Relatório de Informações: Instituto Confúcio como Instrumento na Estratégia de Expansão Chinesa

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INSTITUTO CONFÚCIO: Instrumento na Estratégia de Expansão Chinesa 8 de Junho de 2015 

Em 2015 existem 443 Institutos Confúcio a nível mundial



Actualmente são cerca de 50 milhões as pessoas a aprender mandarim fora da China



O plano é estabelecer 1000 institutos até 2020

1. UM ACTIVO DE SOFT POWER

A República Popular da China (RPC) tem uma tradição histórico-cultural milenar. Tem a maior população e o maior território do mundo. A política de abertura ao exterior e as mudanças económicas operadas nas últimas décadas resultaram na afirmação internacional da China, que tem adoptado uma postura cada vez mais assertiva e sofisticada e uma abordagem às relações internacionais (RI) muito confiante e pragmática. Assim, a China tem vindo a emergir desde o início do século XXI como uma potência. Para além da estratégia de diplomacia económica para o acesso e obtenção de recursos vitais ao desenvolvimento nacional a RPC executa uma estratégia de diplomacia cultural para criar um ambiente favorável à emergência do país e à concretização dos objectivos de política externa. Ora, um instrumento para exercer este método diplomático são os institutos culturais, disseminados pelo mundo. Neste âmbito, o Instituto Confúcio (IC) é um activo incluído na estratégia de soft power chinesa na lógica de uma expansão. Em 2002 o governo chinês anunciou um plano de estabelecimento de instituições no exterior para a promoção sistemática da cultura e língua chinesas. Em 2004 o National Office for Teaching Chinese as Foreign Language (NOCFL), também conhecido como Hanban – os headquarters do IC, estabeleceu os primeiros IC’s pelo mundo.

2. O PROJECTO CONFÚCIO

Com o nome em homenagem ao maior pensador chinês de todos os tempos e simbolizando o ressurgimento da cultura tradicional chinesa, o IC é uma instituição sem fins lucrativos, com sede em Pequim, cujo grande objectivo é a promoção da língua e da cultura chinesas e apoio ao ensino do mandarim em todo o mundo, através dos IC’s associados. O Instituto Confúcio é, portanto, um instrumento da estratégia de expansão chinesa ao nível da diplomacia cultural, e a promoção da língua e cultura chinesas está integrada na estratégia global de projecção de imagem da RPC no plano internacional.

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O Hanban, em Pequim, é tutelado pelo Ministério da Educação chinês, é composto por representantes de 12 ministérios e comissões do governo central e é responsável pela coordenação dos IC’s associados, pela formulação das regras e regulações, pela avaliação das candidaturas para o estabelecimento de novos IC’s, pela aprovação de programas e orçamentos anuais e pelo fornecimento de materiais de pessoal de ensino e de gestão. Os alvos do IC são o público mainstream que não tem conhecimento sobre a China e os estudantes das universidades que desejem aprender e melhorar o mandarim. As actividades desenvolvidas pelos IC’s incluem cursos de mandarim para vários níveis e diversos sectores (negócios, turismo) e eventos culturais (exposições, exibição de filmes, leituras, concertos e palestras). Existem três tipos de IC: os que são totalmente dirigidos pelos headquarters do IC, os que são totalmente geridos pelo país de acolhimento sob licença dos headquarters e os que são geridos por meio de uma parceria entre uma universidade chinesa, uma universidade do país de acolhimento e os headquarters. Este último é o mais comum. Para além dos IC’s, existe uma variante que corresponde a um modelo focado na aproximação às escolas secundárias dos países e que como tal conecta essas escolas à rede dos IC’s: as Confucius Classrooms (CR). Estas estão também a ganhar visibilidade. Os requisitos para estabelecer um IC são a procura visível pela aprendizagem da língua e cultura chinesas no local que se candidata; pessoal, espaço, instalações e equipamento; e capital disponível e estável para o estabelecimento do IC. Estes institutos culturais são, regra geral, financiados por igual contributo monetário das partes. Dados oficiais do Hanban indicam que actualmente existem 443 IC’s a nível mundial e 648 CR’s. A nível regional, existem na Ásia 95 IC’s e 52 CR’s, em África 38 IC’s e 10 CR’s, na América 144 IC’s e 384 CR’s, na Europa 149 IC’s e 153 CR’s e na Oceânia 17 IC’s e 49 CR’s. Para 2010, o plano era estabelecer 500 institutos, o que não aconteceu. Estes institutos são importantes porque com a promoção da língua e da cultura o governo chinês tem também objectivos políticos – no quadro de uma competição no campo da promoção internacional da cultura com implicações na política externa, nomeadamente o de contribuir para uma boa imagem da China no exterior.

3. A RESPOSTA ESTÁ NO LONGO-PRAZO

A diplomacia cultural é sem dúvida uma actividade política, pelo que continuará a haver uma potencial instrumentalização e politização da cultura pela política externa, plasmado na própria natureza desse método diplomático.

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A intenção da RPC é continuar a expansão dos IC’s e das CR’s pelo mundo. Até ao momento o governo do PCC está a ter sucesso na estratégia geral de diplomacia cultural e o estabelecimento de IC’s e CR’s é a melhor ferramenta para colmatar a falta de conhecimento relativamente à China em termos históricos, culturais e linguísticos. Contudo, apesar do entusiasmo chinês pelo soft power, o “Projecto IC” é relativamente recente e apresenta limitações que condicionam a credibilidade desse instrumento na estratégia de expansão chinesa no século XXI em prol de uma imagem externa positiva. Actualmente são cerca de 50 milhões as pessoas a aprender mandarim fora da China. O plano é estabelecer 1000 IC’s até 2020. Assim, é provável que a aprendizagem do mandarim continue a tornar-se mundialmente popular e que com isto a RPC continue a procurar desenvolver atitudes positivas em relação à China. Para já, os benefícios que a China consegue por meio deste projecto estão limitados à configuração das preferências na aprendizagem do mandarim e nas atitudes em relação à China. Para além da promoção da língua e cultura, a relevância dos IC’s e das CR’s prende-se com o alcance de fins políticos. Não só servem para internacionalizar a educação como se pretendem um contributo para a construção de uma boa imagem da China no exterior. Ora, no âmbito do objectivo de influenciar os governos dos países a formular e implementar políticas em linha com os objectivos chineses é provável que o “Projecto IC” não atinja, a curto e médio prazo, os resultados desejados. Os pontos fracos deste projecto são, pois, o compromisso dos IC’s com o governo chinês, integrado num sistema politico autoritário constituído por estruturas centralizadas. Falta, portanto, por parte dos IC’s e das CR’s, um mais concreto dettachment do Estado. A questão que se coloca daqui em diante é acerca de quanto tempo levará o investimento chinês no vector da cultura no âmbito da sua política externa a demonstrar mais evidências de que a China aumentou, alargou e aprofundou a sua influência política internacional como um resultado directo do “Projecto IC”. A resposta prende-se com o facto de o “Projecto IC” ser um investimento a longoprazo e por isso com resultados a longo-prazo. O estabelecimento de IC’s e CR’s como instrumentos na estratégia de expansão chinesa pode à partida não ter resultados políticos imediatos mas no futuro tornar-se-á um factor significativo na posição relativa da China nas relações internacionais e terá, assim, implicações políticas substanciais na relação da China com as outras nações.

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