Relatório de Atividades do Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II, Paraná, sul do Brasil

July 5, 2017 | Autor: C. Parellada | Categoria: Arqueología, Arqueologia Brasileira (Brazilian Archeology), Arqueologia
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RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO DA BARRAGEM PIRAQUARA II

Curitiba 2009

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Sumário

1. Introdução ..................................................................................................

1

2. O Programa de Resgate Arqueológico ...........................................................

7

3. Objetivos .....................................................................................................

8

4. Métodos de Prospecção ...............................................................................

9

5. Análise de Laboratório .................................................................................

11

6. Recursos Humanos .....................................................................................

13

7. Atividades desenvolvidas em campo e laboratório .........................................

16

8. Arqueologia e histórico da região de estudo com os dados recuperados até dezembro de 2008 .......................................................................................

34

9. Conclusões e recomendações ...................................................................... 10. Glossário .de termos arqueológicos ............................................................... 11. Referências bibliográficas .............................................................................

49 51 58

ANEXO 1 : Fichas de registro dos vinte e dois sítios arqueológicos já cadastrados no Resgate Arqueológico da Barragem Piraquara II ...................

62

ANEXO 2 : Análise preliminar de caules encontrados no sítio arqueológico Banco Areia Botiatuva 1, Piraquara-PR ...........................................................

84

ANEXO 3 : Plantas com topografia por estação total dos sítios arqueológicos 1 Eixo Barragem Piraquara II e Palmito Piraquara ...........................................

86

ANEXO 4 : Classificação tecno-tipológica, dimensões e formas de parte dos materiais líticos recuperados em sítios arqueológicos cadastrados no programa de resgate arqueológico da Barragem Piraquara II ......................... ANEXO 5 : Cartaz e panfleto do Fórum Municipal de Cultura – Arqueologia e História, município de Piraquara- Paraná .........................................................

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Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009

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RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO PROGRAMA ARQUEOLÓGICO DA BARRAGEM PIRAQUARA II Dra. Claudia Inês Parellada Arqueóloga do Museu Paranaense Coorden. Programa de Resgate Arqueológico da Barragem Piraquara II

Resumo O Programa de Resgate Arqueológico da Barragem Piraquara II, situada no município de Piraquara, Paraná, foi desenvolvido desde maio de 2003, sendo financiado pela PARANASAN- SANEPAR, e com apoio institucional do Museu Paranaense e da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Para a realização da pesquisa foram analisados materiais bibliográficos, documentos, imagens de satélite e fotografias aéreas da região, e em campo prospectando e fazendo coletas nas áreas do canteiro de obras, de construção da barragem, e do reservatório. Além desses locais, foram vistoriadas as ampliações de estradas e novos acessos, entrevistando a população local, visando o cadastro de novos sítios arqueológicos. No período de 2007 intensificaram-se as prospecções em áreas impactadas por ações antrópicas, tais como áreas de mineração de areia, silte e argila. Entre 2007 e 2008 foram realizadas saídas a campo durante 40 dias, que se somaram aos outros 40 dias de prospecções entre 2003 e 2006, onde foram coletados vestígios arqueológicos junto ao canteiro de obras, ao eixo da barragem, a áreas de extração de argila e areia, além de pequena parte do reservatório. Em 2003 foi escavado o sitio Itararé-Taquara Canteiro 4 Barragem Piraquara. Com o atraso no cronograma de obras, devido a vários imponderáveis, inclusive chuvas intensas, foi necessária a renovação da permissão por mais um ano do Programa de Salvamento Arqueológico. Em 2008, privilegiaram-se escavações em três sítios arqueológicos: 1 Eixo Barragem Piraquara II, Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara, e Palmito Piraquara. Foram caracterizados 22 novos sítios arqueológicos na região, nos quais foi evidenciada a presença desde grupos caçadorescoletores que podem ter ocupado a região desde 10.000 anos AP (antes do presente), como populações agricultoras e ceramistas Itararé-Taquara desde 4.000 anos AP, e Tupiguarani, desde 2.000 anos AP. O estudo trouxe uma melhor compreensão de aspectos pré-coloniais e da história da região em estudo, principalmente em relação aos processos de ocupação humana no Primeiro Planalto do Paraná.

1. INTRODUÇÃO Pesquisas arqueológicas preliminares na área diretamente afetada e de influência da Barragem Piraquara II, conforme o diagnóstico do patrimônio arqueológico descrito no EIA-RIMA (Parellada, 2001), mostraram a necessidade de implantação de programa de salvamento.

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Assim, as pesquisas arqueológicas financiadas pela SANEPAR - PARANASAN foram iniciadas em maio de 2003, a partir da publicação pelo Ministério da Cultura, no Diário Oficial da União, n.96, de 21/05/2003, da portaria n.88, de 20 de maio de 2003, do Departamento de Proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que dispõe sobre a permissão para o desenvolvimento deste trabalho. Devido a especificidades do projeto, por questões técnicas da obra, houve a necessidade da solicitação do pedido de renovação por duas vezes. Em 16 de agosto de 2004 foi publicada em Diário Oficial da União a portaria número 194, de 13 de agosto de 2004, que expediu a renovação da permissão do Programa de Salvamento Arqueológico da Barragem Piraquara II. Em 17 de outubro de 2005 foi renovada a permissão, por mais um ano, através da publicação em Diário Oficial da União da portaria número 262, de 13 de outubro de 2005. Em 2007 foi publicada em Diário Oficial da União a portaria número 12, de 18 de janeiro de 2007, que novamente expediu a permissão deste programa; devido a diferentes problemas a permissão só pode ser utilizada a partir de novembro de 2007. E posteriormente o prazo de trabalhos de escavações arqueológicas na área de estudo foi adiado até junho de 2008. Esta área impactada abrange parte do município paranaense de Piraquara e contém importantes vestígios de diferentes grupos humanos, fundamentais para a compreensão do passado pré-colonial e colonial do território paranaense. As primeiras prospecções na região de estudo resultaram em uma faixa de ocupação humana que se inicia com grupos caçadores-coletores Umbu, com sítios que podem ter idade de até 10.000 anos AP (antes do presente). A idade da datação por radiocarbono é referida ao ano de 1950, sendo representada do seguinte modo: 7.000 anos AP (Antes do Presente, isto é antes de 1950). A partir de 4.000 anos AP ocorrem também vestígios de populações ceramistas e horticultoras, filiadas às Tradições Itararé-Taquara e Tupiguarani. Em alguns destes sítios de grupos ceramistas ocorrem evidências de contato com populações correlatas à Tradição Neobrasileira, relacionada aos colonizadores europeus, principalmente portugueses, depois do século XVI (observar tabela 1), verificar figuras 1 a 3. Colônias de imigrantes também foram fundadas na região, desde o século XIX, a mais destacada na área de estudo é a de Nova Tirol.

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Figura 1 – Planta de situação da Barragem Piraquara II, município de Piraquara, Paraná.

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Figura 2 – Planta parcial (parte 1) com a localização de sítios arqueológicos na Barragem Piraquara II, município de Piraquara, Paraná, observar tabelas 4 e 5.

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Figura 3 – Planta parcial (2) de localização de sítios arqueológicos da Barragem Piraquara II, município de Piraquara, Paraná, observar tabelas 4 e 5.

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TABELA 1- PERIODIZAÇÃO ARQUEOLÓGICA NA ÁREA DIRETAMENTE AFETADA E ENTORNO DA BARRAGEM DE PIRAQUARA II

Período

Grupos

Tradições

Desde 10.000 anos AP

Caçadores-Coletores

Umbu

Arqueologia Pré-Colonial

Humaitá* Desde 4.000 anos AP

Agricultores-Ceramistas

Itararé-Taquara

Desde 2.000 anos AP Arqueologia Histórica

Tupiguarani

A partir do século XVI

Índios contatados, membros de expedições de conquista, tropeiros, primeiros colonos luso-brasileiros

Neobrasileira

A partir do século XIX

Imigrantes, ocupação

Histórica

Nas proximidades da região de estudo existiam ramais do caminho indígena do Peabiru, que posteriormente nos séculos XVII à XIX foram reaproveitados pelos colonizadores que transitavam naquela região. Também nas circunvizinhanças dessa área existiam áreas de mineração de ouro, além de pequenos núcleos de povoação, que atualmente configuram sítios históricos relacionados ao início da colonização no litoral e primeiro planalto paranaenses. O patrimônio arqueológico é a parcela de uma herança maior, deixada pelas gerações passadas, administrada, usada e usufruída pela geração presente, mas com transmissão obrigatória para as gerações futuras (Schmitz, 1988). Ainda conforme a legislação vigente no país, a Lei nº3924 de 1961, que dispõem sobre os locais pré-históricos e históricos, estes locais são bens da União e devem ser objetos de pesquisa e proteção. “O patrimônio arqueológico é a parte do patrimônio material no qual os métodos arqueológicos fornecem dados primários. Compreende todos os vestígios da existência humana e consiste de locais relacionados a todas as manifestações de atividade humana, estruturas abandonadas e vestígios de todos os tipos (incluindo sítios subterrâneos e subaquáticos), junto com todo o material cultural associado com eles.” (tradução de ICOMOS, 1990, p. 127). Os objetivos principais da pesquisa foram o de caracterizar os grupos humanos que habitaram aquela área, reconstituir o paleoambiente destes locais, e identificar os processos ambientais que aconteceram durante e após a ocupação da região. Ainda procuraram ser levantados os padrões de assentamento e de subsistência, a tecnologia de produção de artefatos, as formas de utilização do meio-ambiente na região por grupos pré-históricos e as adaptações realizadas, devido às mudanças ambientais decorrentes a fatores climáticos e/ ou problemas de manejo.

