Relatório final iniciação científica edital 2014-15

June 7, 2017 | Autor: Jean Carvalho | Categoria: Late Antiquity, Tetrarchy, Antiguidade Tardia, Panegírico, Panegyrics
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENADORIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E INTEGRAÇÃO ACADÊMICA PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO

JEAN CARLOS FREITAS DE CARVALHO

RELATÓRIO FINAL

INICIAÇÃO CIENTÍFICA: PIBIC CNPq ( X), PIBIC CNPq Ações Afirmativas ( ), PIBIC UFPR TN ( ), PIBIC Fundação Araucária ( ), PIBIC Voluntária ( ), PIBIC Ações Afirmativas Voluntária ( ) ou PIBIC EM.

Edital 2014-2015

“A unidade política ameaçada: a Britania romana e a regionalização dos poderes políticos na Antiguidade Tardia segundo os panegíricos latinos de finais do século III (289 – 297)”

Relatório apresentado à Coordenadoria de Iniciação Científica e Integração Acadêmica da Universidade Federal do Paraná por ocasião da conclusão das atividades de Iniciação Científica ou Iniciação em desenvolvimento tecnológico e Inovação - Edital 2014/2015

Prof. Dr. Renan Frighetto – Departamento de História PROJETO: AS GENTES GOTHICAE E AS RELAÇÕES DE PODER NO REINO HISPANOVISIGODO DE TOLEDO (SÉCULOS VI – VII). BANPESQ/THALES: 2014015625

CURITIBA 2015

Título:

A unidade política ameaçada: a Britania romana e a regionalização dos poderes políticos na Antiguidade Tardia segundo os panegíricos latinos de finais do século III (289 – 297)

Resumo: O presente estudo se propõe a comparar os panegíricos dedicados à Maximiano (289 e 291) e Constâncio Cloro (297), bem como o contexto em que estas últimas são produzidas. Procura apontar ainda, as bases do reconhecimento e legitimidade imperial, uma vez que a crise do século III, também conhecida como Anarquia Militar só termina, grosso modo, com a ascensão de Diocleciano ao poder em 284 e a implantação do sistema político-administrativo da tetrarquia. Destaca também, a influência da província da Britânia no âmbito imperial, bem como a repercussão das usurpações ocorridas em seu território, com destaque àquela perpetrada por Caurasio, autoproclamado Imperator da Britania e do norte da Gália. Tolerado, porém não reconhecido pelo Imperadores legítimos Diocleciano - Augusto Senior vinculado ao deus Júpiter e governante da parte oriental do império - e Maximiano - Augusto responsável pela porção ocidental do império e cuja imagem se vincula a Hercules, semideus hierarquicamente inferior a Júpiter. Portanto, os objetivos desta pesquisa são, através da análise dos panegíricos, esboçar o contexto político, econômico e militar da Britânia Romana após os eventos conhecidos pela historiografia como ANARQUIA MILITAR pela ótica da Antiguidade Tardia; verificar e problematizar a questão da legitimidade Imperial através da comparação entre os imperadores “legítimos” e os usurpadores.

Introdução:

