RELATÓRIO FINAL DO PROJETO PARA CONSTATAÇÃO E RESGATE DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO NA ÁREA DAS OBRAS DE REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA TIRADENTES, EM CURITIBA, PARANÁ

June 7, 2017 | Autor: Igor Chmyz | Categoria: Arqueología histórica
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO PARA CONSTATAÇÃO E RESGATE DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO NA ÁREA DAS OBRAS DE REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA TIRADENTES, EM CURITIBA, PARANÁ

Processo licitatório n. 110/2007 - Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba. Vencedora da licitação: Fundação da Universidade Federal do Paraná para Desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Cultura.

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Portaria autorizatória n. 07/2008, Anexo II - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Executor do projeto: Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná. Coordenador: Igor Chmyz

Curitiba, 14 de julho de 2010

Rua General Carneiro, 460 - 12º andar - Ed. Dom Pedro I - CEP: 80060-150 Telefone: (41) 3360-5123 Caixa Postal 2093 - CEP: 80011-970 - Curitiba - PR Site: http://www.humanas.ufpr.br/orgaos/cepa - E-mail: [email protected]

SUMÁRIO

Introdução ..............................................................................................................1 Considerações históricas sobre a Praça Tiradentes e sua Cidade .................5 Atividades de campo do projeto arqueológico ................................................18 Atividades de laboratório ...................................................................................21 O registro do patrimônio arqueológico ............................................................21 Considerações sobre o acervo e o seu significado ........................................74 Considerações sobre os impactos sofridos pela Praça Tiradentes à luz da documentação e da pesquisa ............................................................................84 Considerações finais ..........................................................................................91 Referências ........................................................................................................101

ANEXOS I. Procedência das rochas nas ruínas de São Francisco e calçadas antigas da Praça Tiradentes em Curitiba (texto e painel)..............................106 Antonio Liccardo Eleonora M. G. Vasconcellos Igor Chmyz II. Estudo da variabilidade das louças e vidros da Praça Tiradentes, Curitiba................................................................................................................109 Jacquelin R. Tellez Clara L. Fritoli Luís C. P. Symanski Igor Chmyz Roseli S. Ceccon III. Implantação de mostra museológica na Praça Tiradentes em Curitiba, Paraná..................................................................................................116 Igor Chmyz

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO PARA CONSTATAÇÃO E RESGATE DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO NA ÁREA DAS OBRAS DE REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA TIRADENTES, EM CURITIBA, PARANÁ.

Introdução O contido no presente relatório conclusivo refere-se às pesquisas arqueológicas emergenciais realizadas durante as obras de revitalização da Praça Tiradentes em Curitiba, Paraná, entre janeiro e julho de 2008. A Praça Tiradentes está localizada no Setor Histórico da Cidade, atualmente delimitada pelas extensões das ruas Cruz Machado, José Bonifácio, Cândido de Abreu e do Rosário, entre as coordenadas UTM 0673772-7186375, 06738017186327, 0673887-7186343 e 0673870-7186418. Com Indicação Fiscal nº 11.064.001, o logradouro compreende uma área com 7.081,98m², situando-se aos 908m sobre o nível médio do mar no lado norte e aos 907m no sul. Os trabalhos arqueológicos foram iniciados após a emissão, pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Curitiba – SMMA-, da Ordem de Serviço nº 647/2007 (21.12.2007). Essa liberação resultou do Processo Licitatório nº 110/2007, promovido pelo mesmo órgão municipal, do qual foi vencedora a Fundação da Universidade Federal do Paraná para o Desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Cultura – Funpar. Em consequência, coube ao Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – CEPA/UFPR-, o estruturador da proposta apresentada pela Funpar para a Comissão Permanente de Licitação, o desenvolvimento do projeto. Anteriormente, quando a SMMA programava-se para a implantação das obras de revitalização da Praça Tiradentes, uma reunião foi convocada pelo seu secretário, José Antônio Andreguetto, para a discussão de questões relacionadas ao patrimônio arqueológico e histórico porventura existente naquele espaço; visava a coleta de sugestões preventivas ao impacto que sobre ele poderia advir com as obras de engenharia civil. Realizada em 9 de maio de 2007, da reunião participaram, além do secretário mencionado, o diretor de Parques e Praças, Sergio Galante Tocchio, a coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura do Paraná, Rosina Coeli Alice Parchen, o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Paraná – 10ª SR/Iphan-, José La Pastina Filho e o então diretor do CEPA/UFPR, Igor Chmyz. A título de colaboração, ainda, amostras de solo retiradas de vários pontos da Praça pela Solotécnica C.I.S. Geotecnia e Fundações Ltda., a partir de 20 de junho de 2007, foram analisadas nos laboratórios do CEPA/UFPR pelo pesquisadorassociado Clovis Justino da Silva, que revelaram, em algumas delas, evidências arqueológicas. Com a liberação da Ordem de Serviço pela SMMA, documentação do projeto de arqueologia foi encaminhado à 10ª SR/IPHAN/PR, visando a sua autorização. Na Portaria Autorizatória nº 07/2008-Anexo II do órgão, Igor Chmyz foi confirmado como seu coordenador e o CEPA/UFPR a instituição executora.

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Para efeito de registro e de adequação dos procedimentos sequentes de pesquisa, a área da Praça Tiradentes foi considerada como uma unidade ou componente do sítio PR CT 71: Curitiba. Antevendo a multiplicação das abordagens arqueológicas no espaço delimitado como Setor Histórico de Curitiba, este correspondente ao núcleo central que deu origem à Cidade e que se mostrou pouco expandido até o terceiro quartel do século XIX, conforme demonstra a planta de Taulois (de 1857 ou 1862), o CEPA/UFPR adotou, para o registro das ocorrências nesse perímetro, a sigla PR CT 71:Curitiba. A essa sigla foram então relacionadas, como unidades de pesquisa, terrenos, logradouros ou trechos de vias estudados. Dentro desse critério, por exemplo, as abordagens realizadas em trecho da rua Nestor de Castro no ano de 2000, foram registradas como vinculadas ao sítio PR CT 71, tendo como unidade referencial o nome da rua. Escavações posteriores, que se ativeram a terrenos delimitados na rua Mateus Leme, foram cadastrados como pertencentes ao sítio PR CT 71:Curitiba, com as respectivas identificações dos lotes urbanos: Rua Mateus Leme nº 39 e Rua Mateus Leme nº 56, respectivamente. Os trabalhos desenvolvidos durante a atual pesquisa receberam, portanto, a sigla PR CT 71: Curitiba – Praça Tiradentes. Caso nessa área ou nas outras rotuladas com a mesma sigla ocorressem evidências de ocupações relativas a povos indígenas não relacionados ao contexto arqueológico-histórico de Curitiba, elas seriam registradas com siglas próprias porque, apesar de ocuparem o mesmo espaço, estariam dele afastados temporalmente. Uma situação diferenciada, que poderá se repetir à medida em que novas pesquisas forem desenvolvidas, refere-se ao sítio PR CT 1: Rio Bacacheri, abordado em 1964 na parte leste do Município de Curitiba. Recebeu essa sigla porque, embora se relacionasse historicamente ao núcleo histórico de Curitiba, dele distava consideravelmente, constituindo uma ocupação isolada. Iniciadas em 16 de janeiro de 2008, as pesquisas na Praça Tiradentes foram executadas em tempo integral pelo seu coordenador e Jacquelin Rodriguez Tellez, Clara Landin Fritoli e Roseli S. Ceccon, pesquisadoras-associadas do CEPA/UFPR. Alunos e ex-alunos das disciplinas de arqueologia nos vários cursos da UFPR, dentro das suas disponibilidades de tempo, participaram de atividades de campo e laboratório do projeto, exercitando-se e afirmando os conhecimentos adquiridos em sala de aula. No arrolamento de seus nomes, foi obedecida a ordem decrescente de frequência: Angelina Matiussi Vilela, Morgana de Brito Lopes, Patrícia Fidalgo, Carlos Eduardo Macagi, Daniel Augusto Arpelau Orta, Beatriz de Brito Bandeira, Maicon Fernando Marcante, Walter Ricardo Klass, Letícia Woss, Aguinaldo Marcelino, Renan Arioli Bergamaschi, Ricardo R. Braga, Renata de Godoy, Claudia Bibas do Nascimento, Ana Goberlini, Elenita Rufino e Maria Aparecida Gomes. As duas primeiras, que aplicaram 170 horas de seu tempo nos trabalhos, aproveitaram-nas também como Estágio Supervisionado, uma disciplina do curso de Geografia na Universidade. Jonas Elias Volcov e Eloi Bora, pesquisadores-associados do CEPA/UFPR, colaboraram nas pesquisas, o primeiro coletando dados topográficos para a localização das estruturas evidenciadas na planta da Praça e, o segundo, nas escavações.

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O já mencionado Clovis Justino da Silva, encarregou-se da paciente leitura do periódico Dezenove de Dezembro, do século XIX. No início dos trabalhos, dois operários foram disponibilizados pela Empreiteira EMPO para auxiliar a equipe de arqueologia; eram estes constantemente substituídos, acarretando dificuldades quanto à percepção da natureza da operação. Quando estruturas antigas começaram a ser evidenciadas no espaço, operários da própria SMMA foram destacados para ajudar nas tarefas de remoção de terra, escavação e limpeza dos calçamentos encontrados. A eles se deve, também, a celeridade das operações; os nomes desse grupo chefiada por Daniel Pereira de Matos, estão arrolados por ordem alfabética: Alaor Leal, Deolindo Polidoro Neto, Euclides Freires da Silva, João Batista Ewangelista, Joaquim Ribeiro, Mamédio José de Souza e Samuel Pinheiro dos Santos. O entrosamento entre as equipes de arqueólogos e de operários foi harmônico contando, a primeira, com a compreensão e paciência do mestre de obras José Fernandes Caetano diante da necessidade da interrupção de alguma frente de trabalho até que a ocorrência arqueológica evidenciada pelas máquinas recebesse atendimento urgente e especializado. A presença dos arqueólogos em campo, por isso, sempre coincidiu com a dos operadores de máquinas e demais trabalhadores. O inimigo comum às duas equipes foi a chuva que em várias ocasiões motivou a paralisação dos trabalhos e, por três vezes, provocou a sedimentação dos trechos com estruturas antigas preparadas para a exposição permanente; a última aconteceu poucos dias antes da inauguração das obras, exigindo esforço redobrado de todos, inclusive para a desumidificação daqueles espaços já cobertos com vidros. Até a véspera da inauguração da Praça revitalizada, devido ao excesso de umidade no solo, os vidros da exposição arqueológica permaneciam embaçados, não possibilitando a visualização das estruturas. Para sanar emergencialmente o problema, aquecedores elétricos foram providenciados pelo diretor de Parques e Praças; logo depois, os aquecedores foram substituídos por exaustores que se mostraram mais eficientes para o caso. Entrosamento harmônico houve, também, entre os arqueólogos e os técnicos da SMMA, que acompanhavam com vivo interesse o desenvolvimento das pesquisas. A descoberta das estruturas antigas, uma possibilidade aventada durante a reunião de 9 de maio de 2007, motivou a alteração parcial do projeto original da revitalização, com a inclusão dos espaços selecionados para exposição permanente, onerando o orçamento previsto para a obra. Para a concretização desse acréscimo empenharam-se os arqueólogos, mas, principalmente, o secretário da SMMA e o diretor já referido, além de Denise Mitiko Murata e Loreley Motter Kikuti, da mesma Secretaria. Embora o espaço da Praça estivesse cercado por tapume desde o início das obras, transeuntes adentravam frequentemente pelo portão de serviço. Movia-os a curiosidade pelas descobertas arqueológicas e a expectativa de confirmação da existência do “cemitério”, dos “túneis” e de outras crendices que povoam o imaginário da população curitibana. A percepção das estruturas calçadas pelos populares chegou ao conhecimento da mídia, desencadeando romaria de repórteres locais e de outros estados e, com a divulgação das matérias, uma afluência de curiosos que dificultava a continuidade dos trabalhos. Sentiu-se, por outro lado, que o interesse demonstrado por todos com a história da Praça, confirma o papel que o mais antigo logradouro da Cidade

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desempenha no cotidiano dos curitibanos do presente, assim como o foi no passado. As obras de revitalização foram inauguradas no começo da noite do dia 27 de julho de 2008, com grande afluência de populares que, ao retomarem o seu espaço secular, puderam constatar, nas exposições envidraçadas e iluminadas, os vestígios da primeira urbanização do logradouro transitada pelos moradores de Curitiba há 122 anos. Tendo as pesquisas de campo extrapolado o tempo a elas destinado na programação do projeto, em virtude da constatação das estruturas antigas e, a oportunidade surgida de se incluírem trechos do seu traçado no novo visual da Praça, houve prejuízo, dentro do prazo de vigência do contrato, para o estudo do material arqueológico recuperado durante os trabalhos, bem como para a coleta de dados existentes em bibliotecas e arquivos. Após a inauguração e, até o mês de setembro de 2008, ainda com a participação de uma parte da equipe, o material coletado foi higienizado, marcado e preparado; com ele foi praticado uma análise e arrolamento preliminares, chegandose a esboçar um relatório. Havia, porém, carência de análises mais aprofundadas do material arqueológico e de dados históricos que possibilitassem o entendimento dos acontecimentos naquele espaço público. Para que isso fosse alcançado, com equipe reduzida a dois pesquisadores dispondo apenas do tempo subtraído de outros projetos em andamento, transcorreram muitos meses. A pesquisa documental foi a mais prolongada e exigiu consultas a fontes existentes de forma esparsa na Biblioteca Pública do Paraná, Arquivo Público do Paraná, Círculo de Estudos Bandeirantes, no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e Fundação Cultural de Curitiba, a cujas diretorias e atendentes agradece-se neste momento. Este relatório conclusivo é constituído por itens que tratam da história da Praça e seu contexto, dos procedimentos de campo e laboratório, do material e seu significado, dos impactos sofridos pelo logradouro no passado e, das conclusões. Comporta, ainda, na forma de anexos, os resultados das análises petrográficas procedidas por Antonio Liccardo e Eleonora M. G. Vasconcellos, do Laboratório de Minerais e rochas da UFPR, da análise preliminar das louças e vidros, estudo que contou com a colaboração de Luís Cláudio Pereira Symanski, do CEPA/UFPR, e da musealização dos espaços selecionados na Praça. Os dois primeiros anexos correspondem aos textos apresentados durante reuniões científicas, o primeiro junto ao 44º Congresso Brasileiro de Geologia, em São Paulo e, o segundo, ao 6º Encontro da Sociedade de Arqueologia Brasileira – Regional Sul, em Tubarão, Santa Catarina; ambas as apresentações ocorreram no mês de outubro de 2008. A par dos subsídios fornecidos por obras de arqueólogos e historiadores, especialistas foram consultados para o esclarecimento da função de algumas peças do acervo recuperado. Nesse sentido, agradecimentos são externados a Marcos A. de Mattos Albuquerque, Adler Homero Fonseca de Castro, Rosina Coeli Alice Parchen e Margarida Davina Andreatta.

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Considerações históricas sobre a Praça Tiradentes e sua Cidade A Praça Tiradentes está localizada no Setor Histórico de Curitiba, sendo limitada pela rua Cruz Machado ao norte, rua José Bonifácio a leste, rua Cândido Lopes ao sul e rua do Rosário a oeste. O logradouro teve várias denominações. Como núcleo inicial da ocupação, era conhecido como Páteo ou Largo da Matriz; em 1880, em decorrência da visita do Imperador, passou a ser chamado de Praça D. Pedro II; com a Proclamação da República em 1889, ao sabor das novas tendências políticas, mudou para Praça Tiradentes. Quando das primeiras incursões quinhentistas, o planalto curitibano era habitado por índios pertencentes às famílias linguísticas Jê e Tupi-guarani; no século seguinte, a ocupação do planalto por faiscadores oriundos do litoral paulista e depois do paranaense resultou no recuo dos Jê e, devido ao contato continuado, a miscigenação e a interação cultural com os Tupi-guarani. O serviço de mineração era exercido principalmente pelos “...aborigenes administrados [aprisionados] em guerras defensivas justas e humanitarias, ou então, por índios descidos de suas aldeias, por suas proprias vontades, para virem residir com os homens civilisados.” (Negrão, 1936:236). Dos pequenos arraiais formados na região pelos exploradores de ouro de aluvião na primeira metade daquele século, saíram pessoas que formaram o povoado no terreno situado entre os ribeirões da Villa (Ivo, mais tarde) e Belém, a base da atual Cidade de Curitiba. Os documentos conhecidos, referentes à primeira metade do século XVII, resumem-se a uma concessão de sesmaria a Matheus Luiz Grou, em 12 de dezembro de 1639, junto ao ribeiro Juruqui-Mirim e à descoberta de ouro pelo Capitão de Canoas de Guerra Eleodoro Ébano Pereira, na mesma época (Westphalen, 1993:60). A este teria sido concedida também uma sesmaria, em 1648, pelo Capitão Mor de São Vicente. A sesmaria de Grou estaria localizada nas cabeceiras do rio Passaúna (Ritter, 1982:222), entre os atuais municípios de Campo Magro, Almirante Tamandaré e Curitiba. A posição exata da sesmaria de Pereira não é conhecida uma vez que o seu registro ainda não foi encontrado. Baseados nas informações de Auguste de Saint-Hilaire que visitou Curitiba em 1820 (1978:69) e na memória de Antonio Vieira dos Santos de 1850 (1951:35), historiadores como Julio E. Moreira (1972:77) e Ruy C. Wachowicz (1993:7), entre outros, mencionam uma Vila ou Vilinha que existiria na margem do rio Atuba. Dela teriam saído os formadores da vila implantada no espaço da atual Praça Tiradentes. A data dessa transferência varia de 1641 a 1654 nas diversas abordagens históricas. Conforme lenda, a imagem de Nossa Senhora da Luz entronizada na Capela que lá existiria “...aparecia todas as manhãs com os olhos voltados para o sítio onde hoje se ergue Curitiba.” (Saint-Hilaire, 1978:69). O local da nova vila teria sido indicado por cacique dos índios que habitavam os campos de Tindiquera (Santos, 1951:35-Nota 44). Após esses acontecimentos, a Vilinha passaria a ser lembrada como Vila Velha ou Vila dos Cortes. Uma referência a esse local foi encontrada por Julio E.

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Moreira em escritura de venda de um terreno localizado entre o rio Atuba e a paragem chamada Vila Velha, datada de 12 de dezembro de 1778 (1972:141). 1 O historiador Francisco Negrão, entretanto, em nota de rodapé ao verbete “Pelourinho de Curitiba” de Ermelino de Leão (1926:1.941), põe em dúvida a existência da Vila do Atuba, alegando a falta de documentos que deveriam emanar de uma câmara de vereadores, assim como de registros eclesiásticos. A mesma opinião é reiterada por Negrão em publicação posterior (1936:222). Pesquisadores modernos, porém, admitem que vilas “foram criadas pelos próprios moradores, ainda que sujeitas à confirmação real, da qual, (...), dependia a validade da criação” (Westphalen, 1995:105). Com relação ao núcleo da Praça Tiradentes, documentos foram produzidos em 1668 e 1693, por ocasião da ereção do seu Pelourinho e para criação das Justiças, respectivamente. O primeiro Livro de registros eclesiásticos data de 10 de abril de 1683 (Balhana, 2003:86). O ato do Levantamento do Pelourinho, datado de 4 de novembro de 1668, foi assinado pelo Capitão Mor e por 17 moradores da Vila: Saibão quantos este publico instromento de poce e levantamento de Pelourinho virem, em como aos quatro dias do mez de Novembro de mil seissentos e sesenta e oyto annos, nesta villa de Nossa Senhora da Lux dos Pinhais, estando o Capp.am-mór Gabriel de Lara nesta dita villa, em presença de mim Tabalião fizerão os moradores desta dita villa requerimento perante elle dizendo todos á huã voz que estavão povoando estes campos de Coritiba em terras e lemites da demarcação do Sr. Marquez de Cascais, e asim lhe requerião como Capp.am-mór e Procurador bastante do dito Snr. mandase levantar Pelourinho em seu nome, por convir asim o serviço d´el Rei e acresentamento do donatário; e visto o requerimento dos moradores ser justo mandou logo levantar Pelourinho com todas as solemnidades necessarias, em paragem e lugar desente nesta Praça, de que mandou paçar este termo por mim Tabalião, onde todos se asignarão com migo Antonio Martins Leme que o escrevi-. (Curitiba, 1906:3).

A Criação das Justiças foi requerida pela população, em 24 de março de 1693: Sr. Capp.am Povoador. Os moradores todos assistentes nesta povoasão de Nossa Senhora da Luz e Bon Jisus dos Pinhais que atendendo ao serviço de deos e o de Sua Magestade, (...) e por ser já oje mui crecido por pasarem de noventa homes, e quanto mais crese a gente se vão fazendo móres desaforos, e bem se vio esta festa andarmos todos com as armas na mão, e apeloirou-se dos outros mais e outros ensultos de roubos, como he notório e constante pelos casos que tem susidido e daqui em diante será pior, o que tudo causa o estar este dito povo tão desenparado de governo e desiplina da justisa. E atendendo nós, que ao dyante será pior por não aver a dita justiça na dita povoação, nos ocorremos a Vmc. como Capp.am e cabesa dela, e por ser já decrépito e não lhe obedeserem, seja servido promitir a que aja justisa nesta dita vila, pois nela a gente bastante para eyxerser os cargos da dita justisa que faz nomero de três povos. E pela ordenasão ordena Sua Magestade que avendo 30 homes se eleja justiça, e demais de que consta que Vmc. por duas vezes percurou aos Cappitais-móres das capitanias debayxo lhe viessem criar justiça na dita povoasão, sendo que não era nesesario por ter ávido já aqui justisa em algum tempo criada pelo defunto Capp.am-mór Gabriel de Lara, que levantou Pelourinho em nome do donatário o Snr. Márquez de Cais -; Pello que requeremos a Vmc. Da parte de Deos e d’el-Rei que visto o que 1

Pesquisas desenvolvidas entre 1986-7 na margem do rio Atuba, no ponto indicado por Julio E. Moreira como sua sede (1972:68), não revelaram vestígios arqueológicos. Anteriormente, em 1964, um sítio arqueológico foi parcialmente estudado na margem esquerda do rio Bacacheri. As evidências examinadas apresentam características de um local que foi habitado por pessoas que ainda se utilizavam da tecnologia indígena para produção de cerâmica, mas com alguma influência da tecnologia ibérica (Chmyz, 1995:34; 2003:66).

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alegamos e o nosso pedir ser justo e bem comum de todo este povo, o mande ajuntar e fazer eleysão e criar justisa e câmera formada, pera que assim aja temor de Deos e d´el-Rei e por as coisas em caminho. E Receberá Mercê. DESPACHO. Juntese o povo, referíreis o que ao que pedem. Pinhais 24 de Março de 1693 - Leme. (Curitiba, 1906:4).

Cinco dias após, 64 pessoas, inclusive Mateus Martins Leme, reuniram-se para a escolha dos eleitores: Aos vinte e nove dias do mez de Março da éra de 1693 annos, nesta Igreja de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais por despacho desta petissão se ajuntou o povo todo desta villa e pello Capp.am della lhe foi prunguntado o que todos lhe responderam a voz alta lhe quiriasse justisa para com isso, ver se ivitavam os muitos desaforos que nella se fazião, o que vendo o dito capitão hera justo o que pedião-lhe respondeu que nomeassem seis omens de sam comsiensa para fazerem os ofisiaes que aviam de servir, o que logo nomearão para com o dito Capitam povoador fazerem emlisão, e como assim ouverão todos por bem se asinaram com migo Antonio Rodrigues Seixas em falta do escrivão, que o escrevi. (Curitiba, 1906:4).

Da reunião, resultou a eleição da Câmara e re-instalação da Vila: Memoria do que a acordarão os seis eleitores, o Capp.am-mór, Agostinho de Figueiredo, Luiz de Góis, Garsia Rodrigues Velho, João Leme da Silva, Gaspar Carrasco dos Reis, Paulo da Costa Leme, os coais de debaixo do juramento que lhes foi dado pelo reverendo padre vigario desta villa, Antonio de Alvarenga, nomearão para juizes Antonio da Costa Veloso, Manuel Soares; vereadores Garsia Rodrigues Velho, o capitão Joseph Pereira Quevedo, Antonio dos Reis Cavaleiro, e para procurador do conselho o Capp.am Aleixo Leme Cabral, e para escrivão da camera João Rodrigues Seixas; este é o nosso parecer, e como tal nos asinamos aqui. (Curitiba, 1906:5).

O Pelourinho, portanto, foi implantado quando Gabriel de Lara era o Capitão Mor e administrador das terras do Marques de Cascais e, as cerimônias de eleição, quando Mateus Martins Leme era o Capitão Povoador. No primeiro documento, além de serem mencionados os campos de Curitiba, figura o nome de Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais e, no requerimento popular, o de Vila de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais. Gabriel de Lara, tendo recebido a influência do pai espanhol, teria dado ao Pátio que centralizou o povoado, as dimensões de uma Plaza espanhola, conforme especificavam as Leis de Índias: 620x400 pés, aproximadamente 170x120m (Wachowicz, 1993:226), com eixo maior orientado no sentido leste-oeste. As primeiras habitações “...foram construídas de pau a pique ou taipa, com suas cumieiras de tacaniças ou meias águas, cobertas de palha ou sapé, em geral sem forros, nem tão pouco assoalhadas, eram todas edificadas no Pateo da Igreginha.” (Negrão, 1936:224). Para esse autor, a Capela dedicada à Nossa Senhora da Luz, também construída precariamente e coberta com sapé, estava localizada onde mais tarde foi erigida a Igreja Matriz. Na opinião de Julio Moreira (1972:77), as casas de morada foram construídas em torno da Capela. As casas do povoado abrigavam temporariamente as famílias do capitão povoador e seus comandados. As suas moradias constantes estavam estabelecidas nos arredores, principalmente nas margens do rio Barigui, onde mantinham lavoura e criação de animais. Assim, “a grei curitibana morava em sitios dispersos nesse planalto (...). Tinham, porem, vários deles, casas na Praça, para as quais vinham de vez em quando e principalmente por ocasião de práticas e solenidades religiosas.” (Martins, 1993:9). Permanentes eram o vigário, comerciantes e mais algumas pessoas (Wachowicz, 1994:242).

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O Pelourinho teria sido levantado “em lugar ou paragem decente, alli no centro da actual Praça Tiradentes, bem próximo ao local onde se acha erecto o monumento a Tiradentes.” (Negrão, 1936:223). Ermelino de Leão também o posicionou no centro da Praça (citado por Wachowicz, 1994:226). Este historiador, em artigo posterior (1998:150), descrevendo o beco do Pelourinho, antiga denominação da rua Monsenhor Celso, esclarece que, logo adiante, adentrando o Paço, “um pouco à sua frente, estava o Pelourinho (...) levantado em frente do edifício da Câmara e Cadeia.” Nesse local, hoje ocupado pelo Largo José Borges de Macedo, foi erigido pela Prefeitura Municipal, em 1968, um pequeno monólito com placa indicativa da posição do Pelourinho. Esse símbolo de Justiça “consistia em um madeiro grosso com quatro faces, com as insígnias de 4 argolas de ferro e braços para o lado, tendo no alto como remate um cutelo.” (Leão, 1926:1.542). 2 Com a criação da Câmara, o Rocio da Vila foi parcialmente delimitado e demarcado nos dias 1 e 2 de maio de 1693. Duas medições foram feitas “com hua corda de embira velha” de 25 braças de comprimento. Partindo do Pelourinho, a primeira dirigiu-se para nordeste, atingindo as cabeceiras do “Rio Juveve e o Capan de Buya”; a segunda, também iniciada no Pelourinho, rumou na direção sudoeste até a aguada de “Canara Coguera.” Cada linha mediu meia légua de comprimento ou 1.500 braças (Curitiba, 1906:6). As medições complementares, nos sentidos noroeste e sudeste, somente foram concretizadas em 1721. Embora tenha alcançado autonomia, com condições de promover sua própria administração e justiça, a Vila mantinha a sua fisionomia e os costumes do seu povo inalterados, “as casas eram de pau a pique, o mobiliário era pobre: o catre, a mesa, as arcas, os bancos toscos, de singela aparência e de pouco conforto. O comércio era rudimentar e se praticava entre os moradores dos pontos mais destacados da vila, do rocio e de outros sítios distantes.” (Guimarães, 1969:89). Nessa época era comum que as vilas ou cidades fundadas passassem a ser correcionadas pelos ouvidores, ou outros funcionários ordenados pelo reino português, com a função de reunir o conjunto documental composto pela ata de fundação e pelas primeiras ordenações. Também utilizando-se de Posturas ou Provimentos, o Ouvidor passava a pensar a ordenação do espaço urbano, de forma normativa. Em 1721, chegou à Vila, o Ouvidor Rafael Pires Pardinho. Nas suas informações dizia que a comunidade vivia num raio de apenas sete léguas, ao redor da vila. A partir desse limite “existiam infinitos campos, que eram desconhecidos, para os lados de oeste e do sul, e que só para o norte da vila, ao longo da estrada que ligava Curitiba a S. Paulo, existiam algumas fazendas de criação de gado, de propriedade de habitantes de Paranaguá e de S. Paulo.” (Balhana et alii, 1969:62). Ao Ouvidor coube definir o Termo de Abertura 3 , que detalhava as indicações precisas para o crescimento da Vila, bem como dava instruções para o correto funcionamento da justiça e estabelecia normas para o bem-viver. Além disso, “d’aqui por diante, que esta villa, e tudo o mais que d’ella corre para o Sul, he da coroa real, 2

Em 1704 o Pelourinho deteriorado foi substituído por outro. Durante a gestão do prefeito Cyro Velloso, em 1895, foi construído um monumento alusivo no local do Pelourinho, mas acabou destruído por populares que o consideravam como um atentado aos sentimentos democráticos. 3 “Este livro hade servir dos capitulos das correyções, que se fizerem n’esta Villa de N. Snr.ª da Luz, e das posturas, que em camera se fizerem, o qual vay rubricado, e numerado por mim Ouvidor geral, e no fim leva termo das folhas que tem. Curitiba, 20 de Janeiro de 1721. Raphael Pires Pardinho.” (Curitiba, 1906:10).

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e que seos moradores imediatamente san vasallos da coroa sem reconhecerem algum donatario, como antigamente reconhecião o dito Marquez.” (Curitiba, 1906:11Provimento nº 2). No que se refere à definição espacial da Vila, as ordenações do Ouvidor Pardinho evidenciavam a preocupação do Estado português com a ocupação ordenada do solo urbano. A vila deveria comportar apenas atividades comerciais, artesanais e religiosas. Aos agricultores ficavam reservadas as áreas do Rocio. Tais atitudes evidenciavam a imposição da espacialidade urbana à população, bem como delineava a separação entre a cidade e o campo. Entre os provimentos criados, o Ouvidor Pardinho determinou a demarcação das terras já distribuídas ao redor da Igreja Matriz, objetivando saber quais as devolutas, para então acomodar novos moradores. Estabeleceu a condição de serem construídas casas cobertas de telhas, e a continuidade de ruas já iniciadas para que a vila crescesse em uniformidade. Determinou, ainda que, cedido o terreno, o proprietário deveria erguer construção em um prazo de seis meses, sob pena de ter o terreno retomado. Foi a partir das colocações do Ouvidor, que noções de caráter urbanístico, mesmo que iniciais, começaram a ser tratadas para a Curitiba do século XVIII. Foram discriminadas as primeiras noções para uma melhor adequação do espaço, seus usos, onde as ruas deveriam ser contínuas e retilíneas. Quanto às edificações, essas deveriam ser contíguas, resultando numa quadra compacta que impedisse a possibilidade de pátios ou corredores laterais, de forma a garantir a segurança dos habitantes: PROVIMENTO Nº 37: Proveo que daqui por diante nenhúa pessoa com pena de seis mil reis para o conselho faça casas de novo na villa sem pedir licença a Camera, que lho dará e lhe assignará chãos em que as faça continuando as ruas que estão principiadas e em forma que vam todas direitas por corda, e unindo-se huas com as outras, e não consintam que daqui por diante, se facão casas separadas e sós como se acham alguás, porque alem de fazerem a villa e povoação disforme ficão os vezinhos nellas mais expostos a insultos e desviados dos outros visinhos para lhe poderem acudir em qualquer necessidade que de dia ou de noite lhe sobrevenha. (Curitiba, 1906:19).

A construção de edifício que acomodasse a Câmara e a Cadeia, obra planejada desde o final do século XVII, efetivou-se com as determinações de Pardinho, cujas especificações constam dos seus provimentos 44, 45 e 46. A obra foi inaugurada em 9 de janeiro de 1726. O sobrado, com paredes de pedra e barro, estava “ao poente do pelourinho; ao sul da casa de Maria Paes; ficando entre ellas a rua direita, hoje face sul da Praça Municipal; ao nascente a casa de Gaspar Carrasco e ao Norte o terreno que ia da Praça do Pelourinho ao adro da Matriz.” (Leão, 1926:244). 4 Pouco antes, em 1715, na parte nordeste da Praça, começaria a ser construída a Igreja Matriz, também de pedra e barro. Substituiria, em 1720, a antiga Capela de Nossa Senhora da Luz. Naquela, como acontecia na capela, transcorriam as vereanças. Outra preocupação das autoridades com a ordenação do território era a necessidade de manutenção de caminhos e pontes. Para a solução dos problemas administrativos, contava-se muito mais com a cooperação dos moradores do que 4

De construção precária, o prédio exigiu constantes reparos. Após incêndio, acabou demolido no final do século XIX. O edifício erigido poucos anos depois no seu lugar, foi derrubado em 1949 criando-se, no espaço liberado, o Largo José Borges de Macedo.

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com a arrecadação de impostos: “a limpeza das ruas e dos riachos que cortavam a vila, era obrigação dos vizinhos. A conservação dos caminhos também era contribuição direta das propriedades.” (Balhana et alii, 1969:40). Pouco tempo depois da visita do Ouvidor Pardinho, foram assinalados os caminhos em direção a São Paulo, ao sul e ao litoral. Em 1731, com a abertura da estrada do Viamão, ligação entre o Rio Grande e Sorocaba, iniciavam-se as atividades do tropeirismo. A utilização dessa via para o transporte de tropas de gado e mulas vindas do sul, passando pelos campos de Curitiba, trouxe transformações para as localidades existentes às margens da estrada. Em meados do século XVIII, o distrito de Curitiba possuía 2.500 habitantes e 348 casas, conforme consta no Livro Tombo da Matriz. Em 1780, já contava 3.194 habitantes, dos quais 848 eram escravos. Nessa época, faziam parte do distrito, além da Vila e do Rocio, mais de uma dezena de localidades, entre as quais alguns bairros de Curitiba. Curitiba com suas divisas fixadas foi crescendo, mantendo em seu centro e entorno a centralização do poder político e eclesiástico, além do crescimento dos locais comerciais. Os provimentos urbanísticos estabelecidos pelo Ouvidor Pardinho foram sendo complementados por determinações da Câmara. Eram as Posturas Municipais postas em prática. As Posturas Municipais tinham como principal função, organizar, cuidar e embelezar a cidade 5 através de estratégias de conciliação e avaliação da evolução política municipal. Essas deliberações apareceram no primeiro quartel do século XVIII, com o Ouvidor Pardinho, como já foi dito, e tiveram sua importância na contínua relevância dada com a urbanização. O código de posturas tinha a preocupação constante de reestruturar o espaço, seja através dos arruamentos, com o desenho e remodelação das praças, com a manutenção das áreas verdes e estendiam-se as questões relativas à salubridade (higiene e saúde da população). Esses Códigos também poderiam passar por alterações eventuais, tornando-se os mais específicos e melhor adaptados às exigências conjunturais. Na segunda metade do século XVIII as deliberações refletiam a preocupação das autoridades municipais referentes a problematização do meio urbano; as formas de dispor o entretenimento, como morar e a higiene. O ambiente delimitado como Rocio e a Vila eram pelas Posturas da Câmara diferenciados por suas atividades e assim vistoriados, de maneira que: todos os moradores tivessem suas testadas, e sercas retificadas na forma dos capitullos de correyçam; e (...) que todos os moradores desta villa que tivessem criassõins de gados as 5

“As posturas das Câmaras Municipais constituem deliberação municipal escrita, com jurisdição sobre os municípios, obrigados ao cumprimento de certos compromissos e deveres de ordem pública. Constituem fonte histórica da maior importância, principalmente pelo caráter normativo e deliberativo, no que se refere a vida municipal. Fornecem elementos básicos para o conhecimento da estrutura político-administrativa, social, econômica e mental, permitindo conhecer os usos e costumes, o modus vivendi nas cidades e nos núcleos municipais. Incluem regulamentação sobre política fiscal (impostos municipais), urbanismo (quadro urbano, edificação urbana, edificação que ameaça ruína, limpeza da cidade), tranqüilidade e segurança pública, comércio e abastecimento em geral (mercado, matadouro público e açougues), pesos e medidas, higiene e saúde pública, cemitérios e enterros, moral e bons costumes, jogos e divertimentos em geral, armas proibidas, incêndios, vias de comunicação (estradas, caminhos e pontes), terras de planta, terrenos do rocio, servidões, cercas, certas categorias profissionais (mascates e joalheiros), tratamento diferenciado de categorias sociais (escravos e mendigos), fontes, setores de produção (agricultura, criação, fábricas, oficinas, cortumes), além de outros aspectos e disposições gerais.” (Costa, 1993, 167).

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mandassem vaquijar todas as noites por resam de estar o dito gado fasendo curral na Igreja Matriz desta villa com tan pouca desencia (...) com pena de que nam mandando retirar, ou encurralar o dito gado (...) serem condenados os donos das ditas criassoins que forem achadas em seis mil reis (...) e na mesma forma todas as pessoas que tiverem casas danificadas dentro desta villa as retifiquem athe o primeyro de Novembro deste presente anno debayxo das mesmas penas – Termo de vereança de 19 de setembro de 1761. (Curitiba, 1927a: 94).

Para as Posturas, o desenvolvimento da Vila, com o passar das décadas foi regido pelo implantamento viário e noções de arruamento, que de início era essencialmente natural, fazendo com que os caminhos se assentassem à maneira das necessidades. 6 (Hoerner Jr., 1989:20). Se o Largo da Matriz recebeu as primeiras moradias nos primórdios da Vila, a evolução urbana deu-se em direção norte. A rua Fechada (atual José Bonifácio), é das mais antigas, possivelmente das últimas décadas do século XVII. A movimentação ali era constante, em função da área designada comum, ao norte, para o abastecimento de lenha e materiais de construção tais como pedra, madeira e barro. Curitiba ainda era pequena e sem problemas como os existentes em outros centros urbanos. Mas já se pronunciava como um centro econômico e assim, um local de circulação. A partir de 1812, a Vila ascendeu à condição de sede da recém-criada Comarca de Paranaguá e Curitiba. No início da década seguinte, a descrição feita pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que veio para o Brasil em 1816 e aqui permaneceu até 1822, evidencia o aspecto da Vila, quase circular, com duzentas e vinte casas pequenas cobertas de telhas, muitas de pedra e com apenas um pavimento. Na época, Curitiba era uma pacata cidade "como em inúmeros outros lugares, quase todos os seus habitantes são agricultores que só vêm à cidade nos domingos e dias santos, trazidos pelo dever de assistir a missa. (...) As ruas são largas e bastante regulares, algumas totalmente pavimentadas, outras calçadas apenas diante das casas. A praça pública é quadrada, (sic) muito ampla e coberta por um relvado.” (1978:71). Com relação ao material construtivo, foi proibido em 1829, a edificação de casas nas ruas principais que não fossem de pedra, ou seja, com paredes de alvenaria de pedra com emboço de argamassa. Até então era comum a construção de casas com paredes de taipa preenchidas com barro amassado. As ruas, da mesma forma, começaram a ser estabelecidas obedecendo-se a padrões prédeterminados como a largura, direcionamento em linhas retas e o estabelecimento de quadras. Segundo Romário Martins (1922:163), entre 1820 e 1838 as casas ainda estavam “distribuídas com grandes claros, pela rua de São Francisco, Páteo da Matriz, ruas do Louro, do Chafariz, Direita, Allegre, Baptizada, da Entrada, das Flores, do Commercio.” Em 1854, foi vedada a construção de choupanas nas suas ruas principais e as casas deveriam ter pelo menos 18 palmos de altura. (Berberi; Sutil, 1997:11).

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Era comum às cidades portuguesas seu processo de urbanização de forma natural. A execução das ruas seguia o traçado natural da paisagem, assim, a criação das cidades dá-se de forma a seguir a sinuosidade natural.

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Em 5 de fevereiro de 1842, Curitiba foi elevada à categoria de Cidade; mas as mudanças mais significativas no seu cotidiano começaram a acontecer na década seguinte, a partir de 1853, quando o Paraná tornou-se independente de São Paulo: Elevada pela lei 704 de 29 de agosto de 1853 a comarca de Curitiba da Província de São Paulo à categoria de Província do Paraná e tendo por capital a cidade de Curitiba, a instalação teve lugar no dia 19 de dezembro do mesmo ano, cabendo a honrosa presidência da mais nova e última Província do Império ao conselheiro Zacarias de Goes e Vasconcelos. (Primeiro Centenário, 1957:10).

