Renamo: uma oposição hegemônica?

July 25, 2017 | Autor: Luca Bussotti | Categoria: Political Sociology, African Studies, African Diaspora Studies
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Sexta 27 de Março 2015 Ano: 02 Número: 53

100MT Director: Nataniel Ngomane Director Executivo: Vitor Gonçalves

Cadeias transformaram-se em incubadoras de tuberculose

Combatentes devem entregar o poder l Não somos eternos l Nyusi e Dhlakama não firmaram nenhum acordo l Não é tempo para termos um fundo soberano l Chissano abandonou presidência da Frelimo

por iniciativa pessoal

Mariano Matsinha

Págs. 16 e 17

Primeiros engenheiros petrolíferos moçambicanos Pág. 15

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Ficha Técnica

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DIRECTOR: Nataniel Ngomane [email protected] DIRECTOR EXECUTIVO: Vitor Gonçalves [email protected]

Desmilitarização da Renamo: falta de consenso “afugenta” peritos militares internacionais «Entre os países que manifestaram interesse em retirar-se da EMOCHM [Equipa de Observação da Cessação das Hostilidades Militares] inclui-se Portugal», afirmou o chefe da delegação do Governo moçambicano, José Pacheco.

EDITOR DO JORNAL: Xavier da Ilda [email protected] EDITOR DA MISSANGA: Adamo Halde [email protected] REDACÇÃO: Benedita Félix, Claudia Muguande, Leonel Albuquerque, Leonel Matusse Jr., Luiza Menezes, Marcolino Vilanculos COORDENADOR DE REDACÇÃO: Manuel Jesus [email protected] ASSISTENTE DE REDACÇÃO: Luís Muzuana

Criminalidade é resultado de uma sociedade pouco inclusiva Uma sociedade que não garante a igualdade de direitos entre os seus cidadãos perante a lei e que não há distribuição da riqueza material não pode evitar que o comportamento dos seus integrantes não seja violento, defendeu o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Custódio Duma, na segunda-feira, no âmbito do I Congresso Luso-moçambicano de Direito, que decorreu na capital moçambicana, Maputo.

CRONISTAS: Mia Couto, Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa COLUNISTAS: Eduardo Namburete, Eduardo Neves, Ivone Soares, João Figueiredo, Manuel de Araújo e Teodoro Waty. CORRESPONDENTES: Constantino André (Beira), Fidalgo Júnior (Cabo Delgado), John Keitta (Manica), Josefa Macadona (Niassa), Aunício da Silva (Nampula), Victor Simbarove (Tete), Hamilton Piletiche (Zambézia) WEBSITE: Monstrocriativo: Nuno Henriques e Raquel Prata FOTÓGRAFO: Adiodato Gomes

Regiões fronteiriças prejudicadas pelo desequilíbrio das relações comerciais Os moçambicanos residentes nas zonas fronteiriças sobrevivem graças à produção dos países vizinhos e importam através dos países com os quais Moçambique partilha fronteiras. Mais do que configurar uma relação comercial desequilibrada e com prejuízos para Moçambique, a importação de produtos estrangeiros implica prejuízos na balança de pagamentos, que tendem a ser permanentemente negativo.

COLABORADORES: Tânia Waty, Salim Sacoor e Yara Ngomane (textos) DESIGN E PAGINAÇÃO: É Comunicação, Lda | comunicar @sapo.mz Naguib (logotipos) DISTRIBUIÇÃO NACIONAL: Media Group, S.A. IMPRESSÃO: Minerva Print TIRAGEM: 7 mil exemplares DIRECÇÃO COMERCIAL: Raúl Jaime Kadzomba ASSISTENTE ADMINISTRATIVA: Leona Tavares

Desportistas convergem: é preciso valorizar o papel do treinador Um total de 23 treinadores terminou, na semana finda, o primeiro curso em Moçambique de formação de treinadores do mais alto nível do continente africano. Contudo, a cerimónia de encerramento foi marcada por uma “leve” troca de palavras entre os intervenientes naquele evento que decorreu na Academia Mário Esteves Coluna em Namaacha.

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: António Mendes (presidente), Tânia Waty e Vitor Gonçalves (administradores) CONSELHO FISCAL: João Moreira PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA GERAL: Teodoro Waty PROPRIEDADE: MEDIA GROUP, S.A. CONTACTOS: [email protected] +258 82 76 85 294 Rua Consiglieri Pedroso, 66 Maputo Numero de registo: 03/Gabinfo - Dec /2014

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OLÍTICA

Desmilitarização da Renamo: falta de consenso “afugenta” peritos militares internacionais «Entre os países que manifestaram interesse em retirar-se da EMOCHM [Equipa de Observação da Cessação das Hostilidades Militares] inclui-se Portugal», afirmou o chefe da delegação do Governo moçambicano, José Pacheco. Segundo Pacheco, «todos os países convidados para o primeiro mandato da EMOCHM voltaram a ser convidados verbalmente e por escrito para continuarem nos 60 dias de prorrogação», incluindo os Estados Unidos, que nunca chegaram a mandar observadores. Contactado pela Lusa, o Ministério da Defesa Nacional (MDN) de Portugal confirmou a retirada dos seus dois oficiais de Moçambique, que acompanhavam o desarmamento da Renamo e integração dos seus homens nas Forças de Defesa e Segurança, um processo bloqueado ao longo dos 135 dias de vigência da EMOCHM, cujo mandato terminou em Fevereiro e que só há uma semana conheceu uma prorrogação de 60 dias. «A missão acabou em Fevereiro e os oficiais portugueses ficaram mais algum tempo em Moçambique à espera de uma decisão sobre a sua continuidade», informou à Lusa o gabinete de imprensa do MDN, acrescentando não ter recebido «nenhum pedido oficial em tempo útil» para manter a presença de Portugal na EMOCHM.

«Se entretanto houver um pedido oficial nesse sentido, com certeza será avaliado», referiu o gabinete de imprensa do MDN. O chefe dos negociadores da Renamo responsabilizou, por seu lado, o Governo pelo abandono da EMOCHM dos observadores estrangeiros e que, além de Portugal, incluem os oficiais do Reino Unido, Itália e Botswana. «A informação de que dispomos é que o Governo, através do Ministério dos

Negócios Estrangeiros, atrasou-se a endereçar os convites aos países que integram a EMOCHM, para ficarem mais 60 dias no país», afirmou Saimone Macuiane, salientando que os observadores «não podiam manter os seus militares em território moçambicano numa situação irregular.» Há uma semana, José Pacheco tinha anunciado a retirada dos observadores de Itália, Reino Unido e Botswana, e fez uma

referência vaga sobre a presença dos dois oficiais portugueses, que se mantinham nas províncias de Sofala e Nampula. Com a saída dos oficiais portugueses, a EMOCHM não terá nenhum país europeu. A EMOCHM decorre do acordo de paz, celebrado a 5 de Setembro de 2014, pelo ex-Presidente moçambicano Armando Guebuza e pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e que colocou termo a mais de 17 meses de confrontações militares na região centro. A equipa de observadores é integrada por 70 elementos militares (35 indicados pelo governo e igual número pela Renamo) e ainda por 23 peritos militares internacionais. Há uma semana, as partes concordaram prolongar a missão de observação por mais 60 dias, após um primeiro mandato caraterizado pela paralisia nas negociações, com o Governo a reclamar uma lista de homens da Renamo a inserir nas Forças de Defesa e Segurança e o partido de oposição a exigir um modelo de integração, bem como a partilha de postos de comando. Governo e Renamo têm também enviado acusações mútuas de violação do acordo, apontando movimentações militares, quer das Forças Armadas e Defesa de Moçambique, quer do braço armado do movimento.

Cabo Delgado mobiliza-se na luta contra doenças oculares Termina hoje a companha de remoção de catarata na província de Cabo Delgado, uma iniciativa que abrangeu 80 pacientes provenientes dos distritos de Balama, Namuno e Montepuez (anfitrião). Estão envolvidos na campanha uma equipa médica composta por nacionais e estrangeiros. Em entrevista ao SOL DO INDICO, o médico-chefe do distrito de Montepuez, Paulo Maurício, referiu que a campanha que sector está a levar a cabo é uma iniciativa ímpar para devolver a visão plena aos pacientes que actualmente enfrentam uma situação de cegueira parcial. «O objectivo é de melhorar a assistência médica aos pacientes, dando a oportunidade de voltarem a ver e combater a cegueira.» Sabe-se que a região sul da província de Cabo Delgado é muito propensa a casos de catarata, mesmo com os esforços das autoridades de saúde para estancar o mal continuam a se registar elevados causos da doença. A fonte disse que existe uma equipa de trabalho que se tem deslocado às comunidades longínquas, de modo a identificar os

possíveis doentes e fazer a respectiva monitoria aos pacientes tratados em outras ocasiões. «Muitos dos casos de catarata estão em locais longínquos da sede distrital. Os pacientes que têm problemas de visão poucas vezes se dirigem a unidade sanitária», anotou o médico-chefe. A catarata é uma doença dos olhos que consiste na opacidade parcial ou total do cristalino ou da sua cápsula. A luta continua A par da campanha contra a catarata, está marcada para próxima segunda-feira (29) o arranque da campanha de tratamento da triquíase [alteração das pálpebras que acontece pela mudança na orientação dos cílios]. São no total 100 pacientes que padecem de triquíase e que terão a oportunidade de serem submetidos a operações cirúrgicas. «A consequência mais comum da triquíase é a irritação permanente da conjuntiva bulbar e da córnea, podendo resultar em conjuntivite ou ceratite», explicou Paulo Maurício.

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OLÍTICA

Benedita Félix

Criminalidade é resultado de uma sociedade pouco inclusiva - defende Custódio Duma Uma sociedade que não garante a igualdade de direitos entre os seus cidadãos perante a lei e em que não há distribuição da riqueza material, não pode evitar que o comportamento dos seus integrantes se torne violento, defendeu o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Custódio Duma, na segunda-feira, no âmbito do I Congresso Luso-moçambicano de Direito, que decorreu na capital moçambicana, Maputo. Custódio Duma disse que a educação é um conceito muito ligado à discriminação e ao crime. Nos últimos cinco anos, apesar de haver um crescimento do número de pessoas com formação, as desigualdades no acesso ao ensino continuam preocupantes. Cerca de 70 por cento dos reclusos não concluíram o ensino primário básico (1ª à 7ª classe). «A criminalidade é consequência de uma sociedade pouco inclusiva», considerou Custódio Duma. Para Duma, o ensino superior e a profissionalização significam sucesso na vida social, e prestígio profissional. Somente com essas ferramentas as pessoas podem expandir os seus caminhos e a suas personalidades. «A educação no nosso país é um factor de discriminação em muitos momentos e não de inclusão. O ensino de qualidade não está acessível à maior parte dos moçambicanos. A educação básica de qualidade devia ser acessível e obrigatória para todos, de modo a que todos tenham as ferramentas necessárias para competir de igual modo.» Por outro lado, o juiz-conselheiro do Tribunal Supremo de Moçambique, Pedro Nhatitima, observou que «o país está a lidar com uma onda de crimes violentos sendo necessário que se aprofunde o conhecimento técnico e científico dos profissionais do Direito e não só.» A má nutrição é também um factor que contribui para a discriminação. Em Moçambique, mais de 50 por cento das crianças sofrem de má nutrição, problema que contribui para o mau desenvolvimento do corpo humano, situação que impossibilita as pessoas de competirem de igual forma com os demais cidadãos. Se os cidadãos não podem ter os alimentos necessários para crescerem saudáveis fisicamente e intelectualmente, esta situação condena-os à discriminação social. A discriminação é a mãe de todo o tipo de violência. «Numa sociedade onde a maior parte das pessoas é pobre não se pode falar de igualdade e inclusão», acrescentou Duma. Uma pesquisa feita por uma organização da sociedade civil – a Liga de Direitos Humanos -, em 2007, aferiu que a maior parte das pessoas que cumprem penas nas cadeias nacionais têm entre 16 e 30 anos [sem nenhuma formação superior e a maior parte desempenhava actividades informais] e encontram-se presos por terem cometido crimes ligados ao património. «Estes jovens não passam de vítimas da

nossa sociedade discriminatória», concluiu Custódio Duma. Ribeiro José Cuna, professor no Centro de Formação Jurídica e Judiciária de Moçambique, considera que as leis devem ter efeitos palpáveis na vida das pessoas. «Moçambique tem boas leis, porém ainda carecem de um forte trabalho. Somente programas eficientes de educação, alimentação, saúde, segurança vão reduzir drasticamente a discriminação e a violência», sentenciou o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos. Sistema jurídico deve dialogar mais com a população A maior parte dos moçambicanos não

entende como funciona o sistema de justiça e devido à falta de conhecimento cometem crimes em nome da própria justiça. Por vezes, a população lincha um criminoso por não entender os procedimentos legais, daí a necessidade do governo e do sector da justiça difundirem o Código Penal e outros conjuntos de leis que regem a justiça nacional. Uma das consequências da falta de informação tem sido a discriminação do cidadão que já foi preso, que apesar de ter cumprido a pena estabelecida continua a ser colocado à margem da sociedade. As penas alternativas não são bem compreendidas poderão ser interpre-

tadas como uma forma de impunidade, situação que pode levar ao aumento da onda de violência, revelou Custódio Duma. Estas discussões tiveram lugar no I Congresso luso-moçambicano de Direito, organizado pelo Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), Faculdade Direito da Universidade Nova Lisboa e Instituto de Direito da Língua Portuguesa. De referir que neste evento também foram discutidos os seguintes temas: crise e trabalho; economia social; reformas processuais civis; resolução alternativa de litígios; sistemas políticos e reformas constitucionais.