O século III d.C. é de vital importância para o estudo do Império Romano, pois neste período profundas transformações de caráter político, econômico, religioso e social podem ser verificadas, resultando em desdobramentos posteriores que afetariam de maneira significativa toda a estrutura na qual se baseava o império até então. A Antiguidade Tardia é conceito historiográfico datado da primeira metade do século XX, e compreende o período de transformações ocorridas após o século III, com suas transformações sociais, políticas, econômicas, e a Idade Média, com instituições distintas e aparentemente novas. Conhecido como “o declínio do Império Romano do Ocidente”, pela ótica da Antiguidade Tardia, estas mudanças ganham um novo significado. Nesse sentido, entende-se que não houve uma substituição das instituições romanas por seus equivalentes bárbaros, e sim, transformações e adaptações desses elementos. Estas alterações foram motivadas pelo choque entre os antigos valores pagãos-helenísticos e os novos conceitos propostos pelo, cada vez mais, atuante cristianismo. O resultado é a sua alteração desses elementos clássicos, calcada pelas ideologias cristãs e neoplatônicas, onde surgem como uma nova roupagem. Mais precisamente, entre os anos 235 e 284 d.C, é possível verificar uma grande alternância de imperadores, geralmente por curtos períodos, e em sua maioria, provenientes da esfera militar. Em outras palavras, este intervalo de tempo é marcado pela aclamatio, ou seja, a escolha por parte das tropas legionárias do sucessor imperial. A carreira militar é, no início do século III, praticamente a única maneira de ascensão social, e é através dela que Maximino Trácio chega à condição de imperador em 235, onde permanece até 238. A partir daí tem início, a grosso modo, o período conhecido pela historiografia como “Anarquia Militar” ou “Crise do Terceiro Século”. A aclamatio não era suficientemente forte para consolidar a posição de Maximiano, havia ainda a necessidade do reconhecimento por parte do corpo senatorial, pois sem ele sua situação política era frágil. Ciente disso, toma uma atitude incomum em relação a outros usurpadores, ao invés de se voltar para Roma e pressionar o senado para que o reconhecesse como sucessor legítimo, se mantém no limes em campanha contra os germanos. Provavelmente, esta decisão se deu graças a influência que a dinastia dos Severos ainda exercia no âmbito senatorial. Buscando equilibrar seu apoio, Maximiano opta por fortalecer suas bases de apoio, as espadas legionárias. A principal medida tomada por Maximiano é dobrar os soldos das legiões. Esta medida tem duas consequências diretas: a primeira é aumentar as taxas impostas, o que relaciona-se diretamente com a queda na popularidade de Maximiano, e em segundo lugar, fortalecer o papel que cabia até então às legiões na escolha do sucessor à púrpura. Além dos fatores internos, o Império também sofria fortes pressões externas. A combinação formada pelos persas ao leste e os germanos, sobretudo góticos, ao norte, afetou significativamente um império, que até pouco tempo, estava acostumado com a paz. Ainda que Septímio Severo, pouco antes, tenha aumenta o tamanho do exército e criado uma política que incentivava soldados de carreira a se tornarem oficiais sênior (ou seja, procurando manter nas fileiras legionárias

indivíduos com experiência e habilidades bélicas), o exército romano ainda era pequeno ante a demanda criada. As duas forças invasoras, vastas e bem organizadas, atacando a partir de dois polSoma-se a isso, as dificuldades fiscais. As guerras contínuas são caras e exigem maiores impostos, agravando ainda mais a crise. É nesse cenário que as forças militares se veem fortalecidas e no direito de decidir quem é digno ou não, de assumir o cargo máximo do império e pôr fim à crise. Com dificuldades cada vez maiores de manter as fronteiras, as diversas tropas espalhadas pelo território elegem o general que creem ser capaz de resolver os problemas internos e externos. É o período dos “imperadores soldados”, caracterizado por imperadores essencialmente militares. A sua legitimidade está baseada unicamente em seu poderio militar e vitórias, um general que falha em campanha é desafiado por seus próprios tenentes. Os mesmos soldados que os haviam elevado à condição imperial seriam os responsáveis pelas suas mortes. Segundo Gonçalves (GONÇALVES, 2006,): Assim, no período da chamada “Anarquia Militar”, o Império Romano enfrentou problemas de diversas ordens. A crise política se expressava pela intervenção constante das legiões de fronteira, pelas lutas civis e pela impossibilidade de se organizar novas dinastias no poder, visto que não se conseguiu implementar uma política sucessória coerente. Um imperador legítimo nada mais era que um usurpador vitorioso. [...] Também se percebia uma crise econômica, refletida nos gastos com o exército, com a corte e com a burocracia que crescia com a ausência do imperador de Roma, empenhado em estar nas várias frentes de batalha nas fronteiras”