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Sítio arqueológico pode ser definido, conforme Chang (1968), como sendo o "local físico ou conjunto de locais onde membros de uma comunidade viveram, garantiram sua subsistência e exerceram suas funções sociais em dado período de tempo". Chang (1968) ainda destaca que qualquer definição de sítio arqueológico estará incompleta se não for ser levada em conta a sua relação com o ambiente que seus habitantes estavam em contato significativo. Houve a utilização dos enfoques da arqueologia pós-processual, onde o interesse pela estrutura, mente e significado leva a uma maior preocupação pela presença do presente no passado. Afinal, as leituras informam e contribuem para o presente através de uma valoração crítica do passado (Hodder, 1988). Preucel & Hodder (1996) observam que a arqueologia não é o estudo do objeto, mas de processos, ou seja, processos de debate surgidos com a evidência material; sendo que esses processos são de fazer e comunicar diferentes perspectivas. A realização de obras civis interfere no ambiente, provocando uma série de alterações no patrimônio natural e cultural da região afetada. Porém, deve ser inicialmente pensado sobre o que realmente representa o patrimônio. Afinal, como Durham (1984, in Arantes, 1984, p. 30) observa: “Retomando a noção de cultura como ação significante que depende da manutenção de um instrumental simbólico, podemos tentar aplicá-la à noção de patrimônio cultural. Nessa perspectiva, devemos tentar definir o patrimônio em função do significado que possui para população, reconhecendo que o elemento básico na percepção do significado de um bem cultural reside no uso que dele é feito pela sociedade.”

Ainda deve ser destacada a definição de patrimônio histórico que, segundo Paoli (1992, p. 25), configura as dimensões múltiplas da cultura como imagens de um passado vivo: acontecimento e coisas que merecem ser preservados porque são coletivamente significativas em sua diversidade. Assim, o patrimônio paisagístico, arqueológico, histórico e natural está diretamente relacionado ao significado que possui no imaginário da sociedade.

2. O PROGRAMA DE SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO O Programa de Salvamento Arqueológico da Barragem Piraquara II foi iniciado em maio de 2003, com recursos provenientes da SANEPAR - PARANASAN e metodologia descrita no projeto original e em outro subsequente. Entre 2003 e 2008 foram realizadas atividades de campo durante oitenta dias, inicialmente fazendo o acompanhamento da obra desde a topografia e a terraplenagem do canteiro de obras, do eixo da barragem, da escavação do canal,

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das áreas utilizadas para a extração de argila e areia usada na construção da barragem e as ampliações de acessos, além de pequena parte do reservatório. Foram cadastrados vinte e dois sítios arqueológicos junto ao eixo da barragem, na área do reservatório e circunvizinhanças, alguns com múltiplas ocupações, conforme as fichas de cadastramento de sítios no anexo 1. Destes a maioria está relacionado a grupos caçadores-coletores Umbu, em áreas de várzea e topos de elevação. Os que ocorrem distribuídos por toda a área são sítios de grupos ceramistas, principalmente o Itararé-Taquara, e em menor proporção Tupiguarani. Recuperaram-se vestígios de ocupações humanas pretéritas, principalmente relacionados a aldeias de populações ceramistas-horticultoras Itararé-Taquara, e de acampamentos de grupos caçadores-coletores, filiados à Tradição Umbu. Em menor proporção ocorrem materiais relacionados às Tradições Tupiguarani e Neobrasileira.

3. OBJETIVOS DO PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO -Caracterizar o patrimônio arqueológico e paleontológico, observar anexo 2, de áreas impactadas pela construção da Barragem Piraquara II; -Recuperar dados básicos sobre a evolução ambiental quaternária da área de estudo; -Resgatar dados sobre os padrões de assentamento e de subsistência, e as tecnologias de produção de artefatos líticos, cerâmicos e ósseos, dos diversos grupos humanos que habitaram a região de estudo desde os grupos humanos caçadores-coletores até o início deste século; -Levantar preliminarmente as formas de utilização do meio-ambiente na região de estudo por populações pré-históricas e as adaptações realizadas, devido às mudanças ambientais decorrentes a fatores climáticos e/ou problemas de manejo. -Divulgar,

através

de

palestras,

periódicos

especializados,

exposições

temporárias e permanentes, além de material didático, em instituições científicas e culturais, os resultados do programa de salvamento; -Confeccionar material didático (como textos e apostilas) sobre o projeto, a ser divulgado em instituições científicas e culturais.

4. MÉTODOS DE PROSPECÇÃO a. Análise Bibliográfica:

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Com ênfase em aspectos arqueológicos, etno-históricos e históricos do vale do rio Piraquara e áreas circunvizinhas, além de textos teórico-metodológicos em arqueologia e antropologia, o estudo bibliográfico foi dividido em: -Arqueológico: análise de bibliografia especializada visando o aperfeiçoamento de métodos e técnicas, além de obtenção de dados arqueológicos da região. -Antropológico e etno-histórico: levantamento e análise de dados etnográficos e etno-históricos, com ênfase na cultura material e contexto ambiental dos diversos grupos humanos que habitaram esta região. -Geológico, geomorfológico e pedológico: levantamento de dados sobre as possíveis fontes de matéria-prima para confecção de artefatos líticos e cerâmicos, e os prováveis locais de assentamento destes grupos humanos. -Biológico: levantamento sobre a fauna e flora, que possa ter sido utilizada na dieta alimentar e na confecção de artefatos pelas populações pré-históricas.

b. Análise Fotointerpretativa: Realizou-se análise interpretativa de fotografias aéreas, caracterizando anomalias de relevo, solo, e vegetação, com texturas, tonalidades e formas diferenciadas, que podiam identificar estruturas arqueológicas. Esta análise foi baseada em métodos descritos em Sabins Jr (1987), Grehs (1980) e, Parellada (1989). Ainda essa análise visava à dinamização das atividades de campo, através de uma mais rápida e abrangente visualização de dados do relevo, estradas, drenagens, vegetação, solo e geologia da área que os pesquisadores vêm percorrendo em campo, e que foram básicos para o planejamento das prospecções na região de estudo. A análise das áreas por sensoriamento remoto realizou-se na mesma seqüência que as regiões que foram alvo de cadastramento e prospecção; assim a área diretamente afetada pela construção da Barragem Piraquara II.

c. Planejamento e Preparativos para Campo: Com os dados obtidos das fases anteriores, mais os resultados das prospecções preliminares, foram definidas a localização e a orientação das malhas de prospecção exploratória de sítios arqueológicos na região de estudo. Ainda se fez o acondicionamento do material necessário para as atividades de campo.

d. Trabalho de Campo: O trabalho de campo foi dividido em duas fases:

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-Localização, cadastramento e prospecção de sítios arqueológicos : Através de dados levantados na análise bibliográfica e das fotografias aéreas e imagens de satélite, e também com entrevistas com a população local, foram localizados e cadastrados sítios onde ocorrem vestígios arqueológicos. Os sítios foram cadastrados com dados exigidos pela regulamentação de 1988 da lei n. 3924, de 1961, pelo IPHAN, através do preenchimento de fichas. Todos os sítios arqueológicos identificados foram plotados em fotografias aéreas, em escala 1:25.000 (1952 e 1980, IAP-PR), e em mapas topográficos. Os sítios foram cadastrados segundo a ficha com dados exigidos pela regulamentação de 1988 da lei n.3924, de 1961, pelo IPHAN, modelo assemelhado ao CNSA (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos). Para verificação das coordenadas em UTM usou-se o aparelho GPS Etrex Summit da Garmin, com altímetro. Para cadastrar os sítios, além da coleta superficial, foram descritos perfis, procurando a definição das dimensões, da estratigrafia e do grau de perturbação destes sítios, bem como dos vestígios culturais e biológicos associados.

-Escavação arqueológica: Os sítios arqueológicos mais significativos, selecionados com a análise dos dados recuperados na prospecção, foram escavados, realizando-se também a topografia e a análise microambiental do entorno destes sítios. O estudo do meio ambiente trouxe dados básicos atuais para serem comparados aos recuperados nas escavações, fornecendo informações importantes na tentativa de reconstruir os paleoambientes, os quais os grupos humanos e animais, da região de estudo, ao longo do tempo estavam inseridos. Foram escavados os sítios arqueológicos Canteiro 4 Barragem Piraquara, 1 Eixo Barragem Piraquara II, Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara e Palmito Piraquara, através de quadras, inseridas dentro da planta topográfica do sítio arqueológico, obedecendo aos níveis estratigráficos naturais do terreno. Durante as prospecções e escavações foram coletados vestígios da cultura material e biológicos, além da matriz sedimentar para análises granulométricas, palinológicas, e de minerais pesados. Os dados sedimentológicos possibilitam tentativas de reconstrução do paleoambiente, e a caracterização dos processos sin e pós-deposicionais aos períodos de ocupação humana. Os sedimentos removidos durante as escavações foram peneirados em malhas de diversos tamanhos, a seco, para recuperar pequenos vestígios que não puderam ser identificados na escavação.

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Todo o material arqueológico, recuperado em campo, foi incorporado ao acervo do Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense, sendo que todas as peças coletadas e/ ou recebidas por doação estão sendo restauradas, numeradas, acondicionadas em caixas indexadas, analisadas, e fotografadas, em conjunto ou isoladamente, dependendo da peça. Em alguns sítios foram coletadas amostras para datação, tanto para análise pelo método do Carbono 14 como pelo da termoluminiscência, alguns enviados para análise no Centro de Energia Nuclear de Agricultura da Universidade de São Paulo, campus Piracicaba.

