Relatório Preliminar do Acompanhamento Arqueológico do Júpiter Marina Hotel, Portimão.

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Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico [1ª Fase] Abril de 2016



Filipe João C. Santos [arqueólogo]

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Índice Ficha Técnica ................................................................................................................................... 3 1. Introdução ................................................................................................................................. 4 2. Localização Geográfica .................................................................................................. 5 3. A Equipa Técnica e os Meios Envolvidos .......................................................... 6 4. O Enquadramento Institucional dos Trabalhos e a sua Duração ..................................................................................................................................................................... 8 5. Enquadramento Histórico-Arqueológico e Condições do Sítio antes do Início dos Trabalhos ...................................................................................... 11 6. Objectivos, Estratégia da Intervenção e Metologia Aplicada 17 7. Os Resultados Obtidos .................................................................................................. 23 7.1. Considerações Gerais Sobre os Elementos Poupados à Destruição da Antiga Fábrica Facho, Lda. ......................................................... 23 7.1.1. Os Espaços e as Construções. Confrontação do Edificado Preservado e a Planta de 1950(?). Manutenção e Alterações. .... 28 8. A Cultura Material ............................................................................................................ 47 8.1. A Cerâmica Comum ..................................................................................................... 47 8.2. A Cerâmica de Construção ................................................................................... 49 8.3. Os Pesos de Barricas .................................................................................................. 52 8.4. Os Marcadores (Stencils) ...................................................................................... 54 8.5. Os Contentores e as Mesas/Tabuleiro de Trabalho ...................... 56 8.6. As Bases das Cravadeiras Semiautomáticas ..................................... 59 9. A Estratigrafia Observada ........................................................................................ 67 10. Outra Documentação Relevante ...................................................................... 69 10.1. Os Relatórios de 1931 e de 1946 ................................................................. 69 11. Considerações Finais e Medidas Mitigadoras Propostas ........ 77 12. Bibliografia .......................................................................................................................... 79 Anexos ............................................................................................................................................... 80 I-Legendas do Registo Fotográfico ....................................................................... 80 II- Listagem de Materiais .............................................................................................. 88 III- Nota de Entrega dos Materiais de Cariz Etnográfico ao Museu de Portimão ............................................................................................................... 89 IV- Registo Gráfico ................................................................................................................ 90 V- Ficha de Sítio ........................................................................................................................ 94

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Ficha Técnica Arqueólogos Co-Responsáveis:

Filipe Santos & Paula Pereira

Relatório, Texto & Imagens:

Filipe Santos

Pesquisa Arquivística e Documental &

Paula Pereira

Tratamento e Listagem de Materiais: Registo gráfico, Plantas, Perfis e Alçados:

Hugo Raposo

Topografia:

José Carvalho

Gestor do Portal do Arqueólogo Direcção-Geral do Património Cultural /

Paulo Oliveira

DGPC: Em representação da Tutela (DRCAlgarve)

Frederico Tátá

Museu de Portimão, em colaboração.



Arqueologia:

Isabel Soares & Vera Freitas

Antropologia Cultural:

Patrícia Ramos

História:

António Pereira

Subempreiteiros:

Bemposta, S.A. & Protectrilho

Promotor:

Júpiter Marina-Indústria Hoteleira, S.A.



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1. Introdução A construção de uma nova unidade hoteleira na cidade de Portimão - Júpiter Marina Hotel -, levou à implementação de um plano de trabalhos arqueológicos que, seguindo prévias directrizes estabelecidas por caderno de encargos específico elaborado pelos técnicos de arqueologia daquela edilidade, procurou, essencialmente, e após a devida autorização superior, a concretização de dois grandes objectivos; a salvaguarda de elementos patrimoniais reconhecidos na área de afectação do empreendimento aludido, ligando-se estes ao património industrial desta cidade, bem como aqueles que, eventualmente, pudessem vir a ser identificados no decurso dos trabalhos de escavação geral associados à empreitada aludida. Estabalecendo-se a nova unidade hoteleira por parte da parcela de terreno ocupada primitivamente pela antiga fábrica Facho, Lda, importante complexo industrial ligado à actividade conserveira desta região algarvia, importaria, antes de qualquer outra acção, o registo para memória futura dos elementos remanescentes da mesma. Por outro lado, tratando-se de uma área com um elevado potencial arqueológico, sobretudo atendendo a um conjunto de referências antigas que disso mesmo davam conta, tornava-se imperioso que os trabalhos de Acompanhamento Arqueológico pudessem acautelar, ao risco de destruição, quaisquer outros elementos patrimoniais que ali pudessem existir, eventualmente camuflados pelas construções mais recentes ou por estratigrafia subjacente àquela associada ao seu próprio embasamento. São os resultados obtidos pelo nosso trabalho, atendendo à metodologia empregue na sua execução, que, após este ponto introdutório, se apresentam. A nossa exposição atenderá, em primeiro lugar, ao contexto de arqueologia industrial registado. Deve ainda referir-se, por último, que o documento que se apresenta apenas se reporta ao que deverá ser entendido com uma primeira fase de trabalhos, excluindo-se desta abordagem, não se compaginando com a empreitada nesta fase, quer os resultados do

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Acompanhamento Arqueológico relacionado com as acções de estabilização da chaminé do complexo industrial referido, bem como do Acompanhamento Arqueológico da abertura das valas de ligação à rede pública requeridas pela nova unidade hoteleira.

2. Localização Geográfica O lote de terreno que foi alvo de trabalhos arqueológicos localiza-se na cidade de Portimão, mais concretamente na estrada da Rocha – Estrumal (freguesia de Portimão) -, junto ao rio Arade e na margem direita deste. Administrativamente, pertence ao distrito de Faro (região do Algarve, na extremidade sul/sudoeste de Portugal). Imediatamente a este da parcela do terreno onde será edificada a nova unidade hoteleira, do outro lado da estrada, encontram-se as ruínas do Convento de São Francisco. O mesmo, também conhecido por Convento Franciscano de Nossa Senhora da Esperança, foi fundado em 1530. Outrora, e tendo em conta alguma cartografia antiga analisada, a parcela de terreno em apreço, porção do que terão sido os terrenos ligados à Quinta da Boavista, foi moldada junto à base voltada a este de uma zona ligeiramente elevada, de substrato calcário, desenvolvendo-se o pequeno promontório, hoje praticamente inexistente, com uma orientação sul/norte. As coordenadas geográficas, retiradas a um ponto central da parcela de terreno alvo de acompanhamento arqueológico, são as seguintes: 37° 7'42.92"N; 8°32'1.71"W. As coordenadas Datum 73, tendo por base os ângulos nordeste e sudoeste da base da chaminé da fábrica Facho, Lda, respectivamente, são as seguintes: - 35 620.08 / - 28 1808.14; - 35 620. 08 / - 28 1810. 24. A visualização precisa da localização da área em apreço poderá ser acedida, mediante ligação à internet, através do seguinte link: https://drive.google.com/open?id=0B8NB6Tbcm6JrRFpENXlTa250M1U No que diz respeito à geologia local, e a algumas das características que a mesma apresenta, trataremos de fazer esse enquadramento, por forma a não nos repetirmos, em ponto próprio deste relatório, aquele que dirá respeito, em concreto, à estratigrafia observada.

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Figura 1 – Localização da área de intervenção na Península Ibérica, ampliando-se a escala de visualização (Google earth). Localização na C.M.P. fl. 603, e em planta do projeto. 3. A Equipa Técnica e os Meios Envolvidos Os trabalhos de aqueologia em apreço foram coordenados, no terreno, e a tempo inteiro, por Filipe Santos. O mesmo foi coadjuvado por Paula Pereira, a tempo parcial. A par da equipa de arqueologia, participaram directamente nos trabalhos alguns trabalhadores indiferenciados, gentilmente cedidos por um dos subempreiteiros – Sr. João Carlos (Protectrilho). Estes foram sobretudo direccionados para os trabalhos de limpeza



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que foram levados a cabo dentro da área de intervenção ligada aos distintos espaços funcionais da fábrica conserveira. No que diz respeito aos meios empregues, e ainda no que às acções de limpeza diz respeito, a par de material miúdo, como colherins, picos e vassouras, usaram-se, de igual modo, alfaias de maior porte, como pás e enxadas. Na remoção dos inúmeros depósitos de escombros que toda a área oferecia ao início dos nossos trabalhos, foram ainda, e sobretudo, usados meios mecânicos diversos, desde as Mini-Escavadoras até às possantes Máquinas-Giratórias.

Uma

destas

máquinas

maiores

foi

empregue,

única

e

exclusivamente, no desmantelamento de um possante alicerce bem argamassado (ML.1), bem como de duas cisternas construídas em betão armado que se encontravam nas imediações deste. Para o efeito, a Giratória em causa, empregou um martelo pneumático (“Pica-Pau”). A que nos acompanhou desde o início, tendo aos comandos o exímio manobrador Sr. Joaquim, foi não só responsável pela remoção da grande maioria dos escombros, bem como do desmantelamento cuidado das infraestruturas remanescentes da antiga fábrica Facho, Lda. A mesma, de fabrico Sul-Coreno (marca Doosan), foi ainda responsável pela escavação geral dentro dos limites traçados para a construção dos alicerces da nova unidade hoteleira. Ao nível dos registos fotográficos de pormenor e gerais, empregámos uma máquina fotográfica digital com uma resolução de 20 megapixels, uma placa de identificação – ardósia de xisto com moldura de madeira -, um norte e 3 escalas de 1 m. Outra máquina fotográfica foi ainda usada nos registos gerais, a tempo parcial. Na guarda dos materiais recolhidos usámos sacos plásticos de dimensões distintas, cada um perfeitamente identificado por uma etiqueta, tendo sido estes convenientemente acondicionados em contentores ccedidos pelo promotor para o efeito. As etiquetas de campo, provisórias, escritas em pequenos blocos de notas, acabaram por ser substituídas - bem como aquelas que identificavam o respectivo contentor - por intermédio de novas etiquetas, feitas a partir do programa Excel e depois impressas. As mesmas serão evidenciadas no ponto da metodologia empregue. Ao nível dos levantamentos topográficos usou-se uma Estação Total Robótica e um GPS de alta precisão, ambos da marca Trimble e manuseados pelo Sr. José Carvalho, topógrafo temperamental que, como nos confessou, não gosta muito de trabalhar com arqueólogos.

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Ao que parece, e como o mesmo nos haveria de confessar, pedem-lhe sempre muitos pontos, o que lhe torna depois o trabalho em gabinete mais dificultado. No que toca ao trabalho gráfico, elaborado já em gabinete, usaram-se distintos programas, sobretudo relacionados com a edição de imagem, nomeadamente o Adobe Illustrator e o Adobe Photoshop, tendo as plantas, perfis e alçados de pormenor sido trabalhadas com recurso ao programa Autocad. A excelência dos registos de pormenor que se apresentam, nalguns casos seguindo as nossas próprias indicações, é da inteira responsabilidade do gabienete de arquitectura coordenado pelo arquitecto Hugo Raposo. No que diz respeito em concreto ao trabalho de pesquisa arquivística e documental, a documentação consultada, na sua maioria, tendo a planta que se apresenta sido digitalizada por elementos afectos ao arquivo do Museu de Portimão, foi fotografada por intermédio de telemóvel, tendo depois sido enviada ao signatário – hoje através da novas tecnologias temos a vida bastante mais facilitada – por email. Na elaboração do relatório propriamente dito, assim como como primeiro recurso de armazenamento de informação, empregámos um computador portátil. Na redacção do texto, bem como na incorporação das imagens que o mesmo contém, socorremo-nos do programa de edição de texto provavelmente mais conhecido, o Microsoft Word.

4. O Enquadramento Institucional dos Trabalhos e a sua Duração Importará neste ponto prestarmos alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar deve ser referido que foi, após o contacto encetado pela arqueóloga co-responsável por este projecto, elaborado pelo signatário um primeiro Plano de Trabalhos que não se adequava às condicionantes arqueológicas definidas pelos pareceres emitidos pela DRCAlgarve, nem às informações constantes no Caderno de Encargos elaborado pelos serviços de arqueologia da Câmara Municipal de Portimão. É ainda referido no ofício que dá conta disso mesmo – Ofício nº S-2016/392183 (C.S:1084399, Ponto 5, datado de 04 de Março de 2016 -, que o PATA não cumpria com o requerido no ponto 7.6. do parecer de 23/09/2015 (CS 138247) da DRCAlgarve, atendendo a que não continha como anexo o Caderno de Encargos do serviço de arqueologia da Câmara Municipal de Portimão. Mais grave ainda, o Plano de Trabalhos prévio que se apresentou não contemplava os trabalhos de registo rigoroso do edificado existente e de acompanhamento arqueológico das

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demolições. A situação relatada anteriormente, referida, e bem, no ponto 5.3. do Ofº referido, ficou a dever-se, sem sombra de dúvida, a um problema de comunicação entre a equipa de arqueologia responsável, tendo o signatário ficado com a impressão, por inúmeras conversas telefónicas e troca de correspondência electrónica, que todo o edificado se encontraria já demolido. Esta falha de comunicação, aliada ao desconhecimento total do sítio a intervencionar, levou a que nesse primeiro Plano de Trabalhos, ingenuamente, estas acções não tivessem sido contempladas. Por último, e não se fazendo aqui alusão à questão das sondagens de diagnóstico por nós contempladas – subtraídas posteriormente no Plano de Trabalhos Reformulado – a Direcção Regional de Cultura do Algarve refere ainda – ponto 5.5. do Ofº aludido – que o local de depósitos dos materiais referidos no PATA não se encontrava correcto, uma vez que ali era referido que o local de depósito definitivo ficaria ao cuidado da DRCAlgarve, quando os mesmos, como bem mencionado no caderno de encargos elaborado pelos técnicos de arqueologia da edilidade de Portimão (ponto 4.3.), deveriam ser depositados no Museu de Portimão após o estudo ou decorrido o prazo legal estabelecido no RTA (nº4 do Artº 18 do Decreto Lei nº 164/2014, de 04 de Novembro). Em resumo, e após o que foi exposto, a DGPC, dentro dos seus plenos direitos e atendendo às falhas enunciadas decorrentes do início do processo, emitiu um parecer não favorável ao Plano de Trabalhos prévio que se apresentou, indicando que o mesmo deveria ser reformulado em conformidade com o referido no ponto 5. Do Ofº em causa. Esta situação foi-nos quase no imediato exposta pela DRCAlgarve (Dr. Frederico Tátá) por por email no dia 23 de Março de 2016. Por conseguinte, e após a reformulação do Plano de Trabalhos arqueológicos, feita pelo mesmo que já tinha apresentado o primeiro (datado de 15 de Março de 2016), e tendo-o por base, foi-nos concedida, pelo mesmo técnico da DRCAlgarve, e de novo por email (24 de Março de 2016), a autorização para o início dos trabalhos arqueológicos tendo em conta as alterações que foram feitas, alertando-nos ainda o mesmo para a necessidade de se informar o serviço de arqueologia da CM de Portimão para a data prevista do arranque dos mesmos e para a necessidade do PATA ser reformulado oficialmente junto do canal próprio para o efeito, o Portal do Arqueólogo.

