REPRESENTAÇÕES DA IDENTIDADE DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS PELO DISCURSO JORNALÍSTICO

June 8, 2017 | Autor: Rafael Mesquita | Categoria: Jornalismo, Análise do Discurso, Cristianismo, Religião, Pentecostalismo
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REPRESENTAÇÕES DA IDENTIDADE DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS PELO DISCURSO JORNALÍSTICO Autores: MESQUITA, Rafael; MESQUITA, Rayssa Figura 1 - Número de artigos no OESP e FSP por trimestre, de jun/00 a ago/15, dividido por editoria, mencionando “evangélico” ou “pentecostal” Editoria:

Suplementos

Política

Opinião

Metropolitano

Esporte

Educação

Cultura

Cotidiano/Brasil

Comportamento

Ciência/Saúde/Tecn.

Ambiente/Sustent.

150

100

N. de artigos

50

0 50 100

Q2-00 Q3-00 Q4-00 Q1-01 Q2-01 Q3-01 Q4-01 Q1-02 Q2-02 Q3-02 Q4-02 Q1-03 Q2-03 Q3-03 Q4-03 Q1-04 Q2-04 Q3-04 Q4-04 Q1-05 Q2-05 Q3-05 Q4-05 Q1-06 Q2-06 Q3-06 Q4-06 Q1-07 Q2-07 Q3-07 Q4-07 Q1-08 Q2-08 Q3-08 Q4-08 Q1-09 Q2-09 Q3-09 Q4-09 Q1-10 Q2-10 Q3-10 Q4-10 Q1-11 Q2-11 Q3-11 Q4-11 Q1-12 Q2-12 Q3-12 Q4-12 Q1-13 Q2-13 Q3-13 Q4-13 Q1-14 Q2-14 Q3-14 Q4-14 Q1-15 Q2-15 Q3-15

150

Eleições 2010

1 RESUMO

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

A ascensão evangélica no Brasil trouxe "interpelações" importantes ao establishment cultural, religioso e político brasileiro (ORO, 2011;VELHO, 2009). A reemergência pública das religiões interpela a narrativa da modernidade (CASANOVA, 2007; BERGER, 2004), trazendo à tona as contingências da oposição entre fé e ordem política moderna (BOBBIO, 1983; BURITY, 2007). A imprensa é uma instituição simbiótica da modernidade, ocupando-se de sua manutenção simbólica, como evidenciado por sua compreensão de si como (i) uma sentinela do poder, (ii) um agente do esclarecimento da opinião pública e (iii) uma instituição filiada a determinada cultura nacional e ideologia (ANDERSON, 1983; TAYLOR, 2007; THOMPSON, 1998). Ademais, a imprensa oferece matrizes de sentido que perpetuam as identidades sociais (GREGOLIN, 2008, p.95), valendo-se de expedientes como a designação e a predicação Figura 2 - Treemap dos componentes e temas identitários no discurso de 58 artigos do OESP em 2014 (área do quadrado = n. enunciados) Constitutivo/Performativo

Comparação relacional

Modelo cognitivo

Separação fé x política

LGBT

Voto automático

Alvo eleitoral Ética e política

Eleições 2014

Fonte - Elaborado pelos autores

Este trabalho investiga qual a identidade construída para os evangélicos brasileiros pela grande imprensa em seu discurso noticioso, e se essa construção exibe traços da tensão entre a modernidade enquanto projeto simbólico e a religião. Para tanto, realiza uma Análise de Conteúdo (AC) em um corpus de 4.851 notícias publicadas pelos jornais O Estado de São Paulo (OESP) e Folha de São Paulo (FSP) entre junho de 2000 e agosto de 2015, e em seguida uma Análise de Discurso (AD) de uma amostra de 58 artigos publicados em 2014, ano de eleição altamente confessionalizada. Os resultados mostram que a construção da identidade evangélica é articulada principalmente em termos político-eleitorais, de modo a reforçar paradigmas da modernidade sobre a separação entre fé e política, e relacionais-antagônicos face ao grupo LGBT.