5. ANÁLISE DE LABORATÓRIO -Análise de Material Cultural *Lítico: os artefatos estão sendo analisados segundo critérios tecnológicos, morfológicos e funcionais, de acordo com os sistemas de classificação e nomenclatura propostos por Laming-Emperaire (1967), Miller (1975), Brézillon (1976), Tixier et al. (1980) e Wust (1990), com algumas adaptações. Em relação à tecnologia foram observados: matéria-prima, técnica de produção, presença de córtex e acidentes de lascamento. Nos aspectos morfológicos analisaram-se as dimensões do refugo e dos instrumentos, além da natureza do trabalho secundário. Utilizou-se estereomicroscópio, paquímetro, sonda exploratória, canivete e escala de Mohs. Existe uma série de métodos diferentes para caracterizar o material lítico segundo a funcionalidade, então se optou pela nomenclatura preconizada por Laming-Emperaire (1967), adaptando-se também o método de Chmyz (1984). Cabe destacar que muitos destes artefatos apresentam multi-funções, o que muitas vezes torna difícil e confusa uma classificação que tenha como base a funcionalidade de cada vestígio lítico. Mesmo assim agrupou-se pelo critério tecno-tipológico, pois é o que possibilita uma visão mais abrangente do cotidiano destas populações, observar no anexo 3, e as tabelas 8 a 24. Muitos termos da nomenclatura de classificação tecno-tipológica das indústrias líticas no Brasil, provêm de palavras traduzidas do francês, o que por vários momentos acabou provocando uma série de equívocos na interpretação de alguns termos, e por conseqüência na classificação desses materiais. Esses problemas, somados ao pouco diálogo entre os pesquisadores, fez com que houvesse dificuldades na correlação entre os materiais líticos de sítios arqueológicos pesquisados em diferentes pontos do país.

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Entretanto, como a análise pelo critério tecno-tipológico é ainda a que fornece maiores possibilidades de comparação com dados de outros sítios arqueológicos já estudados, preferiu-se adotar este método, apesar de se acreditar que a análise por cadeias operatórias, no futuro e em sítios escavados, será a mais indicada para análises comparativas, quando houver um banco mínimo de dados. A análise da cadeia operatória é um método que procura reconstruir a organização de um sistema tecnológico de um determinado sítio arqueológico (Sellet, 1994). Assim, esta análise ajuda a descrever e entender as transformações culturais que uma matéria-prima específica tem que passar. Há uma segmentação cronológica de ações e processos mentais necessários na produção de um artefato e na manutenção dentro de um sistema técnico de um grupo humano. O estágio inicial de uma cadeia é a aquisição da matéria-prima e o último é o descarte do artefato.

*Osteodontoqueratomalacológico: os artefatos foram agrupados em classes de acordo com sua matéria-prima. Dentro destas classes foram definidos tipos a partir de critérios, tais como: posição anatômica original, técnica de elaboração do artefato, forma, dimensões e zonas ativas, segundo método de Rohr (1979), com algumas adaptações. *Cerâmica: o material cerâmico foi estudado quanto a aspectos tecnológicos, como o tipo de pasta, tipo e quantidade de antiplástico, método de manufatura, tipo e temperatura de queima, espessura da parede, segundo metodologia preconizada por Shepard (1963) e Rye (1981), com algumas adaptações. Também foi caracterizado o tratamento de superfície, e a forma para evidenciar possíveis funções. De acordo com as características da pasta e o tratamento da superfície a cerâmica está sendo classificada em tipos. Obviamente, a classificação da cerâmica foi também reorganizada em função de critérios mais amplos, principalmente com a contextualização

dos

níveis

de

ocupação humana e os outros vestígios

arqueológicos que ocorram associados. Também foram iniciadas as análises químicas das decorações, além de outros métodos arqueométricos que colaborem na compreensão da tecnologia cerâmica. Alguns fragmentos de cerâmica serão datados pelo método da termoluminiscência. Para caracterizar as formas estão sendo reconstruídas graficamente as vasilhas através de fragmentos de bordas e alguns do corpo e da base; sendo que para configurar os perfis de borda utilizou-se a metodologia de Meggers & Evans (1970). Assim, os lábios das bordas estão sendo orientados segundo um plano horizontal para o desenho dos perfis das bordas.

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Para obter os diâmetros das vasilhas está sendo utilizado um ábaco de círculos concêntricos, divididos em intervalos de 2 em 2cm, no qual foram comparadas as medidas do arco da boca na altura do lábio. De acordo com as características da pasta e do tratamento de superfície, o material cerâmico estudado está sendo classificado em tipos. Ainda se busca a definição de traços europeus e a cerâmica tipicamente indígena. Muitos fragmentos apresentavam-se trincados e parcialmente erodidos pelo intemperismo ou pela ação antrópica. Os fragmentos pintados eram os mais danificados, fazendo com que na maioria não se pudesse caracterizar os motivos decorativos. Na maioria dos fragmentos, especialmente na face interna, podem ser observados os sinais de objetos alisadores, como seixos de quartzo.

b.-Análise do Material Biológico: *Material Zoológico: Estão sendo identificados os vestígios de vertebrados e invertebrados coletados durante as prospecções e escavações a partir de coleções de referência. Numa segunda fase relacionar-se-ão estes exemplares e seu habitat, distribuição

geográfica,

posição

na

cadeia

alimentar

e

fatores

abióticos

determinantes. Assim, visa-se a caracterização da dieta alimentar, as estratégias para coleta, pesca, caça e o ambiente no qual essas populações estavam inseridas e determinar a área compreendida para essas atividades. A análise do material ósseo de animais seguiu os métodos de Davis (1987) e Hesse & Wapnish (1985).

6. RECURSOS HUMANOS Houve, devido às especificidades do projeto, modificações na equipe que desenvolvia o trabalho, entre 2003 e 2009, como pode ser observado nas tabelas 2 e 3. Ainda participaram pesquisadores paleontólogos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), como o paleobotânico Dr. Robson Tadeu Bolzon, a paleontóloga Dra. Inês Azevedo, a Dra. Graciela Ines Bolzon de Muniz e o paleontólogo de vertebrados Doutorando Fernando Sedor com seus assistentes, este último do Museu de Ciências Naturais da UFPR. Ainda houve a participação através de visitas técnicas às áreas de prospecções e escavações arqueológicas do geólogo Prof. Dr. João José Bigarella e do arqueólogo Prof. Oldemar Blasi. A antropóloga Doutoranda Georgeana Barbosa de França entrevistou parte da comunidade afetada visando recuperar o imaginário local em relação ao Patrimônio histórico e arqueológico, sendo que os dados estão sendo processados para a

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confecção de artigo acadêmico. Os arqueólogos Dra. Claudia Inês Parellada, Júlio Telles Thomaz e Martha Becker Morales entraram em contato com várias escolas e instituições científicas e culturais de Piraquara buscando um intercâmbio de informações sobre arqueologia com a população atingida pela construção da Barragem Piraquara II. TABELA 2 – COMPONENTES, DA EQUIPE, QUE REALIZARAM TANTO TRABALHOS EM LABORATÓRIO QUANTO EM CAMPO ENTRE 2003 E 2009 NOME

QUALIFICAÇÃO

PERÍODO

Claudia Inês Parellada

Coordenadora, Responsável Técnica, Dra. em Arqueologia

2003-9

Martha H. Becker Morales

Historiadora, Mestranda em História

2005-9

Georgeana Barbosa de França

Doutoranda em Meio Ambiente

2004, 2006-8

Diego Lemos Ribeiro

Museólogo, Doutorando Arqueologia

2007-8

Lise Santos Camargo

Historiadora, Mestranda em História

2008-9

Wilma Fontana de Souza

Historiadora

2003

Rodolfo Bassani

Historiador

2003-5

Patrícia Depiné

Oceanógrafa, Mestranda Arqueologia

2003-4

Janete dos Santos Gomes

Turismóloga

2003-8

Veridiana Angélica Vieira

Socióloga

2003-7

Giovani Dariva

Estagiária (História)

2003-4

Ricardo Reksidler Braga

Estagiário (Geografia)

2003-4

Fábio Sewczuk

Estagiário (História)

2004

José Marcos Carneiro

Estagiário (História)

2004

Lilian Fátima

Estagiária (Ciências Sociais)

2007

Fábio Sewczuk

Estagiário (História)

2004

José Marcos Carneiro

Estagiário (História)

2004

Fernanda Cristina Pereira

Estagiária (Geografia)

2007-8

David Dias da Silva

Estagiário (Biologia)

2007-8

Luiz Eduardo Dzierva

Estagiário (História)

2007-8

Maureen Elina Javorski

Estagiária (História)

2007-8

Aluízio Alfredo Carsten

Estagiário (História)

2008

Maria Lídia Souza Silveira

Estagiária (História)

2008

Nicole Chybior Granzoti

Estagiária (Artes Visuais)

2008-9

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TABELA 3 – COMPONENTES DA EQUIPE QUE PARTICIPARAM APENAS DE ATIVIDADES DE CAMPO ENTRE 2007 E 2008 NOME

QUALIFICAÇÃO

PERÍODO

Luciana Regina Pomari

Historiadora, Dra. em História

2008

Flávia Sansaloni

Historiadora, Mestranda em Educação

2007-8

Júlio Telles Thomaz

Arqueólogo

2008

Carlos Eduardo Conte

Biólogo, Doutorando em Biologia

2008

Janael Ricetti

Biólogo, Mestre em Biologia

2007-8

Adriana Carvalho Medeiros

Historiadora, Mestranda em História

2008

Marcel Baeta Lacerda

Biólogo

2008

Luci Milla Garcia Salik

Bióloga

2008

Éverton Carlos Medeiros

Historiador

2007-8

Paula Tosin

Geógrafa

2007

Adilson Redivo

Historiador

2008

Vanderléia Canha

Historiadora

2008

Dorival dos Santos

Geógrafo

2008

Ednilson Rotini

Matemático

2008

Camila Diogo Ferreira

Estagiária (História)

2008

Felipe Cavalcante Marcelo

Estagiário (História)

2008

Felipe Luis G. Filgueira

Estagiário (História)

2008

Juliana Freitas Françao

Estagiária (História)

2008

Lívia Santos Melo

Estagiária (História)

2008

Murilo Pagotto

Estagiário (História)

2008

Nelson Netto

Estagiário (História)

2008

Rafael Queiroz dos Santos

Estagiário (História)

2008

Tamires Cadassim

Estagiária (História)

2008

Thiago Rafael de Souza

Estagiário (História)

2008

Taigo Henrique da Luz

Estagiário (História)