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Após a imediata reformulação do primeiro Plano de Trabalhos, tendo com o seu rápido envio dado conta das alterações que foram feitas, apenas assim se conseguindo o aval positivo por parte da Tutela para o início dos mesmos, teve o signatário dificuldade em “carregar” a informação reformulada para o Portal do Arqueólogo, dando conta disso mesmo a quem gere essa informação. Como tal, tendo o Dr. Paulo Oliveira, responsável por essa mesma gestão, sido informado dessa situação, teve o mesmo o cuidado de nos informar, quase no imediato, que o novo Plano de Trabalhos tinha sido adicionado correctamente ao processo. Efectivamente, é o Plano de Trabalhos “renovado”, reformulado, o segundo que por nós foi apresentado, que se encontra no PATA associado ao Acompanhamento Arqueológico da construção do Júpiter Marina Hotel. Os trabalhos de Acompanhamento Arqueológico do Júpiter Marnina hotel foram iniciados no dia 29 de Fevereiro de 2016, tendo-se estendido no tempo até ao dia 24 de Março do ano corrente. Durante este período de tempo, apenas as máquinas se calaram aos Domingos. Na impossibilidade, por motivos de agenda de vários intervenientes, de se marcar uma reunião no local, o que seria de todo desejável, com todos os envolvidos no processo, esteve no dia anterior a Dra. Vera Freitas (C.M.Portimão) no terreno, por sugestão do signatário, para que a mesma pudesse, in loco, constatar a realidade que o sítio demonstrava. O signatário reforçou a ideia de que os trabalhos de acompanhamento arqueológico terminariam no dia seguinte, reforçando a ideia de que não fazia nenhum sentido continuar-se a acompanhar uma máquina giratória a remover o topo do substrato de base entretanto já decapado em toda a área de afectação. No dia 24 de Março, e tal como solicitado pela tutela, não se podendo realizar a reunião que dava conta da conclusão dos trabalhos de campo ligados à primeira fase do A.A., o signatário informou, via email, todos os intervenientes disso mesmo. Após a conclusão dos trabalhos de campo ligados à primeira fase dos trabalhos de acompanhamento arqueológico em análise, os mesmos foram aprovados pelo Ofº S2016/395537 (C.S:1093715), datado de 14 de Abril de 2016. Oficialmente, os nossos trabalhos inscrevem-se na categoria C (DL n.º 164/2014, de 04 de Novembro).

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5. Enquadramento Histórico-Arqueológico e Condições do Sítio antes do Início dos Trabalhos Foi precisamente tendo por base o enquadramento histórico-arqueológico da área em apreço e da sua envolvente imediata, ainda que sumariamente, é certo, que as nossas expectativas, ao início dos trabalhos, eram altas. Por outro lado, tendo tido acesso a documentação - disponível online - redigida pelos técnicos de arqueologia da Câmara Municipal de Portimão (Freitas, 2010, p.10) que, através de argumentação bem alicerçada, atestavam a alta potencialidade da nossa zona de intervenção em termos da hipotética presença de vestígios patrimoniais/arqueológicos, as nossas expectativas ampliaram-se. O próprio parecer técnico também elaborado pelos mesmos técnicos de arquologia no âmbito onde o nosso próprio trabalho acabou por ser desenvolvido, concretamente no ponto relativo àquele que aqui nós próprios nos encontramos a tratar, vinha reforçar a potencialidade da área de afectação pelo empreendimento novo a ser ali construído. Aproveitaremos as informações desse mesmo parecer, sobretudo atendendo à resenha bibliográfica que ali é feita, e trataremos, tanto quanto possível, para as desenvolver. Confessamos que não encontrámos, ainda assim, como referido nesse mesmo parecer, e após termos lido o artigo de Estácio da Veiga, no capítulo V das suas Antiguidades Monumentaes do Algarve, publicado na 1ª série da revista “O Archeologo Português” – felizmente disponível online -, qualquer referência à presença de um balneário supostamente de época romana, junto ao Convento e da entrada que conduz à praia da Rocha. Ainda assim, pode ter sido falha nossa o não descortinar claro desta situação. Em boa verdade, e como já anteriormente referimos, embora talvez essa seja apenas uma mera circunstância geográfica, sem grande influência para o caso, do outro lado da estrada onde trabalhámos encontra-se a Cerca do Convento de São Francisco. A mesma corresponde aos limites físicos da área edificada desse complexo religioso. A sua presença, por si só, ainda para mais constituindo limite a uma realidade que se desenvolve sobretudo dentro dela, sendo, sem dúvida, uma marca importante, não transforma automaticamente áreas da sua envolvência noutros sítios patrimoniais ou com potencial arqueológico. Contudo, e como adiante veremos, estes existem, ou terão existido nas imediações da própria cerca do Convento de São Francisco, logo, próximos à nossa área de actuação, fazendo, como tal, todo o sentido a sua constituição como um referencial

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importante. Por isso mesmo, também nós não os poderíamos aqui deixar de incluir, como um pouco mais à frente faremos sem a necessária ordem da fonte a que fomos beber, a cronológica. A antiga fábrica Facho, Lda, os terrenos onde esta se estabeleceu, laborou durante cerca de 60 anos ao lado do Convento de São Francisco, do outro lado da rua, encontrando-se, para todos os efeitos, sobretudo administrativos, hoje, dentro da sua área de influência.

Figura 2 – Cartografia antiga de Portimão. A primeira (1621) é retirada do livro Descripção do Reino do Algarve, de Alexandre Massai, a segunda, já de 1916, corresponde a um levantamento realizado sobre a Vila Nova de Portimão pelo Capitão tenente Ernesto Tavares d´Almeida Carvalho, em serviço da missão hidrográfica da Costa Portuguesa. Importará realçar, antes de avançarmos neste ponto, referir o seguinte: a orografia da área envolvente ao Convento de São Francisco, ao século em que ele foi edificado – Séc. XVI – não seria, com toda a certeza, provando-o alguma da cartografia “antiga” que tivemos oportunidade de observar daquela área de Portimão, a mesma. As alterações topográficas ocorridas na envolvente do Convento, sobretudo sobre o seu lado oeste, a parte que nos importa, terão, por certo, provavelmente apagado qualquer vestígio de uma presença humana naquela área se acaso ela realmente tiver existido. Mas lá iremos.

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Atendendo à figura composta que se apresentou anteriormente, parece-nos evidente a presença no local onde mais tarde viria a ser edificada a fábrica Facho, lda, de uma pendente acentuada, bem marcada na cartografia do início do século XX, embora também se insinue na planta do século XVII, que foi subtraída, pelo menos em parte, em período posterior ao da elaboração do apontamento cartográfico levado a cabo pelo Capitão tenente em serviço da missão hidrográfica da Costa Portuguesa. Uma primeira etapa dessa subtracção, que daria com outras reformulações posteriores origem a uma zona aplanada, preservando-se pouco da envolvente da área declivosa, pareceu-nos perfeitamente visível ao nível do corte operado no afloramento rochoso calcário que se encontra a servir de base de suporte ao muro da cerca do Convento de São Francisco, julgando nós ter aí observado, sobre o lado oeste da cerca, entenda-se, um nítido rebaixamento da cota que poderá estar relacionado, naquele ponto específico, com a própria modernização do eixo viário que ficaria conhecido como estrada da Rocha. Um segundo momento importante da alteração topográfica da zona envolvente do complexo religioso referido, envolvendo de novo a escavação parcial da zona declivosa que sobre o seu lado poente, parece ter-se dado já logo aquando da primeira etapa de construção da fábrica conserveira Facho, Lda. A fábrica Facho, presumivelmente construída nos anos 20 do século passado, terá levado à criação de uma plataforma regular, mantendo-se, ainda assim, parte do declive do terreno onde acabaram por ser mais tarde edificados, já em época muito próxima à nossa, um conjunto de prédios de habitação. Julgamos que uma boa parte dos registos fotográficos que aqui se apresentam acabam por dar conta disso mesmo. Da mesma forma, a planta de Portimão, que reproduzimos de seguida, retirada da obra Portimão, Indústria Conserveira na Primeira metade do Séc. XX, da autoria de Maria João Duarte (2003, p. 220), e onde se dá destaque ao conjunto de unidades industriais ligadas a esta actividade - Figura 3 -, pretende, tão só, mais do que evidenciar esse conjunto na geografia da cidade, dar conta da topografia associada à implantação da fábrica Facho, Lda. Aí, sem necessário olhar atento, é por demais evidente a elevação que, aos poucos, foi sendo subtraída pelo impulso do crescimento urbanístico. Nos anos 20 do século XX, parte desse monte, uma das suas extremidades, haveria de dar lugar à unidade industrial que aqui nos encontramos a tratar.

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Alguma bibliografia científica, mais ou menos recente, a mais significativa vertida no próprio parecer técnico elaborado pelos técnicos de arqueologia da Câmara Municipal de Portimão, como referimos logo ao início, demonstrava a importância da área onde acabaria por ser edificada a fábrica conserveira, mesmo que nalguns casos a localização precisa de determinadas ocorrências patrimoniais (objectos avulsos e/ou estruturas arqueológicas) seja, digamos assim, algo vaga. Na sua larga maioria essas ocorrências, pelo menos dentro da nossa envolvência imediata, reportam-se ao período romano. Entre o forte de Santa Catarina, na margem direita do Arade, na foz deste rio, até aos limites impostos pela área ocupada pelo Convento de São Francisco, numa distância que em linha recta não ultrapassa os 1,5 Km, segundo Estácio da Veiga (1910, p.228), Banhados parcialmente pelo rio de Portimão..., existiam á flor do chão uns muros antigos, pertencentes a umas construcções, cuja forma não se podia perceber. Explorado o logar, provisoriamente denominado Portimões, Casinhas dos Mouros, e Estrumal, descobri uma serie de tanques...Para o sul estão os mais destruidos, e não poucos já na posse das aguas. Foi este o ultimo estabelecimento de salga de peixe que descobri, desde o Burgau até a margem direita do rio de Portimão, em que parece ter havido uma opulenta cidade, em toda a area occupada pelo convento de S.Francisco, pela quinta do Sr. Sousa Neves e por uma grande parte da villa. Todos os outros pontos com vestigios de antiguidades parecem subordinados a este grande centro. É possivel que, surgindo monumentos até hoje desconhecidos, se possa um dia dizer: aqui foi o Porto de Hannibal; por ora é cedo. A faixa ribeirinha a que Estácio da Veiga se refere corresponderá, muito provavelmente, hoje, aos terrenos que confinam com a Marina e o Porto Comercial de Portimão. Antes das ocorrências publicadas por Estácio da Veiga e que atrás fizemos referência, já outros autores tinham dado conta, e publicado, outros achados na área que nos importa e, genericamente, enquadráveis no mesmo período. Recorrendo, de novo, às informações a que tivemos acesso por quem realmente trabalha neste território, constatamos algumas referências sobre, pelo menos, uma necrópole romana de inumação, desta feita testemunhada por Pinho Leal no último quartél do século XIX. Este autor verte essa informação no seu trabalho monumental publicado com o título Portugal Antigo e Moderno, assim como o faz mais tarde, e noutras circunstâncias, Leite de Vasconcelos

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(1892, p.3 e 4). A referida necrópole localizava-se, uma vez mais, junto à cerca do Convento de São Francisco, na denominada Quinta de São Francisco. Não deixa de ser curioso que a informação dada a Leite de Vasconcelos por Gabriel Pereira, seu colega, refira a identificação de algumas sepulturas em contexto de destruição ligado às obras da feitura de uma estrada entre a Vila com a costa, acentuando que o desaterro junto da referida cerca (do Convento de São Francisco) cortou um outro grupo de sepulturas que ele vira em 1878. Pela continuação do relato, diríamos que se tratariam de caixas sepulcrais constituídas por lateres, muito possivelmente, e com eventual cobertura por tégulas. Tendo em conta a sua dimensão, tratar-se-iam de sepulturas, mais uma vez, de inumação. Existe ainda a alusão ao achado de grandes pavimentos de mosaicos, não longe do contexto funerário (necrópole associada a uma possível Villa?), referindo ainda a publicação de Vasconcelos sobre o relato do seu colega que a cem passos das sepulturas se encontravam um conjunto de salgadeiras na praia da barra, bem conservadas (Vasconcellos: 1892, p.3 e 4). Não terão sido estas posteriormente observadas também por Estácio da Veiga? Nas imediações, não nos podemos esquecer ainda, dentro das ocorrências patrimoniais avulsas e sem grande precisão em termos de localização, do tesouro de moedas romanas do Arade. -

18703_ Arade, Tesouro de época romana –

http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/?sid=sitios.resultados&subsid=2187270 No que toca ao Convento de São Francisco, localizado imediatamente sobre o lado esta da nossa área de intervenção, do lado oposto da Estrada da Rocha, é também conhecido por Convento Franciscano de Nossa Senhora da Esperança. Trata-se de um complexo religioso edificado no século XVI, composto pela cerca que o delimita, podendo nela observar-se distintos panos murários – provavelmente associados a sucessivas reformulações -, comportando no espaço interno que define um conjunto de edifícios dos quais fazem parte a Igreja e as outras dependências, que se desenvolvem por dois andares em torno de um claustro central. Do complexo faz ainda parte uma capela funerária que não se liga ao edifício principal. Concluindo. Embora tudo apontasse para a grande potencialidade da área que iríamos acompanhar, tendo em conta, como é óbvio, todas as informações pertinentes que nos

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levaram assim a pensar, a verdade é que, e utilizando um provérbio popular para terminar: a montanha pariu um rato. Depreende-se portanto, pelo exposto, adiantando-nos nas conclusões, que o impacto da empreitada relacionada com a construção da nova unidade hoteleira sobre eventuais vestígios arqueológicos foi nulo. Ainda assim, a Fábrica Facho, lda, construída nos terrenos pertença de uma firma constituída em 1923, era, por si só, um marco importante do património local ligado à indústria conserveira. A mesma foi, infelizmente, alvo de uma acção de destruição intencional, ocorrida, ao que conseguimos apurar, nos finais da primeira década do século XXI. Na falta dos elementos subtraídos à destruição, não devem faltar aqueles que, ainda vivos, ali partilharam espaços de trabalho, julgando nós que os seus testemunhos, para memória futura, são da mais extrema importância. Doravante trataremos, quase em exclusivo, desta importante unidade industrial, do que dela chegou até nós, e das observações que conseguimos em relação às suas distintas fases edificativas.

Figura 3 – Mapa das Fábricas de Conservas em Portimão (Duarte: 2003, p. 220). Atente-se às curvas de nível postas em destaque no local onde se iria estabelecer a antiga fábrica Facho, Lda.

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6. Objectivos, Estratégia da Intervenção e Metologia Aplicada Os trabalhos por nós desenvolvidos pelo Acompanhamento Arqueológico da construção do Júpiter Marina Hotel (Estrumal, Estrada da Rocha, Portimão), procuraram atingir, essencialmente, dois objectivos distintos. O primeiro ligava-se à própria salvaguarda, pelo registo, dos elementos remanescentes da antiga fábrica Facho, Lda, importante complexo conotado com a indústria conserveira de Portimão. Refira-se que a construção da nova unidade hoteleira – Atendendo ao mau estado dos edifícios existentes - apenas irá manter, dentro do projecto arquitectónico desenvolvido para o efeito, a chaminé dessa antiga unidade industrial, bem como parte dos seus muros perimetrais – em taipa – com correspondência, apenas, à sua extremidade oeste e norte. Todo o restante conjunto de estruturas, pelo exposto, foi alvo de demolição, não tendo destas ficado nada preservado com excepção dos elementos a que já fizemos referência. Por outro lado, importaria aferir, mesmo durante os trabalhos de demolição, bem como, e sobretudo, aquando da escavação geral levada a cabo para a imposição do piso inferior e dos próprios alicerces da nova unidade hoteleira, se a área em apreço denotava algum traço de uma ocupação antrópica prévia ao da própria constituição da unidade industrial aludida, sabendo-se, como já atrás o procurámos documentar, da enorme potencialidade que a mesma parecia oferecer. Se porventura essa realidade se tivesse constatado, teria sido um dos nossos objectivos o registo da sequência da ocupação humana daquele espaço, seguindo-se para o efeito, como não poderia deixar de ser, o método estratigráfico. Como já o adiantámos, infelizmente – ou não! -, tal não veio a acontecer. Dentro da estratégia por nós implementada, procurámos sempre cumprir os objectivos pretendidos sem que fosse posta em causa a normal progressão dos trabalhos ligados à própria empreitada da construção da nova unidade hoteleira de Portimão. Por esse mesmo motivo, abandonámos logo de início a ideia sobre a materialização de sondagens de diagnóstico, tal como estabelecido no primeiro plano de trabalhos que apresentámos, de modo a ser avaliado o potencial arqueológico da área em análise. As mesmas, convenhamos, só iriam aferir pontualmente o que seria logo denunciado aquando da escavação geral relativa à própria empreitada. Os vestígios arqueológicos, caso existissem, seriam sempre postos em evidência.