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PINIÃO

Falsa (4) solução?

EM LÁ MENOR Teodoro Waty

O Professor Katupha, a voz do Parlamento, há poucos dias, informou que já existe um Projecto depositado pela Bancada Parlamentar da Renamo sobre as Províncias autárquicas. Procurei e encontrei. O que descobri ser o fundamento do projecto (afinal não se trata de proposta)? A Renamo diz que tendo outrora sido introduzidos os princípios e disposições sobre o poder local no texto da Constituição da República de Moçambique de 1990, abrira-se em Moçambique a era do aprofundamento do processo democrático e da descentralização administrativa, que a dinâmica política, económica, social e cultural há muito vinham reclamando, formando-se o Edifício Jurídico. A Renamo justifica o projecto com os anseios da população em ver resolvidos os problemas locais, entre outros, o desemprego, transporte, saúde, ensino, habitação, comércio, feiras, mercados. Defende a escolha do Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala por entender ser nessas províncias em que o anseio de descentralização e aprofundamento da democracia mais se reclama e é sentido. Pensa que a existência das autarquias de nível superior ao município é uma forma de aproximar o cidadão das entidades que profundamente conhecem os seus problemas e com potencial de os resolver, resolvendo, assim, os excluídos do processo do aprofundamento da democracia e da descentralização administrativa, lacuna não preenchida pelas actuais autarquias. Prossegue ensaiando argumentos que tentam provar que elas operarão uma mudança profunda no método de organização da Administração Pública gerando descentralização, modernização, eficiência, simplificação e aproximação dos serviços às comunidades e aos cidadãos em particular, um modo de consolidar o Estado de Direito. Não são fundamentos errados nem desprovidos de sentido. Tenho dúvidas profundas se essa solução é a única e a mais fácil! Não haverá outras soluções que não obriguem a Constituição da República a uma urgência para cirurgias prolongadas e inéditas e susceptíveis de complicações pós-operatórias? Parece ser a questão que deve ser respondida na Casa do Povo. Se, de facto, são verdadeiros os fundamentos aduzidos, pois vale a pena pensar no objectivo principal: a participação democrática dos governados nos assuntos que lhe são próprios, como verdadeiros vizinhos. As autarquias provinciais vão criar um novo conceito de vizinhança mais forçado do que o comum, em Moçambique. Alguns dos novos vizinhos estarão distantes uns dos outros muito mais de 500 quilómetros. Isso não seria mau de todo, pois, só se passa a ter mais vizinhos e pouco mais… Certeza é, todavia, os novos autarcas não poderem conhecer todos os novos vizinhos. Começa aí a falácia. A solução não e suportada pelo argumento que, como disse, assenta no que todo o bom governado quer que aconteça. Sobre isso vamos acompanhar o debate que está para breve no Parlamento. Enquanto isso, continuo o meu raciocínio das semanas passadas sobre a provincialização que , como disse, é um factor na multiplicação da riqueza, e de divisão na correcção das desigualdades, promoção de mais unidade e cura para os colonialismos internos. Do que tenho vindo a expor, poderá entender-se que a liberdade e a democracia em termos antinómicos. A importância da descentralização na sociedade moçambicana é fundada no facto do poder político tender a confiscar em seu proveito a autonomia das comunidades e orientar-se, talvez, para as formas autocráticas. Coexistindo a provincialização com a unidade do Estado, salvaguardam-se a autonomia local e a maioria democrática nacional e difunde-se o poder político,

criando o quadro jurídico dentro do qual se estabelecem relações de solidariedade e se afirma a capacidade de auto-organização e de decisão. A verdadeira provincialização é incompatível com a tendência histórica de concentração do poder político, de mera participação dependente, conferindo a ilusão de poder e alimentando a vocação totalitária do Estado e o sentimento de exclusão. A provincialização não se traduz numa vontade de afirmação da identidade étnica, nem pretende operar uma valorização dos grupos étnicos, nem o regresso às formações étnicas accionado pelo anonimato crescente das sociedades moderna. A História não favorece as referências à tribo, raça, credo, à cultura autóctone e à diferenciação interna das po-

A provincialização pode ter como fundamento a luta contra a massificação de toda a sociedade e a ameaça de dissolução das nacionalidades que podem fazer regressar de novo a vontade de autodeterminação local. pulações. Não devem ser estimuladas para actuar como factores de fortalecimento de uma vontade comum. Será que devem ser silenciadas ou sufocadas para se construir um Estado unificado? Não serão, porventura, uma forma de estimular a consciência nacional? A provincialização pode ter como fundamento a luta contra a massificação de toda a sociedade e a ameaça de dissolução das nacionalidades que podem fazer regressar de novo a vontade de autodeterminação local, como redescoberta da identidade adormecida, revitalização dos agrupamentos étnicos, cuja consciência se perdera na bruma da memória colectiva pela acção do poder distante e centralizado, para o regresso ao mesmo perante um alargamento indefinido do outro. A provincialização que se defende é um grito ante a tendência de autarcização, regionalização do Estado. A provincialização insere-se, assim, numa tendência multifacetada de reacção contra as novas formas autocráticas e imperativas de organização da vida social e de condução da coisa pública, camufladas de democratizadoras da sociedade. Os objectivos insertos no projecto são ambiciosos. Qual seria o governado que não os quer? As soluções ensaiadas não podem nem soar, nem cheirar a boas. Procurem-se outras menos falsas!

Teodoro Waty* [email protected] (*) Doutor em Direito, Professor Universitário e Advogado

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO ESTATAL

INSTITUTO NACIONAL DE GESTÃO DE CALAMIDADES Gabinete da Direcção

Apelo à Solidariedade

Compatriotas As zonas centro e Norte do País vem sendo fustigadas por cheias e inundações a partir da primeira semana de Janeiro de 2015. Vários compatriotas nossos localizados nessas zonas perderam tudo ou quase tudo que tinham na sua esfera patrimonial, incluindo meios e reservas alimentares. Muitos deles debatem-se ainda hoje com carências básicas que colocam em risco a própria sobrevivência e dos seus familiares. As chuvas deixaram dor e luto nas famílias. Neste contexto apelamos todas as forças vivas da sociedade para que, de forma voluntária, possam prestar a sua solidariedade às vítimas das inun-

Povoado de Macuze

dações no centro e norte do país, para “minimizar o sofrimento”, doando produtos alimentares não perecíveis, roupas, mantas, calçado, material escolar, produtos de higiene, material de construção, entre outros. Para o efeito, todas as contribuições poderão ser depositadas no Instituto Nacional de gestão de Calamidades (INGC-CENOE), situado nas instalações da Base aérea, portão nr°4; contacto 820000022/55 ou sendo valores monetários, na agência do Banco Comercial de Investimentos (BCI) na conta n° 7616042410002 designada Conta Solidariedade.

Centro de Acomodação de Mocuba

com o apoio

Ponte sobre o rio Licungo

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OCIEDADE

Em Moçambique: Tubercu

Quando amanhece, o que para uns representa mais um dia laboral, para outros significa mais um dia de batalha pela vida, que começa numa longa fila de hospital. Assim são as manhãs de milhares de doentes de tuberculose em todo o país que, diariamente, entregam-se a muitos quilómetros de distância em direcção a uma unidade sanitária para receber o tratamento, beneficiando assim da Directa Observação de Tratamento (DOTS), uma estratégia proposta pela Organização Mundial da Saúde para o controlo da tuberculose, como forma de evitar que os doentes abandonem o tratamento. O DOTS é tido como uma das prioridades para o controlo da tuberculose, principalmente para os 22 países (de que Moçambique faz parte) responsáveis por 80 por cento do total de casos de tuberculose notificados no mundo, e propõe a integração do cuidado de saúde primária e adaptação contínua de reformas dentro do sector de saúde. Celebrou-se esta semana o Dia Mundial da Tuberculose, mas não foi num clima de comemoração que, na manhã da

quarta-feira (25), Essita Paulo Nhanombe, de 49 anos, visitou o Centro de Saúde Machava-2. Ela estava a obedecer a uma agenda de rotina, que se resume em, algumas vezes por mês, acompanhar àquela unidade sanitária o seu irmão mais novo, de 40 anos, a quem há um ano lhe foi diagnosticado tuberculose (TB) extra-pulmonar associado ao HIV/Sida. Ele, a quem vamos tratar por António, é deficiente físico, vive no bairro Trevo e iniciou o tratamento na África do Sul, onde fazia diferentes biscates como pedreiro, comerciante, entre outros. Devido à condição física deste paciente, o Centro de Saúde Machava-2 abriu uma excepção de modo a que, diferente dos outros pacientes, António pudesse tomar os medicamentos em casa [quantidade suficiente para um mês]. Somente em dias de controlo é obrigado a dirigir-se ao hospital. Foi num desses dias que o SOL DO INDICO o encontrou. Essita Nhanombe, que é casada, a viver em Manica, decidiu vir passar uns tempos em Maputo para auxiliar a sua mãe nos cuidados ao irmão que nem conseguia se

locomover. «Ele não conseguia sequer deslocar-se para a casa-de-banho. O meu apoio resumia-se em confortá-lo e garantir que a tuberculose não mata, tem cura. Apenas não o falei ainda da outra doença [HIV] por temer que sofra uma recaída ou desista do tratamento», revelou. Essita não carrega boas recordações em relação a esta doença, pois já perdeu muitos familiares vítimas de TB. «O meu avô, meu pai, um dos meus tios, minhas duas irmãs, todos morreram. Das meninas, só fiquei eu. Tenho um irmão e um tio, ambos com tuberculose.» Quando Essita chegou de Manica constatou pequenas falhas no cumprimento das prescrições médicas por parte do irmão. É por essas e outras situações que o Directorgeral do Movimento Contra a Tuberculose (MCT), Eugénio Juliasse, considera o apoio psicossocial de igual importância com o medicamento. «Mesmo havendo muitos medicamentos, quando a família não apoia, os resultados são sempre negativos.» Os dias de António resumem-se em, nas

manhãs, receber um banho dado pela mãe e tomar três comprimidos contra a tuberculose, e à noite um anti-retroviral. No princípio não conseguia engoli-los, por isso a irmã adoptou o sistema de moêlos. A tuberculose é uma doença que pela sua natureza já suscita muita discriminação, agravado pelo facto de a sociedade ainda mostrar-se muito desinformada. Essita é o exemplo disso, porém tem feito consultas com alguma frequência. Ela não sabia se a doença do irmão era ou não contagiosa e, para piorar, os familiares sempre que fossem visitar aquele, recomendavamna a usar máscara sempre que cuidava do irmão. No caso de António, o distanciamento vem de quem menos se espera, do seu irmão mais novo. «Ele nem toca no irmão por temer qualquer tipo de contaminação. Nunca entrou no quarto onde o outro dorme. Mas não sei, se calhar por ironia do destino, semana passada começou a tossir e os sintomas indicam tratar-se de tuberculose.» Entretanto, o Director do MCT explica que a tuberculose extra-pulmonar depois

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Cláudia Muguande

ulose continua a matar de duas semanas de tratamento deixa de ser altamente infecciosa. A indignação de Essita Nhanombe não termina nas paredes de casa. «Já presenciei muitos casos de doentes que vêm sozinhos ao centro de saúde. Uma menina estava muito debilitada, nem a própria mãe tinha coragem de carregá-la, alegava não querer ser contaminada. Não vejo essa menina há uma semana, perguntei por ela à enfermeira e não soube dizer. Temo que tenha perdido a vida porque nem conseguia andar.» Tuberculose associada à magia negra Em Moçambique, mais de 60 mil casos de tuberculose são diagnosticados e tratados anualmente, mas suspeita-se que o número de infectados chegue a 140 mil. Chamado pelo SOL DO INDICO a explicar a razão de Moçambique estar nesta situação, o Director do Programa da Tuberculose ao nível do Ministério da Saúde, Ivan Manhiça, considerou que a pandemia da tuberculose tem a tendência de seguir a de HIV, assegurando que a tuberculose constitui um dos problemas que está nas prioridades do MISAU. «Estamos numa região de alta carga de HIV e sabe-se que esta doença diminui a nossa capacidade de resposta como organismo, e naturalmente cria condições para o desenvolvimento da tuberculose. Enquanto tivermos altos índices de HIV continuaremos a ter alta carga de tuberculose. O que temos assegurado é que todo o paciente com tuberculose faça o teste de HIV.” Segundo observa o Director do MCT, os números elevados podem estar associados ao hábito de se recorrer à medicina tradicional, associando a doença à magia negra. Nessa constatação, ele auxilia-se nos estudos que apontam que mais da