Porém, “nossa autonomia administrativa em 1853, nos encontrou, pois, mal achados da mentalidade da vila sertaneja de 1693. As casas de Curitiba, em regra eram taipa ou pedras secas, de um só pavimento quase todas sem soalho de madeira, mas de terra socada.” (Martins, 1993:11). E assim, a Província nascente tinha que se adaptar a uma série de exigências do Império para a sua efetiva transformação político-administrativa. Para essa transformação, viria a concorrer a indústria ervateira. A erva-mate, inicialmente beneficiada nas vilas do litoral paranaense passou, em 1833, a ser manipulada em Curitiba. Engenhos autorizados pela municipalidade foram instalados nas margens dos ribeirões Belém e Ivo. A proliferação dos engenhos exigiu o planejamento e abertura de vias para o acesso àquelas indústrias e novas residências (Wachowicz, 1998:146). Ruas e becos existentes no entorno da Praça foram melhorados e retificadas transpondo, inclusive, o Ivo, possibilitando a expansão urbana para sudoeste (rua da Entrada = rua Ermeliano Perneta). Uma planta de Curitiba, produzida pelo engenheiro Pedro Taulois em 1857, foi encontrada por Romário Martins em 1896 no Arquivo da Secretaria de Obras Públicas. Nela estão representados, além dos acidentes geográficos do entorno, 14 ruas, 6 travessas, 3 largos e 1 beco (2009:89). 7 Nesse início da segunda metade do século XIX: Curitiba estava praticamente em obras, um verdadeiro reboliço, consertando-se as calçadas das rua das Flôres e da rua da Entrada; sobre o rio Ivo iniciava-se a feitura de uma ponte; a matriz necessitava de reformas urgentes, especialmente de carpintaria (os ofícios religiosos realizavam-se na igreja do Rosário); os muros e o portão lateral do cemitério ainda não estavam concluídos. A rua Fechada (José Bonifácio) em dias de chuva transformava-se em um lago enorme e intransitável. Aliás as chuvas frequentes e a falta de serviçais dificultavam o prosseguimento e a conclusão das obras. Pelas ruas transitavam carros puchados por bois ou outros animais, contudo era necessário que diante dêles andasse o guia a pé. Aos infratores, sendo livres, cobrava-se a multa de 4$000 e sendo escravo sofria quatro dias de prisão, se não preferisse seu senhor pagar por ele a multa.” (Stellfeld, 1957:56).

O Governo Provincial também concorria para a melhoria das condições das ruas e do ambiente da Cidade. Um desses auxílios partiu do presidente José Francisco Cardoso, em 18 de março de 1861: Mandei ultimamente entregar a respectiva câmara a quantia de dous contos de réis pra, com parte do auxilio dado pela assembléa, promover o melhoramento de algumas das nossas

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Mais tarde, ao manusear o Mappa dos Edifícios da Cidade de Curytiba de 1863, Martins pôs em dúvida a exatidão cronológica do primeiro documento, aventando a possibilidade de que a sua data devesse corresponder à do segundo. Neste, estão indicados 282 prédios, entre os quais dois sobrados, e 101 em construção (2009:91). A interpretação de Martins é reforçada pela análise de Cassiana L. Carollo (1995:64), que, baseada na nomenclatura das vias estima, para a planta de Taulois, a data de 1862.

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calçadas e o livre esgoto das agoas que, com prejuízo da saúde publica, formam lamaçaes duradouros nas mesmas. (Paraná, 1861:62).

Em 1860, a Câmara havia autorizado a execução de obras para o “nivelamento do largo da Matriz, construção de duas calçadas de pedra que o crusem e arborização do mesmo.” (Curitiba, 1932:95). Algumas dessas determinações não foram executadas porque dependiam de providências preparatórias e, quando postas em prática, não eram suficientes para sanar os problemas comuns na área central. Em 4 de fevereiro de 1870, por exemplo, a Câmara indicava que se mandasse: fazer um pontilhão junto a esta Cidade na estrada que vae ao Butiatuvinha e bem assim os concertos nas pontes do Bolém e Loureiro com os respectivos assudes que se achão em mau estado e concerto do boeiro na rua fexada defronte a sacristia da Matriz. (Curitiba, 1960a:8).

Em 1875, em atenção a uma solicitação da Câmara, o presidente da Província comunicava ter determinado o levantamento de uma planta do Largo para sua arborização. Para que isso fosse concretizado, em 1879, a Câmara indicava que seria preciso também a realização de obras nas ruas do entorno, incluindo movimentação de terra, abertura de valetas, etc, e a remoção do entulho depositado no espaço do logradouro (Berberi; Sutil, 1997:12), durante a demolição da Igreja Matriz. O entorno do Largo dividia-se entre residências e o comércio. Juntamente com a rua das Flores, eram os locais preferenciais dos comerciantes, de armazéns, açougues, escritórios ou consultórios de profissionais liberais. Enfim, uma variedade de casas e atividades ligadas à subsistência, de uma diversificação suficiente para o consumo, antes que ao luxo. Francisco Negrão (Curitiba, 1960:3-Nota 1) esclarece que “a Câmara Municipal de Curityba possuia pequenas casas no Páteo da Matriz, que com o nome de – Casinhas serviam de Mercado público. Ficavam na face nórte da Praça entre o actual predio do Snr. Flavio Macedo e o sobrado que faz esquina para a rua do Rosário. Eram casas em ruinas e pessimamente serviam ao fim a que se destinavam. [e depois da sua transferência para o Largo da Ponte = Praça Zacarias], Mudou-se o Mercado para o seu novo Predio atraz da Cadeia, no local onde em 1912, foi construido o Palaceo da Prefeitura Municipal e demolido o velho mercado.” Os populares a essa época, dependiam do mercado urbano para suprir a quase todas as suas necessidades. E essas necessidades eram, de maneira crescente, determinadas por sua vivência urbana. Nas primeiras décadas do século XIX, “essa população agiu no sentido de reordenar os espaços urbanos paranaenses. Passou a exigir do estado ruas pavimentadas, iluminação noturna, saneamento e lugares para passeio, demandas típicas de quem vive em caráter permanente na cidade.” (Pereira, 1996:11). As dinâmicas econômicas passaram a se consolidar através das relações comerciais facilitadas pelos acessos e transportes, além do deslocamento da periferia, para um centro de destaque econômico. Diversificadas e de várias procedências eram as mercadorias comercializadas no terceiro quartel do século XIX: A população curitibana, posto que não tivesse os grandes empórios e mercearias de hoje, era muito bem servida de: presuntos da Westfália, queijos flamengos, manteiga da Inglaterra a 80 a lata, superiores vinhos do Porto, de Bordeaux, branco e champanhe; conhaque, licores

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finos; biscoitos, sardinhas e doces de Lisboa, além do precioso café nacional a 600 Rs. O quilo! Na rua da Carioca (atual Riachuelo) ao lado de belo sortimento de diversos gêneros recebidos do Rio de Janeiro, oferecia-se também “perdizes vivas em viveiro”, onde, possìvelmente, poderiam também aparecer jacús, como “um manso, de asas aparadas”, desaparecido do quintal de um morador da vizinhança. Para o vestuário várias lojas anunciavam casacas, sobrecasacas, sobretudos de pano fino, alças de pano preto e de várias outras qualidades, coletes de sêda, manteletes de seda e de nobreza, chales e lenços, gravatas, botinas de senhoras com elástico, saias de baile, capinhas de merinó, ditas de casimira de côres, toucados de sêda, (...) e tudo isso “por preços muito cômodos”. Não era pequeno o número de ourives e relojoarias, cujos proprietários em geral eram franceses, e onde consertavam-se também caixas de música. Produtos de toalete, cosméticos e perfumaria não eram ainda vendidos, ou pelo menos anunciados. (Stellfeld, 1993:57).

A década de 1880 foi marcada por grandes transformações no cenário urbano. Além da Estrada de Ferro, foram inaugurados o Passeio Público, o Teatro São Theodoro, a Santa Casa de Misericórdia e a primeira linha de bondes. Em 1885, “nossa capital já tinha proporções avantajadas e entre os exemplares da sua construção, aí já quase que completamente à feição germânica, encontravam-se vários prédios importantes.” (Vítor, 1996:73). A Igreja Matriz, que havia sido erigida no século XVIII no canto nordeste do Largo, começou a ser demolida em 1876; ao seu lado, iniciou-se a edificação da futura Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz, inaugurada em 1893. Com a demolição da Matriz, a rua Fechada ficou desobstruída até o logradouro, sendo temporariamente chamada de rua do Chafariz (Wachowski, 1998:156), em alusão ao que existia no Largo da Ordem, no qual aquela via iniciava. 8 A precária construção do antigo templo, sempre necessitando de reparos, teve agravada a sua estrutura com o acréscimo das torres em 1858 e 1859 (Wachowicz, 1993:17). Para a ereção das torres foram utilizadas pedras das ruínas da Capela situada no Alto do São Francisco (Greca et alii, 1972-Nota 4). A sua derrubada, além de consternar boa parte da população, ocasionou incidentes com relação ao destino da caliça resultante, que, em parte, poderia conter restos ósseos das pessoas lá sepultadas; a intenção de usá-la como aterro em obras públicas, motivou o pedido de demissão do representante da Igreja na Comissão de Obras em fevereiro de 1880. Apesar do protesto, a Câmara Municipal e a presidência da Província, sem consulta à Comissão, determinaram a utilização dos resíduos nas ruas do Largo por onde transitou o imperador d. Pedro II durante a sua visita a Curitiba, em maio de 1880 (Wachowicz, 1993:44). A caliça foi usada, também, para o preenchimento das valas das fundações da antiga Matriz e para a regularização do terreno onde esta se encontrava, que apresentava nível inferior ao do Largo. Em 1885, quando aconteciam obras no local, ossadas foram encontradas pelos operários. No dia 21 de dezembro do mesmo ano, a Câmara comunicou o fato ao padre João Evangelista Braga: Na escavação que atualmente se procede na Praça D. Pedro II, no local onde existiu a antiga Igreja Matriz desta Capital, tendo sido encontrado algumas quantidades de ossos de cadáveres que em outros tempos como se usava, foram sepultados dentro da referida Igreja 8

O chafariz consistia em uma bica de pedra mandada fazer pela Câmara, em 1784, “por algum Pedr.º suficiente.” (Curitiba, 1927:52).

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quando foram realizadas as reformas do entorno, para realizar melhoramentos no Largo D. Pedro II foram localizadas várias ossadas. (Carollo, 1995:48). 9

No dia seguinte, as providências indicadas pelo religioso quanto ao destino dos ossos revelados pelas escavações, foram autorizadas pela Câmara (Dezenove de Dezembro, 6 de janeiro de 1886). Conforme noticiário da época da demolição da Matriz, foram “chamados concurrentes para a compra do respectivo material, exceptuando a pedra e o entulho que devem ser utilizados no serviço da praça de D. Pedro 2º.” (Dezenove de Dezembro, 4 de março de 1886). Pedras da antiga Matriz foram, portanto, usadas na construção do novo templo e também na urbanização da Praça. Em 1886, a Câmara Municipal, presidida por Augusto Stellfeld, contou com “os préstimos do coronel Pereira Gomes, comandante do 3º regimento de artilharia de campanha [para a obra]. O Largo em pouco tempo foi radicalmente remodelado e ajardinado, com passeios diagonais e em cruz.” Na ocasião da inauguração, a Câmara, por intermédio de seu presidente, fez “a entrega da quantia de um conto de réis (...) aos soldados que haviam participado das obras.” (Primeiro Centenário, 1953:14). Essa urbanização foi também relatada por Themístocles Brazil (1993:143), embora com algumas variações: Se não nos falha a memória foi o Coronel Pereira Júnior, quando comandante do 3º Regimento de Artilharia de Campanha do Exército ai sediado, quem tomou a iniciativa de um melhoramento, empregando para isso presidiários da cadeia pública, vigiados por praças do regimento. Esse melhoramento consistiu em traçar, apenas capinando, (sic) passeios retos que partindo da periferia convergiam para uma pequena praça central, sendo posteriormente plantadas árvores, aos lados, transformando-se então em pequenas alamedas. A verve do povo não perdeu oportunidade de se manifestar e logo que se delineou o trabalho de forma estrelada, foi ele chamado de Caranguejo, apelido efêmero que perdeu cedo o significado com a arborização. 10

As obras foram custeadas pela sociedade organizada e pela edilidade: 11 Consta-nos que o commercio desta capital, no louvável empenho de levar-se à conclusão os trabalhos que se estão realisando á praça de D. pedro 2º, tornando-se assim esta parte da cidade nas condições a que tem direito, está resolvido a contribuir para esse fim, auxiliando ao encarregado dos referidos trabalhos (...). Consta-nos, igualmente, que a municipalidade por sua vez, apezar das péssimas circunstancias de seu cofre, contribuirá com a quantia de 400$. (Dezenove de Dezembro, 17 de fevereiro de 1886).

A imprensa não deixou de criticá-las, tendo em vista a situação precária das vias adjacentes: “Ainda é que, em quanto se trabalha no abaulamento elevado e inconveniente das pernas do carangueijo da praça de D. Pedro 2º, descura-se o 9

O fato repetiu-se no mesmo local em 1912, quando se realizavam obras para substituição dos trilhos de bondes puxados por mulas para os que viriam a ser movimentados por eletricidade, além de valas para canalização de águas pluviais (Destefani, 2004:7) e, em 1992, quando operários, abrindo vala para instalação de cabos de alta tensão da Companhia Paranaense de Energia, perturbaram esqueletos humanos, ao lado da Basílica Menor (Chmyz, 2003:77). 10 O militar mencionado pelos autores, o tenente-coronel dr. Manoel José Pereira Júnior, era comandante do 3º Regimento de Artilharia a Cavalo do Exército, sediado no Largo Dr. Muricy (atual Praça Rui Barbosa) quando as obras de urbanização da Praça foram executadas. 11 Dos trabalhos devem ter participado presos da Cadeia ao lado, uma prática corriqueira então: “dizem-nos estar terminando o aterramento do becco do Inferno [atual rua Tobias de Macedo], em que ultimamente se ocupam os galés.” (Dezenove de Dezembro, 3 de novembro de 1885).

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empedramento das ruas, cuja conservação urge por concertos para a facilidade do transito e commodidade dos transeuntes.” (Dezenove de Dezembro, 23 de fevereiro de 1886). Por outro lado, em editorial de 13 de março de 1886, o mesmo jornal, vendo acatadas sugestões por ele feitas anteriormente, elogiava “o abaixamento da flexa das ruas, e consequentemente alargamento do seu leito, por que deste modo offerece-se mais amplo e seguro transito aos passeantes, assim como tornou-se digno de louvor, a idéia, posta em prática, de amparar com leiva todos os bordos dos taboleiros em que a praça foi dividida.” Criticava, porém, o “plano adaptado (...)”, que “não foi o melhor ou mais feliz – é preciso dar regularidade maior ao nível do perfil longitudinal das ruas e valetas, fazendo desapparecer as depressões que em uma e outras se notam, e que, quando não deixe a água represada, enfeiam a harmonia visual que devem apresentar serviços desta ordem.” Criticava, também, a falta de outro melhoramento: que, ao nosso ver, devia ter sido adaptado era o de reservar a frente á nova matriz até a face opposta, na entrada da travessa da matriz, uma faixa, ou área que não só servisse para a agglomeração de povo que sempre apparece nas solemnidades religiosas, e ficam fora da igreja, e para o movimento das guardas de honra a certos actos, como procissões, te-deums, sahimentos fúnebres, etc., como também que se prestasse para o estacionamento de carros de aluguel, quando dispormos e não está longe tivermos mais esse progressivo adiantamento de nossa capital.

O editorial apresentava, ainda, como sugestão, a necessidade de “com o concurso do commercio e demais pessoas que se interessem (...), se construir de madeira um gradil que circunde a praça”, enquanto não se dispõe do “gradil de ferro encommendado há tempo pela camara municipal existente e promto na Belgica.” A inauguração das obras ocorreu em 25 de março de 1886, e contou com a presença do presidente da Província, do presidente da Câmara e do tenente-coronel responsável pelo serviço, além de populares (Dezenove de Dezembro, 27 de março de 1886). Um dia antes do evento, o mesmo periódico publicava o boato de “que vai ser inaugurado o largo de D. Pedro II, antes de estarem as obras em meio, para ter a honra de ser inaugurado pelo sr. Taunay”, cujo mandato estava próximo do fim. O arraigado costume dos habitantes da Cidade de utilizar o espaço da Praça para fins não condizentes com sua função, porém, não se modificava mesmo com as obras de urbanização em andamento. Nesse sentido, uma correspondência foi encaminhada em 18 de março de 1886 pelo presidente Alfredo d’Escragnolle Taunay ao presidente da Câmara Municipal, criticando a situação existente: Causa na verdade dó vêr o desrespeito em que os moradores da Praça D. Pedro II têm as posturas d’essa câmara, que terminantemente prohibem a transformação d’essa Praça em potreiro e pasto á noute de animaes, e infunde real sentimento e pezar a verdadeira impiedade, com que os possuidores d’esses animaes considerão o trabalho dos outros e o estragão, por meio dos cavallos que possuem (...). Por causa da teima e commodidade de meia duzia de pessoas soffre e vê-se prejudicada uma cidade inteira! Custa a crêr, mas assim é! (Arquivo da Fundação Cultural de Curitiba).

Em consequência do protesto do presidente da Província, no dia 19 de abril daquele ano, a Câmara baixava postura declarando que “Fica prohibido o transito de

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cavalleiros pelo centro da praça D. pedro 2º desta cidade. Os contraventores incorrerão na pena de 2$.” (Dezenove de Dezembro, 1º de maio de 1886). A urbanização da Praça realizada graças aos esforços do tenente-coronel José Pereira Júnior, que ainda figurava em plantas de Curitiba de 1894 e 1896, deve ter sido aterrada no final daquele século, tendo-se em vista a descrição de obras no local durante a administração do prefeito Luís Antonio Xavier, entre 1900 e 1907: Durante a gestão que vem de findar a Praça Tiradentes, que nenhum melhoramento tinha a exceção das árvores que nela existiam, foi completamente transformada, constituindo hoje um aprazível logradouro público. Além do calçamento feito em todo o largo, substituiu-se em uma extensão de 885 ms. a antiga calçada que circundava o perímetro arborizado efetuou-se a terraplanagem desse perímetro em uma superfície de 11.836 metros; revestiu-se o saibro e pedregulho lavrado, numa área de 11.448 ms; construiu-se valetas e bueiros para o escoamento de água pluviais; fez-se o replantamento de árvores e, por fim o assentamento de 75 bancos. Em princípio deste ano [1904] foi essa praça novamente revestida a pedregulho (Ata da Câmara Municipal, de 21 de Setembro de 1904, apud Berberi; Sutil, 1997:18). 12

Em 30 de agosto de 1897, o prefeito Cícero Gonçalves Marques (1897 a 1900) havia sido autorizado pela Câmara a licitar obras de calçamento das ruas principais com paralelepípedos de pedra. No ano seguinte, a Lei Municipal nº 14, regulamentava o nivelamento das vias para colocação de meios-fios e dos marcos de nivelamento nas esquinas (Curitiba, 1899:1 e 36). Na primeira metade do século XX a Praça passou por momentos de revitalização e de estagnação. Os bondes que a serviam, puxados por mulas desde 1887 (Negrão, 1954:689), foram substituídos pelos elétricos, em 1913. Monumentos foram implantados, como o do marechal Floriano Peixoto no centro do logradouro em 1904, e dotado de gradil de ferro e iluminação em 1910 (Destefani, 2004:38); este, posteriormente, foi relocado para o canto sudoeste. O monumento dedicado à Tiradentes, foi erigido em 1927 e, o alusivo à Proclamação da República, em 1940. O último, introduzido no local em 1958, homenageou o presidente Getúlio Vargas. Entre os gestores municipais, além do já referido Luís A. Xavier destacaramse, no trato da Praça, os prefeitos Candido Ferreira de Abreu (1913 a 1916) e João Lotário Meissner (1932 a 1937), que a reformaram durante os seus mandatos. Na primeira, foram incluídos dois repuxos e um coreto; na segunda, a Praça foi mutilada, com o prolongamento da rua José Bonifácio para o sul, possibilitando a sua comunicação com as ruas Cândido Lopes e Monsenhor Celso. Em frente à Basílica Menor, como sugerira o editorial do periódico Dezenove de Dezembro em 1886, foi mantido um refúgio onde está assentado o Marco Zero da Cidade. O Plano Agache, encomendado pelo prefeito Rozaldo Gomes de Melo Leitão, foi desenvolvido entre 1941 e 1943 pelo urbanista Alfred Agache e previa intervenções na Praça, como a construção do prédio da Prefeitura, pérgulas, arborização rarefeita e estacionamento subterrâneo. Com a criação do Setor Histórico de Curitiba, por meio do Decreto nº 1.160, de 17 de agosto de 1971, que incluiu no seu perímetro a Praça Tiradentes, foram

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Ao afirmar que “nenhum melhoramento tinha [a Praça] a execução das árvores”, a Câmara, além de omitir a urbanização de 1886, deixa transparecer ou pendor político de repulsa à Monarquia, em cujo período aquela obra foi executada. Os sentimentos democráticos advindos com a Proclamação da República em 1889, que motivaram a erradicação do nome do imperador D. Pedro II dado à Praça em 1880, também eliminaram, como já foi mencionado, o monumento alusivo ao Pelourinho, construído em 1895.

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disciplinadas as intervenções urbanísticas que pudessem descaracterizar o paisagismo e as edificações de valor histórico e arquitetônico.

Atividades de campo do projeto arqueológico A Praça Tiradentes, antes da atual revitalização, apresentava vias de circulação convergentes para o centro recobertas por asfalto, ladeadas por canteiros com árvores de grande porte, monumentos e placas alusivas dispostos em vários pontos de sua área. As atividades de campo compreenderam o monitoramento das obras de engenharia civil e a prospecção arqueológica propriamente dita. Anteriormente, em agosto de 2007, colunas de solo retiradas de vários locais pela Solotécnica C.I.S. Geotécnica e Fundações Ltda. foram analisadas nos laboratórios do CEPA/UFPR. Os cilindros de solo procedentes das porções centrais e oeste revelaram evidências arqueológicas nos primeiros 60cm. Estavam associadas a solo argiloso de coloração marrom escuro e foram representadas por fragmentos de carvão vegetal, de cerâmica, de telhas e de metal. Em algumas amostras o solo marrom-escuro correspondia aos 145cm iniciais do terreno, mas não encerrava evidências arqueológicas. Nas demais colunas examinadas o solo era argiloso, de coloração avermelhada e estéril de evidências. Esse solo, pertencente à Formação Guabirotuba, era o que se manifestava também nos anteriores, abaixo do marromescuro. Para o ordenamento das atividades e o registro das ocorrências arqueológicas, a Praça foi dividida em quadrantes ou setores, denominados NE, NO, SO e SE conforme as coordenadas geográficas, e um quadrilátero localizado no centro atual do logradouro, rotulado como CE. As atividades de monitoria foram desenvolvidas em função do tipo de intervenção da obra, estando assinaladas pelas seguintes letras na Figura 1: E (junto a perfurações feitas para construção de palanques ou estacas de concreto para sustentação de piso), S (junto a escavações retangulares para construção de sapatas ou concreto), V (junto a escavações extensas para instalação de redes hidráulica e de eletricidade) e C (junto à escavações quadrangulares para implantação de fossa ou caixas de rede elétrica). As que se ligaram à escavação arqueológica estão assinaladas pela letra Q (referente as quadras ou cortes-estratigráficos, geralmente com 4m² de área) e pelas letras EX (relacionadas a exposição de espaços amplos por meio de decapagem). Em toda a área, ainda, cortes-experimentais foram praticados para constatação de possíveis estruturas arquitetônicas ou de trechos intactos que oferecessem condições de escavação. O monitoramento começou em meados de janeiro de 2008, quando operários perfuravam o solo no entorno da Praça para colocação de esteios do tapume (Foto 1). Os furos eram de pequenas dimensões, causando pouco impacto. Evidências arqueológicas foram constatadas apenas em um deles, o situado no canto nordeste, aos 40cm de profundidade.

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No canteiro desse mesmo quadrante, ao ser instalado um galpão com chuveiro, sanitário e escritório da obra, operários escavaram um espaço quadrangular destinado a uma fossa; aprofundado até 80cm, o corte revelou fragmentos de louças, telhas goivas e ossos. Nas suas proximidades foi praticado um corte-experimental para verificação da estratigrafia e, em seguida, devido à persistência da ocorrência, foi iniciada a primeira quadra (Foto 3). Outras quadras foram depois abertas nos canteiros situados nos quadrantes NO e SE. Paralelamente, foram acompanhadas as primeiras obras no interior da Praça: a retirada do asfalto e o rebaixamento das antigas vias de circulação. As raspagens foram executadas com retroescavadeira. A retirada do asfalto chegou a 40cm em alguns pontos, deixando à mostra a pedra britada usada como base. Em locais em que a raspagem atingiu profundidades maiores, verificou-se que abaixo do embasamento asfáltico havia aterros com pedaços de concreto, tijolos furados, telhas goivas e saibro. Esporadicamente, fragmentos de louças e vidros foram registrados junto ao aterro. Quando a raspagem atingiu a via de circulação do Quadrante NO, denominada Linha 2, a máquina expôs pedras dispostas regularmente. Paralisada a operação da retroescavadeira no local, a estrutura de pedras passou a ser exposta pela equipe de arqueologia (Foto 7). Outras estruturas de pedras dispostas com regularidade foram constatadas posteriormente nos demais quadrantes e, especialmente, no quadrilátero Central. Com a remoção da capa asfáltica e do seu embasamento, foram iniciadas pelos operários as perfurações para concretagem de estacas de sustentação do futuro piso; as perfurações variaram de profundidade, chegando a 5m. Essa operação prosseguiu em todas as vias de acesso (linhas) e na porção central, sendo acompanhada por membro da equipe, que examinava o solo retirado pela perfuratriz (Foto 2). Os trabalhos de escavação para a implantação de sapatas, executados com retroescavadeira ou por operários com ferramentas manuais, foram também acompanhados quando a terra era deslocada. Durante essas atividades, foi localizado um depósito de ossos de animais domésticos e peças arqueológicas junto à Linha 2 do Quadrante NE e a base de antigo chafariz ao lado da Linha 2 do Quadrante SO (Foto 19); ambos foram expostos em seguida. Os cortes feitos para a fiação elétrica, sempre situados nos canteiros, possibilitaram a observação da estratigrafia do terreno e a constatação de evidências arqueológicas. Um deles, o aberto no Quadrante NO, coincidiu com um dos calçamentos de pedras, cuja área foi ampliada e, posteriormente, anexada à exposição pública. Não foi possível, entretanto, o controle preciso das ocorrências esparsas em vários pontos da obra, salvo quando peças permaneciam visíveis nos perfis expostos. A movimentação das pesadas máquinas e a apressada faina de numerosos operários dificultavam a perfeita visualização do terreno pela equipe que se dividia em diversas frentes. Nestas condições, as evidências foram apenas recolhidas - muitas vezes com a participação dos operários que passaram a entender a preocupação dos arqueólogos – e etiquetadas conforme o ponto ou trecho abordado. Quando a estratigrafia servia de baliza, a ela foram associadas as peças revolvidas. O acompanhamento constante das obras e, principalmente, a execução dos cortes-experimentais, cortes-estratigráficos e exposições de áreas amplas, porém, concorreram para o entendimento de uma parte da história da Praça.

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É preciso que se diga que, além dos percalços apontados acima, o desvendamento dessa história foi muito dificultado também pelas alterações que o espaço da Praça sofreu no passado, especialmente a partir do século XIX. As obras de revitalização que então se sucederam contribuíram para a destruição ou mutilação das evidências mais antigas. Canais de drenagem construídos com pedras de cantaria ou tijolos maciços (Foto 16), implantação de monumentos e alteração de vias de acesso causaram os maiores impactos ao patrimônio encerrado em seu solo.

Atividades de laboratório Ao final de cada dia de trabalho de campo as evidências arqueológicas obtidas foram transportadas para as dependências do CEPA/UFPR. As tarefas de limpeza e marcação do acervo (Fotos 20 e 21) de acordo com a procedência de cada coleção não puderam ser executadas conforme a programação. As atividades de campo, em consequência da descoberta dos calçamentos antigos e da necessidade da preparação de dois de seus trechos para exposição permanente, exigiram a permanência da equipe de arqueologia no local por mais tempo que o previsto pelo Projeto. Excepcionalmente, nos dias de chuva intensa, quando o trabalho na Praça era impraticável, algumas coleções foram processadas em laboratório. O manuseio seqüencial das coleções, compreendendo limpeza, marcação, preparação e análise, foi iniciado depois da inauguração das obras de revitalização da Praça Tiradentes em 27 de julho de 2008 transcorrendo, portanto, após o término da vigência do Contrato celebrado. Nos primeiros meses, ainda contando com a participação voluntária de uma parte da equipe, foram concluídos os trabalhos de limpeza e marcação, realizadas análises preliminares do material e esboçado um relatório final. Os resultados da análise inicial, principalmente os relacionados aos vidros e louças industrializadas, foram apresentados, em outubro de 2008, durante o 6º Encontro SAB-SUL, no município catarinense de Tubarão (Tellez et alii, 2008:38). Amostras de rochas retiradas de vários pontos dos calçamentos antigos identificados no espaço da Praça foram analisadas no Laboratório de Minerais e Rochas da UFPR, sendo as conclusões divulgadas em forma de Painel, por ocasião do 44º Congresso Brasileiro de Geologia, em São Paulo, também no mês de outubro daquele ano (Liccardo et alii, 2008:405). Posteriormente, os trabalhos tiveram continuidade e foram desenvolvidos por dois pesquisadores que, conforme a disponibilidade de tempo, revisaram as análises preliminares, desenvolveram a pesquisa documental e deram redação final ao relatório conclusivo. Colaborações pontuais junto a arquivos públicos e finalização de planta, perfis estratigráficos e quadro, foram prestadas por outros pesquisadores do CEPA/UFPR.

O registro do patrimônio arqueológico Operações desenvolvidas no Quadrante Nordeste Intervenção no ponto NE-E1 (NºC 4918)

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Acompanhamento de corte feito no passeio da rua José Bonifácio, ao lado da Praça Tiradentes (Fig. 1, NE-E1). Destinava-se à colocação de estaca para construção de tapume. Mediu 30cm de largura e 40cm de profundidade. Nos primeiros 20cm foram constados calçamento de petit pavet, piçarra e areia. Para baixo, o solo era argilo-arenoso de coloração avermelhada. Na base do corte ocorreu 1(5) 13 fragmento de prato de faiança branca. Intervenção no ponto NE-E2 (NºC 4937) Acompanhamento de perfuração na Linha 3 para construção da estaca 16D (Fig. 1, NE-E2). A capa asfáltica dessa via de acesso havia sido removida e, até 100cm de profundidade, o solo era argiloso de coloração marrom-escuro; para baixo, o solo era argiloso e avermelhado. Dois fragmentos de louça faiança fina branca, sendo um de prato e um de xícara, foram encontrados no solo marrom-escuro, aos 100cm de profundidade. Intervenção no ponto NE-E3 (NºC 4938) Acompanhamento de perfuração na Linha 3 feita para construção da estaca D. (Fig. 1, NE-E3). Os solos constatados apresentavam as mesmas características do ponto anterior. Aos 25cm de profundidade, no solo marrom-escuro ocorreram 1 fragmento de prato de faiança fina floral pintada à mão, estilo peasant borrão azul e 1 de prato de ironstone com superfície modificada padrão fitomorfo.

Intervenção no ponto NE-E4 (NºC 4939) Acompanhamento de perfuração feita para construção da estaca 5E. Situavase na Linha 3 (Fig. 1, NE-E4). Os solos constatados apresentavam as mesmas características dos pontos anteriores. Um fragmento de recipiente cerâmico artesanal com engobo vermelho foi constatado aos 100cm de profundidade, no solo argiloso marrom-escuro. Intervenção no ponto NE-E5 (NºC 4940) Acompanhamento de perfuração feita para construção de estaca; situava-se na Linha 3 (Fig. 1, NE-E5). Os solos constatados apresentavam as mesmas características dos pontos anteriores. Um fragmento de louça faiança fina branca foi registrado aos 50cm de profundidade, junto ao solo argiloso marrom-escuro. Intervenção no ponto NE-S1 (NºC 4922) Acompanhamento de abertura de um espaço com 1,50x0,70m de lados na Linha 4 (Fig. 1, NE-S1). Foi aprofundada manualmente até 0,50m, destinando-se à construção de sapata. A porção superficial, representada por asfalto cobrindo calçamento de blocos de petit pavet, aprofundava-se até 15cm. Para baixo, o solo era argiloso-arenoso, de coloração marrom-claro. As evidências arqueológicas, representadas por 1 (3) fragmento de pires de louça faiança fina pearlware, 1 de caneca de faiança fina pintada à mão estilo peasant floral e 7 de pratos de porcelana, transfer printing floral policromado, encontravam-se no solo marrom-claro,

entre 30 e 50cm de profundidade. 13

O número entre parêntesis refere-se a quantidade de fragmentos da mesma peça antes da restauração.

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Intervenção no ponto NE-S2 (NºC 4923) Acompanhamento de escavação para construção de sapata. Apresentava a mesma área da anterior, mas foi aprofundada até 70cm. Situava-se na Linha 4 (Fig. 1, NE-S2). O solo era argiloso-arenoso, de coloração marrom-claro e misturado com caliça. O material arqueológico foi constatado entre 55 e 60cm de profundidade e corresponde a: 1 fragmento de telha goiva; 1 fr. de tijolo furado; 1 fr. de alça de xícara de faiança fina floral pintada à mão em azul; 1 fr. de xícara de faiança fina verde-claro; 3 fr. de xícaras de faiança fina pearlware, sendo uma com frisos em negativo e uma com sup. modificada; 2 fr. de canecas de faiança fina branca, uma com sup. modif. padrão trigal; 1 fr. de pires de faiança fina pearlware; 1 fr. de prato de faiança fina transfer printing com cartucho floral na borda (Foto 31,b); 1 fr. de prato de faiança fina padrão Willow azul; 1 fr. de prato de faiança fina padrão Royal Rim; 1 fr. de travessa de faiança fina padrão Willow azul; 1 fr. de malga de faiança fina creamware; 1 (4) fr. de malga de faiança fina pearlware padrão banded; 1 fr. de tigela de ironstone; 2 fr. de louça porcelana branca, sendo um de prato e um de travessa; 1 fr. de garrafa de vidro verde-oliva, com inscrição na lateral: “S...” (molde duplo); 1 fr. de frasco de vidro verde-água, com inscrição na lateral: “...BONATE...”, “...NESIA”; 1 fr. de frasco de vidro incolor; 1 fr. de frasco de vidro branco leitoso; 1 bola de gude de vidro incolor; 1 prego de ferro (intemperizado); 1 fr. de concha marinha (Anomalocardia brasiliana).

Intervenção no ponto NE-S3 (NºC 4924) Acompanhamento de escavação para construção de sapata na Linha 4 (Fig. 1, NE-S3). Foi aprofundada até 55cm. O terreno era constituído por terra preta até 50cm de profundidade e por solo argilo-arenoso marrom-claro para baixo. Em ambos, havia caliça. Peças foram encontradas aos 17cm de profundidade (assinaladas por asteriscos na relação) e aos 55cm. Estão representadas por: 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de tijolo maciço; 1 fr. de telha francesa; 2 fr. de xícaras de faiança fina floral pintada à mão estilo sprig policromado; 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um creamware e um padrão Willow azul; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca e uma transfer printing com cartucho floral; 2 fr. de louça porcelana branca, sendo um de pires e um de prato; 1 fr. de louça sanitária de porcelana; 1 prego de ferro (intemperizado); 1 moeda de 50 centavos, ano de 1970 (intemp.); 1 fr. de osso partido com marcas de faca; 1 botão em plástico preto com dois furos.

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Intervenção no ponto NE-S4 (NºC 4925) Acompanhamento de escavação para construção de sapata na Linha 4 (Fig. 1, NE-S4). A escavação mecânica neste ponto limitou-se aos primeiros 30cm do solo abaixo da capa asfáltica e revestimento de petit pavet; foi dificultada pela presença de muitas raízes das árvores próximas. A equipe de arqueologia aprofundou-a até 50cm. A terra preta ocorreu até o nível das raízes; para baixo, o solo era argiloso arenoso marrom-claro, com caliça. As evidências, representadas por: 1 fragmento de garrafa de vidro verde-escuro, com marca do fabricante na base: “I.B.L” (Foto 46, a), produzido artesanalmente através de sopro, molde triplo e 1(5) fr. de frasco de vidro azul cobalto, foram detectados no início do solo marrom-

claro. Intervenção no ponto NE-S5 (NºC 4984) Acompanhamento de escavação para construção de sapata na Linha 4 (Fig. 1, NE-S5). O corte foi aprofundado até 70cm, quando surgiu o solo argiloso avermelhado; acima dele o solo era argilo-arenoso marrom-claro. O material arqueológico ocorreu no solo marrom-claro, entre 40 e 60cm de profundidade. Corresponde a: 3 fragmentos de pires de faiança fina, sendo um branco, um pearlware com sup. modif. padrão trigal e um transfer printing floral borrão azul; 2 fr. de pratos de faiança fina, sendo um pearlware e um transfer printing com cartucho e floral lilás; 1 fr. de tigela de faiança fina com frisos em verde e banhado em azul (Foto 35,a); 1 fr. de louça de faiança fina de função não identificada; 2 fr. de louça porcelana, sendo um de prato com decoração em tom terroso e um branco não identificado.

Intervenção no ponto NE-C1 (NºC 4919) Acompanhamento de escavação para instalação de fossa no canteiro, entre as Linhas 2 e 3 (Fig. 1, NE-C1). O corte mediu 80cm de lado, aprofundando-se até 80cm. Os primeiros 40cm do terreno eram constituídos por terra preta e, para baixo, por solo argilo-arenoso marrom-claro com caliça. As evidências, constatadas entre 45 e 70cm de profundidade, estão representadas por: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. vidrado marrom; 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de manilha vidrada; 5 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, um pearlware padrão Willow azul, um padrão Royal Rim e um padrão Shell Edged azul não moldada; 1 fr. de louça faiança fina de função não identificada; 2 fr. de louça porcelana branca, sendo uma de caneca e uma de função não identif.; 1 fr. de garrafa de vidro verde-oliva; 1 cravo de ferro com 90mm de comprimento; 1 fr. de concha marinha (Ostrea sp); 1 vértebra de peixe.

Intervenção no ponto NE-C2 (NºC 4920) Corte-experimental praticado ao sul do ponto anterior (Fig. 1, NE-C2). Objetivou a confirmação da estratigrafia daquele para posterior abertura de quadra.

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Nesse procedimento, no solo argilo-arenoso marrom-claro, entre 40 e 50cm de profundidade, foram coletados 1 fragmento de pires de faiança fina pintada à mão e 1 alfinete de gancho em ferro oxidado.

Intervenção no ponto NE-C3 (NºC 5028) Acompanhamento de escavação feita para instalação de caixa ligada à rede elétrica. Localizou-se no canteiro, entre as Linhas 2 e 3 (Fig. 1, NE-C3). Media 50cm de lado e foi aprofundado até 100cm. O terreno era constituído por terra preta até 40cm de profundidade e por solo argilo-arenoso marrom-claro para baixo. Desde os 15cm de profundidade, caliça misturava-se com o solo de ambas as camadas. O material arqueológico, registrado entre 15 e 40cm de profundidade, corresponde a: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples (um com associação de cabo); 1 fr. e rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. de telha goiva; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma branca e uma floral pintada à mão borrão azul; 1 fr. de pires de faiança fina pintado à mão floral borrão azul; 3 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco e dois padrões Willow azul; 1 fr. de travessa de faiança fina branca; 1 fr. de malga de faiança fina branca; 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 1 fr. de prato de porcelana branca; 2 fr. de louça de porcelana branca, sendo uma de açucareiro e uma de função não identif.; 1 fr. de ferradura de ferro (intemperizado); 2 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso partido com marca de faca; 1 osso serrado (serra fina).

Intervenção no ponto NE-C4 (NºC 5029) Acompanhamento de escavação realizada com o mesmo propósito da anterior; com dimensões equivalentes àquela, esta localizou-se no canteiro situado entre as Linhas 1 e 2 (Fig. 1, NE-C4). O terreno era formado por uma camada de terra preta até 40cm de profundidade, outra de solo argilo-arenoso marrom-claro até 80cm e por solo argiloso compacto e de coloração cinza-escuro para baixo. As evidências arqueológicas ocorreram entre 40 e 80cm de profundidade, estando representadas por: 1 fragmento de recipiente cerâmico industrializado com entalhe na borda; 1 fr. de pires de faiança branca; 1 fr. de prato de faiança branca; 1 fr. de prato de faiança fina padrão Royal Rim; 1(2) fr. de prato de ironstone com porção de marca na base: “...ON...”; 1 fr. de prato de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo (Foto 41,b); 1 botão em vidro branco com quatro furos.

Intervenções no ponto NE-C5 (NºC 4990) Cortes-experimentais em sequência praticadas no canteiro situado ao sul da Linha 1 (Fig. 1, NE-C5). Procurava-se a continuidade dos calçamentos constatados em outras partes da Praça. Todos apresentavam a mesma estratigrafia: terra preta até 40cm de profundidade, solo argiloso marrom-escuro de 40 a 70cm e solo argiloso avermelhado para baixo. O material arqueológico foi constatado entre 40 e 70cm de profundidade, juntamente com esparsos blocos de rocha intemperizados. Corresponde a:

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1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de tampa em cer. artesanal escovada; 1 fr. de prato de faiança branca; 1 fr. de alça de faiança fina branca; 1 fr. de pires de faiança fina transfer printing floral; 2 fr. de pratos de faiança fina whiteware; 1(2) fr. de tigela de faiança fina branca; 1(3) fr. de tigela de faiança fina branca; 1 fr. de tigela de faiança fina creamware; 1 fr. de tampa de faiança fina pearlware, padrão Willow azul; 2 fr. de louça porcelana branca, sendo uma de malga e uma de função não identif.; 1 fr. de chave de metal amarelo com inscrição: “GOLD”.