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Embora julgando ter conseguido gerir os meios humanos e materiais na prossecução dos nossos objectivos, sem que fosse atrasado o desenvolvimento de quaisquer acções ligadas à empreitada aludida, aproveitamos este ponto para reforçar, mais uma vez, a ideia de que a equipa de arqueologia, e os trabalhos iniciais que a mesma poderia ter realizado sem as pressões normais destes contextos, deveria ter entrado em obra sempre numa fase prévia, nunca à mesma altura em que uma das empresas subcontratadas se encontrava no terreno pronta a iniciar a demolição do edificado remanescente da antiga fábrica Facho, Lda. Todos os intervenientes, convenhamos, acabam por ter o seu “caderno de encargos”, assim como um prazo apontado para a conclusão dos trabalhos para os quais foram contratados pelo promotor. Ainda que a contingência referida tenha existido, deve ser salientado que houve sempre da parte de cada entidade o respeito pelo trabalho de cada agente envolvido no processo, tendo a execução do nosso próprio trabalho, como não poderia deixar de ser, tido em consideração o bom desenrolar das tarefas do outro. Trabalhou-se em equipa, não por acção previamente programada, mas por necessidade imposta pelas circunstâncias de actuação. Por sorte, grande parte dos empreiteiros tinha já lidado, noutras circunstâncias, com a necessidade de trabalhos arqueológicos. Ainda assim, no futuro, não querendo nós de deixar aqui este reparo nota, será de todo conveniente, dentro das nossas próprias estratégias de actuação, incluir-se uma acção de esclarecimento junto dos principais agentes envolvidos, podendo-se, desta forma, e de maneira simples, explicar-se convenientemente o porquê da presença da figura do arqueólogo naquele contexto específico. Fica a nota. Ainda dentro da estratégia da intervenção, deve ser referido que a equipa de arqueologia teve acesso a um levantamento arquitectónico prévio do complexo industrial em apreço, conseguido numa fase anterior ao do episódio de destruição que documentámos. O acesso a este registo, tendo-se num primeiro momento constatado a sua viabilidade, permitiu, logo na manhã do primeiro dia de trabalho – 29 de Fevereiro de 2016 -, que pusesse ser demolida parte do alçado principal da antiga fábrica Facho, Lda, alçado esse com correspondência – ver planta original de 1950(?) – ao “Armazém de Cheio”, localizado na extremidade norte deste complexo. Após uma limpeza sumária da zona em apreço, bem como aos respectivos registos fotográficos, acompanhou-se a demolição do alçado aludido de modo a que um camião, carregando uma máquina giratória, pudesse

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entrar naquele espaço e permitisse à escavadora iniciar os trabalhos de limpeza levados a cabo um pouco por toda a área. Este episódio acaba por ser um reflexo do que mencionámos anteriormente sobre a cooperação existente no terreno entre as distintas equipas. A situação relatada só pôde ser possível tendo em conta a aferição do registo prévio do alçado em causa, bem como o subsequente registo fotográfico exaustivo que do mesmo foi feito por nós. Uma das estratégias seguidas por nós foi precisamente a confrontação dos registos gráficos pré-existentes com novas realidades que importaria registar, tendo bem presente que uma das nossas tarefas se prendia, precisamente, com o próprio levantamento arquitectónico do edificado ainda remanescente. Na prática, procedemos à completagem de um registo arquitectónico pré-existente, cujo conjunto comportava já uma planta, bem como um número assinalável de perfis e alçados. Esse mesmo registo gráfico, o que resultou de dois distintos momentos, é aqui apresentado. Os levantamentos topográfico foram executados, no terreno, com recurso a Estação Total e GPS. Posteriormente, sob a responsabilidade do gabinete de arquitectura coordenado pelo arquitecto Hugo Raposo, fez-se a completagem dos registos pré-existentes com base nas novas realidades levantadas, tendo-se não só procedido à actualização da própria planta geral como de alguns perfis previamente desenhados que não incluiam, à data, algumas das construções que acabaram por ser por nós evidenciadas. Dentro da metodologia usada, procurámos registar, o mais exaustivamente possível, por intermédio de fotografias digitais, todas as acções levadas a cabo. Essas acções incidiram sobre trabalhos de limpeza e desaterro, tarefas na sua maioria realizadas com os meios mecânicos que estavam alocados para a subsequente tarefa de demolição e escavação geral; registos fotográficos de pormenor do conjunto do edificado remanescente e de estruturas com ele relacionadas, bem como os distintos espaços da primitiva fábrica, as técnicas construtivas empregues na elevação das estruturas que a compunham, a estratigrafia associada às distintas áreas intervencionadas, os dispositivos conotados com a maquinaria usada na própria fábrica. A par de um registo fotográfico exaustivo - do qual resultou um acervo com mais de um milhar de fotografias -, e ainda que tenhamos elaborado algumas fichas de registo, nomeadamente ao nível do registo de unidades estratigráficas, mesmo no que à arqueologia vertical diz respeito, tão só acabámos por recorrer a apontamentos

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diários registados em caderno de campo, não tendo sido dado qualquer uso às fichas aludidas. Esta situação não só não prejudicou o processo de registo como agilizou o nosso próprio trabalho. Por outro lado, facilmente seria vertida a informação constante no caderno de campo, extremamente monótona, diga-se, para as respectivas fichas de acompanhamento arqueológico diárias. Se nalgumas situações estas podem ser importantes, talvez até mais como utensílio de controlo à distância, aqui não achámos que fossem, não merecendo da nossa parte a atenção que tantas vezes lhes é dada. Procedemos, no terreno, e tal como consignado no próprio caderno de encargos elaborado pelos técnicos de arqueologia da Câmara Municipal de Portimão, à recolha de diferentes tipos de argamassa e de materiais de construção identificados, por amostragem. Os mesmos foram convenientemente guardados em sacos, etiquetados, e embalados em contentores próprios para o efeito. Quer nas fotografias de pormenor, como na organização geral do próprio registo fotográfico, quer na indicação que consta na etiqueta que acompanha o material recolhido, usámos o acrónimo FACHO.01.´16. Este reportase à identificação da própria fábrica, ao número da campanha e ao ano em que a mesma foi realizada. As acções subsequentes deverão ser registadas de forma sequencial: 02/03... O material mais volumoso, nomeadamente as dezenas de pesos de barricas exumados, as mesas de trabalho em madeira, os baús também em madeira, os elementos das janelas e portas bem como um conjunto de quatro bases de calcário relacionadas com “cravadeiras mecânicas” foram agrupados, em depósito de obra, junto aos limites oeste da fábrica de modo a que a circulação de máquinas pela área de intervenção não colocasse em risco a sua integridade física. Alguns destes elementos foram posteriormente entregues ao Museu de Portimão enquanto acervo etnográfico, nomeadamente um exemplar completo de uma janela patente no alçado este da fábrica, dois pesos de barricas, uma base de cravadeira mecânica bem como um conjunto de 18 marcadores metálicos relacionados, ao que parece, com a marcação dos caixotes para exportação dos produtos que ali se produziam. O documento que dá conta dessa mesma entrega, elaborado pelo signatário, assinado por ele e pela técnica de antropologia cultural da Câmara Municipal de Portimão, é também aqui incluído de seguida. No que ao trabalho de acompanhamento arqueológico diz respeito, o mesmo foi levado a cabo de forma efectiva e presencial por parte do signatário, tendo o mesmo acompanhado

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e registado não só as demolições do conjunto do edificado, bem como todos os trabalhos que envolveram a alteração à topografia original da área de afectação, tendo essa acção sido levada a cabo, sempre, até ao substrato arqueologicamente estéril. Já em gabinete, a par da implantação georreferenciada das estruturas detectadas e da sua actualização no primeiro levantamento topográfico que se havia feito anteriormente à nossa intervenção, foi de igual modo tratado todo o material compulsado, tendo o mesmo sido convenientemente lavado, marcado, reetiquetado, reensacado, classificado e inventariado. O mesmo será entregue, para depósito definitivo, ao Museu de Portimão.

Figura 4 – Exemplos das Etiquetas que acompanham o material compulsado, bem como aquelas que se encontram a identificar os contentores onde o mesmo se encontra guardado. Importará referir, ainda neste ponto, que foi feita alguma pesquisa arquivística e documental no arquivo do Museu de Portimão. Desta acção, a qual envolveu única e exclusivamente a Dra. Paula Pereira, resultou a consulta de 3 obras fundamentais, indicadas na bibliografia consultada e às quais nos reportaremos, como aliás já atrás o fizemos, sempre que necessário for. As porções destas obras com maior interesse para o nosso trabalho foram, de forma hábil e rápida, registadas por intermédio de telemóvel, tendo o signatário tido acesso ao seu conteúdo em formato jpg.

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Dessa consulta prosseguida no arquivo do Museu de Portimão resultou ainda a digitalização de uma planta geral da fábrica Facho, Lda, documento que, segundo os próprios técnicos do arquivo municipal de Portimão, se crê datado de inícios dos anos 50 do século XX. O acesso a este documento, com todas as partes da fábrica perfeitamente identificadas, auxiliou-nos na própria contextualização da proveniência do material por nós compulsado, bem como no destrinçar das distintas alterações observadas a essa mesma planta. Não foram muitas, como veremos. A par do trabalho de pesquisa arquivística e documental aludido, tentámos de igual modo reunir um conjunto de referências bibliográficas específicas que não só nos auxiliassem sobre a própria contextualização histórica e arqueológica de Portimão, por um lado, assim como com a própria realidade ligada ao contexto de arqueologia industrial onde também trabalhámos. Procurámos, também, compilar alguma informação disponível relativa aos próprios materiais, sistemas e técnicas de construção tradicionais desta região. Resta-nos ainda referir que durante o decurso dos nossos trabalhos tivemos não só oportunidade de visitar a excelente exposição patente no próprio Museu de Portimão, apercebendo-nos de uma realidade e das suas dinâmicas que, até ali, nos eram praticamente desconhecidas, como nós próprios acabámos por ser alvo de visita por parte de uma antiga funcionária da fábrica Facho, Lda, tendo a mesma sido gentilmente acompanhada pela técnica de antropologia da Câmara Municipal de Portimão. Infelizmente, apesar das informações que a Dona Margarida Malha - residente em Portimão, nascida em 1937 e tendo iniciado a sua actividade com 14 anos naquela unidade industrial a dar lata vazia, no início – terem sido para nós extremamente importantes, tendo-nos permitido aferir com alguma segurança, por exemplo, o ano de encerramento definitivo daquela unidade industrial (1981(?), teria sido bem mais proveitoso a visita agendada com esta senhora logo ao início dos nossos trabalhos, numa fase anterior à demolição praticamente integral do que restava dos conjunto de edifícios ligados ao seu antigo espaço de trabalho. A mesma, como é natural, sentiu-se confusa no meio do vazio deixado pelas demolições.

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7. Os Resultados Obtidos 7.1. Considerações Gerais Sobre os Elementos Poupados à Destruição da Antiga Fábrica Facho, Lda. Não sabemos quem - tão pouco nos importa -, nem quando ao certo sucedeu o triste episódio da destruição quase total de um importante complexo industrial ligado à produção de conservas na cidade de Portimão. Um dos últimos, ao que parece. Em todo o caso, este episódio faz parte do próprio registo arqueológico do sítio e, como tal, nunca poderíamos deixar de lhe fazer menção. Em boa verdade, o nosso próprio trabalho, convenhamos, acaba por estar, em larga medida, condicionado por esta acção. Entenda-se que nos era pedido que fôssemos capazes do estabelecimento e caracterização das diferentes fases edificantes e cronológicas do conjunto de imóveis actualmente existentes no local, bem como à determinação dos seus componentes e técnicas construtivas (Aquisição de serviços de arqueologia: Caderno de Encargos, Museu de Portimão, p. 1). A consulta de alguma documentação digital na página da internet da Câmara Municipal de Portimão, ligada a aspectos da sua gestão urbanística, tendo estes vindo a ser servidos por um sistema de informação geográfica bastante eficaz, possibilitou-nos a recolha de algumas imagens que, por si, documentam parte da diacronia desta unidade industrial. É visível aí – Figura 5 – o desenrolar de alguns acontecimentos, desde logo a primeira destruição a que a mesma é sujeita pela construção de um bloco residencial a sul, a destruição massiva a que é sujeita posteriormente, e a imagem do espaço tal qual nós a fomos encontrar. O período de tempo das imagens medeia entre os anos de 2005 e 2010, pelo que, atendendo à veracidade das datas aí elencadas para os registos aéreos, a destruição maior a que a fábrica foi sujeita, já com o bloco residencial construído a sul, terá sido, muito provavelmente, entre 2007 e 2010. Veja-se a este propósito as imagens compostas que a seguir se apresentam.

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Figura 5 – Fotografias aéreas da área de implantação da fábrica Facho, Lda.. Evolução das parcelas de terreno em redor e da destruição a que foi sujeita entre os anos de 2005 e 2010.

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A destruição intencional foi cuidada, incidiu sobre as estruturas presentes sobre a área interna do complexo, salvaguardando algumas das construções ligadas ao próprio alçado principal da fábrica (voltado a este) de modo a que este não derruísse sobre a Estrada da Rocha. Achamos estranho a poupança levada a cabo por este acto selvático a algumas das construções menores presentes pela área referida, nomeadamente aquelas que dizem respeito ao conjunto de tanques afrontados por nós observados e levantados, tendo os “destruidores” optado por camuflá-los com os escombros que resultaram da destruição operada por aquela zona. A mesma, dada a dimensão conseguida, em toda a extensão da parte da fábrica onde trabalhámos, só pode ter sido executada por manobrador experimentado aos comandos de uma potente máquina giratória. Importa-nos neste ponto a caracterização da fábrica, tal qual como chegou até nós, não olvidando, pelas marcas deixadas, alguns dos seus episódios mais recentes, como é o caso. Atendendo ao que pudemos observar importa ainda referir o seguinte. Previamente ao episódio de destruição a que atrás nos reportámos, parte das estruturas da antiga fábrica Facho Lda, haviam já sido mutiladas sobre a extremidade sul da área que nos ocupou, tendo alguns dos compartimentos que ali se localizavam sido completamente aterrados com entulhos ligados à construção civil. Parece-nos legítimo pensar que a edificação do complexo habitacional localizado imediatamente sobre essa extremidade foi o factor responsável pelo sucedido. Tendo em conta o exposto, reforça-se a ideia de que apenas trabalhámos sobre uma parte do primitivo complexo industrial, a central, digamos assim. A norte tivemos por limites o próprio muro delimitatório do complexo industrial, em taipa, bem como o alçado voltado ao mesmo ponto cardeal do “Armazém de Cheio”. Nessa extremidade, faltava-nos, como limites reais, o que na planta geral de 1950(?) aparece referenciado como Passagem de Serviço, espaço também hoje ocupado por uma construção recente. No que diz respeito à extremidade sul – devendo ter-se como indicação sobre os nossos limites nesta parte o referenciado na planta aludida como Central Eléctrica Privativa, o Armazém de Vazio imediatamente a oeste, bem como o prolongamento de outros muros ligados a outras construções que sobre esse lado existiriam – parte do complexo fabril acabou por ser subtraído por completo – Ou quase! Terá ficado parte da fachada – pelo prédio residencial mais recente. O limite da parcela de terreno onde trabalhámos, embora

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a escavação, tendo em conta o projecto não se estendesse até aí, confina com o muro delimitatório do complexo residencial referido. Veja-se a planta de 1950(?), em associação com aquela conseguida por nós, e conseguirá perfeitamente visualizar-se o que atrás intentámos dizer. Antes de avançarmos, gostaríamos que se tivesse bem presente que, tendo em conta a planta geral referida, a antiga e que a seguir se apresenta, que não foram muitas as alterações que desta se evidenciaram, como aliás pensamos já o ter dito algures atrás. Reforça-se esta ideia servindo

esta

referência

gráfica/documental

como

a

própria

base

das

descrições/observações que procuraremos fazer. Refira-se que a própria contextualização do material compulsado foi feita tendo as referências aos distintos espaços neste elemento bem presentes. Ainda assim, na mesma não se encontram assinalados as diferentes técnicas construtivas, ou outros pormenores que, podendo parecer de somenos importância, não o são no que à compreensão geral do espaço edificado diz respeito. Em todo o caso, e tendo em conta o que atrás referimos, todas as nossas observações foram conseguidas tendo como pano de fundo uma realidade amplamente segmentada, mutilada.