metade da população africana antes de recorrer à medicina convencional procura a tradicional. «São poucos os médicos tradicionais honestos que nos casos de tuberculose mandam os doentes ao hospital. As pessoas só não sabem que o tratamento tradicional sai mais caro que o convencional.» À esta prática pode ser conotada a atitude tomada, no princípio, pela família de António, que, no lugar de recorrer ao hospital, optou por aproximar-se a um médico tradicional, onde teve de pagar 8 mil meticais, diga-se, para “comprar” a deterioração da saúde do seu filho. Como forma de combater a deslealdade de alguns médicos tradicionais, o MCT tem realizado actividades de capacitação em matéria de tuberculose no seio desta classe médica tradicional. Cadeias podem ser incubadoras de tuberculose No âmbito das celebrações do Dia Mundial da Tuberculose, assinalado a 24 de Março, o Ministério da Saúde e o Serviço Nacional das Prisões com o apoio da Organização Mundial da Saúde realizaram uma actividade de rastreio maciço da tuberculose nas grandes cadeias do país. O Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo foi um dos lugares visitados pelo Director de Programa da Tuberculose ao nível do Ministério da Saúde. Neste centro penitenciário estão detidos 2300 reclusos, população considerada de risco. Em 2013, no último censo efectuado, a 30 reclusos foi-lhes diagnosticado tuberculose, sendo 14 na primeira fase da doença, 12 na segunda e 4 com recaída. Zito Matessu, 37 anos, é um dos reclusos, condenado a quatro anos de prisão, tendo já cumprido dois. Ele responde pelo título

de primeiro homem de saúde e está afecto ao sector da tuberculose. Ele conta já ter presenciado muitas mortes naquele recinto. «Não é fácil. Tenho acordado por volta das 0 horas para levar os doentes para o hospital, e geralmente não voltam, porque perdem a vida. Por exemplo, quando um doente se apercebe que está contaminado faz de tudo para passar para os outros.» Matessu contou que nunca presenciou uma actividade de rastreio em massa naquela unidade prisional. Aliás, isso vem a corroborar com as constatações feitas pelo director do MCT, de que as campanhas, sensibilizações, rastreios maciços «somente aconteçam nos dias comemorativos. Se passarmos por essas cadeias constataremos que nunca foi feita essa actividade. A tuberculose

continua negligenciada.» Juliasse ainda se prolonga na tentativa de encontrar a origem do problema. «As nossas cadeias têm sido autênticas incubadoras de tuberculose. O problema começa nos centros preventivos, onde não há qualquer espécie de ventilação digna e as portas são de chapa. O ar entra só por pequenas janelas. Antes de passarem já para as cadeias, estes reclusos deviam ser submetidos a um teste.» Relativamente a esta questão, o director do Programa da Tuberculose ao nível do Ministério da Saúde assegurou estar na fase conclusiva uma estratégia de trabalho que vai assegurar o despiste da doença a todo novo recluso. Os que já existem vão ser rastreados rotineiramente, e os casos confirmados serão colocados em celas especiais.

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O pinião

Nuno Negrões – Biólogo, Investigador e Divulgador de Ciência António Batel Anjo – Professor e Divulgador de Ciência

O fim da picada

O zumbido das abelhas não deixa ninguém indiferente e de uma forma gera, faz-nos fugir a sete pés. Mas se por um lado temos terror de ser picados por uma abelha, por outro a nossa vida sem elas seria bem menos saborosa. Mas que tempero especial dão estes pequenos insectos voadores à nossa vida? Mel! Essa seria a resposta mais óbvia, mas na verdade o mel é apenas um dos contributos das abelhas para a nossa vida. Primeiro há que esclarecer que nem todas as abelhas produzem mel! Nem todas têm ferrão e por isso nem todas picam! Temos a ideia de quando picam morrem mas podem não morrer! Já agora... nem todas as abelhas são às riscas amarelas e negras e nem todas vivem em colmeias, sendo que algumas são meio solitárias. Existem mais de 20 000 espécies de abelhas no mundo, portanto há abelhas para todos os gostos. Esclarecidos estes aspectos vamos aos serviços que as abelhas nos prestam. Uma espé-

cie de benção “urbi et orbi”. Além do mel, da cera que produzem as abelhas são fundamentais para a que tenhamos cerca de 1/3 dos produtos agrícolas que comemos. Ao andar de flor em flor elas acabam por transportar consigo o pólen das partes masculinas para as partes femininas e desta forma permitir a reprodução destas plantas. Digamos que de certa forma podíamos descrever as abelhas como cupidos que permitem que haja “amor” no reino vegetal. Há quem se deu ao trabalho de estimar quanto custaria este serviço, a que se chama polinização, que as abelhas fazem. Por exemplo, calculou-se que o valor do trabalho de polinização das abelhas valeria mais de 500 000 000.00 MT em Moçambique e 200 milhões Libras no Reino Unido, mais de 10 mil milhões de MT... maningue taco! Nos últimos anos tem-se observado uma morte massiva de abelhas e suas colónias. No inverno de 2012-2013, por

Primeiro há que esclarecer que nem todas as abelhas produzem mel! Nem todas têm ferrão e por isso nem todas picam! Temos a ideia de quando picam morrem mas podem não morrer!

exemplo, estima-se que 29% das colónias de abelhas produtoras de mel do Canada e 20% das colónias da Europa simplesmente desapareceram. O responsável por este genocídio?....Somos nós! Entre outras coisas o uso indiscriminado de pesticidas elimina muitas flores cujo pólen é alimento importante para estes pequenos insectos. Com escassez de comida e debilitadas pelo efeito directo dos insecticidas na sua saúde as abelhas vão deixando de zoar nos céus um pouco por todo o mundo. Se isto acontecer, as futuras gerações não vão saber o que é deliciar-se com maçãs, mangas, kiwis, pêssegos, peras, maracujás, cebolas, cerejas, café, limões, figos, cenouras, melões, tomates, uvas, tangerinas, brócolos, papaias… nem mel. Esta é realidade assustadora! Este caminho vai eliminar as abelhas da face da Terra. Para a Humanidade isto seria o fim da picada.

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Leonel Albuquerque

Regiões fronteiriças prejudicadas pelo desequilíbrio das relações comerciais Os moçambicanos residentes nas zonas fronteiriças sobrevivem graças à produção dos países vizinhos e importam através dos países com os quais Moçambique partilha fronteiras. Mais do que configurar uma relação comercial desequilibrada e com prejuízos para Moçambique, a importação de produtos estrangeiros implica prejuízos na balança de pagamentos, que tendem a ser permanentemente negativo. Num estudo realizado conjuntamente pelos economistas João Mosca e António Júnior e que abrangeu as fronteiras de Ressano Garcia e Namaacha (província de Maputo), Machipanda (Manica), Cassacatiza (distrito de Chiúta, província de Tete), Mandimba (Niassa), conclui que há mais importações do que exportações naquelas regiões fronteiriças. O trabalho decorreu entre os meses de Janeiro e Junho de 2014, nomeadamente, Ressano Garcia que cruza fronteira com África do Sul, Namaacha com Suazilândia, Machipanda com Zimbabwe, Cassacatiza com Zâmbia e Mandimba com Malawi. Os dados apontam que naquelas zonas, as populações dão primazia a posse de bens domésticos em detrimento dos bens de uso para a exploração agrícola. Aliás, a agricultura a apesar de ser reconhecida como a base para o desenvolvimento do país, é secundarizada naquelas regiões quando comparado com a actividade comercial. Existem mais moçambicanos a irem para os países vizinhos do que o número de estrangeiros a entrarem em Moçambique. Os dados do distrito de Cassacatiza são elucidativos. Nesta região, 98, 7 por cento

dos produtos tanto para o consumo assim como para a venda são importados da Zâmbia, país com o qual faz fronteira. Igual fenómeno também se observa em Ressano Garcia, onde as percentagens dos produtos importados da África do Sul através daquele posto fronteiriço situa-se nos 97 por cento. No geral, segundo aponta o estudo, em todas as regiões fronteiriças as importações são extremamente elevadas, perfazendo o mínimo de 90 por cento do total de produtos que se consomem naquelas regiões. No entanto, a situação tende a ser ligeiramente diferente em Machipanda e Namaacha [no que toca à importação], especialmente de bens de consumo, onde os valores atingem os 61,3 e 75 por cento respectivamente. Apesar de Ressano Garcia registar o maior fluxo dos movimentos migratórios de Moçambique para a África do Sul e viceversa, apenas 2 por cento dos produtos nacionais são exportados para aquele país vizinho. No capítulo de exportação, o distrito de Mandimba (Niassa) e Namaacha (Maputo) exportam 48 e 27 por cento dos produtos alimentares para os países com os quais cruzam as fronteiras, nomeadamente Malawi e Suazilândia. Contudo, há locais, como Namaacha, que exporta um número significativo de produtos alimentares, ao contrário de Ressano Garcia onde praticamente não há exportação. Existe uma grande procura por bebidas alcoólicas [secas] em todas as províncias abrangidas pelo estudo e representam até 18 por cento do total dos produtos exportados,

segundo avançaram os pesquisadores. A prestação de serviços e actividades na área de mineração é privilegiada pela população de Ressano Garcia, Namaacha, Machipanda e Cassacatiza. Constrangimentos das regiões fronteiriças Entre os vários constrangimentos que as populações residentes nas zonas fronteiriças enfrentam, destacam-se os custos do passaporte, as taxas alfandegárias, cobranças ilícitas, a falta de informação sobre a pauta aduaneira e dificuldades de transporte. «Em Machipanda a população tem um documento com validade diária para atravessar a fronteira, porém reclamam os custos do passaporte. Isto acontece porque a população tem de pagar pelo documento cada viagem que faz, o que acaba elevando os custos. E uma vez tido o passaporte, por fazerem o uso diário do referido documento, são obrigados

a tratarem de novo, facto que torna a situação insustentável», explicou o economista António Júnior. Em Mandimba, os custos dos transportes provocam inflação nos preços dos produtos no mercado local, pois os comerciantes são obrigados a deslocarem-se para Nampula ou Lichinga e ao longo do percurso, segundo explicou Júnior, «pagam taxas que fazem encarecer seus produtos quando colocados no mercado local e, em consequência, tornam-se menos competitivos com a dos malawianos que metem seus produtos no país.» Perante os factos, os pesquisadores concluem que os agentes económicos moçambicanos estão em desvantagem nas relações comerciais com os países vizinhos, tendo em conta o volume e tipo de bens e serviços importados e exportados. Assim sendo, os autores propõem a realização de feiras regulares e bilaterais com os países que cruzam fronteiras com Moçambique.

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Leonel Albuquerque

Especialistas em engenharia de petróleo serão colocados no mercado até ao final do ano A Anadarko, multinacional que opera na bacia do Rovuma, no contexto da prospecção e exploração de gás no país desafia às Pequenas e Médias Empresas (PME’s) moçambicanas a se fortalecerem e desenvolverem capacidades que as permitam encetarem parcerias de negócios inteligentes com as grandes empresas. A posição foi manifesta pela coordenadora sénior para a Responsabilidade Social da Anadarko, Eva Pinto, aquando da realização da primeira Conferência sobre Responsabilidade Social Empresarial, realizada em Maputo, um evento que serviu para reflexão e discussão sobre o impacto da acção social no desenvolvimento do país e suas formas de aprofundamento. As exigências que as multinacionais têm imposto como condição para a prestação de bens e serviços têm sido um “nó de estrangulamento” e ponto de discórdia entre as grandes empresas petrolíferas e mineiras e as PME’s nacionais. O facto que é que as PME’s nacionais não têm capacidade para responderem às necessidades das multinacionais, quer em quantidade e qualidade dos produtos solicitados. «Temos uma grande percentagem de empresas que já estão a beneficiar de capacitação. Penso que as exigências das multinacionais constitui uma oportunidade para as PME’s moçambicanas se elevarem. Considere-se isso como um desafio e não dificuldade. O desafio é sempre uma oportunidade para escalarmos de um nível para um outro mais elevado», disse Eva Pinto. A interlocutora não avança números mas diz haver cada vez mais empresas nacionais a serem incluídas na base de dados da lista das PME’s com os quais a Anadarko tem contratos para prestação de bens e serviços. «Se actualmente temos empresas que estão registadas na nossa base de dados é porque já ultrapassaram estas “exigências”. Então apelo para que as empresas que ainda não conseguiram desenvolver negócios com as petrolíferas e mineradoras a não desistirem do processo.» Apesar de ter também o petróleo como um dos principais produtos, a Anadarko [em Moçambique] ainda não se recente da queda do preço deste combustível no mercado internacional, segundo afirmou Pinto, sublinhando que a variação do preço do petróleo tem implicações para as actividades económicas de qualquer país. «A descida do preço do petróleo é uma situação que interferi em várias área da actividade económica, não só das indústrias de petróleo mas também das várias outras indústrias, afinal de contas somos todos utilizadores

Temos que saber lidar com essas flutuações, porque quando se atinge momentos de pico tiramse enormes benefícios.

deste recurso energético. A Anadarko ainda não se recente desta baixa, porque nós ainda não estamos a produzir esta fonte de energia», afirmou a fonte, explicando seguidamente que «temos que saber lidar com essas flutuações, porque quando se atinge momentos de pico tiram-se enormes benefícios.» A multinacional que opera na Área 1 e 4 da bacia do Rovuma, no norte do país, está a desenvolver em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) um programa de formação em engenharias de petróleo com 25 estudantes, do qual sairão os primeiros graduados nesta especialidade em finais deste ano. «Temos um programa que estamos a estudar que inclui o

ensino-técnico profissional, de modo a responder às necessidades em termos de nível médio e básico. Portanto, não é só para o nível universitário. O programa ainda não iniciou, estamos a analisar junto com o Governo para ver como podemos melhorar este programa», referenciou. O projecto-piloto para a formação de estudantes de nível médio e básico inserido nos programas de educação do governo em parceria com a Anadarko deverá começar em Cabo Delgado e posteriormente será expandido para as restantes províncias em função das necessidades do mercado. A Anadarko tem um total de 8 mil trabalhadores, dos quais perto de 2 mil são estrangeiros.