Intervenção no ponto NE-EX1 (NºC 4941) Durante o acompanhamento da escavação manual para construção de sapata na Linha 3, caracterizou-se um depósito de ossos de animais domésticos associado a fragmentos de objetos diversos (Fig. 1, NE-EX1). Esse conjunto preenchia uma cova elíptica iniciada aos 50cm de profundidade. Media 4,80m de comprimento por 1,50m de largura. Os ossos formavam uma camada que se aprofundou até 80cm. O solo junto às evidências era argiloso, de coloração marrom-escuro; na periferia, era também argiloso, mas de cor mais clara. O acervo recolhido está representado por: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 12 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha francesa; 4 fr. de garrafas de louça grés; 37(38) fr. de louça faiança fina branca, sendo oito de pratos e um de malga; 3 fr. de louça faiança fina padrão trigal de função não identificada; 1 fr. de louça faiança fina pintada à mão policromada fitomorfa; 1 fr. de louça faiança fina com faixas e frisos policromados; 2 fr. de louça faiança fina padrão Royal Rim; 2 fr. de pires em faiança fina, sendo um com friso vermelho e um com floral vermelho; 1 fr. de louça faiança fina padrão Willow azul; 3 fr. de louça faiança fina transfer printing azul; 3 fr. de louça faiança fina pintada à mão borrão azul; 8 fr. de louça faiança fina transfer printing borrão azul; 1 fr. de vaso de faiança fina transfer printing com cena romântica; 2 fr. de xícaras de porcelana com friso dourado; 8 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-água, cinco verde-oliva e dois verde-escuro; 3 fr. de frascos, sendo seis de vidro incolor e dois verde- claro; 1 prego de ferro (intemperizado); 1 fr. de arame de ferro (intemp.); 2 fr. de tiras de ferro (intemp.); 11 fr. de embalagem de zinco, quatro deles com ossos aderidos (intemp.); 1 mostrador de relógio em cobre, com inscrições: “CARTIER-RH 19-QUARTZ”; 1 fr. de chaira, instrumento para afiar faca em ferro (intemp.) (Foto 53,a); 14 127 fr. de ossos partidos; 11 fr. de ossos serrados, oito com serra fina e três com serra grossa; 4 fr. de ossos partidos com marcas de faca; 1 fr. de ladrilho de calçamento em cimento. Na peça permanecem três segmentos do quadriculado, cada um medindo 40mm de lado e 25mm de espessura.

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Apenas uma parte dos ossos foi recolhida.

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Intervenção no ponto NE-EX2 (NºC 4969) Cortes-experimentais praticados no extremo sul do canteiro situado entre as Linhas 2 e 3 detectaram rochas de cantaria aos 60cm de profundidade (Fig. 1, NEEX2). Removida a terra preta do canteiro, que formava uma camada com 52cm de espessura, evidenciou-se um solo argiloso marrom-avermelhado. Nesse meio, estendendo-se no sentido SO-NE, havia uma canaleta de drenagem formada por tijolos maciços superpostos e cobertos por pedras quadrangulares. Estas, medindo 30x30x10cm, resultaram de trabalho de cantaria e apresentavam uma face plana, justamente a que foi assentada sobre a canaleta (Foto 17). Outra canaleta com as mesmas características, orientada de N a S, ligava-se a anterior. Ao norte, em meio ao solo marrom-avermelhado, foram registradas concentrações de blocos de rocha intemperizados. O material arqueológico ocorreu junto à canaleta, no solo avermelhado e na junção deste com a terra preta. Foi constituído por: 1 fragmento de prato em biscuit; 2(3) fr. de tigelas em biscuit com faixas e frisos em negativo; 1 fr. de tigela em biscuit com faixas em negativo (Foto 44,b); 2 fr. de canecas de faiança fina, sendo uma Engine-turned e uma carimbada policromada; 1 fr. de prato de faiança fina borrão azul pintado à mão; 1(2) fr. de prato de faiança fina pearlware com porção de marca na base: “...ERA”; 1 fr. de prato de ironstone; 1(2) fr. de garrafa de vidro verde-oliva; 1 fr. de garrafa de vidro verde-musgo escuro; 1 fr. de frasco de vidro incolor; 1 fr. de base de fruteira de vidro incolor; 1 fr. de cânula de vidro incolor; 1 fr. de vidro derretido; 1 fr. de corrente em ferro com 15 elos (intemp.); 1 moeda de 1 cruzeiro, ano de 1981; 1 moeda de 1.000 cruzeiros, ano de 1993; 1 fr. de osso partido.

Intervenção no ponto NE-EX3 (NºC 4970) Exposição realizada para leste, em continuação à canaleta escavada anteriormente (Fig. 1, NE-EX3). Além desta, vestígios de outras foram constatados. Eram formadas por tijolos maciços unidos com argamassa. Como naquela, as paredes desta canaleta foram construídas com dois tijolos justapostos, e cobertos por tijolos dispostos perpendicularmente. Os fragmentos dessas canaletas direcionavam-se de N a S e de NO a SE. No ponto em que os dois tipos de canaletas se encontravam, verificou-se que as construídas apenas com tijolos estavam acima da que envolvia pedras. Situavam-se logo abaixo da terra preta do canteiro. Ambas as canaletas, inclusive as da exposição precedente, foram danificadas pela colocação de tubos plásticos para fiação e poste de iluminação. Ao lado da canaleta com pedras foi encontrado um balim esférico de chumbo. As evidências recolhidas junto ao solo argiloso avermelhado e na porção inferior da camada de terra preta, compreendem: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado branco; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de caneca de faiança fina branca;

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4 fr. de pratos de faiança, sendo um branco, um com frisos vinhosos e dois com faixas em azul; 1(2) fr. de xícara de faiança fina com decalque floral policromado; 4 fr. de xícaras de faiança fina, sendo duas brancas, uma pearlware e uma pintada à mão borrão azul; 1 fr. de caneca de faiança fina pearlware; 2(3) fr. de pires de faiança fina pintada à mão floral; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um transfer printing floral em azul e um sponge em azul; 3 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, três pearlware e um floral pintado à mão borrão azul; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca e uma pearlware; 4 fr. de louça porcelana, sendo um de pires com decalque floral policromado, um de açucareiro branco e dois de pratos brancos; 1 fr. de isolante de porcelana; 1 fr. de caneca em biscuit; 1 fr. de tigela em biscuit com faixa e frisos em negativo; 5 fr. de garrafas, sendo uma de vidro âmbar, três de vidro verde-claro e uma verde-escuro; 4 fr. de frascos, sendo três de vidro incolor e um verde-escuro; 1 fr. de taça de vidro incolor; 1 fr. de vidro derretido; 1 fr. de vidro de função não identif.; 1 balim de chumbo com 25mm de diâmetro e 82g. de peso (Foto 49); 2 fr. de concha marinha (Anomalocardia brasiliana).

Intervenção no ponto NE-EX4 (NºC 4971) Exposição praticada com vistas à localização de calçamentos e passeio (Fig. 1, NE-EX4). A área abrangida situava-se entre o canteiro ao sul da Linha 1 e o passeio central, cujo asfalto havia sido removido. Abaixo da camada de terra preta, com cerca de 50cm de espessura, constatou-se a existência de solo marromavermelhado com caliça. Aos 75cm de profundidade, o solo continha muitos blocos de rocha intemperizada deslocados. Alguns deles, entretanto, ainda estavam dispostos com regularidade, inferindo fragmento da canaleta circular central. Era composta por pedras pequenas no centro e um pouco maiores nas laterais; media 90cm de largura e apresentava leve depressão central. No solo preto e, principalmente, no avermelhado, foram encontrados: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 4 fr. de telha goiva; 2 fr. de canecas de faiança fina, sendo uma com faixa e friso em negativo e uma dipped ware?; 2 fr. de pires de faiança fina branca; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware; 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 1 fr. de travessa de faiança fina com superfície queimada; 1(3) fr. de caneca de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo; 1 fr. de louça ironstone função não identif.; 1 fr. de xícara de porcelana branca; 1(3) fr. de prato de porcelana branca; 1(2) fr. de malga de porcelana chinesa do gênero Swaton (Foto 42,d); 1 fr. de garrafa de vidro verde-oliva; 2 fr. de frascos, sendo um de vidro âmbar e um marrom; 1 fr. de copo de vidro incolor; 1 fr. de vidro incolor e vermelho de função não identif.; 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 1 fr. de cartucho deflagrado calibre 32, com inscrições: “REM – UM” (intemp.); 1 moeda de 5 centavos, ano de 1969;

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1 fr. de osso partido.

Intervenção no ponto NE-EX5 (NºC 4976) Com os mesmos propósitos da anterior, foi exposto um espaço no lado sul da Linha 1 e em parte do passeio circular, (Fig. 1, NE-EX 5). A camada formada por solo marrom-avermelhado com caliça ocorreu aos 60cm de profundidade, abaixo da terra preta. Aos 65cm de profundidade, foram encontrados restos de uma drenagem construída com tijolos maciços rejuntados com argamassa; orientava-se no sentido N-S. Outra drenagem, esta formada por tijolos maciços assentados e cobertos por pedras de cantaria retangulares medindo 35x30x10cm, foi exposta abaixo da anterior a sua orientação era no sentido NE-SO. Ambas estavam perturbadas por canalizações mais recentes. As evidências arqueológicas, assim como pequenos blocos de rocha intemperizados, foram encontrados aos lados e acima das drenagens. Aquelas estão representadas por: 8 fragmentos de recipientes cerâmicos simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 2 fr. de rec. cer. artesanais escovados; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho reciclado: a peça foi desbastada nos bordos, adquirindo formato circular, com 25mm de diâmetro (Foto 27,a); 1 fr. de tijolo maciço; 1 fr. de tijolo furado; 8 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha alemã; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma transfer printing com porção de cena em verde e uma pintada à mão borrão azul; 1 fr. de caneca de faiança fina carimbada policromada; 1 fr. de caneca de faiança fina pearlware; 1 fr. de alça de faiança fina pearlware; 4 fr. de pires de faiança fina, sendo um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie, dois pearlware com sup. modif. padrão trigal e um pearlware com marca na base: “D”; 1(2) fr. de pires de faiança fina carimbado policromada; 13 fr. de pratos de faiança fina, sendo quatro brancos, um padrão Royal Rim, um Shell Edged rosa (Foto 36,f), quatro padrão Willow azul pearlware, um transfer printing com cena exótica borrão azul, um transfer printing floral whiteware e um transfer printing com iconografia inglesa em azul (Foto 32,d); 1(2) fr. de prato de faiança fina padrão Willow azul pearlware; 1(2) fr. de prato de faiança fina floral pintada à mão borrão azul; 1 fr. de travessa de faiança fina padrão Willow azul pearlware; 2 fr. de tigelas de faiança fina, sendo uma floral pintada à mão estilo sprig pearlware (Foto 34,b) e uma floral pintada à mão borrão azul; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma floral pintada à mão estilo peasant e uma policromada; 1 fr. de tampa de faiança fina transfer printing em azul; 1 fr. de louça de faiança fina de função não identif.; 1 fr. de prato de faiança fina padrão Willow azul, reciclado como ficha de jogo de dama. Mede 23mm de diâmetro (Foto 27,c); 1 fr. de caneca de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo; 3 fr. de pires de ironstone; 2 fr. de tampas de ironstone, sendo uma com sup. modif. padrão trigal; 2 fr. de louça porcelana branca, sendo um de pires e um de prato; 2 fr. de frascos de vidro incolor; 1 fr. de copo de vidro incolor; 1 parafuso em bronze;

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1 fr. de componente de aparelho de iluminação a carbureto. Está formado por parafuso oco em bronze e tubo soldado em ferro; 5(6) fr. de ossos partidos.

Intervenção no ponto NE-EX6 (NºC 5027) Exposição realizada no canteiro central e em porções contíguas dos passeios (Fig. 1, NE-EX6). No trecho norte foram expostos dois metros de uma canaleta de drenagem com 90cm de largura. Era formada por pedras intemperizados, de formato circular ou elíptico e ladeadas por outras um pouco maiores e mais elevadas conferindo, ao conjunto, um perfil levemente côncavo. A exposição nesse trecho não prosseguiu devido à existência de árvores e suas grossas raízes. O outro trecho exposto situava-se ao sul do canteiro. Revelou trecho de drenagem com as mesmas características da anterior, mas danificada por canalização de tijolos e pedras que coincidiram com o seu traçado NO-SE. Os dois calçamentos encontravam-se no solo argiloso marrom-avermelhado com caliça, abaixo da terra preta do canteiro. O material arqueológico, coletado junto aos calçamentos e na junção deste com a terra preta, aos 40cm de profundidade, corresponde a: 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de xícara de faiança fina branca; 1 fr. de pires de faiança fina creamware; 6 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, três padrão Willow azul, um floral pintado à mão borrão azul e um transfer printing borrão azul; 1 fr. de travessa de faiança fina branca; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca e uma transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1 moeda de 50 cruzeiros, ano de 1985; 1 fr. de aro de fogão a lenha em ferro (intemp.); 1 fr. de osso partido; 1 botão em plástico imitando madrepérola, com dois furos.

Intervenção do ponto NE-EX7 (NºC 5030) Exposição praticada na porção central do canteiro referido anteriormente (Fig. 1, NE-EX7). Na parte norte, a decapagem revelou trechos do calçamento côncavo feito com pedras pequenas. Eram segmentos daquele orientado em sentido NO-SE. Estavam perturbados por canalizações construídas com tijolos maciços orientados no sentido NO-SE e L-O. Este assentava-se no calçamento mais antigo e aqueles o perturbaram. Do centro para o sul, um calçamento formado por pedras pequenas estendiase em forma de arco. A ele se ligava um fragmento de calçamento reto, cuja orientação NO-SE correspondia ao que foi escavado no Quadrante NO. Foi construído, também com pedras pequenas. Sobre a calçada curva do Quadrante NE, Exposição 7, foi construída outra canaleta com tijolos maciços rejuntados com argamassa, orientada em sentido NESO (Foto 18). A terra preta do canteiro tinha cerca de 40cm de espessura; para baixo, o solo era argiloso de coloração marrom-escuro com caliça. As estruturas descritas encontravam-se a 60cm de profundidade. As peças arqueológicas ocorreram no solo marrom-escuro até o nível das estruturas e raramente, no solo preto. Estão representadas por:

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1 fragmento de recipiente cerâmico vidrado verde; 1 fr. de tijolo maciço (lajota), com 40mm de espessura; 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um carimbado policromado (Foto 34,g) e um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 10 fr. de pratos de faiança fina, sendo três brancos, dois padrão Royal rim, três padrão Willow azul e dois transfer printing borrão azul; 1 fr. de alça de tigela de faiança fina whiteware; 3 fr. de malgas de faiança fina pearlware; 2 fr. de louça faiança fina, sendo um branco e um creamware; função não identificada; 1 fr. de pires de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo; 3 fr. de louça porcelana branca, sendo um de pires, um de prato e um de terrina?; 1 fr. de copo de vidro incolor; 1 moeda de 50 centavos, ano de 1976; 1 chave de metal com inscrições: “GOLD 269” e “BRAZIL”; 1 fr. de osso partido.

Intervenção no ponto NE-Q1 (NºC 4921, 4926, 4927, 4932, 4945, 4961, 4965, 4972 e 4975) Corte-estratigráfico praticado no extremo norte do canteiro situado entre as Linhas 2 e 3 (Fig. 1, NE-Q1). A escavação foi praticada por meio de níveis artificiais com 15cm de espessura, com exceção dos dois últimos, com 20cm de espessura. O trabalho foi muito dificultado devido à existência de pinheiro e outras árvores nas proximidades, cujas raízes deveriam ser mantidas. Na superfície do terreno havia vegetação de pequeno porte. O corte, que atingiu 140cm de profundidade, revelou uma sequência de camadas com espessuras variáveis, mas quase todas depositadas como aterro. A Figura 2 representa a estratigrafia da parede leste da quadra.

Figura 2. Perfil da parede leste na Quadra I, Quadrante NE.

Superficialmente, uma camada de terra preta apresentava espessuras variando de 35 a 45cm. Abaixo dela, com espessuras entre 25 e 35cm, dispunha-se outra representada por solo argilo-arenoso marrom-claro. Esta era sucedida por delgada camada de solo argiloso preto e compactado, como de piso; chegava a 3cm

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de espessura em alguns pontos e era quase horizontal. A quarta camada era formada por solo argiloso marrom-escuro, mantendo espessuras variando de 15 a 25cm. A quinta camada era constituída por solo argiloso compacto, de cor vermelha. A irregularidade das camadas espessas era mais acentuada em outras partes da quadra. No canto noroeste, por exemplo, a camada 5 atingiu a profundidade de 125cm e estava associada a grandes blocos de rocha (Foto 3). As evidências arqueológicas foram constatadas nas cinco primeiras camadas, mas de forma rarefeita nas camadas 4 e 5. Caliça era abundante nas camadas 2, 4 e 5. A camada 3 encerrava maior quantidade de fragmentos de carvões em relação às demais; nestas os carvões eram esparsos. O material arqueológico recuperado nos diversos níveis, está representado por: NE-Q1= 0-15cm (NºC 4921) 2 fragmentos de recipientes cerâmicos industrializados simples; 1(3) fr. de vaso de cer. industrializada simples, com furo na base; 2 fr. de tijolo maciço; 2(3) fr. de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés; 1 fr. de tigela de faiança fina com sup. modif. padrão trigal; 1 fr. de xícara de faiança fina pearlware; 1 fr. de pires de faiança fina pearlware com porção de marca na base não identificada; 2 fr. de pratos de faiança fina, sendo um pearlware com sup. modif. padrão trigal e um de com borda ondulada padrão Shell Edged azul; 2 fr. de garrafas de vidro verde; 2 fr. de frascos, sendo um de vidro incolor e um verde; 4 fr. de vidro incolor, sendo um de tampa, um de tigela, um de pote e um de copo; 3 pregos de ferro (intemp.); 1 cartucho de arma de fogo, com projetil não deflagrado, 9mm. Inscrições na base: “R.P. – 380 AUTO” (houve tentativa de retirada do projétil com alicate) (Foto 50,a); 1 projetil jaquetado biogival 9mm; 1 fr. de parafuso de ferro (intemp.); 1 arruela de ferro (intemp.); 1 fr. de chapinha de garrafa em metal (intemp.); 2 chaves de metal com inscrições: “GOLD 312 – BRAZIL” e “AROUCA – JAS 12”; 1 fr. de pilha elétrica “RAIOVAC”, com homenagem a Pelé; 10 fr. de ossos partidos; 7 fr. de ossos serrados (serra fina); 3 fr. de ossos de aves; 1 fr. de osso partido e calcinado; 1 botão em plástico branco, com quatro furos; 1 conta de colar em plástico imitando pérola. NE-Q1= 15-30cm (NºC 4926) 9 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 1 fr. de alça modelada; 3 fr. de rec. cer. industrializados simples; 3 fr. de vasos de cer. industrializada com decoração floral moldada; 1 fr. de rec. cer. vidrado marrom; 2 fr. de tijolo furado; 5 fr. de telha goiva; 2 fr. de telha francesa; 1 fr. de manilha vidrada marrom; 1 fr. de caneca de faiança branca; 1 fr. de prato de faiança branca; 4 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um creamware e dois transfer printing;

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3 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, um pearlware e um transfer printing padrão Willow azul; 2 fr. de malgas de faiança fina branca; 1 fr. de tampa de faiança fina pintada à mão borrão azul; 1(2) fr. de porcelana branca; 1 fr. de pires de porcelana com borda ondulada sup. modif. e friso em dourado; 20 fr. de garrafas, sendo dois de vidro âmbar, um fumê, dois verde-água, sete verde-oliva e oito verde; 4 fr. de vidro incolor, sendo uma de tampa e três de taças; 6 fr. de vidros de função não identif.; 1 conta-de-colar de vidro vermelho e preto. É cilíndrico, com 20mm de comprimento e 13mm de diâmetro (Foto 47,c); 1 pastilha de vidro de vidro verde-claro de revestimento de fachada; 5 fr. de cravos de ferro (intemp.); 16 fr. de pregos de ferro (intemp.); 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 1 cartucho de fuzil deflagrado (intemp.); 1 fr. de tira de ferro (intemp.); 2 grampos de cerca de arame farpado em ferro (intemp.); 1 fr. de arame ondulado em ferro (intemp.); 1 parafuso vazado em bronze; 2 moedas de 2 centavos, anos de 1967 e 1969; 1 moeda de 5 centavos, ano de 1969; 1 moeda de 10 centavos, ano de 1979; 2 moedas de 50 centavos, anos de 1975 e 1988; 2 moedas de 1 cruzeiro, anos de 1979 e 1988; 1 moeda de 500 cruzeiros, ano de 1992; 1 fr. de estilete de ardósia (Foto 26,c); 1 fr. de piteira de baquelite com inscrição: “EXCELLO”; 1 fr. de botão em plástico branco, com quatro furos; 1 fr. de concha marinha (Ostrea sp.). NE-Q1= 30-45cm (NºC 4927) 21 fragmentos de recipientes cerâmicos simples; 2 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 5(6) fr. de vasos de cer. industrializada simples (um com furo na base); 4 fr. de tijolo maciço; 8 fr. de telha goiva; 2 fr. de telha alemã; 2 fr. de telha francesa, um com inscrição em alto-relevo: “...OLLE-CORITIBA”; 1 fr. de manilha vidrada marrom; 1 fr. de garrafa de grés vidrado; 1 fr. de prato de faiança com faixas em azul e vinhoso; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma com sup. modif. padrão fitomorfo e uma transfer printing com porção de cena em azul; 5 fr. de pires de faiança fina, sendo um pearlware, um transfer printing borrão azul, um carimbado em vermelho, um padrão Royal Rim e um com faixa e friso em verde; 4 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos e dois pearlware; 1 fr. de urinol de faiança fina branca; 1 fr. de louça faiança fina de função não identif.; 3 fr. de ironstone, sendo um de caneca, um de pires e um de malga; 12 fr. de garrafas, sendo cinco de vidro verde, seis verde-oliva e uma verde-escuro; 3 fr. de frascos, sendo dois de vidro verde-água e um verde; 1 fr. de tampa de frasco de vidro verde-água; 1 fr. de cálice de vidro cristal incolor; 1 bola de gude de vidro azul-cobalto e branco; 3 fr. de vidro de função não identif.; 1 fr. de tampa de vidro incolor com porção de inscrição na lateral: “DE”; 1 tampa de frasco de vidro verde-água;

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2 fr. de cravos de ferro (intemp.); 8 fr. de pregos de ferro (intemp.); 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 1 fr. de cartucho de arma de fogo em cobre, 7mm, com inscrições na base: “DWN” e “1913” (intemp.); 3 fr. de chapas de ferro (intemp.); 1 fr. de embalagem de lata (intemp.); 1 botão em cobre com alça para fixação. Mede 15mm de diâmetro e 2mm de espessura (intemp.); 1 fr. de osso partido; 5 fr. de ossos serrados (serra fina); 3 fr. de ossos partidos e calcinados; 1 pederneira em silexito. Mede: 22x20x8mm (Foto 26,a); 1 fr. de ladrilho de calçamento. Corresponde a um dos segmentos quadrangulares, com 60mm de lado e 25mm de espessura. NE-Q1= 45-60cm (NºC 4932) 3 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 4 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 1 fr. de tijolo maciço; 2 fr. de tijolo maciço (lajota), com espessuras de 35mm e 45mm, respectivamente; 17 fr. de telha goiva; 1 fr. de caneca de faiança fina pearlware; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco e dois creamware; 4 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, um pearlware com sup. modif. padrão fitomorfo, um padrão Willow azul e um com borda ondulada padrão Shell Edged verde; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma floral pintada à mão estilo peasant e uma com friso em azul-claro; 1(10) fr. de malga de faiança fina pearlware; 2 fr. de pires de porcelana, sendo um branco e um pintado à mão borrão azul, padrão fitomorfo em negativo (Foto 42,a); 6 fr. de garrafas, sendo quatro de vidro verde-oliva e duas verde-escuro; 3 fr. de frascos, sendo dois de vidro incolor e um incolor com marca na base: “P” “169”; 1 fr. de cravo de ferro (intemp.); 1 fr. de prego de ferro (intemp.); 1 fr. de cartucho deflagrado, com inscrições na base: “38 C I.M.R. O...” (intemp.); 1 fr. de tira de ferro (intemp.); 1 fr. de lata de embalagem (intemp.); 1 fr. de serra para cortar ferro (intemp.); 1 fr. de barra de ferro (intemp.); 12 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso serrado (serra fina); 1 fr. de osso partido com marca de faca; 1 fr. de osso partido e calcinado; 1 fr. de estilete de ardósia (Foto 26,e); 1 fr. de ladrilho de calçamento em cimento. Corresponde a um dos segmentos quadrangulares, com 55mm de espessura. Recebeu camada de tinta amarela na superfície. NE-Q1= 60-75cm (NºC 4945) 4 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado; 1 fr. de tijolo maciço (lajota), com 35mm de espessura; 13 fr. de telha goiva; 1 fr. de pires de faiança fina transfer printing com cartucho com cena borrão azul; 2 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco e um creamware padrão Shell Edged verde com borda ondulada; 1 fr. de pires de porcelana pintado à mão borrão azul e presença de floral em negativo e associação de alça;

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7 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde, duas verde-claro e quatro verde-escuro; 2 fr. de frascos, sendo um de vidro incolor e um verde-água; 1 fr. de tigela de sobremesa de vidro incolor com sup. modif.; 1 cravo de bronze com 25mm de comprimento (Foto 47,a); 1 fr. de cravo de ferro (intemp.); 4 fr. de pregos de ferro (intemp.); 1 fr. de tira de ferro (intemp.); 11 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso partido com marca de faca; 1 fr. de osso serrado (serra fina). NE-Q1= 75-90cm (NºC 4961) 13(15) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2(14) fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho (Foto 22,a); 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 2(5) fr. de rec. cer. artesanais escovados (um associado com incisões – Foto 23,e); 1 fr. de cachimbo modelado com incisões finas. Corresponde ao tubo de aspiração e parte do fornilho (Foto 25,b); 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo reciclado: a peça foi desbastada nos bordos, adquirindo formato quase circular com 25x23mm de diâmetro (Foto 27,b); 1 fr. de tijolo maciço (lajota), com 35mm de espessura; 8 fr. de telha goiva; 2 fr. de garrafas de vidro verde-oliva, apresentando-se uma com superfície irisada; 2 fr. de panela de ferro (intemp.). NE-Q1= 90-105cm (NºC 4965) 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples. NE-Q1= 105-120cm (NºC 4972) 2 fragmentos de recipientes cerâmicos simples. NE-Q1= 120-140cm (NºC 4975). Somente grandes blocos de rocha que se concentravam no canto NE do corte.

Operações desenvolvidas no Quadrante Noroeste Intervenção no ponto NO-E1 (NºC 4944) Acompanhamento de perfuração realizado na área do passeio central ao sul do canteiro (Fig. 1, NO-E1). Na coluna retirada pela perfuratriz verificou-se que o solo argiloso marrom-escuro aprofundava-se até 100cm, sendo sucedido pelo solo argiloso avermelhado. O solo removido aos 90cm de profundidade encerrava 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples e 2 de louça faiança fina branca, sendo um de tigela e um de base de pote.

Intervenção no ponto NO-E2 (NºC 4948) Acompanhamento de perfuração realizada na Linha 3 (Fig. 1, NO-E2). Neste ponto, o solo argiloso marrom-escuro aprofundava-se até 80cm; abaixo dele ocorria o solo argiloso avermelhado. Aos 20cm de profundidade, a perfuração foi dificultada pela presença de grandes blocos de rocha. Três (5) fragmentos de louça faiança fina ocorreram aos 30cm de profundidade, referindo-se a um pires creamware, um pires pearlware e uma tigela de cor amarela. Intervenção no ponto NO-E3 (NºC 4949) Acompanhamento de perfuração realizada na Linha 3, nas proximidades da anterior (Fig. 1, NO-E3). Os solos verificados apresentavam as mesmas características daquela.

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Aos 20cm de profundidade, junto ao solo argiloso marrom-escuro, foram coletados 1 fragmento de tinteiro de grés e 1 de prato de faiança fina com sup. modif. padrão trigal. Intervenção no ponto NO-E4 (NºC 4954) Acompanhamento de perfuração realizada na extremidade oeste da Linha 4 (Fig. 1, NO-E4). O solo removido nesse local era argiloso marrom-escuro até 80cm de profundidade e argiloso avermelhado para baixo. Um fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples, 2 de pratos de faiança fina, sendo um branco e um transfer printing borrão azul estilo chinoiserie, 1 de caneca de faiança fina pearlware, 1 de xícara de faiança fina creamware e 1 de vidro branco de função não identif., foram coletados

aos 70cm de profundidade. Intervenção no ponto NO-S1 (NºC 5000) Acompanhamento da abertura de cova para sapata na área do passeio central (Fig. 1, NO-S1). A abertura, com 50x70cm de lado e 150cm de profundidade revelou, depois da camada de asfalto, solo argiloso marrom avermelhado até 50cm de profundidade; para baixo, o solo argiloso tornava-se avermelhado. Nas proximidades do canteiro central, a primeira camada de solo adquiria coloração marrom-escuro e era atravessado por grossas raízes de árvores. Nesse meio, até 50cm de profundidade, foram registrados: 6 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1(2) fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 1 fr. de rec. cer. artesanal com lábio entalhado (Foto 24,b); 1 fr. de rec. cer. industrializada simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado verde-claro; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha alemã; 1 fr. de garrafa de grés vidrado; 1 fr. de xícara de faiança azul-escuro; 1 fr. de xícara de faiança fina pearlware; 1 fr. de pires de faiança fina pearlware; 9 fr. de pratos de faiança fina, sendo três brancos, dois pintados à mão (1 com faixas e frisos em vermelho e 1 com faixa e frisos policromados – Foto 35,d), dois transfer printing (1 em azul e 1 estilo Chinoiserie) e dois padrão Willow azul; 3 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca, uma floral pintada à mão borrão azul (Foto 38,a) e uma transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 2 fr. de louça ironstone, sendo um de prato e um de tampa com sup. modif. padrão trigal; 5 fr. de louça porcelana, sendo quatro brancos e um de pires com friso em verde e decalque em azul-claro, dois de pratos, um de tampa e um de função não identificada; 1 dente de porco do mato (Foto 56,b).

Intervenção no ponto NO-V1 (NºC 4928) Acompanhamento de abertura de vala, para posterior construção de sapatas, na metade noroeste da Linha 3 (Fig. 1, NO-V1). A escavação, feita com retroescavadeira, atingiu 100cm de profundidade. Abaixo da camada asfáltica, o solo era argiloso, de coloração marrom-escuro, com caliça. Aos 75cm de profundidade, esse solo era substituído por outro, também argiloso, mas de coloração avermelhada. Muitos blocos de rocha de diversos formatos e tamanhos ocorreram nas porções inferiores da camada de solo marrom-escuro. Aos 80cm de profundidade, foi localizada uma canalização feita com tijolos furados, assentados com argamassa. Essa galeria de águas pluviais orientava-se no sentido NO-SE.

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As evidências arqueológicas foram constatadas entre 40 e 70cm de profundidade, e correspondem a: 1 fragmento de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés; 1 fr. de azulejo de faiança em azul borrão; 1 fr. de prato de faiança com faixas em azul; 11 fr. de pires de faiança fina, sendo quatro brancos, dois pearlware, dois florais pintados à mão estilo sprig, um transfer printing com cena em azul e dois transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1(2) fr. de pires de faiança fina com faixas e frisos em negativo; 12 fr. de pratos de faiança fina, sendo cinco brancos, quatro pearlware (1 com marca na base: “MA...” “...CHIN...” da TRADE MARK CHINA (Foto 39,b), um transfer printing floral lilás (Foto 31,c) e dois padrão Willow azul; 3 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma pintada à mão floral verde desbotado, uma transfer printing com cena exótica em azul e uma com porção de decoração não identif.; 4 fr. de tigela de faiança fina branca; 2 fr. de travessas de faiança fina pearlware; 1 fr. de malga de porcelana chinesa do gênero Swaton; 3 fr. de louça porcelana, sendo dois de pires (1 branco e 1 floral pintado à mão policromado) e um branco de função não identif.; 1 fr. de tampa de frasco de vidro âmbar; 3 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-oliva e duas verde-musgo; 2 fr. de frasco, sendo um de vidro verde-água e um verde; 1 fr. de tampa de vidro cristal incolor; 1 botão em vidro azul, com dois furos; 4 fr. de ferraduras de ferro (intemp.); 1 dobradiça de ferro (intemp.) (Foto 54,b); 2 fr. de ossos partidos; 1 fr. de mandíbula com dois molares de porco do mato. Apresenta marca de faca (Foto 56,a); 1 fr. de osso serrado (serra grossa).

Intervenção no ponto NO-V2 (NºC 4947) Acompanhamento de abertura de vala na Linha 1 (Fig. 1, NO-V2). Logo abaixo da camada de asfalto o terreno era formado por solo argiloso marrom-escuro com muita caliça. Aprofundava-se até 60cm, assentando no solo argiloso avermelhado. O material arqueológico ocorreu junto ao solo marrom-escuro, sendo representado por 1 fragmento de tigela em faiança fina pearlware, 1 de pires em ironstone, 1 de garrafa de vidro verde-oliva e 1 de osso serrado (serra fina).

Intervenção no ponto NO-V3 (NºC 4955) Acompanhamento de abertura de vala na metade leste da Linha 4 (Fig. 1, NO-V3). Abaixo da camada de asfalto e até 70cm de profundidade, o solo era argiloso marrom-escuro com caliça e blocos de rocha intemperizados. De 70cm até 100cm, profundidade máxima atingida pela vala, o solo era argiloso avermelhado. Peças arqueológicas foram encontradas na camada de solo marrom-escuro, especialmente entre 40 e 70cm de profundidade. Compreendem: 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado marrom-claro; 4 fr. de telha goiva; 2 fr. de pratos de faiança, sendo um com faixas em azul (Foto 30,d) e um branco; 1 fr. de caneca de faiança fina transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1 fr. de xícara de faiança fina floral pintada à mão estilo peasant;

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13 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, um whiteware, um creamware com marca na base: “BRAZIL IRON STONE Z. DE P. XAVIER CURITYBA (Foto 39,d), seis pearlware(1 com marca na base: “...SARREGUEMINES” (Foto 39,e), um pintado à mão com faixa azulmarinho, um com friso em preto e um transfer printing floral lilás; 1 fr. de molheira de faiança fina transfer printing floral azul; 2 fr. de pires de ironstone, sendo um com marca na base: “IRONSTONE CH...” (Foto 41,d); 5 fr. de garrafas, sendo duas de vidro verde, duas verde-musgo e uma verde-escuro; 1 fr. de bola de gude de vidro verde; 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 1 fr. de osso partido com marca de faca; 1 fr. de ladrilho de calçamento em cimento. Corresponde a um dos segmentos quadrangulares, com 65mm de lado e 25mm de espessura. Foi pintado de amarelo na superfície.

Intervenção no ponto NO-C1 (NºC 4985) Acompanhamento de abertura de cova na área do canteiro ao sul da Linha 4 (Fig. 1, NO-C1). Após a camada de terra preta com cerca de 30cm de espessura, a escavação atingiu o solo argiloso marrom-escuro com muita caliça e raízes de árvores. Este solo prosseguiu até 80cm de profundidade, o limite do corte. Na profundidade de 60cm ocorreram, agrupados, 3 fragmentos de azulejo em faiança com decoração floral em azul (Foto 30,a).

Intervenção no ponto NO-C2 (NºC 5023) Acompanhamento de abertura de cova na área do canteiro situado entre as Linhas 3 e 4 (Fig. 1, NO-C2). A terra preta neste ponto tinha 20cm de espessura. A camada que a sucedia, formada por solo argiloso marrom-escuro e caliça, aprofundou-se até 50cm, o limite do corte. As evidências arqueológicas foram detectadas desde a base da camada de terra preta até o limite inferior do corte. Estão representadas por: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com lábio entalhado (Foto 24,d); 1 fr. de rec. cer. vidrado verde; 1 fr. de caneca de faiança branca; 1 fr. de pires de faiança branca; 3 fr. de xícaras de faiança fina, sendo duas pintadas à mão (1 floral policromado estilo sprig e um floral borrão azul) e uma carimbada policromada; 2 fr. de canecas de faiança fina pearlware com sup. modif. (1 padrão trigal e 1 acanalado); 1(2) fr. de caneca de faiança fina floral pintada à mão azul-claro estilo peasant; 8 fr. de pires de faiança fina, sendo um creamware, um whiteware, dois pintados à mão (1 com faixa em azul e 1 floral policromado), um padrão Willow azul e três transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 12 fr. de pratos de faiança fina, sendo oito pearlware (2 padrão trigal, 1 padrão Royal Rim, 1 com marca na base: “SOC...” da SOCIÉT CÉRAMIC) e quatro padrão Willow azul (Foto 32,e); 1(2) fr. de prato borrão azul pintado à mão, motivo geométrico com aplicação de lustro verme15 lho (Foto 38,b); 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma creamware e uma pearlware; 2 fr. de travessas de faiança fina padrão Willow azul (1 com marca na base: “...IGINAL STAFFORDSH...” J.M.& S. “...VÃO BUSK” - Foto 32,b); 1 fr. de alça de faiança fina branca; 2 fr. de potes de faiança fina branca; 3 fr. de louça de faiança fina de função não identif.;

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Na restauração, verificou-se que o segundo fragmento do mesmo prato procedia do Quadrante NE, EX7, situado a quase 40m de distância; este foi encontrado entre 40 e 60cm de profundidade (NºC 5030).

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4 fr. de louça ironstone, sendo um de pires com sup. modif. padrão fitomorfo, dois de pratos e uma de tigela com sup. modif. padrão trigal; 3 fr. de louça porcelana, sendo um de pires com marca na borda “Café Damasco” e marca na base: “...ANA” “...IDT” “...RAZIL” “...06”, um de prato com borda ondulada e friso em negativo e um de função não identif.; 1 fr. de garrafa de vidro âmbar com marca no fundo: UHA. Letras superpostas (Foto 46,d); 1 fr. de prego de ferro (intemp.); 1 camafeu de lata revestido com plástico (intemp.); 1 chaveiro de ferro com inscrição: “TDK”.

Intervenção no ponto NO-C3 (NºC 5025) Acompanhamento de abertura de cova na área de canteiro situado entre as Linhas 1 e 2 (Fig. 1, NO-C3). Este corte com 50cm de lado foi estendido até a vala aberta na Linha 1; ambos foram aprofundados até 60cm. Na parte do canteiro, a terra preta apresentava espessura de 30cm. Abaixo dela, e também na parte abrangida pela linha, caracterizou-se o solo argiloso marrom-escuro com caliça. O material arqueológico ocorreu nos últimos 15cm da camada de terra preta e no solo marrom-escuro. Corresponde a: 10 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 2 fr. de rec. cer. artesanais escovados; 1 fr. de rec. cer. artesanal com lábio entalhado; 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo; 1 fr. de vaso em cerâmica vidrada amarela; 1 fr. de telha alemã; 1 fr. de manilha vidrada verde; 3 fr. de garrafas de grés vidrado, sendo um com inscrição na lateral: “WY...” “A...”; 1 fr. de caneca de faiança; 3 fr. de pratos de faiança, sendo um branco, um com faixa em azul e um esponjado em marrom (Foto 30,g); 2 fr. de canecas de faiança fina, sendo uma branca e uma com sup. modif. padrão Engineturned com friso em preto; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma pearlware com relevo acanalado e uma transfer printing com cena em azul; 1 fr. de pires de faiança fina com faixa e friso em negativo; 9 fr. de pratos de faiança fina, sendo quatro brancos, dois pearlware, um com sup. modif. padrão trigal, dois padrão Willow azul (1 com marca na base: “...DORE...” e outro com marca: “S...”); 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 5 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma creamware, uma transfer printing com cena em azul, duas brancas e uma com dec. não identif.; 1 fr. de vaso de faiança fina pearlware; 1(2) fr. de urinol de faiança fina branca; 2 fr. de potes de faiança fina pearlware; 2 fr. de alças de faiança fina, sendo uma branca e uma transfer printing floral em azul; 5 fr. de louça ironstone, sendo um de xícara, um de prato, um de tampa com sup. modif., um no padrão gótico de função não identif. e um cabo de concha (Foto 41,a); 1(2) fr. de prato de ironstone com sup. modif. padrão trigal; 1 fr. de pote de porcelana branca; 2 fr. de frascos de vidro verde-claro, um deles com inscrição: “XAROPE SÃO JOÃO CURA TOSSE E DOENÇAS DO PEITO”; 1 fr. de vidro branco de função não identif., com inscrição: “...AN...” “...TOROW...” ...POSEN...”; 3 fr. de ferraduras de ferro (intemp.); 1 prego de ferro (intemp.); 1 fr. de prego de ferro (intemp.);

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1 moeda de 100 réis, com emblema da República. Data ilegível. Mede 21mm de diâmetro e 1,7mm de espessura (intemp.) (Foto 51,c); 1 moeda de 2 centavos, ano de 1969; 1 molar de animal de grande porte.

