Relatório Final (CNPq): Ecologia histórica da castanha-do-Pará (Bertholletia exelsa): Estudos sobre a biologia reprodutiva de plantas amazônicas e suas aplicações no uso, manejo e conservação dos recursos naturais

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Descrição do Produto

Relatório Final

Glenn H. Shepard Jr., Ph.D. Bolsista DTI, Nível A, INPA-CPBO

Projeto de Pesquisa Institucional:

“Estudos sobre a biologia reprodutiva de plantas amazônicas e suas aplicações no uso, manejo e conservação dos recursos naturais”

Rogerio Gribel (CPBO), Coordenador

Manaus, 25 de abril de 2002

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Resumo da produção científica, 2000-2002 Publicações (veja CV resumido em anexo): • 3 artigos publicados em revistas especializadas • 3 artigos completos publicados em anais de congresso • 2 capítulos publicados em livros • 2 relatórios técnicos • 1 artigo de divulgação científica • 3 capítulos aceitos (no prelo) em livros • 1 artigo aceito (no prelo) em revista especializada • 2 manuscritos submetidos para revistas especializadas • 4 manuscritos em preparação para submissão Participação em congressos e reuniões técnicas • Participante convidado, "Seminário sobre macrozoneamento participativo dos Territorios Indígenas do Alto Rio Negro" (ISA/FOIRN). São Gabriel da Cachoeira, abril de 2002. • Participante convidado, "Seminário interno sobre acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais" (ISA). Brasília, abril de 2002. • Participante convidado, I e II Oficina do projeto ArteBaniwa (OIBI/ISA). Rio Içana, Município de São Gabriel da Cachoeira, fevereiro de 2001 e fevereiro de 2002. • Palestrante, congreso internacional "Conservación de la biodiversidad en los Andes y la Amazonía" (Red Internacional INKA). Cuzco, Perú, setembro de 2001. • Palestrante convidado, "Simposio Internacional: Manu y otras experiencias de investigación y manejo de bosques neotropicales" (Pro-Manu). Puerto Maldonado, Perú, junho de 2001. • Palestrante, sessão convidada, "Ethnobotany goes public," congresso da American Anthropological Association, San Francisco, USA, novembro de 2000. • Palestrante, forum de pesquisa "Conflitos sociambientais em parques nacionais," Associação Brasileira de Antropologia, julho de 2000. • Palestrante convidado, Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, Piracicaba, julho de 2000.

Material científico coletado: • 200 indivíduos de castanheira (B. excelsa) censados nas 7 áreas amostrais (veja mapa)

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130 amostras de folha/semente de castanheira para análises genéticas 61 amostras botânicas coletadas (28 depositadas e tombadas no herbário) 20 amostras de solos de florestas com e sem castanheiras de 6 áreas amostradas

Projetos e parcerias • Projeto em negociação, "Banco de germoplasma da castanheira da Amazônia (B. excelsa)." Pesquisadores participantes: Rogerio Gribel e Glenn Shepard (INPA) em parceria com IBAMA e Minerção Rio Norte. • Projeto de pesquisa integrada aprovado (CNPq) "A sustentabilidade ecológica e social da produção e comercialização do artesanato de arumã (Ischnosiphon spp.) no alto Rio Negro" (Projeto Arumã), 2002-2004. Pesquisadores participantes: Rita Mesquita, Rogerio Gribel, Glenn Shepard (INPA) em parceria com ISA e OIBI. • Projeto submetido "Inventário da biodiversidade de vertebrados da região Pantepui do estado do Amazonas" (MMA/PRONABIO). Coordenador JeanPhilippe Boubli (Museu Nacional/UFRJ) em parceria com INPA. • Levantamento etnobotânico preliminar em parceria com o Projeto PPD (CEPECINPA) "As interações entre as savanas e florestas na Amazônia e sua importância para a biodiversidade," junho de 2000. • Elaboração de projeto, "Workshop sobre os povos indígenas isolados nos países amazônicos," em parceria com Sydney Possuelo, Departamento de Índios Isolados, FUNAI. Ensino e bancas de tese • Avaliador da tese de doutorado "Zoneamento da região de Alter do Chão, Pará: Um exercício de planejamento para uma unidade de conservação de uso direto," Ana Albernaz (INPA-CEPEC), junho de 2001. • Avaliador da tese de mestrado "Movimentações periódicas dos Yanomami e suas implicações para o controle da oncocercose em Watatas (Xitei/Xidea), Roraiama, Brasil," Fabiana dos Santos e Souza (INPA-CEPEC), abril de 2002. • Avaliador da tese de mestrado "Aspectos ecológicos no uso de plantas medicinais por comunidades rurais no estado do Amazonas, Brasil," Patrícia Maria Martins do Prado (INPA-CEPEC), abril de 2002. • Mino-curso, "Introdução à Teoria e Métodos de Etnobiologia," curso de mestrado em Conservação e Manejo de Recursos, Instituto Ecológico, Universidad de San André, La Paz, Bolivia, setembro de 2001. • Ensino de métodos de campo em etnobotánica e etnoecología aplicada para auxiliares indígenas de pesquisa, "Projeto Arumã" (INPA/ISA/OIBI), março de 2002. Siglas • FOIRN - Federação das Organizaçoes Indígenas do Rio Negro • FUNAI - Fundação Nacional do Indio • ISA - Instituto Socioambiental

