Religião nos tempos modernos: uma antologia interpretativa (tradução)

July 4, 2017 | Autor: Fábio Stern | Categoria: Ciências da Religião, Ciência da religião
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Religião nos tempos modernos: uma antologia interpretativa WOODHEAD, Linda; HEELAS, Paul. Introduction. In: ________. Religion in modern times: an interpretive anthology. Oxford: Blackwell, 2000, p. 1-11. Tradução de Fábio L. Stern1

Esse livro surgiu como dois projetos distintos: um livro e uma antologia. No fim, revelou-se impossível manter os dois separados, e o produto final combina ambos. Ele é composto por grande número de referências curtas, ligadas por comentários introdutórios e organizados dentro de uma estrutura inicial. Pode ser lido tanto como um livro com longas citações, quanto como uma antologia com extenso comentário e interpretação. O motivo pelo qual foi impossível propor um livro convencional sobre religião nos tempos modernos foi nosso conhecimento de muito escritos importantes e informativos sobre a área, e de nossa dívida com eles. A razão pela qual foi impossível montar uma antologia simples de leituras foi a ausência de um quadro comum para o assunto. Ao contrário de disciplinas estabelecidas, como a teologia sistemática ou mesmo a sociologia da religião, a religião nos tempos modernos continua sendo um território relativamente desconhecido. Esse livro tem três objetivos principais: em primeiro lugar, apresentar uma ampla variedade dos escritos influentes e contundentes mais importantes sobre religião nos tempos modernos; em segundo, colocar essas leituras dentro de uma estrutura que possa ajudar o leitor a entender o campo; e em terceiro, oferecer uma nova interpretação da religião nos tempos modernos, e uma nova linguagem para falar sobre o assunto. Na busca pelo terceiro objetivo, também procuramos relacionar as teorias mais amplas sobre a cultura e a sociedade moderna para a esfera religiosa. Teorias da individualização, consumidorização e desdiferenciação podem iluminar o estudo da religião; da mesma forma, o estudo da religião pode iluminar essas e outras teorias. O livro reúne cerca de trezentas referências bibliográficas. Algumas são teóricas, outras são empíricas ou ilustrativas. Algumas são de acadêmicos, outras de poetas, teólogos ou praticantes. Contribuições de teóricos variam de Karl Marx a Robert Bellah; estudos empíricos, de Nancy Ammerman a Godfrey Lienhardt; exemplos, de Karl Barth a Sai Baba. A imagem da religião nos tempos modernos que emerge dessas páginas é, ao mesmo tempo, mais interessante e menos uniforme do que muitas vezes se pressupõe. É um quadro de variedade e convivência. Assim, dando apenas alguns exemplos de muito do que consta no livro, as religiões antigas e as novas espiritualidades parecem âmbar estar se saindo bem, embora o primeiro grupo cultue um Deus transcendente e o último busque por um deus interior. Da mesma forma, tanto a secularização quanto a sacralização parecem ocorrer em diferentes partes do mundo. Finalmente, 1

Mestrando em Ciências da Religião (PUC-SP).

em algumas partes do mundo a religião hoje está politicamente mais militante do que nunca: em outras, seu significado político está diminuindo rapidamente.

Abordagem distinta Até onde sabemos, essa é a primeira tentativa de reunir a literatura existente sobre religião nos tempos modernos. Ela difere das antologias e dos livros de sociologia da religião – como os de Steve Bruce ((ed.), 1995a.); Michael Hill (1973); e Meredith McGuire (1997) –, porque lida exclusivamente com o período moderno, baseando-se nos escritos de participantes tanto quanto nos escritos de teóricos, e dá pouca atenção a alguns dos temas e debates mais gerais que passaram a dominar a sociologia da religião. Do mesmo modo, esse livro difere das coleções – como o projeto fundamentalismos (Marty; Appleby, 1991-5) –, que reúnem reflexões sobre um único tópico no estudo da religião nos tempos modernos, porque tenta levantar um campo religioso mais amplo. Esse livro também difere de levantamentos baseados em tradições religiosas nos tempos modernos, como os de Mary Pat Fisher (1997) ou John Hinnells (1997). Embora orientado por tradições, esse livro não usa uma classificação com base na tradição das “religiões mundiais” (Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo etc.) como ponto de partida. Em vez disso, tenta identificar as principais variedades de religião nos tempos modernos – variedades que podem ser encontradas dentro e através de todas as tradições. A Parte I do livro investiga essas diferentes variedades de religião. Identifica três como possuindo particular importância histórica e classificatória, e as nomeia religiões de diferença, religiões de humanidade e espiritualidades de vida. Esses diferentes tipos de religião podem ser pensados como três pontos em um espectro de entendimentos sobre a relação entre o divino, o ser humano, e a ordem natural. Em uma extremidade do espectro, as religiões de diferença distinguem claramente entre Deus e os humanos e a natureza. No outro, as espiritualidades de vida adotam uma perspectiva “holística”, e enfatizam a identidade fundamental entre o divino, o humano e o natural. E no meio do espectro, as religiões de humanidade tentam manter os três elementos em equilíbrio, resistindo a uma subordinação do ser humano à vontade divina ou ao natural. Representado de forma visual, esse espectro tornou-se conhecido pelos nossos estudantes como “o triângulo e a bolha”.

