizontalização de conhecimentos a partir do saber tradicional e acadêmico. Sendo escolhido a técnica de adubação verde para manejo do solo e após algumas práticas iniciou-se a forma de produção de hortaliças em horta mandala. Palavras-chave: Agroecologia, Solo degradado, Transição agroecológica. CONTEXTO

O experimento foi realizado no Sítio Sul localizado no Loteamento Parque Imperial, quadra 8, com uma área total de 2,4ha, na cidade de Vitória da Conquista - BA, no decorrer do 1º Curso de Formação Prática em Agroecologia, ministrado por Luiz Geraldo de Oliveira Moura, fundador da ONG NEPA (Núcleo de Ensino e Pesquisa Aplicada) no período médio de um ano. O objetivo foi recuperar uma área degradada, e para isso foram utilizadas técnicas agroecológicas, biodinâmicas e permaculturais, a fim de equilibrar um microecossistema adequando-o à produção de hortaliças destinadas ao consumo. Segundo Primavesi (2008), sistemas de produção baseados na agroecologia, possuem técnicas de reestruturação de solo com um manejo não tão intensivo de preparo de solos, em sistema de consórcio alelopático e benéfico, que possui um nível de ataque de pragas muito menor e uma qualidade de produção alimentar muito maior que o encontrado na agricultura convencional. Na busca do resgate de conhecimentos tradicionais e ancestrais, surge a agroecologia com um novo enfoque científico, dando suporte a transição das práticas convencionais utilizadas pelos agricultores para práticas sustentáveis e contribuindo para o estabelecimento de novos processos de desenvolvimento na agricultura. A partir dos princípios da Agroecologia, passa a ser estabelecido um novo caminho para a construção de agriculturas de base ecológica ou sustentáveis.

Vitória da Conquista, 02 a 04 de dezembro de 2015

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DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA O processo de transição agroecológica vem acontecendo de forma gradual. No início foi observada a área do terreno a ser utilizada, sendo escolhida a que possuía o solo mais degradado, utilizando assim a pedagogia da paisagem. Foi possível identificar pela baixa quantidade de espécies de plantas do local, o tamanho e a coloração das folhas e as características de espécies bioindicadoras. Ao analisar visualmente a coloração e textura do solo, sendo este arenoso de cor amarela clara, com grande parte de sua extensão sem cobertura vegetal, sob condições topográficas de pouca declividade, apresentando um alto índice de população de formigas e cupins (Figura 1). Na preparação inicial do solo, adotou-se o método de curvas de nível. Nessa prática, as curvas foram muito espaçadas o que corresponde a um terreno pouco acidentado. Foram utilizadas ferramentas específicas possibilitando uma maior estruturação do solo, ampliando a profundidade no que dificulta o escoamento da água (Figura 2). Em seguida foi feita uma gradagem em cerca de um hectare da área, evitando-se o destorroamento excessivo do terreno. Para a irrigação foi por aspersão, com água oriunda de um poço artesiano existente no sítio, como observado na Figura 3. A área foi coberta com palha e esterco, equilibrando assim a relação carbono/nitrogênio (C/N) do ambiente (Figura 2). A cobertura de palha mantêm o solo úmido e o esterco fornece nutrientes, tornando o ambiente propício à reprodução da microbiota responsável pela ciclagem de elementos como nitrogênio, fósforo e potássio na forma orgânica, disponibilizando-os às plantas. Essa biomassa é formada no solo através da ciclagem de nutrientes, podendo ser denominado edafon, sendo um componente valorizado na agricultura biodinâmica e descreve a quantidade de informação e energia que possui um ecossistema. O solo é um componente complexo, vivo, dinâmico e em transformação do agroecossistema (GLIESSMAN, 2008). Uma alternativa ao uso de adubos químicos é o uso de microrganismos como as bactérias. Estes microrganismos são normalmente utilizados através de inoculantes ou biofertilizantes. A ruminada é um biofertilizante composto por água, material contido nos quatro estômagos do bovino e capim triturado (Figura 4). A fim de obter a vivificação do solo antes do plantio, pulverizou-se a ruminada diluída em água na proporção de 1/20, por meio de um pulverizador costal de 20L sobre a área. Além da ruminada, preparou-se a chorumada. Ela é composta por água, materiais existentes na área como terra, pedras, arames, fio de cobre, pregos, e outros metais que estiverem disponíveis, cinzas e resíduos orgânicos. Esse composto é utilizado para aplicação posterior ao plantio da mesma forma que a ruminada, no intuito de ajudar a manter o equilíbrio nutricional das plantas, fornecendo os micronutrientes conferindo a eles maior resistência ao ataque de pragas e doenças.