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MMA- Ministério do Meio Ambiente OIBI - Organização Indígena da Bacia do Içana PRONABIO - Programa Nacional da Diversidade Biológica UFRJ - Universidade Federal de Rio de Janeiro

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Atividades de pesquisa Etnobiologia e variabilidade genética dos castanhais da Amazônia: Apresentação do problema Apesar da imensa importância sócio-econômica da castanheira-da-Amazônia (Bertholletia excelsa, Lecythidaceae), o conhecimento atual sobre sua variabilidade genética é muito limitado. Apenas dois estudos foram publicados (Buckley et al. 1988; Kanashiro et al. 1997) sobre genética populacional dessa espécie, ambos analisando poucas localidades e usando marcadores do genoma nuclear (isoenzimas e RAPD, respectivamente). Pouca diferenciação foi encontrada entre populações, provavelmente devido ao fluxo de pólen de longo alcance promovido por grandes abelhas (Nelson et al. 1985). Nada se sabe sobre a variabilidade genética do genoma não-nuclear dessa espécie. A castanheira é membro de um gênero botânico (Bertholletia) com uma só espécie, B. excelsa. Segundo estudos morfológicos de flor e fruto, o parente mais próxima de B. excelsa dentro das Lecythidacea seria um grupo de espécies do gênero Lecythis (Mori & Prance 1990). Mas a castanheira difere em um detalhe importante: emquanto todos os frutos do gênero Lecythis abrem naturalmente através da dehisciencia de uma espécie de tampa, o fruto ("ouriço") da castanheira é indehiscente. A parte externa do fruto é extremamente densa e lenhosa, e não flutua na água. A cutia e talvez o esquilo são os únicos animais capazes de abrir o ouriço da castanheira, e a cutia é o principal dispersor natural de sementes. As cutias roem e abrem o ouriço e carregam as sementes a uma certa distância da castanheira e enterram para guardar para o futuro. Se a cutia é morta por predadores naturais ou caçadores, ou se "esquece" onde foram enterrados, as sementes podem germinar contribuindo à regeneração nos castanhais. As cutias mantém um território muito pequeno, e geralmente não enterram sementes a mais de 300 metros da castanheira de origem (Peres & Baider 1997). Esses fatores devem por limites muito fortes sobre a dispersão natural de sementes de castanheira à longa distância. B. excelsa é distribuído por toda a Amazônia brasileira, mas sua distribuição não é contínua. A castanheira ocorre normalmente em agrupamentos (“castanhais”) densos