Deus

Humanidade

self

o divino

Deus

criação: natureza e seres humanos

natureza

natureza

altamente diferenciada

diferenciada

indiferenciada/holística

TIPO 1: RELIGIÕES DE DIFERENÇA

TIPO 2: RELIGIÕES DE HUMANIDADE

TIPO 3: ESPIRITUALIDADES DE VIDA

Ainda que nossa tipologia deva muito a teóricos como Robert Bellah, não vemos as diferentes variedades de religião sob uma perspectiva evolutiva. Em vez disso, apresentamos uma imagem da religião nos tempos modernos em que essas diferentes formas de religião coexistem. Essa convivência ocorre em um nível global, nacional, local e pessoal. Às vezes pode ser conflituosa ou até mesmo violenta, outras vezes harmoniosa ou criativa. Também pode levar à formação de novas variedades de religião. Dessas, trazemos à memória, como as mais importantes, o que chamamos de religiões vivenciais de diferença e religiões vivenciais da humanidade. As primeiras combinam características de uma espiritualidade de vida (como uma forte acentuação sobre a autoridade da experiência individual) com elementos de uma religião de diferença (como uma igualmente forte acentuação da autoridade das Escrituras). As últimas combinam uma acentuação sobre a autoridade da experiência com uma forte ênfase humanitária. O exemplo mais importante de uma religião vivencial de diferença no século XX é o cristianismo carismático, que combina uma crença na autoridade da Bíblia e uma ética bíblica com ênfase na importância da poderosa e intensamente sentida experiência de Deus como o Espírito Santo. Embora talvez numericamente menos significativas, as religiões vivenciais de humanidade continuam visíveis tanto nas culturas ocidentais quanto orientais, como, por exemplo, nos ensinamentos do atual Dalai Lama e no trabalho de alguns teólogos cristãos liberais contemporâneos. Para além de oferecer um novo quadro para a compreensão das variedades da religião moderna, esse livro também se distingue na forma como entende e lida com a “modernidade” e os “tempos modernos”. Seu título, Religião nos Tempos Modernos, foi deliberadamente escolhido a fim de se referir simplesmente a um período de tempo: os séculos XVIII, XIX e XX (apesar de ênfase especial recair sobre o século XX, com eventos e desenvolvimentos nos séculos precedentes considerados apenas na medida em que continuam a influenciar a forma da religião hoje). A expressão “tempos modernos” é deliberadamente mais ampla do que “modernidade”. Designa simplesmente um período de tempo, enquanto a última, os atributos socioculturais das chamadas sociedades “desenvolvidas” distintivas do Ocidente (e agora, cada vez mais, de outras partes do mundo também). Enquanto não há consenso claro sobre esses atributos, a maioria das discussões sobre modernidade apela a uma gama de processos econômicos, políticos e culturais, incluindo, por exemplo, o industrialismo, o capitalismo, o racionalismo, a burocratização, a democratização e o “voltar-se a si mesmo”. A hipótese subjacente de muito do que se fala sobre “modernidade” e suas tendências distintas é uma suposição que não compartilhamos, segundo a qual o período é relativamente homogêneo, caracterizado por processos universais, unilineares, e que uma divisão bem delineada pode ser estabelecida entre moderno e "pré-moderno" ou sociedades "tradicionais", com a modernidade representando um estado mais complexo e avançado de desenvolvimento. Enquanto rejeitamos essas premissas, no entanto, não somos hostis a toda tentativa de generalização sobre religião e modernidade, ou de perceber tendências dentro delas. Pelo contrário, um dos objetivos desse livro é discernir tais tendências, e relacionar teorias da cultura e sociedade modernas com o que está acontecendo no campo religioso. O que distingue nossa abordagem é que em vez de visualizar essas tendências como uniformes, unilineares e sem exceções, apresentamos um quadro de variedade e convivência. Resistimos à compreensão de qualquer religião ou da modernidade como unitárias ou evolutivas.