Este período conturbado é marcado pelos governos curtos e repentinos de líderes militares, cuja duração estava diretamente ligada às vitórias em campanha, contra os invasores ou contra um outro general igualmente eleito por suas tropas. A situação só sofreria alterações após a ascensão de Diocleciano em 284. Nascido na província da Dalmácia, Diocleciano entra para as fileiras militares durante o poder de Marco Aurélio Caro, se tornando oficial de alta patente. Procurando concretizar uma linha sucessória, Caro leva somente um de seus filhos em campanha, Numeriano. Ao primogênito Carino, coube a importante tarefa de permanecer em Roma e cuidar da administração imperial, sendo nomeado augusto, ou seja, legitimado e pretenso sucessor de seu pai, em 283. Após a morte de Carus ainda em 283, enquanto liderava uma praticamente vitoriosa campanha contra os persas sassânidas, Numeriano assume o comando de suas tropas sem maiores problemas, pois conforme dito anteriormente, neste contexto a legitimidade está diretamente ligada aos êxitos militares. A campanha é concluída vitoriosamente em 284, e Numeriano se põe a caminho de Roma, entretanto, não chega ao seu destino. É morto por seu prefeito do pretório Aper. As tropas não reconhecem o augusto em Roma como sucessor de Caros, proclamando como imperador, o oficial Diocles, mais tarde conhecido como Diocleciano, que declarando-se o responsável por trazer justiça ao assassinato de Numeriano, executa Aper.

Nesse meio tempo, Carino estava ocupado com outro usurpador, Marco Aurélio Sabino Juliano, general e governador da província da Panônia. Chega a emitir moeda na qual se intitula Pannoniae Augusti, ou seja, augusto (imperador) da Panônia. Após derrotar mais este usurpador, e assimilar suas tropas, Carino vai em direção a Diocleciano.

As duas forças opositoras se

encontram em Margum, próximo ao Danúbio. Durante a batalha, Carino é assassinado por um de seus oficiais, pondo fim às hostilidades. As tropas do Imperador morto são unidas às de Diocleciano, e uma intensa campanha propagandística é criada com o intuito de desmoralizar Carino. Esta atitude de Diocleciano pode ser explicada uma vez que até aquele momento, o imperador legítimo era Carino, proclamado augusto por seu pai antes de morrer, dessa forma, buscava minar a legitimidade além de fortalecer a sua posição, não havendo indivíduos politicamente fortes para desafiar a sua pretensão ao poder imperial. Cabe lembrar, que todos estes fatos se deram entre a morte de Carus em 283, e o fim da disputa entre Diocleciano e Carino, em 285. Em outras palavras, em dois anos, inúmeros líderes aspiraram e ocuparam o poder imperial. A condição de usurpador ou de imperador legítimo era facilmente invertida, dependendo meramente do ponto de vista adotado. Diocleciano se mantém no poder por duas décadas. O fato de conseguir se perpetuar por tanto tempo como imperador deve-se ao empreendimento de profunda reestruturação econômica, política e militar. Uma das primeiras mudanças significativas é a indicação de Maximiano, experiente chefe militar que também servira no exército de Carus, como seu césar em julho de 285. As guerras constantes nos anos anteriores haviam contribuído para aumentar a insatisfação da população devido às taxas e impostos cada vez mais pesados. Os Bagaudae nos territórios da Gália, por se tratar de territórios nos quais a presença romana era relativamente menor, são um reflexo desse descontentamento. Os Bagaudas, como ficaram conhecidos, foram grupos heterogêneos formados camponeses, sendo a questão fiscal a maior motivação de sua revolta, Uiran Silva, em seu artigo Rebeldes contra o Mediterrâneo” os define como: O nome dado a grupos de camponeses insurretos na Gália romana, na maior parte das vezes ao norte, que agem no século III e no século V d.C. (conquanto alguns autores acreditem que tenham agido também no século IV). Contudo, alguns autores modernos veem em maior ou menor grau a presença de escravos e, por outro lado, outros autores veem a presença de grandes proprietários no controle do movimento.

