Representações sociais e experiências dos homens sobre o Planeamento Famiiar: o caso da localidade de Macarretane e do bairro da Mafalala

June 4, 2017 | Autor: Vânia Pedro | Categoria: Antropologia Do Corpo E Da Saúde
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Representações sociais e experiências dos homens sobre o Planeamento Familiar: o caso do bairro da Mafalala e da localidade de Macarretane

 

Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Medicina Departamento de Saúde da Comunidade

Programa de Mestrado em Saúde Pública

Dissertação apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para a obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública da Universidade Eduardo Mondlane.

Candidata: Vânia Manuel Pedro

Orientadora: Prof.ª Doutora Esmeralda Celeste Mariano

Maputo, Fevereiro de 2013

Vânia Pedro  

 

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Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de mestrado em Saúde Pública, Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública.

Aprovada por:

Prof.ª. Doutora. Esmeralda Mariano (orientadora)

____________________________________________________________________

Prof.ª. Doutora Khátia Munguambe (arguente)

____________________________________________________________________ Prof. Doutor César Palha De Sousa (examinador do núcleo de Mestrado em Saúde Pública) _______________________________________________________________________

Prof.ª. Doutora Sandra Manuel (Presidente do júri)

______________________________________________________________________ Maputo, Fevereiro de 2013

Vânia Pedro

 

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Declaração

Eu, Vânia Manuel Pedro, declaro que o trabalho foi realizado por mim sob a supervisão da Profª. Doutora Esmeralda Celeste Mariano, consultando a bibliografia mencionada e realizando o trabalho de campo para preencher os requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública. O título nunca fora antes submetido à Universidade Eduardo Mondlane.

Vânia Manuel Pedro ______________________________________

Maputo, Fevereiro de 2013

Vânia Pedro

 

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Dedicatória Dedico este trabalho a minha mãe Felismina Cândida Mazivila, falecida a 14 de Julho de 2012. Ela continua sendo uma grande fonte de inspiração e exemplo para mim todos os dias. Mãe descanse em Paz!

Vânia Pedro

 

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Agradecimentos Os meus agradecimentos vão em primeiro lugar para a Profª. Doutora Esmeralda Mariano, minha orientadora que sempre mostrou dedicação, disponibilidade e atenção para apreciar e comentar criticamente o meu trabalho. Gostaria igualmente de agradecer ao Programa Desafio da Universidade Eduardo Mondlane por me ter concedido a bolsa de estudos e todo o apoio necessário, em especial a Profª. Doutora Nafissa Osman, a Profª. Doutora Kristien Roelens, a Profª. Diderike Geelhoed, a Drª. Laurence Hendricxx, ao Dr. Sérgio Nhanombe, a Sr.ª Olinda Simão, a Sr.ª. Celina Tchaúque, ao Sr. Lucas Macar, ao Sr. Sérgio Pelembe, ao Sr. Cuco, bem como a todos os membros do Projecto 4 (Saúde Reprodutiva) do Programa Desafio pelo companheirismo, carinho e apoio que sempre me dispensaram. Agradeço igualmente ao núcleo de gestão do Mestrado em Saúde Pública pelos ensinamentos e atenção nas pessoas do Prof. Doutor Baltazar Chilundo, Prof. Doutor Mohsin Sidat, Dr.ª Alda Mariano, Dr.ª Fátima Cuembelo, Sr.ª. Maria Adozinda e Sr. Fernando Comiche. Sou também grata a direcção do Instituto Superior de Artes e Cultura, instituição onde trabalho pelo encorajamento e carinho, nas pessoas do Mestre Filimone Meigos, director geral, Mestre Estêvão Filimão, Director da Faculdade de Estudos da Cultura, unidade orgânica a que estou afecta e ao Prof. Doutor Isaú Meneses pelos conselhos e encorajamento. Agradeço igualmente às autoridades do Distrito do Chòkwé e do bairro da Mafalala pelo apoio e abertura para a realização desta pesquisa. Expresso igualmente o meu sincero agradecimento aos meus colegas e amigos, em especial ao Augusto Guambe, a Zaida Mahomed, a Ivone Felimone, a Eunice Samo Gudo, ao Rosário Andrade e ao Fernando Tivane. Igualmente agradeço aos meus familiares pelo apoio, em especial a Luísa Mazivila, ao Roque Sebastião e à Nélia Pioris. Sou muito grata a todos os participantes do estudo que partilharam comigo aspectos íntimos e delicados das suas vidas, não se importando com o facto de eu ser uma estranha para eles. Muito obrigada! Sem vocês, este estudo não teria acontecido! Vânia Pedro