A caracterização da religião em termos de uma gama de tipos potencialmente conflituosos na Parte I está, portanto, intimamente ligada à tentativa do livro, como um todo, de caracterizar a modernidade como um conjunto complexo, e por vezes contraditório, de tendências sociais e culturais, valores e premissas, contextos e variedades. Além de examinar as variedades da cultura religiosa e moderna na Parte I, a Parte II é, isso posto, dedicada a uma reflexão sobre os diferentes contextos da religião nos tempos modernos: econômico, político, de gênero e étnico. Da mesma forma, enquanto a literatura sobre as tendências e processos unilineares está presente na Parte III, incluímos também contra-argumentos e contraevidências, e sugerimos maneiras pelas quais essas tendências podem não ser uniformes ou homogêneas, e podem ser qualificadas umas às outras, assim como pelas variedades e contextos diferentes da religião nos tempos modernos. A preocupação com contextos nos leva do mais cultural, na Parte I, ao mais concreto e sociocultural, na Parte II. As referências incluídas aqui revelam as diferentes maneiras pelas quais a religião molda e é moldada pelos mundos que habita. Três contextos específicos são apontados como particularmente importante: a ascensão das economias capitalistas de mercado (ver o capítulo intitulado Economia); o surgimento do Estado moderno (Política): e a ascensão da diferença (Diferença: de Gênero e Ética). Sob o título da diferença, incluímos pelo menos dois fenômenos característicos dos tempos modernos: a forte afirmação da diferença prescritiva exclusiva, e a articulação de formas mais abertas, tolerantes e “pós-modernas” de diferença. Todos esses contextos são vistos em termos de sua interação com a religião nos tempos modernos. A Parte III nos faz voltar aos textos que delineiam as tendências mais importantes na religião nos tempos modernos. Identificamos quatro: a secularização, a destradicionalização, a universalização e a sacralização. A primeira tem sido uma preocupação central à sociologia da religião. A última, a sacralização, encontrou defensores apenas mais recentemente. Essencialmente ambas têm a ver com a quantidade de religião. Por outro lado, as teorias da destradicionalização e da universalização são menos proeminentes na literatura, e tem a ver com as transformações da religião. A destradicionalização menciona uma volta da autoridade do passado, das instituições externas e das figuras de autoridade, à autoridade do sujeito, enquanto a universalização cita uma volta do diferenciado, exclusivista e divisivo ao inclusivo, perene, universal e ecumênico. Ao mesmo tempo em que incluímos literaturas que retratam essas tendências como inexoráveis, uniformes e unilineares, nós mesmos sugerimos um entendimento diferente. Ao relacioná-los às variedades de religião descritas na Parte I, bem como aos diferentes contextos pesquisados na Parte II, oferecemos um relato mais complexo e diferenciado dessas tendências, e visualizamo-nos não como mutuamente excludentes, mas como coexistente. Juntas, então, as três partes do presente volume constroem uma imagem da religião nos tempos modernos como um produto da interação complexa e da ação recíproca de diferentes tipos de religião com contextos diferentes, onde tendências distintas se tornam visíveis. Essas interações ocorrem de diferentes formas e em ritmos diferentes em partes distintas do globo. Embora seja possível e útil generalizar sobre várias tendências da religião nos tempos modernos, elas também parecem ser influenciadas por uma ampla gama de fatores, e parecem tomar formas distintas em relação a diferentes tipos de religião. Elas não são inevitáveis, e podem não ser irreversíveis. A