O imperador então, envia seu césar Maximiano para controlar a revolta, que é duramente reprimida sem maiores complicações em 286. Temendo a conversão de seu aliado em um novo usurpador, ou já planejando o que viria a ser a futura tetrarquia, Diocleciano eleva Maximiano ao patamar de augusto em abril do mesmo ano, tornando-o responsável pela parte ocidental do império. Todavia, ainda que houvessem dois augustos e dois cesares, uma distinção entre eles se faz notar. Diocleciano, por ser augusto a mais tempo, é augusto senior, estando, portanto,

hierarquicamente acima de Diocleciano, (augusto junior). Cabe ainda ressaltar que não houve uma divisão formal do território, e sim de responsabilidade. Dessa forma, a presença do imperador era sentida em dois pontos simultâneos no império, desencorajando usurpadores oportunistas, além de facilitar a administração e coleta de impostos, que devido a sua grande extensão territorial, tornava praticamente impossível de ser realizada por um único indivíduo. A aura da Roma “cidade eterna” deixa de ser estar vinculada a parte física, passando a acompanhar os augustos onde quer que eles estivessem. Todavia, ainda que a influência imperial fosse maior agora, não foi suficiente para impedir novas usurpações, um exemplo em específico, é o de Carausio. Após receber o comando naval com objetivo de lidar com o problema dos piratas saxões e francos na costa da Gália, tarefa esta que executa com maestria, Carausio acaba crescendo em admiração por parte de seus comandados, além de riqueza proveniente dos saques. Maximiano, ciente da ameaça, ordena a execução de Carausio, que se revolta, recebendo apoio da Gália e Britânia, para onde se dirige e auto proclama. Sem nenhum respaldo à sua pretensão imperial, o usurpador não busca a deposição dos diarcas Diocleciano e Maximiano, pelo contrário, procura utilizar-se da legitimidade destes, colocando-se como aliado e irmão, designado para governar a província em seu nome. Aliado a isso, as fronteiras das quais Maximiano ficara responsável passam a sofrer constantes ataques de coalisões bárbaras no Reno em 287 e 288. No verão do mesmo ano, dizem os panegíricos dedicados a ele, atravessa o rio e consegue estabilizar a situação, é a partir desse momento que volta sua atenção para Carausio, tolerado porém não aceito, governante da Britânia. O ataque a Carausio elaborado pelos diarcas Diocleciano e Maximiano partem de duas frentes, uma física, composta por uma grande frota construída especificamente para esse fim, e outra, de caráter muito mais complexo, que visava minar ideologicamente as bases de legitimidade utilizadas por Carausio. Na passagem do ano 290 para 291, Diocleciano e Maximiano se encontram em Milão, em um evento descrito e ressaltado em detalhes no panegírico em honra de Maximiano datado de 291. Não se tratava de um mero encontro e troca de formalidades, sendo utilizado como poderosa ferramenta propagandística. A natureza do poder imperial é alterada novamente com a indicação de dois cesares, submetidos cada qual a um imperador, que por sua vez, ficariam responsáveis por uma fração territorial do império. Diocleciano escolhe Galério, que oferece sua filha Valeria em casamento com o intuito de criar laços familiares que fortaleceriam a relação entre ambos. Maximiano por sua vez, aponta Constâncio Cloro como seu césar, que é obrigado a deixar sua primeira esposa Helena, e desposar Theodora, filha de Maximiano com o mesmo objetivo, estreitar as relações político-familiares. Está formada a primeira tetrarquia, o mecanismo criado para facilitar a sucessão e continuidade no poder. Neste modelo, após a renúncia de ambos os augustos, seus respectivos cesares assumem a púrpura, além de indicarem os seus cesares, teoricamente, garantindo a manutenção e continuidade do sistema.