2008

Deborah Camila L. Sanches

Estagiária (Psicologia)

2008

Renata Albuquerque Marques

Estagiária (Artes Visuais)

2008

André Fontanelli

Estagiário (Biologia)

2008

Henrique R. S. Bello

Estagiário (Biologia)

2008

Lincoln Schwarzbach

Estagiário (Biologia)

2008

Marcelo A. V. Vallejos

Estagiário (Biologia)

2008

Marcelo Domingos Leal

Estagiário (Biologia)

2008

Michelle Lanzer

Estagiário (Biologia)

2008

Talyssa Patrocino Mendes

Estagiário (Biologia)

2008

Leandro José Bossy Ship

Estagiário (Física)

2008

Rony Ristow

Estagiário (Física)

2008

Renata Cunha

Estagiário (Geologia)

2008

Vinícius Barth

Estagiário (Letras)

2008

7. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CAMPO E LABORATÓRIO

Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009

18

-Levantamento e análise bibliográfica enfatizando aspectos arqueológicos, etno-históricos e históricos do vale do rio Piraquara e áreas circunvizinhas, além de textos teórico-metodológicos em arqueologia e antropologia; -Análise interpretativa de fotografias aéreas da área diretamente afetada pela construção da barragem de Piraquara II, procurando caracterizar anomalias de relevo, solo e vegetação, que possam identificar estruturas arqueológicas. As fotografias aéreas analisadas são as do IAP-PR, 1980, escala 1:25.000, e as do PARANASAN- ESTEIO, 1999, escala 1:30.000. Esta análise está sendo baseada nos métodos descritos em Sabins Jr (1987), Grehs (1980), e Parellada (1989). Nas fotografias aéreas de 1980, escala 1:25.000, e de 1999, escala 1:30.000, podem ser observadas anomalias de coloração, com formas ovaladas, que provavelmente caracterizam áreas de habitação de antigas aldeias Itararé-Taquara, chegando em alguns casos a poder-se definir até prováveis habitações na área de alguns sítios arqueológicos, que caracterizam paleo-aldeias Itararé-Taquara, como o Canteiro 4 Barragem Piraquara e Palmito Piraquara; -Prospecção arqueológica em vários dias de junho de 2003, vistoriando áreas das várzeas do rio Piraquara e os locais de empréstimo, bem como o canteiro de obras. Também foram vistoriados os locais onde estavam sendo feitas ampliações de acessos. Houve o cadastro de sítios arqueológicos que configuram paleo-aldeias Itararé-Taquara, os dados ainda estão sendo analisados, e devem ser feitas escavações na área para definir os limites espaciais e a microestratigrafia dos sítios arqueológicos. Já foram descritos alguns perfis estratigráficos, através da limpeza de barrancos e de poços de sondagem geológicos. Foram coletadas concentrações de vestígios arqueológicos nos seguintes pontos em coordenadas UTM/ SAD 69 (medidos por equipamento GPS), com precisão entre 7 a 10m: A:

N- 7.179.581 , E- 691.538

B:

N- 7.179.859 , E- 691.945

C:

N- 7.179.883 , E- 691.948

D:

N- 7.179.992 , E- 691.995

E:

N- 7.180.005 , E- 691.908

F:

N- 7.180.016 , E- 691.916

G:

N- 7.180.089 , E- 691.985

H:

N- 7.180.092 , E- 692.019

I:

N-7.179.842 , E- 692.084

Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009

19

-Continuação da prospecção arqueológica, em julho de 2003, vistoriando parte das áreas das várzeas do rio Piraquara e os locais de empréstimo, bem como o canteiro de obras. Houve coleta de material cerâmico e lítico de quatro pontos diferentes afetados pela construção do canteiro;

-Escavação arqueológica, em julho de 2003, com alunos de curso de extensão de arqueologia do Museu Paranaense. Foram escavadas seis quadras na área do sítio arqueológico "Canteiro Piraquara 4", que tem como coordenadas em UTM/ SAD69 do ponto central N 7.180.092 e E 692.019, com altitude média de 910m. Cada uma das quadras media 1 x 1m alcançando profundidades entre 0,15 a 0,40m, obedecendo a uma malha que visava à compreensão da estratigrafia da área. Nestas escavações houve a participação, tanto de toda a equipe técnica do programa de salvamento arqueológico, bem como de mais 31 alunos do curso de extensão "Sambaquis Paranaenses", ministrado pela arqueóloga e coordenadora do projeto Claudia Inês Parellada, do Museu Paranaense. Os alunos que participaram das atividades de campo foram: Adriana Klann Dias, Aguinaldo Salton, Ângela A. Gomes Brochier, Bruna Marina Portela, Cristina Machado B. Kliemann, Fabiana M. Galli Wütrich, João Borges Neto, José Daniel Liviski, Joselaine Gomes de Oliveira, Joselisa T. de Magalhães, Kíssia Stein do Nascimento, Laudinei Aparecido Rodrigues, Lucas Pontes, Maria José de Menezes, Marta Millan, Osneli Maria Bittencourt dos Santos, Paula Tosin, Rogedi Silva, Rejane de Castro, Renata Neumann, Ricardo Reksidler Braga, Rodrigo Inácio Freitas, Rosa Cristina Tomazi de Lara, Rúbia Stein do Nascimento, Savério Ronchi Júnior, Silvana Maria K. P. Lopes, Sônia Maria Estrasulas Farias, Susan Bonetto, Tania Mara Cardoso, Tânia R. de Araújo Thomaz de Aquino, e Zelinda Helena Stonoga Fialla. Foram recuperados materiais antracológicos, ósseos, cerâmicos, líticos, sedimentológicos e geológicos das quadras escavadas. No nível mais superficial, que atingia até 10cm de profundidade em algumas quadras, a matriz era composta por sedimentos marrom acinzentados, com textura argilo-arenosa, associados a muitas raízes e radículas. Em algumas quadras ocorriam muitos fragmentos de quartzo quebrados, pois a área era um antigo pasto, e recentemente houve a passagem de maquinário pesado. Neste nível havia concentrações de fragmentos cerâmicos Itararé-Taquara, além de artefatos líticos, principalmente em silexito e quartzo branco. No nível inferior a matriz eram sedimentos marrom avermelhados, com textura síltico-argilosa, com poucas radículas associadas, e vários blocos de

Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009

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migmatito intemperizados. Neste nível, que atingia até 22cm, ocorriam poucos vestígios arqueológicos, principalmente artefatos em quartzo leitoso. O material coletado foi higienizado, indexado, restaurado e analisado nos laboratórios do Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense.

-Continuação da prospecção arqueológica no início de 2004, vistoriando parte das áreas de várzea do rio Piraquara, incluindo as propriedades limites com a área de construção do eixo da barragem, bem como os locais de extração de argila próximas ao canteiro de obras. Houve coleta de materiais líticos, cerâmicos e orgânicos de diferentes pontos afetados pela construção do canteiro. Cadastraramse sítios arqueológicos que configuram principalmente paleo-aldeias da Tradição Itararé, havendo também vestígios de populações caçadoras-coletoras relacionadas à Tradição Umbu. Os sítios cadastrados estão situados na meia-encosta e topo de morros, às margens do rio Piraquara, e mostram evidências que havia pouca perturbação nos sítios arqueológicos, pois foram recuperados muitos vestígios em bom estado de conservação. Provavelmente houve poucas vezes que a área foi arada, sendo que a maior parte do tempo permaneceu como pastagem ou área de capoeira. Nas fotografias aéreas de 1999, escala 1:30.000, podem ser observadas anomalias de coloração, com formas ovaladas, que provavelmente caracterizam áreas de habitação de antigas aldeias Itararé, chegando em alguns casos a poderem ser definidas até seis prováveis habitações na área de um dos sítios arqueológicos (Canteiro 4 Barragem Piraquara). Foram descritos perfis estratigráficos, através da limpeza de barrancos e de poços de sondagem. Caracterizaram-se concentrações de vestígios arqueológicos, principalmente materiais líticos e cerâmicos, nos seguintes pontos em coordenadas UTM/ SAD69 , medidos por equipamento GPS Garmin, com precisão entre 7 a 12m: J:

N- 7.180.222 , E- 691.822

K:

N- 7.180.250 , E- 691.825

L:

N- 7.179.856 , E- 692.091

M:

N- 7.179.987 , E- 691.949

N:

N- 7.180.090 , E- 691.958

O:

N- 7.180.081 , E- 691.865

P:

N- 7.180.082 , E- 691.794

Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009

Q:

21

N- 7.180.098 , E- 691.764

-Prospecções arqueológicas em agosto de 2004, vistoriando parte das áreas de várzea do rio Piraquara, incluindo as propriedades limites com a área de construção do eixo da barragem, bem como os locais de extração de argila próximas ao canteiro de obras, verificar fotografias 1 a 6. Houve coleta de materiais líticos, cerâmicos e orgânicos de diferentes pontos afetados pela construção do eixo da barragem, áreas de extração de argila próximas ao canteiro e algumas áreas do reservatório que estavam sendo impactadas em subsuperfície:

-Áreas de extração de argila próxima ao canteiro: vistoriados locais entre pontos 464 (N- 7.180.264, E- 692.020) e 465 (N- 7.180.309, E- 692.148), e no ponto 466 e circunvizinhanças (N- 7.180.222, E- 691.819). Junto aos pontos 465 e 466, e num raio de 100m ao redor destes locais, foram recuperados vestígios arqueológicos relacionados a paleo-aldeias Itararé-Taquara;

-Chácara Rio Crosio : vistoriadas áreas entre pontos 467 (N- 7.179.080, E691.713), 468 (N- 7.179.182, E- 691.737) e 469 (N- 7.179.038, E- 691.814);

-Extração de Areia: vistoriadas áreas entre pontos 470 (N- 7.178.049, E692.520) e 471 (N- 7.178.087, E- 692.553), 472 (H- 7.178.110, V- 692.580) e 474 (N7.178.174, E- 692.592), e 475 (N- 7.178.230, E- 692.443) e 477 (N- 7.173.618, E692.423). Nestes locais estavam sendo feitas trincheiras de prospecção, com máquinas de escavação e dragas, para a futura extração de areia, em locais que futuramente ficarão dentro do reservatório da Barragem Piraquara II.