 

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Lista de abreviaturas

CNBS

Comité Nacional de Bioética para Saúde

CMCM

Conselho Municipal da Cidade de Maputo

CS

Centro de Saúde

HCM

Hospital Central de Maputo

IDS

Inquérito Demográfico e de Saúde

INE

Instituto Nacional de Estatística

MAE

Ministério da Administração Estatal

MICS

Inquérito de Indicadores Múltiplos

MISAU

Ministério da Saúde

PF

Planeamento Familiar

PNPF

Programa Nacional de Planeamento Familiar

PNUD

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SNS

Serviço Nacional de Saúde

SSR

Saúde Sexual e Reprodutiva

UNFPA

Organização das Nações Unidas para a População

US

Unidade Sanitária

Vânia Pedro

 

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Índice Dedicatória ...................................................................................................................................... 4 Agradecimentos .............................................................................................................................. 5 1

Introdução ............................................................................................................................... 11 1.1 Problemática e fundamentação do estudo ........................................................................ 15 1.2.1. Objectivo geral ............................................................................................................ 18 1.2.2. Objectivos específicos ................................................................................................. 18 1.3. Questão de pesquisa ......................................................................................................... 19 1.4. Estrutura da dissertação ................................................................................................... 19

2.

Revisão da literatura .............................................................................................................. 20 3.1. Itinerário da pesquisa e acesso aos informantes .............................................................. 29 3.3. Instrumentos de recolha de dados .................................................................................... 33 3.5. Gestão e análise de dados ................................................................................................ 38 3.6. Critérios de inclusão e de exclusão .................................................................................. 39 3.7. Considerações éticas ........................................................................................................ 39

4.

Apresentação e discussão de resultados ................................................................................. 40 4.1. Locais de estudo .............................................................................................................. 40 4.2. Perfil dos participantes do estudo .................................................................................... 48 4.3. Conhecimento e uso dos serviços de PF .......................................................................... 48 4.4. Papel dos homens no PF .................................................................................................. 66 4.5. Formas de diálogo e articulação entre os homens e suas parceiras sobre o Planeamento Familiar ..................................................................................................................................... 70 4.6. Limitações do estudo ....................................................................................................... 76

5.

Conclusões do estudo............................................................................................................. 77

6.

Proposta de recomendações ................................................................................................... 78

7.

Referências bibliográficas ...................................................................................................... 80

Anexo 1. Guião de entrevista semi-estruturada (homens) ............................................................ 86 Anexo 2. Guiões de entrevistas semi-estruturadas (mulheres) ..................................................... 88 Anexo 3. Guião para discussão em Grupos Focais (homens) ....................................................... 90 Anexo 4. Guião para discussão em grupos focais (mulheres) ...................................................... 92 Folha de informação ao participante para entrevistas semi-estruturadas e grupos focais ............ 94  

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Lista de fotos Foto 1.............................................................................................................................................43 Foto 1.............................................................................................................................................44 Foto 1.............................................................................................................................................47 Foto 1.............................................................................................................................................48

Lista de tabelas Tabela 1: caracterísitcas sócio-demográficas dos participantes....................................................49 Tabela 2: contraceptivos mais referidos pelos participantes.........................................................55 Tabela 3: contraceptivos utilizados pelos participantes.................................................................60