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Figura 6 – Planta geral da fábrica Facho, Lda. (1950(?) – em cima - e recorte grosseiro, numerado e legendado, efectuado sobre a mesma, procurando dar-se destaque à porção da unidade industrial que intervencionámos.

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Figura 7 – Croquis interpretativo da porção em que trabalhámos da fábrica Facho, Lda., tendo por base a planta geral de (1950(?) e as nossas observações no terreno. 7.1.1. Os Espaços e as Construções. Confrontação do Edificado Preservado e a Planta de 1950(?). Manutenção e Alterações. A planta geral da Fábrica Facho, lda, supostamente datada de 1950, pertença do acervo documental do Museu de Portimão, constitui, pelo seu rigor, um documento da maior importância. Acreditamos que seja anterior à data apontada pelos técnicos do arquivo do Museu de Portimão, devendo ser entendida como o elemento mais fidedigno da remodelação que esta unidade industrial sofreu após um episódio de incêndio por que terá passado, tendo em consideração documentação a que tivemos acesso desta – um relatório de 1931 -, na década de 1930 do século XX . Da sua análise, em confrontação com o nosso próprio registo, denotam-se escassas alterações aos espaços funcionais ligados com a porção da unidade industrial que intervencionámos.

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Figura 8 – Fábrica Facho, Lda.. O espaço e as estruturas que o compunham ao início dos nossos trabalhos. (As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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Ainda assim, e tendo presente o registo arqueológico, são de relevar algumas alterações sobre os espaços ali identificados, constando-se diferenças à localização original de algumas das suas dependências, comprovando-se de igual modo a ampliação da sua área edificada, bem como se verificou a materialização de algumas estruturas que nessa planta, curiosamente ou não, se encontram omissas. Por outro lado, observámos, de também, a remodelação pontual de algumas salas, nomeadamente pelo encerramento de antigos vãos deixados, e na planta aludida bem representados em alguns dos seus alçados. De uma forma simples, o mais objectiva e clara possível, intentaremos abordar, por confrontação, tanto quanto possível e na órbita do que é exigido, todas as alterações evidenciadas a partir desse registo gráfico antigo e dos elementos preservados que, dessa grafia, chegaram até nós. Salienta-se, uma vez mais, que são mais semelhanças do que as diferenças identificadas. Antes de avançarmos, importará ainda referir que nada sabemos em relação a eventuais pisos superiores existentes, tendo a destruição do edificado sido de tal ordem que apenas se reconhecem os limites, e em alguns casos apenas o esboço desses limites, da planta da fábrica Facho, lda, ao nível do rés-do-chão. Ainda assim, possança de alguns alicerces identificados (ML1) sugerem a presença de corpos a um níveis superiores. Atendendo uma vez mais à planta aludida, e às indicações nela constantes, é de referir que a parcela de terreno sobre a qual trabalhámos, independentemente da realidade mutilada a que já nos referimos, comportará a quase totalidade das partes ligadas à produção e armazenagem dos produtos conserveiros aqui produzidos, pelo que nos será possível, mais adiante, avançar com uma reconstituição do movimento fabril produtivo desta antiga unidade industrial de Portimão. De norte para sul. O corredor largo, com a dimensão suficiente para não só deixar entrar o enxame de trabalhadores – embora não se tratasse, ao que apurámos de uma entrada rígida nesse sentido –, como os próprios veículos carregados com o peixe fresco e, no final do processo, do próprio produto acabado, identificado na planta de 1950(?) como Passagem de Serviço, foi há algum tempo subtraído por uma construção que sobre parte dele se estabeleceu, ficando fora dos limites da parcela de terreno onde trabalhámos.

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Figura 9 – Fábrica Facho, Lda.. O espaço e as estruturas que o compunham. Armazém do Vazio – nº 1 . (As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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Este faz parte dos espaços da fábrica a que nos referimos como mutilados, tal como aconteceu na extremidade oposta, como já referimos. Dessa entrada de serviço, que em boa parte aproveitava o muro em taipa de delimitação a norte da própria fábrica, constituindo-se sobre este como uma espécie de excrescência, não nos admirando que faça parte de uma construção ligada à aquisição de terrenos numa fase posterior à década apontada para o início de actividade desta unidade industrial – década de 20 do século XX – restou o vão do acesso ao interior da fábrica, emparedado com blocos de cimento. A partir dessa passagem era possível aos veículos carregados atingir o ponto principal de descarga do peixe fresco, mais a norte, junto à bateria de 14 tanques, onde este seria lavado (e sêco), que se adossaram ao muro delimitatório a oeste. Contornava-se o conjunto de edifícios por um corredor de circulação bem delineado e sem estruturas associadas, a não ser os próprios elementos que o denunciavam enquanto tal – nalguns pontos eram ainda notórios troços com paralelepípedos. De um modo geral, e ainda que tenha havido lugar a uma destruição cuidada e intencional de grande parte das construções remanescentes desta antiga unidade industrial, reforçamos uma vez mais a ideia de que não foram evidenciadas grandes diferenças em relação ao que se encontra documentado na planta geral de 1950(?), atendendo, claro está, à área da correspondência desta onde trabalhámos. Embora o grau de destruição tenha sido elevado, constatámos, por exemplo, que as instalações sanitárias que se encontravam junto a edifício com correspondência ao Departamento de Sal – nº 4 -, imediatamente a norte deste, também elas muito destruídas, aí se mantiveram. Aventa-se a possibilidade de, mais tarde, outras se terem construído junto da casa das caldeiras, mantendo, ao que nos foi dado a entender, aí os mesmos 4 sanitários presentes nas outras instalações, essas sim assinaladas na planta a que nos referimos. Por certo, como nos próprios refeitórios acontecia, se encontrariam separadas por género.

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Figura 10 – Fábrica Facho, Lda.. O espaço e as estruturas que o compunham. (As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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Não se encontrando inclusos na planta de 1950(?), são o conjunto de tanques afrontados localizados na sala imediatamente a sul da casa das caldeiras. Este pormenor deve com certeza relacionar-se com o seu estabeleciemento naquele espaço (vide planta geral actualizada do complexo) destas estruturas em momento posterior ao da feitura daquele registo gráfico, associando-se, muito provavelmente, a sua constituição a um momento de maior actividade produtiva. A este propósito não será de destacar, por outro lado, que a bateria de 9 tanques (provavelmente seriam 11, embora 2 se encontrem camuflados pelo espaço ocupado pelos “escritórios” da fábrica”, localizados junto ao alçado este da sala de “Azeitamento, Enlatamento e Eviscerção” – nº 7 -, não foram identificados por nós. Levantamos a hipótese destes terem sido substituídos, pela razão aventada, pela bateria de tanques afrontados. Em ambos os casos, os tanques encontram-se confinados a salas revestidas a mosaicos, que, ainda que no caso do conjunto de 9/11(?) estes já não se encontrassem presentes na mesma, foram mantidos quer os azulejos brancos, de 15x15, quer o rodapé no mesmo material e com perfil ligeiramente côncavo, facilitando assim a limpeza da sala pela não acumulação de resíduos junto à base sem a terminação de perfil a 90º. Os próprios tanques, por esse mesmo motivo – medidas sanitárias - quer os seus limites internos, quer a sua base, apresentam-se, sempre, ligeiramente inclinados e com os cantos arredondados. O conjunto de 32 tanques afrontados (T3), todos numerados, à semelhança da bateria de 14 elementos similares adossados ao muro periférido da fábrica, a oeste, embora aí com a numeração a ser feita por numeração impressa a stencil de tinta preta no muro aludido, apresentam uma configuração quadrangular, tendo entre 0,79 e 0, 80 m de lado. A altura, regular, é de 0, 77.5 m. O interior do tanque apresenta 0, 65 m de altura. Os mesmos eram servidos por um conjunto de torneiras, ligadas a uma tubagem metálica que corria no interior do murete, mais elevado, de união entre as duas composições de tanques. A bateria de 14 tanques (T2), a que atrás já nos referimos, e que por certo se ligará à salga de peixe – lingueirão – adossado ao muro delimitatório da fábrica a oeste, apresentam medidas regulares em torno dos 1, 16 m de comprimento, por 0, 91 m de largura, e 0, 78 m de altura. Não há torneiras associadas a estes tanques. Existe sim, de igual modo e à bateria aludida, um sistema de escoamento na base, proporcionado por um orifício que, ligado a um sistema de frustes condutas, escoava o líquido aí armazenado por algum

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tempo. Acreditamos que a alimentação destes taques fosse feita por uma fonte, também com tanque associada, localizada a escassos metros, para norte, a partir do tanque nº14, o último da bateria com este número voltado a esse ponto cardeal. O tanque isolado, munido de fonte de alimentação, ao contrário da bateria de 14 imediatamente a sul, foi-lhe dada, nos nossos registos, a identificação T1. Apresenta-se, tal como os seus congéneres a sul, como uma constução em tijolo, revestida por cimento. No que toca às suas dimensões, apresenta um comprimento de 1, 31 m, uma largura de 0, 74 m e uma altura de 0, 62 m. Um dos contrastes maiores da realidade que encontrámos e do elemento que nos serviu de comparação, trata-se não só de um conjunto de vãos emparedados que foram por nós identificados, encerramentos que se deram certamente após 1950(?), bem como da abertura que se criou, com escada de acesso, a um novo compartimento. Este “novo” compartimento, que não se encontra registado na planta de 1950(?), cujo acesso foi criado por vão aberto no alçado oeste do “Armazém do Vazio” – nº 9 -, acedendo-se ao novo espaço, de configuração rectangular que se acabou por adossar ao compartimento pré-existente identificado na planta antiga como “Estiva” – nº 10 -, onde, não será demais referi-lo, foram encontrados a totalidade dos “pesos de barricas” por nós identificados. Não sabemos, em boa verdade, para que finalidade serviria este novo compartimento no complexo industrial. O mesmo foi encontrado completamente aterrado, com a extensão do aterro ligado à construção do complexo residencial na extremidade sul da porção da fábrica onde trabalhámos, a atingir a bateria de tanques localizados sobre os limites oeste da fábrica, cobrindo, como se deve entender, todo o espaço com correspondência à antiga “Estiva” – nº 10. Desconhecemos, de igual modo, os motivos que levaram ao encerramento de uma das janelas presentes no alçado este da “Central Eléctrica Privativa” – nº 8 -, podendo-se facilmente, ainda que a alvenaria se encontrasse rebocada, observar os contornos do seu vão primitivo, voltado à estrada da praia da Rocha. Em boa medida tudo, ou quase tudo, parece ter-se mantido como registado na planta geral de 1950(?), não devendo os espaços funcionais ter tido, de igual modo, uma alteração substancial daquela que ali foi registada.

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Figura 11 – Fábrica Facho, Lda.. Composição com os diversos tanques identificados (As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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7.1.2. As Técnicas Construtivas e os Elementos A terra apisoada é um dos elementos preponderantes na construção dos vários componentes da fábrica Facho, lda. Disponível em abundância, essa terra argilosa, e as construções em taipa que proporcionou, não sem o uso na sua composição de outros elementos, cal, pequenos seixos, alguma cerâmica triturada, permitiu uma elevação rápida e por certo pouco dispendiosa de uma boa parte daquele complexo industrial. Ainda assim, a construção em terra é, tal como em outros contextos, mais ou menos antigos, indissociável da própria construção em alvenaria que, também aqui, lhe serviu de base. Nalguns casos, e atendendo à própria topografia, essa base de alvenaria, ordinária, cujos elementos calcários são bem mantidos por ligante de cal, essa base aparece-nos escalonada. Mais alta nos pontos de cota superior, a sul, descendo em degraus mais ou menos regulares, em direcção à extremidade oposta. Esta realidade foi verificável, sobretudo, no muro delimitatório do complexo industrial a oeste, aí, onde a construção em terra, criando um lindíssmo efeito visual, se manteve livre de qualquer revestimento. Neste contexto preciso, tal como noutros associados à arquitectura vernacular com outros fins, a alvenaria evitaria o contacto directo da taipa com o solo, dificultando a degradação do material em terra pela subida das águas por capilaridade (Costa, 2008, p. 71). Nas porções visíveis do muro delimitatório aludido verificámos que os caixotões usados – taipais de madeira - teriam uma dimensão de 1, 72 m de comprimento, por 0, 50 m de altura, atingindo a largura do muro uma regularidade em torno dos 0, 55 m. Os batimentos internos da terra no interior dos mesmos, conjugando-se as linhas de batimento com camadas finas de terra e cal, denotam espessuras do material usado em torno dos 0, 03 m e 0, 06 m. Não raras vezes o coroamento do muro apresenta um recobrimento convexo onde foi já usado o que nos pareceu ser cimento. Os orifícios do varão metálico de união dos taipais, que se estabeleciam, num primeiro momento sobre a base de pedra, também se encontra perfeitamente registado, observando-se perfeitamente nos cantos superiores esquerdos, como aliás as fotografias que se apresentam bem documentam.

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Figura 12 – Fábrica Facho, Lda.. Pormenores construtivos (As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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Salvo situações muito excepcionais, como no caso de parte do espaço conotado com a “Central Eléctrica Privativa” – nº 8 - , ou o alçado voltado a norte do “Armazém de Cheio” – nº 1 -, na extremidade voltada ao mesmo ponto da planta geral, a construção plena em alvenaria parece ter-se verificado. Plena apenas em parte, tendo em conta que, ainda assim, e ainda que os elementos pétreos sejam em maior número nessa alvenaria ordinária constituída por blocos de calcário irregulares, os construtores empregaram de igual modo outro tipo de materiais, nomeadamente materiais de construção – tijolos de burro, sobretudo, nalguns casos com dupla perfuração longitudinal – na sua elevação. A situação relatada no parágrafo anterior parece, em certa medida, documentar o que poderão ser fases distintas de construção, podendo, inclusivamente, a fábrica Facho ter-se apropriado, a dada altura, de parte de um imóvel pré-existente. Neste caso aventado, ligado ao Armazém de Cheio – nº 1 -, num momento possivelmente anterior ao da constituição da Central Eléctrica Privativa. A relação estratigráfica entre as várias construções nem sempre foi possível aferir com o máximo rigor. As condicionantes impostas ao nosso trabalho, nomeadamente o tempo necessário à sua execução, tendo em conta a entrada da equipa de arqueologia em obra ombreada pelos restantes subempreiteiros, não permitiram que os rebocos tivessem sido picados. Esta situação levou, como deve ser clarificado, a certas limitações no registo. Ainda assim, julgamos que a sequência construtiva que se procurará documentar em ponto próprio, tendo por base outras observações e a análise de documentação distinta, não se julgará muito diferente do que realmente terá acontecido em relação à diacronia da porção da unidade industrial que tratámos. Se nos muros delimitatórios da fábrica é notória apenas a utilização de uma alvenaria ordinária na base, tal não se verificou nos restantes alçados constituídos, na sua maioria, em terra. Em resumo, a par de um embasamento pétreo, sendo esta situação perfeitamente notória no edifício que funcionou como imagem da fábrica em anúncios publicitários, onde a encimar a sua fachada se podia ler o nome e algumas características desta unidade industrial – mecânica – verificou-se a utilização de uma alvenaria mista na própria cimalha. Dali no caso concreto referido, foi ainda subida a fachada por intermédio de uma platibanda. Os vãos das janelas, neste caso concreto, por mais visível,

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foram também reforçados por intermédio dessa alvenaria mista, conjungando-se a pedra, de igual modo, ainda que em número sempre muito menor, com alguns materiais de construção reaproveitados.

