Renato Caldeira, \"Coluna. O Monstro Sagrado\"

September 3, 2017 | Autor: J. Pimentel Teixeira | Categoria: Football (soccer), Mozambique, Moçambique, Futebol
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Renato Caldeira, Coluna. O Monstro Sagrado, Maputo, Edisport, 2003 O jornalista Renato Caldeira escreveu e publicou a biografia de Mário Coluna, o Monstro Sagrado. Uma desilusão. Num livro com tamanha documentação fotográfica exigir-se-ia muito mais cuidado (e até bom gosto) na impressão e na paginação do livro, bastante descuidadas. E já nem falo no recurso a cores, decerto que o preto e branco é uma opção devida aos custos. Mas com tanto benfiquista (e não só) por esse mundo não deveria o livro ter sido pensado para exportação? Neste estado duvido que ultrapasse o universo dos indefectíveis.Não há dúvida, Coluna merece melhor. O texto é superficial, um registo de entrevista suave entrecortada por breves declarações de algumas personagens que contracenaram com Coluna. Alguns episódios desgarrados (ainda haverá paciência para o jogo da Coreia?) e uma série de elogios, decerto que merecidos mas que surgem circunstanciais. Ficamos com uma ideia sobre o que fez Coluna, mas muito pouco sobre quem é Coluna, o que representou, de onde saíu e onde viveu, e acima de tudo, quase nada sobre o que pensa. Não se pediria uma obra académica. Mas fica um enorme vazio. Da juventude, do filho de cantineiro português e camponesa changana, afastado da mãe com quatro anos, criado para o desporto naquela malha de clubes de LM que tanto representaram a estratificação da sociedade colonial, nada de substancial. Do jovem em Portugal tão pouco. Do mulato capitão do Benfica (aquele que era uma Nação, a dos “bons pais de família”) e da selecção dos anos 60 passa-se a correr. É um quase nada, à excepção do episódio do inspector da PIDE a torná-lo “branco”, ali a demonstrar o como a cor é apenas é estatuto, mas sem que o texto seja consciente. E do homem que logo regressou a Moçambique, que o percorreu trabalhando, e onde é um Senhor. Que acha ele do seu país, da sua história? Pela biografia Coluna é mais do que o Monstro Sagrado. Surge também como personagemcharneira do fim do império [e, caso alguém leia isto, charneira não significa duplicidade, que isto de más-vontades abundam]. Talvez mais do que qualquer outro vulto, pela importância simbólica que teve no Portugal de Salazar, pelo seu imediato papel em Moçambique. Daí a importância do seu olhar, o qual aqui não sobressai. Enfim muito ficou para dizer, e acima de tudo, muito para perguntar. Não há dúvida. Os admiradores merecem melhor.

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