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Resumo O Planeamento Familiar (PF) constitui um direito humano básico e uma questão de Saúde Pública, cada vez mais em relevo, sobretudo no contexto dos debates sobre a igualdade de género e promoção da Saúde Sexual e direitos reprodutivos. O presente trabalho tem como objectivos explorar as representações sociais e experiências sobre o PF dos homens que têm parceiras em idade reprodutiva; identificar o conhecimento, de uso dos serviços e experiências de PF dos homens; descrever como é que os homens concebem seu papel no PF; e analisar as formas de diálogo e articulação entre os homens e suas parceiras sobre o Planeamento Familiar. Com vista a compreender estes aspectos, este estudo utilizou a metodologia qualitativa baseada nas abordagens etnográfica e fenomenológica, porque permite aceder as representações, experiências, crenças, sentimentos, valores, normas e significados em torno do PF. Participaram do estudo setenta (70) participantes (41 homens e 29 mulheres). A selecção dos participantes seguiu o critério da amostragem por conveniência e bola de neve entre os residentes do bairro da Mafalala, cidade de Maputo e na localidade de Macarretane, província de Gaza, distrito de Chòkwé. O Planeamento Familiar foi definido apenas como barreira às gravidezes indesejadas e não se mencionou a importância do espaçamento entre as mesmas. Os conhecimentos dos homens sobre os contraceptivos modernos são fracos. Existe a percepção de que os contraceptivos modernos criam efeitos secundários no corpo da mulher, prejudicando a sua capacidade reprodutiva e o prazer sexual. Os homens não estão claros sobre o seu papel no Planeamento Familiar e o confundem com anuir as parceiras para fazerem o planeamento. A capacidade ou incapacidade de negociar o uso do Planeamento Familiar pelas mulheres tem que ser considerado pelos programas que oferecem esse serviço, porque elas não têm o poder de decisão, especialmente em contextos patrilineares. Palavras-chave: Planeamento Familiar, representações sociais, homens, mulheres, patrilinear. Vânia Pedro

 

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Summary Family Planning (FP) constitutes a basic human right and a public health issue, of increasing importance, especially in the context of discussions on gender equality and the promotion of sexual health and reproductive rights. This study aims to explore the social representations and experiences on FP of men who have partners of childbearing age; identify the knowledge, use and men experience on FP services; describe how men perceive their role in FP, and examine ways of dialogue and articulation on family planning between men and their partners. In order to understand these aspects, this study used a qualitative methodology based on ethnographic and phenomenological approaches, because it allows accessing the representations, experiences, beliefs, feelings, values, norms and meanings surrounding FP. The study included seventy (70) participants (41 men and 29 women). The selection of participants followed the convenience and snowball sampling criterion among the residents of the Mafalala neighborhood in Maputo and Macarretane locality, Gaza province, and Chòkwé district. Family Planning was defined only as a barrier to unwanted pregnancies; the importance of spacing between pregnancies was not mentioned. The knowledge of men about modern contraceptives is weak. There is a perception that modern contraceptives create side effects on the female body, harming her reproductive capacity and sexual pleasure. Men are not clear about their role in family planning and confuse it with simply authorizing their partner to use family planning. Family Planning programs have to consider the ability or inability by women to negotiate the use of its services, because they have no decision-making power, especially in patrilineal contexts. Keywords: Family Planning, social representations, men, women, patrilineal.

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Introdução

Com o desenvolvimento das tecnologias médicas, a reprodução tornou-se um processo que não depende apenas e necessariamente da relação sexual heterossexual, pelo facto de existirem outras formas de gerar filhos, mas o presente estudo tem como enfoque a reprodução biológica que envolve a relação sexual entre um homem e uma mulher, tendo em conta as dinâmicas de negociação e os meios utilizados para garantir a reprodução biológica e social. Em 2012 , cerca de 645 milhões de mulheres no mundo em desenvolvimento estavam usando métodos modernos, 42 milhões a mais que em 2008. Cerca de metade deste aumento foi devido ao crescimento populacional (Susheela & Darroch, 2012). O número de mulheres que têm uma necessidade não atendida de contracepção moderna em 2012 foi de 222 milhões. Este número diminuiu ligeiramente entre 2008 e 2012 nos países em desenvolvimento em geral, mas aumentou em algumas sub-regiões , assim como nos 69 países pobres. O cuidado anticoncepcional em 2012 custou 4,0 bilhões de dólares americanos no mundo em desenvolvimento (idem). O uso de contraceptivos impedirá 218 milhões de gravidezes não desejadas nos países em desenvolvimento em 2012, e , por sua vez , evitaria 55 milhões de nascimentos não planeados, 138 milhões de abortos (dos quais 40 milhões não são seguros ), 25 milhões de abortos e 118 mil mortes maternas (idem). A taxa de necessidades contraceptivas não atendidas aumentou na África Subsaariana de 31 milhões em 2008 para 36 milhões em 2012 (idem). Estima-se que ocorrem 80 milhões de gravidezes indesejadas nos países subdesenvolvidos, devido à falha no uso de contraceptivos. Dessas 80 milhões de gravidezes, ocorrerão 30 milhões de nascimentos indesejados e 40 milhões de abortos (idem).