Figura 13– Cartaz publicitário da fábrica Facho, Lda. Segundo as informações constantes na página do facebook do Museu de Portimão, de onde foi retirado, é datado de 1937.

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O recurso à utilização do tijolo como elemento construtivo por excelência não foi observado, apenas, na elevação das construções associadas à Casa das Caldeiras. Ainda que constrangidos pelo que atrás referimos, observámos a utilização sistemática destes elementos nalgumas construções associadas à própria Central Eléctrica Privativa, noemadamente nos muretes que a delimitam a oeste, e que ladeiam o corredor de circulação que ultrapassado daria acesso ao Armazém de Vazio, muretes esses associados a janelas rectangulares amplas sobre arcaria de volta perfeita, bem como no próprio alçado do armazém aludido voltado a este, o outro lado do corredor. Foram por nós ainda observados o que nos parecem tratar-se de 3 arcos de descarga, presentes no alçado voltado a oeste do Armazém do Vazio – nº 9 (vide Figura 12). Os mesmos, interpostos por parede de alvenaria, estarão ligados à sustentação da carga a que aquele alçado estaria sujeito pela diferença topográfica entre o terreno natural, no exterior, e a cota de utilização deste compartimento. Posteriormente foi aberta uma passagem neste espaço, dando esta acesso, por intermédio de um lanço de escadas, a um novo compartimento que se estabeleceu a sul da Estiva – nº10. Esse vão de acesso parece ter sido conseguido pela mutilação de um dos arcos de descarga.Por outro lado, há evidências declaradas da utilização de alvenaria vazada, não em construções em altura, mas em muros de fundação extremamente possantes (ML.1). Esta situação foi apenas por nós observada numa construção, em negativo, à qual se sobrepunha imediatamente o piso de cimento a este da Casa das Caldeiras, à mesma cota deste, muro esse que adossava a norte ao alicerce em alvenaria do muro de taipa que se desenvolvia para este a partir dos seus limites delimitadores do alçado voltado a norte da Casa das Caldeiras, desenvolvendo-se em paralelo a uma cisterna menor, a oeste, e perpendicular à cisterna maior, a norte, adossando-se esta à face oposta do embasamento em alvenaria do muro de taipa referido. As plantas ajudarão ao entendimento, caso se ache confuso o discurso.

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Figura 14– Pormenores de elementos e técnicas construtivos, portas e janelas. As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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O muro possante, em alvenaria vazada, cuja destruição teve de ser feita por intermédio de meios mecânicos pesados – martelo pneumático, “pica pau”, acoplado ao braço de uma máquina giratória -, com 6, 10 m de comprimento, por 2, 66 m de largura, e 1, 50 m de altura, cravado na terra argilosa e com a base no topo do substrato rochoso, terá servido como suporte a um corpo que se desenvolvia em altura e que, infelizmente, não encontrámos no nosso registo. A extremidade sul deste muro encontra-se perfeitamente alinhada com o poço de recorte circular, escavado na rocha, identificado naquela área. A pequena abóbada de berço da cobertura dessa estrutura em negativo utilizou, também, fica já aqui esse apontamento, tijolos de burro. Existe todo um conjunto de construções que, inclusivamente, já utilizam o betão armado. Esse elemento, muito bem afagado, foi utilizado no revestimento das duas cisternas que ladeavam, a este, a Casa das Caldeiras. O cimento foi, de igual modo, o piso por excelência da maioria dos espaços de utilização e circulação da fábrica Facho, Lda, não só ao nível dos pisos dos compartimentos internos como nalgumas construções localizadas em zonas a céu aberto, nomeadamente algumas estruturas em rampa. Em boa verdade, os únicos espaços onde o piso de cimento não foi utilizado foram, tão só, a pequena sala que dava acesso à boca do poço, onde aí foram identificados a base do que terá sido um pequeno motor para extracção de água, junto ao rebordo este do mesmo, bem como no Armazém de Vazio – nº 1. Em ambos os casos, o piso era constituído por ladrilhos – 30x15 – comumente conhecidos pelos populares como tijoleiras de Santa Catarina (Fonte do Bispo). No caso do piso no Armazém de Vazio, não tendo as da pequena sala do poço sido levantadas, estes eram assentes sobre um fina camada de terra argilosa, directamente sobreposta ao topo do substrato de base. A espessura destes elementos não ultrapassa os 2 cm. No que diz respeito à cobertura dos edifícios, onde o travejamento era feito nos telhados de duas águas por elementos de madeira, esta foi feita por intermédio de telha moderna – telha ibérica sem rival – produzida pela Companhia Cerâmica Luzitania (Lisboa), não se tendo observado qualquer outro tipo no registo arqueológico.

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Figura 15– Pormenores do poço e elementos associados. As legendas encontrar-se-ão desenvolvidas em ponto próprio).

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No que aos revestimentos diz respeito (vide Figura 12), não foram evidenciadas alterações ao nível da técnica e dos materiais empregues, observando-se o recurso sistemático da cal aérea, apresentando-se, sempre, quer as aplicações directamente sobre alvenaria quer as que se sobrepunham às paredes de taipa, caiadas. Aqui, também a técnica de execução parece ter sido a de multi-camada – salpisco, encasque, emboço e barramento, apresentando-se – como se documenta nos nossos registos fotográficos – as primeiras camadas mais espessas. A cor branca foi a usada preferencialmente. Os revestimentos cerâmicos das paredes foram observados em salas específicas, ligadas aos espaços onde o peixe seria convenientemente preparado para depois ser embalado e expedido. Todos os azulejos, de cor branca, identificados na sala de tanques afrontados, revestindo-os e no ângulo nordeste da sala de Enlatamento, Azeitamento e Evisceração – nº 7 – onde aí se localizava de igual modo uma bateria de tanques entretanto desaparecida, eram quadrados, detendo 15 cm de lado. Na sala de tanques afrontados, o revestimento cerâmico fez-se com ladrilhos rectangulares, de 15x30 cm, quebrados por um friso azul indigo. Ao nível das caixilharias (vide Figura 14) foram observadas janelas de madeira de duas folhas, nalguns casos, como o da fachada principal da fábrica, que contava com 9 janelas, as mesmas apresentavam-se engradadas, com bandeira no topo, sendo ainda protegidas, pelo exterior, por uma rede metálica. Neste caso concreto, o vão das janelas atinge os 1, 32 m, por uma altura de 2, 12 m, observando-se perfis ligeiramente reentrantes. Ao nível das portas deu-se igualmente preferência pelos elementos de duas folhas, variando a sua dimensão de acordo com a zona da fábrica onde se localizam. Aquelas voltadas ao exterior assumem vãos consideráveis, na ordem dos 2,30 m de largura, por 3, 50 m de altura, como se verificou, por exemplo, no acesso ao Armazém de Vazio – nº 1. Aqui, o alçado, de alvenaria ordinária, assume uma espessura em torno dos 0, 55 m.

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Figura 16– - Extremidade sul da área intervencionada. Figura X – Mesas/tabuleiro e contentores. Localização inicial e espaço de guarda em obra. Por toda a área intervencionada, embora não nos tenha sido possível incluí-los em planta pela dimensão e fragilidade destas estruturas, tendo em conta os meios mecânicos que acompanhámos neste processo, foram identificados troços de condutas. As mesmas ligam-se a sistemas de abastecimento e escoamento de águas, ora ligadas à Casa das

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Caldeiras ora ligada ao complexo de tanques por nós registados. As mesmas, sem apresentarem variações, foram construídas mediante escavação no substrato brando de base, ligando-se ao interface criado paredes laterais construídas, sobretudo, por intermédio de tijoleiras (tijolo de burro). O canal de escoamento interno, de perfil em U, foi conseguido mediante a utilização de cimento. O capeamento destas pequenas condutas, cujos alinhamentos apontavam para o Arade, era feito por intermédio de blocos de calcário tendencialmente achatados. Estas condutas apresentam, na sua essência, medidas regulares, em torno dos 0, 30 m de largura, por 0, 25 m de altura (medidas internas).

8. A Cultura Material Abordaremos neste ponto os aspectos relacionados com os materiais identificados no decurso dos trabalhos de Acompanhamento Arqueológico levados a cabo no Júpiter Marina Hotel. Uma boa parte destes elementos, que na sua maioria se reportam a materiais ligados à própria construção das distintas partes da unidade industrial, foram exumados por mera amostragem, tal como definido no respectivo caderno de encargos relacionado com este processo. Outros conjuntos de materiais, desta feita ligados às lides do processo de produção e armazenagem da mesma unidade industrial foram recolhidos na totalidade. Por não constituirem elementos de significativa importância patrimonial, e atendendo ao seu mau estado de preservação, outros foram meramente identificados e convenientemente registados, tendo sido, por acordo entre as várias partes, posteriormente descartados.

8.1. A Cerâmica Comum Do conjunto que se apresenta, apenas um fragmento se poderá considerar como “material arqueológico”, reportando-se o mesmo a um fragmento de vasilhame cerâmico – 013: porção de bordo ligeiramente reentrante, lábio recto, colo curto e cilíndrico de onde arranca uma asa de fita de secção ovóide com sulco longitudinal central - que se poderá inserir, muito possivelmente, em produções locais e/ou regionais de cerâmica comum. Pelo perfil revelado pelo fragmento - de pastas duras, bem depuradas, e de cor castanho claro (núcleo rosado, denotando má cozedura da pasta de origem calcária) – julga-se que

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o mesmo poderá conotar-se com um pequeno contentor de líquidos (bilha/cântaro) de cronologia recente (Época Moderna ou mesmo Época Contemporânea). Julgamos que não se poderá confundir o fragmento aludido, cujo registo fotográfico se apresenta de seguida, com quaisquer produções cerâmicas do período romano, muito embora, em abono da verdade, assim o tivessemos pensado inicialmente. O mesmo foi recuperado num nível de entulho localizado sobre o piso de cimento do espaço 3 – “Secção de Lavagem”, imediatamente a NE da “Casa das Caldeiras”. A superfície do fragmento aparenta apresentar salpicos de cal(?) o que, e se assim for, poderia eventualmente encontrar-se relacionado o fragmento com os próprios utensílios usados na manutenção dos revestimentos das paredes da fábrica Facho. É uma hipótese.

Figura 17 – Fragmento de cerâmica comum, o único identificado. Correspospondência a porção de bordo, recto colo cilindrico e curto, ligeiramente reentrante e asa de fita com sulco longitudinal.

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8.2. A Cerâmica de Construção Julgamos credível que uma boa parte dos materiais de construção tenham origem nas produções da antiga Companhia das Fábrica de Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L, sociedade constituída em 1920, na cidade de Lisboa, sobre um legado mais antigo ligado à produção de cerâmica industrial. A mesma sociedade haveria ainda de conquistar um maior mercado pela compra de outras unidades industriais do norte e centro do país. Laborou, ao que conseguimos apurar, até finais dos anos 70 do século XX.

Figura 18 – Publiciadade alusiva à fábrica de cer|amica Luzitania. http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/11/companhia-das-fabricas-de-ceramica.html

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Figura 19 – Pormenor de alguns dos materiais de construção presentes na fábrica Facho, lda.

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Não só se poderão associar facilmente os elementos da cobertura dos edifícios da Fábrica Facho (015), Lda, com a aludida sociedade produtora de cerâmica de construção, bem como alguns dos tijolos que também esta comportava (021) – perfeitamente identificados pelas respectivas marcas de oleiro – como muito provavelmente poderão ter tido a mesma origem as cerrâmicas vidrados (005/007/009/012) usadas nos revestimentos de algumas das paredes da conserveira de Portimão. Pelo menos um fragmento de ladrilho sugere que outras salas usariam no chão, como revestimento do piso de circulação e para além do próprio cimento que se estendia a praticamente todos os restantes espaços, este género de elementos. Este género de materiais encontram-se de igual modo patentes nos catálogos da fábrica de cerâmica de construção aludida.

Figura 20 – Pormenor de uma das folhas de um catálogo relativo a revestimentos cerâmicos produzidos na fábrica de cerâmica Lusitânia.

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A cor e as dimensões das molduras (azul indigo/0,15x0,06 m), usadas como friso na sala dos tanques afrontados, localizada imediatamente a sul das Caldeiras e tendo na planta de 1950(?) este espaço a indicação de Movimento fabril – aí sem os tanques representados -, parecem também corroborar a hipótese que se levanta sobre a importação de um lote de materiais de construção significativos, tendo como origem o mesmo centro de produção. Os próprios tijolos usados na construção da Casa das Caldeiras dão conta disso mesmo. Os fragmentos de telha identificados, mormente aqueles que permaneceram in situ, sugerem que a cobertura da totalidade dos edifícios que a fábrica Facho, Lda comportava foi feita por intermédio do modelo conhecido por Telha Ibérica (Sem Rival). A pouca expressividade destes elementos nos níveis associados à destruição a que a fábrica Facho, Lda, foi sujeita, leva-nos a equacionar a possibilidade dos mesmos terem sido subtraídos, para serem reutilizados noutros contextos, antes da acção de destruição ter tido lugar.

8.3. Os Pesos de Barricas Dentro do conjunto de materiais que se poderão associar às lides diárias de produção e armazenagem da produção da antiga fábrica conserveira, encontram-se um número apreciável de Pesos de Barricas. A totalidade – 64 elementos – foram recuperados no desaterro do Espaço 10 – Estiva (vide planta de 1950(?). Estes pesos de calcário, de formato cilíndrico ou troncocónico, em menor número, destinavam-se a servir de pesos sobre as tampas colocadas nas barricas onde o Biqueirão, depois de lhe ser retirada a cabeça (descarapuçado), era salgado por camadas. O peixe ficava armazenado no interior das barricas até estar completamente curtido, o que poderia demorar alguns meses. Só findo este processo era depois enlatado. Estas peças, algumas bastante toscas, apresentam sempre entalhes laterais. Os mesmos serviriam, assim achamos, para que fosse mais fácil o seu manuseamento. As imagens que a seguir se apresentam pretendem dar conta da forma como eram ultilizados, tendo a primeira sido conseguida no próprio Museu de Portimão, bem como das tipologias associadas a estes elementos e presentes na Fábrica Facho, Lda. Dois destes elementos, de um total de 24, e de acordo com a tipologia que se apresenta tendo por correpondência o Tipo I aos elementos cilíndricos e o Tipo II às peças troncocónicas -, foram entregues para depósito definitivo ao Museu de Portimão.

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Figura 21 – Barricas e respectivos pesos presentes na exposição do Museu de Portimão.

Figura 22 – Tipologia dos 2 pesos de barricas identificados na fábrica Facho, Lda.