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P rincipal «Quando o presidente [do par Mariano Matsinha, membro do Comité Central há 52 anos e militante histórico da Frelimo, declarou ao SOL DO INDICO que não há razões para o presidente da Frelimo abandonar o seu cargo, porque não existe nenhuma obrigação estatutária que o obrigue a fazê-lo. Também é contra a ideia de criação de um fundo soberano com as receitas provenientes da exploração dos recursos naturais, por entender que ainda há muito por construir e fazer no país.

Este ano o país celebra 40 anos da independência nacional. Que leitura faz desse período? Tivemos agressões da Rodésia, da África do Sul, as acções da Renamo dentro do país. Também temos as cheias que periodicamente afectam o nosso país. Apesar de tudo isso estamos a avançar em muitos aspectos. Já temos infra-estruturas muito grandes e importantes, como a ponte sobre o rio Zambeze (Ponte Armando Emílio Guebuza), ponte da unidade nacional (no rio Rovuma que liga Moçambique e Tanzania) e muitas outras pontecas que construímos ao longo de todo este período. Em 1975, na educação tínhamos 93 por cento de analfabetos. Hoje, temos 45 por cento. Temos escolas primárias em todos os distritos, escolas secundárias e até universidades em alguns distritos. Portanto, isso implicou um grande esforço do governo da Frelimo. Já temos alguma intelectualidade dentro do país, pessoas que pensam e fazem estudos importantes sobre a vida da Nação. Aristóteles dizia: um ignorante afirma, um sábio duvida. Podemos dizer que em 1975 ainda afirmávamos, mas hoje já temos importantes reflexões. Estamos a crescer em todos os aspectos. A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) já é nossa, temos energia em todas as sedes distritos. Penso que o governo está a planear a construção de novas barragens para não dependermos somente da HCB, porque a energia eléctrica fomenta o desenvolvimento dos distritos e do país no geral. Não estou preparado para fazer o balanço geral dos 40 anos da independência, mas tenho a sensação que estamos a crescer. Estou satisfeito com o desenvolvimento deste país, apesar das dificuldades que ainda enfrentamos. É preciso notar que começámos quase tudo do zero. A Frelimo também vai comemorar 53 anos. Os ideais da criação do movimento continuam intactos? Ainda temos uma Frelimo com os ideais de 1962, porque a grande preocupação foi sempre estar ao lado do povo, para observar os problemas e estabelecer as políticas para a sua resolução. Entendemos que não pode haver desenvolvimento sem que haja educação. Não podemos sempre estar a fazer afirmações, pois é necessário ter tempo para as reflexões com vista a impulsionar o desenvolvimento do país. Quais são os problemas que ainda constituem um desafio? A má-nutrição continua com índices bastante elevados, facto que afecta conside-

ravelmente o nosso sistema da educação. Não conheço nenhum país no mundo em que a economia esteja apenas nas mãos de estrangeiros. A economia, sobretudo os pequenos empreendimentos, devem estar nas mãos dos nacionais. Não podemos viver somente com as empresas que vêm de fora, temos que encontrar mecanismos para reverter essa situação. Acha que estamos sob a sombra da maldição dos recursos minerais? Os recursos naturais, em princípio, devem

beneficiar os nacionais. Naturalmente, que agora não temos recursos para fazer a exploração, por isso os estrangeiros que têm recursos se beneficiam e pagam os impostos. São esses impostos que utilizamos para o benefício do povo. Não vejo nenhum perigo de maldição, as pessoas podem tentar tornar isso numa maldição. Por exemplo, no ano passado, ouvi alguém dizer que o governo moçambicano deveria se apropriar do fundo para distribuir ao povo. Isso já foi desmistificado, porque o presidente Guebuza falou muitas vezes

sobre a melhor maneira de fazer a redistribuição da riqueza [através do Orçamento do Estado]. Mas há quem defenda a criação de um fundo soberano com as receitas dos recursos naturais… Não sou economista e não compreendo muito bem essa situação. Como podemos ter fundo soberano enquanto não temos escolas, estradas, barragens, pontes e continuamos a ter uma dependência do exterior? Para mim, não é ainda tempo para termos um fundo soberano. Como se

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Xavier da Ilda

rtido] é eleito ninguém o tira» sar que somos eternos. Então, as novas gerações terão que tomar conta. Felizmente, o novo Presidente [Filipe Nyusi] tem pais que foram combatentes da luta de libertação nacional. Portanto, é uma geração nova. Quando iniciamos a luta armada, ele [Filipe Nyusi] ainda era uma criança. É normal que tenhamos um Presidente novo. Quando chegámos cá [Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)] éramos novos. Não podemos esquecer que já tivemos ministros com 27 anos em Moçambique. Na nossa organização, um indivíduo que tinha 27 anos era membro da Organização da Juventude Moçambicana até aos 35 anos. A nova geração não é uma coisa não prevista por nós, porque sabíamos quem um dia haveríamos de desaparecer e a nova geração vai tomar conta do país. Os nossos nomes somente vão ficar para a história como combatentes da luta de libertação de Moçambique. De princípio a Frelimo não morre, pois está em constante renovação.

pode explicar a um cidadão comum que o governo tem muito dinheiro guardado? Penso que o fundo soberano são para países que já atingiram o desenvolvimento e não sabem o que fazer com o dinheiro. Um jornal da praça avançou que um grupo de antigos combatentes pediu uma audiência com o presidente da Frelimo com o intuito de lhe propor que abandonasse a liderança partidária a favor de Filipe Nyusi, mas que a referida reunião não foi concedida. É verdade? É uma informação que estou ouvir de si. Nunca ouvi isso. O presidente do partido foi eleito pelo Congresso [em 2012 na cidade de Pemba], porque é que vai sair? No Congresso há eleições e todos os membros do partido podem concorrer. Quando o presidente é eleito ninguém o tira. E a questão histórica: presidente Chissano abdicou a favor de Guebuza… Foi uma iniciativa pessoal da parte dele. Ele disse que estava cansado, tinha alguns assuntos pessoais por tratar e decidiu largar o posto de presidente do partido. Não há nos estatutos do nosso partido nenhuma cláusula que diz: quando é eleito o Presidente da República [membro do partido] e que não seja líder do partido, o presidente do partido deve desistir do seu mandato. Os membros podem propor um Congresso Extraordinário para esse efeito [eleição do presidente do partido] caso haja razões para tal. Há razões para convocação de um Congresso Extraordinário para discutir a liderança do partido? Para mim não há absolutamente nada, porque os estatutos dizem que o eleito deve ir até ao final do mandato. Em 2017, teremos o XI Congresso, onde vai ser eleito o novo presidente. A gestão bicéfala não é uma coisa nova, quando o Presidente Guebuza foi eleito, Joaquim Chissano liderou por algum tempo o partido. O que tem a dizer sobre a proposta da Renamo em relação às províncias autárquicas? A Frelimo sempre lutou pela unidade nacional, nasceu com esse princípio básico. A unidade provou-se certa porque obtivemos a independência nacional em 1975. Na luta contra a pobreza devemos continuar unidos, não podemos dividir o país de qualquer maneira. Ainda não li o projecto apresentado pela Renamo, é preciso ver se está de acordo com a Constituição. Se o projecto não põe em perigo à unidade nacional, se estiver de acordo com a Constituição, penso que não há nenhum problema em analisar positivamente o projecto. O Comité Central tem sofrido diversas transformações ao longo dos anos. As transformações são de acordo com as circunstâncias do país. Penso que, em 1962, o primeiro Comité Central nem chegava a 20 pessoas. Hoje temos um órgão com mais de 160 membros, sempre em consonância com as circunstâncias da vida política e social do país. As circunstâncias ditaram a saída do

Trabalhou com todos os presidentes da Frelimo. O presidente Guebuza tem sofrido diversas críticas por causa do seu génio muito forte no tratamento de algumas questões sensíveis da vida do país. Como caracteriza Armando Guebuza? Agora Moçambique está muito falante. Há aqueles que estudaram e têm o senso comum normal. Esses não falam mal de Guebuza. E existe uma minoria que grita, salta e fala mal de Guebuza. É normal que exista esse tipo de pessoas. Acredita que essa tal minoria não conhece o presidente Guebuza? Devem ter a sua própria agenda. Há muita desinformação no país e que nunca tivemos no passado. Como? Diz-se que há um acordo político entre o Presidente Nyusi e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, isso é mentira. O Presidente Nyusi disse ao líder da Renamo que não tinha competência para resolver o assunto das regiões autónomas [anteprojecto submetido à Assembleia da República com o nome de Autarquias Provinciais]. É uma autêntica desinformação a possível existência de um acordo político sobre esse assunto.

órgão de alguns dos seus companheiros (Óscar Monteiro, Sérgio Vieira entre outros). Sente falta deles? Eles não foram expulsos, simplesmente não foram eleitos. Estou a ser eleito sempre, mas também posso algum dia não ser eleito. Todos os membros são eleitos, in-

cluindo o presidente do partido. Temos no país, pela primeira vez, um Presidente que não faz parte dos combatentes da luta de libertação… Os combatentes da luta de libertação nacional são seres humanos: nascem, crescem e morrem. Não podemos pen-

Que conselho tem dado à nova geração de líderes moçambicanos? Damos conselhos à juventude, sobretudo a OJM, porque é onde se encontra a juventude da Frelimo. Mas, também, incluímos todos aqueles que não são do nosso partido. Por exemplo, quando dissemos ao estudante para não se formar para encontrar emprego, mas que se deve engajar no empreendedorismo para dar emprego aos outros. As pessoas não devem tirar o curso superior para pedir emprego. O curso superior é para dar capacidade com vista a aproveitar as oportunidades que a economia de Moçambique oferece.

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PINIÃO

Luca Bussotti*

Renamo: uma oposição hegemónica?

O debate político que está caracterizando Moçambique, a seguir ao resultado eleitoral, está sendo monopolizado pelas propostas da Renamo, o maior partido da oposição. Tão que é possível falar, a este propósito, do início de uma verdadeira hegemonia política, em detrimento da Frelimo e do próprio MDM. Em que sentido é legítimo usar esta expressão falando da situação política de Moçambique? “Hegemonia” é um conceito relativamente novo, no léxico político. Ele remonta, na época moderna, à revolução soviética, nomeadamente a Plechanov, nos seus escritos de 1883-1884. Aqui, ele referia-se ao papel de luta política contra o czarismo que a classe operária devia ter, além de travar uma luta contra os capitalistas de tipo económico. Lenin, no princípio do século XX, enriqueceu este conceito, teorizando que o proletariado devia ser hegemónico para conseguir conquistar o poder, mediante a relativa ditadura. A Internacional Comunista conjugou este conceito para

afirmar que a classe operária devia ser hegemónica na luta contra o capitalismo em relação às outras classes de oprimidos. E, finalmente, Gramsci adoptou e desenvolveu o conceito, aprofundando o elemento da direcção política assim como cultural que a classe operária devia manter ao nível da sociedade. Nem sempre deter a hegemonia num país significa ganhar nas eleições. Os partidos comunistas franceses e italianos durante muito tempo mantiveram uma forte hegemonia cultural e também no debate político, mas nunca ganharam nas eleições gerais. A situação africana apresenta-se diferente: salvo casos específicos (como o movimento anti-apartheid na África do Sul), geralmente o partido que ganha nas eleições é o mesmo que detém a hegemonia, que impõe a sua visão à sociedade, e a sua agenda política está na ordem do dia. Moçambique não faz exceção: ao longo da sua história, desde a luta pela independência, a Frelimo sempre manteve claramente a hegemonia política e cultural. As

suas palavras de ordem eram as palavras de ordem do país inteiro: não apenas com o sistema marxista-leninista do partido único da altura de Samora, mas também com Chissano e Guebuza. O “futuro melhor”, a “luta contra à pobreza absoluta”, a “revolução verde”, a massificação do ensino (inclusive o superior) e por ai fora, foram todas palavras de ordem que conotaram décadas de política moçambicana. Muitos nem concordavam com elas. Mas a agenda política era claramente ditada pela Frelimo e o seu presidente. As eleições de 2014 nos ofereceram um cenário diferente. Pela primeira vez, a Renamo conseguiu impor a sua agenda e, provavelmente, o seu discurso hegemónico, à opinião pública. A comunicação social (mais a independente, mas também a pública) não pode deixar de falar da Renamo e do seu líder. Desde os factos de Gorongosa até a “caça” contra a ele, desde a sua saída do mato até aos comícios que, em quase todo o país, foram acompanhados por multidões, desde o discurso da “vi-

tória mutilada” nas últimas eleições até a proposta de fundar a república do centronorte, finalmente ao ante-projeto de lei sobre regiões autónomas: estes assuntos, por vezes até contraditórios ou fracos do ponto de vista da proposta política, representam, hoje, o fulcro do debate público no país. Porque a Frelimo está perdendo a hegemonia que sempre manteve? E, eventualmente, quais as medidas a serem adoptadas para contornar esta situação? Talvez fosse conveniente partir daqui, da consciência de que a antiga hegemonia está sendo perdida em prol do maior partido de oposição que a Frelimo (e, em medida menor, o MDM) poderia voltar a desempenhar o papel que sempre teve na história do país. *Investigador no Centro de Estudos Internacionais de Lisboa e Visiting Professor no Mestrado em Cooperação e Desenvolvimento na Faculdade de Direito da UEM