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ou dispersos separados uns dos outros por poucos até centenas de quilómetros. Os castanhais ocorrem exclusivamente nas matas de terra firme nas regiões de interflúvio. A distribuição dos castanhais nativos é um dos grandes mistérios da fitogeografia da Amazônia (Mori e Prance 1988; Balée 1989): são os castanhais de fato formações naturais, ou são antropogênicos? O objetivo principal deste projeto é realizar coleta de material genético de castanhais de diferentes regiões geográficas e de diferentes interfluvios das principais bacias hidrográficas na Amazônia. Essas coletas servirão para realizar estudos pioneiros sobre a genética nuclear e não nuclear (cpDNA) da castanha, a fim de melhorar os conhecimentos da genética populacional de B. excelsa, identificar os diferentes estoques genéticos dessa valiosa árvore e esclarecer esta antiga questão fitogeográfica. Dois modelos distintos, mas não excludentes, serão considerados para distinguir entre processos naturais e antropogênicos na origem dos castanhais: (1) Origem Natural: A dispersão natural dos propágulos da castanheira, seja pela ação da gravidade, seja pela cutia (Dasyprocta spp.), seu principal dispersor, é de curta distância, devendo resultar em considerável diferenciação no genoma do cpDNA (de transmissão materna) entre populações. Neste cenário, os fatores históricos (vicariantes) que promoveram o isolamento de populações de cutia também afetariam a diferenciação genética das populações de B. excelsa. Existem indícios de que grandes rios, como o Negro, Madeira e Tocantins, servem como limite de distribuição entre espécies de Dasyprocta (Emmons 1997). No caso de uma origem natural dos castanhais, os grandes rios também seriam barreiras ao fluxo de sementes de castanheira. Como resultado, os grandes interflúvios amazônicos abrigariam populações bem diferenciadas no tempo evolutivo, com a distribuição de haplotipos do genoma não-nuclear (cpDNA) estruturada geograficamente e representada por linhagens bastante antigas. (2) Origem Antrópica: No caso do Homem ter cumprido um papel predominante na radiação de material genético de castanha, os rios não funcionariam como barreiras ao fluxo gênico de sementes, mas provavelmente como rotas de distribuição das mesmas, por meio das redes de intercâmbio antigas entre povos indígenas (Lathrap 1973; Myers 1981). Neste cenário, esperaríamos encontrar uma ampla distribuição de haplotipos de cpDNA sem estruturação geográfica marcante, originados a partir de uma suposta

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população ancestral que teria expandido rapidamente nos últimos 15.000 anos, período aproximado da ocupação humana na Amazônia. Existiria pouca diferenciação genética de cpDNA da castanheira entre diferentes interflúvios, e a diversidade de haplotipos dentro de cada interflúvio representaria um sub-set do pool de haplotipos da população ancestral. Resultados Durante o período da bolsa o bolsista realizou expedições de coleta em sete diferentes regiões: Alter do Chão/Santarém (PA), os arredores da Terra Indígena UruEu-Wau-Wau (RO), nos arredores da Terra Indígena de Laje e na Reserva Extrativista Rio Ouro Preto perto de Guajará-Mirim (RO), Lago Amanã (AM), Lago Tefé (AM), Lago Uauaçú (AM) e Alto Rio Negro (AM). Foi feito um censo demográfico de densidade, diâmetro (DAP) e grau de exploração de mais de 200 indivíduos de castanheira nas áreas amastrais. Foram coletadas 130 amostras de folha/semente de castanheira para análises genéticas, e 20 amostras de solos em florestas com e sem castanheira de 6 das áreas para analizar possíveis fatores edáficos na distribuição da castanheira. Paralemente, o orientador Rogerio Gribel realizou coleta de material genético, solos e dados demográficos de castanheiras em Jarí de Amapá, a Floresta Nacional do Rio Trombetas (PA), Santa Isabel do Rio Negro (AM), Maués (AM), e no Baixo Purús (AM). Foram feito contatos para intercâmbio de informações e coleta de material genético no futuro breve em varias outras regiões: com o Territorio Indígena/Programa Waimiri-Atroari na região de Balbina e a BR 174 (AM/RR); com a Estação Biológica Pinkaití no Territorio Indígena Kayapó, Rio Xingú (PA), onde existe um castanhal de 28.5 Ha mapeado e dados demográficos e/ou fenológicos para aproximadamente 225 castanheiras (veja Peres & Baider 1997); com Carlos Peres (University of East Anglia, Englaterra) quem esta realizando censos demogrâficos de castanhais em Mato Grosso, Amazonas e outros regiões; e com o Proyecto Castañales de Puerto Maldonado, Madre de Dios, Perú, o limite sul-oeste da distribuição da castanheira. Veja Mapa 1 para uma visão da abrangência geográfica das coletas realizadas e planejadas. As análises genéticas estão sendo desenvolvidas no Laboratório de Genética de Plantas coordenado por Rogerio Gribel e Maristerra Lemes. As análises ainda estão em