secularização, por exemplo, parece afetar alguns tipos de religião mais do que outros. Ela opera em um ritmo e de maneiras diferentes em contextos distintos. É efetivada tanto quanto afetada por uma ampla variedade de fatores. Parece característica de algumas das chamadas sociedades “pré-modernas”, bem como de muitas sociedades modernas. E em alguns lugares do mundo hoje parece estar eclipsada pelo processo oposto de “sacralização”. Em suma, enquanto esse livro está interessado nas teorias e perspectivas gerais, bem como no mais concreto e empírico, é cauteloso aos tratamentos supergeneralizados da religião e modernidade. É particularmente resistentes às grandes periodizações da pré-modernidade e da modernidade, e à ideia de que há formas distintas e homogêneas de religião, que correspondem a cada um. (Pelas mesmas razões, é também crítico da periodização geral da “pós-modernidade” – sobre esse tema, consulte as Perguntas Frequentes (p. 6) abaixo, e os comentários na conclusão do livro). Se a abordagem desse livro fosse resumida em apenas algumas frases, podiam ser:  

a religião não é uma coisa; a modernidade não é uma coisa diversidade e convivência, e não uniformidade

Referências No conjunto, as citações desse livro são curtas – menores do que uma página. Escolhemos passagens que oferecem formulações marcantes e que articulam ideias-chave sobre religião nos tempos modernos. Às vezes, essas passagens são apresentadas na íntegra. Às vezes, abreviadas. Onde cortamos uma passagem, sempre indicamos com um “[...]”. Usando um grande número de trechos curtos, o livro tenta cobrir a maior parte da literatura existente quanto possível. O formato do livro não foi, contudo, ditado unicamente pela literatura – se fosse, mais da metade teria sido sobre secularização! Em vez disso, tentamos equilibrar a cobertura com nosso outro objetivo, de apresentar uma interpretação original e informativa da religião nos tempos modernos. Ao apresentar essa interpretação da religião nos tempos modernos, foram utilizados pelo menos quatro tipos de material: reflexões analíticas e teóricas, estudos históricos, estudos empíricos e exemplos concretos. Particularmente favorecemos as fontes que combinam alguma pesquisa histórica ou empírica com reflexões teóricas mais gerais, e tendemos a evitar estudos de casos muito específicos, que não permitem apontamentos mais gerais. Sempre que o material teórico adequado não esteve disponível, um exemplo concreto do tipo de religião ou desenvolvimento que estamos tentando ilustrar muitas vezes fora utilizado. Exemplos concretos também foram empregados a fim de ilustrar pontos teóricos mais abstratos. O material apresentado nesse livro foi extraído de várias disciplinas. O critério de inclusão foi a qualidade da leitura em si, não sua procedência. As fontes vieram da história, da teologia, dos estudos culturais, da sociologia, da antropologia, dos estudos da mulher e estudos de gênero, da política, da economia, da teoria social, da filosofia e da ciência da religião. Como exemplo, são de fontes tão variadas quanto as encíclicas papais, manuais de autoajuda, poemas e, em um caso, um cartão de dia dos namora-

dos. Obviamente não foi possível incluir tudo. Algumas omissões se devem a fatores contingentes: a nossa própria ignorância, nossa incapacidade de localizar um livro, o custo proibitivo de uma permissão. Mas tentamos nos esforçar bastante para assegurar a cobertura mais ampla possível. O livro também visa uma cobertura global. Embora não fora possível incluir leituras sobre a evolução religiosa em todas as partes do globo, tentamos ao menos representar e ilustrar o que está acontecendo com a religião nos tempos modernos em uma escala global. Infelizmente o livro não inclui tantas leituras sobre as religiões não ocidentais quanto sobre as religiões ocidentais; isso se deve não só às limitações de nosso próprio conhecimento, mas à falta de material adequado. Com algumas honrosas exceções, parece haver uma escassez de reflexão teórica e pesquisa empírica disponível em inglês sobre a religião de muitas áreas fora do Ocidente. Em termos de área, a maior omissão desse volume é, provavelmente, em relação à religião em países comunistas (ou ex-comunistas), particularmente a China. Outra área que o livro não cobre tão plenamente quanto gostaríamos diz respeito às religiões indígenas pré-modernas (especialmente as pequenas) e seu encontro com a modernidade. Inevitavelmente, então, a seleção de leituras oferecida nesse livro reflete a literatura disponível. Apesar de uma tentativa séria de cobertura global, os temas e as áreas sobre os quais a maior parte foi escrita estão desproporcionadamente mais representados. Os vieses que resultam disso serão discutidos mais adiante, na Conclusão. As ponderações mais evidentes do livro são em relação ao Ocidente, particularmente os Estados Unidos e sua forma dominante de religião, o cristianismo protestante. Outro aspecto sobre a “ponderação” das leituras que vale a pena destacar no início é que as três principais variedades históricas da religião pesquisadas na Parte I são dadas, cada uma, igual espaço, enquanto as “variedades combinadas” (as religiões vivenciais de diferença e as religiões vivenciais de humanidade) são tratadas mais brevemente. Não se presume, de modo algum, que isso reflita o peso numérico real dessas formas de religião nos tempos modernos.