-Prospecção arqueológica em 2006, vistoriando áreas das várzeas do rio Piraquara e os locais de empréstimo, nas proximidades do eixo da barragem Piraquara II. Também foram vistoriados espaços onde estavam sendo feitas ampliações de acessos. Descreveram-se alguns perfis estratigráficos, através da limpeza de barrancos e de poços de sondagem geológicos. Foram vistoriados os seguintes pontos em coordenadas UTM/ SAD 69 (medidos por equipamento GPS), com precisão entre 7 a 10m: *Áreas próximas à estrada da Roseira, onde se extrai argila vermelha para a construção da barragem:

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877 : N- 7.179.604, E- 692.119, alt – 879m, lascas e perfil estrigráfico 878 : N- 7.179.608, E- 692.139, alt – 879m, cerâmica e lascas 879 : N- 7.179.621, E- 692.143, alt – 879m, lascas e ponta de projétil em silexito 880 : N- 7.179.596, E- 692.144, alt – 879m 881 : N- 7.179.627, E- 692.088, alt – 879m 882 : N- 7.179.645, E- 692.078, alt – 877m, cerâmica 883 : N- 7.179.757, E- 692.254, alt – 885m 884 : N- 7.179.862, E- 692.254, alt – 887m 885 : N- 7.179.797, E- 692.306, alt – 890m 886 : N- 7.179.719, E- 692.355, alt – 894m 887 : N- 7.179.729, E- 692.365, alt – 891m 888 : N- 7.179.832, E- 692.479, alt – 889m 889 : N- 7.179.629 , E- 692.169, alt – 877m 890 : N- 7.179.628 , E- 692.176, alt – 877m, lascas e ponta de projétil 891 : N- 7.179.641, E- 692.155, alt – 879m 892 : N- 7.179.683, E- 692.147, alt – 875m 893 : N- 7.179.691, E- 692.155, alt – 874m 894 : N- 7.179.573, E- 692.088, alt – 878m 895 : N- 7.179.549, E- 692.126, alt – 879m, lascas e pontas de projéteis 896 : N- 7.179.526, E- 692.147, alt – 876m, ponta de projétil e cerâmica 897 : N- 7.179.536, E- 692.148, alt – 876m 898 : N- 7.179.574, E- 692.145, alt – 878m 899: N- 7.179.526, E- 692.173, alt – 876m 900 : N- 7.179.507, E- 692.171, cerâmica

alt – 873m, blocos e matacões de gnaisse,

901 : N- 7.179.559, E- 692.161, alt – 873m, lascas e ponta de projéteis 902A : N- 7.179.566, E- 692.160, alt – 876m 902B : N- 7.179.568, E- 692.159, alt – 876m, ponta projétil maior 903 : N- 7.179.563, E- 692.150, alt – 876m 904 : N- 7.179.540, E- 692.166, alt – 876m 905 : N- 7.179.512, E- 692.171, alt – 877m 906 : N- 7.179.588, E- 692.167, alt – 879m 907 : N- 7.179.624, E- 692.172, alt – 876m 908 : N- 7.179.610, E- 692.185, alt – 875m 909 : N 7.179.631, E- 692.141, alt – 877m 910 : N- 7.179.537, E- 692.119, alt – 879m 911 : N- 7.179.523, E- 692.117, alt – 876m

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912 : N- 7.179.524, E- 692.125, alt – 876m -Áreas próximas à estrada da Roseira, onde se extrai areia (pela mineradora ETR) e argila vermelha (Itaú Engenharia) para a construção da barragem: 913 : N- 7.179.136, E- 692.785, alt – 877m 914 : N 7.179.063, E 691.837, alt 879m 915 : N 7.179.233, E 692.008, alt 875m 916 : N 7.179.138, E 691.926, alt 876m 917 : N 7.179.101, E 692.917, alt 875m, sedimento argiloso negro, material ósseo de peixe 918A : N 7.179.013, E- 691.767, alt 874m 918B : N- 7.179.009, E- 691.549, alt 873m 918C : N 7.179.016, E- 691.880, alt 874m 919 : N 7.179.224, E- 691.217, alt 876m 920 : N- 7.179.204, E- 692.624, alt 876m 921A : N- 7.178.166 , E- 692.715, alt 874m 921B : N- 7.178.138 , E- 692.818, alt 872m 921C : N- 7.178.178 , E- 692.921, alt 874m 922A : N 7.178.169 , E 692.976, alt 871m 922B : N 7.178.129, E 692.974, alt 877m, lascas, descritos perfis estratigráficos 923 :

N- 7.178.079 , E- 692.936, alt 875m

924A : N 7.178.121 , E- 692.931, alt 874m 924B : N 7.178.121 , E- 692.886, alt 873m 925 :

N 7.178.021 , E- 692.976, alt 879m

926 :

N 7.178.087 , E- 693.060, alt 876m

930 :

N 7.178.135 , E- 693.086, alt 876m

931 :

N 7.178.139 , E- 693.081, alt 875m

932 :

N- 7.178.136 , E- 693.052, alt 876m

942 : N 7.178.363, E- 692.912, alt 878m, tronco areial, comprimento: 4m, diâmetro de 28 cm 943 : areia caminho colonial, areial 944 : N 7.178.192, E 692.475, alt 878m, local maxilar Equus sp, encontrado em março de 2006 por Valdecir Bueno de Oliveira, ao escavarem valeta na várzea, abaixo estrada. - Áreas de lavras de areia, nas várzeas do rio Piraquara, mais a montante da barragem, nas proximidades da propriedade de Margarida Gaio: 933 : N- 7.177.505, E- 696.789, alt – 885m

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934 : N- 7.177.686, E- 696.793, alt – 886m 935 : N- 7.177.790, E- 696.844, alt – 885m 936 : N- 7.177.300, E- 696.870, alt – 886m 945 : N- 7.177.815, E- 696.857, alt – 890m, pinha parcialmente fossilizada, quaternária 946 : N- 7.177.817, E- 696.840, alt – 890m, tronco árvore fossilizada em meio à areial, comprimento: 7,2m, diâmetro de 50cm 947 : N- 7.177.844, E- 696.838, alt – 890m, tronco areial, compri-mento: 5,2m, diâmetro de 50cm 948 : N- 7.177.858, E- 696.797, alt – 890m, tronco pinheiro, base turfa, comprimento: 4,2m, diâmetro de 60cm 949 : N- 7.177.779, E- 696.804, alt – 890m, tronco a 50cm abaixo nível arenoso, comprimento de 6m, diâmetro de 50cm - Áreas, junto a estradas secundárias, próximas à estrada da Roseira, onde se extraía argila vermelha para a construção da barragem: 937 : N- 7.179.572, E- 692.780, alt – 873m 938 : N- 7.179.808, E- 692.756, alt – 876m 939 : N- 7.179.848, E- 692.844, alt – 875m 940A : N- 7.179.765, E- 692.896, alt – 874m 940B : N- 7.179.600, E- 692.152, alt – 874m 941 : N- 7.179.566, E- 692.155, alt – 873m - Alguns pontos vistoriados em janeiro de 2007, situados em áreas impactadas próximas ao eixo da barragem em construção e junto à estrada da Roseira: 974 : N- 7.179.512, E- 691.938, alt – 886m 975 : N- 7.179.525, E- 691.999, alt – 889m 976 : N- 7.179.517, E- 692.001, alt – 890m 977A : N- 7.179.536, E- 691.997, alt – 889m 978 : N- 7.179.520, E- 692.016, alt – 893m 979A : N- 7.179.540, E- 692.027, alt – 892m 980 : N- 7.179.542, E- 692.010, alt – 838m -Escavação arqueológica em dezembro de 2007, sendo escavadas até o momento 8 quadras na área do sítio arqueológico "Eixo Barragem Piraquara Acostamento Estrada", que tem como coordenadas em UTM do ponto central H7.179.519 e V- 692.008, com altitude média de 885m. Cada uma das quadras media 1 x 1m alcançando profundidades entre 0,15 a 0,46m, obedecendo uma malha que visava a compreensão da estratigrafia da área.

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Parte das quadras apresenta estratigrafia invertida, devido às várias interferências no local, como a implantação de pavimento asfáltico, o desvio de canal meandrante do rio Piraquara para extração de argila, além da abertura de estrada de terra e valeta para drenagem. Houve recuperação de materiais antracológicos, ósseos, cerâmicos, líticos, sedimentológicos e geológicos das quadras escavadas. No nível mais superficial, que atingia até 25cm de profundidade em algumas quadras, a matriz era composta por sedimentos marrom acinzentados, com textura argilo-arenosa, associados a muitas raízes e radículas. Nestas escavações houve a participação, tanto da equipe técnica do programa de salvamento arqueológico, bem como de mais assistentes e pesquisadores convidados de diferentes instituições, como da Universidade Federal do Paraná, Universidade Estadual de Maringá, Parque da Ciência/ SEED-PR, entre outros;

-Higienização, restauração, indexação e análise de laboratório dos vestígios arqueológicos coletados em etapas de campo anteriores, tanto prospecções superficiais como escavações;

-Prospecção arqueológica em novembro e dezembro de 2007, vistoriando áreas das várzeas do rio Piraquara e os locais de empréstimo, bem como ampliações e melhoria de acessos. Foram cadastrados principalmente sítiosacampamento Umbu e paleo-aldeias Itararé-Taquara, sendo definidos os limites espaciais e a microestratigrafia dos sítios arqueológicos. Descreveram-se perfis estratigráficos, através da limpeza de barrancos e de poços de sondagem. Houve coleta de materiais líticos, cerâmicos e orgânicos de diferentes pontos afetados, sendo que quando havia concentrações de materiais foram caracterizados sítios arqueológicos. Esses sítios, preferencialmente, estão situados em áreas de várzea e meia-encosta, já estando perturbados, verificar fotografias 1 a 14. Todos os pontos prospectados, independente da ocorrência de vestígios, foram posicionados através de equipamento GPS Garmin Etrex, com precisão entre 7 a 12m;

- Realizaram-se levantamentos topográficos com equipamento estação total nos sítios arqueológicos com maior área escavada no Resgate Arqueológico da Barragem Piraquara II: 1 Eixo Barragem Piraquara II e Palmito Piraquara.