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Iniciar um pequeno negócio

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Sonha em criar um negócio próprio? Ser seu próprio chefe e o capitão de seu destino – talvez até um capitão da indústria. É difícil? Sem dúvida! É desafiador? Certamente. Precisa ser rico e ter uma boa educação, com um currículo impecável? Nem tanto! Pode fazer isso? É como a vidente diria: “Todos os sinais apontam que sim!”. Portanto, como criar um negócio e o fazer funcionar? Planeamento, planeamento e planeamento! 1.Tenha uma ideia. Pode ser um produto que sempre quis fazer, ou um serviço que as pessoas aparentemente precisem. Pode ser algo que as pessoas ainda não saibam que precisam, pois não chegou a ser inventado! Pode ser útil – e divertido – ter pessoas brilhantes e criativas por perto para uma sessão casual de troca de ideias. Comece com uma questão simples, do tipo: “O que devemos construir?”. A ideia não é criar um plano de negócios, apenas gerar algumas ideias. Muitas das ideias serão horríveis, e haverá algumas normais. Porém, algumas ideias realmente exibirão um bom potencial. 2.Defina seus objectivos. Quer independência financeira, eventualmente vendendo o negócio para um comprador mais rico? Quer algo pequeno e sustentável, algo que lhe desperte a paixão e que gere um lucro estável? Esses são aspectos sobre os quais já deve ter reflectido antes mesmo de começar. 3.Crie um nome para o trabalho. Poderia fazer isso antes mesmo de ter uma ideia de negócios. Se o nome for bom, pode ser que ajude a definir uma ideia de negócio. Enquanto o planeamento cresce e as coisas começam a tomar forma, o nome perfeito pode acabar surgindo; porém, não

permita que isso trave nas fases iniciais – crie um nome que possa ser usado durante o planeamento, e não se importe em mudá -lo mais tarde. Para um pouco de diversão, pegue uma dica dos Beatles, que normalmente usavam nomes divertidos para uma canção antes de finalizá-la. O primeiro nome da canção “Yesterday”, por exemplo, foi “Scrambled Eggs” (Ovos Mexidos). 4.Defina a sua equipa. Fará isso sozinho ou trará um ou dois amigos confiáveis para a empresa? Isso cria muita sinergia, pois pessoas poderão jogar ideias umas para as outras. Duas pessoas podem acabar criando algo maior que a soma de duas partes separadas. Pense em

algumas das histórias de maior sucesso nos tempos recentes: John Lennon e Paul McCartney, Bill Gates e Paul Allen, Steve Jobs e Steve Wozniak, Larry Page e Sergey Brin. Em todos os casos, a parceria trouxe o que há de melhor em ambos os lados da equação. Cada uma das pessoas citadas se tornou bilionária. Deve considerar os seguintes aspectos ao escolher seus vice-líderes e grupo de apoio: A outra pessoa complementa suas fraquezas? Ou ambos colocam o mesmo conjunto de habilidades em jogo? Mais tarde, esteja atento ao facto de muitas pessoas estarem a fazer a mesma coisa enquanto outras actividades permanecem de lado. Foca no panorama geral da situação? Dis-

cussões sobre os detalhes são normais, e são importantes para manter a empresa nos trilhos. Porém, não pensar no negócio em seu conceito mais amplo – o verdadeiro propósito dele = pode causar uma divisão possivelmente irreparável. Certifique-se de que sua equipa se importe com o negócio e se concentra no propósito. Ao entrevistar pessoas, procure identificar o verdadeiro talento por trás de certificações, diplomas ou da falta de tais elementos. Os talentos inactos das pessoas ocasionalmente podem ser diferentes dos vistos em correntes educacionais convencionais. É importante procurar o “click” (se você se dá bem com a pessoa) e os talentos latentes, não observando apenas as credenciais no papel.

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Como economizar no dia-a-dia? Viver é caro! Pode parecer que tudo custa mais do que deveria e que o seu salário desaparece sem se dar conta! Se estiver a procurar formas de economizar dinheiro e poupar mais, esse artigo é para ti. Abaixo descobrirá como reduzir os gastos em vários sectores da sua vida, cortando excessos. 1.Cozinhe do zero. Preparar tudo o que come e ter uma alimentação saudável é uma óptima forma de reduzir os gastos. Sua saúde agradece e seu bolso também. Compre ingredientes crus (como legumes, verduras, frutas, macarrão, peito de frango e feijão/arroz) e prepare as refeições em vez de usar produtos industrializados que vêm em caixas. Conseguirá preparar muito mais comida e gastar muito menos. Se já come porções muito grandes, tente diminuir para uma quantidade saudável pode trazer economias. A recomendação de consumir 2 mil calorias é muito alta para as pessoas que tendem a ficar inactivas. Conte as calorias em suas refeições para ver se está a comer demais. Guarde as sobras. Não deite comida fora. Isso é um desperdício porque tem pessoas a passar fome e também é uma perda de dinheiro. Cozinhe uma quantidade menor ou coma as sobras na próxima refeição. Se não puder comer imediatamente, congele a comida para comer mais tarde. Use mais temperos em sua comida; isso pode-lhe deixar mais satisfeito e reduzir o consumo. Para economizar mais ainda, compre os temperos no atacado. 2.Leve uma lista quando for fazer compras. Ela ajuda a comprar apenas o que precisa e se manter fiel aos itens que estão listados. Sua conta do supermercado pode dobrar ou triplicar com os itens extras que parecem bons, mas são desnecessários. Faça um cardápio, de preferência um que use ingredientes e comida que não estrague facilmente e compre o que for necessário para prepará-lo. 3.Coma menos fora de casa. É muito fácil perder o controlo dos gastos comendo fora. Prepare o seu almoço e saia menos para comer para economizar muito dinheiro. 4.Aproveite as promoções e use coupons de desconto. Se usar bem esses dois recursos pode economizar muito dinheiro. Compre alimentos dos quais já estava a precisar, que possam ser conservados ou defina suas refeições da semana de acordo com as promoções ou época da colheita para economizar. Não compre itens que não vai comer só porque “o preço está óptimo”. Saiba o que come normalmente e procure os descontos de acordo com isso. Dessa forma, evita comprar algo que normalmente não compraria apenas por causa da promoção. 5.Compre no atacado. Comprar itens que não estragam rápido em grandes quantidades é uma óptima

maneira de poupar dinheiro. Isso inclui massas, produtos em conserva, produtos secos embalados, temperos comuns, óleos para cozinhar, alimentos congelados e itens domésticos, como papel higiênico e toalhas de papel. Divida o custo de associação com um amigo. Geralmente a economia gerada compensa o custo, mas pode economizar ainda mais dividindo as taxas com um amigo e fazendo suas compras em conjunto. Podem até dividir alguns dos itens para ficar mais fácil consumir grandes quantidades do mesmo alimento.

6.Compare preços unitários. Quando for comprar mantimentos compare os preços unitários na etiqueta de prateleira, caso ele não seja fornecido, calcule. Isso pode ajudá-lo a acabar com a confusão entre diferentes tamanhos e preços e descobrir qual é a opção mais barata do produto que precisa. Mas leve a qualidade em consideração também. Se uma marca for um pouco mais cara, mas uma verificação rápida na informação nutricional mostrar que ela tem mais nutrientes. Considere comprar

o item mais saudável. Às vezes «o barato sai caro». Em outras palavras, os itens de baixa qualidade podem acabar por custar o mesmo ou mais no final. 7.Aproveite os programas de alimentação em sua área. Eles podem ajudar muito a ficar dentro do orçamento sem ir para a cama com fome. Muitas vezes, tudo o que é necessário é estar abaixo de um certo nível de renda, que pode ser mais alto do que pensa. Em todo caso, o dinheiro que sobrar pode ser utilizado para outras despesas necessárias.

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EGÓCIOS Insite distinguida pela SADC Annual Quality Awards

Barclays Bank faz mexidas na estrutura organizacional Numa sessão de âmbito nacional, presidida pelo Administrador-delegado do Barclays Bank Moçambique, Rui Barros, foi apresentada a nova estratégia para enfrentar os desafios de uma grande mudança e acomodar as ambições de crescimento do Banco, dos seus clientes e colaboradores. Esta nova estratégia passa pela criação de um conjunto de funções e postos de trabalho que pretendem responder às

exigências e necessidades estruturais do mercado nacional, potenciando a inovação tecnológica e melhoria dos processos. Na sequência da recente injecção de capital, esta iniciativa inclui uma restruturação organizacional e servirá como um dos grandes pilares – a par do investimento em formação – para tornar o Barclays em Moçambique um banco de excelência. Como forma de melhor servir os seus clientes, o BBM tem vindo a reorganizar-

BancABC oferece descontos de 30% aos importadores

se internamente por forma a especializar as suas unidades de negócio em segmentos-chave, tal como o Prestige e Premier, as Pequenas e Médias Empresas ou ainda o maior enfoque nos clientes corporate. O BBM acredita que esta renovação irá permitir ir ao encontro dos anseios dos seus clientes, ao mesmo tempo que permitira aumentar substancialmente os níveis de qualidade do serviço do Banco e ajudar os seus clientes a prosperar.

Em Abril Channel O Africa passa para o canal Africa Magic A música no canal Channel O Africa muda de casa dia 31 de Março, quando o canal interromper a transmissão no canal 320 da DStv e canal 70 da GOtv. O canal Channel O passará para Africa Magic World, que se assume como a nova casa da música para o resto de África. À medida que a M-Net continua a evoluir, foi tomada a decisão de reorientar a sua estratégia de forma a alcançar uma abordagem mais eficiente e simplificada que melhorará a experiência

O BancABC lançou a campanha de suporte às importações, uma iniciativa que pretende galvanizar o mercado de transação. A campanha destina-se aos importadores, clientes do Banco que efectuem as operações bancárias para pagamento da importação de bens e serviços no valor igual ou superior a um milhão de meticais. O importador beneficia de um desconto de 30 por cento nas taxas e comissões cobradas pelo Banco para a transferência de fundos. A responsável da sala de mercados do Banco, Nilza Adam, referiu que a campanha visa oferecer vantagens aos clientes importadores, reduzindo os custos de

transação das importações. A fonte reforçou ainda que esta campanha se enquadra no compromisso de continuar a colaborar para uma actividade económica forte e dinâmica e um crescimento sólido da economia, trazendo soluções vantajosas para as empresas e agentes económicos no geral. A campanha teve início a 16 de Março e terá a duração de 30 dias. O BancABC opera no país há 12 anos, oferecendo produtos e serviços financeiros a empresas e particulares. Actualmente, com 10 agências ao longo do país, o banco faz parte do ABC Holdings- grupo financeiro pan-africano com sede no Botswana.

Foi durante a 30ª Reunião Anual das Estruturas de Cooperação Sobre Barreiras Técnicas ao Comércio da SADC, que decorreu em Kinshasa, República Democrática do Congo, que a Insite foi distinguida com o prémio de “Serviço do Ano”, através da sua marca Nutriconsult. «A distinção de “Serviço do Ano” tem um significado especial para a Insite, que desde que começou a operar em Moçambique guiou-se sempre pelo rigor no serviço fornecido aos seus clientes. Este prémio vem de certa forma atestar a qualidade dos produtos e serviços que oferecemos e é algo que nos deixa muito orgulhosos», salientou a administradora da empresa, Leonor Assunção. A Insite é uma empresa privada, a operar em Moçambique desde 2010. Presente nas províncias de Maputo, Sofala e Cabo Delgado, a sua actividade centra-se na consultoria, formação e auditoria em Gestão da Qualidade, Ambiente, Segurança e Saúde no Trabalho, Higiene & Segurança Alimentar e Nutrição.

televisiva dos subscritores, proporcionando-lhes um conteúdo musical regionalizado. Um dos resultados desta nova abordagem foi a interrupção da transmissão do canal Channel O para o resto de África, para permitir à M-Net criar conteúdo musical personalizado. A partir de 1 de Abril, os subscritores podem assistir ao canal Africa Magic World (canal 10 da GOtv e canal 155 da DStv) para se manterem a par do melhor talento musical da África Ocidental.