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andamento, sendo demorando pelo fato de serem estudos pioneiros sobre a genética nãonuclear (cpDNA) da castanheira. Foi preciso aperfeiçoar a técnica de purificação de DNA e identificar os "primers" adequados, mas já que estes problemas já parecem ser resolvidos (M. Lemes, comunicação pessoal), os resultados começaram a sair nos próximos meses. Paralelamente, Rogerio Gribel está negociando com o IBAMA para a criação de uma plantação e banco de germoplasma de castanha, aproveitando de um recurso fornecido pela empresa Mineração Rio do Norte para reflorestar um castanhal que foi degradado na extração de minério. Alguns das sementes que foram coletados neste projeto, e outros a serem coletados, servirão para material de propagação neste projeto que poderia no futuro levar a um melhoramento genético da castanheira. Mesmo sem os resultados das análises genéticas, foi possível identificar alguns fatores que favorecem à teoria antropogénica dos castanhais. Nos estudos demográficos, foi muito raro encontrar castanheiras jovens ( 100 cm DAP) e muitos indivíduos jovens, especialmente na faixa de 10-60 cm DAP. Alguns destes castanhais parecem ser remanescentes de antigas roças, onde as castanheiras grandes foram possivelmente plantadas pelos habitantes antigos, e os indivíduos jovens representam regeneração natural. Os habitantes caboclos atuais apontaram vários castanhais plantados no passado recente, e mencionaram uma associação de castanhais “nativos” com terras pretas e terras com restos arqueológicos (“terra preta do índio”). Geralmente, os castanhais estavam associados com terras barrentas ou “terra preta de areia” (terra mista de areia com barro preto). As populações locais exploram a castanha para consumo próprio e para venda. No passado, extrativismo de castanha e seringa representava uma fonte de renda importante, mas hoje em dia as atividades turísticas, agricultura e produção de carvão tem prioridade para a população da região.

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Os castanhais em outras regiões mostraram uma estrutura populacional muito diferente. Por exemplo, as florestas ao redor do Território Indígena Uru-Eu-Wau-Wau são principalmente florestas primarias que não foram habitados pelos Uru-Eu até recentemente (eles habitavam o coração do Território e só vieram ocupar as margens para poder controlar a entrada e expulsar invasores). A densidade de castanheiras é muito menor, com uma média de um indivíduo por Ha nas áreas em que ocorre. Muitos indivíduos são maiores a 100cm DAP, e alguns chegam a ultrapassar 200 cm. Só um indivíduo menor de 40 cm DAP foi observado na beira de uma estrada. Os índios UruEu-Wau-Wau mencionam uma associação entre castanheiras e “terra roxa,” uma terra argilosa de cor avermelhado. A castanha é um alimento importante e apreciado na estação que caem os ouriços. Os Uru-Eu-Wau-Wau ainda não comercializam a castanha em quantidades significativas. A árvore da castanheira tem um papel importante na mitologia Uru-Eu-Wau-Wau, associada com a figura mitológica da “cobra grande” e a origem da agricultura. No oeste de Rondônia, perto de Guajará-Mirim, a atual Reserva Extrativista Rio Ouro Preto era o antigo território dos índios Wari' ou Pacaas Novos. Contem um castanhal muito extenso e difuso, com 1 a 4 indivíduos por Ha que cobre provavelmente mais de 50,000 Ha. Também foram observados pouquíssimos indivíduos jovens, sempre perto de clareiras. Os índios Wari' ocupavam esta região até aproximadamente 1960, quando essa tribo muito guerreira foi pacificada depois de longos anos de guerra com a população de Guajará-Mirim sobre acesso a terras e recursos como seringa e castanha. A castanha era, e ainda é um recurso muito importante para os Warí. Cada castanhal é aproveitado tradicionalmente por uma família. Quando um membro da família morre, os sobreviventes queimam todos os bens da pessoa para destruir lembranças materiais da pessoa querida e dessa forma esquecer o mais rápido possível as memórias tristes da pessoa morta (Conklin 1995). Como parte dessa tradição funerária, a família do morto volta para o castanhal familiar para roçar e queimar as arvores pequenas no lugar e queimar todos os ouriços quebrados que ficaram no chão. Dessa forma, transformam a aparência visual do castanhal e eliminam as evidências materiais (os ouriços quebrados) de todos os tempos bons passados com a pessoa amada no castanhal, para não ficar triste cada vez que volta. Além de seu significado cultural, e tomando em conta o aparente