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26

- Foram escavados entre janeiro e junho de 2008 mais três sítios arqueológicos, localizados nas proximidades do eixo da Barragem Piraquara II: Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara, 1 Eixo Barragem Piraquara II e Palmito Piraquara. Fizeram-se quadras de 1x 1m, que juntas acabaram transformadas em trincheiras, devido às profundidades atingidas na escavação. Nos dois últimos sítios atingiu-se mais de 1,00m de profundidade em algumas quadras, pois os sítios tinham mais de uma ocupação.

- Foram cadastrados vinte e dois sítios arqueológicos, conforme tabela 4, no Programa de Salvamento Arqueológico da Barragem Piraquara II, as fichas de cadastramento (modelo IPHAN) constam do anexo 1.Todo material coletado e recebido como doação foi incorporado ao acervo do Museu Paranaense, sendo que posteriormente estes vestígios poderão ser repassados às instituições culturais da região afetada se existirem condições de conservação e/ ou exposição. Então, para a caracterização deste patrimônio, realizou-se uma síntese de dados de sítios arqueológicos já conhecidos na área de estudo, através de análise bibliográfica referente à arqueologia, etno-história e história da região e circunvizinhanças, além da utilização de dados inéditos relativos ao acervo do Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense. As coordenadas do ponto central do sítio estão apresentadas na Projeção Universal Transversa de Mercator, sendo a origem da quilometragem UTM o Equador e o Meridiano 51º W GR, acrescidas as constantes 10.000km (N) e 500km (E), respectivamente. O datum vertical é Imbituba, Santa Catarina e o horizontal é o SAB-69. Na tabela 5 estão relacionados os sítios arqueológicos cadastrados no EIARIMA da Barragem Piraquara II, em 2000;

- Houve a colaboração, através de visitas técnicas junto à área de escavações na Barragem Piraquara II, em 2008, do geólogo Prof. Dr. João José Bigarella e do arqueólogo Prof. Oldemar Blasi. Foram confirmados níveis lateríticos que marcam a passagem para o Holoceno, com aproximadamente dez mil anos.

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TABELA

4 - SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS CADASTRADOS NO PROGRAMA DE SALVAMENTO ARQUEOLÓGICO DA BARRAGEM PIRAQUARA II E CIRCUNVIZINHANÇAS

N

Sítio Arqueológico

1

10

Canteiro 1 Barragem Piraquara Canteiro 2 Barragem Piraquara Canteiro 3 Barragem Piraquara Canteiro 4 Barragem Piraquara Canteiro 5 Barragem Piraquara Canteiro 6 Barragem Piraquara 1 Eixo Barragem Piraquara II 2 Eixo Barragem Piraquara II João Faria Areial Piraquara Chácara Rio Crósio

11

Canteiro Asfalto Novo

12

14

Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara Várzea Direita Piraquara 1 Areia Inglesa 1

15

Casa Areia Inglesa 1

16

Argila Inglesa 1

17

Coqueiro Piraquara 1

18

Banco Areia Botiatuva

19

Ponte Nova Botiatuva

20 21

Ponte Velha Botiatuva 1 Iracema Sauer

22

Palmito Piraquara

2 3 4 5 6 7 8 9

13

27

Coorden. em UTM 7.179.853 691.948 7.179.841 692.084 7.179.992 691.995 7.180.092 692.019 7.180.098 691.764 7.180.222 691.822 7.179.608 692.139 7.179.507 692.171 7.178.136 693.052 7.179.016 691.880 7.180.233 692.178 7.179.519 692.008

Alt. (m) 918

Comp. topogr topo

Dimensões (em m) 150x 150

912

topo

200x 100

905

topo

150x 100

Itararé-Taquara, com Tupiguarani intrusiva Itararé-Taquara

910

200x 150

Itararé-Taquara

200x 100

Umbu, Itararé-Taquara

912

meia encosta meia encosta topo

150x 100

Itararé-Taquara

878

topo

200x 100

Umbu, Itararé-Taquara

877

topo

150x 100

Umbu, Itararé-Taquara

882

topo

150x 150

Umbu

877

vale

150x 100

Umbu

945

60x 60

Itararé-Taquara

885

meia encosta vale

60x 60

Umbu

7.178.847 694.639 7.178.647 694.466 7.178.464 694.325 7.178.531 694.260 7.178.505 693.562 7.177.598 696.774 7.178.190 696.572 7.178.392 696.619 7.178.506 696.829 7.179.181 692.276

886

vale

80x 80

Umbu

885

vale

60x 60

Umbu

927

topo

50x 50

Umbu

892

topo

100x 80

Umbu

885

topo

60x 60

Itararé-Taquara

888

vale

60x 60

Umbu

886

vale

60x 60

Umbu

890

vale

60x 60

Umbu

892

vale

80x 80

884

vale

100x 80

Umbu, Tupiguarani, Neobrasileira Umbu, Itararé-Taquara

905

Tradição Itararé-Taquara

Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009 TABELA

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5 - SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS ANTERIORMENTE CADASTRADOS NO EIA-RIMA DA BARRAGEM DE PIRAQUARA II



Sítio Arqueológico

Coordenadas em UTM/ SAD69

Alt. (m)

Tradições

Refer. Bibliogr.

1

Flávio Martinez I

894

Neobrasileira

Parellada et al. 2000

2

Ademir Jess I

927

Tupiguarani

Parellada et al. 2000

3

Flúvio Macedo I

7.178.250 693.850 7.180.450 694.050 7.178.750 696.200

916

Umbu, Tupiguarani

Parellada et al. 2000

Foto 1 - Escavação junto ao sítio arqueológico Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara II, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

Foto 2 – Trincheira realizada no sítio arqueológico Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara II, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

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29

Foto 3 – Quadras escavadas junto ao sítio arqueológico Eixo Barragem Acostamento Estrada Piraquara II, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

Foto 4 – Prospecção arqueológica junto ao sítio Banco Areia Botiatuva, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

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Foto 5 – Pinheiro Araucaria recuperado junto a área de construção de nova ponte, localidade de Botiatuva, este tronco está armazenado nos laboratórios da Mineropar e aguardase resultados de datação por carbono 14 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

Foto 6 – Tronco de Araucária amostrado para datação, recuperado a 1,5 m de profundidade na várzea do rio Poruquara, localidade de Botiatuva, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

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Foto 7 – Stone line ou linha de pedras que registra a linha divisória do início do Holoceno, a cerca de 10.000 anos atrás, próximo sítios 1 e 2 Eixo Barragem Piraquara II, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

Foto 8 – Limpeza de perfil estratigráfico ao lado de quadras escavadas no sítio arqueológico 1 Eixo Barragem Piraquara II, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

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Foto 9 – Outras quadras escavadas no sítio arqueológico 1 Eixo Barragem Piraquara II, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

Foto 10 – Escavação arqueológica no sítio Palmito Piraquara, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

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Foto 11 – Peneirando sedimentos no sítio arqueológico Palmito Piraquara, o pesquisador mostra ponta de projétil encontrada na escavação, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

Foto 12 – Escavando no sítio arqueológico Palmito Piraquara, a pesquisadora mostra ponta de projétil encontrada na escavação, 2008 (crédito fotográfico: Claudia Inês Parellada).

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8. ARQUEOLOGIA E HISTÓRICO DA REGIÃO DE ESTUDO COM OS DADOS RECUPERADOS ATÉ DEZEMBRO DE 2008

Os vestígios arqueológicos encontrados nessa região podem ser divididos em pré-coloniais e históricos, sendo que os sítios históricos seriam ruínas e vestígios da cultura material relacionados à ocupação europeia dos séculos XVI ao XX. Os vestígios pré-coloniais seriam representados por artefatos, sepultamentos humanos, restos de habitações e da dieta alimentar, relacionados tanto a populações caçadoras e coletoras como a povos agricultores e ceramistas que habitavam aquela área.

Ainda

podem

ser

encontradas

em

alguns

sítios

arqueológicos

as

representações simbólicas desses grupos, como gravuras rupestres. Os diversos sítios arqueológicos estudados separadamente foram agrupados em fases e tradições, a tradição representa um grupo de sítios onde uma série de elementos ou técnicas tem persistência temporal (Chmyz, 1976a). No Paraná têm-se tradições relacionadas a populações caçadoras-coletoras, denominadas Umbu, Humaitá e de coleta litorânea, representadas pelos sambaquis; e de povos agricultores e ceramistas, como a Itararé-Taquara e a Tupiguarani. Para as pinturas e gravuras rupestres têm-se as tradições Planalto e Geométrica. Antes do início dos trabalhos do Programa de Resgate Arqueológico da Barragem Piraquara II já existiam alguns sítios arqueológicos cadastrados na área diretamente afetada pela Barragem Piraquara II e entorno, nos municípios paranaenses de Piraquara e São José dos Pinhais, observar tabela 6. As primeiras evidências de povoamento na área que hoje compreende o Estado do Paraná remontam a cerca de 10.000 anos atrás, e relacionam-se tanto a ocupações por sambaquieiros fluviais no vale do rio Ribeira (Collet, 1985), como por caçadores-coletores Umbu no vale do baixo Iguaçu (Parellada, 2005). Entretanto, possivelmente já entre 12.000 e 15.000 anos atrás, nos territórios compreendidos pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, bem como no nordeste da Argentina, surgiam grupos caçadores-coletores. No interior do Paraná estão representados pelas Tradições Bituruna, Umbu e Humaitá. Behling (2002) observam que os planaltos sul-brasileiros há 7.400 anos cal AP estavam dominados por campos, com um clima mais seco e frio que o atual, possivelmente 10oC mais baixo, e as araucárias provavelmente se restringiam a vales fechados e profundos e vertentes costeiras mais úmidas. Em épocas posteriores a 4.320 anos cal AP as araucárias se expandiram em redes de matas de galeria. Com o clima tornando-se mais quente e úmido, intensificou-se a quantidade de assentamentos de caçadores-coletores, em distintos ambientes naturais, que

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35

foram categorizados em tradições: a Umbu, em áreas de campos e cerrados; a Humaitá, em regiões florestadas, e os sambaquis, na costa litorânea e no planalto.