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nternacional

Rafael Marques sem esperança sobre qualquer apoio de Portugal O jornalista angolano Rafael Marques disse hoje à Lusa que não espera qualquer ajuda do Governo português, referindo-se ao apelo e à petição que a Amnistia Internacional lançou sobre o seu julgamento, que começou na terça-feira em Luanda. «É uma iniciativa da secção portuguesa da Amnistia Internacional que muito agradeço, mas todos sabemos qual é o papel do Governo português sobre Angola. É de total harmonia com os interesses corruptos e autoritários deste regime», disse à Lusa Rafael Marques, que começou a ser julgado na terça-feira, no Tribunal Provincial de Luanda. O jornalista e activista angolano foi acusado de “denúncia caluniosa”, por ter exposto no livro “Diamantes de Sangue” alegados abusos contra os direitos humanos na região diamantífera da Lunda-Norte, em Angola. Os queixosos são sete generais, liderados pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, conhecido como ‘Kopelipa’, e os representantes de duas empresas diamantíferas. A secção portuguesa da Amnistia Internacional lançou uma petição em que apela ao Governo português para interceder junto do executivo de Luanda para que seja retirada a acusação contra o jornalista angolano Rafael Marques. «Ajude-nos a apelar ao Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, que encorajem o Governo de Angola a retirar a acusação contra Rafael

Marques», refere a petição divulgada através da página oficial da Amnistia Internacional na internet. A organização considera que o também activista está a ser alvo de perseguição «por exercer o seu direito à liberdade de expressão protegido pelo direito internacional», acrescenta a Amnistia Internacional. «Rafael Marques tem sido repetidamente

perseguido por responsáveis do Governo de Angola, e está agora a ser alvo de acusação pelo simples exercício do seu direito à liberdade de expressão, reconhecido e garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, e pelos Artigos 40 e 44 da Constituição de Angola, assim como por outros instrumentos jurídicos dos quais Angola é signatária, incluindo a Carta Africana dos Direitos Humanos

e dos Povos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos», diz o texto da petição. Entretanto, o livro “Diamantes de Sangue” vai ficar hoje disponível na Internet, em solidariedade com o autor, disse à Lusa a responsável pela editora Tinta da China, Bárbara Bulhosa. «Desta forma, os angolanos - que não têm acesso ao livro - podem consultá-lo gratuitamente.»

Governo timorense garante que “diagnóstico” da justiça não é interferência O “diagnóstico” que o Governo timorense quer realizar à justiça pretende apenas identificar as «deficiências» do sector e não constitui qualquer tentativa de ingerência ou interferência, disse o ministro Coordenador da Justiça. «Trata-se de um diagnóstico necessário antes de qualquer reforma. Não deve ser interpretado como uma ingerência nos tribunais», disse Dionísio Babo que é também ministro Coordenador da Justiça e ministro da Administração Estatal. «É um diagnóstico geral para identificar fraquezas. O governo considera isto um assunto importante», disse no debate do Programa do Governo que começou na segunda-feira no Parlamento Nacional. Segundo Dionísio Babo, o processo de realização da análise ao sector está actualmente a ser coordenado pelo ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, Agio Pereira, e o ministro da Justiça, Ivo Valente. A análise ao sector judicial está prevista numa das polémicas resoluções aprova-

das em Outubro e Novembro do ano passado, alegando «motivos de força maior e de interesse nacional.» As primeiras resoluções suspenderam os contratos com funcionários judiciais internacionais, a maior parte portugueses, que estavam a trabalhar no país. Dias depois, o Governo timorense dava mais um passo, com uma resolução em que ordenava aos serviços de migração a expulsão dos funcionários judiciais internacionais, incluindo cinco juízes, um procurador e um oficial da PSP de nacionalidade portuguesa, num prazo de 48 horas. Uma das resoluções, a 11/2014, considera necessária a «realização de uma auditoria ao sector da justiça» numa altura em que «o Sistema da Justiça de Timor-Leste tem vindo a ser chamado à resolução de processos com cada vez maior complexidade, sendo quotidianamente posto à prova, quer pelos cidadãos de Timor-Leste, quer pelos estrangeiros que a ele recorrem.»

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Benjamin Netanyahu pede desculpa a árabes-israelitas

O Primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pediu desculpa por ter considerado «perigosa» a elevada participação dos árabes-israelitas nas legislativas da semana passada. «Eu sei que as minhas declarações podem ter ofendido alguns cidadãos israelitas e membros da comunidade árabe-israelita. Nunca foi minha intenção. Peço desculpas por isso», afirmou Benjamin Netanyahu. O pedido de desculpas, transmitido na televisão, foi feito durante um encontro com árabes-israelitas em Jerusalém. Na semana passada, durante um apelo ao voto, Benjamin Netanyahu afirmou que o «poder estava em perigo», porque os eleitores

árabes estavam a participar activamente no escrutínio. O líder da lista árabe, Ayaman Odeh, que obteve o resultado histórico de 13 lugares no parlamento israelita, rejeitou o pedido de desculpas de Benjamin Netanyahu. «Não é aceitável, porque Netanyahu não só planeia fazer aprovar leis racistas, como as suas declarações desafiam o direito básico dos árabes-israelitas de votar no Knesset (parlamento)», afirmou Ayaman Odeh. Ayaman Odeh afirmou também que o pedido de desculpas não é sincero, porque não convidou os representantes legítimos daquela comunidade, que obteve mais de 90 por cento dos votos dos árabes-israeli-

tas. As declarações do Primeiro-ministro israelita foram também criticadas pelo Presidente norte-americano, Barack Obama, que afirmou que aquele tipo de retórica é contrário à tradição israelita. Segundo a imprensa israelita, os árabes -israelitas recebidos por Benjamin Netanyahu fazem parte de uma minoria que apoia o Likud, partido do Primeiro-ministro. Os árabes-israelitas descendem de 160 mil palestinianos que ficaram nas terras onde foi criado o Estado de Israel em 1948 e representam cerca de 20 por cento da população israelita.

Câmara dos Representantes aprova resolução para ajuda militar letal à Ucrânia A Câmara dos Representantes votou segunda-feira uma resolução em que apela ao Presidente Barack Obama para disponibilizar armas letais à Ucrânia para que se possa defender da «agressão» russa. A resolução foi aprovada com 348 votos a favor e 48 contra, colocando assim maior pressão à Administração Obama para acabar com os atrasos no fornecimento de armas e outros equipamentos pesados às forças de Kiev. O Congresso tem falado a uma só voz sobre o armamento directo das forças ucranianas, mas no seio do próprio Governo de Obama existem algumas divisões. Na sequência de vários relatos de violação do cessar-fogo entre as forças ucranianas e os rebeldes pró-russos, a Casa Branca tinha anunciado entregar equipamentos de defesa não letais no valor de 75 milhões de dólares (2.250 milhões de meticais). Apesar da decisão, quer o líder militar norte-americano, quer o próprio Secretário da Defesa, sustentam uma ajuda militar letal. Nesse sentido, a resolução de segunda-

feira insta Barack Obama no sentido da ajuda militar letal para que os ucranianos «possam defender o seu território da agressão não provocada e contínua da Federação Russa.»

John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, alertou para a chamada de atenção e recordou ser favorável a uma aposta mais firme na componente da ajuda militar.

Mulher inocentada após 23 anos no corredor da morte As acusações contra uma mulher de origem alemã há 23 anos no corredor da morte foram levantadas tornando-a na 151.ª pessoa condenada à pena capital a ser inocentada em 40 anos nos Estados Unidos. Debra Milke, de 51 anos, declarou-se inocente pela morte do seu filho de quatro anos em 1990, no Arizona. Foi, no entanto, condenada à morte com base num único testemunho de um investigador, que disse ter recebido a sua confissão. A juíza Rosa Mroz declarou formalmente na segunda-feira a retirada das acusações, depois de a acusação ter perdido o último recurso no Supremo Tribunal de Justiça. Debra Mike, libertada sob fiança em 2013, torna-se assim a segunda mulher no corredor da morte a ser inocentada nos Estados Unidos e a 151.ª pessoa desde 1973, de acordo com os dados do Centro de Informação sobre a Pena Capital (DPIC). Após 23 anos no corredor da morte, sua condenação foi anulada há dois anos por um tribunal de recurso, devido à conduta «ultrajante» do investigador principal. A 17 de Março, o Tribunal Supremo do Arizona recusou-se a ouvir o recurso final do Ministério Público, com a juíza a retirar oficialmente todas as acusa-

ções na segunda-feira. De acordo com o detetive “corrupto”, Armando Saldate, a mulher divorciada confessou ter contratado dois assassinos para matar o seu filho de quatro anos e, assim, receber o valor de um seguro. Mas Debra Mike sempre negou que tal tivesse acontecido e nenhum registo ou qualquer outro testemunho corroborou estas alegações, de acordo com um comunicado do DPIC, que denunciou a atitude do polícia e acusou «os procuradores do Arizona de má conduta em metade dos casos de pena capital.» Dois homens, Roger Scott e Jim Styers, declaram-se culpados e foram condenados à morte pela morte da criança, encontrando-se agora no corredor da morte. No dia 02 de Dezembro de 1989, Debra Mike aceitou que o seu colega Styers acompanhasse o seu filho ao centro comercial para ver o Pai Natal. De acordo com o tribunal, Styers, acompanhado pelo amigo Scott, conduziu «o rapaz para uma ravina isolada nos arredores da cidade onde atingiu Christopher com três balas na cabeça.»

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ortugal

António Costa aponta como primeiro objectivo na educação: repor a paz nas escolas ex-educadora, vítima precisamente do stress a que os agentes educativos têm estado sujeitos nos últimos anos. Não é possível melhorar a qualidade da aprendizagem e mobilizar a comunidade educativa e as famílias sem que exista paz e tranquilidade nas escolas», sustentou o Secretário-geral do PS. Outro ponto marcante da sua intervenção foi «a garantia da igualdade no ensino» - um ponto em que fez duras críticas ao actual Governo. «Recusaremos liminarmente a ideia de antecipar para o Básico as diferenciações vocacionais, porque, sobretudo numa idade precoce, representa prolongar na sociedade de forma duradouras fracturas sociais. Custa-me que 40 anos depois do 25 de Abril de 1974 se tente voltar ao período anterior à reforma de 1973. Esse é um retrocesso que não podemos aceitar e que temos de fazer uma muralha, uma linha vermelha sobre a qual não é possível transigir», frisou. 

O Secretário-geral do PS assumiu como primeira prioridade educativa devolver «a paz» às escolas, num ponto em que criticou «os últimos governos», e traçou «uma linha vermelha» para rejeitar a diferenciação vocacional logo no Ensino Básico. António Costa falava no encerramento de uma conferência promovida pelo PS subordinada ao tema das “Qualificações recuperar o tempo perdido”, que decorreu no Museu de História Natural e da Ciência, no Príncipe Real, em Lisboa. Na sua intervenção, o líder socialista estabeleceu logo uma linha de demarcação face ao actual executivo, mas também (embora sem o mencionar especificamente) em relação ao estilo de actuação do governo de maioria absoluta de José Sócrates, defendendo em contraponto a urgência de «estabilizar a escola, deixá-la respirar e devolver-lhe paz.» «Os últimos anos, em vários governos - é preciso reconhecê-lo - têm sido traumáticos para a escola. Sou casado com uma

PCP e PS querem reforço das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens O Parlamento debateu, na quarta-feira, dois projetos do PCP e do PS que defendem o reforço técnico das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) para que possam garantir um efectivo acompanhamento dos processos de situações de risco. O projeto de lei do PCP pretende que sejam asseguradas «as condições materiais e humanas para o cumprimento efectivo do papel» das CPCJ. Os comunistas referem que as comissões enfrentam vários problemas, como o aumento do número de processos, uma «significativa falta de técnicos a tempo inteiro», a crescente desresponsabilização de entidades como a Segurança Social», a ausência de estruturas de acolhimento temporário e de emergência e a falta de respostas de trabalho com as famílias. Estes aspectos são agora agravados por «uma dramática realidade económica e social com impactos muito negativos na vida familiar, potenciando o aumento dos factores de risco associados à pobreza e exclusão social», sublinham no documento. Para o PCP, é «imperativo proceder» a algumas alterações à Lei de protecção de crianças e jovens em perigo, propondo, entre outras medidas, o reforço do número de técnicos e a definição do quadro financeiro do seu funcionamento através de transferência de verbas do Orçamento do Estado. Os deputados também debateram, em plenário, um projecto de resolução do PS que recomenda ao Governo que

«adopte um conjunto de medidas que promovam o bom e efectivo desempenho das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.» No documento, o grupo parlamentar do PS lembra a retirada de alguns técnicos das comissões em 2013 pelo Instituto da Segurança Social (ISS), situação agravada, no ano passado, com o despedimento de 630 trabalhadores deste instituto. «Apesar do aumento significativo do número de processos activos, o número de técnicos nas CPCJ diminuiu drasticamente», salienta. Segundo os dados mais recentes que constam do Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ, o número de processos activos no final de 2013

era de 37.220, o que representa um aumento de 1.592 processos face a 2012 e uma subida de 4.421 relativamente a 2010. «Tais números, só por si, espelham a grave situação das CPCJ, sendo determinante, como forma de assegurar a sua estabilidade e funcionamento, que se verifiquem condições de estabilidade na afectação de recursos humanos, que desenvolvem um trabalho importantíssimo e mesmo insubstituível na protecção destas crianças e jovens em perigo», defende o PS. Nesse sentido, defende, entre outras medidas, a reafectação dos 153 técnicos superiores do ISS às comissões e que sejam disponibilizados os recursos necessários ao pleno funcionamento CPCJ.