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efeito positivo de incêndios na regeneração de castanheiras observado em Alter do Chão, é provável que essas práticas ao longo de centenas de anos de ocupação dos Wari' contribuíam para a considerável densidade e grande extensão de castanhais na região. Atualmente, os Wari' habitam regiões vizinhas e a Reserva Extrativista é explorada principalmente pelos "Soldados da Borracha" e seus descendentes. Eles também facilitam o crescimento e a regeneração das castanheiras, limpando castanheiras adultas de cipós e plantando castanheiras nas suas roças. Um trabalho realizado na Ponta da Castanha no Lago Tefé (AM) demostra a facilidade com que castanhais podem ser enriquecidas e manejadas por populações tradicionais. Ponta da Castanha era um castanhal pequeno de aproximadamente 40 indivíduos quando foi comprado em 1940 por um imigrante peruano. Ao longo dos últimos 60 anos, "O Peruano" e seu filho Seu Antonio vem manejando o castanhal, limpando o sub-bosque para facilitar regeneração natural e experimentando com a germinação e transplante de sementes, tanto em áreas de floresta como em roças abandonadas. Ponta de Castanha tem atualmente aproximadamente 300 castanheiras numa área pequena de tal vez 20 Ha, e deu uma renda de aproximadamente 4000 reais para a família residente no ano 2000. No Rio Içana, afluente do Alto Rio Negro, fora da distribuição natural da castanheira, foi observada uma castanheira produtiva numa comunidade indígeana Baniwa. A árvore foi plantada há mais de 20 anos por um membro da comunidade quem trouxe sementes ou plántulas da Missão de Assunção do Içana, onde tem uma plantação de castanheiras trazidas da região de Santa Isabel, onde ocorrem castanhais naturais . Na Reserva Amanã, o castanhal Urumutum é associado a uma grande "terra preta de índio" da comunidade Boa Esperança, onde foi encontrado uma grande coleção (200 ou mais) de urnas funerárias de origem pre-Columbiana. Como resultado de um relatório breve escrito pelo bolsista e encaminhado ao IPHAN (veja CV anexado, 2001), o IPHAN entrou numa parcería com a Associação Mamirauaá/Reserva Amanã para estudar este sítio arquelógico importante e desconhecido. Os dados até agora coletados em conjunto com algumas informações publicadas oferecem evidências indiretas para possíveis influências antrópicas na distribuição atual de castanhais na Amazônia. A morfología do fruto (ouriço) impõe limites fortes sobre a