Intervenção nos pontos EX1, EX2, EX3, EX4, EX6 (NºC 4942, 4943, 4956, 4959, 4974 e 4996) Exposições realizadas por meio de decapagem ao longo da Linha 2, em porções limítrofes do canteiro e no passeio central. Com exceção do ponto EX2, cujas exposições foram segmentadas, as dos demais interligaram-se, permitindo o estudo contínuo das estruturas. Quando os trabalhos foram iniciados neste quadrante, o extremo noroeste do passeio representado pela Linha 2 estava coberto por capa asfáltica que começava rente ao lado interno da calçada da rua Cruz Machado, direcionando-se em diagonal e em declive suave para o passeio circular do centro da Praça. Com a remoção do asfalto e das pedras britadas do seu embasamento, caracterizou-se um solo argiloso de cor cinza-escuro repleto de caliça representada por fragmentos de telhas coloniais ou francesas -, tijolos, argamassa e blocos de rocha, além de eventuais fragmentos de louças, vidros, cerâmicas, ossos e carvões. Aprofundou-se até 65cm na parte inicial, diminuindo de espessura em direção ao centro do logradouro. Raízes das árvores dos canteiros laterais cresciam profusamente nesse meio. Este era interrompido por uma delgada camada de solo argiloso preto e compacto, que se estendia horizontalmente, acompanhando o declive do passeio. Os solos descritos acima foram sucedidos por outros, argilosos ou arenoargilosos, de cor amarelada (com saibro), marrom ou avermelhada, que podiam ser contínuos ou interrompidos e com espessuras variáveis. Essas camadas aprofundavam-se até 100cm no início da linha, diminuindo de espessura para o sudeste. Neles ocorriam raros blocos de rocha de pequenas dimensões. Em vários trechos esses solos eram interrompidos, havendo intrusão do solo com caliça da camada superior, indicando perturbações pontuais. Na base desse conjunto de solos, caracterizaram-se estruturas de pedra (Foto 9). Abaixo delas, o terreno era composto por solo argiloso e compacto, de coloração avermelhada. Este apresentava as mesmas características do solo argiloso avermelhado de uma das camadas acima, porém, entre elas havia delgada camada constituída por areia de enxurrada e solo fino amarelado. Este solo arenoso friável cobria os calçamentos e preenchia também os interstícios das suas pedras; deve ter se formado quando os calçamentos eram operantes. Na parte ocupada pelos canteiros, os solos argilosos descritos eram cobertos por terra preta humosa. As estruturas expostas formavam dois alinhamentos paralelos, em sentido noroeste-sudeste, distando cerca de 3,70m entre si e outro no meio, no mesmo sentido, mais elevado que aqueles. A continuidade dos calçamentos foi confirmada pelas escavações feitas no ponto EX2 deste Quadrante e nos pontos EX6 e EX7 do Quadrante NE. Os calçamentos laterais foram construídos com pedras de vários formatos, lascadas ou não. Nas suas bordas, as pedras mediam em torno de 35cm de comprimento e 30cm de largura, enquanto as do meio eram mais alongadas; pedras menores foram colocadas entre as maiores para o preenchimento dos vãos. As pedras das bordas eram mais elevadas, ocasionando uma depressão central que variava de 6 a 8cm em relação à superfície daquelas. Os calçamentos configuravam canaletas, com largura variando de 90 a 95cm (Foto 14).

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Aos lados dos calçamentos levemente côncavos, a superfície do terreno da época situava-se entre 1 e 4cm abaixo da superfície das pedras externas. A sua evidenciação durante a decapagem foi facilitada pela presença da areia, que propiciava a retirada do solo superior quando pressionado com a ferramenta (Foto 8). Entre os calçamentos, em terreno mais elevado e levemente convexo no centro e mais inclinado nos lados, havia um revestimento raso constituído por pequenos blocos de rocha arredondados ou alongados, juntamente com seixosrolados fluviais (Foto 11). Os blocos eram de quartzito e basalto, principalmente, apresentando-se estes intemperizados. Encontravam-se compactados, conferindo ao passeio superfície regular. Nas laterais, o revestimento era interrompido. Nos pontos de exposição 3 e 5, o revestimento media 2,20m de largura com espessura máxima de 5cm (Fig. 3).

Figura 3. Perfil da parede oeste nos pontos de exposição NO-EX 3 e NO-EX 5.

Raízes estendiam-se ao longo dos calçamentos, penetrando-os às vezes e ocasionando o deslocamento dos blocos de rocha. Para o sudeste, as estruturas mostravam-se mais perturbadas por obras praticadas posteriormente. Evidências arqueológicas foram encontradas sobre as estruturas, como a fivela militar recuperada no calçamento do ponto EX6 (NºC 4996) e aos seus lados. Estão representadas por: NO-EX1 (NºC 4942) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal inciso; 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo; 1 fr. de vaso em cer. vidrada amarela; 1 fr. de garrafa de grés; 7 fr. de canecas de faiança fina, sendo duas brancas, uma com faixa em azul, uma padrão Engine-turned em azul (Foto 37,c), uma sponge em azul, uma com sup. modif. padrão fitomorfo e uma transfer printing floral verde com marca na base, símbolo referente a: Petrus Regout Maestricht Holland (Foto 40,a); 5 fr. de pires de faiança fina, sendo três brancos, um pearlware e um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 12 fr. de pratos de faiança fina, sendo quatro brancos, um whiteware com sup. modif. padrão fitomorfo, cinco pearlware (1 com marca na base: “J.&...” “1...”), um padrão Willow azul e um transfer printing floral borrão azul; 2 fr. de tigela de faiança fina branca; 1(2) fr. de malga de faiança fina floral e frisos em azul claro pintados à mão estilo peasant (Foto 34,a); 1(2) fr. de malga de faiança fina transfer printing com cena em azul; 1(4) fr. de tampa de faiança fina pearlware; 1 fr. de terrina de faiança fina pearlware e bege (com associação de asa); 1 fr. de pires de ironstone;

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5 fr. de louça porcelana branca, sendo dois de xícaras (uma alça) e três de pires; 10 fr. de garrafas, sendo cinco de vidro verde-oliva, quatro verde-musgo (1 com inscrição na lateral: “...MOS P”) e um verde-escuro; 1 fr. de copo de vidro incolor; 1 fr. de osso serrado (serra fina); 2 fr. de conchas marinhas (Ostrea sp). NO-EX2 (NºC 4943) 1 fragmento de telha alemã; 2 fr. de pratos de faiança, sendo um com faixa em azul e um com faixa curvilínea em azul e friso vinhoso; 1(2) fr. de caneca de faiança fina branca; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing floral em azul; 3 fr. de pires de faiança fina transfer printing floral borrão azul; 8 fr. de pratos de faiança fina, sendo seis pearlware (1 padrão Royal Rim (Foto 33,b), 1 com sup. modif. padrão trigal (Foto 33,a), 1 com sup. modif. com friso, 1 com marca na base: “IRONSTONE” e 1padrão Willow azul), um creamware padrão Royal Rim com sup. modif. e um padrão Willow azul; 1 fr. de alça de faiança fina pearlware; 1 fr. de terrina de faiança fina pearlware e bege; 1 fr. de louça faiança fina de função não identif.; 1 fr. de alça de xícara de ironstone; 4 fr. de louça porcelana, sendo um de xícara, um de pires, um de prato com faixas em negativo e um de função não identif.; 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 1 fr. de osso partido; 1 fr. de concha marinha (Ostrea sp.). NO-EX3 (NºC 4956) 26(32) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples, um com associação de asa modelada; 10(12) fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo branco (Foto 22,c); 3 fr. de rec. cer. artesanais corrugados (Foto 23,a); 4 fr. de rec. cer. artesanais escovados; 3(6) fr. de rec. cer. artesanais incisos (Foto 24,a,c); 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 14(15) fr. de telha goiva; 1 fr. de manilha simples; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1 fr. de caneca de faiança fina branca; 1 fr. de pires de faiança fina branca; 1(2) fr. de prato de faiança fina creamware padrão Royal Rim; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware; 1 fr. de louça de faiança fina de função não identif.; 1(2) fr. de malga de porcelana branca com marca na base: “PORCELANA MAUÁ”; 3 fr. de ossos partidos. NO-EX4 (NºC 4959) 1(3) fr. de recipiente cerâmico escovado; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de xícara de faiança fina branca; 4 fr. de canecas de faiança fina, sendo uma branca, uma pearlware, uma transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie e uma com porção de decoração não identificada; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma pearlware e uma transfer printing borrão azul; 6 fr. de pratos de faiança fina, sendo três brancos, um padrão Shell Edged verde e dois padrão Willow azul pearlware; 1 fr. de pote de faiança fina pearlware; 1 fr. de pires de porcelana branca; 3 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-água, uma verde e uma verde-oliva;

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2 fr. de frascos de vidro incolor (1 com inscrição na lateral: “...T...”); 1 fr. de vidro verde água de função não identif.; 1 pastilha de vidro azul-claro de fachada. NO-EX5 (NºC 4974) 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de vaso em cer. vidrada verde-claro; 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha alemã; 2 fr. de pratos de faiança, sendo um com faixa curvilínea em azul e frisos em vinhoso (Foto 30,e); 4(5) fr. de canecas de faiança fina, sendo duas pearlware (1 no padrão Engine-turned policromado com faixas e frisos) e duas florais pintadas à mão estilo peasant policromado; 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco e um floral policromado; 5 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, um creamware padrão Royal Rim, dois com sup. modif. (1 no padrão fitomorfo e 1 no trigal) e um padrão Willow azul; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma banhada com faixa e frisos (Foto 35,b) e uma transfer printing em vermelho; 1 fr. de bule de faiança fina branca; 2 fr. de alças de canecas de faiança fina, sendo uma creamware e uma pearlware; 3 fr. de garrafas de vidro verde-musgo; 2 fr. de frascos, sendo um de vidro incolor e um azul-cobalto; 1 fr. de vidro plano incolor; 1 fr. de vidro branco de função não identif.; 1 fr. de tampa? de vidro cristal incolor; 3 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso partido com marca de faca; 1 fr. de osso serrado (serra fina); 1 fr. de ladrilho de calçamento em cimento. Corresponde a dois segmentos quadrangulares, com 65mm de lado e 27mm de espessura. Recebeu camada de tinta rosa na superfície. NO-EX6 (NºC 4996) 4 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado; 1 fr. de vaso em cer. industrializada simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo; 6 fr. de telha goiva; 2 fr. de azulejos de faiança, sendo um branco e um decorado floral azul; 2 fr. de pratos de faiança branca; 9 fr. de canecas de faiança fina, sendo cinco brancas, três pearlware e uma pintada à mão com faixas policromadas; 1(12) fr. de caneca de faiança fina com marca na base: “U&C” “...EGUEMINES” série “...ERSE” “K” (Foto 40,b); 4 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um whiteware com frisos em negativo, um com sup. modif. sponge em vermelho e um floral pintado à mão borrão azul; 28 fr. de pratos de faiança fina, sendo três brancos, um creamware, onze pearlware, um whiteware, quatro com sup. modif. (3 padrão trigal e 1 fitomorfo), um floral pintado à mão policromado, dois padrão Shell Edged azul (1 com borda ondulada), três transfer printing em azul e dois padrão Willow azul; 1(2) fr. de prato de faiança fina branca; 1(2) fr. de prato de faiança fina com sup. modif. padrão trigal; 1(2) fr. de prato de faiança fina padrão Shell Edged azul não moldada (Foto 36,c); 1(2) fr. de prato de faiança fina com marca na base: “...EAKIN” “...LEY. “...AND” (Foto 39,f); 6 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca, três florais pintadas à mão (2 estilo peasant e 1 estilo sprig), uma transfer printing em azul e uma com frisos em azul banhada dipped; 3 fr. de tigelas de faiança fina, sendo duas pearlware e uma pintada à mão com faixa vermelha;

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2(3) fr. de molheiras de faiança fina whiteware e pearlware; 1 fr. de asa de molheira de faiança fina whiteware; 1 fr. de urinol de faiança fina pearlware; 1 fr. de tampa de faiança fina pearlware; 1(2) fr. de pote de faiança fina pearlware; 1(3) fr. de prato de ironstone; 1 fr. de terrina de ironstone; 1(2) fr. de vaso de porcelana floral pintada à mão estilo peasant policromado; 7 fr. de porcelana, sendo um de xícara com faixa em negativo, um de pires floral e faixa tom terroso estilo chinês (Foto 42,e), quatro de pires brancos e um de função não identif.; 24(25) fr. de garrafas, sendo três de vidro âmbar (1 com marca UHA no fundo – Foto 46,c), um verde-água, cinco verde-claro (1 com molde duplo), duas verde-oliva, doze verde-musgo (1 com molde duplo e inscrição na lateral: “SM”) e um verde-escuro; 2 fr. de frascos, sendo um de vidro incolor e um verde-água; 3(4) fr. de vidro plano incolor, um com 7,5mm de espessura; 1 fr. de copo de vidro incolor; 1 prego de palanque em ferro, com 100mm de comprimento e 13mm de diâmetro (intemp.); 2 moedas de 10 centavos, anos de 1967 e 1970; 1 moeda de 20 centavos, ano de 1978; 1 moeda de 50 centavos, ano de 1978; 1 moeda de 1 cruzeiro, ano de 1990; 1 fr. de aro de fogão à lenha em ferro (intemp.); 1 fr. de faca em ferro. Está representado pelo cabo revestido em osso, com guarnições em chumbo (intemp.) (Foto 53,b); 1 fr. de puxador de gaveta em metal amarelo (intemp.); 1 fivela de cinturão em metal amarelo. Na face externa, convexa, existem restos de tinta verde. Na face oposta, também com porções de tinta verde, encontram-se o passador um pouco amassado para prender o cinto e o engate (Foto 52,b); 3 fr. de ossos partidos; 3 fr. de ossos serrados (serra fina); 10 fr. de conchas marinhas (Ostrea sp.).

Quadras foram abertas em dois pontos do Quadrante NO. Quatro delas, representadas pelas Q1, Q3, Q4 e Q5, interligavam-se no extremo noroeste da Linha 2 e porção contígua do canteiro. Outras duas, Q2 e Q6, também interligadas, foram executadas mais a sudeste, no canteiro situado entre as Linhas 2 e 3 (Foto 4). Intervenção no ponto das Quadras 1, 3, 4 e 5 As Quadras 1 e 3 foram iniciadas no espaço do canteiro, ainda com um dos lados no canteiro, anteriormente à descoberta dos calçamentos. Nelas, e em parte das Quadras 4 e 5, os primeiros 35cm de terreno eram constituídos por terra preta. Abaixo dela caracterizou-se um solo argiloso marrom-escuro que se aprofundou até 50cm nas Quadras 1 e 3 e até 45cm nas Quadras 4 e 5. Nestas, os solos sequentes eram formados por areia grossa até 50cm de profundidade e por saibro amarelado até 55cm. Essas duas camadas estendiam-se também nas Quadras 1 e 3. Uma camada de solo argiloso ocorreu abaixo, aprofundando-se até 60cm nas primeiras quadras e até 70cm e 100cm em parte das demais, entrando em contato com o passeio central e as canaletas calçadas laterais. Em parte das Quadras 4 e 5 e nas Quadras 1 e 3, o solo argiloso depositado sobre as estruturas era de coloração marrom. Com exceção da porção ocupada pela terra preta, pela areia grossa e pelo saibro, nas demais camadas descritas os solos continham restos de demolições fragmentos de tijolos, telhas e argamassa - neste trabalho genericamente denominados como caliça -, além de vidros e blocos de rocha. A presença de caliça foi maior junto ao solo marrom-escuro.

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As camadas depositadas sob o canteiro apresentavam-se mais regulares, embora houvesse perturbações causadas pelo desenvolvimento de raízes e pela colocação de canos de PVC para fiação elétrica e de ferro para água. As que estavam sob a capa asfáltica da Linha 2, também perturbadas por raízes e canos, eram irregulares quanto à espessura e continuidade, mostrando intrusões de solos diferentes ou concentrações de caliça. Na quadra 5, aberta ao lado do passeio da rua Cruz Machado, o solo marrom escuro com muita caliça predominava, aprofundando-se até 60cm, sendo substituído pelo solo argiloso vermelho o qual assentava nas estruturas de pedra (Foto 10). Tendo em vista o reconhecimento das camadas e das suas características nas Quadras 1 e 3, cujos níveis foram escavados de 15 em 15 centímetros, foram adotados níveis com espessuras diferenciadas para a abertura da Quadra 4. A Quadra 5, coincidente com espaço muito perturbado, foi rebaixada até o aparecimento das estruturas de pedra. Nas diversas quadras, o material arqueológico resgatado está representado por: NO-Q1= 0-15cm (NºC 4930) 1 fragmento de cilindro de ferro (intemp.); 2 fichas telefônicas em antimônio, com inscrição: “TELEPAR”. Medem 20mm de diâmetro e 1,2mm de espessura; 1 chave de metal amarelo, com inscrição: “PADO”; 1 botão em plástico preto com dois furos. NO-Q1= 15-30cm (NºC 4933) 1 fragmento de recipiente cerâmico industrializado simples; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha alemã; 1 fr. de pires de faiança fina branca; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware; 1 moeda de 1 cruzado, ano de 1987. NO-Q1= 30-45cm (NºC 4935) 6 fragmentos de recipientes cerâmicos simples; 2 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 2 fr. de rec. cer. artesanais escovados, um com associação de ungulado; 1 fr. de rec. cer. artesanal inciso; 1 fr. de rec. cer. artesanal ungulado; 1 fr. de rec. cer. artesanal entalhado; 1 fr. de pasta queimada; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 2 fr. de rec. cerâmicos vidrados, um marrom e um marrom e verde; 1 fr. de tijolo maciço; 1 fr. de tijolo maciço (lajota) com 40mm de espessura; 6 fr. de telha goiva; 2 fr. de telha alemã; 1 fr. de azulejo em faiança com decoração em vinhoso (Foto 30,b); 1 fr. de caneca de faiança fina floral pintada à mão estilo sprig policromado; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um creamware e dois pearlware; 9 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, quatro pearlware (2 com sup. modif. padrão trigal), dois padrão Willow azul e um padrão Shell Edged; 1(3) fr. de louça faiança fina branca, função não identificada; 3 fr. de louça faiança fina branca, função não identificada; 5 fr. de porcelana, sendo quatro de pires (1 branco, 1 com decoração floral em negativo e floral dourado, 1 com faixa tom terroso padrão chinês, 1 com faixa e frisos em verde) e um de prato branco; 4 fr. de garrafas, três de vidro verde-musgo (1 com molde duplo) e uma verde-oliva;

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1 fr. de vidro branco de função não identificada; 1 conta-gotas de vidro incolor; 1 fr. de prego de ferro (intemp.); 1 fr. de estilete de ardósia. NO-Q1= 45-60cm (NºC 4936) 9 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho e pintura em branco (Foto 22,b); 1 fr. de rec. cer. artesanal corrugado; 1 fr. de rec. cer. artesanal entalhado; 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 2 fr. de rec. cer. vidrados, um marrom e outro amarelo; 4 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha alemã; 1 fr. de telha francesa; 1 fr. de manilha vidrada marrom; 2 fr. de caneca de faiança fina, sendo uma dipped ware? e uma floral pintada à mão estilo peasant; 1 fr. de alça de xícara de faiança fina pearlware; 1(2) fr. de pires de faiança fina bege; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um pearlware, um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 8 fr. de pratos faiança fina, sendo dois brancos, cinco pearlware (com sup. modif. 1 no padrão trigal e outro fitomorfo) e um padrão Willow rosa (Foto 32,f); 1(2) fr. de malga de faiança fina whiteware; 3 fr. de louça faiança fina, sendo um branco e dois pearlware, função não identificada; 1(3) fr. de pires de porcelana, estilo Chinoiserie em negativo com inscrição na base “...ª24403”; 3 fr. de louça porcelana, sendo duas brancas e uma com decoração floral em negativo, função não identificada; 6(8) fr. de garrafas, sendo uma de vidro marrom, uma verde-oliva e quatro verde-musgo; 1 arruela de cobre (intemp.); 1 fr. de corrente de cobre com 70mm de comprimento e 12 elos (intemp.); 2 fr. de ossos partidos. NO-Q1= 60-75cm (NºC 4982) 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples, um deles associado com asa modelada (Foto 25,a); 7 fr. de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés vidrado bege; 1 fr. de caneca de faiança fina borrão azul; 1 fr. de pires de faiança fina pintado à mão borrão azul; 6 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, dois pearlware, um transfer printing com cartucho de paisagem em azul e dois padrão Willow azul (1 com marca “...TED... ORD SHIRE... MYS” – Foto 32,a); 1 fr. de pote de faiança fina branca; 1 fr. de tampa de faiança fina pearlware; 1 fr. de urinol de faiança fina branca; 2 fr. de louça de porcelana, sendo um de caneca com faixa e frisos em negativo e um de travessa branca; 2 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-musgo e uma verde-escuro; 3 fr. de ossos partidos. NO-Q1= 75-100cm (NºC 4994) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado; 1(4) fr. de rec. vidrado verde, associado com alça (Foto 29); 1 fr. de telha goiva;

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2 fr. de canecas de faiança fina, sendo uma floral pintada à mão estilo peasant e uma pearlware; 1 fr. de pires de faiança fina pearlware; 1 fr. de malga de faiança fina creamware; 1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.; 5 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde e quatro verde-escuro; 7 fr. de vidro plano incolor; 1 moeda em cobre com 25mm de diâmetro e 2mm de espessura. Inscrições ilegíveis (intemp.) (Foto 51,b); 1 fr. de panela de ferro (intemp.); 1 disco de chumbo recortado com talhadeira, com inscrição: “50 METRES”. Na face oposta há pino para fixação – está achatado. A peça mede 35mm de diâmetro e 1,20mm de espessura (Foto 47,b). NO-Q3= 0-15cm (NºC 4950) 1 fragmento de recipiente cerâmico industrializado simples; 1 fr. de tijolo maciço; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware padrão Willow azul; 1 fr. de frasco de vidro verde; 1 fr. de vidro plano incolor; 1 fr. de objeto de vidro branco e incolor não identificado; 1 pastilha de vidro branco; 2 fichas telefônicas em antimônio. Medem 20mm de diâmetro e 1,20mm de espessura (intemp.). NO-Q3= 15-30cm (NºC 4951) 2 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de pires de faiança decorada com estêncil em azul (Foto 30,i); 1 fr. de prato de faiança com faixas em azul; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 7 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, quatro pearlware (1 com marca na base: “OSBORNE” (Foto 39,a) e um com sup. modif. padrão fitomorfo; 1 fr. de tigela? de faiança fina com friso em amarelo; 1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identificada; 1 fr. de pires de porcelana branca; 7 (8) fr. de garrafas, sendo dois de vidro âmbar, um verde-claro, três verde-musgo e um verde-oliva; 1 fr. de frasco de vidro incolor; 1 fr. de ampola de vidro incolor com inscrição na base: “100”; 1 fr. de vidro branco e rosa de função não identificada; 1 prego de ferro (intemp.); 1 fr. de prego de ferro (intemp.); 1 moeda em metal amarelo de 20 centavos, ano de 1951; 2 fr. de embalagem em zinco (intemp); 1 fr. de chapinha de garrafa em ferro (intemp.); 1 fr. de vela de ignição em ferro e porcelana (intemp.); 4 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso serrado (serra fina). NO-Q3= 30-45cm (NºC 4953) 25 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado; 3 fr. de rec. cer. industrializados simples; 3 fr. de rec. cer. vidrados amarelos; 12 fr. de telha goiva; 2 fr. de telha alemã; 9 fr. de telha francesa, um com inscrição: “...TABO”; 2 fr. de tinteiro de grés marrom;

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1 fr. de azulejo de faiança em amarelo; 1 fr. de prato de faiança com faixa em azul; 2(3) fr. de canecas de faiança fina creamware com sup. modif.; 3 fr. de pratos de faiança fina creamware padrão Royal Rim; 3 fr. de canecas de faiança fina pearlware; 2 fr. de xícaras de faiança fina pearlware, sendo uma floral pintada à mão estilo sprig e uma estilo sponge; 5 fr. de pires de faiança fina, sendo um floral pintado à mão borrão azul, dois transfer printing com cena em azul, um transfer printing borrão azul e um decorado por estêncil em azul; 20 fr. de pratos de faiança fina pearlware, sendo um padrão trigal e três padrão Royal Rim; 1 fr. de terrina de faiança fina transfer printing com cena em azul; 1 fr. de louça de faiança fina transfer printing floral em verde, função não identificada; 5 fr. de louça de faiança fina, sendo dois brancos, um pearlware e dois transfer printing (1 floral em verde e 1 com cena em azul); 1 fr. de malga de faiança fina, com faixas concêntricas pintado à mão borrão azul; 3 fr. de biscuit, sendo um de vaso e dois função não identificada; 2 fr. de louça ironstone de função não identificada; 9 fr. de louça porcelana branca, sendo um de xícara, três de pires e cinco de pratos; 13 fr. de garrafas, sendo duas de vidro incolor, uma verde, duas verde-claro, cinco verdemusgo, duas verde-oliva (1 com inscrição na lateral: “...A...” e uma verde-escuro com molde duplo); 4 fr. de frascos de vidro incolor (1 com inscrição na base: “100” e um com inscrição na lateral: “P...”); 1 fr. de vidro plano jateado com decoração floral; 2 fr. de cravos de ferro (intemp.); 1 prego de ferro (intemp.); 11 fr. de pregos de ferro (intemp.); 2 fr. de embalagem em zinco (intemp.); 10 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso serrado (serra fina); 2 fr. de ossos calcinados; 1 fr. de estilete de ardósia. NO-Q3= 45-60cm (NºC 4958) 21(22) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado; 1 fr. de rec. cer. artesanal entalhado; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo/branco; 1 fr. de garrafa em cer. vidrada cinza (imita garrafa de grés); 5 fr. de telha goiva; 9 fr. de telha alemã; 4 fr. de telha francesa; 1 fr. de xícara de faiança fina pearlware; 1(2) fr. de pires de faiança fina pearlware; 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um creamware com porção de inscrição e um transfer printing com cartucho de cena em azul e borda ondulada; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware; 1 fr. de tampa de faiança fina padrão Shell Edged azul; 1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identificada; 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 1 fr. de leiteira? de ironstone com sup. modif. padrão trigal; 1 fr. de louça porcelana com sup. modif. padrão floral; 7 fr. de garrafas, sendo três de vidro verde, duas verde-musgo e duas verde-oliva; 3 fr. de frascos de vidro incolor (1 com molde duplo); 1 fr. de vidro branco de função não identif.; 1 fr. de objeto de cristal incolor de função não identif.; 1 fr. de pulseira de relógio em metal amarelo (intemp.);

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1 medalha em alumínio com inscrições: “Na+Sa+DA+CONCEIÇÃO APPARECIDA”, contornando a imagem e no verso: “CAPELLA D’APPARECIDA”, contornando o templo. Mede 22x16x0,5mm (Foto 47,d); 4 fr. de ossos partidos; 6 fr. de ossos serrados (três com serra grossa e três com fina); 3 fr. de ossos calcinados; 2 fr. de estiletes de ardósia (Foto 26,b,d). NO-Q3= 60-75cm (NºC 4987) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de tijolo maciço (lajota), com 35mm de espessura; 1 fr. de tijolo furado; 5 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha alemã; 1 fr. de caneca de faiança fina dipped ware?; 1 fr. de caneca de faiança fina transfer printing com cena em marrom; 1 fr. de pires de faiança fina branca; 1 fr. de prato de faiança fina padrão Willow azul; 1 fr. de urinol de faiança fina pearlware transfer printing floral em marrom; 2 fr. de garrafas de vidro verde-musgo; 1 fr. de arame de ferro (intemp.). NO-Q3= 75-100cm (NºC 4992) 3 fragmentos de tijolo furado; 4 fr. de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés vidrado; 1 fr. de caneca de faiança fina pearlware transfer printing com cena em verde; 1(2) fr. de prato de faiança fina branca; 1(2) fr. de prato de faiança fina pearlware; 3 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, um pearlware padrão Royal Rim e um padrão Shell Edged verde com borda ondulada (Foto 36,d); 1 fr. de malga de faiança fina pearlware floral pintada à mão estilo peasant; 1 fr. de pote de faiança fina pearlware; 1 fr. de caneca de ironstone; 1 fr. de caneca? de porcelana branca; 8 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-água, uma verde-claro, quatro verde-musgo, uma verde-escuro com estrias de molde e uma verde-oliva (com molde triplo); 1 fr. de frasco de vidro verde água com inscrição: “...A DE...”; 1 fr. de placa em cobre (intemp.); 1 fr. de embalagem em zinco (intemp.); 1 fr. de placa em chumbo; 1 fr. de osso partido; 1 fr. de osso serrado (serra grossa). NO-Q4= 0-45cm (NºC 4960) 8 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples, um com associação de asa modelada; 2 fr. de rec. cer. artesanais escovados; 3 fr. de rec. cer. industrializados simples; 1 fr. de rec. cer. industrializado com engobo vermelho; 4(5) fr. de rec. cer. vidrados, dois verdes e dois marrons; 8 fr. de telha goiva; 3 fr. de telha alemã; 2 fr. de telha francesa; 1 fr. de tinteiro de grés marrom; 1 fr. de caneca de faiança branca; 1 fr. de caneca de faiança fina pearlware com sup. modif. padrão trigal; 1(2) fr. de caneca de faiança fina com frisos em azul e vermelho; 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um creamware e um pearlware; 1(2) fr. de prato de faiança fina pearlware padrão Willow azul;

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5 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, dois pearlware e um padrão trigal; 1(3) fr. de prato de faiança fina pearlware; 1 fr. de travessa de faiança fina pearlware; 3 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma pearlware, uma com frisos em vermelho e faixa em verde (Foto 35,c) e uma transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 1 fr. de malga de ironstone; 1 fr. de pires de porcelana com sup. modif. floral dourado; 1 fr. de braço de boneca de porcelana branca (Foto 43); 6 fr. de garrafas, sendo uma de vidro âmbar, uma verde e quatro verde-musgo; 3 fr. de frascos de vidro incolor (1 com inscrição na base: “250” e 1 com inscrição na lateral: “...LOGN...” “...ERLIN...” “...MA...”); 1 fr. de objeto de vidro incolor não identificado; 2 fr. de pregos de ferro (intemp.); 1 fr. de arame de ferro (intemp.); 1 fr. de plaqueta em ferro, com argola em cobre (intemp.); 3 fr. de ossos partidos; 2 fr. de ossos de aves; 2 fr. de ladrilhos de calçamento em cimento. NO-Q4= 45-60cm (NºC 4978) 1 fragmento de tigela em cerâmica industrializada simples; 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de azulejo branco; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing com cena em azul; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo dois pearlware e um transfer printing floral policromado; 2 fr. de pratos de faiança fina, sendo um pearlware e um padrão Willow azul; 2(4) fr. de malgas de faiança fina pearlware; 1 fr. de malga de porcelana branca; 1 fr. de tampa em biscuit (Foto 44,a); 3 fr. de garrafas, sendo uma de vidro âmbar, uma verde-claro e uma verde-musgo; 1 fr. de frasco de vidro incolor com inscrição na lateral: “...NTO...”. NO-Q4= 60-100cm (NºC 4991) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de tijolo maciço correspondente a um quadrante de círculo. Mede 130mm nos lados retos e 60mm na espessura (Foto 28); 1 fr. de tijolo com 1 furo central. Mede 125mm de largura e 70mm de espessura; 1 fr. de tijolo com 3 furos. Mede 125mm de largura e 70mm de espessura; 1 fr. de tijolo furado; 3 fr. de telha goiva; 8 fr. de telha goiva moderna; 1 fr. de telha francesa; 1 fr. de garrafa de grés bege; 1(3) fr. de caneca de faiança fina pintada à mão e decoração geométrica por estêncil policromado (Foto 37,a); 1 fr. de caneca de faiança fina com friso borrão azul; 4 fr. de pires de faiança fina, sendo um floral pintado à mão estilo sprig, dois transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie (Foto 38,c), um com decoração em lilás e marca na base não identif.; 11 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, seis pearlware (1 padrão Shell Edged com sup. modif. sem pintura – Foto 36,a), um padrão Royal Rim e dois borrão azul (1 transfer printing, estilo Chinoiserie com borda no padrão gótico); 3 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca e duas transfer printing (1 com cenas em verde com dourado – Foto 31,d) e 1 em azul); 3 fr. de tigelas de faiança fina branca; 1 fr. de travessa de faiança fina creamware padrão Royal Rim; 8 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.;

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4 fr. de louça porcelana, sendo dois de xícaras (1 com frisos em verde-escuro) e dois de pires (1 com sup. modif. pontos dourados e floral pintado à mão policromado com porção de marca não identif.); 8(28) fr. de garrafas de vidro verde-oliva. São recentes; 6 fr. de garrafas, sendo duas de vidro âmbar, uma verde-água e duas verde-escuro; 1 fr. de vidro plano incolor; 1 prego de ferro (intemp.); 1 fr. de arame grosso em ferro (intemp.); 1(3) fr. de balde em alumínio com alça em ferro (intemp.); 1 fr. de osso partido; 1 fr. de osso serrado (serra fina); 2 fr. de ossos de aves. NO-Q5= 0-100cm (NºC 4995) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de caneca de faiança fina borrão azul com frisos em negativo (lustro em vermelho); 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing borrão azul; 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco e um padrão Willow azul; 1(3) fr. de prato de faiança fina whiteware; 3 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois pearlware (1 com marca na base: “IRO...”) e um padrão Willow azul com borda ondulada; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma borrão azul com faixa pintado à mão e uma spatter; 1 fr. de travessa de faiança fina padrão Willow azul; 1(2) fr. de vaso de faiança fina pearlware; 1 fr. de xícara de ironstone; 3 fr. de louça porcelana branca, sendo um de pires, um de prato e um de tampa com sup. modif.; 1(2) fr. de cabeça de boneca em porcelana, tom rosa; 1 tira em cobre (intemp.); 1 fr. de osso partido; 1 fr. de osso partido com marcas de faca.

Intervenção no ponto das Quadras 2 e 6 As Quadras 2 e 6 foram abertas no mesmo canteiro, a 14m a sudeste das anteriores. Sendo interligadas, as quadras apresentaram estratigrafia comparável. A terra preta do canteiro aprofundava-se até 45 ou 50cm. Nos 15cm inferiores, a terra misturava-se com areia grossa. Uma delgada camada de areia grossa dispunha-se sob a terra preta na porção norte da Quadra 6 (Fig. 4 e Foto 5), sendo substituída por camada de solo argiloso de cor vermelha que atingia 55cm de profundidade. Na Quadra 2 esse solo ocorreu na base da terra preta. Na sequência, caracterizou-se um solo argiloso preto e compacto, como de piso, com espessura variando de 1 a 4cm. Abaixo dele verificou-se a presença de solo argiloso vermelho-claro, com espessura variável; em alguns pontos das quadras esse solo atingiu 58cm de profundidade e, em outros, 72cm. Este foi sucedido por solo argiloso cinza-escuro e solo argilo-arenoso marrom; o primeiro aprofundou-se até 75cm e, o segundo, até 85cm. O solo argiloso e compacto, de coloração avermelhada, ocorreu abaixo deles. Os cortes experimentais praticados até 180cm de profundidade não evidenciaram novos tipos de solos.

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Figura 4. Perfil da parede Oeste da Quadra 6 aberta no Quadrante NO.

Perturbações causadas por raízes foram comuns em todos os níveis da escavação. Canos de PVC estendiam-se aos 35cm de profundidade no solo preto e de ferro aos 70cm, no solo cinza-escuro. Caliça ocorreu em pequena quantidade junto ao solo preto e em quantidade maior nos solos vermelho-claro e cinza-escuro. As evidências arqueológicas foram constatadas nas diversas camadas, com exceção da formada por areia grossa. Foram numerosas em meio ao solo cinza-escuro. O acervo formado nas Quadras 2 e 6 corresponde a: NO-Q2= 0-15cm (NºC 4931) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 4 fr. de tijolo maciço; 1 fr. de tijolo furado; 2 fr. de telha goiva; 6 fr. de telha francesa. Um deles apresenta bordos arredondados. Deve ter permanecido submerso por muito tempo; 2 fr. de garrafas de vidro incolor; 1 fr. de cinzeiro de vidro incolor; 1 fr. de bola de gude de vidro incolor. NO-Q2= 15-30cm (NºC 4934) 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de vaso em cer. industrializada com decoração floral moldada; 1 fr. de rec. cer. vidrado marrom; 6 fr. de telha goiva; 1 fr. de telha francesa; 1 fr. de louça de faiança pearlware?; 1(3) fr. de caneca de faiança fina pearlware com friso em negativo; 1 fr. de caneca de faiança fina branca; 1 fr. de xícara de faiança fina floral pintada à mão, estilo sprig; 5 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um creamware, três pearlware (1 com sup. modif. padrão fitomorfo, 1 transfer printing com frisos em negativo); 6 fr. de pratos de faiança fina, sendo quatro pearlware e dois transfer printing (1 borrão azul); 1 fr. de travessa de faiança fina floral pintada à mão; 1 fr. de louça faiança fina branca de função não identif.; 3 fr. de louça porcelana branca, sendo dois de xícaras e um de pires;

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1(2) fr. de tampa de porcelana branca; 4(5) fr. de garrafas, sendo três de vidro verde-água (1 com inscrição na lateral: “...MEL”) e uma verde-oliva; 1(2) fr. de frasco de vidro âmbar; 1 fr. de frasco de vidro incolor com inscrição na lateral: “...SÃO...”; 1 fr. de vidro plano incolor; 2 fr. de vidro plano vinhoso com sup. modif.; 1 fr. de vidro branco e incolor de função não identif.; 1 fr. de prego de ferro (intemp.); 1 aruela de ferro (intemp.). NO-Q2= 30-45cm (NºC 4946) 6 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal inciso; 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado cinza-claro; 6 fr. de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés marrom-claro; 1 fr. de caneca de faiança fina branca; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um bege e dois pearlware; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 17 fr. de pires de faiança fina, sendo dois brancos (1 com marca na base: “...MEAKIN” “...EY”. e em negativo: “...LLIEU”), três creamware, sete pearlware, dois transfer printing (1 borrão azul, estilo Chinoiserie e 1 transfer printing em azul) e três com sup. modif. padrão trigal (1 com dourado); 16 fr. de pratos de faiança fina, sendo três brancos, dez pearlware (1 transfer printing com sup. modif. floral rosa em negativo com borda ondulada e 2 com sup. modif. padrão fitomorfo), um creamware e dois padrão Willow azul; 1 fr. de malga de faiança fina com frisos em preto e faixas lilás (Foto 35,e); 1(2) fr. de pote de faiança fina branca; 1 fr. de terrina de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo; 10 fr. de louça porcelana, sendo três de canecas, dois de xícaras (1 com sup. modif. em azul e dourado e 1 com friso dourado), uma de alça e quatro de pires (1 floral em negativo com sup. modif. padrão fitomorfo); 9(10) fr. de garrafas, sendo uma de vidro incolor, uma âmbar, uma verde-água, uma verde, quatro verde-musgo, uma verde-oliva; 3 fr. de frascos, sendo três de vidro incolor e um azul-cobalto com inscrição na base: “30”; 1 fr. de copo de vidro sextavado incolor; 1 fr. de bola de gude de vidro incolor; 4 fr. de cravos de ferro (intemp.); 5 fr. de pregos de ferro (intemp.); 2 fr. de ferraduras de ferro (intemp.); 1 fr. de cano de ferro (intemp.); 1 fr. de barra de ferro (intemp.); 2 fr. de chapinhas de garrafas em ferro (intemp.); 1 fr. de chicote de bateria em zinco (intemp.); 2 fr. de ossos partidos; 2 fr. de ossos partidos com marcas de faca. NO-Q2= 45-60cm (NºC 4952) 3 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2(3) fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. vidrado amarelo; 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés marrom; 1 fr. de prato de biscuit; 1 fr. de prato de faiança pearlware?; 1 fr. de caneca de faiança fina com sup. modif. decoração não identif.; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco e dois pearlware; 5(6) fr. de pratos de faiança fina pearlware;

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1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.; 1 fr. de prato de ironstone com sup. modif. padrão trigal; 1 fr. de pires de porcelana branca; 2 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-musgo e uma verde-escuro; 1 fr. de tampa de vidro cristal lapidado incolor (de perfume); 1 fr. de cravo de ferro (intemp.); 2 fr. de pregos de ferro (intemp.); 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 1 fr. de osso serrado (serra fina); 1 fr. de osso partido calcinado; 1 fr. de ladrilho de calçamento em cimento. Corresponde a um dos segmentos do quadriculado com 65cm de lado. NO-Q2= 60-75cm (NºC 4957) 81 fragmentos de recipientes cerâmicos simples, quatro deles associados com asas modeladas; 13 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 2 fr. de rec. cer. artesanais corrugados; 7 fr. de rec. cer. artesanais escovados; 4 fr. de rec. cer. artesanais incisos; 1 fr. de rec. cer. artesanal entalhado; 1 fr. de rec. cer. artesanal ungulado (Foto 24,e); 1 fr. de cachimbo de cer. modelada. Corresponde a uma porção do fornilho e apresenta decoração por linhas incisas na superfície; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 3 fr. de rec. cer. industrializados com engobo vermelho; 5 fr. de rec. cer. vidrados, dois marrom-escuro, dois marrom-claro e um verde-claro; 2 fr. de tijolo maciço; 6 fr. de telha goiva; 2 fr. de grés de função não identif.; 2 fr. de pires de faiança, sendo um branco e um transfer printing em marrom (Foto 30,h); 1(2) fr. de prato de faiança branca; 1 fr. de prato de faiança com faixa verde-piscina (Foto 30,f); 1 fr. de louça de faiança de função não identif.; 1 fr. de açucareiro? de faiança fina pearlware com dec. não identif.; 1 fr. de leiteira de faiança fina pearlware; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma pearlware e uma transfer printing com cena em azul; 6 fr. de canecas de faiança fina, sendo duas brancas, três pearlware e uma transfer printing borrão azul; 1(2) fr. de pires de faiança fina pearlware com marca na base não identif.; 12 fr. de pires de faiança fina, sendo quatro creamware, um pearlware, um sponge em azul, seis transfer printing (1 com cena em azul e 5 borrão azul, sendo três no estilo Chinoiserie); 15 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, dois whiteware, sete pearlware (1 no padrão Royal Rim), um transfer printing borrão azul, dois padrão Willow azul e um padrão Shell Edged verde-claro; 2 fr. de malgas de faiança fina pearlware; 3 fr. de tigelas de faiança fina pearlware; 6 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.; 1 fr. de xícara de ironstone; 3 fr. de louça porcelana branca, sendo dois de xícaras e um de prato?; 13 fr. de garrafas, sendo uma de vidro âmbar, três verde-água, uma verde, uma vede-oliva e sete verde-musgo; 1 fr. de vidro incolor de função não identif.; 7 fr. de pregos de ferro (intemp.); 4 fr. de chapas de lata (intemp.); 1 dedal em cobre (intemp.) (Foto 55,b); 1 botão em cobre com 17mm de diâmetro (intemp.); 7 fr. de ossos partidos; 2 fr. de ossos serrados (serra fina);

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1 fr. de osso calcinado; 2 fr. de dentes molares; 1 botão em plástico preto com quatro furos. NO-Q2= 75-90cm (NºC 4966) 1(2) fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de rec. cer. industrializado com engobo vermelho; 1 projétil biogival em chumbo, calibre 38. NO-Q6= 0-60cm (NºC 4997) 5(6) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de tijolo furado; 3 fr. de telha goiva; 1 fr. de garrafa de grés marrom; 1 fr. de prato de biscuit com sup. modif. padrão trigal (Foto 44,c); 1 fr. de prato de faiança branca; 1 fr. de xícara de faiança fina borrão azul; 1 fr. de caneca de faiança fina com frisos em azul; 2 fr. de pires de faiança fina pearlware; 1(3) fr. de pires de faiança fina pearlware com sup. modif. padrão trigal; 12 fr. de pratos de faiança fina, sendo três creamware (1 padrão Royal Rim), seis pearlware, um padrão Willow azul, dois transfer printing (1 em azul e 1 borrão em preto – Foto 31,e); 1 fr. de travessa de faiança fina pearlware com sup. modif. padrão fitomorfo; 1 fr. de tampa com furo de faiança fina branca; 1 fr. de tigela de faiança fina pearlware decorada por design spatter em verde-claro e vermelho-escuro; 1 fr. de malga de faiança fina whiteware; 1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.; 4 fr. de louça porcelana, sendo três de xícaras (1 com dec. em dourado) e um de pires; 7 fr. de garrafas, sendo uma de vidro marrom, uma verde, três verde-musgo (1 com inscrição “...M” na lateral), uma verde-oliva e uma verde-escuro; 1 fr. de frasco de vidro âmbar com inscrição na base: “F...” e “1033” na lateral; 1 botão de vidro bege com dois furos; 1 gancho de ferro (intemp.); 2 fr. de ossos partidos; 1 fr. de estilete de ardósia. NO-Q6= 60-68cm (NºC 4998) 3 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado; 2 fr. de rec. cer. artesanais incisos; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de tijolo maciço; 3 fr. de telha goiva; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing em azul; 1 fr. de pires de faiança fina creamware; 1 fr. de prato de faiança fina branca; 1 fr. de travessa de faiança fina pearlware; 1 fr. de louça de faiança fina transfer printing em azul de função não identif.; 1 fr. de prato de ironstone; 1 fr. de osso partido. NO-Q6= 68-85cm (NºC 4999) 48 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 8 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho, associado com pintura em branco; 2 fr. de rec. cer. artesanais corrugados; 4 fr. de rec. cer. artesanais escovados (Foto 23,c); 1 fr. de rec. cer. artesanal inciso, associado com roletado; 1 fr. de rec. cer. artesanal ungulado;

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2 fr. de rec. cer. artesanais digitungulados, associados com roletado; 1 fr. de asa em cer. modelada; 1 fr. de alça em cer. modelada; 2 fr. de rec. cer. industrializados simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado marrom-claro; 2 fr. de telha goiva; 3 fr. de pires de faiança, sendo um branco, um com friso em azul e um com friso azul e decoração em vinhoso; 3 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma branca, uma branca e bege e uma pearlware; 2 fr. de canecas de faiança fina branca; 4 fr. de pires de faiança fina, sendo duas brancas e duas creamware; 3 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos e um pearlware; 2 fr. de louça porcelana branca, sendo uma de xícara e uma de leiteira?; 1 fr. de garrafa de vidro verde-escuro; 1 fr. de frasco de vidro incolor com inscrição na lateral: “...A DE...” e “...GO...”; 2 fr. de vidro plano incolor; 1 fr. de osso partido; 1 fr. de osso calcinado; 1 fr. de osso de ave; 1 fr. de pederneira em silexito.