Aliado a este arranjo, a autoridade imperial começa a atribuir a si, uma série de atributos míticos, retirando a figura imperial do “âmbito comum”, colocando-a em um patamar inatingível aos meros mortais. Esta característica é uma influência de estruturas monárquicas orientais e helenísticas, cada vez mais atuantes no meio romano. Sendo assim, Diocleciano reclama para si a descendência divina de Júpiter (Ioui), ou seja, o senhor dos deuses, um dos mais importantes seres do panteão romano, enquanto Maximiano declara-se da linhagem de Hércules (Herculios), filho de Júpiter, conhecido por sua força e coragem. Esta construção se estende para os seus respectivos cesares. Os governantes não passaram a ser vistos como deuses, mas, ainda assim, se apropriaram e usufruíram da proteção e características divinas visando consolidar ainda mais sua posição. A distinção entre a divindade e o imperador é atenuada. Esta construção ideológica afasta Carausio e corrói suas bases legitimatórias, pois atribui aos membros da tetrarquia um caráter divino, esta característica viria a ser fortalecida paulatinamente nos períodos subsequentes, culminando na sacralização do imperador. Segundo Renan Frighetto, a posição de Carausio era incerta pois: Apesar de reconhecido pelos diarcas, Carausio ficou alijado da partilha efetiva da autoridade imperial e, consequentemente, excluído da participação nas múltiplas tarefas da defesa e administração imperiais. Posição excludente que acentuava a condição de Carausio como usurpador e ilegítimo diante do universo político-militar romano.

Após a criação da tetrarquia as campanhas para retomar os territórios controlados por Carausio são temporariamente suspensas, o foco dos imperadores são os problemas externos. Após a nomeação de Constâncio Cloro, entretanto, a principal tarefa a ser concluída é a retomada da Britania e partes da Gália que Maximiano falhara em retomar nos conflitos de 288 e 289. No ano seguinte, mesmo com a propaganda dos tetrarcas contra si, Carausio se declara governante no mesmo nível de Diocleciano e Maximiano, emitindo moeda na qual aparece os bustos dos três, acompanhada legenda CARAVSIVS ET FRATRES SVI, (Carausio e seus irmãos). Não existem evidências nas fontes que apontam para o reconhecimento dessa aceitação por parte de Maximiano e Diocleciano, ainda assim, as poucas tentativas em lidar com a situação entre os anos de 289 e 292 apontam para uma possível “aceitação momentânea” e não oficial da posição de Carausio. Em 293, entretanto, a atenção de Constâncio, césar de Maximiano, se volta completamente para os territórios controlados por Carausio. Retomando sem maiores dificuldades as regiões da Gália sobre controle de Carausio, começa a construção de uma frota com o objetivo de atacar definitivamente a Britania. Este episódio é amplamente abordado no panegírico dedicado a ele datado de 297. Carausio, que mantinha sob seu comando forças consideráveis, resistira às campanhas empreendidas por Maximiano, todavia, em 293, tem seus planos fracassados. É assassinado por

Alecto, segundo em comando, que toma seu posto. A revolta só tem fim em 296, quando Alecto finalmente é derrotado por Constâncio e a região volta ao controle imperial. MATERIAIS E MÉTODOS

Conforme abordado no relatório parcial, a pesquisa se deu através de levantamento bibliográfico relacionado ao contexto de produção das obras, uma vez que este possui importância crucial, pois afeta diretamente os responsáveis por escrever as fontes. Sendo assim, foi necessária uma abordagem mais ampla, que incluísse discussões historiográficas referentes ao período. Somado a isso, há ainda a necessidade de aprofundamento em conceitos chaves que conduzem a pesquisa, sendo necessária a sua definição. Entre eles, destaca-se os seguintes: legitimidade imperial, usurpação, aclamatio, Antiguidade Tardia, Dominato e tirania. As fontes consistem em panegíricos, discursos de caráter propagandísticos, que tinham por objetivo enaltecer um indivíduo. O termo tem origem na retórica grega, e passam a ganhar um significado cada vez mais relevante com a legitimidade imperial em um contexto no qual o poder está, cada vez mais, personificado no Imperador.