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dispersão natural de sementes, mas mesmo assim, a castanheira é distribuída descontinuamente pela Amazônia brasileira enteira. Perturbação e fogo, claramente associados à intervenção humana, parecem facilitar a regeneração de plántulas, que parece ser quase nulo em castanhais naturais estabelecidos em florestas de terra firme. A castanha é uma fonte de alimento muito apreciada por populações tradicionais, e foram documentados diferentes casos de manejo, enriquecimento e plantação de castanhais por comunidades tradicionais atuais, e uma associação entre castanhais e algumas áreas de "terra preta do índio" e sítios arqueológicos. Peres & Baider (1997) demonstram que a distribuição espacial de castanheiras dentro de um castanhal pode ser explicado somente pela ação da cutia. Mas este dado não exclui a possibilidade do que o Homem pode ter aumentado a densidade de castanhais naturais ou expandido a distribuição da castanheira por via de açoes diretas (transplante, manejo de castanhais, dispersão de longa distância de sementes) e indiretas (perturbação e fogo associados à agricultura, caça de cutias). Fazendo um pouco de especulação, poderíamos imaginar que em algum momento da evolução do gênero Lecythis, algumas populações apresentaram uma mutação que eliminou a dehiscência do ouriço e formando a atual espécie B. excelsa. Esta espécie teria sido dispersa naturalmente talvez via co-evolução com a cutia dentro de uma determinada região da Amazônia até a chegada do Homem. Reconhecendo o valor deste alimento, os antigos povos indígenas teriam manejado os castanhais, causado impactos indiretos que facilitaram a formação de novos castanhais e levada sementes através da Amazônia brasileira enteira. Agora cabe às análises genéticas para tratar de confirmar este hipóteses. Atualmente tem duas publicações em preparação como resultado dessas pesquisas. Em primeiro lugar, uma reavaliação do hipóteses da origem antropogénica dos castanhais tomando em conta os dados coletados e outras pesquisas relevantes. Este trabalho está sendo desenvolvido pelo bolsista em colaboração com Rogerio Gribel e a arqueóloga Patrica Lyon da Universidade de California, Berkeley (USA). Pensa-se submeter o trabalho à revista Economic Botany no ano 2002. O segundo trabalho em preparação esta sendo realizado em colaboração com Carlos Peres (University of East Anglia, UK), uma análise da demografia e distribuição de diâmetros de castanheiras em diferentes regiões da Amazônia, a ser submetido à revista Nature. Quando houver

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resultados de análises genéticas, será publicada uma série de artigos sobre a variabilidade genética de castanheira e suas aplicações para uma série de questões teóricas e assuntos práticos por exemplo o manejo, conservação e melhoramento genético de castanhais. A realização das pesquisas originalmente propostas foi atrapalhada por alguns problemas. Primeiramente, o financiamento do PPI não foi liberado no ano 2001, principal ano de coleta de dados, assim que não houve dinheiro para pagar passagens, diárias para os guias locais, outros custos de campo ou para compra de material de laboratório. Para compensar essa falta de recursos, o orientador e o bolsista submeteram propostas para financiamento da pesquisa ao CNPq em duas ocasiões através de diferentes editais, mas nenhuma das duas propostas foi aprovada. Por causa disso, as viagens ao campo foram feitas aproveitando de viagens dentro de outros projetos financiados. Finalmente, tanto o bolsista como o orientador Rogerio Gribel realizaram consultas com o Departamento de Pesquisa da FUNAI em Brasília, com a intenção de presentar e aprovar a proposta de pesquisa em áreas indígenas segundo os regulamentos da FUNAI. Mas o funcionario encarregado apresentou um cenário bastante pessimista, explicando que a Medida Provisória sobre aceso a recursos genéticos estava sendo interpretado da forma mais restritiva pelo departamento, e que um projeto de pesquisa dessa natureza tinha pouca chance de ser aprovado no curto prazo. A proposta original da bolsa incluía estudos sobre o manejo tradicional, a etnobiologia e os conhecimentos tradicionais sobre castanhais e castanheiras de diferentes povos indígenas da Amazônia. Como resultado da consulta com FUNAI, os aspectos etnobiológicos da pesquisa foram marginalizados, e o trabalho com povos indígenas foi bastante limitado. Continuação do projeto A próxima etapa do projeto envolve trabalho de laboratório e coletas adicionais no campo. Como o bolsista tem perspectivas para uma bolsa DTI no âmbito do projeto arumã, e também vai se candidatar para o concurso do INPA, foi decidido que a melhor forma de dar continuidade à pesquisa da castanha seria manter a bolsa DTI vinculada ao PPI para uma nova bolsista trabalhando no laboratório para adiantar os trabalhos genéticos que são críticos para a conclusão do projeto de pesquisa. Financiamento em negociação para o projeto de banco de germoplasma de castanha incluirá viagens ao campo para coletar material adicional para preencher lacunas na amostragem geográfica.