Operações desenvolvidas no Quadrante Sudeste Intervenção no ponto SE-V1 (NºC 5026) Durante a abertura de vala para instalação de canos para drenagem, evidências arqueológicas foram coletadas. A vala situou-se no canteiro existente ao sul da Linha 1 (Fig. 1, SE-V1). Estendendo-se por 4m no sentido NO-SE, a vala media 0,50m de largura e 0,60m de profundidade. Nos primeiros 50cm, o terreno era formado por terra preta e, abaixo, por solo argiloso marrom-escuro. No solo argiloso ocorreram 1(2) fragmento de recipiente cerâmico artesanal digitungulado, 2 de telha goiva e 4(5) de pratos em faiança fina branca.

Intervenção no ponto SE-EX1 (NºC 4977) Após a retirada da capa asfáltica, restos de canalização foram constatados a leste do canteiro central e no espaço do passeio (Fig. 1, SE-EX1). A canaleta, construída com tijolos maciços e pedras de cantaria, apresentava as mesmas características das verificadas em outros pontos. Dispunha-se de NO a SE, no solo argiloso marrom-escuro, 42cm abaixo da capa asfáltica. Quando a exposição atingiu o canteiro, além da canalização foram encontrados restos de calçamento antigo com pedras pequenas. Os dois fragmentos desse calçamento levemente côncavo apresentavam a mesma orientação de NE para SO. Estavam logo abaixo da canalização mencionada, no solo argiloso marrom-escuro. O material arqueológico ocorreu junto às duas estruturas e, raramente na do solo argiloso com a terra preta do canteiro. Compreende: 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de tinteiro de grés marrom; 1 fr. de garrafa de grés marrom com marca na lateral: “PORT – DUNDA” “P...” (Foto 45,a); 1 fr. de tigela de faiança branca; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing, estilo Chinoiserie; 1 fr. de caneca de faiança fina com frisos banhados em azul-claro; 1 fr. de pires de faiança fina branca; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware; 1(2) fr. de prato de faiança fina pearlware?; 2 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca e uma transfer printing borrão azul;

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1 fr. de alça de faiança fina floral pintada à mão borrão azul; 3 fr. de louça porcelana branca, sendo dois de pires e um de função não identif.; 2 fr. de garrafas, sendo uma de vidro incolor com inscrição na lateral: “...DAULI” “...S” e uma verde-musgo; 1 fr. de frasco de vidro azul-cobalto; 1 bola de gude de vidro verde-escuro; 1 fr. de cravo de ferro (intemp.); 2 ferraduras de ferro, ambas medindo 120mm de comprimento e 105mm de largura. Uma delas ainda conserva cravos de ferro (intemp.) (Foto 48,c); 4 fr. de ossos partidos.

Intervenção no ponto SE-EX2 (NºC 4979) Outros restos de canalização recente surgiram na área da Linha 2 e, em continuidade, no canteiro ao norte (Fig. 1, SE-EX2). Era constituído por pedras de cantaria e tijolos maciços, orientando-se de N a S. Um dos fragmentos, o exposto na Linha 2, encontrava-se no solo argiloso marrom-escuro, aos 45cm de profundidade. O situado no do canteiro também estava encaixado no solo argiloso marrom-escuro, mas sob camada de terra preta. O solo argiloso neste ponto, ao contrário das ocorrências anteriores, não se associava a caliça. As evidências arqueológicas foram encontradas no solo argiloso e raramente no preto. São representados por: 2 fragmentos de recipientes cerâmicos simples, um deles associado com asa modelada; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. e tinteiro de grés marrom; 2 fr. de garrafa de grés bege; 1 fr. de caneca de faiança fina floral pintada à mão estilo sprig; 1 fr. de pires de faiança fina branca; 1(2) fr. de pires de faiança fina borrão em preto e friso; 8 fr. de pratos de faiança fina, sendo um com faixa e friso azul-claro, um padrão Royal Rim, cinco pearlware (1 com sup. modif. padrão fitomorfo e borda ondulada) e um borrão em preto; 1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.; 2 fr. de pratos de porcelana branca; 1 fr. de cartucho deflagrado com inscrição: “REM UMG 3.0”. Calibre 32? (intemp.); 1 fr. de chave em ferro e plástico preto com inscrição: “FIAT” (intemp.).

Intervenção no ponto SE-EX3 (NºC 4986) Exposição realizada no canteiro existente ao norte da Linha 2 e porção limítrofe do passeio central (Fig. 1, SE-EX3). Foi em continuidade à intervenção praticada no Quadrante NE-EX4, com vistas à localização de calçamento antigo. Vestígios deste encontravam-se aos 75cm de profundidade, junto ao solo argiloso avermelhado com caliça. As pequenas pedras tendiam a se dispor em arco, como se observou no quadrante mencionado, mas apresentavam-se deslocados. No extremo sul, as pedras dispunham-se em sentido L-O e, poderiam representar canaleta interligada. Muitas pedras com as mesmas características das descritas antes encontravam-se espalhadas nas proximidades, inferindo estruturas destruídas. As peças arqueológicas, que ocorreram no nível das estruturas e acima delas, sempre no solo argiloso avermelhado, compreendem: 1 fragmento de recipiente cerâmico vidrado verde com decoração floral moldada; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo dois brancos e um padrão Willow azul; 1 fr. de prato de faiança fina pearlware; 2 fr. de tigelas de faiança fina, sendo uma branca e uma pearlware; 1 fr. de prato de ironstone com sup. modif. padrão floral e borrão em preto (Foto 41,c);

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4 fr. de louça porcelana, sendo um de pires e três de pratos (2 brancos e 1 transfer printing floral marrom); 1(2) fr. de travessa de porcelana transfer printing floral marrom e pintada à mão policromada; 2 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde-água e uma verde-escuro.

Intervenção no ponto SE-EX4 (NºC 4993) Concentração linear de pedras detectadas no canteiro situado ao norte de Linha 2 (Fig. 1, SE-EX4). Apresentavam-se deslocadas e às vezes amontoadas; outras espalhavam-se pelos arredores. Eram maiores que as anteriores, assemelhando-se às existentes nos calçamentos do Quadrante NO. Estavam em meio ao solo argiloso marrom-avermelhado, com caliça, aos 70cm de profundidade. Acima desse solo, até 45 de profundidade, o terreno era formado por terra preta. Estendiam-se no sentido L-O. O material arqueológico foi encontrado junto às pedras, no solo argiloso, e raramente no preto. Corresponde a: 1 fragmento de louça vidrada bege de função não identificada; 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de manilha; 1 fr. de fruteira de biscuit com sup. modif. padrão fitomorfo vinhoso; 1 fr. de caneca de faiança fina com sup. modif. padrão trigal; 1 fr. de louça de faiança fina floral pintada à mão borrão azul de função não identif.; 1 fr. de pires de faiança fina branca com sup. modif. padrão fitomorfo?; 5 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos e três pearlware; 1(2) fr. de prato de faiança fina borrão em preto com marca na base: “...ELAINE OPAQU...” referente a PORCELAINE OPAQUE da Staffordshire; 1 fr. de malga de faiança fina com frisos em verde e pintada à mão em marrom; 1 fr. de louça de faiança fina pearlware de função não identif.; 2 fr. de azulejos de faiança fina, sendo um transfer printing com dec. em verde e inscrição no verso: “E GL” (Foto 31,a) e um em azul; 7(8) fr. de pratos de porcelana, sendo três brancos e quatro pintados à mão policromados e transfer printing floral marrom; 2 fr. de garrafas, sendo uma de vidro âmbar e uma verde-água; 1 moeda de 10 centavos, ano de 1987; 3 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso partido com marca de faca; 1 fr. de osso serrado (serra fina); 1 fr. de lousa de ardósia.

Intervenção no ponto SE-Q1 (NºC 4980 e 4981) Corte-estratigráfico praticado na área do passeio circular (Fig. 1, SE-Q1). Após a remoção da capa asfáltica e do seu embasamento, aos 10cm de profundidade foi constatada uma canalização construída com blocos de pedra de cantaria e tijolos maciços. Durante a exposição dessa estrutura alinhada no sentido N-S, selecionou-se um trecho do terreno para escavação. Uma quadra com 2m de lado foi praticada, sendo o solo rebaixado por meio de níveis artificiais de 15cm. No transcorrer da operação, verificou-se que o local estava perturbado. Na metade oeste da quadra, até 13cm de profundidade, o solo era argiloso de cor marrom-claro; na outra metade, até aquela profundidade, o solo era argiloso cinza-claro. Abaixo do primeiro solo havia um depósito de caliça cuja base assentava no solo argiloso avermelhado. Na parte leste da quadra, o solo cinza-escuro foi substituído pelo solo argiloso marrom-claro. As evidências arqueológicas, que foram registrados no solo marrom-claro do primeiro nível e no solo idêntico da outra parte da quadra, entre 13 e 30cm de profundidade, estão representadas por:

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SE-Q1= 0-15cm (NºC 4980) 4 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 1 fr. de rec. cer. artesanal escovado (Foto 23,b); 1 fr. de rec. cer. artesanal digitungulado; 8 fr. de telha goiva; 1 fr. de louça de faiança fina bege de função não identif.

SE-Q1= 15-30cm (NºC 4981) 64(74) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 2 fr. de telha goiva; 2 fr. de pratos de faiança com faixas em azul.

Intervenção no ponto SE-Q2 (NºC 4988 e 4989) Corte-estratigráfico realizado a oeste do anterior, no espaço do canteiro central e ao lado da Exposição 1 (Fig. 1, SE-Q2). A quadra com 2m de lado, mostrou-se também perturbada. O controle estratigráfico começou a ser considerado depois da remoção da terra preta do canteiro, com cerca de 50cm de espessura. A perturbação, causada por poste de iluminação elétrica e por raízes de árvore próxima, atingiu 35cm de profundidade na porção leste da quadra, especialmente no seu canto nordeste. Abaixo da terra preta, na parte não perturbada da quadra, foram constatadas cinco camadas de solo argiloso diferenciadas pela coloração: de 0 a 12cm de profundidade, o solo era marrom-escuro; de 12 a 20cm, marrom-claro; de 20 a 26cm, novamente marrom-escuro; de 26 a 36cm, cinza-escuro e de 36 a 50cm, marrom-claro. Esta camada assentava no solo argiloso avermelhado. As peças arqueológicas foram encontradas esparsamente no solo marromescuro dos primeiros 12cm e na junção entre os solos marrom-escuro e cinzaescuro, aos 26cm de profundidade, formando um piso associado com fragmentos de carvão. Compreendem: SE-Q2= 0-20cm (NºC 4988) 1 fragmento de telha alemã; 1 fr. de prato de faiança fina transfer printing floral; 1 fr. de malga de faiança fina branca; 1 fr. de alça de faiança fina creamware; 2 fr. de louça ironstone, sendo um de prato e um de leiteira?; 1 fr. de bola de gude de vidro branco e azul. SE-Q2= 20-40cm (NºC 4989) 7 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2 fr. de telha goiva; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo dois florais pintados à mão policromados (1 estilo peasant?) e um borrão azul; 2 fr. de prato de faiança fina com sup. modif., sendo um branco e um pearlware; 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 2 fr. de xícara de porcelana, sendo uma com friso dourado; 1 fr. de vidro cristal incolor de função não identif.; 1 cartucho de fuzil não deflagrado, com inscrição: “DM” (intemp.) (Foto 50,c); 1 botão em metal amarelo. É convexo medindo 20mm de diâmetro e 1mm de espessura (intemp.).

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Operações desenvolvidas no Quadrante SO Intervenção no ponto SO-E1 (NºC 4963) Entre as perfurações executadas pela máquina para a construção de estacas de concreto armado, a localizada no passeio central de um dos canteiros, revelou peça arqueológica (Fig. 1, SO-E1). Trata-se de um fragmento de gancho de ferro forjado. Está intemperizado e com aderências. Mede 85mm de comprimento, 30mm de largura e 8mm de espessura. Foi detectado a 1m de profundidade junto a solo argiloso marrom-escuro (Foto 54,a). Intervenção no ponto SO-S1 (NºC 4973) Acompanhamento da abertura de cova para construção de sapata no passeio central, em frente à Linha 2 (Fig. 1, SO-S1). Esta operação foi antecedida pela retirada da capa asfáltica e seu embasamento. A camada removida na escavação era formada por solo argilo-arenoso repleto de caliça (fragmentos de argamassa, de telhas e de tijolos). A cova atingiu 80cm e, nesta profundidade, a caliça deu lugar a muitos blocos de rocha. 16 As evidências arqueológicas ocorreram até 40cm de profundidade, estando representadas por: 1 fragmento de recipiente cerâmico artesanal simples; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1(3) fr. de tigela de faiança branca; 3 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma floral pintada à mão em vermelho, uma transfer printing borrão azul e uma banhada com faixas laranja e em preto; 1 fr. de caneca de faiança fina pearlware; 3 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um whiteware e um pearlware; 4 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos e dois pearlware (1 com sup. modif. padrão fitomorfo); 1 fr. de malga de faiança fina floral pintada à mão estilo peasant em verde e true spatter em azul (Foto 34,d); 2 fr. de louça ironstone com sup. modif. padrão trigal, sendo um de travessa? e um de terrina; 3 fr. de louça porcelana, sendo um de xícara com faixa e friso em dourado, um de pires com transfer printing floral em negativo e um de prato branco; 1 fr. de garrafa de vidro verde-claro; 1 fr. de frasco de vidro azul-cobalto; 1 fr. de frasco de vidro incolor com inscrição na base: “1” “4192” “SM” (com molde duplo); 1 fr. de cravo de ferro (intemp.); 2 ferraduras de ferro. Medem 110 e 130mm de comprimento e 90 e 120mm de largura, respectivamente. Ambas conservam alguns cravos de ferro (intemp.) (Foto 48,a-b); 1(2) fr. de osso serrado (serra fina).

Intervenção no ponto SO-C1 (NºC 5024) Acompanhamento de abertura de cova para instalação de fiação elétrica. Situava-se o ponto em canteiro, ao norte da Linha 1 (Fig. 1, SO-C1). Medindo 50cm de lado e profundidade de 80cm, o corte revelou terra preta até 28cm de profundidade, solo argiloso marrom-escuro de 28 a 58cm e solo argiloso avermelhado com caliça até o limite inferior da abertura. O material arqueológico, constatado junto ao solo marrom-escuro, corresponde a: 1 fr. de prato de faiança com borda ondulada e decoração floral em azul; 1 fr. de xícara de faiança fina transfer printing borrão azul;

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Blocos de rocha pequenas e intemperizadas e outras maiores e menos alteradas, foram comuns em todas as intervenções nos Quadrantes SO e SE.

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5 fr. de pires de faiança fina, sendo dois brancos, dois pearlware e um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1 fr. de açucareiro? de faiança fina padrão Willow azul; 4 fr. de pratos de faiança fina, sendo um pearlware, um whiteware com friso em azul, um padrão Willow azul e um pearlware transfer printing com porção de cena em azul; 1 fr. de tigela de faiança fina branca; 1 fr. de louça de faiança fina branca de função não identif.; 1 fr. de azulejo de faiança fina transfer printing; 1 fr. de garrafa de vidro verde; 1 bola de gude de vidro policromado. 1 moeda de cobre de 100 réis, ano de 1889 (intemp.) (Foto 51,a); 1 fr. de arreio de ferro (intemp.); 1 fr. de osso partido.

Intervenção no ponto SO-V1 (NºC 4929) Acompanhamento de abertura de vala na extremidade norte da Linha 2 (Fig. 1, SO-V1). Abaixo da capa asfáltica e do seu embasamento havia solo argiloso marrom-claro, repleto de fragmentos de telhas, tijolos e concreto. Somente 1 fragmento de azulejo de cerâmica industrializada em azul-claro, 1 de prato de faiança fina branca e 1 de pires em porcelana branca foram registrados logo abaixo do embasamento asfáltico. Intervenção no ponto SO-V2 (NºC 4962) Acompanhamento de abertura de vala na extremidade sul da Linha 2 (Fig. 1, SO-V2). Após a retirada da capa asfáltica e do seu embasamento, caracterizou-se um solo argiloso marrom-escuro com pouca caliça. A vala atingiu a profundidade de 90cm, não havendo alteração na composição do solo. Nos primeiros 40cm do solo marrom-escuro foram coletados 1 fragmento de recipiente cerâmico vidrado marrom-claro, 1 de prato de faiança fina padrão Willow azul, 2 de pires de faiança fina, sendo um transfer printing borrão azul e um padrão Shell Edged com borda ondulada.

Intervenção no ponto SO-V3 (NºC 4964) Acompanhamento de abertura de vala na Linha 1 (Fig. 1, SO-V3). Solo argiloso marrom escuro com caliça foi constatado abaixo da capa asfáltica e do seu embasamento. Formava uma camada com 50cm de espessura, sobrepondo-se em outra de solo argiloso avermelhado. As evidências arqueológicas, registradas nos primeiros 25cm do solo marromescuro, estão representados por: 1 fr. de garrafa de grés marrom; 1 fr. de pires de faiança pearlware? 1 fr. de xícara de faiança fina creamware; 1(2) fr. de caneca de faiança fina Engine-turned de cor rosa (Foto 37,b); 1 fr. de caneca de faiança fina branca; 4 fr. de pires de faiança fina, sendo um branco, um borrão azul, um padrão Willow azul e um transfer printing em vermelho; 16 fr. de pratos de faiança fina, sendo seis brancos, quatro creamware (1 Royal Rim), dois pearlware com sup. modif. padrão trigal, dois transfer printing (1 borrão azul e 1 em azul), um padrão Willow azul com marca na base: “...FOR..” da STAFFORDSHIRE e um padrão Shell Edged em azul com borda ondulada (Foto 36,b); 2 fr. de travessas de faiança fina branca; 3 fr. de malgas de faiança fina branca; 3 fr. de louça de porcelana branca, sendo um de xícara, um de pires e um de tigela; 1 fr. de garrafa de vidro verde-musgo.

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Intervenção no ponto SO-EX1 (NºC 4983) Exposição de estrutura localizada no canteiro e em parte da Linha 2 (Fig. 1, SO-EX1). Esta estrutura, evidenciada quando se acompanhava a vala aberta na referida linha, estava sob uma camada de solo argiloso marrom-avermelhado repleto de tijolos maciços e fragmentos de argamassa. Na porção do canteiro havia, ainda, acúmulo de terra preta. Removido o entulho e procedida a limpeza da superfície, verificou-se que a estrutura circular com 5m de diâmetro correspondia à base de um chafariz (Foto 19). Esta base assentava em um muro circular construído com tijolos maciços e argamassa. A superfície de estrutura era revestida com argamassa de cimento. Sua borda era elevada em rampa e, sobre a qual deveria existir uma parede também circular. No centro da base permanecia parte de um cano de ferro, circundado por vestígios de coluna de alvenaria demolida. Mais afastados desse ponto, três rasas depressões circulares dispostas nos vértices de um triângulo deveriam acomodar vasos ou decorações. Um ralo foi constatado no lado sul da estrutura, justamente na parte em que ela sofria pequeno desnível em relação ao lado norte. Não foram registradas peças arqueológicas nessa operação. Operações desenvolvidas no Setor Central Este setor abrangeu o espaço da Praça compreendido entre os quatro canteiros dispostos em círculo e o canteiro octogonal central com pinheiro (Fig. 1). Entre os canteiros, as áreas de circulação (passeio) encontravam-se asfaltadas. Após a remoção da capa asfáltica e do seu embasamento formado por pedra britada, foi iniciada a perfuração mecânica do solo para a construção de estacas de cimento armado. Ao serem constatadas pedras em algumas perfurações, a atividade foi suspensa, dando lugar à pesquisa arqueológica. Os espaços expostos totalizaram 225m² (15x15m). Intervenção no ponto CE-EX1 (NºC 4967) Decapagem praticada na parte sul do setor, inclusive em porção do canteiro central. Neste ponto havia terra preta até 65cm de profundidade. Para baixo, caracterizava-se o solo argiloso cinza-escuro. No trecho anteriormente coberto por asfalto, ocorria caliça e esparsos blocos de rocha arredondadas. Em vários locais a caliça aprofundava-se até 40 ou 60cm, de acordo com a perturbação ocasionada pelas drenagens ou fiações elétricas implantadas em diferentes momentos. Aos 20cm de profundidade na área do passeio e aos 80cm na do canteiro, foi localizado um calçamento levemente acanalado. Estava ao sul do pinheiro e estendia-se no sentido leste-oeste. Suas características serão descritas adiante.

No espaço situado ao sul do calçamento, a decapagem limitou-se a 20cm de profundidade, embora cortes-experimentais praticados em vários locais acusassem solo cinza-escuro tendendo para o marrom escuro até 50cm, quando surgia o solo argiloso avermelhado. Tendo em vista que esse espaço central seria musealizado, permanecendo intacto, optou-se por mantê-lo preservado. Poucas peças foram encontradas na terra preta do canteiro, geralmente relacionadas a moedas de circulação recente. A maior parte do acervo foi reunido durante a decapagem feita no solo cinza-escuro e sobre o calçamento. Está representado por: 6(7) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 2 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho;

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1 fr. de rec. cer. artesanal escovado com associação de corrugado; 1 fr. de rec. cer. artesanal ungulado; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 2 fr. de telha goiva; 1 fr. de caneca de faiança com faixa em azul (Foto 30,c); 2 fr. de pratos de faiança, sendo um com faixa em azul; 1 fr. de azulejo de faiança fina branco; 1 fr. de prato de biscuit; 5 fr. de canecas de faiança fina, sendo duas brancas Engine turned, três pintadas à mão (1 floral em vermelho estilo sprig e 1 estilo sprig policromado Foto 34,c); 2 fr. de pires de faiança fina, sendo um com faixa e friso em cinza e um com transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1(3) fr. de prato de faiança fina branca; 1(2) fr. de prato de faiança fina transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie com borda padrão gótico e marca na base: “W AD...” “TO...” da WILLIAN ADAMS & SONS – TONQUIN (Foto 38,e); 4 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco, um pearlware, um padrão Shell Edged com borda ondulada e um padrão Willow azul; 2 fr. de louça de faiança fina, sendo um branco e um transfer printing borrão azul, de função não identif.;

1 fr. de caneca de ironstone com sup. modif.; 1 fr. de xícara de porcelana chinesa decorada com tom terroso; 6 fr. de garrafa, sendo um de vidro âmbar e quatro verde-água; 1 fr. de frasco de vidro verde-água; 1 fr. de pires de vidro pirex branco; 1 fr. de vidro branco de função não identif.; 1 moeda em cobre, com 20mm de diâmetro e 1,5mm de espessura. Está intemperizada, permitindo apenas a identificação do emblema imperial brasileiro (Foto 51,d); 1 moeda em cobre, com 20mm de diâmetro e 1,50mm de esp. Está intemp. E perfurada no centro. Valor e data ilegíveis (Foto 51,e); 1 moeda de 2 centavos, ano de 1969; 1 moeda em metal intemp. São legíveis: “10” e data incompleta de 197?; 2 moedas de 10 cruzeiros, anos de 1982 e 1990; 1 moeda de 50 centavos, ano de 1989; 1 dedal em cobre (trincado e intemperizado) (Foto 55,a); 1 cabo de colher de café em aço inoxidável com inscrições: “HERCULES INOX-355”. A extremidade que comunica ao receptáculo foi desgastada, funcionando como espátula; 1 fr. de osso partido; 1 botão em plástico cinza com quatro furos.

Intervenção no ponto CE-EX2 (NºC 4968) Exposição realizada em parte do canteiro central e porção limítrofe do passeio a leste. A terra preta do canteiro, como na abordagem anterior, aprofundava-se até 65cm. O solo argiloso cinza-escuro também foi atingido aos 20cm de profundidade, abaixo de uma camada de caliça e pedras. O espaço mostrou-se muito perturbado por canalizações formadas por grandes pedras de cantaria; as laterais da canaleta eram, igualmente, formadas por pedras talhadas. Esse canal, orientado de leste para oeste, comunicava-se com outro, direcionado de nordeste para sudoeste, construído com pedras talhadas menores e tijolos maciços aos lados; esse conjunto assentava em outras pedras de cantaria. Uma caixa coletora, também de pedras e tijolos maciços encontrava-se a leste da canalização principal. Apesar dos impactos, vestígios de calçamento acanalado e disposto em círculo foram detectados, em continuidade aos encontrados durante a Exposição 6 do Quadrante NE. Pequenos blocos de rocha intemperizada e seixos-rolados fluviais, como os que revestiam o passeio exposto no Quadrante NO e na área da Exposição 3 do Setor que será descrito adiante, foram registrados na parte interna

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do calçamento circular, inferindo que ela era, da mesma forma, revestida. Pedras um pouco maiores, deslocadas do calçamento, espalhavam-se pela área trabalhada. Neste espaço a exposição também limitou-se aos 20cm iniciais da camada de solo argiloso cinza-escuro. As evidências arqueológicas resultantes da decapagem estavam dispersas, correspondendo a: 29(31) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 5 fr. de rec. cer. artesanais corrugados; 5(6) fr. de rec. cer. artesanais escovados (um com associação de corrugado – (Foto 23,d)); 1 fr. de rec. cer. artesanal inciso com associação de asa; 1 fr. de rec. cer. artesanal ungulado; 2 fr. de rec. cer. industrializado simples; 1 fr. de rec. cer. vidrado marrom; 3 fr. de telha goiva; 2 fr. de grés, sendo um de tinteiro (Foto 45,b) e um de garrafa marrom; 1 fr. de prato em biscuit com sup. modif. padrão trigal; 7 fr. de canecas de faiança fina, sendo três brancas, duas pearlware (1 com sup. modif. e 1 transfer printing marrom e marca na base: “OP...” “11”), duas transfer printing borrão azul com sup. modif., estilo Chinoiserie; 5 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma pearlware com sup. modif., duas whiteware carimbadas em verde e frisos em vermelho (Foto 34,e), duas transfer printing (1 em verde e 1 em azul – Foto 36,e); 1(5) fr. de pires de faiança fina whiteware com marca: “CERA-BRA...”; 14 fr. de pires de faiança fina, sendo dois brancos (1 com sup. modif.), três creamware, um whiteware e quatro pearlware (1 com sup. modif. padrão trigal, 1 padrão Willow azul, 1 floral pintado à mão em verde e friso em preto e 1 com faixas em azul e frisos em preto), um com friso em marrom, dois transfer printing (1 em marrom e 1 borrão azul, estilo Chinoiserie) e um pintado à mão floral borrão azul; 1(3) fr. de prato de faiança fina branca; 1(2) fr. de prato de faiança fina pearlware; 18 fr. de pratos de faiança fina, sendo três brancos, cinco creamware, um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie com marca na base: “...ND J...” (Foto 38,d) e nove pearlware (3 padrão Royal Rim, 2 padrão Shell Edged (um em verde e um em azul), um pintado à mão floral central estilo peasant policromado e um com marca na base: “...HINA” “...N” da IRONSTONE CHINA J.&G. MEAKIN (Foto 39,c); 1 fr. de alça de terrina? de faiança fina pearlware carimbada em azul (Foto 34,f); 1 fr. de travessa de faiança fina com sup. modif. floral policromado; 4 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma branca e três pearlware (1 carimbada em azul e friso em verde); 1 fr. de pote? de faiança fina creamware; 1 fr. de tigela de faiança fina transfer printing floral borrão azul; 1 fr. de prato de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo; 1 fr. de xícara de porcelana chinesa do gênero Swaton (Foto 42,c); 1 fr. de alça de leiteira de porcelana branca; 17 fr. de garrafas, sendo cinco de vidro âmbar, uma marrom, uma de vidro verde-água, oito verde-oliva (1 com inscrição na base: “...R. M I....” e duas verde-escuro (1 com marca na base: “CW. & Cº.”); 3 fr. de frascos de vidro incolor, um com inscrição na lateral: “...CO...” e outro na base “4” “XIII”; 1 cravo de ferro com 110mm de comprimento e 15mm de largura (intemp.) (Foto 53,c); 4 fr. de ferraduras de ferro, uma ainda com cravos (intemp.); 2 fr. de ferraduras de ferro (intemp.); 1 botão em madrepérola com quatro furos.

Intervenção no ponto CE-EX3 (NºC 5001) Decapagem praticada em parte do canteiro central e na porção contígua do passeio a oeste. O terreno apresentava as mesmas características dos trechos antes abordados neste Setor e, da mesma forma, as perturbações causadas por canalizações recentes. Uma delas era em continuidade à constatada na Exposição

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1; outras foram encontradas em sentido perpendicular e oblíquo. Esta, situada no extremo oeste da área trabalhada, era mais recente ainda e formada por manilhas. Além do calçamento evidenciado durante a Exposição 1, outro paralelo foi encontrado na mesma profundidade ao norte. Entre os dois calçamentos constatouse um passeio revestido com pedras pequenas e seixos-rolados. Os calçamentos laterais mediam 1m de largura e apresentavam-se levemente côncavos (Foto 15). O situado ao norte era formado por pedras irregulares e intemperizadas, sendo um pouco maiores e dispostas mais elevadas nas laterais. No do sul, além das pedras dispostas lado a lado conforme as dimensões e formatos, que davam ao calçamento aspecto de “pé-de-moleque”, havia enxertos de pedras maiores e lascadas, pouco intemperizadas. Dispunham-se principalmente nas laterais, mas algumas ocorriam junto àquelas arredondadas e intemperizadas da parte interna. Perturbações causadas pelas canalizações e pelo desenvolvimento das raízes do pinheiro foram registrados em trechos das duas estruturas. Entre os calçamentos, o terreno era elevado, quase plano no centro e em declive para os lados, apresentando perfil comparável ao constatado nas estruturas expostas no Quadrante NO (Fig. 3). A porção quase plana, com cerca de 1,60m de largura, era revestida com seixos-rolados fluviais e pequenos blocos de rocha intemperizados. De cada lado desse passeio, o terreno em declive tinha 1,20m, de largura, comunicando-se com a borda interna dos calçamentos valados. Sobre as pedras das canaletas e sobre o revestimento do passeio havia um depósito formado por sedimento fino amarelado ou marrom-claro, com espessura variando de 2 a 4cm. A manutenção do canteiro central com o pinheiro impediu a exposição do passeio para leste. No sentido contrário, o passeio e os calçamentos laterais estavam perturbados por canalização mais recente (Foto 16) e pelas grossas raízes das figueiras plantadas nos canteiros em círculo. Durante o acompanhamento das obras nos Quadrantes NO e SO, constatou-se grande quantidade de blocos de rocha com as mesmas características das existentes nas estruturas preservadas. Estavam dispersas devido às perturbações, mas ocorriam em maior quantidade na direção das estruturas expostas e em outras direções por onde deveriam se estender as demais ligadas à circulação e drenagem da Praça. O material arqueológico foi encontrado no solo argiloso cinza-escuro escavado e até o nível das estruturas. Várias peças, como botão metálico de farda militar, estavam sobre as pedras do calçamento ou do passeio. O acervo reunido está representado por: 3 fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples (um associado com cabo); 1 fr. de rec. cer. artesanal com engobo vermelho; 2 fr. de rec. cer. artesanal digitungulados (Foto 24,f); 2 fr. de rec. cer. industrializados com decoração incisa; 1 fr. de tijolo maciço com 150mm de largura e 40mm de espessura (lajota); 1 fr. de telha goiva; 1 fr. de prato de faiança com faixas em azul; 1 fr. de caneca de faiança fina com sup. modif.; 2 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma creamware e uma transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 2 fr. de pires de faiança fina pearlware; 7 fr. de pratos de faiança fina, sendo um branco e seis pearlware (1 com inscrição na base: “OI” e dois padrão Willow azul (1 com marca na base: “...TAFFORDS...” da STAFFORDSHIRE – Foto 32,c); 3 fr. de malgas de faiança fina, sendo uma creamware, uma pearlware e uma carimbada em preto e faixa em azul;

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1 fr. de louça de faiança fina transfer printing borrão azul de função não identif.; 2 fr. de louça porcelana, sendo um de xícara branca e um de pires floral pintado à mão policromado; 5 fr. de garrafas, sendo uma de vidro verde água com inscrição na lateral: “...VISTA...” “...EW YORK” (molde duplo), três verde-oliva e um verde-escuro; 3 pregos de ferro (intemp.); 1 moeda de 1 cruzado, ano de 1987; 2 tiras de chumbo com perfurações laterais; 1 botão em cobre com alça interna para fixação em farda. Mede 20mm de diâmetro e 2mm de espessura (intemp.) (Foto 52,a); 6 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso serrado (serra fina).

Intervenção no ponto CE-EX4 (NºC 5031) Exposição realizada no espaço situado entre a borda norte do calçamento valado e os canteiros dispostos em círculo, tendo a leste a continuidade do calçamento curvo (Foto 12). Após uma camada formada por caliça, com 10cm de espessura, surgiu o solo argiloso cinza-escuro. Perturbações foram constatadas nos extremos leste e oeste, a primeira causada por canalização de pedras e tijolos e, a segunda, por canalização com manilhas, em continuidade às descritas em CE-EX2 e CE-EX3. O solo cinza-escuro foi rebaixado até a constatação do piso correspondente à época da implantação e uso das estruturas calçadas. O piso começava um pouco abaixo da linha das pedras laterais do calçamento e se elevava em rampa para o norte, talvez assinalando canteiro que lá existiu. No lado oeste da exposição, um pouco adiante do calçamento, o solo tornouse preto, com muitos fragmentos de carvão associados a ossos, fragmentos de cerâmica artesanal e alguns fragmentos de louça. Esse espaço tinha formato elíptico, com 4x2m de área (6,28m²); carvões e cerâmica esparsa abrangiam uma área maior, correspondendo ao dobro daquele concentrado. Essa estrutura apresentava características de base de cabana. A camada era delgada, inferindo ocupação pouco prolongada. As demais evidências arqueológicas foram encontradas dispersas pela área escavada. A coleção formada corresponde a: 41(42) fragmentos de recipientes cerâmicos artesanais simples; 8 fr. de rec. cer. artesanais com engobo vermelho; 2 fr. de rec. cer. artesanais corrugados; 2 fr. de rec. cer. artesanais escovados; 1 fr. de rec. cer. artesanal inciso; 2 fr. de rec. cer. artesanais digitungulados; 1 fr. de rec. cer. artesanal modelada: alça; 1 fr. de rec. cer. industrializado simples; 2 fr. de tijolo maciço; 1 fr. de tijolo furado; 33 fr. de telha goiva; 1 fr. de pires de faiança branca; 3 fr. de xícaras de faiança fina, sendo uma pearlware, uma floral pintada à mão em verde estilo peasant e uma transfer printing em azul; 9 fr. de pratos de faiança fina, sendo dois brancos, um creamware, quatro pearlware, um padrão Royal Rim e um transfer printing borrão azul, estilo Chinoiserie; 1 fr. de malga? de faiança fina branca; 1 fr. de alça de faiança fina creamware; 1 fr. de tigela de faiança fina pearlware; 1(2) fr. de xícara de ironstone com sup. modif. padrão fitomorfo; 1 fr. de prato de porcelana branca;

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8 fr. de garrafas, sendo duas de vidro verde-água, uma verde-oliva, duas verde-musgo e duas verde-escuro com marca na base: “C.W. & Cº.” (Foto 46,b); 1 fr. de frasco de vidro incolor; 1 fr. de taça de vidro cristal incolor; 1 fr. de cravo de ferro (intemp.); 1 fr. de ferradura de ferro (intemp.); 2 fr. de panela de ferro (intemp.); 1 cartucho de fuzil deflagrado, com inscrição: “DM”, calibre 7mm (intemp.) (Foto 50,b); 1 moeda de 500 cruzeiros, ano de 1993; 9 fr. de ossos partidos; 1 fr. de osso calcinado; 1 dente molar de animal não identificado.

Foto 1. SE. Início da pesquisa, com acom- Foto 2. SO-EI. Exame do solo retirado por perfuratriz. panhamento da instalação do tapume.

Foto 3. NE-Q1. Acúmulo de blocos de rocha revelado pela escavação.

Foto 4. NO-Q2 e 6. Rebaixamento do solo por meio de níveis artificiais.

Foto 5. NO-Q2 e 6. Estratigrafia e perturbações Foto 6. NO-EX2 e NO-EX7. Limpeza de evidenciadas pela escavação. estrutura calçada.

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Foto 7. NO-EX4. Remoção depositado sobre estrutura.

do

solo

Foto 9. NO-EX4 e Q4 e 5. Estruturas expostas prosseguem sob o aterro e calçada da rua Cruz Machado.

Foto 8. NO-EX5. Piso arenoso ao lado do calçamento valado.

Foto 10. NO-Q5. Detalhe do calçamento no limite da rua Cruz Machado.

Foto 11. NO-EX3 e 5. Calçamentos valados Foto 12. CE-EX4. Junção do calçamento O-L ladeando passeio revestido. com o circular central.

Foto 13. NO-EX1. Exposição do passeio Foto 14. NO-EX5. Detalhe do calçamento revestido. valado. A largura da estrutura nesse ponto é de 90cm.

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Foto 15. CE-EX1. Detalhe do calçamento Foto 16. Canaleta de tijolos cobertos com valado. A largura da estrutura nesse ponto é pedras alongadas perturbou o passeio de 100cm. revestido e o calçamento valado.

Foto 17. NE-EX2. Canaletas de tijolos cobertas Foto 18. NE-EX7. Canaleta de tijolos sobre o com pedras quadrangulares. calçamento valado antigo.

Foto 19. SO-EX1. Base de chafariz assentada Foto 20. Limpeza do material arqueológico nas em mureta circular de tijolos. dependências do CEPA/UFPR.

Foto 21. Marcação do material arqueológico Foto 22. Cerâmica artesanal. a, Engobo nas mesmas dependências. vermelho; b, Pintada branco sobre vermelho; c, Engobo branco.

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Foto 23. Cerâmica artesanal. a, Corrugada; b- Foto 24. Cerâmica artesanal. a, c, incisa; b,d, e, Escovada; d, com associação de Corrugado; Lábio entalhado; e, Ungulada; f. Digitungulada. e, de Inciso.

Foto 25. Cerâmica artesanal. a, asa modelada; Foto 26. a, pederneira em silexito; b, cachimbo modelado. fragmentos de estiletes em ardósia.

b,

Foto 27. Cerâmicas e louça recicladas. a, com Foto 28. Tijolo coluna maciço (quadrante). Engobo vermelho; b, vidrada; c, faiança fina padrão Willow azul.

Foto 29. Louça vidrada com alça.

Foto 30. Louça faiança azulejos; g-i, recipientes.

decorada.

a-b,

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Foto 31. Louça faiança fina decorada. a, Foto 32. Louça faiança fina padrão Willow; a-c, azulejo; b-e, recipientes. marcas de fábrica.