TABELA 6 - SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS ANTERIORMENTE CADASTRADOS EM ÁREAS VIZINHAS A BARRAGEM DE PIRAQUARA II EM DIFERENTES PROJETOS



Sítio Arqueológico

1

Fazenda Itaqui 1

2

Fazenda Itaqui 2

3

Fazenda Itaqui 3

4

Fazenda Itaqui 4

5

Rio Piraquara 1

6

Rio Piraquara 2

7

Rio Pequeno 1 PR CT 59 Rio Pequeno 2 PR CT 60 Rio Pequeno 3 PR CT 61 Represa Seca 1 PR CT 62 Represa Seca 2 PR CT 63 Capão PR CT 64

8 9 10 11 12 13

16

Arroio do André PR CT 65 Pinheiro da Divisa 1 PR CT 66 Pinheiro da Divisa 2 PR CT 67 Flávio Toczek I

17

Flávio Toczek II

18

Nicodemus I

19

Nicodemus II

20

Apolônio Liceski

21

Céu Azul

22

Garimpo Pilão de Pedra

14 15

Coordenadas em UTM 7.178.430 690.415 7.178.683 689.629 7.179.037 689.719 7.178.223 689.429 7.180.860 690.760 7.181.030 690.900 7.175.900 687.100 7.176.000 687.250 7.174.380 688.275 7.174.850 688.775 7.174.760 688.700 7.174.900 689.160 7.174.460 688.950 7.174.460 688.475 7.174.210 688.400 7.162.050 693.300 7.162.220 693.370 7.162.120 693.600 7.162.480 693.880 7.163.220 695.320 7.172.300 702.200 7.167.00 0 705.300

Alt. (m) 905

Tradição

Refer. Bibliogr. Eia-Rima Itaqui 2005

912

Umbu, Tupiguarani Tupiguarani

907

Umbu

Eia-Rima Itaqui 2005

915

Eia-Rima Itaqui 2005

885

Tupiguarani, Neobrasileira Umbu

Sganzerla et al. 1996

892

Neobrasileira

Sganzerla et al. 1996

892

Umbu

Sganzerla et al. 1996

908

Itararé-Taquara

Sganzerla et al. 1996

910

Chmyz et al. 1997

912

Umbu, ItararéTaquara Neobrasileira

912

Itararé-Taquara

Chmyz et al. 1997

927

Itararé-Taquara

Chmyz et al. 1997

907

Umbu

Chmyz et al. 1997

918

Itararé-Taquara

Chmyz et al. 1997

917

Itararé-Taquara

Chmyz et al. 1997

922

Itararé-Taquara

Parellada 2002

913

Itararé-Taquara

Parellada 2002

915

Itararé-Taquara

Parellada 2002

900

Itararé-Taquara

Parellada 2002

920

Itararé-Taquara

Parellada 2002

912

Umbu

Rauth, in Schmitz 1984

830

Tupiguarani, Neobrasileira

Museu Paranaense, coleção 10.90

Eia-Rima Itaqui 2005

Chmyz et al. 1997

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A

Tradição

Umbu

agrupa

os

36

sítios

pré-cerâmicos

caracterizados,

principalmente, pela presença de grande quantidade de pontas de projéteis (Kern, 1981; Schmitz, 1984). Os assentamentos Umbu foram tanto em abrigos, sempre que os mesmos estivessem naturalmente disponíveis, como a céu aberto, existindo sítios multifuncionais, com reocupação relativamente frequente, sendo alguns somente estações de caça (Schmitz, 1991). Os artefatos líticos típicos seriam pontas de projétil pedunculadas, triangulares, foliáceas, de formas e dimensões variadas, raspadores, furadores e percutores, podendo ainda aparecer talhadores, furadores, grandes bifaces, lâminas polidas de machado, polidores e picões (Schmitz, 1984). Discussões bastante consistentes sobre os sistemas de assentamento, estilos tecnológicos e possíveis modelos de mobilidade dos Umbu podem ser observados em De Blasis (1988, 1996) e Dias (1994). Os sítios Umbu geralmente estão localizados próximos a arroios, rios, banhados ou lagoas, e, mais raramente, junto ao mar. No Paraná já foram registrados nos vales dos rios Ribeira, Iguaçu, Tibagi, Ivaí, Itararé, Paranapanema, Esses sítios arqueológicos estariam próximos a drenagens. No Paraná ocorrem nos vales dos altos rios Tibagi, Iguaçu, na Serra do Mar, como no sítio arqueológico Céu Azul estudado por Rauth, e no litoral, como nos sítios Ribeirão e Matinhos (Chmyz, 1975).

São relativamente frequentes em áreas de várzea e no alto de

pequenas elevações no rio Piraquara. Na Serra do Mar, em São José dos Pinhais o pesquisador Rauth cadastrou o sítio arqueológico Céu Azul, relacionado à Tradição Umbu; esta área situa-se junto às nascentes do rio Pequeno, afluente do rio Iguaçu (in Schmitz, 1984). O sítio Céu Azul foi datado de 3.705 +130 a 755+60 anos aC (SI-1575 e 1578). No programa de salvamento arqueológico do Contorno Leste de Curitiba (Sganzerla et al., 1996) foram cadastrados dois sítios Umbu: Rio Piraquara 1 (PR CT 55) e Rio Pequeno 1 (PR CT 59). O sítio Rio Piraquara 1 situava-se no município de Piraquara, em base de vertente, a 5 metros acima do nível do rio, em local com pastagens e antigas plantações. A área do sítio compreendia 46x25m, sendo que a nordeste desse local existia concentração de pequenas lascas de basalto com dimensões de 5x5m. O sítio Rio Pequeno 1, situado no município de Quatro Barras, ocupa topo de elevação, 15 metros acima do nível dos rios, sendo que a área do sítio ocupa 182x37m. Na área de entorno da planejada barragem de Piraquara II tem-se ainda um vestígio isolado doado ao Museu Paranaense: uma ponta de projétil, confeccionada

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em silexito, foi encontrada por trabalhadores que melhoravam a estrada que liga a Fazenda Guaricana a Castelhanos, há quinze anos atrás, na Colônia Murici. Na elaboração do EIA RIMA da Barragem Piraquara II (Parellada et al. 2000) cadastrou-se o sítio arqueológico Flúvio Macedo I, situado na margem direita do rio Piraquara. Nesse sítio ocorreram duas ocupações, uma mais antiga relacionada à Tradição Umbu e outra posterior por grupos ceramistas filiados a Tupiguarani. O SÍTIO ARQUEOLÓGICO FLÚVIO MACEDO I (Parellada et al., 2000) foi cadastrado em plantação de milho no município de Piraquara- PR, junto à estrada secundária de acesso à margem direita do rio Piraquara. Este sítio possui dimensões de 120x 100m, sendo que os vestígios ocorrem associados à matriz de sedimentos de coloração marrom média, argilo-arenosos, com níveis de fogueiras e matéria orgânica. As coordenadas em UTM- SAD 69 do centro desse sítio são N- 7.178.750, e E- 696.200, com altitude média de 916m, a 360m da margem direita do rio Piraquara. Os vestígios parecem estar relacionados a acampamento temporário de grupos Umbu, havendo uma ocupação posterior Tupiguarani. Como a área foi intensamente perturbada por sucessivas plantações agrícolas, inclusive com arado mecânico, os materiais líticos relativos às duas ocupações ocorriam superficialmente. Assim, fez-se uma análise conjunta de todos os artefatos líticos coletados no sítio Flúvio Macedo I. Foram recuperados superficialmente 84 materiais líticos, sendo a maior parte de silexito (50%), aparecendo ainda em quartzito (28,57%), diabásio (17,86%), quartzo cristal (2,38%) e leitoso (1,19%). Nas proximidades do eixo da barragem Piraquara II, junto à estrada da Roseira, foram cadastrados os sítios arqueológicos 1 e 2 Eixo da Barragem Piraquara II, Chácara Rio Crósio 1, João Faria Areial Piraquara, Eixo Barragem Piraquara Acostamento Estrada, e na área do reservatório Ponte Nova Botiatuva, Ponte Velha Botiatuva 1, Banco Areia Botiatuva, Areia Inglesa 1, Argila Inglesa 1, Casa Areia Inglesa 1 e Várzea Direita Piraquara 1. Deve ser observado que nas proximidades da região de estudo foram realizados dois Programas de Salvamento Arqueológico entre 1998 e 1999. Um desses estudos contemplava a área de construção da fábrica de automóveis Renault, no município de São José dos Pinhais, e foi coordenado pelo arqueólogo Igor Chmyz. O segundo foi o da barragem do rio Iraí, no município de Piraquara-PR, chefiado pelo Professor Oldemar Blasi. Nesses dois trabalhos o que pode ser comentado é que foram cadastrados sítios arqueológicos relacionados a diferentes Tradições, como a Umbu, Itararé-Taquara e Neobrasileira.