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Etnobotânica e sustentabilidade socioambiental de arumã Apresentação do Problema: Como resultado de contatos feitos durante o Encontro de Macapá de 1999, o bolsista foi convidado para participar em fevereiro de 2001 numa avaliação preliminar de etnobotânica e sustentabilidade socioambiental da extração e comercialização de artesanato de arumã (Ischnosiphon spp.) entre povos indígenas do Alto Rio Negro. O relatório produzido (Shepard, da Silva & Brazão 2001) serviu para a formulação do plano de negócios do projeto ArteBaniwa, uma parceria entre a Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI), a Federação de Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e o Instituto Socioambiental (ISA). Através do projeto ArteBaniwa, artesãos indígenas hoje vendem sua produção diretamente para o mercado em grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, sem intermediários e com valor cultural e ambiental agregados. Esta parceria representa uma oportunidade econômica inédita para a região, onde historicamente os povos indígenas foram escravizados ou explorados por mecanismos extorsivos, onde caça, pesca e produtos agrícolas e extrativistas (às vezes explorados de forma não sustentável) eram trocados a preços mínimos por bens industrializados numa cadeia de endividamento sem fim. Embora o projeto Arte Baniwa represente uma experiência pioneira que oferece benefícios econômicos e culturais, também acarreta impactos ecológicos e socioeconômicos ainda não completamente avaliados. Por exemplo, a produção de centenas de dúzias de cestaria por ano desde 1998 vem provocando intensidade e constância de extração inéditas de matéria prima nas comunidades envolvidas. Alem disso, a demanda para as peças extrapola a produtividade anual das comunidades atualmente participantes, resultando numa pressão para aumentar a produção por artesão e o número de artesãos e comunidades envolvidas. As comunidades indígenas vivem principalmente da agricultura familiar em pequena escala e da caça, pesca e coleta de produtos florestais, atividades vitais que impõem limites sociais à produtividade dos artesãos. Artesãos produtivos recebem uma renda significativa que é utilizada para comprar bens básicos como roupas, ferramentas de trabalho, sabão, e sal, assim como anzóis, redes de pesca, armas de fogo, munição e outras tecnologias importadas que tendem a aumentar o impacto ecológico das atividades tradicionais de caça e pesca. A

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falta de matéria prima em algumas comunidades dificulta a produção de artesanato, resultando em demanda para manejo ou plantio de arumã ou a formulação de outras alternativas econômicas. Essas considerações levaram o projeto Arte Baniwa a procurar parcerias técnicas com ISA e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA, Manaus) para realizar, nos anos 1999 a 2000, investigações preliminares sobre a etnobotânica, botânica econômica e ecologia de arumã, o manejo agronômico da espécie em plantações experimentais, e estudos de mercado e viabilidade econômica (Ricardo & Fernando 2001). Esses estudos foram realizados, em parte, com apoio financeiro do Ministerio do Meio Ambiente. Resultados Arumã, nome botânico comum de origem Tupi, refere-se a um conjunto de espécies de ervas do gênero Ischnosiphon (Marantáceas) que ocorre amplamente nos trópicos húmidos da América. Nessa vasta região, várias espécies botânicas de arumã são utilizadas por diversos povos indígenas e ribeirinhos como matéria prima para a fabricação de utensílios domésticos e artesanato decorativo, especialmente cestaria (Ribeiro 1980). O artesanato de arumã ocupa lugar central na vida dos povos indígenas do Rio Negro (Ricardo & Martinelli 2000). Objetos de arumã tais como tipiti (espremedor de massa de mandioca), peneiras, abanos, balaios e cestos de diferentes formas e tamanhos são peças indispensáveis na economia de subsistência, principalmente na elaboração de alimentos à base de mandioca. O arumã também tem um papel importante no ciclo de agricultura e manejo agroflorestal, já que as principais espécies de arumã utilizadas no artesanato fazem parte da regeneração natural de florestas em roças e capoeiras. Há décadas, comunidades indígenas da região comercializam objetos de arumã para o mercado regional, por meio de diferentes intermediários. Com resultado das pesquisas de campo feitos pelo bolsista Shepard e outro pesquisador participante (veja Hoffman 2001a, b) foram identificadas seis espécies diferentes de Ischnosiphon reconhecidas pelos artesãos indígenas, das quais duas predominam no artesanato: I. arouma (‘poapoa’ em idioma Baniwa) e I. obliquus (‘halepana’). Também foram identificadas mais de 20 outras espécies (tintas, fixadores, resinas, fibras, etc.) de diversas famílias botânicas utilizadas na produção de artesanato.