Perguntas Frequentes A abordagem geral desse livro foi testada tanto em nossos alunos quanto em públicos mais gerais. Importantes modificações resultaram disso. Temos também consciência de algumas questões recorrentes que o livro parece levantar Pergunta: Há apenas três variedades de religião nos tempos modernos? Resposta: Não! Como a figura da p. 2 sugere, esses são apenas três pontos sobre um espectro teórico. Como o capítulo sobre Combinações no final da Parte III demonstra, na prática, esses três tipos coexistem, interagem, discordam, fundem-se e se modificam uns nos outros de muitas maneiras diferentes. As duas variedades adicionais de religião nos tempos modernos, às quais o livro chama a atenção (as religiões vivenciais de diferença e as religiões vivenciais de vida) são o melhor exemplo disso. Pergunta: Qual a sua definição de religião?

Resposta: Não a definimos, pela simples razão de que um dos nossos objetivos principais (como explicado acima) é fugir de entendimentos monolíticos de religião. Para aqueles que estão interessados, existe uma extensa literatura sobre o tema, que é revisada em quase todas as introduções de sociologia da religião. Pergunta: E sobre a pós-modernidade? Resposta: A pós-modernidade tem vários significados. Um movimento nas artes e na arquitetura. Uma forma de crítica literária. Uma escola(s) da filosofia. E uma era sociocultural distinta. Em relação à religião nos tempos modernos, é a última definição – a ideia de que estamos entrando em uma nova era pós-moderna – que é a mais relevante. À medida que essa hipótese é parte integrante de uma maneira de pensar unilinear, periodizante, somos obviamente críticos. No entanto, usada de maneira mais sutil, para sugerir certas mudanças importantes nos últimos tempos, parte da literatura sobre a pós-modernidade pode ser útil para a compreensão da religião. De fato, a religião pode ser um bom teste para toda a ideia de pós-modernidade. Alguns dos desenvolvimentos destacados pelos teóricos da pós-modernidade (como a globalização, a dissolução e descentralização de si mesmo; a transformação do tempo e do espaço; a desessencialização do gênero) ainda não provaram seu valor em termos de sua capacidade de avançar nossa compreensão da religião nos tempos modernos, (talvez estejam apenas esperando pelos teóricos certos surgirem ou pela religião assumir uma forma adequada). Outros, por outro lado – mais notadamente a ideia de que nossos tempos são caracterizados por uma nova compreensão e avaliação da diferença – parecem muito mais esclarecedores. Essas questões são discutidas mais adiante na seção Diferenças da Parte II, e na Conclusão.

Como usar este livro Esse volume foi concebido para que possa ser lido como um livro, começando pelo início e se desenrolando sistematicamente, ou como uma obra de referência, onde se mergulha em seções específicas. Como um livro, possui temas unificadores e ligações cruzadas, o que se tornará mais evidente se for lido do começo ao fim. Para aqueles que estão apenas mergulhando, no entanto, referências cruzadas são fornecidas, para que seja possível acompanhar os principais temas sem muita dificuldade. Se funcionar como o pretendido, essa obra permitirá que os leitores identifiquem os livros e artigos que gostariam de estudar com maior profundidade, e dos quais apenas uma amostra aqui é dada. Esses, por sua vez, contêm bibliografias que podem levar os leitores ainda mais a fundo em áreas específicas de interesse. Sugestões para leitura são incluídas apenas ocasionalmente; às vezes essas sugestões destacam uma publicação a partir da qual nenhuma leitura foi incluída, mas que é pertinente ao assunto em questão, e por vezes direcionam os leitores para antologias que oferecem uma introdução à literatura em uma área relacionada.