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8.4. Os Marcadores (Stencils) Foi por nós dada a designação de Marcadores a um conjunto de objectos feitos a partir de finas folhas de zinco, legendadas, que serviriam, muito possivelmente, para identificarem o produto guardado nas caixas de envio, a proveniência ou o destino de exportação dos bens produzidos na fábrica conserveira. De um total de 17 elementos do género, variando ligeiramente as dimensões de cada um, 15 encontravam-se em excelente estado de conservação, apresentando-se apenas 2 com a folha de metal bastante retorcida, não podendo, por isso mesmo, ler a indicação do que supostamente haveriam de marcar. Todos estes elementos, cujas fotografias se apresentam numa pasta autónoma no conjunto de ficheiros digitais, foram recolhidos no Espaço 2 – Estiva -, tendo em conta a designação deste compartimento na planta de 1950(?).

Figura 23 – Representação gráfica de um dos 17 Marcadores (Stencil-Mt.1) recolhidos na Fábrica Facho, Lda.

De modo a que se tenha presente as legendas associadas a estes elementos, apresentamos de seguida um quadro com as mesmas, tendo por referência, apenas, aquelas que conseguimos perfeitamente destrinçar (faltam 2). Os caracteres recortados na folha de zinco apresentam apenas ligeiras variações, ambas dentro do mesmo tipo de fonte: Stencil. A máquina que os terá produzido trata-se, tendo por base as anotações a um relatório de 1931 relativo à fábrica Facho, Lda, atendendo à



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maquinaria que a mesma teria entre as décadas de 30 e 40 do século XX – relatório esse que se anexa à informação digital – de uma prensa eléctrica para marcar caixas de madeira. Infelizmente, e ainda que tenhamos no currículo a cadeira de Paleografia e Diplomática, não nos foi possível aferir, convenientemente o nome do modelo da dita prensa.

Figura 24 – Composição com alguns dos marcadores exumados na fábrica Facho, Lda. Quadro 1 –

Legendas associadas a 15 Marcadores da Fábrica Facho, Lda. –

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4/4 80 M/N

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8.5. Os Contentores e as Mesas/Tabuleiro de Trabalho Arrumados no compartimento identificado na planta de 1950(?) como Armazém de Vazio – Espaço 9 –, na extremidade sul da área por nós intervencionada deste complexo industrial, foram identificados e registados um conjunto de 7 mesas de trabalho, bem como 2 contentores de madeira. Sem excepção, todas estas peças indiciavam a sua utilização em tarefas de azeitamento, encontrando-se as superfícies das mesmas impregnadas por resquícios desta matéria gordurosa, presença denunciada pelo próprio cheiro característico do azeite. Quer as mesas/tabuleiro, quer os dois contentores, utilizam, a par de elementos de madeira, folhas metálicas. No primeiro caso revestindo o interior dos “tabuleiros”, no segundo o interior dos contentores. Na junção de algumas das partes em madeira foram de igual modo usados elementos metálicos como elementos de reforço estrutural. Em boa verdade, e atendendo à planta aludida, facilmente se comprova a proximidade destes materiais com a sala – Espaço 7 – identificada com a legenda: Azeitamento/Enlatamento/e Evisceração, imediatamente a norte do espaço onde foram arrumados e com vão comunicante entre os dois. Nenhum destes elementos, por se encontrarem em muito mau estado de preservação, foi recuperado, tendo feito parte do material, tal como a maioria dos pesos de barricas – com a anuência de todos os intervenientes - por nós descartado. Quer as mesas quer os contentores enquadram-se por dois tipos distintos. No caso dos contentores por uma mera distinção entre a sua capacidade de armazenagem, contrariamente ao conjunto de mesas que apresentam, dentro dos dois tipos, claras diferenças. A sua relação com uma actividade específica que envolvesse a utilização de azeite parece-nos, pelo que já referimos, mais do que óbvia. No processo, após as devidas limpezas, o peixe era enlatado, passando para as mesas de azeitamento onde as latas eram cheias com o azeite. Após esta operação, as latas eram “cravadas”, fechadas de forma hermética por intermédio de um conjunto de máquinas semiautomáticas conhecidas por “Cravadeiras”.

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Figura 25 – Mesas/tabuleiro e contentores. Localização inicial e espaço de guarda em obra. (Veja-se as legendas desenvolvidas em ponto próprio deste relatório).

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Em área próxima onde identificámos o conjunto de materiais aqui tratados fomos encontrar, precisamente, um grupo de 4 bases de calcário (P1 a P4) que tinham como finalidade a recolha do excesso de azeite produzido durante o fecho (cravagem) das latas de azeite pelas cravadeiras semiautomáticas, máquinas que a estas se acoplavam e que se encontravam dispostas, alinhadas, na extremidade sul do Espaço 7 – sala onde se procedia ao Azeitamento/Enlatamento/e Evisceração. Acreditamos que as mesas maiores (5), rectangulares, sejam efectivamente mesas de enlatamento manual, mesmo pelas características que apresentam - canal central e tubo escorredor -, sendo que as mesas de dimensões mais reduzidas (2), de formato quadrado, podem ligar-se à própria operação de selagem hermética das latas de sardinha, sendo os elementos mais próximos das máquinas que as selavam. Veja-se a este propósito a imagem que se apresenta infra.

Figura 26 – Processo de selagem hermética das latas de conserva. Utilização de mesa de apoio no processo. Imagem retirada do blogue: http://canthecanlisboa.com/a-industriaconserveira-em-vila-real-de-santo-antonio-2/

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Dimensões das mesas/tabuleiro e contentores: Mesa Rectangular: 2,60 m (comp.); 0,67 m (larg.); 0,55 m (alt.); 0,06 m (alt.tabuleiro), Mesa Quadrangular: 0, 60 x 0,60 m; 0,55 m (alt.); 0,06 m (alt.tabuleiro), Contentor Maior: 1, 29 m (comp.); 1, 10 m (larg.); 0,72 m (alt.), Contentor Menor: 1, 05 m (comp.); 0,86 m (larg.); 0, 74 m (alt.).

Dentro do conjunto de mesas/tabuleiro, apenas um destes elementos, o de maior dimensão, se encontrava em razoável estado de conservação. Todas as mesas restantes, e sobretudo as mesas/tabuleiro de formado quadrangular, pouco comportavam dos seus elementos originais em conexão. Os contentores, que julgamos terem feito parte de um sistema de transporte interno de materiais na unidade industrial, provavelmente ligando-se com uma base metálica, amovível, munida de rodas, embora se encontrassem, aquando da sua identificação, em razoável estado de conservação, acabaram por sofrer algumas mazelas aquando da sua trasladação – ainda que muito cuidada - para o lugar de depósito provisório em obra.

8.6. As Bases das Cravadeiras Semiautomáticas Identificadas e registadas como P1, P2, P3 e P4, foram identificadas, alinhadas e equidistantes, na extremidade sul do Espaço 7 – tendo por correspondência na planta de 1950(?) à sala de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração. Dispostas de oeste para este, em relação ao eixo menor do espaço aludido, marcavam praticamente os limites da sala, dispondo-se paralelas em relação aos vãos da arcaria que compreendiam o alçado norte do Espaço 8 – Central Eléctrica “Privativa”. Tal como tantos outros elementos, cuja real funcionalidade era por nós desconhecida, resolvemos usar a sigla P na sua identificação por esta ser entendida por nós, na descrição do elemento no terreno, como uma base de (P)rensa. Na verdade, não estávamos de todo errados. A configuração destes elementos, de recorte ovalado ou circular, com entalhe central de escoamento e depósito para recolha de líquidos na extremidade desse mesmo canal, sugeriam a sua utilização dentro de um sistema de prensagem, não muito afastado de alguns lagares tradicionais, inclusivamente do período romano. O sistema de recolha do líquido, que neste caso não se devia à maceração da azeitona mas à “cravagem” das

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latas de conservas cheias de azeite, cujo líquido em excesso importaria recolher após esta acção, não diferia muito de alguns dos componentes de lagares antigos. As bases de calcário, que assentavam – como depois constataríamos - directamente no topo do substrato rochoso e se encontravam perfeitamente chumbadas pelo próprio piso de cimento associado ao compartimento aludido, apresentavam alguns espigões metálicos (4) junto ao seu rebordo interno que, tendo nós logo na altura aventado esta possibilidade, serviriam para fixar um outro elemento a cada um daqueles componentes, elementos esses que tinham entretanto desaparecido do nosso registo. Esses elementos desaparecidos eram, tão só, as próprias cravadeiras semiautomáticas, não tendo ficado nada que delas nos lembrasse com excepção das bases às quais ficariam acopladas.

Figura 27 – Pormenor do funcionamento de um conjunto de máquinas cravadeiras semiautomáticas a laborar na extremidade de uma sala de Azeitamento, Enlatamento e Azeitamento, numa fábrica de conservas de Lagos. Na máquina ao centro da imagem, na base, é perfeitamente visível o pequeno pio receptáculo para onde escorria o excesso de azeite aquando da cravagem da lata de conserva. Imagem retirada do blogue: http://canthecanlisboa.com

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Tal como já referimos, o conjunto de 4 bases de calcário correspondem a elementos similares mas com ligeiras diferenças ao nível da sua morfologia. Dois destes elementos assumem uma configuração tendencialmente ovalada, localizando-se nas extremidades, com os remanescentes, ao centro, dentro do mesmo alinhamento (vide imagem infra), a assumirem um recorte de feição circular.

Figura 28 – Composição com Máquinas cravadeiras expostas no Museu de Portimão. Enquadramento geral da localização das bases de cravadeiras na Fábrica Facho, e P1, base de cravadeira de calcário na extremidade este do Espaço 7. Assinala-se com marca a vermelho um dos quatro pontos de encaixe entre os elementos em pedra e o corpo metálico que a estes se acoplavam. Apresentam todos um canal em torno da parte central da peça, bem como um veio/canal longitudinal, correspondendo a entalhes com cerca de 2 cm de profundade. Em ambos os casos, possibilitariam o escoamento para o pio de recolha, localizado na extremidade da peça. Os pios dos elementos P1 e P4, voltados a oeste, faziam parte do mesmo bloco calcário, ao contrário dos pios dos elementos centrais, voltados a norte, feitos em cimento. Num destes elementos – P3 – era ainda observável no interior do pio um recipiente em metal onde seria, efectivamente, guardado, e posteriormente retirado, o

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líquido – azeite - que acabaria por ali ser conduzido aquando do fecho (cravagem) das latas de conservas. Dimensões das Bases Calcárias das Cravadeiras Semiautomáticas: P1 e P4: 1, 05 m (comp.); 0, 82 m (larg.); 0, 23 m (esp.); P2 e P3: 0, 80/83 m (diâmetro); 0, 23 m (esp.); Entalhes internos, ovalados e/ou circulares: 0, 06 m (larg.); 0, 02 m (prof.) Entalhes transversais: 0, 30 m (comp.); 0, 04 m (larg.); 0, 02 m (prof.); Pio de recolha, em P2: 0, 18.5 m (larg.); 0, 25 m (comp.); 0, 22 m (prof.).

Imediatamente a norte destas bases, e perfeitamente alinhadas com estas, encontrámos o que julgamos terem sido as bases de outras duas cravadeiras, desta feita de configuração rendencialmente rectangular. Integralmente moldadas em cimento, dispunham de igual modo de um pequeno canal periférico de escoamento, que acompanha pelo interior o seu rebordo, bem como o que nos pareceu tratar-se, também em ambos os casos, de dois pequenos pios de recolha, ambos com 0, 16 m de profundidade. Estes elementos foram registados por nós como B1 e B2. Em B1 eram evidentes dois espigões metálicos de acoplagem, tal como já se havia constatado nos elementos mais a sul, de calcário. Ao todo, e como o registo arqueológico o parece documentar, parecendo esta informação corroborada num relatório técnico desta fábrica. datado de 1931 – gentilmente cedido pela Dra. Vera Freitas (C.M.Portimão) -, julgamos perfeitamente possível a existência de um total de 4 máquinas cravadeiras, provavelmente associadas ao fecho de distintas latas de conservas, e 2 máquinas de azeitar. Estas duas últimas provavelmente associando-se aos encaixes moldados no cimento de configuração subrectangular (B1 e B2), imediatamente a norte das cravdeiras. A presença destes elementos, terminando, encontra-se perfeitamente enquadrada com a designação em planta da sala onde acabaríamos por encontrá-los. Recorde-se, uma vez mais, que na planta de 1950(?), nos encontramos no antigo espaço ocupado pelas actividades de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração. As imagens que a seguir se mostram, pretendem dar conta do espaço e dos elementos abordados, da recolha e guarda provisória em obra, assim como da entrega de um dos elementos de calcário aos técnicos da Câmara Municipal de Portimão.

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Figura 29 – Bases de cravadeiras. Localização e processos de recolha e acondicionamento. (Veja-se as legendas desenvolvidas em ponto próprio deste relatório).

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Figura 30 – Bases de cravadeiras (?). (Veja-se as legendas desenvolvidas em ponto próprio deste relatório).

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No relatório de 1931, com anotações posteriores, e a que atrás já fizemos referência a propósito da prensa eléctrica conotada com os marcadores das caixas de madeira, figuram, de igual modo, os modelos de cravadeiras usados na fábrica, todos produzidos por uma empresa francesa, a Sudry, de Nantes. Esse mesmo realtório dá-nos conta de que em 1931 existiriam 3 cravadeiras Sudry do modelo BC6, e 1 do modelo BC7. Em 1943 terão sido 2 das 3 Sudry BC6 substituídas por 2 BC12 (Possivelmente ligadas aos elementos P2 e P3(?)), existindo ainda uma nota que dá conta da aquisição de um modelo mais avançado, a BC14, numa anotação a este relatório de 1931 feita no ano de 1949.

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Figura 31 – Aspecto dos trabalhos de demolição levados a cabo. (Veja-se as legendas desenvolvidas em ponto próprio deste relatório).

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9. A Estratigrafia Observada A sequência estratigráfica observada corrobora o que avançámos ao longo deste relatório. As estruturas relacionadas com a antiga fábrica Facho, Lda, estabelecem-se sobre o topo do substrato rochoso, brando, de base, de natureza calcária. Alguns aterros recentes, conotados com episódios de construção na imediação sul da parcela de terreno onde trabalhámos foram de igual modo observados. Os mesmos, colmatando por completo a extremidade sul , constituindo aí um acesso em rampa a partir da estrada da Rocha, foram ainda responsáveis pela condenação de dois compartimentos, o que se assinala como Estiva – nº 10 -, e aquele, posterior à planta de 1950(?), que se construiu a sul adossado a este. Em traços gerais, e atendendo ao relatório das sondagens geotécnicas efectuadas no âmbito da construção do Júpiter Marina Hotel (Silva & Costa: 2016, p.7), a implantação da obra encontra-se numa zona de contacto entre formações atribuídas ao Miocénio e aluviões da Idade Moderna. O “bed-rock”, adiantando-se naquele documento, e tendo-o nós constatado no terreno aquando da abertura da “escavação geral”, é composto por bancadas de calcário mais ou menos alterado, carsificado, com a carsificação preenchida por (argila vermelha). Não foi, pelo que pretendemos deixar claro, e exceptuando os episódios de aterro recentes relatados, identificada qualquer sequência estratigráfica de origem antrópica para além daquela que se reporta ao corte no terreno – interface vertical - efectuado, assim nós julgamos aquando do estabelecimento da fábrica Facho, Lda. Toda a sequência estratigráfica antiga, alguma de origem antrópica que pudesse ter existido naquele local previamente a esta implantação, que se recorde terá ocorrido nos anos 20 do século XX, foi completamente apagada do registo. Julgamos que as fotografias que a seguir se apresentam acabam por documentar, da melhor forma, a realidade que atrás nos referimos.

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Figura 32 – Final dos trabalhos. Atente-se aos cortes estratigráfico e ao que os mesmos denunciam. (Veja-se as legendas desenvolvidas em ponto próprio deste relatório).