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Em Moçambique apesar de o Programa Nacional de Planeamento Familiar (PNPF) ter iniciado em 1977, somente em 1980 se estabeleceu como um programa efectivo de âmbito nacional, com prestação de serviços aos diferentes níveis da rede de instituições públicas de saúde, com os objectivos de: Melhorar as condições de saúde da mulher, especificamente das mulheres com alto risco reprodutivo que contribuem significativamente para as altas taxas de morbi-mortalidade materna e perinatal; Melhorar a saúde das crianças, promovendo um intervalo de pelo menos 2 anos entre um nascimento e o seguinte (MISAU, 2010: 5). Actualmente, os serviços de PF continuam a ser maioritariamente públicos e oferecidos de forma gratuita, estando sob a responsabilidade do Serviço Nacional de Saúde e encontrando-se integrados no atendimento materno-infantil (idem). No geral, tanto nas mulheres assim como nos homens, os métodos modernos são mais conhecidos que os tradicionais. Os métodos geralmente mais conhecidos pelas mulheres por ordem de importância percentual são o preservativo masculino, a pílula, e injecções. Os dados revelam que entre as mulheres unidas, um quarto conhece a esterilização feminina e um terço conhece o Dispositivo Intra-Uterino (DIU). Entretanto, entre as mulheres sexualmente activas, mas não unidas, 55% conhece o DIU (IDS, 2011). No tocante aos homens, os métodos que eles conhecem mais são os mesmos que foram apontados pelas mulheres, embora apresentem percentagens relativamente mais elevadas que as apresentadas pelas mulheres, sendo de destacar os 98% de homens que revelaram conhecerem o preservativo masculino, contra 86% de mulheres (idem). Esta diferença pode ser originada pelo facto de os homens serem mais alfabetizados do que as mulheres. A taxa de analfabetismo em Moçambique é de 50.4%, sendo que nas zonas rurais a taxa é de 65.5% (46.1% para os homens e 81.2% para as mulheres) e nas zonas urbanas de 26.3% (13.9% para os homens e 37.8% para as mulheres) (INE, 2007). Vânia Pedro

 

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A esterilização masculina, implante e o diafragma são os métodos menos conhecidos, tanto pelas mulheres como pelos homens. A esterilização masculina, implante e o diafragma são os métodos menos conhecidos, tanto pelas mulheres como pelos homens. (IDS, 2011). No geral, a idade não constitui um elemento importante de diferenciação no concernente ao conhecimento de métodos contraceptivos. Contudo, as adolescentes, no grupo etário dos 15 aos 19 anos e as de 45 a 49 anos, apresentam proporções relativamente inferiores às observadas pelas restantes mulheres, colocando-as alguns furos abaixo da média nacional. Diferentemente das mulheres, a totalidade dos homens revelou ter um conhecimento bastante elevado dos métodos contraceptivos no geral, e de métodos modernos em particular (idem: 95). Entre as mulheres, as mais instruídas e as de nível socioeconómico mais elevado mostram ummaior conhecimento dos métodos contraceptivos, mas as diferenças não são muito grandes, porque mesmo nas categorias de menor conhecimento, 94% ou mais das respondentes afirmam conhecer um ou mais métodos contraceptivos (idem: 95). O nível do conhecimento sobre os métodos contraceptivos não é uniforme em toda a extensão territorial do país. Assim, por exemplo, as mulheres da Província de Niassa (87%), ostentam a percentagem relativamente mais baixa naquela vertente. Ainda na região Norte do país, as mulheres da Província de Nampula (93%), apresentam uma proporção abaixo da média nacional (idem: 95). Por seu turno, as mulheres das províncias da região centro do país apresentam cifras acima da média nacional, exceptuando as da província de Manica (95%). Finalmente, quase o universo de mulheres da região sul, com excepção das de Gaza, apresentam as cifras relativamente mais elevadas do País. Nos homens, as variáveis idade, área de residência, nível de escolaridade e quintil de riqueza, não exercem nenhuma influência que possa interferir no nível de conhecimento de métodos contraceptivos, dado que o universo de homens conhece os métodos contraceptivos (idem: 95).