Os autores Superficialmente, pelo menos, os autores desse livro têm pouco em comum – além do fato de ambos lecionarem no Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Lancaster. Linda Woodhead palestras sobre Estudos Cristãos. Paul Heelas, sobre Religião e Modernidade, e em particular sobre a Nova Era. Linda originalmente formou-se como teóloga. Paul, como antropólogo. Linda é filha da década de 1980. Paul, da década de 1960. Linda se descreve como uma cristã moderadamente conservadora. Paul, como um “humanista otimista”. Em termos da figura da p. 2, Linda estaria, assim, na ponta do triângulo2, com Paul tendo tendências distintamente de bolha3. No entanto, os dois autores são fascinados pela religião nos tempos modernos, e se reuniram por esse interesse comum. Ambos foram moldados e influenciados pela abordagem interdisciplinar da ciência da religião característica do Departamento de Lancaster. Ambos estão interessados no surgimento de formas alternativas de espiritualidade nos tempos modernos, e pelas dimensões nativas de tal espiritualidade (Paul escreveu um livro sobre o movimento da Nova Era (1996), e Linda está atualmente4 escrevendo sobre Rabindranath Tagore e a ascensão da espiritualidade moderna). Da mesma forma, ambos estão interessados nas formas liberais, “relacionais” e humanistas de religiosidade popular, tanto quanto nas manifestações mais teóricas (eles escreveram recentemente sobre a religiosidade da princesa Diana e seus admiradores para a coleção Diana: The Making of a Media Saint, organizado por Jeffrey Richards, Scott Wilson e Linda Woodhead, 1999). Paul também organizou livros sobre destradicionalização (com Scott Lash e Paul Morris, 1996) e, mais recentemente, sobre religião, modernidade e pós-modernidade (com a ajuda de David Martin e Paul Morris, 1998). Religion, Modernity and Post Modernity e Religion in Modern Times são publicações da recente série da Blackwell sobre “Religião no Mundo Moderno”, da qual Linda e Paul são os organizadores. Ambos os livros são destinados a estabelecer uma agenda para essa série, e levar a diante seu objetivo declarado de publicar trabalhos acessíveis a todos os aspectos da vida religiosa e do pensamento nos tempos modernos. Gostaríamos de receber correspondências sobre essas questões ou afins. Suas reações a esse livro também seriam apreciadas. Podemos estar em contato: The Department of Religious Studies Lancaster University Lancs LA1 4YG UK e-mail: [email protected] ou pela página do departamento: http://www.lancaster.ac.uk/vser/religstudies/

2

N.T.: Dizendo respeito às religiões de diferença. N.T.: Dizendo respeito às espiritualidades de vida. 4 N.T.: “Atualmente” na época de lançamento dessa obra, em 2000. 3

Agradecimentos A Stephan Chambers da editora Blackwell, quem teve a ideia de um livro sobre religião e modernidade em primeiro lugar. Alex Wright, Clare Woodford, Joanna Pyke e outros da editora Blackwell, que viram o processo de publicação desse livro; Ginny Stroud-Lewis, por buscar pelas permissões; e Anthony Grahame, por copiar e editar tão soberbamente. A todos os colegas da Universidade de Lancaster, a quem somos gratos de todas as formas pelas ideias, inspirações, críticas e gentilezas, e em particular a Deborah Sawyer por seu apoio enquanto Chefe de Departamento, a Richard Roberts por nos encorajar a desenvolver a Parte II, e também a David Waines e John Sawyer por seu suporte sobre o islamismo e do judaísmo. Aos nossos alunos, que tiveram uma grande influência sobre esse livro. Aos leitores de nossa proposta, que fizeram muitas sugestões úteis em um estágio inicial de sua evolução. Aos funcionários da biblioteca de Lancaster, que disponibilizaram quase todo o material usado aqui. A Ninian Smart por fundar o Departamento em Lancaster em primeiro lugar, proporcionando assim o espaço institucional para o tipo de estudo sobre religião que esse livro exemplifica. Ao Departamento de Ciência da Religião de Santa Barbara – um departamento irmão da costa oeste, de pensamento similar ao de Lancaster, cujos membros estão bem representados nas páginas que se seguem. A Steve Bruce e David Martin, cujos comentários tiveram uma influência significativa sobre o formato desse livro, e cujos trabalhos e amizade revelaram-se uma inspiração e uma bênção a nós. E, finalmente, a todos os pesquisadores e praticantes cujos escritos são extraídos no que se segue, e a quem somos grandemente agradecidos. Maiores agradecimentos são reconhecidos na dedicatória.

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