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10. Outra Documentação Relevante 10.1. Os Relatórios de 1931 e de 1946 Por se tratarem de documentos importantes sobre a unidade industrial em apreço, nomeadamente ao nível da relação de trabalhadores e os seus ofícios, mas também porque neles se discrimina inclusivamente a maquinaria que era usada na fábrica Facho, sendo notório no documento de 1931 as alterações que os equipamentos foram sofrendo ao longo do tempo, nomeadamente ao nível das máquinas cravadeiras usadas, resolvemos inclui-los de seguida. Algumas das actividades e as próprias estruturas com elas relacionadas são de igual modo mencionadas. Faz- se alusão aos tanques de alga, às mesas de trabalho e às dornas, ao seu número, por exemplo. É de supor que os dois espaços da fábrica Facho, Lda, onde se encontra assinalado a palavra Estiva – nºs 2, a norte, e 10, a sul – tivessem que ver com a reserva de peixe em salmoura, sardinha e biqueirão. Com pouca imaginação, tendo em conta o que o próprio registo arqueológico arqueológico nos proporcionou, facilmente se poderá conotar o compartimento da Estiva a sul com a localização aí das barricas pequenas, e aquele a norte onde se localizariam as 8 dornas de madeira referidas no relatório de 1946. Nos mesmos é notória a importância que as regulamentações municipais, porventura regidas por códigos de abrangência nacionais, impunham sobre estas unidades industriais. Fica-nos a impressão que qualquer alteração no complexo, inclusivamente ao nível da substituição de equipamentos, se regia por um Decreto Municipal. No relatório de 1931 dá-se conta da fábrica Facho ter sofrido um incêncio. Mais uma vez, por Decreto Municipal dá-se autorização a reconstruir sem aumentar a capacidade de produção, esta fábrica que foi destruída por um incêndio. No campo das observações mais se adianta a seguir que O vazio é feito na fábrica de Severo Ramos (na ponta oposta da cidade). Atendendo à caligrafia e às datas apontadas pelos Decretos Municipais, embora o relatório se reporte a 1931, julgamos que estas anotações terão sido produzidas em torno de 1940. Algumas anotações, que se reportam a dados de 1949 não compreendem o mesmo estilo caligráfico nem o mesmo cuidado na própria escrita.

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A planta geral da fábrica Facho Lda, e cuja real data de feitura não se sabe, pode, pelo exposto, ter surgido na sequência do incêndio a que esta unidade industrial foi votada, incêndio esse que, ao que parece, pode ter-se dado, ainda, na década de 30 do século XX. Porventura o próprio póster publicitário que aqui se apresentou, ao que tudo indica datado de 1937, poderia ter sido um reflexo da nova unidade industrial. É uma mera hipótese que levantamos. Estes e outros documentos, nomeadamente aqueles que dizem respeito aos decretos municipais ali elencados deveriam ser alvo de uma análise aprofundada caso, realmente, se quisesse levar a cabo a historiografia desta unidade industrial. Julgamos que esse trabalho, ainda assim, válido e a tempo ainda de ser conseguido, ultrapassa em larga medida o âmbito da nossa acção.

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11. Considerações Finais e Medidas Mitigadoras Propostas As suspeitas eram justificadas, pelo menos em parte. Ninguém ousará duvidar de um conjunto de fontes antigas, proferidas por gente credível, mesmo que envoltas nalguma penumbra que sobressai por vezes dos relatos indirectos. Alimentaram um conjunto de possibilidades que não vieram a confirmar-se. Nem banhos, nem mortos. Mas há mosaicos romanos dali, ou dali perto, no Museu Nacional de Arqueologia. Do Estrumal, Quinta da Boavista, Cerca do Convento? Concluindo-se a etapa de redacção do relatório técnico-científico possibilitado pelos trabalhos de acompanhamento arqueológico do Júpiter Marina Hotel foi, em resumo, o que constatámos. Nem banhos, nem incinerações (ou seriam inumações?). Pelo trabalho que ali realizámos, junto ao Arade, pelo que pudemos observar, ler noutras fontes, mas sobretudo constatar no terreno por intermédio do que acostumados estamos a designar por registo arqueológico, não colocamos nós próprios totalmente de lado a possibilidade de ali terem existido vestígios patrimoniais que se pudessem relacionar com aqueles enunciados nas fontes antigas a que nos fomos, com mais ou menos pormenor, socorrendo-nos por vezes de transcrições de transcrições, nalguns casos ligeiramente deturpadas, como o procurámos documentar, também nós referindo. Ainda assim, nada mais podemos avançar do que aquilo que esse registo nos disse. Esse, falou-nos antes do vazio. Em todo o caso, na verdade, ao livro da terra que lemos, como sempre acontece, por mais ou menos volumosos que sejam, faltam páginas. Os nossos registos, por mais aturados, são sempre registos incompletos. É o desafio do nosso próprio trabalho, na verdade é o que o torna aliciante. Adiante! No espaço ocupado pela antiga fábrica Facho, Lda, importante símbolo industrial de Portimão ligado à indústria conserveira, nada mais parece ter existido do que as construções a si ligadas, e os interfaces que terão necessitado para ser elevadas. Um pequeno promontório, ou, melhor dizendo, uma das suas extremidades, em pendente, terá sido completamente subtraído – interface de destruição - aquando da elevação da unidade industrial. Limpou-se o terreno, como mais tarde outros o terão feito por motivos idênticos, tendo por vista a construção. Dessa limpeza, a ter existido alguma coisa no local, não sobrou nada, rigorosamente nada, nem um caco, ou uma tessela para amostra, nada. Importante seria a localização do(s) vazadouro(s) criado(s) pela subtração

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do monte a que parte da Quinta da Boavista, em pendente, teria pertencido. Aí sim, talvez, se algo no espaço da fábrica tivesse existido, um caco, uma mísera tesselha, possivelmente seria encontrado. Mas tudo isto não passam de especulações. A realidade é que não ficou documentado sequer a possibilidade de ter existido uma ocupação prévia do espaço ocupado pela antiga fábrica Facho, lda. Claro que, também para este caso, nem tudo é tão linear. Como se diz tantas vezes, a ausência de provas não é prova de ausência. Lidamos com factos, alicerçamos a nossa narrativa sobre os mesmos, as dúvidas, essas, com as nossas hipóteses levantadas, podemos sempre deixá-las no discurso. Pelo exposto, os trabalhos de acompanhamento arqueológico levados a cabo por nós em Portimão, no espaço ocupado pela antiga fábrica Facho, lda, tendo nós procurado documentar essa unidade industrial – também ela património – tanto quanto nos foi possível – pelos motivos invocados – acabaram por provar, talvez de uma forma um tanto ou quanto irónica, que o impacto provocado pela construção da nova unidade hoteleira – o Júpiter Marina Hotel -, tiveram um impacto nulo sobre quaisquer elementos patrimoniais distintos daqueles que dirão apenas respeito ao campo da arqueologia industrial.

Dentro das medidas de minimização, para concluirmos, aponta-se o seguinte: - Que seja feito o acompanhamento arqueológico dos trabalhos de contenção que deverão ser levados a cabo na chaminé da antiga fábrica Facho, Lda, estrutura enquadrada no espaço da nova unidade hoteleira e único testemunho dessa antiga unidade industrial, bem como aqueles que dirão respeito à abertura de valas de ligação à rede pública, estes últimos previstos para uma etapa final da empreitada.

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12. Bibliografia COSTA, M. A. (2008) – Materiais, sistemas e técnicas de construção tradicional. Contributo para o estudo da arquitectua vernácula da região oriental da serra do Caldeirão. Porto, Edições Afrontamento. DUARTE, Maria João Raminhos (2003) - Portimão. Industriais Conserveiros na 1ª Metade do Século XX. Lisboa: Edições Colibri. FREITAS, Vera Teixeira de (2010) - Plano de Pormenor. Estruturação Urbanística da área da Horta do Palácio, Portimão. Componente Património Cultural (HistóricoArqueológico). Museu de Portimão, p. 1 a 44. (verão policopiada). GOMES,

Mário

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(1988)

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Levantamento

ArqueológicoBibliográfico do Algarve. Delegação Regional do Sul da Secretaria de Estado da Cultura, Faro, 1988. HIPÓLITO, Mário de Castro (1961) - Dos tesouros de moedas romanas em Portugal. In Conimbriga. Coimbra. 23, p. 11 a 66. LEAL, A. Pinho (1876) – Portugal Antigo e Moderno. Lisboa. Ed. Mattos Moreira & Companhia. MARQUES, M G. Monteiro (1986) - Vestígios arqueológicos no concelho de Portimão (subsídios para a Carta Arqueológica do concelho). In Actas do 4º Congresso do Algarve, Montechoro, 1986. Albufeira: Racal Clube, 1, p. 55 a 60. NUNES, Joaquim António (1956): Portimão. Lisboa: Casa do Algarve. SILVA, J. L. & COSTA, R. G. E (2016) – Prospecção Geotécnica do local de implantação dum edifício (Fábrica Facho), na Estrada da Rocha, em Portimão. Faro. (Relatório técnico policopiado). SOARES, Isabel (2001) - Concelho de Portimão Levantamento do Património Móvel e Imóvel de Interesse Relevante para o Estudo da História Local. VASCONCELLOS, José de Leite de (1908) - Antigualhas. In O Archeólogo Português. Lisboa. 1ª série:13, p. 351 a 352. VENTURA, Maria da Graça Mateus; MARQUES, Maria da Graça Maia (1993) Portimão. Col. Vilas e Cidades de Portugal, nº 15. Lisboa: Editorial Presença. VEIGA, S.F. Estácio da (1910) – “Antiguidades Monumentaes do Algarve”. O Archeologo Português, Vol. XV. Lisboa. Museu Nacional de Etnographia e Archeologia.

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Anexos I-Legendas do Registo Fotográfico As legendas que se apresentam, pormenorizadas, apenas atendem às composições fotográficas sumariamente legendadas em texto, tendo-se aí remetido para este ponto. Figura/Legenda: 8.1 8.2 8.3 8.4 8.5 8.6 8.7 8.8 8.9 8.10

8.11 8.12

Vista geral, a partir de SO, sobre a sala de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração – nº 7 – ao início dos trabalhos. Vista geral sobre o Armazém de Vazio e Central Eléctrica Privativa – nºs 9 e 8 a partir da Estiva – nº10. Vista geral sobre o estado da área em torno à chaminé antes do início dos trabalhos de limpeza. Pormenor dos 14 tanques de salga – T1 – antes dos trabalhos de limpeza. Pormenor do interior da sala de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração – nº 7 – ao início dos trabalhos. Ao fundo, na imagem, os antigos escritórios. Vista de norte para sul, a partir da sala de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração – nº 7. Ao fundo, na imagem, a Central Eléctrica Privativa – nº 9. Pormenor dos níveis de entulho associados à destruição a que a fábrica foi sujeita junto à base da escadaria de acesso aos escritórios desta unidade fabril. Vista geral sobre a construção conotada com o Dpto de Sal – nº 4, antes dos trabalhos de limpeza. Vista geral sobre o vestiário e as latrinas localizadas a este, antes dos trabalhos de limpeza. Tomada de vista mais pormenorizada sobre os níveis de entulho associados à destruição a que a fábrica foi sujeita junto à base da escadaria de acesso aos escritórios desta unidade fabril. Vista geral da área intervencionada, tomada de norte para sul.

8.18

Vista geral sobre o estado da área em torno à chaminé antes do início dos trabalhos de limpeza. Vista sobre a área envolvente à chaminé, tomada de NE. Antes dos trabalhos de limpeza. Início dos trabalhos de decapagem mecânica na extremidade sul da área intervencionada. Vista geral sobre os alçados voltados a sul conotados com o Armazém de Vazio e Central Eléctrica Privativa – nºs 9 e 8, respectivamente. Vista geral sobre o Armazém de Vazio e Central Eléctrica Privativa – nºs 9 e 8 a partir da Estiva – nº10. Início da remoção dos níveis de entulho que colmatavam o compartimento que ladeava, a sul, a Estiva – nº 10. idem

9.1

Vista do exterior do alçado conotado com o Armazém de Cheio – nº1.

8.13 8.14 8.15 8.16 8.17

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9.2

Vista do interior do alçado conotado com o Armazém de Cheio – nº1.

9.3

Pormenor do alçado voltado a sul do Armazém de Cheio – nº1.

9.4

Pormenor dos trabalhos de limpeza levados a cabo no Armazém de Cheio – nº1.

9.5

Pormenor dos trabalhos de limpeza levados a cabo no Armazém de Cheio – nº1.

9.6

Pormenor dos trabalhos de limpeza levados a cabo no Armazém de Cheio – nº1.

9.7

Pormenor dos trabalhos de limpeza levados a cabo no Armazém de Cheio – nº1.

9.8

Pormenor dos trabalhos de limpeza levados a cabo no Armazém de Cheio – nº1.

9.9

9.11

Pormenor dos ladrilhos, ditos de Santa Catarina, ligados ao piso de utilização/circulação no Armazém de Cheio – nº1. Pormenor doa conclusão dos trabalhos de limpeza levados a cabo no Armazém de Cheio – nº1. Armazém de Cheio – nº1, após os trabalhos de limpeza.

9.12

Ângulo SE do Armazém de Cheio – nº1, após os trabalhos de limpeza.

9.13

Pormenor da remoção da porta de acesso ao Armazém de Cheio – nº1, após os trabalhos de limpeza. Pormenor da demolição do alçado voltado ao exterior – a este – depois dos registos e de modo a permitir a entrada no espaço de maquinaria pesada. Idem

9.10

9.14 9.15 9.16 9.17

Pormenor do espaço ocupado pelo alçado voltado ao exterior do no Armazém de Cheio – nº1, depois da demolição. Remoção de escombros após a demolição do alçado aludido.

9.18

Pormenor do lanço duplo de escadas ligado ao acesso entre o Armazém de Cheio – nº1 e o corredor de circulação interposto na plataforma superior entre a Estiva – nº 2 e a Secção de Lavagem e Movimento Fabril – nº3.

10.1

10.4

Vista geral sobre o Dpto de Sal – nº 4 – após os trabalhos de limpezas na envolvente. Alçado voltado a norte do Dpto de Sal – nº 4. O revestimento de azulejos brancos liga-se aos sanitários que ali terão existido e que se encontram representados na planta de 1950(?). Atente-se aos distintos aparelhos construtivos nesse mesmo alçado. Vista geral sobre o que “sobrou” à destruição do espaço conotado com a Estiva – nº2. Vista geral sobre o vestiário e a zona de latrinas, a este.

10.5

Vista geral sobre as latrinas, a oeste, junto à chaminé.

10.6

Pormenor da loiça sanitária das mesmas.

10.7

Extremidade sul das latrinas junto à chaminé. Adossamento do pequeno compartimento à parede de taipa que circunda a casa das caldeiras a norte. Vista geral sobre as duas cisternas, junto à chaminé, lado oeste desta, após a

10.2

10.3

10.8

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 82 de 94

10.9

remoção do piso de cimento/cobertura das mesmas. Início do desmantelamento de estruturas na área central do recinto.

10.10

Idem

10.11

Vista geral sobre as duas cisternas, junto à chaminé, lado oeste desta, após a remoção do piso de cimento/cobertura das mesmas. Vista geral sobre uma das duas cisternas, junto à chaminé, lado oeste desta, após a remoção do piso de cimento/cobertura das mesmas. Pormenor do alicerce conotado com ML1, a oeste da chaminé antes dos trabalhos de limpeza que ali realizámos. Pormenor do alicerce conotado com ML1, a oeste da chaminé após os trabalhos de limpeza que ali realizámos. Enquadramento de ML1 com o edifício conotado com a Casa das Caldeiras.

10.12 10.13 10.14 10.15 10.16

Pormenor do muro de taipa, com o respectivo embasamento em alvenaria, que se desenvolve ao longo de toda a extremidade norte da Casa das Caldeiras.

11.1

Limpezas gerais no espaço central da área onde trabalhámos da fábrica Facho.