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Marcado por várias transformações, o período analisado é amplamente complexo. As pressões exercidas nas fronteiras pelas populações bárbaras, aliadas aos conflitos internos constantes e políticas taxativas pesadas, foram responsáveis por criar uma crise sem precedentes. O fortalecimento do poder das legiões na escolha do sucessor à púrpura aumenta ainda mais o clima de instabilidade pelo qual passa o Império. Além dos problemas internos, os persas ao leste, e os principalmente os germanos ao norte, contribuem ainda mais para o agravamento da situação. A guerra civil, a crise econômica e as invasões funcionam como um verdadeiro círculo vicioso, pois as legiões atribuem a si o direito de escolher o general que conseguira lidar com a crise, exigindo que novas aclamações e deposições sejam efetuadas, o que por sua vez, acaba agravando ainda mais a crise. O mecanismo imposto por Diocleciano em 286, com a indicação de Maximiano como augusto, altera a própria essência do poder imperial. Tornando-a mais atuante e sentida nos territórios mais afastados de Roma. Durante seu governo, a autoridade do imperador Romano se fortalece, e com o auxílio de Maximiano, amplia sua zona de influência. A posterior indicação de um césar para cada augusto atua como um mecanismo que facilita e torna quase certa a sucessão sem maiores problemas. Somado a isso, a propaganda que busca imputar ao imperador descendência divina isola ainda mais as pretensões de usurpações, além de fortalecer a estrutura na qual se baseia a legitimidade dos tetrarcas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Marcado por conflitos internos e externos, crise tributária e guerra civil, o século III é, para a historiografia, tema de profunda análise. A grande extensão territorial propícia a usurpadores, aliada à crise econômica proveniente das guerras constantes se combinam a um novo elemento: a influência crescente do poder militar de intervir nas sucessões. Sendo assim, eclode a guerra civil que abala, num contexto mais amplo, a própria unidade política do império. Entretanto, as adaptações implementadas por Diocleciano conseguem promover o fortalecimento da figura imperial. Personificada nos membros da tetrarquia, o imperium alcança, ao mesmo tempo, quatro pontos do território. Este arranjo político-administrativo expõe, à primeira vista, paridade, entretanto, percebe-se uma forte hierarquização dos seus membros. Ao mais antigo no poder, Diocleciano, cabe a primazia, sendo identificado como senior, estando portanto, acima de Maximiano (augusto junior), da mesma forma, os dois cesares estavam submetidos ao seu augusto (respectivamente, Galério e Constâncio Cloro). Outro fator pertinente, é atribuição, a partir desse momento, de elementos míticos à figura imperial. A descendia divina é o principal deles. Diocleciano vincula-se a Júpiter, senhor dos deuses, e Maximiano, Hércules, filho de Júpiter e detentor de grande força - Novamente, percebe-se a hierarquia entre ambos, pai e filho, deus e semideus - A influência de elementos orientais e helenísticos (sobretudo as monarquias persas), contribuem para a paulatina sacralização do imperador. Tido como representante das divindades, a linha que os distingue se torna cada vez mais tênue, o seu direito de governar é providencia divina. Entretanto, isso não foi suficiente para extinguir completamente as usurpações. Carausio, oficial submetido a Maximiano e responsável pela frota marítima, se declara imperador da Britania, recebendo apoio das legiões lá estacionadas, além das localizadas na Gália. Apesar de declararse augusto, Carausio não questiona a legitimidade de Diocleciano ou Maximiano, pelo contrário, se utiliza desta, colocando-se lado a lado com os diarcas legítimos. A recíproca entretanto, não é verdadeira, não há nenhum indício que aponte o reconhecimento de Carausio como tal por parte de Carausio. De fato, durante dos anos de 289 e 290, campanhas empreendidas por Maximiano com o objetivo de depor o autoproclamado augusto que, devido às forças que conseguira reunir e tropas mercenárias, consegue se manter no poder. Entre os anos de 290 e 293 não há atritos entre estes poderes, isso pode ser explicado de duas maneiras. A primeira seria que os olhos dos imperadores estivem voltados para as fronteiras, onde a pressão externa, principalmente ao norte com os germanos, exigisse medidas mais imediatas. A segunda seria um acordo estabelecido entre Maximiano e Carausio, ainda que haja nenhum indício de reconhecimento oficial. As hostilidades são retomadas no ano de 293, após a nomeação de Constâncio Cloro como cesar submetido a Maximiano, que no mesmo ano retoma facilmente regiões da Gália controladas