Foto 33. Faiança fina com sup. modif. a, Foto 34. Faiança fina. a, pintada à mão, estilo padrão trigal; b, Royal Rim. peasant; b-c, estilo sprig; d, pintada à mão e spatter; e-g, carimbadas.

Foto 35. Faiança fina decorada por faixas e Foto 36. Faiança fina padrão Shell edged. frisos.

Foto 37. Faiança fina decorada por estêncil, a; Foto 38. Faiança fina borrão azul. Engine-turned, b-d.

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Foto 39. Faiança fina com marcas de fábrica.

Foto 40. Faiança fina com marcas de fábrica.

Foto 41. Louça Ironstone. a, cabo de concha; b-c, pratos padrão fitomorfo; d, pires com marca de fábrica.

Foto 42. Louça porcelana. a, borrão azul pintado à mão; c-d, gênero Swaton; e, tom terroso.

Foto 43. Braço de boneca em porcelana.

Foto 44. Louça biscuit, a-b, faixas em negativo; c, padrão Trigal.

Foto 45. Louça grés. a, garrafa com marca de Foto 46. Fundos de garrafas de vidro, com fábrica; b, tinteiro. marcas de fábrica. a, I.B.L..; b, C.W.&Cº.; c-d, UHA.

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Foto 47. Objetos em metal e vidro. a, cravo em Foto 48. Ferraduras em ferro. bronze; b, disco em chumbo; c, conta em vidro; d, medalha em alumínio.

Foto 49. Balim em chumbo.

Foto 50. Cartuchos de arma de fogo. a, revólver; b-c, fuzil.

Foto 51. Moedas em cobre.

Foto 52. Peças metálicas de indumentária. a, botão em cobre; b, fivela em latão.

Foto 53. Objetos em ferro. a, cabo de chaira; b, Foto 54. Objetos em ferro. a, gancho; b, cabo de faca; c, cravo de trilho. dobradiça.

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Foto 55. Dedais em cobre.

Foto 56. Mandíbula e dente de porco do mato.

Considerações sobre o acervo e seu significado Entre as 3.696 peças fragmentadas ou completas recolhidas durante as pesquisas arqueológicas realizadas na área atual da Praça Tiradentes, 693 (18,77% do total) referem-se a cerâmica produzida por grupos familiares para uso próprio, escambo ou comércio (Quadro 1). Recipientes cerâmicos foram confeccionados artesanalmente pelos mineradores e colonizadores do planalto curitibano a partir do século XVII, conforme a tecnologia herdada dos índios da família linguística tupiguarani, uma prática mantida até as primeiras décadas do século XX nos arredores da Capital do Estado (Tiburtius, 1968:49). Rotulada como neobrasileira por arqueólogos, essa cerâmica era elaborada por meio de roletes de pasta de argila superpostos. Constatou-se, na área em pauta, que a pasta inclui grânulos de areia fina e grossa havendo, em alguns casos, a presença de cacos moídos e partículas de mica. Um rejeito desse tipo de pasta que sofreu ação de fogo, foi encontrado aos 45cm de profundidade, no Corteestratigráfico 1 do Quadrante NO. A oxidação incompleta apresentada pelos fragmentos aponta para a queima dos recipientes em fogueiras a céu aberto, cuja temperatura podia chegar a 600 ou 700ºC. O pressionamento dos cordéis e a regularização sequencial das paredes, resultou no tipo simples, uma das formas de acabamento de superfície mais populares dessa produção. Nas coleções formadas, esse tipo está representado por 512 peças correspondendo a 73,56% dos artefatos confeccionados artesanalmente. 17 Algumas vasilhas, entretanto, após o alisamento superficial, receberam engobo com pasta vermelha que lhes deu maior visibilidade e impermeabilização. Setenta e cinco fragmentos (10,78%) apresentam tal engobo na face interna ou em ambas. Em 2 fragmentos de cerâmica com engobo vermelho ainda conservaram-se vestígios de pintura geométrica feita com tinta branca. É possível que essa decoração fosse mais frequente, mas, sendo muito frágil, não deixou vestígios entre os outros exemplares classificados apenas com engobo vermelho. Engobo executado com pasta branca foi constatado em 1 fragmento. Na cerâmica dos tupi-guarani essa prática era comum e servia para embasar as 17

Essa quantificação corresponde aos exemplares arrolados após os trabalhos de restauração. O número real de peças recolhidas, neste caso, foi de 745.

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pinturas geométricas feitas com tintas vermelha e preta. No presente caso, o engobo branco incide em ambas as faces. Este tipo, assim como o anterior com pintura branca sobre engobo vermelho, foram arrolados na coluna “Outros”, do Quadro 1 e representam 0,43% do total. Vários fragmentos (22=3,16%) apresentam corrugações na face externa. As depressões são regulares, às vezes associadas com marcas de unha, e resultaram do pressionamento dos cordéis de pasta com a polpa e pontas dos dedos. A sua regularização limitou-se à face interna, permanecendo as depressões da externa como decoração. A corrugação constituía uma variedade decorativa popular entre os tupi-guarani. Alguns fragmentos, como o proveniente da área de Exposição 2, no Setor Central, por apresentarem corrugações bem definidas e pasta temperada com cacos moídos e areia, poderiam ser atribuídos a índios se não tivessem sido encontrados em contexto neobrasileiro. Para a regularização das faces, após o pressionamento dos cordéis de pasta, eram utilizados seixos-rolados, fragmentos cerâmicos ou sabugos de milho. Os primeiros instrumentos deixaram marcas da operação na forma de sulcos rasos em ambas as faces das vasilhas; dos últimos resultaram estrias mais profundas e assim eram mantidas somente na face externa, representando decoração. Este tipo, também popular na produção cerâmica tupi-guarani, é denominado escovado. Está assinalado por 42 peças (6,04%) na coleção da Praça. Em 14 fragmentos (2,01%) com faces regularizadas ocorrem incisões estreitas ou mais largas causadas por estilete. Correspondem ao tipo inciso e, os sulcos, incidem somente na face externa das peças. Formam linhas retas ou curvas paralelas e, entrecruzadas, representam losangos. Embora a incisão também fosse praticada pelos tupi-guarani, alguns dos motivos existentes na cerâmica neobrasileira apontam para a influência africana. O tipo entalhado manifesta-se no lábio – porção superior da borda dos recipientes – de 8 peças com faces simples (1,15%). Os entalhes foram causados por objeto aguçado ou rombudo e pela unha. Poucos fragmentos (5=0,72%) mostram marcas de unha na face externa. Esse tipo ungulado, assim como o anterior e os que serão descritos adiante, figuram entre as variedades decorativas dos tupi-guarani. O tipo digitungulado, resultante do pressionamento simultâneo da ponta do dedo e da unha na face externa dos recipientes, podendo limitar-se ao ressalto de base em pedestal; está representado por 8 fragmentos (1,15). Técnicas decorativas costumam ocorrer associativamente em determinadas peças. Em fragmentos classificados como escovados, constatou-se a associação com técnicas corrugadas, ungulada e incisa. As primeiras ocupam partes não cobertas pelo tipo principal; as incisões geralmente incidem sobre o escovado. Os tipos inciso e digitungulado dispõem-se sobre a decoração denominada roletada, que é caracterizada pela manutenção dos cordéis de pasta na face externa das vasilhas. Outras associações referem-se a modelagens em forma de alças, asas e cabos aplicados nos recipientes. Estão presentes em peças dos tipos simples e inciso. Alças e asas desprendidas de vasilhas também foram registradas; constam da coluna “Outros”, uma vez que não puderam ser vinculadas a tipos cerâmicos (7=1,01%).

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Quadro I. Arrolamento do acervo recuperado na Praça Tiradentes.

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Na morfologia, inferida por fragmentos de bordas bojos e bases de recipientes, predominam as panelas, muitas vezes com a típica carena das vasilhas que eram praticadas pelos tupi-guarani. Outras formas relacionam-se a pratos, tigelas, jarros, torradores de farinha e tampas. As panelas geralmente ostentam marcas do seu uso ao fogo, como o enegrecimento e a espessa fuligem aderida à superfície. São comuns vasilhas com bases planas e em pedestal, indicativas da influência exercida pelos europeus na prática ceramista original indígena. A presença significativa das alças, asas e cabos, também indica essa influência. Cachimbos angulares modelados foram recuperados, um deles quase completo, faltando uma porção do fornilho; do outro, resta parte do fornilho. Ambos receberam decoração incisa na forma de linhas paralelas. O primeiro procede da Quadra 1, Quadrante NE, aos 90cm de profundidade e, o segundo, do Quadrante 2, Quadrante NO, aos 75cm de profundidade. Um fragmento de recipiente cerâmico com engobo vermelho foi reciclado por meio de abrasão nos bordos, tornando-se circular. É provável que tenha sido usado como tábula em jogo de dama. Foi encontrado na área da Exposição 5, Quadrante NE, aos 70cm de profundidade. Como frequentemente ocorre em assentamentos neobrasileiros, também na área da Praça foram encontradas pederneiras em silexito. Uma delas, a proveniente da Quadra 1, NE, 45cm, está intacta e tem formato trapezoidal; nos seus bordos, sobre os pequenos lascamentos preparatórios, existem marcas de impacto para a produção de faíscas em arma de fogo. A outra, da Quadra 6, NO, 85cm, está fragmentada, mas apresenta as mesmas características da anterior. Essas evidências foram incluídas na coluna “Miscelânea”, do Quadro 1. A cerâmica artesanal foi registrada em todos os espaços pesquisados, principalmente junto aos solos argilosos formados pelos sucessivos aterros; poucas vezes ocorreu em meio à terra preta dos canteiros e, a sua incorporação a esse solo, deve ter sido ocasionada por perturbações pontuais no terreno subjacente. As evidências cerâmicas foram mais numerosas nos Quadrantes NE e NO, em especial nos cortes-estratigráficos praticados. Na Quadra 1 do Quadrante NE, elas foram constatadas entre 15 e 120cm de profundidade, mas de forma mais expressiva, entre 30 e 45cm e entre 75 e 95cm. No Quadrante NO, Quadras 1 e 3, a cerâmica foi mais numerosa entre 30 e 60cm de profundidade, ao passo que nas Quadras 2 e 6 do mesmo quadrante, a concentração ocorreu entre 60 e 85cm. Grande parte dessas evidências, bem como das demais encontradas associadamente nas mesmas profundidades, deve ter sido introduzida na Praça juntamente com os aterros. Na área da Exposição 4, entretanto, realizada no Setor Central, a cerâmica artesanal formava uma concentração, juntamente com vestígios de combustão, inferindo a base de uma cabana ou de um espaço protegido para o desenvolvimento de atividades expeditas. Constituíam uma camada delgada, compatível com ocupação pouco duradoura. Quantidade significativa de cerâmica artesanal foi constatada também na área da Exposição 2, situada mais a leste da anterior, porém em terreno perturbado. Os espaços com cerâmica concentrada podem corresponder a abrigos utilizados por trabalhadores que construíram as estruturas calçadas ao lado. Na área da Exposição 3, relacionada aos calçamentos do Quadrante NO, a cerâmica encontrada entre 60 e 85cm de profundidade foi, igualmente, numerosa e pode assinalar outro espaço ocupado temporariamente por trabalhadores, suposição

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reforçada pela constatação de grande quantidade de fragmentos de cerâmica nas Quadras 2 e 6 pouco a sudeste, na mesma profundidade. Em que pese o fato da cerâmica artesanal ter sido usada desde o início da ocupação portuguesa e continuar sendo produzida até o início do século XX, as novas necessidades motivadas pelo crescimento populacional e a diversificação e desenvolvimento da economia determinaram a adoção de tecnologias mais complexas de fabricação, bem como o incremento do comércio de produtos do exterior. De instalações geralmente rotuladas como olarias, providas de torno-de-roda, forma, prensa e forno que possibilitava a queima de objetos em temperaturas até 1.000ºC saíam, para comércio, com rapidez e maior quantidade, recipientes, cachimbos, lajotas, tijolos 18 e telhas goivas ou coloniais. As vasilhas industrializadas para uso doméstico podiam apresentar superfície simples ou com engobo vermelho e decorações por meio de incisões e relevos ou, ainda, superfície vidrada como as recuperadas na Praça; os cachimbos eram moldados, muitas vezes com enfeites em alto-relevo. O início desta prática varia conforme a região brasileira enfocada. No oeste e norte do Paraná, telhas coloniais e lajotas produzidas em fornos com temperatura controlada, foram escavadas nas vilas espanholas e reduções jesuítas dos séculos XVI e XVII. Cerâmica torneada também era processada naqueles locais, porém em pequena quantidade; nelas, predominava a tecnologia tradicional dos índios tupiguarani, mas associada com as mesmas inovações constatadas na cerâmica neobrasileira do planalto curitibano. Na região de Curitiba, as olarias devem datar do final do século XVII ou início do seguinte, especialmente para a confecção de telhas coloniais. 19 Entre os sítios neobrasileiros mais antigos estudados no entorno de Curitiba, verificou-se que a cerâmica artesanal é predominante e apresenta poucas adaptações resultantes da interação havida entre índios e europeus; eventualmente, encontra-se faiança portuguesa. Telhas e vasilhas torneadas inexistem. Estas começam a ocorrer nos sítios mais recentes, associadas com tijolos maciços e moldados, louças vidradas, faianças em maior número e cravos e outros objetos de ferro. Na sequência, ao diminuir a incidência de cerâmica artesanal, aumenta a presença das cerâmicas de olaria, inclusive tijolos furados e telhas alemãs e francesas. As louças estrangeiras, como grés, faiança fina e porcelana, passam a predominar. Há o aumento e diversificação, também de objetos de ferro e vidro. Os centros mais desenvolvidos recebiam de Portugal, desde o século XVI, tijolos e telhas trazidas como lastro de embarcações. As telhas planas do tipo 18

Além das lajotas e tijolos maciços, na Praça ocorreram aqueles mais recentes, com dois, quatro e seis furos; raros apresentavam uma ou três perfurações longitudinais (NO-Q4:60-100cm). No mesmo nível de escavação foi constatado, ainda, um tijolo maciço especial. Trata-se de um tijolo quadrante, utilizado para a construção de colunas; com raio de 12,50cm, a peça comporia uma coluna com 25cm de diâmetro (Foto 28). Peças semelhantes, mas para comporem coluna com 45cm de diâmetro, foram encontrados durante as escavações realizadas em terreno situado na rua Mateus Leme, no espaço hoje ocupado pelo Cenáculo dos Adoradores da Igreja da Ordem. 19 Para a cobertura da Igreja Matriz, cujas obras foram iniciadas em 1715, morador de Curitiba comprometeu-se a doar seis mil telhas (Wachowicz, 1993:9). Raphael Pires Pardinho, em carta datada de 30 de agosto de 1721, declarava que todas as casas da vila eram de pau-a-pique e cobertas com telhas (Leão, 1926:1.276), em oposição aos casebres cobertos com palha do século anterior.

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francês, que começaram a ser fabricadas no Brasil no final do século XIX, continuaram sendo importadas desse país na mesma época, juntamente com tijolos e manilhas. Conforme Brancante (1981), o Brasil era abastecido com cerâmica vidrada, produzida em Portugal entre os séculos XVI e XVIII, cessando esse comércio no último século, quando aqui passou a ser fabricada. 20 Louças que requeriam técnicas e matérias-primas especiais, assim como de fornos que alcançassem temperaturas ainda mais elevadas, passaram a integrar o cotidiano dos brasileiros a partir do século XVI. Até o século XVIII, Portugal exportava para o Brasil a louça faiança, inclusive na forma de azulejos, fabricada em vários centros do seu território, notadamente Coimbra e Lisboa. Era por seu intermédio, também, que louça porcelana chinesa chegava à colônia americana nesse período. Com a transferência da família real portuguesa em 1808, e a abertura dos portos à nações amigas, mercadorias delas procedentes ou por elas intermediadas, passaram a abastecer o mercado interno. A industrializada Inglaterra desempenhou papel preponderante nesse processo. Garrafas em grés, que exigiam fornos com temperatura até 1.400ºC, entraram como recipientes de bebidas alcoólicas destiladas ou fermentadas; frascos menores, da mesma variedade de louça, introduziram tintas. Serviços de copa e cozinha em faiança fina e ironstone, tornaram-se frequentes em muitos lares. Pratos, xícaras e outros objetos em porcelana, geralmente associados a consumidores de maior poder aquisitivo, também passaram a integrar a tralha doméstica. Foram mais raros artefatos elaborados em biscuit, uma porcelana não esmaltada e submetida a dois estágios de queima atingindo, o último, a temperatura de 1.500ºC, cuja manufatura, iniciada na França no século XVIII, passou a ser produzida em seguida na Inglaterra e outros países (Brancante, 1981:146). No Brasil a produção de porcelana foi ensaiada em Minas Gerais, entre os séculos XVIII e XIX. Nessa época, também, no Rio de Janeiro foram fabricados camafeus e anel em biscuit. Ao Rio de Janeiro e ao Paraná cabe a primazia da confecção de louças em faiança no final do século XIX. É no século seguinte, entretanto, que a indústria ceramista se desenvolve, substituindo gradativamente a importada. Marcas de fabricantes e padrões de decoração possibilitam a cronometragem de louças recuperadas em escavações arqueológicas, em que pese o fato de que as requintadas eram utilizadas parcimoniosamente, permanecendo em poder das famílias por muito tempo antes de quebrarem e serem, os seus fragmentos, inseridos em contextos não condizentes com a época da sua produção e comercialização. Durante pesquisas desenvolvidas na área do Contorno Norte de Curitiba, no ano de 2000, um prato em louça faiança fina padrão Willow azul estilo Chinoiserie e fabricado na Inglaterra entre 1800 e 1815, encontrava-se intacto na residência de morador local. Um prato em faiança com decoração linear em azul, produzido em Coimbra entre os séculos XVI e XVIII, foi escavado em 2005 no terreno da rua Mateus Leme hoje ocupado pelo Centro Juvenil de Artes Plásticas; estava integrado à camada arqueológica relacionada ao século XVIII.

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Da Praça procede um fragmento de louça vidrada verde, assim como outro de faiança fina padrão willow azul, reciclados como tábulas para jogo de dama. Apresentam dimensões comparáveis daquela elaborada sobre fragmento de cerâmica artesanal com engobo vermelho já mencionada.

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Análises procedidas com as louças recolhidas nos cortes-estratigráficos feitos nas áreas dos canteiros, embora estes tenham resultado de aterros, mostram que as procedentes dos níveis mais profundos correspondem principalmente, a refugos da primeira metade do século XIX. Junto a aterros acumulados acima dos anteriores e do horizonte representado pela primeira urbanização do logradouro na segunda metade do século XIX, estavam também louças que a esse período se relacionavam, mas, devido a perturbações causadas por obras recentes, apresentavam-se com peças mais antigas e também do século XX. As louças das duas metades do século XIX informam sobre as mudanças ocorridas na sociedade curitibana, influenciadas pelo desenvolvimento econômico e afluência de imigrantes (ver Anexo 1). Na área da Praça as garrafas de grés foram mais representadas, seguidas pelos tinteiros. Embora marcas existentes em algumas peças não tenham sido identificadas, por estarem incompletas ou ilegíveis, é provável que a sua importação da Inglaterra date do séc. XIX. Deve ser mencionado o fragmento de garrafa em cerâmica vidrada cinza imitando as de grés; a peça foi encontrada no Quadrante NO, Q3, entre 45 e 60cm de profundidade. Talvez tenha sido produzida em olaria do país. Entre as faianças, os pratos foram mais numerosos, secundados pelos pires. Pouco representados foram as canecas, tigelas, xícaras e azulejos. As decoradas são um pouco mais numerosas que as brancas. Aquelas apresentam frisos e/ou faixas em azul, às vezes associados com frisos ou pontos em vinhoso, que apontam para a sua origem portuguesa nos séculos XVI, XVII e XVIII. Poucos fragmentos mostram decorações executadas com outras técnicas e podem ter sido produzidas no país ou mesmo no Paraná, no início do século XX. Nenhuma marca foi identificada nessas peças. A faiança fina foi a louça mais frequente em quase todos os pontos abordados, sendo representada predominantemente por pratos, pires, canecas e xícaras. Bem representadas também foram as malgas e tigelas. Evidências ainda relacionadas a travessas, terrinas, potes, bules, leiteiras, tampas e urinóis, entre outros, informam sobre a diversidade de funções dessa louça no cotidiano curitibano. A louça decorada corresponde ao dobro da que apresenta as faces brancas. As técnicas decorativas e marcas identificadas nesse acervo indicam a procedência principalmente de fábricas da Inglaterra, França e Holanda, desde o último quartel do século XVIII até as primeiras décadas do XX. Junto à marca do fabricante inglês de uma travessa em Willow azul, figura a de Estevão Busk & Cia., importador do Rio de Janeiro no século XIX. Entre os produtos nacionais referentes à primeira metade do século XX, destacam-se os da Fábrica São Zacarias, do Paraná, e da Cia. Paulista de Louças Ceramus, de São Paulo; suas marcas encontram-se em poucos fragmentos. Algumas variedades da louça estrangeira, como a Shell edged, a Willow azul estilo Chinoiserie e a Sprig ou Peasant pintadas à mão, conforme Tocchetto et alii (2001), tiveram a sua produção interrompida em meados do século XIX, enquanto a de padrão Trigal em superfície modificada não pintada começou a ser fabricada na segunda metade daquele século. As louças em porcelana foram pouco frequentes referindo-se, na sua maioria, a pratos, pires, xícaras, canecas e malgas. Poucos de seus fragmentos relacionam-

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se a travessas, terrinas, sopeira, açucareiros, leiteiras, tampas, pote e vaso. Um braço e um fragmento de cabeça de boneca em porcelana foram recuperados nas Quadras 4 e 5 do Quadrante NO. As peças decoradas correspondem a menos de um terço em relação às brancas. Entre àquelas, predominam as faixas e frisos em negativo ou em cores, seguidas pelas florais pintadas à mão ou por meio da técnica de Transfer printing. A porcelana chinesa do gênero Swaton foi introduzida pelos portugueses no período colonial brasileiro (Brancante, 1981:337). A descoberta, na década de 1820, da propriedade do cobalto, associado ao cloreto de amônia, de escorrer durante o processo de esmaltação (Snyder, 1999:11), propiciou a popularização da porcelana Flow blue nas décadas seguintes. Esta, como a anterior, está presente na Praça. A louça Ironstone foi mais representada que a Porcelana. Está assinalada, principalmente, por pratos, pires, xícaras e canecas, embora ocorram exemplares relacionados a terrinas, malgas, tigelas, leiteiras, travessas e tampas. As brancas são um pouco mais numerosas que as decoradas. Estas mostram superfície modificada, com padrões fitomorfo e trigal. A única marca identificada, Ironstone China, da Inglaterra, remete-a ao período entre 1851 e 1890. A louça Biscuit foi rara, mas presente em alguns pontos dos quadrantes trabalhados na Praça. A grande maioria é referente a pratos e tigelas, havendo fragmentos relacionados a caneca, fruteira e vaso. Há um equilíbrio entre as louças brancas e as decoradas. Entre estas, ocorrem as que apresentam frisos e/ou faixas em negativo e as com superfície modificada, padrões trigal e fitomorfo; em um destes, há associação com pintura em tom vinhoso. Marcas de fabricantes não foram encontradas. As louças reveladas pelas pesquisas, assim como outros objetos em cerâmica, vidro e metal, pelo fato de terem sido introduzidas no espaço público na forma de entulho, refletem o cotidiano dos habitantes do seu entorno e principalmente, as mudanças sociais e econômicas por eles vivenciadas no século XIX. Por ocasião de sua passagem por Curitiba, em 1820, Auguste de Saint-Hilaire (1978:71) teceu comentários sobre a singeleza da vila, salientando o pequeno número de pessoas abastadas entre a população. Observou, entretanto, que eram vários os estabelecimentos que comercializavam produtos vindos diretamente do Rio de Janeiro. Na segunda metade do mesmo século, porém, o modesto mobiliário constituído por mesa e bancos rústicos constatado nas casas pelo viajante francês, deu lugar ao mais sofisticado. Conforme inventários da época (Balhana et alii, 1969:101), nas salas de visitas havia cadeiras austríacas, toucadores com grandes espelhos, marquesa e escarradeira de louça. Nas de jantar, além de relógio na parede, encontrava-se grande mesa de jacarandá com gavetas contornada por cadeiras de madeira com assentos de couro. Nos quartos, os estrados assentados diretamente no chão anteriormente, foram substituídos por camas, às vezes de jacarandá. Em canastras de couro com pregos dourados, baús de folha, cômodas com gavetas e fechaduras e armários com portas eram guardadas as roupas; jarro e bacia e urinol, completavam o mobiliário daqueles aposentos. As cozinhas encerravam forno, farinheiras, caçarolas, panelas, chaleiras, chocolateiras e trempes de ferro, tachos, caldeirões e espumadeiras de cobre e, de zinco, bules e bacias e formas para panificação. As louças e objetos de vidro especificados em um dos inventários correspondem, em grande parte, ao acervo procedente da Praça:

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meia dúzia de pratos de porcelana da China, 17 pares de xícaras de porcelana da China, 12 pares de canequinhas de porcelana, 1 aparelho de porcelana de chá (...). Aparelhos de louça de pó de pedra, de louça parda e outros de “louça ordinária”. Xícaras e pratos azuis, 24 pratos travessas, pratos para doce, copos de vidro para água, 20 cálices, 31 copinhos para vinho, cálices para champagne (...) açucareiros de louça, tigelas (...) garrafões. (idem, ibidem).

É nesse período que se torna mais intensa a participação dos novos imigrantes na economia e na sociedade curitibana (Balhana et alii, 2003:454), quando a sua população, estimada em 6.791 habitantes por ocasião da instalação da Província do Paraná em 1853, salta para 24.558 em 1890 (Westphalen; Balhana, 1999:223). A indústria do vidro no Brasil, praticada de forma efêmera pelos holandeses em Recife e Olinda no séc. XVII e pelos portugueses em Ouro Preto no século seguinte (Sandroni; 1989; Levy, 1993, Apud Zanettini e Camargo, 2000:19), implantou-se definitivamente no século XIX, após a vinda da família real e a revogação da sua proibição na Colônia. Anteriormente, portanto, e mesmo durante o século XIX, as necessidades internas de objetos de vidro eram supridas pelas importações. As evidências vítreas mais antigas relacionam-se às miçangas, trocadas com indígenas durante os momentos de contato. No Paraná, em sítios arqueológicos ligados aos tupi-guarani, essas contas-de-colar brancas ou coloridas, fabricadas na Itália e Holanda (Hume, 1986:53), integram contextos datados entre os séculos XVI e XIX. Garrafas e frascos para bebidas alcoólicas e medicamentos, principalmente, de várias procedências, foram introduzidas pelos portugueses à partir do século XVII e, vidros planos e mangas, que protegiam a chama dos lampiões a óleo ou querosene, nos séculos XVIII e XIX. A utilização desse equipamento de iluminação é tardia em Curitiba. Somente em 1849, três dos vinte lampiões adquiridos no Rio de Janeiro pela Câmara, foram fixadas na Cadeia situada ao lado leste da Praça. Os demais, foram colocados na frente de casas selecionadas apenas por ocasião dos festejos alusivos à instalação da Província, em 1853 (Pilotto, 1969:97). Eram alimentados com óleo de peixe procedentes do litoral. A iluminação pública, com o emprego de lampiões a querosene foi implantada em 1874, em torno da Praça e em algumas das poucas ruas então existentes. Os processos de fabricação do vidro, evolucionários em relação às matériasprimas empregadas e as técnicas utilizadas, também apresentam elementos que auxiliam na datação de objetos recuperados em abordagens arqueológicas, mas como alertaram Zanettini e Camargo no texto acima citado, o surgimento de métodos mais avançados de produção não eliminaram de imediato os tradicionais por países que não estavam na ponta do desenvolvimento tecnológico vidreiro. Até boa parte do século XIX, o vidro fundido era trabalhado manualmente, por meio de sopro, com ou sem o auxílio de moldes deixando, as etapas de produção, marcas de emendas ou dos instrumentos utilizados como pistas para sua classificação e cronometragem. Essa tecnologia continuou sendo empregada no Brasil no século seguinte, enquanto em outros lugares, como nos Estados Unidos, desenvolviam-se e multiplicavam-se as técnicas de produção semi-automatizada e automatizada.

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Entre as garrafas e frascos recuperados verificou-se a predominância de molde duplo; apenas uma garrafa evidenciou molde triplo. Conforme Baugher-Perlin, citado por Zanettini e Camargo (2000:10), os moldes duplos vigoraram de 1750 a 1880 e, os triplos, de 1820 a 1860/70. Marcas constatadas em alguns desses recipientes (I.B.L., UHA e CW. & Cº), que poderiam identificar os estabelecimentos e fixar as datas de fabricação, não foram encontradas nos catálogos consultados. Outras peças vítreas resgatadas na atual pesquisa referem-se, principalmente, a utensílios de copa-cozinha, como tampas de frascos e copos e taças, alguns de cristal. Contas de colares, botões de indumentária e bolinhas de gude entre os objetos identificados informam sobre o cotidiano citadino nos séculos XIX e XX. Uma conta especial, localizada no Quadrante NE, Quadra I, entre 15 e 30cm de profundidade, mostra salpicos em preto sobre base vermelha. Corresponde a representação de Exu nos colares dos seguidores do Candomblé. Vidros planos e translúcidos indicam a sua utilização em janelas, uma prática tardia em Curitiba, pois, segundo Romário Martins (1974:65), até os primeiros anos da Província do Paraná, naquelas aberturas das casas eram usadas rótulas – grade de ripas cruzadas formando losangos –, que “do lado de dentro via-se perfeitamente a rua, sem ser visto de fora”. Objetos metálicos, principalmente armas, ferramentas e utensílios domésticos de ferro, foram introduzidos no atual território brasileiro pelos portugueses, espanhóis, holandeses e franceses nos primeiros momentos da exploração do território e da sua colonização. Desde 1532, artefatos também foram aqui confeccionados por ferreiros, a partir de sucatas de ferro importadas. As tentativas de fundição de ferro pelo processo direto começaram em 1591, junto ao Morro de Araçoiaba, em São Paulo. Segundo Jesuino Felicíssimo Jr. (1969:8), essa atividade foi reiniciada no mesmo local em 1599. Apesar da má qualidade do ferro resultante, com ele foram fabricados anzóis, facões, enxadas, pás, cunhas, fechaduras, ferrolhos e cravos, entre outros objetos tão necessários para o desenvolvimento da crescente população. No espaço brasileiro ocupado temporariamente por espanhóis, entretanto, a fundição de ferro foi conseguida entre os anos de 1577 e 1578. Nas minas de ferro do Tambo, situadas no centro do atual território paranaense, o metal foi manipulado por espanhóis de Vila Rica del Espiritu Santo, um núcleo colonizador fundado em 1570. Ramón I. Cardozo (1970:72), divulgou a ata de probanza feita naquela Vila em 1578, na qual, com testemunhas, o capitão Ruy Diaz de Melgarejo, seu fundador, declarou ter fundido ferro para a produção de cunhas e facas. Em Ciudad Real del Guayrá, também fundada por espanhóis em 1557 e na área da segunda ereção de Villa Rica em 1589, desta vez na margem esquerda do rio Ivaí, pesquisas arqueológicas recuperaram grande quantidade de escórias de fundição. O mesmo se constatou no espaço da redução de Santo Inácio Mini, erigida por jesuítas e índios tupi-guarani na margem esquerda do rio Paranapanema em 1610, sendo possível, por isso, que nesse local a fundição de ferro também fosse praticada. No Rio Grande do Sul, na redução de São João Batista (1693-1701), os jesuítas fabricaram enxadões, foices, cunhas e lâminas de faca. Ao contrário das Ordenações Manuelinas do século XVI, a Ordenação Filipina baixada em 1603, quando Portugal encontrava-se sob o domínio espanhol, liberou a

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exploração de minas à iniciativa privada. 21 A necessidade de mão-de-obra para as atividades minerárias, levou à intensificação da prea indígena por bandeirantes nessa época, especialmente daqueles reduzidos pelos jesuítas no Paraná. Em 1609 outra fundição de ferro foi instalada na freguesia paulista de Santo Amaro. No século XVIII, após a criação da Província de Minas Gerais, nela implantou-se a fundição de ferro. Alegando que as indústrias prejudicavam as atividades agropastoris e a conquista do território, a rainha Maria I ordenou, em 1778, a destruição dos parques fabris no Brasil. Essa situação modificou-se com D. João VI, no século XIX. A produção do ferro passou então a contar com técnicas mais avançadas. Objetos de metal foram recuperados em maior quantidade nos cortesestratigráficos efetuados na Praça, assim como nas exposições realizadas na sua porção central. Referem-se a atividades diversas, predominando as ligadas à construção e cozinha, mas ocorreram aqueles vinculados à indumentária, armamento, montaria, circulação monetária, uso pessoal, etc. Correspondem aos séculos XIX e XX e, provavelmente, ao XVIII. Entre as evidências mais antigas estão as confeccionadas em forja de ferreiro, como cravos, ferraduras, arreio e dobradiça. Os cravos apresentam dimensões variadas, desde aqueles com 25mm de comprimento, usados para fixação de ferraduras, até os com 90mm, para tábuas e palanques. 22 Um pequeno cravo de bronze, com 25mm de comprimento, foi encontrado no Quadrante NE, Quadra I, aos 75cm de profundidade e talvez tenha sido utilizado na confecção de canastra. Outro cravo especial de ferro e de dimensões maiores, localizado no Setor CE-EX 2 aos 40cm de profundidade, destinava-se à fixação de trilhos para os bondes que circulavam no entorno da Praça, puxados por mulas desde 1887 e acionados por eletricidade a partir de 1913. As ferraduras foram encontradas junto aos aterros, desde 30 até 70cm de profundidade, ou nas áreas de exposição inferindo, em alguns casos, a sua perda no local pelos animais. Ainda ligado a montaria, fragmento de arreio de ferro foi detectado no Quadrante SO, Caixa I, aos 58cm de profundidade. Assim como os cravos, uma grande variedade de peças metálicas apontam para o seu uso em edificações, como pregos, parafusos, arruelas, arames, dobradiça, canos, serra para cortar ferro, chaves e fragmentos de chapas, barras e tiras de ferro e chumbo. Relacionados à tralha de cozinha, foram registrados aros de fogão a lenha, panelas, colher, faca e ganchos de ferro, baldes de zinco e embalagens de lata. Os objetos vinculados a armas de fogo, representados por balim, projéteis e cartuchos, ocorreram na Quadra I do Quadrante SE, desde 15 até 60cm de profundidade, e nas exposições dos Quadrantes NE, NO, SE e Central, em profundidade que variaram de 40 a 75cm. Predominaram projéteis e cartuchos de fuzil, deflagrados ou não, e de revólveres de calibre 32 e 38, fabricados no exterior em fins do século XIX e princípios do XX. O balim de chumbo, peça que era introduzida no cano da arma

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A fundição dos quintos de ouro já era praticada em Paranaguá, em meados do século XVII (Leão, 1926:347). A produção de ouro foi incrementada no século seguinte, em outras partes do Brasil, assim como de chumbo e estanho. 22 Cravos eram usados também para unir ripas nas construções de pau-a-pique.

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depois da carga de pólvora, pode remontar ao século XVIII 23 , talvez vinculado aos momentos em que na Curitiba Colonial formaram-se ou transitaram tropas organizadas. O Provimento nº 13 do Ouvidor Pardinho, trata da composição das Companhias de Ordenanças em 1721 (Curitiba, 1906:13). Outros acontecimentos envolvem o tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza que, incumbido pelo morgado de Mateus organizou, a partir de 1768, as bandeiras destinadas à conquista dos campos de Guarapuava, uma antiga aspiração do povo curitibano. A descoberta dos campos em 1770, motivou a ida do próprio Afonso Botelho a Guarapuava. Contando com “trem de guerra” composto por peças de “artilharia e munições necessárias”, em 1771 partiu de Curitiba essa décima bandeira em direção aos campos, sendo “acompanhada ate a distancia de uma legua por por grande numero de moradores da, então, vila.” (Leão, 1926:20). Na década seguinte, em função das tentativas de defesa da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, no atual Estado do Mato Grosso do Sul, Afonso Botelho chegou a estruturar “um acampamento, cercado de grandes roças de milho, e um quartel na própria vila [de Curitiba], onde seriam alojados 500 homens, prontos para partir ao primeiro chamado, contra os castelhanos.” (Carneiro, 1950:69). O balim procedeu da Exposição 3, Quadrante NE, aos 60cm de profundidade. Moedas foram encontradas em todos os espaços abordados, sobretudo em meio à terra preta dos canteiros. As mais numerosas, cunhadas sobre níquel, aço ou alumínio, pertencem ao período compreendido entre 1951 e 1993, tendo como padrão o cruzeiro, cruzeiro novo e cruzado e suas frações em centavos. Moedas em cobre foram registradas nos Quadrantes NO, SO e Central, aos 40 ou 100cm de profundidade. Apresentaram-se intemperizadas, dificultando a sua identificação. Uma delas, de 100 Réis, conserva o brasão da República e a data de 1889; entre as demais, apenas uma mantém o brasão do Império e outra uma perfuração central. As últimas procederam da Exposição 1, da porção Central da Praça e podem estar relacionadas às estruturas calçadas. Igualmente relacionadas às estruturas, estavam fivela de latão com pintura em verde e botão de cobre. Ambos integraram fardamento militar procedendo, a primeira, da drenagem na Exposição 6, do Quadrante NO e, o segundo, do passeio da Exposição 3 Central. Estavam sobre as estruturas. Mais três botões de cobre foram recuperados nos Quadrantes NE, NO e SE, aos 45cm de profundidade na Quadra 1, aos 75cm na Quadra 2 e aos 40cm na Quadra 2, respectivamente. Alfinete de gancho em ferro e dedais em cobre também foram recuperados nos Quadrantes NE, NO e Central, vinculando-se à indumentária. Diversos objetos, ainda, como fichas telefônicas, chapinhas de garrafa, pilha elétrica, chicote de bateria, vela e chaves de ignição de veículos motorizados, mostrador e pulseira de relógio e camafeu e medalha religiosa, foram depositados no espaço da Praça durante a segunda metade do século XX. A medalha, elaborada em alumínio, foi encontrada no quadrante NO, Quadra 3, entre 45 e 60cm de profundidade; relaciona-se a católicos devotos de Nossa Senhora da Aparecida.

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Balins de chumbo com 25 e 35mm de diâmetro eram utilizados em arcabuzes de mecha ou pederneira, principalmente entre os anos de 1520 e 1650. Essa arma pode ter presença tardia em alguns contextos históricos (Comunicação pessoal de Marcos A. de Mattos de Albuquerque, em 21 de abril de 2010).

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Os vestígios ósseos detectados durante os trabalhos referem-se a restos alimentares e estavam, em sua maioria, associados aos aterros procedentes de outros lugares. Em alguns pontos, porém, a sua inclusão no espaço deveu-se a circunstâncias diferenciadas. A Exposição 1, feita na área do Quadrante NE, revelou que ossos de animais domésticos, juntamente com restos de embalagens de lata e uma chaira, foram depositados em cova extensa, entre 50 e 80cm de profundidade, como lixo de açougue que existia ao lado da Praça. As exposições praticadas no Setor Central, porém, porém, indicaram que os ossos resultaram de consumo e descarte no próprio local. O acervo recolhido está representado por fragmentos de ossos com bordos partidos, geralmente em precárias condições de conservação, e por aqueles cortados com serra. Entre alguns dos primeiros, além de calcinação, há marcas de golpes de faca e machado, inferindo manipulação rudimentar. Na maioria dos seccionados mecanicamente, a serra utilizada possuía “dentes” pequenos; poucos foram cortados com serra de “dentes” grandes. Ao contrário dos demais, que foram seccionados continuamente, um osso apresentou cortes parciais por serra em ambos os lados e foi partido manualmente depois. 24 Ossos fragmentados foram registrados nas áreas das Exposições 1, 3 e 4 do Setor Central e apenas um serrado na 3. No mesmo setor ainda, na área da Exposição 4, ocorreu um osso partido calcinado e um dente molar de animal de pequeno porte não identificado. Predominaram ossos de bovinos; poucos referiam-se a suínos e caprinos. Ossos de galináceos foram pouco numerosos, sendo captados na Quadra 1 do Quadrante NE, aos 15cm de profundidade e nas Quadras 4 e 6 do Quadrante NO, entre 45 e 100cm. Uma vértebra de peixe localizada na Caixa 1 do Quadrante NE, aos 70cm de profundidade e um dente incisivo e um fragmento de mandíbula de porco do mato com marca de faca, procedentes do Quadrante NO S1 aos 50cm e V1 entre 40 e 70cm, respectivamente, são relativos às faunas aquática e silvestre. Restos de consumo de frutos do mar foram percebidos apenas nos Quadrantes NE e NO, em profundidade que variaram de 50 a 95cm. Estão representados por valvas de ostra (Ostrea sp.) e berbigão (Anomalocardia brasiliana). Estabelecimentos para venda de carne e outros gêneros alimentícios existiam nas proximidades da cova com ossos do Quadrante NE. “A Câmara Municipal de Curityba, possuía umas pequenas casas no pátio da Matriz, que com o nome – casinhas – serviram de mercado público.” (Curitiba, 1960a:3 - Nota 1, de Francisco Negrão). Vinte e nove objetos que não puderam ser acomodados nas categorias acima comentadas, foram reunidos como miscelânea neste estudo. Entre eles, estão as pederneiras de silexito já mencionadas, e fragmentos de estiletes e lousa de ardósia que, até as primeiras décadas do século XX, eram usadas para escrever e desenhar. Estes ocorreram em quadras, nos Quadrantes NE e NO, entre 30 e 60cm 24

Resolução baixada em 10 de fevereiro de 1858 por Francisco Liberato de Mattos, presidente da Província do Paraná, proibia “nos açougues o uso do machado, ou qualquer outro instrumento que não sejão serra ou serrote, para separação dos ossos.” (Pereira-Org., 2003:76). Os ossos recuperados apresentam, em grande parte, marcas deixadas pelo uso dos dois instrumentos de corte indicados naquela resolução, embora os seccionados por outros meios também tenham sido numerosos, podendo estes significar que foram manipulados anteriormente ao disposto ou que, em desrespeito à norma estabelecida, continuaram sendo cortados pelos métodos arcaicos.