11.2

Limpezas na zona envolvente à bateria de tanques afrontados, T3.

11.3

Idem

11.4

11.6

Limpezas na zona envolvente à bateria de tanques afrontados, T3. Vista do topo sul do espaço intervencionado. Pormenor da bateria de tanques afrontados – T3 – vista do topo sul do espaço intervencionado. Limpezas na zona envolvente à bateria de tanques afrontados, T3.

11.7

Pormenor da bateria de tanques afrontados – T3 – alçado oeste dos mesmos.

11.8

Pormenor da bateria de tanques afrontados – T3.

11.9

Idem

11.10 11.11

Pormenor do tanque isolado e fonte associada – T1 – encostado ao muro delimitatório da fábrica Facho, Lda, a oeste. Enquadramento de T1 com T2, vista de norte.

11.12

Enquadramento de T1 com o muro delimitatório da fábrica Facho, Lda, a oeste.

11.13

Pormenor da bateria de 14 tanques de salga associados a T2.

11.14

Pormenor da bateria de 14 tanques de salga associados a T2 e rampa de acesso aos compartimentos da fábrica Facho localizados sobre o topo sul da área por nós intervencionada. Pormenor da bateria de tanques afrontados – T3 – alçado este dos mesmos.

11.5

11.15 11.16 11.17

Enquadramento da bateria de tanques afrontados – T3 – com os elementos preservados da sala onde se materializaram. Pormenor da destruição da bateria de tanques afrontados – T3.

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 83 de 94

11.18

Pormenor do canal de escoamento associado à base de T3.

12.1

Alçado, pormenor, voltado a oeste do Armazém de Vazio – nº 9.

12.2

Vista geral sobre o mesmo alçado. Note-se a presença dos arcos de descarga e do vão aberto posteriormente aos registos constantes na planta de 1950(?). Croquis dos arcos de descarga presentes no alçado voltado a oeste do Armazém de Vazio – nº 9. Arcaria presente no alçado norte da Central Eléctrica Privativa – nº 8.

12.3 12.4 12.5 12.6

Pormenor da entrada este para o compartimento conotado com o Armazém de Vazio – nº 9. Pormenor das janelas engradadas a encimar o alçado. Porção de derrube associada a construção em tijoleira.

12.7

Departamento de sal antes dos trabalhos de limpeza, de novo.

12.8

Vista geral sobre o Armazém de Cheio – nº 1, após as limpezas.

12.9

Alçado sul do Armazém de Cheio – nº1.

12.10

Alçado norte do Armazém de Cheio – nº1.

12.11

Pormenor da taipa em desagregação nesse mesmo alçado.

12.12

Muro delimitatório da fábrica Facho a oeste. Construção em taipa sobre embasamento de alvenaria. Depósito dos pesos de barricas exumados na intervenção. Pormenor do reboco sobre o embasamento de alvenaria na base do muro de taipa aludido. Pormenor do aparelho de taipa nesse mesmo muto.

12.13 12.14 12.15 12.16

Pormenor da parede de taipa a norte da Casa das Caldeiras. Ligação com a construção em tijoleira associada à chaminé. Cerca do Convento de São Frnacisco, extremidade oeste da mesma.

12.17

Pormenor do reboco usado no revestimento do alçado norte do Armazém de Cheio – nº1.

14.1

14.2

Pormenor das portadas associadas à sétima janela (a partir de norte) do alçado voltado a este da fábrica Facho, tendo este por correspondência o compartimento nº 7 – Azeitamento, Enlatamento e Evisceração. Pormenor das janelas engradadas da mesma janela.

14.3

Pormenor da rede metálica voltada ao exterior da mesma janela.

14.4

Alçado visto pelo exterior, com a janela aberta, ligado ao compartimento nº 7 – Azeitamento, Enlatamento e Evisceração. Pormenor da porta de entrada, vista a partir do interior, do compartimento associado ao Armazém de Cheio – nº 1. Pormenor da porta de entrada, vista a partir do exterior, do compartimento associado ao Armazém de Cheio – nº 1.

14.5 14.6

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 84 de 94

14.7

14.9

Pormenor da porta de entrada, vista a partir do exterior, localizada entre o edifício conotado com o Dpto de Sal – nº 4 – e os escritórios da fábrica. Pormenor da porta de acesso ao corredor comunicante com a Central Eléctrica Privativa e Armazém de Vazio –nºs 8 e 9, respectivamente. Muro de taipa, delimitador do espaço da fábrica a oeste.

14.10

Muro de taipa, delimitador do espaço da fábrica a oeste. |angulo noroeste.

14.11

Entrada emparedada com blocos de cimento ligada à antiga passagem de pessoal.

14.12

Muro em taipa, alçado norte do Armazém de Cheio – nº1 – e construção posterior que se interpõs sobre a antiga passagem de serviço/de pessoal.

15.1 15.2

Acesso ao poço e rampa a ladeá-lo pelo lado este. Zona próxima ao Departamento de sal – nº4. Escadaria de acesso ao poço.

15.3

Escadaria de acesso ao poço vistas pelo interior da estrutura.

15.4 15.5

Pormenor das paredes do poço escavadas na rocha e rebordo do mesmo na base da antecâmara. Pormenor do piso da sala aludida.

15.6

Pormenor do sistema de encaixe do motor para extracção de água, “burrinho”?

15.7

Pormenor da abóbada presente no topo do poço escavado na rocha.

15.8

Idem

15.9

Levantamento topográfico levado a cabo na estrutura aludida.

15.10

Sr. José, o topógrafo, no vão de escadas de acesso ao poço contemplando a destruição do alçados oeste da da fábrica Facho, lda. Vista para o interior do poço a partir do piso de cimento que cobria parte do vão de acesso. Destruição do poço por máquina giratória após os registos do mesmo.

14.8

15.11 15.12 15.13

Pormenor do canal de escoamento de água presente no lintel transversal de acesso ao poço. Canal com ligação à Casa das Cladeiras.

16.1

Remoção dos níveis de entulho presentes nos compartimentos do topo sul da área intervencionada. Pormenor dos muros ligados a esses compartimentos. Construções de taipa com embasamento de alvenaria. Remoção dos níveis de entulho presentes no compartimento que se adossou, sobre o lado, sul, ao espaço conotado com Estiva – nº 10 – na planta de 1950(?). Pormenor do compartimento novo.

16.2 16.3 16.4 16.5 16.6

Remoção dos níveis de entulho presentes no compartimento que se adossou, sobre o lado, sul, ao espaço conotado com Estiva – nº 10 – na planta de 1950(?). Idem, vista de sul.

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 85 de 94

16.7 16.8 16.9 16.10

Limpezas com meios mecânicos ligeiros na parte central da fábrica Facho, Lda. Limpezas com meios mecânicos ligeiros nos compartimentos associados à Central Eléctrica Privativa e Armazém de Vazio, nºs 8 e 9, respectivamente. Trabalhos de limpeza com giratória. Extremidade sul da área intervencionada.

16.12

Pormenor dos dois compartimentos localizados no topo da extremidade sul da área intervencionada, sendo o maior, que figura na planta de 1950(?), ao contrário daquele que se lhe adossaria a sul, mais tarde, conotado com um outro espaço de Estriva – nº 10. Aí se identificaram os pesos de barricas. Pormenor do vão de acesso, que começa a ser notório, que ligava o Armazém de Vazio – nº 9 – ao novo compartimento. Estiva – nº 10 – e concentração naquele espaço de dezenas de pesos de barricas.

16.13

Idem, vista de sudoeste.

16.14

Grande plano do Armazém de Cheio – nº 9 – e do vão de acesso ao novo compartimento, imediatamente a este deste. Pormenor do mesmo vão após a limpeza dos entulhos recentes que o condenaram. Os mesmos associam-se à construção residencial que foi edificada, a sul, dentro dos limites da fábrica Facho, lda.

16.11

16.15

25.1

25.2

Vista geral sobre o espaço ocupado pela Central Eléctrica Privativa e o Armazém de Vazio – nºs 8 e 9 – localizado-se neste último alguns dos materiais recuperados. Pormenor da arcaria da Central Eléctrica Privativa, alçado voltado a norte.

25.3

Vão de acesso ao Armazém de Vazio a partir da Central Eléctrica Privativa.

25.4

Pormenor do alçado voltado a oeste do armazém aludido antes das limpezas aºi levadas a cabo. O mesmo espaço após as limpezas. Note-se o pormenor de um dos baús/contentores presentes no vão que dava acesso a partir deste compartimento à sala de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração nº7. Pormenor de um dos baús/contentores presentes no vão que dava acesso a partir deste compartimento à sala de Azeitamento, Enlatamento e Evisceração nº7, bem como das mesas encostadas junto ao ângulo noroeste do A.de Vazio. Pormenor desse mesmo material empilhado junto ao ângulo aludido.

25.5

25.6

25.7 25.8 25.9

Pormenor das mesas e contentores de madeira presentes no Armazém de Vazio – nº 9. Outra prespectiva da mesma realidade.

25.10

Trabalhos associados à remoção do material referido, mesas e contentores.

25.11

Pormenor desses elementros

25.12

Idem

25.13

idem

25.14

Pormenor das meas “tabuleiro”.

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 86 de 94

25.15

Idem

25.16

Pormenor das meas “tabuleiro”.

25.17

Local de depósito provisório deste material em obra.

25.18

Idem

29.1

Enquadramento geral das bases de Cravadeiras mecânicas (P1 A P4).

29.2

Idem

29.3

Enquadramento geral das bases de Cravadeiras mecânicas.

29.4

Idem

29.5

P1 sem escala.

29.6

P1 com escala

29.7

P2 com escala.

29.8

P2 sem escala.

29.9

P3 com escala.

29.10

P3 sem escala.

29.11

P3 com escala e mais pormenorizado o registo sobre a base de cravadeira.

29.12

Enquadramento geral das bases de Cravadeiras mecânicas.

29.13

P4 com escala.

29.14

Base de cravadeira – P4 – sem escala.

29.15 29.16

Trabalhos de remoção das bases de calcário associadas às cravadeiras semiautomáticas. Idem

29.17

Localização provisória destes elementos no espaço da antiga Casa das Caldeiras.

29.18

Entrega e transporte de uma das bases de cravadeira mecânica aos técnicos do Museu de Portimão.

30.1

Enquadramento geral dos elementos relacionados com B1 e B2, conotados com possíveis máquinas cravadeiras ou de azeitamento. Idem

30.2 30.3 30.4

Enquadramento geral dos elementos relacionados com B1 e B2, conotados com possíveis máquinas cravadeiras ou de azeitamento. Pormenor do elemento B1.

30.5

Pormenor do elemento B2.

30.6

Enquadramento dos elementos aludidos com uma das bases de cravadeira

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 87 de 94

localizadas mais a sul do empreendimento. 31.1 a Pormenores de alguns dos registos fotográficos relacionados com o acompanhamento do desmantelamento das estruturas ligadas à Fábrica Facho, 31.18 Lda. 31.8 Trabalhos relacionados com a remoção cuidada de uma das janelas presente no alçado principal da fábrica Facho, Lda. 32.1 a Pormenores, em todos os registos fotográficos, relacionados com a própria estratigrafia do local após a remoção dos pisos de circulação. Atente-se à 32.18 presença, em todos os registos, do substrato rochoso de base imediatamente à superfície.

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 88 de 94

II- Listagem de Materiais Acrónimo: FACHO.01.´16



SACO Nº

CONTENTOR

NºINV.

17

2

ARG. 1

18

2

ARG. 2

19

2

ARG. 3

20

2

TP.1

22

3

1

1

23

3

2

1

24

3

3

1

25

3

4

1

26

3

5

1

27

3

6

1

28

3

007 e 008

2

29

3

009 a 012

4

30

4

13

31

4

32

Nº Peças

DESCRIÇÃO Amostra de Argamassas Revestimento Amostra de Argamassas Revestimento Amostra de Argamassas Revestimento Amostra de Argamassas Revestimento

CRONOLOGIA

PROVENIÊNCIA

Sec. XX

Compartimento Estiva

Sec. XX

Armazém do Vazio

Sec. XX

Alpendre Secagem Peixe

Sec. XX

Sala Azeitamento, enlatamento e visceração

Sec. XX

Armazén do Cheio

Sec. XX

Armazén do Cheio

Sec. XX

Sala dos Tanques

Sec. XX

Sala dos Tanques

Sec. XX

Sala dos Tanques

Sec. XX

Armazén do Cheio

Sec. XX

Sala dos Tanques

Sec. XX

Sala dos Tanques

1

Tijoleira Tijolo com marca JAS Revestimento cerâmico Revestimento cerâmico Revestimento cerâmico Tijolo com marca JAS Revestimento cerâmico Revestimento cerâmico Fragmento, asa e bordo

14

1

Telha

Sec. XX

Sala Azeitamento, enlatamento e visceração

4

15

1

Telha

Sec. XX

Sala Azeitamento, enlatamento e visceração

33

4

16

1

Telha

Sec. XX

Sala Azeitamento, enlatamento e visceração

34

4

17 a 20

4

Revestimento cerâmico

Sec. XX

Sala Azeitamento, enlatamento e visceração

35

5

21

1

Sec. XX

Central Elétrica

36

5

22

1

Tijolo com marca JAS Tijolo com marca JAS

Sec. XX

Armazén do Cheio

37

5

23

1

Tijolo

Sec. XX

Casa das Caldeiras

38

5

24

1

Tijoleira

Sec. XX

Armazén do Cheio

39

5

25

1

Tijoleira

Sec. XX

Armazén do Cheio

Contemporâneo

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 89 de 94

III- Nota de Entrega dos Materiais de Cariz Etnográfico ao Museu de Portimão

Faz-se notar que a nota de entrega do restante material foi feita pela Dra. Paula Pereira, tendo a mesma tido oportunidade de infomar a Tutela disso mesmo.

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 90 de 94

IV- Registo Gráfico

Figura 33 – Planta Geral sobre Levantamento Topográfico, assinanalando-se, a par das estruturas preservadas, os limites da escavação geral da nova empreitada. (Documento impresso à escala e apenso à informação digital deste relatório).



Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 91 de 94



Figura 34 – Alçados levantados da fábrica Facho, Lda. a partir de levantamento Topográfico. (Documento impresso à escala e apenso à informação digital deste relatório).

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 92 de 94



Figura 35 – Perfis da fábrica Facho, lda, sobre Levantamento Topográfico, assinanalando-se, a par das estruturas preservadas, os limites da escavação geral da nova empreitada. (Documento impresso à escala e apenso à informação digital deste relatório).

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 93 de 94





Coimbra, 28 de Abril de 2016

Acompanhamento Arqueológico da Construção do Júpiter Marina Hotel, Portimão [Relatório Preliminar dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico da 1ª Fase] Página 94 de 94

V- Ficha de Sítio

Ficha de Sítio/Trabalho Arqueológico (para acompanhar o relatório) Sítio Arqueológico Designação

Distrito

Concelho

Freguesia

Lugar

C.M.P. 1:25.000 folha n.º

Altitude (m)

Coordenada X

Coordenada Y

Tipo de sítio * Período cronológico * Descrição do sítio (15 linhas)

Bibliografia

Proprietários Classificação * Decreto Estado de conservação * Ameaças *

Uso do solo * Protecção/Vigilância *

* Preencher de acordo com a lista do Thesaurus do ENDOVÉLICO. Essa lista poderá ser consultada em: www.igespar.pt Pág. 1 de 2

Acessos

Descrição do Espólio

Local de depósito Trabalho Arqueológico Anual Arqueólogo responsável Tipo de trabalho * Datas: de início

de fim

duração (em dias)

Projecto de Investigação Objectivos (10 linhas)

Resultados (15 linhas)

* Preencher de acordo com a lista do Thesaurus do ENDOVÉLICO. Essa lista poderá ser consultada em: www.igespar.pt Pág. 2 de 2

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