por Carausio. Ainda em 293, Carausio é traído e assassinado por Alecto. Seu segundo em comando, que toma seu posto e continua a guerra com Constâncio. A Britania só é retomada definitivamente em 296, com a derrota de Alecto.

Bibliografia

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SILVA, Gilvan Ventura da, MENDES, Norma Musco. Diocleciano e Constantino: a construção do DOMINATO. In: Repensando o Império Romano - Perspectiva socioeconômica, política e cultural. Vitória: Edufes, 2006

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WINKELMANN, Friedhelm. Historiography in the age of Constantine. In: Greek and roman historiography in Late Antiquity. Gabriele Marasco (ed.) Boston: Brill, 2003

APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR

Bolsista: JEAN FREITAS CARVALHO PIBIC/CNPq – período Agosto 2014/Julho de 2015. Orientador: Renan Frighetto CPF do orientador: 73771813700 Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes / Depto. de História

Curitiba, 06 de agosto de 2015.

Venho por este meio, apreciar o desempenho do bolsista Jean Freitas Carvalho que desenvolveu o plano de trabalho intitulado A unidade política ameaçada: a Britania romana e a regionalização dos poderes políticos na Antiguidade Tardia segundo os panegíricos latinos de finais do século III (289 – 297), vinculado ao projeto “AS GENTES GOTHICAE E AS RELAÇÕES DE PODER NO REINO HISPANO-VISIGODO DE TOLEDO (SÉCULOS VI – VII)” (BANPESQ/THALES: 2014015625). O bolsista participou ativamente das discussões de textos e fontes propostas em reuniões com o orientador e com outros colegas numa periodicidade quinzenal. Participou como ouvinte do evento continuado Diálogos Mediterrânicos, promovido pelo Núcleo de Estudos Mediterrânicos da UFPR e que contou com a participação de pesquisadores nacionais e internacionais com os quais a bolsista pode intercambiar idéias e opiniões, além de participar como ouvinte de outros eventos de extensão universitária. O bolsista já manifesta pretensões de encaminhamento para o Mestrado ao término de sua Graduação, onde terá grandes chances de desenvolver mais profundamente o tema de sua pesquisa. Um bolsista que tem levado muito a sério suas responsabilidades acadêmicas e científicas e cujo empenho demonstrado e desenvolvimento apresentado apontam para um ingresso na pós-graduação em condições de desenvolver uma dissertação de Mestrado de qualidade, dentro do tempo previsto pela CAPEs.

Prof. Dr. Renan Frighetto DEHIS/CPGHIS Núcleo de Estudos Mediterrânicos – UFPR Pesquisador ID - CNPq

Curitiba, 07 de agosto de 2015

Prof. Dr. Renan Frighetto DEHIS/CPGHIS Núcleo de Estudos Mediterrânicos UFPR Pesquisador ID - CNPq

Jean Carlos Freitas de Carvalho Graduando em História – UFPR

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