DGS alerta para problemas no fornecimento de vacina contra tuberculose A Direcção-Geral da Saúde (DGS) alertou para dificuldades no fornecimento da vacina contra a tuberculose nos próximos meses e recomendou uma boa gestão das reservas existentes, frisando no entanto que não há risco para a saúde pública. As reservas existentes da vacina (BCG) nas Administrações Regionais de Saúde «devem de ser geridas ao nível regional, concentrando as vacinas existentes nas maternidades ou fazendo marcações para vacinação», diz a Direcção em comunicado. No mesmo diz-se ainda que os utentes que forem afectados pela falta de vacina devem de ser informados e tranquilizados sobre a situação, e que todas as crianças que não forem vacinadas deverão de ser contactadas pelo respectivo centro de saúde logo que este receba novo fornecimento de BCG. Citando a empresa que distribui a vacina BCG em Portugal a Direcção-Geral da Saúde diz que a situação deve de estar regularizada no final de Maio. Os constrangimentos devem-se «a dificuldades por parte do Laboratório Público da Dinamarca que fornece as vacinas a Portugal», lê-se no comunicado. Ainda que a situação não constitua «risco para a saúde pública» é importante «reforçar outras medidas de prevenção da tuberculose», acrescenta-se.

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José António Saraiva, [email protected] in semanário Sol, 23/03/2015 Política a Sério

Tsipras em Lisboa N uma entrevista a uma cadeia de televisão francesa, perguntaram-me se seria possível em Portugal um fenómeno do tipo Syriza ou Podemos. Não tive muitas dúvidas na resposta: «Há condições para isso acontecer, mas não há qualquer hipótese de se concretizar.»

Há condições, porquê? Porque os partidos do sistema estão enfraquecidos. A direita foi fortemente penalizada por três anos e meio de austeridade - e o Partido Socialista, que seria o beneficiário natural desse desgaste, não está a conseguir impor-se. Nas sondagens, o PS e a coligação (PSD+CDS) aparecem quase iguais. De início, pensou-se que o problema do PS se chamava António José Seguro - e foi com base nesse pressuposto que António Costa avançou. Mas já se percebeu que a questão é mais complexa - pois Costa tem vindo a descer paulatinamente na popularidade e nas intenções de voto.   Esta queda simultânea dos partidos que desde o 25 de Abril têm governado o país criaria, em princípio, condições objectivas para a afirmação de partidos fora do sis-

tema - fosse na extrema-esquerda ou na extrema-direita. Mas a extrema-direita em Portugal não existe - foi dizimada pela revolução e nunca mais conseguiu levantar cabeça -, pelo que é impossível surgir aqui uma Marine Le Pen.  Quanto à extrema-esquerda, está em processo de rápida desagregação. Pode dizer-se que teve azar: se esta situação de enfraquecimento simultâneo do PS e do PSD tivesse acontecido há dez anos, quando o Bloco estava pujante, poderia ter acontecido uma surpresa. Mas Louçã saiu, Miguel Portas faleceu e o Bloco de Esquerda começou a desfazer-se. Curiosamente, cada militante que sai diz que o faz para ir unir a esquerda.  Ora, para isso, talvez fosse melhor começar por não desunir… O certo é que Joana Amaral Dias, Daniel Oliveira, Ana Drago, Rui Tavares, etc, deram origem a uma miríade de grupos e grupinhos que pouco mais representam do que os próprios dirigentes. Mas para esta dificuldade de afirmação da extrema-esquerda em Portugal, além das desavenças internas, contribuem ainda dois factores: o processo revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril (o chamado PREC) e a força do PCP. O PCP é um dos partidos comunistas mais fortes da Europa ocidental e o BE nunca o conseguiu desalojar dos meios operários.  Ora, não há esquerda viável sem um míni-

mo de implantação operária. E depois houve a confusão do PREC - com as nacionalizações, a reforma agrária, a instabilidade militar, etc. -, que provocou traumas graves e ainda hoje assusta muitos portugueses, sendo poucos os que quererão  voltar a passar por uma experiência política radical.  O esquerdismo em Portugal não deixou boas recordações. Isso limita tremendamente as hipóteses de um partido como o Syriza chegar alguma vez ao poder.  Dito isto, as próximas eleições vão ser novamente disputadas entre o PSD/CDS, de um lado, e o PS, do outro. São as únicas hipóteses credíveis. E, sendo o resultado muito incerto, uma coisa não oferece dúvidas: a situação é hoje muito mais favorável para a direita do que era há uns meses.  Em primeiro lugar, porque, depois de sair do resgate de forma limpa, o Governo inverteu a situação depressiva e tem marcado alguns pontos. Em segundo lugar, porque o PS começou a patinar e apresenta-se hoje em fase descendente. Portugal está num momento de viragem.  A direita conseguiu mudar a inclinação da seta para cima - enquanto o PS deixou a seta virar-se para baixo.  Depois de um período terrível, em que os ministros eram apupados e quase agredidos nas ruas, o Governo levantou a cabeça

e pode dizer que deu a volta à situação. Inversamente, o PS, que viveu um período de grande exaltação partidária na entronização de António Costa, parece estar agora a pagar as favas desse entusiasmo prematuro: Costa não voa, Ferro Rodrigues perde os debates parlamentares, as sondagens são más. O Governo pode actualmente dizer, apoiado em números, que a austeridade não falhou, pois o PIB está a crescer, o desemprego está a cair, os juros da dívida estão a diminuir, a confiança dos portugueses no futuro está a aumentar... E estes factos destroem aquele que era o grande argumento do PS para a próxima campanha eleitoral: a ideia de que ‘a austeridade falhou’.  Mas sendo isto indiscutível, é cedíssimo para tirar conclusões. Daqui até às eleições muita água vai correr sob as pontes.  Por exemplo: quantos escândalos e escândalozinhos ainda poderão rebentar?  E rebentarão mais à direita ou à esquerda?  Pode bastar isso para os pratos da balança se inclinarem num sentido ou noutro. P.S. -   A polémica sobre a existência de uma ‘bolsa VIP’ de contribuintes é insólita. Mas alguém defende que os funcionários andem a espiar os processos fiscais das pessoas (VIPs ou não)? Sendo assim, é natural que, relativamente a pessoas com mais notoriedade, os mecanismos de defesa sejam reforçados. Ou não?

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ESPORTO

Desportistas convergem: é precis Um total de 23 treinadores terminou, na semana finda, o primeiro curso em Moçambique de formação de treinadores do mais alto nível do continente africano. Contudo, a cerimónia de encerramento foi marcada por uma “leve” troca de palavras entre os intervenientes naquele evento que decorreu na Academia Mário Esteves Coluna em Namaacha.

A Federação Moçambicana de Futebol (FMF) quis cristalizar a cerimónia de encerramento do primeiro Curso de Formação de Treinadores de Elite da CAF no solo moçambicano. Mais perto do fim do segundo e último mandato na direcção da federação, Faizal Sidat, transformou momentaneamente a Vila fronteiriça da Namaacha numa verdadeira capital do futebol moçambicano. Organizou uma expedição de jornalistas e outros desportistas ligados ao organismo que lidera e partiu da capital do país para a Academia Mário Esteves Coluna, além da notável presença do ministro da Juventude e Desportos,

dirigentes locais, com destaque para o presidente do Conselho Municipal e o secretário permanente do governo distrital como convidados de honra. Em abono da verdade, diga-se, os discursos dos que se fizeram ao palanque ofuscaram a própria essência do evento, pese embora a figura do treinador tenha sido o ponto em comum. Daniel Saccor, treinador principal do Sporting de Quelimane, falando em representação dos formados, agradeceu e enalteceu a FMF pela iniciativa de organizar o curso em Moçambique, o que acontece pela primeira vez

desde a independência nacional. Saccor disse que «é graças ao elevado profissionalismo prestado pela CAF que nós, os treinadores moçambicanos, estamos a elevar os nossos níveis de conhecimento. Temos de reconhecer, igualmente, o empenho que tem sido empreendido pelo professor Abdul Abdulá para ter técnicos cada vez mais qualificados neste país.» Saccor revigorou o compromisso dos treinadores de melhorar o futebol moçambicano, «pelo que é importante conhecer novos critérios de treinamento e obter novas ferramentas», tal como aconteceu no curso que

decorreu em Namaacha. Por outro lado, o representante dos formandos reivindicou a valorização da profissão do treinador, destacando a necessidade de se introduzir mudanças no actual sistema Segurança Social, tudo para que a esta figura seja dada a merecida dignidade. Ainda em nome dos que naquele dia alcançaram o Nível A da CAF, Saccor sublinhou que são incompreensíveis as razões que empurram os treinadores moçambicanos para uma situação de «pura marginalização.» Por fim, Saccor “ignorou” o papel para mandar uma forte mensagem para os seus pares. «É

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David Nhassengo

so valorizar o papel do treinador

preciso que os treinadores estejam mais unidos em prol do bem comum, nomeadamente do futebol moçambicano», concluiu.   Porque aquilo que Saccor disse talvez não bastasse, João Chissano pediu também a palavra. Todavia, foi para mandar duros recados para o seu próprio patrão, sabido que tem um contrato que o liga à FMF até Junho próximo. Olhando para Faizal Sidat, aconselhou aquele dirigente a «melhorar as condições dos cursos, visto que atingimos um nível superior». Referenciou que Moçambique é uma potência de futebol a nível do continente africano pelo que, como treinadores, «temos de ser bem acompanhados por melhores condições de formação, superiores às que nos foram dadas aqui em Namaacha.» Entretanto, Faizal Sidat, não ignorou as reivindicações dos dois técnicos e nada mais fez do que se colocar no lugar dos mesmos, ainda que parte dos recados fossem a si destinados. Falou da necessidade de se valorizar o trabalho dos treinadores moçambicanos e destacou, no seu discurso, os diversos cursos de formação e de capacitação de treinadores organizados pela FMF em solo pátrio, esses «que visam, essencialmente, mostrar que estes líderes de balneário constituem o principal vector de desenvolvimento do futebol moçambicano. Mais do que um pai, o treinador deve ser considerado como um psicólogo e formador do ‘homem futebolista’.» Sidat confirmou diante dos presentes que estes profissionais são considerados como o «elo mais fraco do clube.» Por essa razão, instou-os a exigirem melhores condições de trabalho, «na mesma linha em que o pa-

tronato quer de vós resultados positivos», sublinhou. Quem não ficou de lado foi Alberto Nkutumula, Ministro da Juventude e Desportos, que ressaltou a importância de um treinador de futebol em Moçambique, apesar de «por vezes, esta função ser sido injusta com os próprios técnicos.» Continuando, Nkutumula sublinhou o caracter distintivo dos cursos no que à união destes profissionais diz respeito. «Com muita satisfação, verificámos que o vosso relacionamento e entrelaçamento superaram a rivalidade que existe entre vós dentro do campo. Há vezes em que os treinadores trocam palavras azedas em si. Todavia, próprias do calor dos jogos, algo que não conseguimos descortinar nesta sala.» Alberto Nkutumula afirmou que em Namaacha, os técnicos içaram bem alto a bandeira da profissão do treinador. «Estamos certos que as exigências para ganharem campeonatos serão maiores daqui para frente», disse, sublinhado que os formandos iniciaram, naquele mesmo dia, uma nova etapa para o desenvolvimento do futebol moçambicano. Desbloqueado o impasse da hospedagem É sabido por todos (sobretudo pelos leitores assíduos do SOL DO INDICO) que o Curso de Formação de Treinadores de Elite da CAF deveria ter sido realizado em Novembro do ano passado. Não decorreu naquele mês porque os técnicos decidiram boicotar em reivindicação de melhores condições de alojamento. Os treinadores não aceitaram de jeito nenhum dormir na Academia Mário Esteves Coluna, justificando que pelos 10.500 meti-

cais que cada um deles desembolsou, os 15 beliches disponibilizados pela FMF, constituíam uma ofensa. Queriam quartos separados, que aliás, não existem naquele recinto desportivo. Por isso, adiou-se o curso os meses de Fevereiro e de Março do ano em curso, visto que para a FMF tinha de decorrer. Contudo, e em resposta às queixas dos treinadores, o organismo que tutela o futebol moçambicano decidiu que as componentes de alojamento e de alimentação seriam custeados pelos pró-

Há vezes em que os treinadores trocam palavras azedas em si. Todavia, próprias do calor dos jogos, algo que não conseguimos descortinar nesta sala.

prios formandos, além de que cada um deles deveria pagar uma taxa fixa de 4 mil meticais pelo material didáctico, uma factura que saiu deveras elevada para o bolso dos técnicos, muitos deles ainda no “competitivo” mercado do desemprego. O que sucedeu foi que, durante os 30 dias de formação, enquanto uns “vasculhavam” familiares em Namaacha para garantir um tecto, outros viajavam diariamente para aquela vila fronteiriça a partir da cidade de Maputo e arredores. Sorte diferente tiveram os mais próximos e amigos da federação que puderam, apenas por 15 dias, ou seja, metade da duração do curso, dormir e comer de borla, sublinhe-se, na academia. Há ainda aqueles que viram os clubes nos quais estão vinculados a custearem todas as suas despesas. Dado curioso é que, dos 30 inicialmente inscritos, apenas 23 terminaram o curso. Entre os que desistiram está a figura de Arnaldo Salvado, curiosamente presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol e Rui Évora, treinador adjunto do Costa do Sol. Cabe destacar que este evento foi organizado pela Federação Moçambicana de Futebol (FMF) e foi monitorado pela Confederação Africana de Futebol (CAF). Dos 23 formados, apenas um não tem a nacionalidade moçambicana, tratando-se de um técnico português. No primeiro Curso de Formação de Treinadores de Elite da CAF, os técnicos actualizaram as suas competências no que à evolução de futebol, suas envolventes e respectivos métodos de treinamento. De uma forma geral, foram cerca de três dezenas de unidades temáticas leccionadas por um monitor da CAF. 