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de profundidade. Na área da Exposição 4 do Quadrante SE, uma dessas peças foi encontrada aos 70cm de profundidade. Botões de indumentária, fabricados com material plástico, foram localizados em vários pontos da Praça, desde 15 até 75cm de profundidade. De várias cores, os botões apresentam dois ou quatro furos, referindo-se a descartes ocorridos na segunda metade do século XX. Em material plástico também, foram registrados uma conta-de-colar imitando pérola, e um fragmento de piteira; ambas procederam da Quadra 1 do Quadrante NE, aos 15 e 30cm de profundidade, respectivamente. Fragmentos de lajotas de cimento, utilizadas na primeira metade do século XX para o revestimento de passeios, foram encontrados nos Quadrantes NE e NO, principalmente em quadras, entre 45 e 60cm de profundidade. Em outros locais, integravam-se a aterros até 85cm. Constituídos por segmentos quadrangulares com 40 ou 65cm de lado, várias dessas porções de lajotas receberam camada de tinta amarela ou rosa na face superior. As estruturas expostas durante as pesquisas, apontaram para um sistema de circulação e drenagem que, partindo dos lados e cantos convergiam para o centro do logradouro. Nos trechos ainda existentes, verificou-se que os passeios eram um pouco elevados e abaulados, revestidos com pequenos blocos de rocha e seixosrolados. Os passeios eram ladeados por canaletas rasas, calçadas com blocos de rocha maiores até darem lugar a outros menores nas proximidades da porção central da Praça. Nesta parte, as canaletas laterais comunicavam-se com outra em curva, que delimitava um espaço circular. Os blocos de rocha utilizados para o calçamento dessa canaleta eram também pequenos, mas maiores que àqueles usados para o revestimento dos passeios. Resíduos dessas pedras menores foram detectadas no interior do espaço central, circular, inferindo que ali também houve um revestimento. A ausência de vestígios de estruturas arqueológicas das constatadas, indica que estas foram as primeiras implantadas no espaço do logradouro, diretamente sobre o embasamento formado pelo solo avermelhado. Essa obra, conforme a documentação existente, foi executada no primeiro semestre de 1886, em grande parte com blocos de rocha provenientes da demolição da Igreja Matriz (ver Anexo 1). Indícios deixados pelos operários da primeira urbanização da Praça foram encontrados junto às porções centrais das estruturas e na parte noroeste, referindose a acampamentos montados temporariamente para tal fim. Vestígios de outras estruturas, como base de chafariz ou canalizações verificadas sobre as anteriores ou ao lado de suas porções perturbadas, representam intervenções feitas mais recentemente, para drenagem do terreno ou ao lado de suas porções perturbadas, representam intervenções feitas mais recentemente, para drenagem do terreno. As mais elaboradas, construídas com blocos de pedra retangulares ou quadrangulares, associadas com tijolos maciços, devem corresponder às reformas de fins do século XIX e princípios do seguinte. Canalizações praticadas em pleno século XX, utilizando manilhas, tijolos furados, dutos de ferro e pvc para drenagem de águas pluviais, condução de água para repuxos ou fiação elétrica, foram encontradas. Além dos impactos causados por essas intervenções modernas às estruturas originais, outros mais antigos, informados pela documentação histórica e/ou percebidos nas escavações,

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ocasionaram danos ainda maiores ao solo da Praça; essas interferências serão comentadas no capítulo seguinte. Tendo em vista as similitudes existentes entre as estruturas antigas da Praça e as que existiam em trechos do Largo da Ordem e da rua José Bonifácio em 1900, conforme fotografia divulgada por Cid Destefani no periódico Gazeta do Povo, em 6 de julho de 2008, algumas considerações tornam-se pertinentes para efeito de comparação. No primeiro espaço, entre o passeio revestido com pedras irregulares e guarnecido por meio-fio e a fonte cercada por pilastras e portal, vê-se uma canaleta estreita, também revestida com pedras irregulares, com as mesmas características das que ladeavam os passeios de 1886 na então Praça D. Pedro II. Disposta paralelamente ao passeio do Largo da Ordem, a canaleta apresenta-se interrompida na rua José Bonifácio por um alinhamento de pedras quadrangulares, que nela se estende longitudinalmente. Este, por sua vez, quase na frente da fonte, liga-se a uma estrutura piramidal de alvenaria, talvez uma cisterna. As pedras do alinhamento da rua José Bonifácio assemelham-se às que na Praça cobriam as canaletas com tijolos maciços. Portanto, as estruturas lineares do Largo da Ordem e da rua José Bonifácio captadas pela imagem, deveriam estar relacionadas a sistemas de drenagem, como as que foram identificadas na Praça, representando técnicas construtivas da segunda metade do século XIX.

Considerações sobre os impactos sofridos pela Praça Tiradentes à luz da documentação e da pesquisa A abordagem arqueológica realizada em 2008 ateve-se ao atual espaço da Praça, que representa aproximadamente dois terços de sua área original. Considerando-se, também, que no início ela não era contornada por ruas como hoje; das moradias implantadas em meados do século XVII nos seus lados, os usuários a acessavam diretamente. Nos cerca de 367 anos que transcorreram desde a sua criação até o momento da pesquisa, o logradouro passou a receber impactos significativos a partir do século XIX, os quais ocasionaram prejuízos ao patrimônio arqueológico depositado em seu solo, impedindo uma contínua leitura da sua história. Até então, quando o Largo era um descampado com leve declive em direção ao sul, cortado por carreiros dos moradores do entorno e utilizado inclusive como “potreiro” por criadores de animais, o espaço não deve ter sofrido danos importantes em seu solo. Os impactos mais devastadores foram causados depois, quando do local a terra começou a ser retirada para servir de aterro em vários pontos da Cidade. Durante as obras que estavam sendo executadas em 1883, entre o prolongamento da rua do Rosário e o ribeirão Ivo, dando origem à rua São José (atual avenida Marechal Floriano Peixoto), aterramentos foram feitos com o solo retirado do Largo D. Pedro II até as cabeceiras da ponte em construção naquele curso fluvial, “porque desta forma, o serviço tornava-se mais barato.” (Wachowicz, 1998:166). É possível que outros aterramentos noticiados, como os praticados nos fundos da Cadeia Velha em 1835 e para a construção de outra ponte sobre o ribeirão Ivo, em continuação ao beco do Pelourinho (atual rua Monsenhor Celso) para o sul, em 1857, tenham recebido terra do Largo.

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No mapa de Curitiba, produzido pelo engenheiro Taulois no terceiro quartel do século XIX, estavão representadas as extensas várzeas então existentes nas margens dos ribeirões Ivo e Belém, dificultando a expansão urbana para o sul e leste; o beco do Pelourinho estende-se até a margem esquerda do primeiro curso fluvial. Outras vias assinaladas também alcançam a margem do mesmo ribeirão; a única que o transpõe a partir do Largo do Chafariz (atual Praça Zacarias), é a rua da Entrada (atual rua Emiliano Perneta), uma obra de José Borges de Macedo, o primeiro prefeito da Cidade, entre 1835 e 1838. A primeira urbanização planejada para o Largo, foi autorizada pela Câmara em 1º de julho de 1860, e consistiria na execução de obras para o “nivelamento do largo da Matriz, construção de duas calçadas de pedra que o crusem e arborização”. Uma comissão foi composta por três vereadores “para a execução da obra q.do depois de orçada não appareção arrematantes.” (Curitiba, 1932:95). Ao que parece, essa urbanização não chegou a ser concretizada, pois, durante a 6ª Sessão ordinária da Câmara, em 1º de fevereiro de 1873, foi apresentado o parecer da comissão designada para o conhecimento do estado das praças, ruas, travessas e becos. No tocante ao Largo da Matriz, a comissão externou que: esta praça, cuja importância é conhecida por esta Camara e por seus Munícipes, como um dos principais pontos desta Capital, carece de grandes reparos e melhoramentos indispensáveis de modo a satisfazer as urgentes necessidades que a sua posição topographica reclama. O entulho de covas e buracos um nivelamento completo em toda a sua circunferencia e novo calçamento na frente das casas (...) Precisa ser todo aterrado e nivelado e de um encanamento ou sargetas para escoamento das agoas. (Curitiba, 1960b:36).

As edições do jornal Dezenove de Dezembro, correspondentes aos anos de 1860 e 1861, não fazem referências à urbanização autorizada pela Câmara em meados do primeiro ano. Da mesma forma silenciam sobre o assunto as demais atas da Câmara no segundo semestre de 1860 e as do ano seguinte. Permanecendo como um descampado, o local era utilizado até para manobras militares, uma vez que, em meados de 1885 “O 3º Regimento de artilharia, ao mando do digno major fiscal o Sr. Dr. Saturnino da Costa Júnior, fez, ante-hontem á tarde, na praça D. Pedro 2º, diversas evoluções com os canhões Krupp.” (Dezenove de Dezembro, 24 de julho de 1885). Comprovadamente, a primeira urbanização foi praticada entre fevereiro e março de 1886, consistindo na construção de vias irradiadas de um círculo central, alcançando as laterais e cantos da Praça. Os passeios um pouco elevados e revestidos com pequenos blocos de rocha e seixos-rolados, ladeados por rasas canaletas de drenagem pluvial e também calçadas com blocos de rocha, mas maiores, foram implantados diretamente no solo avermelhado da formação Guabirotuba, em nível inferior ao hoje existente no seu espaço ou no seu entorno. No canto noroeste, as estruturas situavam-se a cerca de 1m de profundidade; nesse ponto, embora as escavações tenham sido interrompidas devido à existência do passeio e asfalto da rua Cruz Machado, verificou-se que as estruturas prosseguiam abaixo deles, para noroeste, em rumo à esquina da rua do Rosário. A parte norte do logradouro, portanto, deve ter sido a mais impactada pelos empréstimos de terra. Os grandes blocos de rocha detectados durante a escavação no Quadrante NE, remanescentes dos que embasavam a Igreja Matriz demolida na segunda metade do século XIX, formavam um amontoado entre 50 e 140cm de

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profundidade estando, os mais numerosos, no fundo de uma depressão no solo avermelhado; das porções medianas para cima, o conjunto de pedras estava coberto por aterro. Em direção às partes centrais da Praça, os trechos ainda conservados das estruturas situavam-se em profundidade menores, mas encontravam-se também assentadas diretamente no solo avermelhado. Os vestígios das estruturas constatados em outros pontos, ocupavam várias profundidades, desarticulados e espalhados pelas perturbações. As porções intactas das estruturas indicam, por conseguinte, que os espaços destinados para circulação e drenagem foram modelados e nivelados no terreno avermelhado. Nos espaços reservados para os canteiros, tendo-se em vista o constatado nos cortes-estratigráficos praticados em partes que continuaram com essa função nas revitalizações seguintes, os aterros anteriormente feitos nos lugares impactados pelo empréstimo de terra desde as primeiras metades do século XIX, foram mantidos (por exemplo, níveis 4 e 5 da Q1-NE e níveis 6 e 7da Q6-NO). Esses níveis continham, predominantemente, evidências arqueológicas relativas à primeira metade desse século. Da urbanização de 1886, que incluiu arborização configurando alamedas, a população usufruiu por pouco tempo. Suas estruturas acabaram soterradas no final do mesmo século, provavelmente entre 1897-8, durante uma fase histórica caracterizada pela sucessão de três prefeitos, dois deles interinos. Pesquisas documentais que poderão precisar esse momento não foram desenvolvidas. O que se levantou, com relação aos anos de 1897 e 1898, foi a determinação da Câmara para o nivelamento das ruas, colocação de meios-fios e calçamento com paralelepípedos. Na leitura das estratigrafias fornecidas pelos cortes feitos nos Quadrantes NE e NO, verifica-se que dois ou três aterramentos foram a princípio praticados, inclusive sobre as estruturas de circulação e drenagem então atuantes. Essas deposições, contendo indícios arqueológicos da segunda metade do século XIX misturados com outros da primeira e também do século XX, não as danificaram; os aterros foram nivelados servindo, a superfície do último, para trânsito da população. Tornando-se outra vez um descampado, a Praça não deve ter continuado nessas condições por muito tempo porque o piso formado pelos usuários está representado por delgada camada de solo compacto (nível 3 na Q1-NE e nível 4 na Q6-NO). Os aterros seguintes, ao cobrirem o piso, conferiram ao local a topografia atual, servindo para a implantação da nova urbanização. Essa urbanização, realizada durante a gestão de Luís Antônio Xavier (19001907), deu à Praça um desenho que manteve, em linhas gerais, a mesma lógica de circulação e disposição de canteiros da anterior. Foi, entretanto, a obra que ocasionou danos significativos à que permanecia soterrada. Os impactos mais importantes foram os causados pela construção de drenagens e bueiros e, principalmente, o erguimento do monumento dedicado ao marechal Floriano Peixoto, nas porções centrais do logradouro. As intervenções seguintes, ainda na primeira metade do século XX, com a instalação de chafarizes e seus condutores de água e fiação elétrica, novas drenagens e outros monumentos, aceleraram a destruição das evidências encerradas no solo.

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O primeiro monumento, que já havia perturbado as estruturas centrais, posteriormente foi transferido para dois pontos situados a sudoeste, 25 acarretando a destruição das evidências lá existentes. O plantio de espécies vegetais exóticas contribuiu, com o desenvolvimento de grossas raízes, para a desestruturação das estruturas antigas obstaculizando, inclusive, as escavações nos pontos em que se encontram. A urbanização original, cujas alamedas começavam ao norte e ao sul e, de oeste a leste até a frente do prédio da Cadeia e Câmara do século XVIII, foi seccionada nesta parte em 1934, por ocasião do prolongamento da rua José Bonifácio (antiga rua Fechada) em direção à rua Cândido de Abreu. Com exceção do refúgio criado em frente à Basílica Menor, que ainda pode guardar restos dos traçados primitivos, os que se estendiam no trecho do prolongamento da rua José Bonifácio, e mesmo da rua Monsenhor Celso em direção à rua Barão do Serro Azul, devem ter sido destruídos pelas obras. Em que pesasse o fato de ter sido criado o Setor Histórico de Curitiba em 1971, com medidas protetoras ao patrimônio arquitetônico e paisagístico nele existente, o seu subsolo tão rico em evidências quanto as observáveis em superfície, permaneceu desprotegido e à mercê de crescentes impactos. Obras realizadas no entorno e imediações da Praça, como, entre outras, as de ligação da rua Monsenhor Celso com a travessa Tobias de Macedo (conhecida como beco do Inferno entre os séculos XVII e XVIII), em 1985, as de revitalização do Largo Borges de Macedo no início da década de 1990 e, as de instalação de cabos de fibra óptica ao lado do logradouro e de cabos de alta tensão elétrica na rua José Bonifácio a partir de 2000, expuseram vestígios arqueológicos. Alguns desses pontos impactados foram acompanhados por iniciativa do CEPA/UFPR (Chmyz, 2003:70 e 76). Desejando contribuir para uma política pública de proteção aos bens arqueológicos, após participar de seminário sobre patrimônio cultural e legislação, promovido pela Fundação Cultural do Município em 1998, o Centro encaminhou para o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano – IPPUC-, uma “Proposta de zoneamento arqueológico para o Município de Curitiba.” (Chmyz; Brochier, 2004:35). Um novo estudo, com a mesma fundamentação, desta vez encomendado pelo IPPUC, foi elaborado em 2007 por Igor Chmyz, Eliane M. Sganzerla e Jonas E. Volcov, para subsidiar o “Plano municipal de controle ambiental e desenvolvimento sustentável”. Embora ainda não postos em prática como dispositivos legais, os conceitos e métodos expostos no estudo devem ter contribuído para que as atuais obras de revitalização da Praça Tiradentes contassem com a participação de arqueólogos.

Considerações finais O primeiro planalto paranaense, percorrido no século XVI por expedicionários e preadores de índios, 26 passou a ser intensamente explorado por faiscadores de 25

Conforme relato feito pelo historiador Carlos Alberto Brantes durante palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, em 30 de março de 2010. 26 Datações radiométricas obtidas em sítios arqueológicos na área represada do rio Passaúna, na divisa oeste do Município de Curitiba, atestam a presença de índios pertencentes aos troncos linguísticos Tupi e Jê no final do século XV (Chmyz, 1995:26).

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São Paulo a partir de data incerta do século seguinte. De Paranaguá (Pardinho, apud Westphalen, 1995:136) e dos arraiais instalados esparsamente no planalto saíram moradores que se concentraram no divisor dos ribeirões Ivo e Belém, dando origem, entre 1641 e 1654, ao que viria a ser a Cidade de Curitiba. Em 1663, segundo documentos aí produzidos, requereram ao Capitão Mor Gabriel de Lara a ereção do Pelourinho e, em 1693, ao Capitão Povoador Mateus Martins Leme, a eleição de vereadores e a escolha de juízes. Denominado Villa de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais por ocasião do erguimento do Pelourinho, o núcleo, ocupando a baixa-encosta do morro de São Francisco, entre as várzeas dos ribeirões e a mata ao norte, desenvolveu-se em torno de um largo de grandes dimensões e de formato retangular, aos moldes das plazas espanholas. Casebres, para ocupação temporária durante cultos religiosos e comércio, foram construídos com as frentes voltadas para o logradouro; as atividades cotidianas de agricultura e pecuária dessa população, transcorriam nas sesmarias e sítios espalhados nas redondezas, ao longo de outros ribeirões. Uma capela igualmente precária, dedicada à Nossa Senhora da Luz, foi levantada no local, embora não se tenha informação de sua posição nesse espaço. É possível que, como o padrão de implantação usado nas reduções jesuíticas espanholas do século XVII no Paraná, aqui a capela também estivesse situada em um dos lados do Largo, posição adotada para os templos que a substituíram posteriormente. No final do século, pontes foram construídas sobre os ribeirões Ivo e Belém, facilitando a comunicação da Vila com o leste e o sul do território. O espaço central, denominado Praça, Largo ou Páteo da Matriz, foi o palco dos acontecimentos sociais e políticos nos anos que se seguiram. No seu lado nordeste, em 1714, foi erguida a Igreja Matriz, a primeira edificação imponente de pedra e barro e, em 1726, no seu lado sudeste, também de pedra e barro, o edifício que acomodou a Câmara e a Cadeia. Durante a permanência do Ouvidor Rafael Pires Pardinho em 1721, foram completadas as medições do Rocio da Vila, iniciadas em 1693. Nos Provimentos que baixou disciplinando, entre outros aspectos da vida local, a ocupação ordenada do solo e a obrigatoriedade do uso de telhas de barro para a cobertura das casas (Prov. nº 33), nada foi previsto para o Largo, a não ser o entulhamento do terreno “ao pé da matriz”, para sanear o charco ali formado nos períodos chuvosos (Prov. nº 43). Poucas eram as vias existentes no entorno do Largo no início do século XVIII, sendo representadas mais por travessas e becos. O Ouvidor Pardinho já havia determinado que a Câmara licenciasse terrenos para construção de moradias em continuação às ruas que estavam iniciadas (Prov. nº 37). Tudo indica que a proibição da permanência de “gado e cavalgaduras” sem dono na Vila, sob pena de confisco e venda (Prov. nº 121), também incluísse o Largo, um espaço por muito tempo ainda referido como “potreiro”, no qual transeuntes e carroceiros disputavam lugar com animais soltos. 27 Com o crescimento da população verificado no século XIX, em virtude da chegada de imigrantes e da riqueza proporcionada pela exploração da erva-mate e da madeira, o núcleo e a sua periferia começaram a ter a fisionomia modificada por 27

Essa situação perdurou até o século XIX. Em 1822, por exemplo, a Câmara havia multado Antônio Ribeiro de Andrade, Capitão-Mor da Vila, por pernoitar suas ovelhas no Páteo da Matriz (Negrão, 1954:612).

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novas construções influenciadas pelos adventícios, em substituição ao estilo colonial vigente. Na expansão da malha urbana para o sul, pontes mais elaboradas foram construídas sobre o ribeirão Ivo. Nessas obras, e também para o saneamento dos charcos e várzeas existentes em vários locais, extensos aterros foram praticados. Para o aterramento das cabeceiras da ponte situada nas proximidades do Largo do Chafariz (Praça Zacarias) e ruas adjacentes em 1883, a documentação esclarece que a terra foi emprestada do logradouro central, o qual, desde a visita do imperador em 1880, passou a ser conhecido como Praça D. Pedro II. Do mesmo local, terra teria sido retirada antes para aterramentos necessários em outros pontos das suas imediações. O logradouro teve, por isso, no decorrer do século XIX, a topografia alterada sendo, os espaços afetados pelos empréstimos, gradativamente preenchidos com restos de demolições e lixo dos arredores. Com esses impactos, os objetos depositados no solo primitivo durante os dois primeiros séculos da história do Largo, assim como das estruturas que nele tenham existido, acabaram perturbados e transportados para outros lugares. A informação histórica da perturbação foi confirmada pela pesquisa arqueológica, seja pela constatação de estruturas assentadas diretamente no solo rebaixado e estéril de evidências relacionadas à ocupação humana, seja pela verificação de aterros contendo objetos mais recentes sobre àquelas. Ficou frustrada, portanto, a expectativa de achados de objetos deixados pelos primeiros moradores do entorno do logradouro, assim como daqueles confeccionados por índios que nesse período tiveram expressiva participação no cotidiano do povoado. A expectativa incluía a possibilidade de localização de vestígios da aldeia dos tupi-guarani que teriam proporcionado a base para esse núcleo português duradouro no planalto curitibano. 28 Registros de batismos de índios existem desde 1685 na Paróquia de Nossa Senhora da Luz (Balhana, 2003:18). O Ouvidor Pardinho cita-os em seus Provimentos de nºs 86 e 108. Os registros paroquiais continuaram mencionando-os até 1804. Mesmo perturbado pela retirada de terra e com entulhos depositados nesses pontos, o Largo continuou transitado por moradores do entorno e pelos que, da periferia, por motivos diversos, a ele se dirigiam. O primeiro ensaio para sua urbanização, prevendo a implantação “de duas calçadas de pedra que o crusem”, data de 1860. Não se conseguiu, porém, qualquer comprovação histórica de sua construção. As pesquisas arqueológicas também não captaram vestígios de sua execução. Essa obra, conforme esclarecem documentos, deveria ser antecedida por oneroso e demorado trabalho preparatório de nivelamento que o harmonizasse com o entorno, incluindo drenagens. Comprovadamente, de forma documental e arqueológica, a primeira urbanização da então Praça D. Pedro II foi realizada no primeiro semestre de 1886, quando a Catedral encontrava-se em fase adiantada de construção; compreendeu 28

Quando se acompanhou a abertura de valas para instalação de cabos de fibra óptica no entorno da Praça Tiradentes, em 2000, fragmentos de cerâmica de feitura tupi-guarani foram encontrados naquelas praticadas na rua do Rosário (Chmyz, 2003:72). Apesar da lenda mencionar a participação de índios na escolha do local para a locação do povoado que originou Curitiba, é mais plausível que este tenha surgido no próprio espaço por eles habitado, como ocorreu com vários núcleos fundados por ibéricos no Brasil. As vilas espanholas criadas no Paraná do século XVI, e a maioria das reduções fundadas pelos jesuítas no século seguinte, foram estabelecidas sobre aldeias tupi-guarani pré-existentes.

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vias de circulação, drenagem e paisagismo. A sua execução deveu-se ao esforço do engenheiro militar Manoel José Pereira Júnior, de seus comandados e de prisioneiros da Cadeia situada ao lado. Além das informações históricas sobre o fato, objetos ligados à indumentária militar foram encontrados junto àquelas estruturas durante as escavações. A Praça recebeu melhoramentos que possibilitavam o acesso de vários pontos da sua periferia a um espaço circular central, como uma praça em miniatura dentro da maior. Irradiando-se desse círculo para os lados e cantos, os passeios e as canaletas de drenagem a eles paralelas, davam ao local um desenho “estrelado”, jocosamente alcunhado de caranguejo pela população. Essa conotação foi deixando de existir à medida em que as árvores plantadas em alameda se desenvolviam, desviando a atenção das estruturas da superfície. Para a implantação das estruturas, o terreno que as acomodou foi nivelado e moldado no solo avermelhado, livre dos monturos depositados pela população. Os antigos aterros, porém, foram mantidos nas áreas destinados aos canteiros representados por oito espaços laterais mais elevados. O conjunto ficava, apesar disso, em nível mais baixo que o existente hoje. Os passeios, também em número de oito, eram pouco elevados e com lados em declive suave; mediam entre 3,70 e 4,00m de largura e apresentavam superfície revestida com pequenos blocos de rocha e seixos-rolados. Aos seus lados, estendiam-se canaletas rasas, de perfil côncavo, calçadas com pedras irregulares; mediam entre 0,90 e 1,00m de largura. Os canteiros por elas delimitados, de formato trapezoidal, tinham suas encostas protegidas por leivas. Os passeios e as canaletas convergiam, como já foi dito, para um círculo central. Este era contornado por uma canaleta igualmente calçada com pedras irregulares. O espaço interno do círculo deveria ser um pouco elevado, como os passeios. Não se apresentava assim durante as pesquisas devido aos impactos que sofreu posteriormente. A grande quantidade de pequenas pedras e seixos-rolados encontrada esparsamente nessa área, semelhantes às usadas para o revestimento dos passeios, indica que o círculo central era da mesma forma coberto. As canaletas laterais de drenagem comunicavam-se com a circular, dando vazão continuada a água das chuvas, mas os passeios que ao centro se dirigiam eram interrompidos por esta. É possível que o acesso dos transeuntes para o espaço central fosse através de pontes ou pontilhões de madeira. Desde o início dos trabalhos, percebeu-se uma diferença entre o formato, dimensões e natureza das rochas empregadas no calçamento da canaleta central e porções contíguas das que dela se irradiavam, em relação às que nestas, em continuidade, foram usadas. As primeiras davam às estruturas o aspecto de “pé-demoleque” e, as segundas, de “matacão”. Pensava-se que essas tipologias tivessem conotação cronológica, significando momentos diferentes de construção, como a obra planejada em 1860. Análises petrográficas e pesquisas documentais realizadas mais tarde, entretanto, esclareceram que ambas pertenciam ao mesmo projeto executivo, mas que as pedras utilizadas procediam de fontes diferenciadas. Os calçamentos em “pé-demoleque” centrais foram feitos com pedras resultantes da demolição das torres da Igreja Matriz e, as em “matacão” da periferia, selecionadas conforme as dimensões e formatos, foram retiradas das que integravam os alicerces da mesma Igreja. As análises revelaram também que as pedras das estruturas centrais foram originalmente trazidas das ruínas da Capela do Alto do São Francisco para a ereção das torres da Igreja Matriz, um acréscimo posterior à edificação do templo e que

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acelerou a sua ruína. As pedras que formavam as estruturas laterais da Praça, vieram de outras pedreiras para a construção da Matriz. 29 Apesar dos impactos que o espaço pesquisado sofreu, das estruturas implantadas em 1886, foi possível identificar e estudar o passeio ladeado por canaletas que se evidenciavam a noroeste, desde o limite interno da calçada da rua Cruz Machado, até a sua ligação com uma parte do círculo central e uma porção de outro passeio, também ladeado por canaletas; este conjunto partia do lado do círculo, inferindo a sua comunicação com a rua do Rosário, a oeste. Fragmentos de canaletas foram ainda registrados a leste e sudeste. Vestígios de outras canaletas e passeios, representados por rochas e seixos-rolados deslocados, foram percebidos em todos os trechos impactados do logradouro; mostravam-se com mais intensidade nas direções em que deveriam se estender os passeios e canaletas destruídos. Além dos raros textos que descrevem parcialmente o desenho implantado na Praça D. Pedro II no século XIX, para o seu entendimento em face ao que a arqueologia revelou, contou-se com a sua representação em duas plantas da época. Uma delas é a “Planta de Curityba. Capital do Estado do Paraná. Escala 1:10.000”, de 1894. A outra, menos precisa, é a “Planta de Curityba. Escala 1:20.000”, que figura em destaque no “Mappa do Estado do Paraná”, editado em 1896, durante o governo de José Pereira Santos Andrade (Chmyz, 2003:65). Ambas mostram a Praça urbanizada, com passeios irradiados de um espaço central circular. Na primeira, o logradouro tem formato retangular e, na segunda, de quadrilátero. Nas duas plantas, a rua José Bonifácio, desimpedida com a demolição da Igreja Matriz, comunica-se com a Praça ainda não mutilada pela extensão dessa via em direção à rua Monsenhor Celso. A planta de 1894 foi reproduzida em preto e branco por Alfredo Heisler (1929:63), na coletânea organizada em comemoração do centenário da imigração alemã nos estados do Paraná e Santa Catarina. Digitalizada e ampliada, a reprodução revelou importantes detalhes na malha urbana da Cidade, o que levou a procura da original que permitisse a obtenção de medidas das estruturas representadas na Praça Tiradentes. Em fevereiro de 2003, uma cópia xerográfica dessa planta foi fotografada no Arquivo Público do Paraná. 30 Desprovida de indicações quanto às dimensões do documento xerocopiado, porém, a escala numérica existente não poderia ser utilizada na análise. Após prolongada investigação, chegou-se ao Sr. Paulo José da Costa, da Loja de Cultura Fígaro, proprietário da planta cujo xérox foi fotografado no Arquivo Público. Esclareceu este que a planta em cores, por ele restaurada e emoldurada, foi furtada há uns três anos. Ao comentar a planta, que apresentava rasuras em boa parte do seu lado esquerdo e outra menor ao lado da quadra representada pela Praça Tiradentes, o Sr. Costa esclareceu que a sua largura equivalia ao de uma folha de papel no formato A4. Esclareceu ainda que, devido a rasura dificultar a leitura da data de

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A fonte das pedras, bem como de argila e madeira, utilizadas pela população antiga de Curitiba, situava-se ao norte, conforme o Ouvidor Pardinho (Prov. nº 36). Na planta de Taulois, pedreiras estão assinaladas na mesma direção, na margem esquerda de um afluente do ribeirão Belém. Hoje, esse local está em parte ocupado pela rua Inácio Lustosa. Delas, provavelmente, foram retiradas as pedras usadas para a construção da Capela do Alto do São Francisco. 30 Na ocasião, devido ao incremento das pesquisas no Setor Histórico, várias plantas e mapas de Curitiba e arredores foram fotografados no Arquivo Público do Paraná por Roseli S. Ceccon, entre as quais a planta mencionada.

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1894, escreveu-a no canto superior esquerdo, 31 acréscimo que se verifica em todas as cópias a que se teve acesso. 32 Com a informação recebida, a foto feita em 2003 foi ampliada para o formato indicado (Fig. 5). Antes de se tomarem as medidas nas estruturas representadas na Praça, a escala 1:10.000 foi testada em quadras próximas do logradouro, confrontando-se as medidas na planta de 1894 com as dimensões das mesmas quadras na atualidade. Encontrou-se correspondência com o lado norte da quadra situada na rua Cruz Machado, com esquinas na alameda Doutor Muricy e rua do Rosário e com o lado sul da quadra da rua XV de Novembro, entre as esquinas da avenida Marechal Floriano Peixoto e rua Monsenhor Celso, entre outras. Assim, em 1894, a Praça, já contornada por ruas, mediria 95m no lado norte, 90m no sul, 70m no oeste e 60m no leste. Englobando-se as ruas, as dimensões de 130x90m poderiam indicar, aproximadamente, àquelas estabelecidas originalmente para o logradouro. Para o historiador Ruy C. Wachowicz (1994:227), Gabriel de Lara teria reservado um espaço de 170x120m para a Praça. Entre as estruturas internas, o passeio situado desde o canto noroeste, estendia-se por 40m até o círculo central; o do lado oeste, por 30m até o círculo; o do sudoeste, 40m até o círculo; do sul, 15m até o círculo; do norte, 25m até o círculo e, do sudeste, 40m até o círculo. O passeio que partia do círculo central rumando para o leste, media 35m até o limite do logradouro, mas estendia-se até 50m, em direção à travessa Marumby (antigo beco do Inferno, atual travessa Tobias de Macedo). O círculo central forneceu a medida de 18m de diâmetro. É provável que o dimensionamento dado à foto da planta de 1894 para este ensaio não corresponda ao que deve apresentar o documento original, para o qual foi estabelecida a escala 1:10.000. Embora as medidas de algumas quadras delimitadas na planta correspondam às atuais, as estruturas expostas pelas escavações revelaram diferenças. As que foram evidenciadas desde o limite noroeste do logradouro até o círculo central, medem 55m de extensão, 15m mais que o comprimento aferido na planta. Deve-se frisar ainda que, na exposição desse conjunto, as estruturas constatadas no canto noroeste indicavam o seu prolongamento além desse limite, devendo o mesmo prosseguir sob os aterros, calçamentos e asfalto das ruas Cruz Machado e do Rosário, trecho que aparece ocupado pelo traçado dessas ruas na planta. As estruturas que, do círculo central dirigem-se para oeste, somente se mantinham íntegras nos primeiros 14m; projetando-as até aquele limite, ter-se-ia a medida de 45m, 15m mais que a interpretada na planta. Do círculo central, o arco preservado proporcionou o diâmetro de 20m, um pouco maior daquele aferido na planta. Confrontados os dados fornecidos pela pesquisa com os obtidos na planta, verifica-se que as medidas não são coincidentes ficando, os valores desta aquém dos daquela. Permanecem, porém, as referências do trabalho arqueológico para que novo exercício comparativo possa ser feito, uma vez encontrada a planta original. Outros espaços públicos da malha urbana de Curitiba na segunda metade do século XIX possuíam desenhos que se pareciam com o da Praça e que talvez o 31

Comunicação pessoal em 29 de junho de 2010. A imagem digitalizada dessa planta existe no Arquivo Público do Paraná. Na internet, em 25 de junho de 2010, a planta foi acessada no endereço: http://www.google.com.br//imgres?imgurl; nas duas fontes, as suas dimensões não são fornecidas. 32

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tinham inspirado, pois foram implantados antes. Estão também representados na planta de 1894 e correspondem ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula conhecido, na época, como “Cemitério Chatholico” e o Cemitério Protestante ou “Cemitério dos Allemães”, situados a noroeste e nordeste e iniciados em 1854 e 1857, respectivamente. No Cemitério Protestante, a planta mostra oito passeios partindo dos cantos e lados, convergindo para o seu centro. No Municipal, passeios começam nos cantos e em dois lados, também convergindo para o centro; outros dois estendem-se de forma diferenciada em relação ao anterior e à Praça, pois partem paralelamente dos lados nordeste e sudoeste, sendo interligados por curtos trajetos perpendiculares.

Figura 5. Planta de Curityba, de 1894 (Fonte: Paulo José da Costa – Arquivo Público do Paraná).

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O desenho que a Praça D. Pedro II apresentava, estampado nas plantas do século retrasado e, em parte, confirmado pelas pesquisas arqueológicas assemelhase, por sua vez, ao que foi adotado na Bandeira do próprio Município de Curitiba. O brasão da Cidade figura no local do círculo central do logradouro; os trapézios em verde equivalem à disposição dos seus canteiros; as linhas horizontais, paralelas e oblíquas em branco e, as vermelhas que as ladeiam, correspondem aos seus passeios e canaletas de drenagem nos mesmos sentidos (Figs. 6 e 7).

Figura 6. Detalhe da Praça D. Pedro II, Figura 7. Bandeira do Município de Curitiba, extraído da Planta de Curityba, de 1894. instituída pela Lei nº 2.993, de 11.5.1967.

A Bandeira de Curitiba foi oficializada por meio da Lei nº 2.993, em 11 de maio de 1967. No seu Artigo 6º, está disposto que: A Bandeira Municipal será oitavada, em cor verde, formando as oitavas figuras geométricas trapezoidais, constituídas por oito faixas brancas, dispostas duas a duas no sentido horizontal, vertical em banda e em barra, que partem de um retângulo branco central, onde é aplicado o brasão.

No parágrafo único, o Artigo é complementado: O brasão no centro da Bandeira simboliza o Governo Municipal e o retângulo no qual é aplicado representa a própria cidade sede do Município. As faixas simbolizam o Poder Municipal que se expande à todos os quadrantes do território e as oitavas (figuras geométricas trapezoidais) assim constituídas, representam as propriedades rurais existentes no território municipal. 33

Como foi acima mencionado, as perturbações causadas no solo da Praça durante o século XIX ocasionaram a transferência do acervo arqueológico nela depositado anteriormente. Assim, objetos relacionados aos usuários do espaço nos séculos XVII e XVIII e, provavelmente, também aos índios tupi-guarani responsáveis pela sustentação dada ao povoado nessa fase foram transportados, juntamente com a terra removida, para outros pontos da malha urbana em expansão. O clã de Baltazar Carrasco dos Reis localizava-se no lado leste da Praça, enquanto no oeste, instalou-se o de Mateus Martins Leme (Trevisan, 1996:41). As casas do entorno, erguidas por esses e outros formadores do núcleo, devem ter sido edificadas no mesmo nível do terreno reservado originalmente para o logradouro. Essas primitivas e precárias habitações foram, paulatinamente, substituídas por outras mais elaboradas, conforme o desenvolvimento econômico 33

http://www.curitiba.pr.gov.br/Cidade/cidade_simbolos.htm - acesso em 3.4.2008.

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local e as influências arquitetônicas introduzidas por imigrantes. Destas, restam algumas construídas no século XIX e no seguinte. Pesquisas realizadas em terrenos situados na rua Mateus Leme logo após a demolição de casarões edificados entre os séculos XIX e XX, constataram que o solo por eles ocupado mostrava-se perturbado apenas nos trechos atingidos pelas valas dos alicerces, permanecendo intacto nas áreas onde, acima, localizavam-se os cômodos assoalhados; nesses espaços preservados, escavações revelaram evidências arqueológicas referentes ao momento da construção e outras, abaixo, relativas a ocupações mais antigas. Estendidos para o espaço dos quintais, os trabalhos detectaram depressões profundas, preenchidas com refugos gerados pelos seus moradores, representando ricos repositórios para o estudo do passado. Um desses lixões, contendo peças do século XVIII, estava no limite da atual divisão territorial, indicando que a casa, na qual o refugo foi produzido, encontra-se hoje sob os casarões dos terrenos vizinhos. A construção do Cenáculo dos Adoradores atrás da Igreja da Ordem e do Centro Juvenil de Artes Plásticas nos terrenos citados, foi antecedida por escavações profundas, cuja terra retirada teria deslocado também o material arqueológico encerrado, caso não se tivesse efetuado previamente a pesquisa. Impactos irreversíveis certamente foram ocasionados aos vestígios da primitiva Curitiba durante a implantação do Edifício Nossa Senhora da Luz, aos lados da Catedral e da Praça, assim como da agência do Banco do Brasil, nas proximidades do canto sudoeste do logradouro. Mesmo nas reformas praticadas em casarões, como a recentemente realizada na rua Monsenhor Celso para a instalação do Liceu de Ofícios de Curitiba, o solo pode ser atingido pelas obras, afetando os vestígios arqueológicos nele existentes. Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos por este projeto não constataram túneis ou cemitério no espaço da Praça. A crença existente com relação a cemitério deve-se à exposição acidental de restos ósseos humanos nas imediações da Catedral, no final do século XIX e no seguinte. Como se procedia no Brasil até o surgimento dos cemitérios extramuros na segunda metade do século XIX, enterros foram efetuados no âmbito da Igreja Matriz de Curitiba desde o século anterior. Os impactos causados por obras diversas a esses remanescentes da Matriz demolida, foram noticiados no final do século XIX e início do XX. Os mais recentes, verificados em janeiro de 1999, embora não tenham sido atendidos por arqueólogo, possibilitaram a localização da ocorrência. Os esqueletos perturbados pela vala destinada à instalação de cabos de alta-tensão encontravam-se ao longo do calçadão da rua José Bonifácio, no lado oeste da Catedral. Na mesma ocasião, profunda e larga escavação procedida em frente à Catedral, revelou apenas espessa camada de aterro contendo fragmentos de cerâmica artesanal e de louças e vidros. A última exposição de restos ósseos humanos aponta para o espaço em que a Igreja Matriz teria sido edificada no século XVIII: a oeste da Catedral, no trecho contíguo da rua José Bonifácio, a qual, quando denominada beco ou rua Fechada, era interrompida pela parte posterior do templo demolido na segunda metade do século XIX. Na planta de Curitiba produzida por Taulois, entretanto, a Igreja Matriz está representada muito avançada no espaço nordeste da Praça, com seu canto sudeste situado quase em frente ao início da travessa Marumby; mostra, inclusive, um

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espaço vazio na sua parte posterior e, a rua Fechada desimpedida, contrariando a documentação histórica quanto ao seu bloqueio pelo templo (Fig. 8). Edilberto Trevisan (2000:30), chama atenção para o fato da planta de Taulois, em função dos estudos de urbanização que desenvolveu, não representar, em alguns detalhes, a real situação urbana de Curitiba na época, significando uma proposta de arruamento.

Figura 8. Planta de Curitiba elaborada por Pedro Toulois, em 1857 ou 1862 (Acervo: Casa da Memória de Curitiba – Apud Carollo, 1995:64).

Em recente estudo para reconstrução virtual da antiga Igreja Matriz de Curitiba, José Manoel Kozan e Iara Beduschi Kozan (2006:5), objetivando dimensioná-la e posicioná-la na Praça, recorreram à planta de Taulois e a outra, de autoria não esclarecida, que apresenta as datas de 1830 e 1850. Nesta, a Igreja Matriz está localizada quase bloqueando a rua Fechada, mas, também projetada para o sul, dentro do espaço do então Largo. Os restos ósseos humanos perturbados em 1999, como se comentou antes, foram expostos na rua José Bonifácio (= rua Fechada), entre a parte posterior do templo assinalado na segunda planta e a atual rua Saldanha Marinho. O que se expôs e recuperou na Praça, salvo algumas exceções refere-se, portanto, ao século XIX e seguintes. São os vestígios da sua primeira urbanização em 1886, evidências relacionadas aos trabalhadores que a implantaram e objetos depositados como aterro e lixo pela população do entorno e, ainda, remanescentes das revitalizações realizadas entre o final daquele século e primeiras décadas do seguinte.