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Além disso, juntamente com o esterco, foi inoculado solo de floresta, pó de rocha e cama de aves, para elevar o nível de informação e nutrientes na área em recuperação. Depois de levemente gradeado e após aplicação da ruminada no solo, foram abertos sulcos com enxadas e enxadetes no solo em formato de quadrados com suas extremidades reservadas para o plantio de algumas espécies como o milho (Zea mays), feijão de porco (Canavalia ensiformis) e gramíneas. A adubação verde proporciona em sua execução uma excelente nutrição às culturas. Pensando nisso foram utilizadas as seguintes espécies: mucuna cinza e preta (Mucuna sp.), crotalária (Crotalária sp.) , feijão guandu (Cajanus cajan), feijão de porco (Canavalia ensiformis), girassol (Helianthus annus) e algumas outras espécies naturais, formando assim a multimistura de sementes. Esta multimistura foi embebida na chorumada durante uma noite, e secada à sombra antes do plantio (Figura 5). O plantio foi a lanço, tendo como referência a forma como a natureza dispersa os grãos (Figura 6). As espécies escolhidas são normalmente as pioneiras por possuem características naturais de alta proliferação e fácil coleta de sementes, sendo sempre encontradas em todos os ecossistemas (SCHORR, 1996). O produtor pode optar pelo plantio de leguminosas fixadoras de nitrogênio durante a fase de preparação do solo. As leguminosas são incorporadas ao solo posteriormente e disponibilizam para a nova cultura o nitrogênio presente em suas estruturas. Após três meses, notou-se o crescimento da vegetação cobrindo toda a área onde foi executada a adubação verde no desenvolvimento da prática de restauração de área e a utilização de manejo agroflorestal (Figura 7). Para obtenção de um melhor desenvolvimento do trabalho a ser feito, na produção de alimentos, optou-se pela utilização do método de horta mandala. A horta mandala é uma horta de formato circular. O termo mandala vem do sânscrito e significa "sagrado" ou "círculo mágico” trata-se de um jardim de círculos concêntricos que respeitam a agricultura ecológica, ganhando maior atenção na década de 1970 com o movimento de permacultura iniciado pelo ambientalista Bill Mollison, na Austrália (STRINGUETO, 2007). A ideia principal é manejar de forma equilibrada o solo, e demais recursos naturais através de um trabalho harmonizado com a natureza (SANTOS, 2009). Na Figura 8, verifica-se algumas variedades de culturas plantadas como, por exemplo: Alfaces, abóbora, cenoura, salsa, coentro, tomate, rabanete, beterraba. Além disso, houve o cultivo de espécies de plantas que atraem polinizadores.

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. Figura 1. Análise avaliativa da área.

Figura 2. Preparação das curvas de nível e cobertura.

Figura 3. Instalação da irrigação.

Figura 4. Biofertilizante ruminada.

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Figura 5. Secagem das sementes para plantio. Figura 6. Plantio a lanço das sementes.

Figura7. Área coberta pela vegetação.

Figura 8.Variedade de culturas em horta mandala.

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RESULTADOS As atividades realizadas no Sítio Sul obtiveram resultados práticos bem sucedidos. Os benefícios alcançados com o aumento da quantidade de matéria orgânica para o solo promoveu melhorias físicas, químicas e biológicas. Houve melhoramento na estrutura do solo, reduzindo perdas elevadas de água e nutrientes, evitando erosão, com melhor aproveitamento de água. Conforme uma nova análise do solo destacou-se um aumento no pH para 5,4 comparado com a análise anterior com pH 4,8 ocorrido no mês de outubro de 2013. Ocorreu também o estímulo positivo do desenvolvimento das plantas, bem como o crescimento e proliferação de microrganismos benéficos ao solo, sendo estes responsáveis pela produção de Húmus. Constatou-se uma maior interação entre insetos polinizadores e plantas, a ausência de formigas e cupins, e uma propagação de espécies tanto da fauna como da flora no microecossistema. Por fim, com base no pensamento de Ana Primavesi, engenheira agrônoma pioneira nos estudos da Agroecologia no Brasil, pode-se concluir: “A Ecologia se refere ao sistema natural de cada local, envolvendo o solo, o clima, os seres vivos, bem como as interrelações entre esses três componentes. Trabalhar ecologicamente significa manejar os recursos naturais respeitando a teia da vida. Sempre que os manejos agrícolas são realizados conforme as características locais do ambiente, alterando-as o mínimo possível, o potencial natural dos solos é aproveitado. Por essa razão, a Agroecologia depende muito da sabedoria de cada agricultor desenvolvida a partir de suas experiências e observações locais.”

AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Sítio Sul pela disponibilização do espaço, ao nosso mestre Luiz Moura por ter transmitido o conhecimento, à todos participantes do Primeiro Curso de Formação Prática em Agroecologia, à professora Drª. Raquel Pérez Maluf pelo apoio, aos técnicos em Agroecologia do CEDASB e aos estudantes e agricultores que fizeram esse curso ser possível, cada um contribuindo com seus saberes e energia.

REFERÊNCIAS GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: UFRGS, 653 p. 2008.

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PRIMAVESI, A.M. Agroecologia e manejo do solo. Revista Agriculturas, nº3, vol. 5, pag 710, setembro, 2008. SANTOS,R. Jornada pela cidadania. Disponível em: http://www.escolaemacao.org.br/publico/apresentarConteudo.aspx?TP=2&CODIGO=C200910 15121127671. Acesso: em 28 out. 2015 SCHORR, M.K. Agroecologia, Agricultura Biodinâmica e a Permacultura para as áreas de proteção ambientais brasileiras. Pag 18. 1996. STRINGUETO,S. Crescendo em círculos. Revista bons fluidos. 09/2007. Disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_249245.shtml. Acesso: em: 29 out 2015.

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