Influência sobre candidatos

Feliciano assume presidência da CDHM

Aborto

Rel. Partidos/ Anti-PT Maconha

Contraste catolicismo

Fundamentalismo Messianismo

Obscurantismo Influência pastores-fiéis

Fonte - Elaborado pelos autores

para discriminar o in group do out grup (ZOPPI-FONTANA, 2003, p.263). Assim, nossa hipótese é que os jornais criam uma identidade para os evangélicos brasileiros calcada em oposições como moderno/pré-moderno, racional/irracional e público/privado que preservem e reforcem os arranjos simbólicos do ideário da modernidade Para analisar identidade, foi utilizada uma versão adaptada do modelo de Abdelal et al. (2006), contendo três componentes: (1) Componente constitutivo/performativo ("O que nos faz o que somos? Para que existimos?"); (2) Comparações relacionais ("O que nós não somos?"); (3) Modelos cognitivos ("Como vemos o mundo?").

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO

AC: Recorrendo aos softwares QDA Miner 4 e WordStat 7, os 4.851 textos selecionados foram classificado por editoria. Das 11 editorias, "Política" foi a predominante, respondendo por 37% do corpus (vide Figura 1, acima). O montante das notícias atingiu seus maiores níveis durante as eleições presidenciais de 2010 e 2014 (ambas com candidatos evangélicos), nas eleições de 2012 e quando em 2013 o Pr. Marcos Feliciano (PSC) assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). As frases mais frequentes do corpus, em termos absolutos, foram “Direitos Humanos”, “Dilma Rousseff”, “Marina Silva”, e “Assembleia de Deus”. AD: A partir de uma amostra de 58 artigos do OESP de 2014 relacionados às eleições, foi possível encontrar 14 temas recorrentes no discurso do jornal, que, separados nos três componentes do modelo adotado, mostram uma ênfase na faceta político-eleitoral dos religiosos, na relação com a questão LGBT, e dotado de um modelo cognitivo pouco racional (vide Figura 2, ao lado), corroborando nossas hipóteses quanto à articulação das identidades em oposições entre público/privado, racional/irracional.

4 REFERÊNCIAS

ABDELAL, Herrera, et al. Identity as a Variable. Perspectives on Politics. No. 4.Vol. 4., pp. 695-711, 2006 ANDERSON, Benedict. Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism. London:Verso, 1983. BERGER, Peter. Globalización y religión, Iglesia Viva, [Online], No. 218, pp. 63-71, 2004. BOBBIO, N. O modelo jusnaturalista. In: BOBBIO, N.; BOVERO, M. Sociedade e Estado na filosofia política moderna. São Paulo: Brasiliense, 1987. BURITY, Joanildo. Trajetórias da religião e da modernidade: a narrativa histórica de uma objeção. Estudos de Sociologia. Vol. 13, No. 1, pp. 19-48, 2007 CAMPOS, Leonildo Silveira. A identidade protestante e a hegemonia pentecostal no cenário religioso brasileiro. Tempo e Presença. Vol. 2, N. 6, jan. 2008 CASANOVA, José. Rethinking Secularization: A Global Comparative Perspective, in BEYER, Peter; BEAMAN, Lori G. (eds). Religion, Globalization and Culture. Leiden/Boston: Brill, pp. 101-20, 2007 GREGOLIN, Maria do Rosario. Identidade: objeto ainda não identificado? Estudos da Língua(gem) Vol. 6,

No. 1 pp. 81-97 junho de 2008 LOCKE, John. Second Treatise of Government. 2010 [1690]. ORO, Ari Pedro. Algumas interpelações do pentecostalismo no Brasil. Horizonte. Vol. 9, No. 22, pp.383-395, jul/set 2011 TAYLOR, Charles. Modern social imaginaries. In: A secular age. Cambridge: London: Belknap, pp.159-211, 2007 THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Trad. Wagner de Oliveira Brandão. Petrópolis:Vozes, 1998 VELHO, Otávio. Misionization in the Postcolonial World. A View from Brazil and Elsewhere, in: CSORDAS, Thomas J. (ed) Transnational Transcendence: Essays on Religion and Globalization. Berkeley: University of California, pp. 31-54, 2009. ZOPPI-FONTANA, M .G. Identidades (in)formais: contradição, processos de designação e subjetivação na diferença. Organon, Vol. 17, No.35, p.45-282, jan/dez 2003.

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