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O acervo de peças corresponde, predominantemente, ao século XIX e informa sobre os padrões de vida material da população que o descartou, refletindo o nível de socialização e ostentação alcançado na segunda metade do período. As poucas peças relativas aos séculos anteriores de sua história, como alguns fragmentos de cerâmica artesanal, de louças faiança e porcelana e o balim de chumbo, podem ter sido introduzidas também com os refugos citados ou ter sido depositados anteriormente, escapando dos impactos do século XIX.

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ANEXO 1 Procedência das rochas nas Ruínas São Francisco e calçadas antigas da Praça Tiradentes em Curitiba* Antonio Liccardo (UFPR) Eleonora M. G. Vasconcellos (UFPR) Igor Chmyz (UFPR)

Investigações arqueológicas têm sido realizadas em Curitiba pelo CEPA – Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da UFPR e, entre as descobertas recentes, foram encontrados uma antiga calçada e outros indícios em material lítico nas escavações da Praça Tiradentes, local onde se originou o núcleo urbano. Documentos históricos citam a possibilidade das rochas utilizadas nas reformas da antiga Matriz terem sido retiradas dos arredores das Ruínas de São Francisco, além de citar uma certa escassez no fornecimento deste material. Análises petrográficas foram realizadas no Laboratório de Minerais e Rochas da UFPR - LAMIR em quatro amostras representativas das Ruínas e seis amostras retiradas das calçadas recémdescobertas pela equipe do CEPA. O objetivo é traçar possíveis fontes destas rochas, com base na análise petrológica e no levantamento de informações históricas, verificando a probabilidade de uma mesma fonte de fornecimento. Os resultados apontaram uma grande uniformidade composicional nas rochas das Ruínas, que são metagranitóides com porfiroclastos de quartzo e feldspato alcalino, matriz quartzo-feldspática e intenso fraturamento, com fase hidrotermal definida por veios de quartzo e epidoto em abundância, além da sericitização dos feldspatos. As quatro amostras são semelhantes, variando ligeiramente na granulação, mas sugerindo uma mesma pedreira-fonte. Das seis amostras obtidas das calçadas somente duas se mostraram semelhantes às rochas das Ruínas. As outras quatro foram identificadas como: diabásio, possivelmente proveniente dos inúmeros diques que cortam o substrato na região; um granulito com quartzo, microclínio pertitizado, oligoclásio, hornblenda e diopsídio com fases hidrotermais incipientes; um gnaisse com intercalação de bandas anfibolíticas e quartzo-feldspáticas com alguma sericitização incipiente; um metarcósio com quartzo estirado e orientado, feldspato alcalino, oligoclásio, sericita, hornblenda e allanita como acessório típico. Esta rocha apresenta fraturamento incipiente preenchido com hidróxido de ferro. Documentos do século XIX indicam o início da construção da Igreja de São Francisco de Paula (Ruínas) em torno de 1808, e citam “400 carradas de pedra” trazidas para a obra. Dentre estas “carradas”, uma parte teria sido aproveitada nas obras da Igreja Matriz e talvez pavimentação em torno. Com as análises pode-se concluir, preliminarmente, que nas Ruínas houve provavelmente uma única pedreira-fonte, enquanto que na Praça Tiradentes existem rochas diferentes que sugerem multiplicidade de fontes, inclusive uma parte da mesma fonte que as Ruínas. Um mapa de Curitiba de 1857 indica uma área conhecida como “pedreira” na margem do córrego hoje canalizado sob a rua Ignácio Lustosa. Esta pedreira, de dimensões pequenas pelos padrões atuais, estaria situada na colina a norte da atual rua Ignácio Lustosa, no trecho entre as ruas Trajano Reis e Mateus Leme, até a rua Barão de Antonina. Esta localização é compatível * Resumo e Painel apresentados ao 44º Congresso Brasileiro de Geologia, em São Paulo, em outubro de 2008.

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geologicamente com o tipo de rocha utilizado nas Ruínas. Até 1857 parece que esta região era a única fonte conhecida de rochas na cidade. Outra possibilidade é que as “carradas de pedras” tenham vindo da região em torno ao rio Barigui, que apesar de se localizar fora dos limites urbanos da época, era um local há muito habitado por mineradores de ouro, pelo chamado “Caminho do Campo Novo” que desembocava na colina São Francisco. Os metagranitóides alterados das Ruínas são semelhantes às rochas das vizinhanças das antigas extrações auríferas do Barigüi.

Descrição petrográfica - LAMIR Amostra AL-1 – calçada 1 METAARCÓSIO Rocha com 40% de quartzo estirado e orientado, 30% de feldspato alcalino, 15% de sericita, 10% de oligoclásio e 5% de hornblenda. Como mineral acessório allanita (típico em gnaisses do Complexo Atuba). Fraturamento incipiente preenchido por hidróxido de ferro. Imagem de lâmina delgada em microscópio petrográfico com nicóis cruzados.

Imagem de lâmina microscópio petrográfico cruzados.

Amostra AL-2 – calçada 2 - GRANULITO Quartzo – 30% Feldspato microclínio pertitizado – 35% Oligoclásio – 20% Hornblenda - 5% Diopsídio – 10% Acessórios – apatita e zircão. Secundariamente ocorrem epidoto e clorita. Foliação incipiente e fraturamento incipiente preenchido por delgada em epidoto. com nicóis Possivelmente Pilarzinho e S. Lourenço

Amostra AL-3 – calçada 3– METAGRANITÓIDE HIDROTERMALIZADO Porfiroclastos de quartzo (15%), feldspato alcalino (35%) e plagioclásio (5%). Matriz quartzo-feldspática fina a média, com 20% de quartazo, 15% de feldspato alcalino e 10% de sericita. As amostras variam de granulação média a grossa. Onde o hidrotermalismo foi mais intenso a granulação é mais fina com maior quantidade de epidoto e clorita. Fraturamento intenso e uma fase hidrotermal definida Imagem de lâmina delgada em em veios de epidoto, quartzo e sericitização dos microscópio petrográfico com nicóis feldspatos. Presença também de veios de clorita. cruzados.

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Amostra AL-4 - calçada 4 - GNAISSE Intercalação de bandas anfibolíticas e bandas quartzofeldspáticas. A rocha está cortada por veio de quartzo. Composição geral: hornblenda 25%, quartzo 20%, feldspato alcalino 35% com processo de sericitização, oligoclásio 10% e sericita 10%.

Imagem de lâmina delgada em microscópio petrográfico com nicóis cruzados.

Amostra AL-5 – calçada 5 - METAGRANITÓIDE Porfiroclastos de quartzo (20%), feldspato alcalino (30%) e plagioclásio (5%). Matriz quartzo-feldspática fina a média, com 20% de quartazo, 15% de feldspato alcalino e 10% de sericita. As amostras variam em sua granulação geral de média a grossa. Onde o hidrotermalismo foi mais intenso a granulação é mais fina com maior quantidade de epidoto e clorita. Fraturamento intenso e uma fase hidrotermal definida em Imagem de lâmina delgada em veios de epidoto, quartzo e sericitização dos feldspatos. microscópio petrográfico com nicóis Presença também de veios de clorita. cruzados.

Amostra AL-6 – calçada 6– DIABÁSIO Augita e fenocristais de andesina (10%) numa matriz fina de andesina (45%), augita (25%) e provavelmente magnetita (10%), sempre alterada para sericita. Augita às vezes se altera para clorita (10%). Presença subordinada de hornblenda.

Imagem de lâmina delgada em microscópio petrográfico com nicóis cruzados.

Nota: As amostras AL-3 e AL-5, retiradas dos calçamentos valados CE-EX4 e NE-EX6 respectivamente, são as que mostram similaridades com as existentes nas ruínas da Capela de São Francisco de Paula, no Alto do São Francisco e que podem ter sido retiradas da pedreira da rua Inácio Lustosa. Conforme a documentação já comentada no relatório, as torres da antiga Igreja Matriz foram erigidas com pedras retiradas das ruínas do primeiro templo. As demais amostras apresentam composições diferentes, apontando para pedreiras situadas em outros lugares. As amostras AL-1 e AL-2, procederam dos calçamentos valados evidenciados nos pontos NO-EX6 e NO-EX7, respectivamente. A amostra AL-4 foi retirada da Quadra I, Quadrante NE, aos 125cm de profundidade. Com outras, de grandes dimensões, formava um depósito no canto NE do corte. Podem representar as “pedras capote” dos alicerces da antiga Igreja Matriz, não utilizadas na construção da Basílica Menor. A amostra AL-6 pertence a uma grande laje retangular com faces e lados regulares, encontrada em terreno perturbado próximo à área de Exposição 14, no Quadrante SE. É possível que estivesse vinculada a algum monumento demolido.

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ANEXO 2 Estudo da variabilidade das louças e vidros da Praça Tiradentes, Curitiba* Jacquelin R. Tellez Clara L. Fritoli Luís C. P. Symanski Igor Chmyz Roseli S. Ceccon

A análise da louça encontrada na Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná, foi feita de duas maneiras: uma análise por níveis estratigráficos, com o material proveniente dos 6 cortes-estratigráficos do setor Noroeste (que revelou o calçamento antigo) e uma análise geral, com toda a louça coletada no local. A primeira análise ocupou-se em examinar todos os fragmentos de louças (faiança, faiança fina, porcelana, ironstone) e vidros coletados nos níveis controlados, após sua restauração. Em seguida, foram selecionados os fragmentos diagnósticos, a partir do NMP (Número mínimo de peças). O NMP é utilizado para determinar a quantidade mínima de peças presentes em uma amostra. Lima (1989:89), tratando exclusivamente do caso das louças, destaca as seguintes variáveis que devem ser consideradas para se efetuar uma quantificação por peças: características do relevo; espessura do caco, considerando-se sua posição na peça (bordas, base, fundos, etc.); tipo, tonalidade e concentração do pigmento utilizado; maior ou menor regularidade na distribuição de elementos decorativos; maior ou menor apuro na aplicação de decalques; tipo de glasura utilizada, etc. Para ser confiável, esta quantificação só deve ser realizada depois de esgotadas todas as possibilidades de restauração da amostra. O material analisado deriva dos cortes-estratigráficos que atingiram o nível máximo de 90 cm. Os níveis foram controlados através de estratigrafia artificial, de 15 em 15 cm de profundidade. Visando verificar o período de formação do depósito arqueológico a Fórmula para a Datação Média de Louças (Fórmula South) foi empregada à amostra. Para a aplicação da Fórmula South, a data média de fabricação de cada tipo de louça com intervalos de produção identificados deve ser estabelecida através do cálculo da média entre a data inicial e a data terminal de produção de cada tipo considerado. A seguir, o total de fragmentos de cada tipo deve ser multiplicado por sua respectiva data média. O resultado assim obtido é somado ao dos demais tipos que foram trabalhados. Este produto deve, por fim, ser dividido pelo total dos fragmentos considerados para o cálculo, obtendo-se, desta forma, a data média para a ocupação do sítio em questão (South, 1972). Dessa forma, a análise da louça coletada na Praça por níveis, permitiu se chegar às datas médias dos quatro níveis entre 90 e 30 centímetros de profundidade (Gráfico1: Datas Médias). Verificou-se, assim, um processo de sobreposição gradual do material na área da praça, entre o começo do século XIX (data média de 1824,75), representado pelo nível 75-90, e meados do século XIX (data média de 1858,5), representado pelo nível 45-60. O nível 30-45, por outro lado, apresentou uma datação média anterior ao nível subsequente, indicando um processo de revolvimento do depósito arqueológico a partir desta profundidade, que pode estar relacionado com a inserção de aterros e remodelagens desta área a partir do último quartel do século XIX. * Apresentado durante o 6º encontro da Sociedade de Arqueologia Brasileira – Regional Sul, em Tubarão, em outubro de 2008.

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Gráfico 1: Datas Médias.

1870 1860

1858,5

1850

1845,49 1840,46

1840 1830 1824,75

1820 1810 Nível 75-90

Nível 60-75

Nível 45-60

Nível 30-45

Visando estudar a variabilidade diacrônica da amostra de louças, esta foi dividida em dois períodos: primeira metade do século XIX e segunda metade daquele século. Essas duas divisões foram escolhidas, pois os níveis mais precisos foram aqueles onde o material coletado localizou-se a partir dos 45 cm até 90 cm. Vale ressaltar, que os níveis iniciais, até 45 cm, foram descartados dessa cronologia, pois desvirtuavam o padrão que vinha sendo apresentando de diacronia para as louças. A divisão foi baseada no período de produção dos diferentes tipos de louças identificados, com base nos seguintes atributos: pasta, decoração, cor, esmalte e padrão decorativo. Os tipos com intervalos de produção predominantemente inseridos na primeira metade do século XIX foram considerados como usados e descartados neste período, utilizando-se o mesmo procedimento para aqueles com intervalos de produção referentes à segunda metade do século XIX. Outro elemento que serviu de referência para exclusão dos níveis superficiais, até 45 cm, foi a frequência de louças faianças portuguesas. A faiança portuguesa, que se esperava encontrar somente nos níveis inferiores, por ter caído drasticamente em popularidade no início do século XIX, não se dispôs exclusivamente dessa forma. A faiança apresentou-se em fragmentos de louça e de azulejos, correspondendo a 48 fragmentos (1,23% do total geral). Esses fragmentos foram encontrados aleatoriamente na Praça. Alguns se concentraram na exposição das drenagens e calçamentos evidenciados (no quadrante noroeste, no máximo a 90 cm de profundidade), porém, a maioria dos fragmentos foi coletada em cortes, exposições e/ou raspagens sem controle de estratigrafia, e que, visualmente, conferiam área de aterro. Esses fragmentos de faiança quando coletados superficialmente, pela raspagem executada com a retroescavadeira em alguns setores ou nos níveis mais superficiais dos cortes-estratigráficos, evidenciam as consecutivas interferências na Praça, tanto em obras de terraplanagem (o que pode ter trazido a faiança dos níveis mais aprofundados para os superficiais) como aterro, vindo de outros locais ou ainda depositados pelos moradores do entorno do logradouro. Outra distribuição no material que permitiu que os níveis iniciais fossem desconsiderados na análise da data média é a presença de louças de fabricação mais antiga junto às louças de fabricação mais recente, apontando mais uma vez para as interferências e remodelagens na área, tanto de movimentação como

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deposição de solo na Praça. Os níveis mais superficiais apresentaram louças datadas para o século XIX, em meio a louças do século XX. Essa disposição no material não permite estabelecer a relação estratigráfica entre profundidade e antiguidade, vista nos demais níveis. Através do gráfico das datas médias e dos dois períodos de ocupação estabelecidos foi possível estudar a variabilidade diacrônica desta amostra, a qual indica mudanças nos padrões de comportamento da sociedade, refletidos na incorporação e uso/desuso de determinados itens de consumo. As mudanças nos padrões de comportamento são construídos em função de sua trajetória no tempo e no espaço, de forma histórica e processual. Essa diferenciação notável (dois períodos de ocupação), tende a aumentar ou melhor se delinear frente (ou juntamente) ao processo de urbanização. Tais padrões podem ser explicados a partir de um contexto mais amplo: Curitiba no século XIX.

%

Louças - frequência das formas 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0

Pratos Malgas Xícaras Pires Canecas Peças de servir Diversos 1ª metade XIX

2ª metade XIX

Tabela 1 - Frequência das Formas

As formas mais recorrentes nesses períodos quando comparadas demonstram uma maior sofisticação nos padrões de vida material, sobretudo relacionados com as práticas alimentares. Isso pode ser expresso pela diminuição da ocorrência das malgas, que sugerem a não necessidade de serem utilizados talheres. Em contrapartida, o aumento das xícaras e pires revela uma inovação no padrão de vida, atrelado ao consumo de chás, o que implica a particularidade da socialização e ostentação. Aqui, deixaremos essas duas características apontadas, pois, o fato de possuir um jogo (costumeiramente caro) de chá em porcelana, não exprime exclusivamente seu uso. Pois, pode estar muito mais em evidência a ostentação, através dos jogos de jantar e chá em porcelana deixados em exposição nas cristaleiras ou estantes, a seu uso ocasional apenas em cerimônias especiais. Essa análise permitiu verificar também que o consumo de bebidas quentes esteve em ênfase na segunda metade do século XIX, visto que as xícaras e pires aumentaram quase 10% neste período. Além do que, ao analisarmos a tabela de ocorrência da porcelana (Tabela 5), vemos um padrão “requintado” que quer ser transmitido ao se fazer uso dessa louça. A porcelana, costumeiramente, foi uma louça cara. Seu uso bem mais evidenciado em xícaras e pires demonstra mais uma vez que estava sendo ornado um padrão de comportamento de ostentação que se refletia na louça. Nesse sentido, verifica-se um gradual aumento na frequência das peças de porcelana através dos níveis arbitrários de 15 cm estabelecidos, indicando uma intensificação no uso dessas peças durante a segunda metade do século XIX.

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A Escala Econômica de Miller foi também aplicada às amostras em questão.1 Miller (1980) verificou que a variação nos preços das faianças finas, durante a maior parte do século XIX, era ocasionada pela maior ou menor complexidade da técnica de aplicação da decoração. Ao realizar pesquisas em listas de preços de fabricantes de Staffordshire para o período entre 1795 e 1855, ele constatou que as faianças finas podiam ser classificadas em níveis crescentes de preços de acordo com a complexidade da técnica de aplicação da decoração. Posteriormente, com base em novas fontes, o alcance de sua escala foi ampliada até o ano de 1880 (Miller, 1991). Miller dividiu as faianças finas nos seguintes grupos: Primeiro ou mais baixo nível: as louças brancas sem decoração. Segundo nível: louças decoradas de formas simples, que exigiam pouca perícia, tais como shell edged, spongeware e banded ware. Terceiro nível: louças pintadas à mão com motivos como flores, folhas, paisagens chinesas estilizadas e padrões geométricos. Quarto nível: as louças decoradas na técnica de decoração do transferprinting. Escala de Miller

%

60 50

Branca

40

Minimamente decorada

30

Decorada manualmente

20

Transfer-printed

10

Porcelana

0 Nível 75- Nível 60- Nível 45- Nível 3090 75 60 45

Tabela 2 - Aplicação da Escala de Miller

A aplicação da Escala de Miller às amostras dos diferentes níveis aponta para uma gradual diminuição da faiança fina branca entre o começo e meados do século XIX,2 à medida que aumenta a frequência das porcelanas. Já as louças decoradas na técnica do transfer-printed apresentam seu pico no nível 60-75 (data média de 1840,46), indicando uma maior popularidade de uso na primeira metade do século XIX, caindo logo a seguir. Tal variação pode estar relacionada com mudanças nas escolhas de consumo, com as louças em transfer printed caindo de moda durante a segunda metade do século XIX, à medida que as porcelanas tendem a aumentar. A segunda análise, com toda a louça que ocorreu, em sua maioria de forma esparsa pela Praça, mas principalmente nos locais onde houve escavação com a retroescavadeira, nos permitiu esboçar mais algumas interpretações. _________________ 1

A pesquisa em inventários da segunda metade do século XIX de donos de lojas de louças de Porto Alegre demonstrou que a técnica de aplicação da decoração manteve-se como o fator de peso na avaliação das faianças finas nesse período, constatando-se, assim, a validade do uso da escala de Miller para contextos brasileiros (ver Symanski, 1998:169-170). 2 Cabe lembrar que o nível 30-45 apresenta material misturado, devido a revolvimentos do solo e aterros, conforme já discutido, de modo que a amostra deste nível não apresenta validade cronológica.

113

%

Louças - tipos de pasta 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Faiança fina Ironstone Porcelana Outros

1

Tabela 3 - Tipos de pasta verificados

Assim, analisando as louças através da pasta, o gráfico esboça que, a faiança fina foi a categoria mais numerosa, cerca de quase 80% da coleção, seguida pela porcelana, com pouco mais de 10% para a amostra analisada. A porcelana, na coleta geral, verificada no arrolamento, correspondeu a um total de 4,62% da amostra geral da Praça, com 180 fragmentos. A categoria da faiança fina de maior ocorrência foi a de técnica transfer printed. E a ênfase estava nos jogos de jantar (pratos).

%

Transfer printed - variabilidade morfológica 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0

Pratos Malgas Xícaras Pires Canecas Peças de servir Diversos 1

Tabela 4 - Ocorrência da técnica transfer printed

A faiança fina e a porcelana são as duas categorias de louça que melhor permitem traçar relações entre os hábitos de consumo, o comportamento social e padrão econômico daqueles que, nesse caso particular, o entorno da Praça Tiradentes ocupavam. Percebe-se, nesse contexto, uma elaboração nos padrões econômicos com alteração nos hábitos de consumo. Ocorre assim, um maior investimento nos itens associados à alimentação, como reflexo, tem-se a sofisticação da esfera material. Na segunda metade do século XIX, quando confrontados inventários e fragmentos de louças de escavações realizadas no Setor Histórico de Curitiba, percebe-se uma sofisticação e diversificação na tralha doméstica (Chmyz-Coord., 2005:11), no que se entende pela adoção de um estilo de vida mais urbano e adoção de padrões cosmopolitas. Era a busca de uma formatação do estilo de vida urbano que se diferenciasse do estilo de vida rural.

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Porcelana - variabilidade morfológica 40 35

Pratos

30

Malgas

25

Xícaras

20

Pires

15

Canecas

10

Peças de servir Diversos

5 0 1

Tabela 5 - Ocorrência de porcelana

As análises das louças aqui expostas chegam às mesmas conclusões já expressas pelo arrolamento que se ocupou em discriminar a distribuição dos fragmentos resultantes dos quadrantes trabalhados. Porém, o que diferencia esse tipo de análise é que suas interpretações podem estender e qualificar o material coletado. Quanto aos vidros, a análise geral de todos os fragmentos encontrados na Praça, permitiu uma visualização desses, dividindo-os em duas categorias principais, utilitários e ornamentais. Os utilitários correspondem a garrafas de bebida, medicinais e de mesa. E os lúdicos, peças de jogo ou relacionadas a lazer. Dos fragmentos que foram possíveis de caracterização, 50% da amostra total (65 fragmentos), corresponderam a garrafas de bebida. Cerca de 20% correspondeu a fragmentos de uso medicinal, menos de 5% da amostra àqueles de uso em mesa (copos, taças...) e, pouco mais de 25% da amostra correspondeu a fragmentos diversos (fragmentos ornamentais, lúdicos - bolas de gude), perfumaria, além daqueles não possíveis de identificação). Vidros - variabilidade morfológica 60 50 Garrafas de bebida

%

40

Medicinais

30

Mesa

20

Diversos

10 0 1

Tabela 6 - Ocorrência de vidros

A louça é possível de ser encaixada em datas de início de fabricação, e término, bem como o momento de pico de produção e consumo, essa categoria muito se distancia de balizas temporais. Entre as garrafas de bebida é passível de consideração mencionar algumas. Alguns fragmentos são passíveis de identificação quanto ao molde de fabricação. Foi encontrada quase inteira (apenas faltando um pedaço do gargalo) uma garrafa cilíndrica molde Ricketts (molde de 3 peças), de cor

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preta, cujo período de fabricação vai de 1821 até 1870. As cores das garrafas também variaram: pretas, verde oliva, amarelo, âmbar, água marinha, verde-claro. Quanto aos fragmentos de uso medicinal, compreenderam frascos, confeccionados em painéis e cilíndricos, incolores, azul-cobalto, verde-água. Os vidros correspondem a uma categoria da cultura material muito pouco estudada. A ênfase excessiva se dá na tecnologia, visto que, é a que mais consta de registros. A tecnologia compete a análise morfológica e deveria cobrir a funcional. Porém, essa ênfase se dá em detrimento dos comportamentos que levam os indivíduos à sua utilização. Outra dificuldade brevemente mencionada está na datação do material, que só é possível de verificação, quando marcas são identificáveis, encontradas e datáveis. Espera-se que, esse primeiro esboço de análise possa ser expandido para o Setor Histórico de Curitiba, com análises mais minuciosas no material, em outros trabalhos de arqueologia realizados, a fim de que possam trazer inferências significativas para a ocupação e seus padrões de comportamento social, nas suas devidas contextualizações. Assim, mesmo que mínima, é possível uma reconstituição sobre os modos de vida e o cotidiano dos grupos que ocupavam a região central de Curitiba, através da louça coletada na Praça Tiradentes; um local de constante transformação e importância histórica para a cidade.

Referências CHMYZ, Igor – Coord. Relatório do projeto de salvamento arqueológico no espaço do Centro Juvenil de Artes Plásticas, Curitiba – Paraná. Curitiba: CEPA/UFPR. 2005; LIMA, Tânia A. et al. Aplicação da Formula South a Sítios Históricos do Século XIX. Dédalo. São Paulo, v. 27, p. 83-97. 1989; MILLER, George. Classification and Economic Scaling of 19 th. Century Ceramics. Historical Archaeology, v. 14, p. 1-40. 1980; _________ A revised set of cc index values for classification and economic scaling of English ceramics from 1787 to 1880. Historical Archaeology, v. 25, n. 1, p. 1-25. 1991; SOUTH, Stanley. Evolution and Horizon as Revelead in Ceramic Analysis in Historical Archaeology. The Conference on Historical Site Archaeology Papers. Institute of Archaeology and Anthropology, University South Carolina. Columbia, v. 6, p. 71-116. 1972; SYMANSKI, Luís C. P. Espaço privado e vida material em Porto Alegre no século XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 276p. 1998.

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ANEXO 3 Implantação de mostra museológica na Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná Igor Chmyz Introdução A constatação de remanescentes da primeira urbanização da Praça Tiradentes, durante pesquisas de salvamento arqueológico realizadas em 2008 junto às obras de revitalização desse espaço público situado em pleno Setor Histórico de Curitiba, possibilitou a estruturação de exposições à céu aberto e a sua inclusão nas obras de reforma, embora originalmente não estivessem contempladas no seu projeto e orçamento. Significou, este feito, um passo a mais nas atividades do arqueólogo, que consistem na pesquisa e consequente obtenção de dados, na análise e interpretação do acervo reunido e, na divulgação dos resultados; em alguns casos, ainda, dessas atividades podem resultar exposições em recinto interno de museus oficiais ou naqueles criados em espaços das promotoras de obras e financiadoras de pesquisas. Assim, para exemplificar, museus foram fundados pela Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, e pela Companhia Energética de Minas Gerais, em Nova Ponte, para acomodar e expor o acervo arqueológico recuperado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – CEPA/UFPR- nas áreas das hidrelétricas que construíram nos vales dos rios Paraná, Araguari e Quebra Anzol. Exposições arqueológicas a céu aberto inseridas no cotidiano da população, como as concretizadas no espaço da Praça Tiradentes, já haviam sido pensadas nas décadas de 1980 e 1990 pelo CEPA/UFPR. Em 1988, um projeto de reconstrução de aldeia indígena, baseado em dados arqueológicos e etno-históricos, foi iniciado em Guaíra, ao lado do reservatório da UHE Itaipu, em terreno da entidade binacional. Uma das cinco bases de habitações que compunham a antiga aldeia tupi-guarani chegou a ser escavada para tal fim. Outros museus a céu aberto foram projetados na área das ruínas da redução jesuítica de Santo Inácio Mini, no município paranaense de Santo Inácio, e de reconstrução de habitação indígena Jê na Reserva Ecológica do Hotel Renar, no município catarinense de Fraiburgo; nenhuma dessas iniciativas prosperou. As pesquisas arqueológicas desenvolvidas na Praça Tiradentes, assim como os trabalhos de implantação das exposições consequentes, repercutiram vivamente na mídia e na população em geral, um reflexo condizente com a importância e o significado de um logradouro delimitado há cerca de 350 anos no coração da Cidade. Além do que foi noticiado por radioemissoras locais e de outros estados e por redes de televisão, o desenrolar dos trabalhos gerou matérias em periódicos da Capital mantendo-se, desta forma, inteirada a população. Entre as manchetes colecionadas de alguns periódicos, com referência às pesquisas arqueológicas, percebeu-se que a ênfase foi dada à descoberta dos vestígios da primeira urbanização da Praça: “Centro de Curitiba ganha cara nova”, “Equipe da UFPR explora sítio arqueológico na Praça Tiradentes”, “Tiradentes vira

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sítio arqueológico”, “Caminho reencontrado debaixo da Praça Tiradentes”, “A história de Curitiba revelada em uma antiga calçada”, “Calçadas antigas ficarão expostas”, “Escavações na Praça Tiradentes revelam cotidiano de Curitiba entre os séculos XVIII e XIX”, “Arqueólogos encontram na Praça Tiradentes ruas dos séculos 18 e 19”, “Praça Tiradentes pronta para a inauguração”, “Tiradentes reabre e vira exposição permanente” e “Na esquina da Tiradentes”. Cid Destefani, responsável pela coluna “Nostalgia” na Gazeta do Povo, abordou as pesquisas em cinco edições, entre janeiro e agosto de 2008, tecendo comentários e emitindo opiniões sobre os calçamentos antigos da Praça. Para o periódico “Panorama do Turismo” (Curitiba, n. 41, p. 7, setembro de 2008), com a implantação das exposições, a Praça Tiradentes integra-se ao roteiro turístico como atração arqueológica.

Constatação das estruturas No início dos trabalhos, enquanto operários com máquinas retiravam a capa asfáltica existente nos acessos da Praça Tiradentes, cortes-estratigráficos eram praticados por arqueólogos e estagiários nos canteiros situados aos lados. Durante a perfuração do solo, para a constatação das estacas de sustentação dos pisos de concreto da nova circulação do logradouro, atividade acompanhada por membro da equipe de pesquisa, foram constatadas evidências arqueológicas misturadas com solo repleto de caliça e pequenos blocos de rocha intemperizadas, os primeiros indícios das estruturas antigas. Quando a retroescavadeira foi acionada para a retirada do embasamento da capa asfáltica na Linha 2 do Quadrante Noroeste, uma porção do solo com aterro foi atingida, expondo diversos blocos de rocha. Paralisada a operação, o local passou a ser atendido pela equipe de arqueologia. Removidos os sedimentos naquele ponto, ficou evidenciada uma estrutura formada por pedras irregulares que tinha continuidade para o noroeste. Essa estrutura passou a ser exposta nos dias seguintes. Cortesexperimentais e cortes-estratigráficos praticados nos arredores imediatos detectaram outras estruturas dispostas paralelamente àquela. O conjunto foi escavado até o limite noroeste da Praça, o qual, conforme o perfil observado nesse ponto, prosseguia no mesmo sentido, sob a calçada e aterros da rua Cruz Machado. Em alguns trechos ocupados pelo canteiro, a estrutura sul não pôde ser evidenciada continuamente devido à existência de árvores com grossas raízes. No sentido oposto, em direção ao centro da Praça, o acompanhamento dos vestígios também foi dificultado por raízes e, principalmente, porque haviam sido destruídos. As porções expostas, porém, correspondiam aos trajetos das anteriores. Direcionando-se de noroeste para sudeste, as estruturas ligavam-se a outra em curva, situada um pouco a leste do atual centro do logradouro. Esta, que se encontrava muito perturbada por canais de drenagem e outras obras, foi exposta até os limites de sua ocorrência. Vestígios de outra, também curva, foram identificados a leste da anterior, indicando que correspondiam a segmentos de. No lado oeste da primeira estrutura curva partiam outras, com as mesmas características das expostas no Quadrante Noroeste; estendiam-se para o oeste, em direção à rua do Rosário. As escavações nesse ponto foram obstaculizadas pela existência de um pinheiro, que marca o atual centro da Praça, figueiras e por

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canalizações. Em seguida aos obstáculos representados pelas figueiras, os cortesexperimentais praticados no trecho oeste em que se orientavam os vestígios, revelaram a sua destruição. Destruídas também estavam as estruturas que se irradiavam da circular em direção ao sudoeste; delas foram encontradas pequenas porções. Blocos de rocha como as que constituíam as evidências escavadas, foram percebidas esparsamente em todo o espaço do logradouro, mostrando-se em maior quantidade nos sentidos em que deveriam se estender as destruídas. As estruturas escavadas no extremo noroeste encontravam-se a cerca de 1m de profundidade em relação à superfície atual da Praça; nas porções centrais, a sua profundidade reduzia-se a 0,20m.

Sobre a planta da Praça Tiradentes antes da revitalização de 2008, estão assinalados os setores estabelecidos para ordenar a pesquisa e os pontos em que estruturas antigas e material arqueológico foram detectados.

Pesquisas documentais realizadas posteriormente, esclareceram que as estruturas identificadas pelas escavações foram executadas durante o primeiro semestre de 1886, embora houvesse um projeto de construção de acessos calçados de 1860, que não foi concretizado. Conforme a documentação consultada, ainda, a urbanização de 1886 consistiu na implantação de um espaço circular central, do qual se irradiavam passeios em direção aos cantos e lados do logradouro. O círculo e os passeios eram ladeados por canaletas de drenagem calçadas com pedras.

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As pesquisas de campo, tendo identificado trechos dos passeios e canaletas, confirmaram as informações históricas, mas, complementando-as, forneceram detalhes de sua realização. Para a implantação do projeto, a Praça, que apresentava irregularidades em consequência de empréstimos de terra, cujas depressões encontravam-se preenchidas com restos de demolições, foi nivelada e moldada nos trechos em que se estenderiam os passeios e canaletas de drenagem; estes foram assentados diretamente no solo avermelhado da formação geológica Guabirotuba. Os passeios, com cerca de 4m de largura, estendiam-se um pouco elevados, com flancos em leve declive para as canaletas laterais; foram revestidos com pequenos blocos de rocha e seixos-rolados. As canaletas de drenagem, de perfil côncavo e com 1m de largura, foram calçadas com pedras irregulares. As utilizadas nas estruturas mais centrais, apresentavam dimensões e constituição petrográfica diferenciadas em relação às que integravam as periféricas, conferindo aspecto de “pé-de-moleque” às primeiras e, de “matacão”, às segundas. As diferenças tipológicas relacionavam-se às fontes das rochas: as centrais, vieram das que formavam as torres da Igreja Matriz demolida para a construção da Catedral, ao lado, as quais, por sua vez, provieram das ruínas da Capela de São Francisco de Paula e, na origem, das pedreiras históricas da rua Inácio Lustosa. As da periferia, procederam dos alicerces da referida Matriz, cujas jazidas fornecedoras talvez se situassem nas proximidades do rio Barigui. Aterradas no final do século XIX, as estruturas referentes à primeira urbanização do local passaram a sofrer impactos causados pela abertura de ruas, implantação de monumentos e revitalizações que se sucederam.

Preparação das estruturas para exposição Para as exposições, foram selecionados dois pontos que apresentavam trechos representativos do sistema de circulação e drenagem implantado no século XIX e que proporcionassem, aos transeuntes e visitantes, uma visão da tecnologia então empregada. Um deles localizou-se no Quadrante Noroeste, coincidindo, em grande parte, com o acesso do novo desenho da Praça. Compreendeu um segmento do passeio e das canaletas em “matacão”; uma destas foi exposta em recorte no canteiro. As estruturas nesse ponto encontravam-se bem conservadas, exigindo apenas o ajustamento de alguns blocos e rocha deslocados por raízes antigas. A limpeza das superfícies das estruturas e do entorno imediato, que já havia sido executada quando se realizavam as pesquisas, teve que ser renovada devido ao carreamento de sedimentos pelas chuvas. O ponto selecionado para exposição em área maior, coincidiu com o atual centro da Praça. Nele ficariam visíveis um trecho do passeio e das canaletas laterais, assim como de uma porção da canaleta curva, que delimitava o centro do logradouro no século XIX, ao qual se ligavam as anteriores. Essas estruturas ladeiam o canteiro que suporta grande pinheiro. Para a preparação desse ponto, as dificuldades foram maiores. As estruturas, por se encontrarem a pequena profundidade, mostravam-se bastante danificadas por obras posteriores, especialmente por uma canalização que atingiu a lateral da canaleta norte do conjunto. As grandes e alongadas pedras que cobriam a drenagem mais recente foram retiradas do espaço delimitado para a exposição e,

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após o preenchimento do canal, foi restaurada a lateral da canaleta antiga por aquela danificada. Para esse trabalho coletou-se, entre os blocos das estruturas destruídas nas imediações, os que estavam em concordância com a tipologia em “pé-de-moleque” da existente. O passeio ladeado pelas canalizações antigas, igualmente danificado por duas drenagens posteriores foi, também, restaurado com pequenos blocos de rocha e seixos-rolados recolhidos nos arredores. Da mesma forma, foram reconstituídos trechos danificados da canaleta curva. As raízes do pinheiro, que ficaram parcialmente expostas penetrando as estruturas nos lados do canteiro murado, foram mantidas; antes da delimitação do espaço do canteiro que seria murado para proteção da árvore, um botânico foi consultado. Mais problemática foi a restauração do trecho do antigo círculo central abrangido pela exposição. Nesse ponto, no início do século XX, foi erigido o monumento dedicado ao marechal Floriano Peixoto, tendo causado, a sua fundação, significativos danos às estruturas mais antigas; os danos tiveram continuidade, com a posterior remoção do monumento e o plantio das exóticas figueiras que desenvolveram grossas e extensas raízes. A ocorrência, nesse espaço, de pequenos blocos de rocha e seixos-rolados, inferia que com eles era revestido internamente o círculo central. As laterais externas das canaletas paralelas ao passeio, que delimitavam os canteiros de outrora, haviam sido escavadas por meio de decapagem, método rotulado como “exposição” no relatório que antecede este anexo; tal método possibilitou a percepção, nesse ponto, e também no trecho do Quadrante Noroeste, do piso da época em que as estruturas estiveram em uso. Dessa metodologia resultou, ainda no primeiro ponto, a localização de acampamento dos trabalhadores da obra de 1886. Além das dificuldades enfrentadas para a preparação da exposição central, igualmente trabalhosas foram as repetidas limpezas do conjunto já pronto; situado na parte baixa da Praça, para ele fluía a água das chuvas transportando sedimentos argilosos. Os que se depositaram com a última enxurrada, nas vésperas da cobertura do espaço com vidros, tiveram de ser removidos simultaneamente aos trabalhos de montagem da estrutura metálica, fiação elétrica e colocação da cobertura protetora. Na preparação dos trechos para as exposições atuaram a equipe de arqueologia e os funcionários ligados ao Departamento de Parques e Praças da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, postos à sua disposição.

Início da limpeza das estruturas centrais cobertas Em meio às obras, prosseguiram os trabalhos de remoção dos sedimentos corredor pela enxurrada. pela última enxurrada.

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Restauração das estruturas, após a retirada dos Limpeza final das estruturas da rampa NO já sedimentos depositados por enxurrada. delimitadas pela câmara de exposição.

Colocação dos vidros na exposição da rampa Inauguração das obras de revitalização da Praça noroeste. Tiradentes, em 27 de julho de 2008.

Implantação das exposições Como já foi mencionado, a decisão de se implantar as exposições arqueológicas na Praça Tiradentes, tomada em conjunto pelos técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e pela equipe de arqueologia, ocasionou alterações no projeto original de revitalização e no orçamento previsto para a sua execução. Conforme os dados fornecidos por aquela Secretaria, a área envidraçada na rampa lateral do Quadrante Noroeste compreendeu 18,06m²; a central, totalizou 118,84m². O projeto estrutural foi desenvolvido pelo Engenheiro Civil Duso Ogrizek, da Ielco Estruturas Metálicas. Para essa obra, foram empregadas barras com perfil em I, de 100x150x4,9mm, que receberam pintura em epóxi de cor branca. Para a cobertura, foram utilizadas placas de vidro laminado, com 22mm de espessura e resistência de 300K/m². Um sistema de vedação e amortecimento foi aplicado entre a estrutura metálica e as placas de vidro. Nas câmaras de exposição foi implantado um conjunto de ventilação forçada para circulação de ar e redução da condensação nas placas de vidro. Para a iluminação interna foram utilizadas calhas reflexivas e lâmpadas fluorescentes; os sistemas de ventilação e iluminação são acionados por meio de temporizador.

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O acesso às câmaras de exposição, para serviços de manutenção, é lateral, em forma de alçapão em chapa de aço. As placas de vidro foram revestidas com película de proteção anti-vandalismo incolor e transparente, pois se planejara que os visitantes sobre elas transitasse; a possibilidade de que esse piso ocasionasse quedas quando molhado, porém, levou ao seu isolamento com a instalação de guarda-corpo em aço inox. Painéis verticais em acrílico, com informações sobre as estruturas expostas, foram postadas externamente, aos seus lados.

Projeto de revitalização da Praça Tiradentes incluindo as exposições arqueológicas (Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba).

A revitalização da Praça Tiradentes, inaugurada em 27 de julho de 2008, foi planejada pela seguinte equipe de técnicos:1 Secretaria Municipal do Meio Ambiente: Paulinho Dalmaz – Superintendente de Obras e Serviços Sergio Galante Tocchio – Diretor de Parques e Praças Denise Mitiko Murata – Chefe do Departamento de Parques e Praças Marcio Barcellar Esmanhotto– Gerente de Implantação de Obras Projeto Arquitetônico: Loreley Motter Kikuti – Arquiteta Fiscalização da Obra: Tiago Gonçales Quadros – Engenheiro Civil Colaboradores: Eliane Simas – Arquivo e Documentação _____________________ 1

Relação e competências fornecidas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

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Eluir Cezar Osieki – Técnico Iuri Haiakawa – Arquiteta Laressa Chornobay – Arquiteta Loreley Motter Kikuti – Arquiteta Luis Haiakawa – Arquiteto Maria Lucia Rodrigues – Arquiteta Oscar Yoshimitsu Takahashi – Engenheiro Civil Reinaldo Pilotto – Engenheiro Civil Ricardo Cunha Pinto – Engenheiro Civil Renato Antonio Nicolau dos Santos – Engenheiro Civil Tarquino Mota – Arquiteto Toshio Tamura – Engenheiro Civil

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