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Amostras botânicas foram coletadas, identificadas e depositadas no herbário do INPA com o consentimento prévio de FOIRN/OIBI. Trabalhos de mapeamento participativo em 11 comunidades demostraram a diversidade de ambientes ecológicos na região, e seus efeitos sobre a disponibilidade de diferentes espécies de matéria prima. Onde ocorrem, as duas espécies principais de arumã são muito abundantes em função de sua facilidade em se estabelecer em áreas perturbadas, especialmente roças abandonadas. Varias experiências locais de manejo por artesãos foram documentadas. Artesãos forneceram uma estimativa do tempo e da matéria prima utilizados por peça. Segundo esses dados, a comercialização de aproximadamente 560 dúzias de cestos durante o ano passado resultou na extração de 100,000 ou mais canas de arumã em 11 comunidades. Cada dúzia representa 50 a 100 horas de trabalho, e o artesão pode dedicar 40% ou mais de seu tempo útil na produção de artesanato para completar uma encomenda (Shepard, da Silva & Brazão 2001). Apesar desses dados indicarem um impacto considerável em termos ecológicos e sociais, os artesãos ainda não percebem falta de matéria prima, e consideram o artesanato um trabalho prazeroso, bem remunerado, e compatível com outras atividades produtivas e sociais. Levantamentos quantitativos preliminares em populações de arumã exploradas e não exploradas sugeriram que o grau de exploração atual é sustentável no curto prazo (Shepard, da Silva & Brazão 2001), fato refletido também nas atitudes dos artesãos (Hoffman 2001a). No entanto, estudos mais detalhados seriam necessários para entender a ecologia e regeneração das plantas e monitorar os impactos ecológicos e sociais ao longo prazo. Um plot experimental de 40 touceiras foi estabelecido para medir o impacto de diferentes graus de exploração (4 tratamentos: 0%, 25-33%, 50-66%, 100% das canas maduras) ao longo dos próximos anos. O bolsista em colaboração com Rogerio Gribel e Pieter van der Veld (ISA) esta preparando uma publicação resumindo os trabalhos feitos sobre arumã a ser submetidos à revista Economic Botany ou Journal of Ethnobiology. Como resultado deste contato preliminar com ISA e OIBI, foi desenvolvida uma parceria mais elaborada. Rita Mesquita e Rogerio Gribel do INPA colaboraram com o bolsista e representantes de OIBI e ISA na formulação de uma proposta de estudos mais detalhados sobre a biologia, ecologia, etnobotânica e sustentabilidade socioambiental do

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arumã. A proposta foi submetida ao CNPq no âmbito do edital "Agricultura Familiar" e aprovada para os anos 2000-2002. Este projeto visa dar subsídios científicos e técnicos para a produção e comercialização sustentável de artesanato indígena de arumã na região do médio e alto rio Negro. Por meio de estudos interdisciplinares desenvolvidos por cientistas nacionais e estrangeiros, alunos de pós-graduação e auxiliares indígenas treinados, pretende-se promover o desenvolvimento de um sistema estável, participativo e auto-gerido de produção, minimizando possíveis impactos socioeconômicos e ecológicos negativos. Os objetivos específicos incluem: caracterizar a fenologia e biologia reprodutiva das principais espécies de arumã; avaliar a influencia de fatores ecológicos e grau de exploração sobre abundância relativa de diferentes espécies de arumã; estimar a capacidade produtiva de arumã e taxas de extração sustentável; ampliar o banco de dados sobre etnobotânica de arumã e espécies associadas; treinar auxiliares indígenas de pesquisa; e propor e investigar alternativas econômicas nas comunidades onde existe falta de arumã.

Outras Atividades: Além das atividades principais do projeto, o bolsista desenvolveu varias atividades profissionais envolvendo pesquisas realizadas anteriormente mas associadas ao tema da bolsa. Participou em vários congressos nacionais e internacionais, apresentando trabalhos sobre a etnobiologia e etnografia de populações indígenas amazônicos. Escreveu e submeteu uma série de artigos para publicação em revistas profissionais ou livros editados sobre etnobotânica, etnomedicina e etnoecologia de índios da Amazônia peruana. Participou na banca de três teses da Ecologia (CEPEC) no INPA e desenvolveu parcerias para futuros trabalhos com pesquisadores do INPA e outras instituições.

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