Representação no Ornamento: O Estudo de uma Relação entre a arquitetura de Antoni Gaudí e a escultura de Francisco Brennand

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU

Pré-Projeto de pesquisa final para a disciplina de Introdução à Construção do Conhecimento. Professores: Dra. Ana Rita Sá Carneiro e Dr. Luis de La Mora Mestrando: Diogo Cardoso Barretto

Representação no Ornamento: O Estudo de uma Relação entre a arquitetura de Antoni Gaudí e a escultura de Francisco Brennand Caracterização do Problema: As relações entre o ornamento na obra arquitetônica do catalão Antoni Gaudí e a escultura do pernambucano Francisco Brennand vão muito além das possíveis citações visuais e da adoção da técnica cerâmica. Enquanto Brennand é um escultor com sérias inclinações para a arquitetura, a obra de Gaudí guarda profundas similaridades com a escultura. Ambos vêm de um ambiente artístico e cultural peculiar, com fortes traços próprios da região de origem. Apesar da produção arquitetônica de Gaudí concentrar-se entre as décadas de 1880 e 1920 e a artística de Brennad concentra-se entre 1950 e 2000, ambos comungam de uma plasticidade altamente expressiva que recorre a

representações

imagéticas

oníricas

e

mitológicas

para

reafirmar

determinados valores ligados a cultura local de origem de ambos. O ponto de intersecção palpável entre os dois é a assumida aproximação com a escultura cerâmica a partir do contato de Brennand com as técnicas cerâmicas catalãs. Postas essas relações diretas e indiretas, o problema a que se propõe responder essa dissertação é a compreensão aprofundada das relações que podem ser encontradas entre a construção do sentido no ornamento em Gaudí e na escultura de Brennand? Esse problema tem relevância por contribuir para a compreensão crítica da questão da representação ornamental na obra de Francisco Brennand em sua Oficina Cerâmica. A pesquisa se justifica pela ausência de trabalhos críticos aprofundados que relacionem a obra de Brennand a um cabedal de influências e confluências externas à cultura pernambucana.

Objetivo: Geral  Compreender as imbricações conceituais e de discurso entre a representação do ornamento na obra de Antoni Gaudí e da escultura de Francisco Brennand. Específicos  Identificar um conceito para representação em ornamento arquitetônico.  Verificar os conceitos e processos de construção do sentido na arquitetura de Antoni Gaudí através do ornamento.  Checar em que medida e como esses conceitos e processos se rebatem na criação artística de Brennand.

Conceitos Básicos Teóricos: Apesar de serem movimentos de origem literária, a Renaixença Catalana e o Armorial Pernambucano, que tiveram seu ápice respectivamente nas décadas de 1880 e 1970 representam bem o pensamento regional de Gaudí e Brennand. Nenhum dos dois foi ou é diretamente ligado aos movimentos, mas comungam de seus valores românticos de afirmação do local, de retorno à raízes primitivas mitológicas ibéricas-medievais. Ambos os movimentos se configuraram como alternativas de resistência cultural as pressões modernizadoras-civilizatórias industriais externas ao local. Além disso, ambos possuem forte componente onírico-mitológico em sua obra, e um importante fator de comunicabilidade semântica na construção do sentido. Joseph Rykwert trata em sua obra A Idéia de Cidade(2006) das origens mitológicas dos assentamentos humanos. Para Sigmund Freud(1912) o Mito é uma representação mental inconsciente ou pré-consciente de uma idéia fundante primitiva. Idéias como a de identidade e o estranhamente familiar – tratada na arquitetura por Antony Vidler(1992) - estão relacionadas as representações mentais inconscientes.

A questão do mito, e como ele se rebate nas imagens oníricas perpassa toda a teoria do movimento psicanalítico, e a mitologia possui grande importância para estruturalistas como Claude Levi-Strauss e Fernand de Saussure. O romeno Mirceu Eliade argumenta com sua teoria do Eterno Retorno que os rituais e representações são uma forma de participar ativamente do mito, vencendo a barreira da resistência do inconsciente. A linguagem – aqui entendida não só como língua, mas também como sistema de representações – também possui importância fulcral nas obras desses autores, o que nos leva a Filosofia da Cultura de Ernst Cassirer e seu Ensaio sobre o Homem(1944), onde baseia a cultura humana na capacidade representativa-simbólica. A semântica de Paul Ricouer em Teoria da Interpretação e a Hermenêutica da Obra de Arte de Hans Gadamer nos oferecem alternativas para a interpretação dessas representações, presentes tanto na obra de Gaudí quanto de Brennand. O elemento plástico, seja o ornamento na arquitetura de Gaudí, seja a escultura nos espaços com inclinação arquitetônica da obra de Brennand, como meio de representação de uma mitologia regional é o grande ponto de intersecção desses dois artistas. Partindo de uma extensa documentação que inclui escritos, cartas e modelos de Gaudí, pretende-se – através de entrevistas e levantamento direto da obra – verificar pontos de intersecção com a representação na obra de Brennand, além de checar o grau de deliberada, ou não, intenção de criar esses pontos de intersecção. Nesse ponto, analisar a conjuntura cultural da Catalunha no final do século XIX, através da Renaixença, e a conjuntura cultural Pernambucana na segunda metade do Século XX, através do Movimento Armorial, é fundamental para se contextualizar os documentos de Gaudí e os documentos e entrevistas com Brennand. Os textos de Ariano Suassuna e de Mario Newton Jr. que estudou o Armorial, representam bem o ambiente cultural pernambucano, por outro lado Bonaventura Carles Arigau, Joan Maragall – com quem Gaudí trocou vasta correspondência – e Manoel Milà i Fontanals, entre outros, representam o ambiente cultural da Renaixença catalã.

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