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ULTURA

Marcolino Vilanculos

Grupos de teatro atormentados pela falta de espaço para encenação Sob o lema “Teatro, Contribuindo na Construção da Moçambicanidade e do Desenvolvimento Sustentável”, o país e o mundo celebram hoje o dia internacional do teatro. Moçambique comemora a data numa altura em que surgem vários grupos teatrais, entretanto, apenas dois são considerados “colossos”, nomeadamente a companhia de Teatro Gungu e o Mutumbela Gogo, ambos sediados na cidade capital, Maputo. O teatro é uma arte milenar e funciona como meio de divulgação da cultura de diferentes povos. Na mensagem por ocasião da passagem da data, o Ministério da Cultura e Turismo exorta os actores culturais, as instituições públicas e privadas, associações culturais e a sociedade a reflectirem sobre a valorização do teatro. O governo também apelou à realização de programas culturais e recreativos que transmitam mensagens de amor à pátria, auto-estima, a cultura da unidade nacional e promoção dos valores da moçambicanidade. Para celebrar a efeméride, o concelho municipal da cidade de Maputo promove, anualmente, o Festival de Teatro com o objectivo de incentivar à prática desta arte nos distritos municipais, bem como criar um espaço de intercâmbio entre os grupos. O dia-a-dia dos grupos teatrais O SOL DO INDICO deslocou-se ao bairro do Chamanculo, onde visitou o grupo Gumula- que tem desenvolvido as suas actividades na Escola Primária 25 de Junho. O grupo fundado em 1998 por Phandzo Levene, surgiu como resposta ao apelo feito no âmbito do programa da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) denominado “Escolas sem HIV/SIDA”. Em 2000, o grupo desassociou-se da FDC e

apostaram no teatro comunitário. «Nos inspiramos na comunidade para pudermos ter os temas», disse Adriano Cossa, um dos integrantes do grupo. Actualmente, o grupo é coordenado por Elso Xirinda. Conversamos igualmente com o grupo Coração, fundado em 2012 por Pedro Dique e Admiro Francisco. O grupo conta com 12 membros e devido a falta de espaço para ensaios têm usado a igreja católica Divino Espírito Santo, no bairro de Laulane e, algumas vezes, os ensaios ocorrem em casa dos membros. Admiro Francisco gostaria que o grupo realizasse digressões em todas as províncias do país e sonha que um dia poderão alcançar o

reconhecimento a nível nacional. Para ele, o dia mundial de teatro é importante, porque «temos o privilégio de estar com outros actores e aprendemos como estar no teatro.» Formação dos actores é fundamental O actor do Mutumbela Gogo, Jorge Vaz, considera que o estágio do teatro em Moçambique é bom, pese embora haja poucos grupos na área da encenação. Acredita que a formação na área teatral é importante, pois permite aos fazedores conhecer novas as técnicas, ter o domínio do palco e de tudo que está em volta do teatro. «A formação permite as pessoas saber o que acontece no mundo teatral. O resto complementa-se», sublinhou.

Na sua opinião, o teatro em Moçambique tem futuro e isso verifica-se através da persistência dos grupos históricos existentes: Mutumbela e o Gungu. Também realçou o aparecimento de novos grupos a abraçarem o teatro. «Se não acreditássemos no futuro do teatro não estaríamos a celebrar», concluiu. Para celebrar a data, a companhia de teatro Mutumbela Gogo vai apresentar a peça “Xapa 100 (My Love) ”, que versa sobre o actual cenário dos transportes públicos que se vive na capital do país e resgata o lado social dos chapeiros, mostrando que são pessoas como outras quaisquer, com sentimentos e espírito solidário.

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ULTURA

Mia Couto à espreita do Nobel de Literatura Mia Couto é finalista do “Man Booker International Prize 2015”, que premeia escritores cujas obras estão publicadas na língua inglesa (originais ou traduzidas). As suas obras traduzidas para o idioma da terra de sua majestade são: “O Último Voo do Flamingo, “Terra Sonâmbula” e “Jesusalém” e que despertaram atenção ao júri por serem «precisas e profundas histórias de civilização e barbárie.» O anúncio do vencedor decorrerá durante uma cerimónia a realizar no Museu Victoria and Albert, em Londres, a 19 de Maio. O escritor moçambicano é o primeiro lusófono a ser nomeado para o prémio atribuído de dois em dois anos em Londres e presenteia com 60 mil euros (2.4 milhões de meticais) ao vencedor. «Recebo a notícia com surpresa, seria uma arrogância e de uma vaidade que não posso ter se dissesse o contrário. Trata-se de um prémio com prestígio internacional», afirmou Couto. Para o escritor, esta indicação desperta o mundo para a existência de uma África intelectual, pois o continente É visto como um espaço de «futebolistas, dançarinos e escultura», por essa razão «da literatura não se esperava muito.» Em 2013, Mia Couto venceu o “Prémio Camões”, o mais importante galardão da

literária da língua portuguesa. No ano passado recebeu o “Prémio Internacional Neustadt de Literatura”, nos Estados Unidos de América. Esta última nomeação dá visibilidade ao escritor que pode chamar a atenção dos júris do Nobel de Literatura. Para além do escritor moçambicano, outros nove concorrerem ao prémio, nomeadamente Marlene van Niekerk (África do Sul), Hoda Barakat (Líbano), Alain Mabanckou (República do Congo), Ibrahim al-Koni (Líbia) César Aira (Argentina), Maryse Condé (Guadalupe), Amitav Ghosh (Índia), Fanny Howe (Estados Unidos da América) e Lázló Krasznahorkai (Hungria). A última edição do prémio, em 2013, laureou a contista americana Lydia Davis. Philip Roth venceu, em 2011, Alice Munro, em 2009 – e em 2013 foi galardoada com o prémio Nobel da Literatura. Chinua Achebe, em 2007 e Ismail Kadaré, em 2005 (primeira edição). O júri prioriza a excelência do projecto literário de um autor analisando sua obra completa e não um único romance. De acordo com comunicado da organização, nenhum dos escritores havia sido indicado em edições anteriores do prémio. Além disso, 80 por cento dos escritores têm obras traduzidas para o inglês.

GENDA TV Dia 27

JimJam

ODISSEIA

Cinemundo

# Reinos Ocultos - Selvas Urbanas

01:10 – Rangers

Estreia: Sexta feira 27 de Março Ano de lançamento: 2014

04:20 - Tiny Planets

Cinemundo

Fox Pt

Género: Documentario

18:30- American Dad

21:30 – A Paixão de Shakespeare Dia 31

Fox Pt 22:30 - The IT Crowd - Os Informáticos Dia 28

JimJam 03:05 - Woody Buddies

JimJam 03:30 - My Animal Family: Underwater Mission

FOX MOVIES Cinemundo 03:30 - The Punisher - Zona de Guerra

Fox Pt 20:50 - Cleveland

Cinemundo 21:30 - Mansfield Park

Fox Pt 08:15 – Wipeout

Dia 01

JimJam 03:10 – Tiny Planets

Cinemundo 11:00 - Crime mais que Perfeito

Dia 29

JimJam 01:50 – Igloo Gloo

Cinemundo 19:50 - Altos Voos

Fox Pt 14:10 - Chamem-me Fitz Dia 30

JimJam 07:40 – Hip Hip Hurray

Fox Pt 10:30 - Web Therapy Dia 02

JimJam 03:25 – Clay Play

Cinemundo 20:10 - Sherlock Holmes

Fox Pt 17:25 – Vikings

# American Pie - O Casamento Estreia: Domingo 01 de Abril Ano de produção: 2003 Género: Comedia, Romance Realizador: Jesse Dylan

Actores: Jason Biggs, Seann William Scott, Alyson Hannigan, Eddie Kaye Thomas, Thomas Ian Nicholas, January Jones, Eugene Levy, Molly Cheek, Deborah Rush, Fred Willard, Angela Paton Após os eventos do colégio e da faculdade, os garotos estão enfim se tornando adultos. Jim (Jason Biggs) e Michelle (Alyson Hannigan) estão prestes a se casar, já que a avó de Jim adoece e diz que gostaria de vê-lo se casar antes de morrer. Os pais e amigos de Jim já planejam os preparativos para o grande casamento. Enquanto Stifler (Seann William Scott) organiza a despedida de solteiro de Jim, Finch (Eddie Kaye Thomas) prepara rituais hedonistas para o noivo. Porém a situação se complica de vez após Stifler se interessar Cadence (January Jones), a irmã caçula de Michelle que será dama de honra no casamento e não vê a hora de perder a virgindade, enquanto que Finch está decidido a protegê-la do amigo.

Os animais mais pequenos enfrentam os desafios mais excecionais da natureza. É a vida a uma escala diferente: os inimigos são gigantescos e os desafios vêm acompanhados de uma emoção e ação trepidantes. Para sobreviver devem encontrar soluções engenhosas para todos estes problemas. Porque quando se vive a meros centímetros do solo, as gotas de chuva caem como meteoritos, as partículas de poeira parecem cascalho e uma repentina rajada de vento é sentida como um tornado. O tempo também tem um significado diferente. O ritmo de vida alterase dramaticamente, cada segundo é importante e, desde o amanhecer até ao anoitecer, cada momento transforma-se numa luta constante pela sobrevivência. Filmado com câmaras de alta definição no contexto das paisagens mais emblemáticas do planeta, como a savana, o deserto, a selva e as cidades de Tóquio e Rio de Janeiro, o Odisseia oferece-lhe uma perspetiva totalmente nova destes mundos em miniatura e dos seus escorregadios protagonistas.

27 de Março 2015

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CTUAL

Victor Simbarove

Dhlakama promete “abolir” a figura de líderes comunitários No seguimento da sua “tourneé” pela zona centro, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, trabalhou, na semana passada, na província de Tete, onde começou a falar do modelo de governação que o seu partido vai implementar nas seis autarquias provinciais propostas pelo seu partido. Num comício orientado na Vila de Furancungo, sede do distrito de Macanga, Dhlakama disse que uma das inovações do seu partido nas autarquias provinciais será a abolição da figura de líderes comunitários, porque «é uma estrutura de base do partido comunista da Frelimo.» «Entre Maio e Junho, nas seis autarquias, onde a Renamo vai poder governar, este tipo de estrutura vai acabar», disse Dhlakama, tendo adiantado que «não vai ser preciso matar.» Ainda durante o seu périplo pela província de Tete, Dhlakama garantiu à população que a indicação dos presidentes das autarquias provinciais não será por confiança política, mas por competência técnica. «Queremos pessoas técnicas, profissionais e comprometidas com os ideais da Renamo, que tenham bom comportamento, que não sejam sorumáticas ou corruptas», declarou o líder da “perdiz”, acrescentando: «se é membro do partido e é malandro vai ficar a varrer a sede.» Dhlakama referiu que se o partido indicar pessoas por confiança política estará a seguir os mesmos caminhos da Frelimo, que, no seu entender, é um regime que deve cair. Por outro lado, o líder da Renamo pediu à classe académica para que se junte ao projecto do seu partido, pois, segundo ele, «só assim é que o país vai ficar livre da escravidão da Frelimo.» Aproveitou para lançar duras críticas a todos os analistas “leais” ao partido no poder e que tentam desacreditar o anteprojecto sobre as autarquias provinciais submetido à Assembleia da República pela Renamo. O principal alvo do ataque do líder da Renamo foi o general na reserva, Sérgio Vieira, que numa entrevista a um canal de televisão afirmou que o anteprojecto da Renamo não deveria ser aprovado pelo parlamento. No entender do líder da Renamo, Vieira é um político frustrado. «Quem é Sérgio Vieira para dizer que o nosso anteprojecto não deve passar? Não podem perder vosso tempo a ouvir um psicopata que está a tentar levar os problemas do seu partido para a Renamo», rematou. Ainda na cidade de Tete, Afonso Dhlakama orientou uma palestra com a classe académica, onde mostrou a sua frustração com este segmento e afirmou que muitos intelectuais não contribuem para o desenvolvimento do país. «São cobardes porque nada fazem para o bem deste país», fundamentou a sua declaração.

Membros da ReNaMo denunciam detenções arbitrárias Quase em todos os pontos da província de Tete onde o líder da Renamo trabalhou foi confrontado com constantes denúncias dos seus membros, que alegam a existência de detenções arbitrárias, orquestradas pela polícia em conivência com os líderes comunitários. As queixas dos membros e simpatizantes da Renamo

não param por aí. Levantaram casos de intimidações, intolerância política e até mesmo exclusão social. Por exemplo, no distrito de Tsangano, 10 membros e simpatizantes da Renamo foram detidos no ano passado, aquando da realização das eleições gerais. Em jeito de resposta às preocupações apresentadas pelos seus membros e simpatizantes, Dhlakama lança um alerta à navegação: «a polícia já é republicana

e não pode mais estar a receber ordens do partido Frelimo. Nas seis autarquias provinciais se um agente da polícia maltatrar o povo será de imediato processado e preso.» Dhlakama disse ainda que caso a Frelimo ordene a polícia para disparar contra os membros do seu partido a resposta será à altura. «Não vamos responder em Santungira, Marínguè ou Muxúnguè, vamos atacar lá no Maputo», alertou.

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