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A TRADIÇÃO HUMAITÁ compreende sítios pré-cerâmicos do interior que não possuem pontas de projétil de pedra, mas têm uma grande proporção de artefatos sobre bloco, onde se destacam bifaces, talhadores, enxós, raspadores e furadores, associados a grande quantidade de lascas (Kern 1981; Schmitz 1984). O padrão de assentamento

característico

da

Tradição

Humaitá

configura-se

em

sítios-

acampamento, multifuncionais, a céu-aberto, preferencialmente nas proximidades de cursos deágua, e excepcionalmente em abrigos . Existem muitas discussões sobre os sítios Humaitá, pois parte deles foi identificada apenas pela presença de grande quantidade de artefatos em bloco, e podem representar acampamentos de outros grupos culturais, inclusive ceramistas (Dias, 1994). Estes sítios concentram-se nos vales de rios, que possuíam cobertura de floresta tropical semi-úmida e subtropical, ou seja, no Paraná situam-se principalmente nos vales dos rios Paranapanema, Ivaí, Tibagi e Paraná. Entretanto, no planalto curitibano e na Serra do Mar também podem ocorrer, como acontece no Rio Grande do Sul.

Há cerca de 4.000 anos atrás, com o clima tornando-se mais quente e úmido, as florestas de araucária já em expansão, e as áreas de campos e estepes diminuindo, aparecem os primeiros vestígios de horticultores e ceramistas em território atualmente compreendido pelo Estado do Paraná, os da tradição ItararéTaquara, e há dois mil anos atrás já se tem assentamentos Tupiguarani. A tradição Itararé-Taquara é característica das terras altas sul-brasileiras, cujas populações são relacionadas à família lingüística Jê (Chmyz, 1968b; Schmitz, 1988). Os Jê meridionais, atualmente representados pelos Kaingang e Xokleng, teriam se separado e iniciado a migração, em direção ao sul, há cerca de quatro mil anos, provavelmente buscando relevos geográficos semelhantes ao habitat originário (Urban, 1992). Possivelmente houve troca genética, e um processo de dinâmica cultural, entre os povos que migravam do Brasil central e os caçadores-coletores já existentes em território paranaense, sendo que isso pode ter ocorrido com mais de um grupo caçador-coletor. A dieta alimentar destes grupos baseava-se fortemente na coleta de pinhão e mel, na pesca e caça de animais, cultivando milho, mandioca, feijão e abóboras, visando à complementação dos recursos e uma prática de manejo ambiental, alternando o extrativismo com a prática agrícola. A ocupação Itararé-Taquara foi, preferencialmente, em planaltos cobertos por campos, associados à floresta subtropical com pinheiros araucária, havendo

Programa Arqueológico da Barragem Piraquara II Relatório Final de Atividades - 2009

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assentamentos em vales de rios, no litoral e na serra atlântica, abrigos, cavernas e estruturas semi-subterrâneas, com grande diferenciação de usos (Chmyz, 1968a,b, 1995; Schmitz, 1988, 1991). Ainda existem referências a monólitos, alinhamentos de pedras e megálitos, discutidos em detalhe por Langer e Santos (2002), no vale do Iguaçu, e sepultamentos com pedras no vale do médio Ribeira e no Tibagi. No sítio arqueológico Palmito Piraquara foi identificado e coletado monólito em gnaisse, com provável direção leste-oeste, pois estava tombado. Estas populações habitaram as terras altas e frias cobertas pela floresta subtropical com pinheiros, e ocuparam o vale do rio Iguaçu e seus afluentes, construindo várias estruturas subterrâneas, como as descritas nos municípios paranaenses de Mandirutuba (Chmyz et al., 2003), Contenda e Quitandinha. Os sítios são de vários tipos, sendo que nas áreas altas dos pinheirais e campos existem muitas estruturas subterrâneas, inclusive galerias escavadas nas encostas de morros. Estas estruturas parecem estar relacionadas tanto a habitações, como áreas rituais de funerais. Algumas vezes ocorrem pequenos aterros, possíveis sepulturas (Schmitz, 1991). Borba (1908) comenta: “Neste Estado, principalmente nos municípios de Piraquara, S. José dos Pinhaes, Campina Grande, Arraial Queimado, Coritiba, Campo Largo, Palmeira, Castro e Tibagi, existem em abundancia as covas de que fala Gabriel Soares; nellas e em suas proximidades encontram-se panellas de argila e pedaços destas; machados de pedra polida; pontas de flecha de quartzo lascado; um ou outro tembetá de cristal de rocha rarissimo; mós, de pedra polida para pilão ou almofariz.” Alguns sítios são multicomponenciais, geralmente com mais de uma ocupação Itararé-Taquara, outras com reocupação, mais recente, por populações caboclas. Provavelmente parte das pinturas rupestres encontradas no Paraná sejam ItararéTaquara (Parellada 1993c, 1997b, 1999a), e as gravuras rupestres mapeadas no médio rio Iguaçu por Chmyz (1968b, 1969a) foram filiadas a essa Tradição. A cerâmica caracteriza-se pelo pequeno volume e espessura fina, com eventual engobo negro ou vermelho, e em alguns casos com marcação de tecido ou malha, ou mesmo carimbos e incisões, na face externa dos vasilhames. Os artefatos líticos mais representativos são mãos de pilão, lâminas de machado lascadas ou polidas, geralmente em formato petalóide, talhadores, raspadores e lascas. Grande parte desses sítios situa-se em meia encosta, e em menor escala em áreas de topo de morro e vale. A cerâmica é pouca espessa, com antiplástico como grãos de quartzo, hematita e feldspato, algumas vezes observam-se o uso do esfumaramento. A técnica de manufatura dos vasilhames é pelo roletado e paleteado, e a queima quase sempre é incompleta. As bases geralmente são planas, havendo também côncavas e convexas. As formas já recuperadas são cilíndricas,

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esféricas e ovais. Em vários fragmentos tem-se engobo negro ou vermelho, e alguns fragmentos apresentam marcas de incisões. Os materiais líticos são raspadores, facas, bifaces, onde as principais matérias-primas são o silexito, o calcário silicificado, o quartzo cristal e o quartzito. Também foram coletadas lâminas de machado polidas, mãos de pilão e batedores; e registradas estruturas de combustão, como fogueiras e fogões. Nas camadas superficiais humosas de alguns sambaquis da baía de Guaratuba caracterizaram-se fragmentos cerâmicos da Tradição Itararé-Taquara (Bigarella 1950-51; Chmyz 1976b). Na área do contorno leste de Curitiba foram cadastrados dois sítios arqueológicos: Rio Florestal 1 (PR CT 57) e Rio Pequeno 2 (PR CT 60). O sítio Rio Florestal 1, situado no município de Quatro Barras, ocupa topo de elevação, 36 metros acima do nível do rio, com área de 79x49m. O local apresenta-se intensamente perturbado. O sítio Rio Pequeno 2, situado no município de Quatro Barras, em topo de elevação, a 31 metros acima do nível do rio, ocupando área de 39x8m (Sganzerla et al. 1996). Nesses sítios foram coletados 378 fragmentos de vasilhames cerâmicos, e 35 materiais líticos, sendo a maioria fragmentos atípicos, e a matéria-prima quartzo leitoso, silexito, quartzo hialino e basalto. Na área de influência da barragem de Piraquara II foi documentada área de ocorrência de vestígios isolados, que provavelmente estão relacionados à Tradição Itararé-Taquara, e que foi denominado HARAS JUMP I, documentado no município paranaense de Piraquara. Essa área de ocorrência está situada a 300m da margem esquerda do rio Campestre. Este sítio possui dimensões de 100x 80m, assentando-se sobre sedimentos areno-argilosos marrom escuros a negros, com bastante matéria orgânica. As coordenadas em UTM do centro da área Haras Jump I são H7.176.150, e V- 699.400, com altitude média de 925m. Nas fotografias aéreas da faixa 2, de números 6 e 7, escala 1:30.000 (PARANASAN-ESTEIO, 08/99), na área do sítio arqueológico, podem ser observadas estruturas circulares a ovaladas, com tonalidades mais escuras, que podem representar vestígios das paredes de habitações de uma aldeia relacionada à Tradição Itararé-Taquara. No programa de salvamento arqueológico da Barragem Piraquara II a área junto ao eixo da barragem Piraquara II foram cadastrados onze sítios arqueológicos filiados à Tradição Itararé-Taquara, alguns com múltiplas ocupações. Na cerâmica recuperada na Barragem Piraquara II muitos fragmentos apresentavam-se trincados e parcialmente erodidos pelo intemperismo ou pela ação

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antrópica. Os fragmentos pintados eram os mais danificados, fazendo com que na maioria não se pudesse caracterizar os motivos decorativos. Na maioria dos fragmentos, especialmente na face interna, podem ser observados os sinais de objetos alisadores, como seixos de quartzo. A cerâmica estudada está sendo dividida em dois tipos simples, e dependendo de cada sítio arqueológico pesquisado em uma série de tipos decorados. Os tipos simples foram diferenciados pela granulometria dos antiplásticos existentes: Finos e Grossos. O método de manufatura da pasta do material cerâmico simples fino é o acordelado, sendo que em poucos fragmentos podem ser observados os cordéis. Os antiplásticos são areias finas a grossas, predominando areias finas. Na maior parte também aparecem grânulos de hematita, quartzo e feldspato, com tamanho variando entre 0,5mm a 1,5mm, e cerâmica moída com dimensões até 1,5mm. Raros são os fragmentos com carvão, onde ocorrem com dimensões de até 1,5mm. A textura, na maioria dos exemplares, apresenta-se homogênea, com poucos alvéolos de ar distribuídos na massa. A fratura é geralmente irregular e pouco friável. A maioria possui pasta com tons cinza, e queima com oxidação incompleta. A maioria do material tem cor marrom escura a negra, havendo ainda grande proporção de marrom claro e bege. Geralmente tem superfícies bem alisadas, porém mostram sinais de alisadores, sendo comuns as manchas de queima. Em geral são ásperas ao toque, e poucos fragmentos apresentam-se erodidos, trincados e com antiplásticos aflorando na superfície. O método de manufatura da pasta do material cerâmico simples grosso é o acordelado, sendo que em poucos fragmentos podem ser observados os cordéis. Os antiplásticos são a areia fina (
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