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Doze por cento do total de mulheres inquiridas durante a elaboração do IDS de 2011, afirmou que usava algum método contraceptivo, quase a totalidade usava algum método moderno. O pico de uso de contraceptivos é atingido no grupo etário entre os 20-34 anos, independentemente da situação marital da mulher. O uso é normalmente mais baixo entre as jovens, presumivelmente porque estão na fase de constituir família e desejam ter filhos, e entre mulheres adultas, muitas das quais não estão em risco de engravidar, seja por estarem em menopausa, seja por relações sexuais pouco frequentes ou por outras causas (idem: 96). As mulheres sexualmente activas mas não unidas, apresentam percentagem mais elevada do uso de métodos contraceptivos quando comparadas às mulheres actualmente unidas (30% contra 12%, respectivamente), o que pode denotar a influência do estado marital da mulher, a sua vontade de engravidar e o seu poder de negociar e decidir sobre o uso ou não de contraceptivos (idem: 97). As mulheres usam muito mais os métodos modernos (12%), que os tradicionais, que praticamente não representam nenhuma expressão percentual (0.3%). Entre as mulheres em união a injecção é o método mais comummente utilizado, seguido da pilula e do preservativo masculino (5%, 5% e 1%, respectivamente) (idem: 97). Entre as mulheres sexualmente activas mas não unidas, o preservativo masculino é o método mais frequentemente utilizado, presumivelmente porque oferece protecção dupla, contra a gravidez e contra infecções transmitidas sexualmente. Assim, 16% dessas mulheres usam o preservativo masculino, enquanto 9% delas usam a pílula (idem: 97). A utilização da contracepção é significativamente maior entre as mulheres urbanas, mais escolarizadas e de situação sócioeconómica mais elevada. Assim, a proporção das mulheres que utiliza um método contraceptivo moderno é de 21% em áreas urbanas comparado com 7% no meio rural, de 5% entre as mulheres não escolarizadas, comparado com 31% das que alcançaram o nível secundário ou superior, e de 3% no quintil de riqueza mais baixo, comparado com 30% do quintil mais elevado (idem: 99). Vânia Pedro

 

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A necessidade satisfeita da contracepção tanto para espaçar como para limitar os nascimentos para o total das mulheres em união é de 12%. Esta necessidade satisfeita é maior entre as mulheres com nível secundário e mais de 32% comparado com 6% das mulheres não escolarizadas. Entre as residentes de Maputo Cidade e Maputo Província respectivamente 36% e 34% têm necessidade satisfeita, comparado com apenas 3% na província em Cabo Delgado e 5% em Nampula (idem: 105). A percentagem total de mulheres com necessidade insatisfeita para espaçar ou limitar os nascimentos é de 29%, sendo de 16% nas que pretendem espaçar os nascimentos e 13% nas que querem limitar os nascimentos. A diferença por área de residência no que concerne à necessidade insatisfeita, parece não ser de grande relevo. Por província, o menor nível de necessidade insatisfeita observa-se em Cabo Delgado (12%) e o maior em Gaza (36%) (idem: 105-106). A procura de serviços de contracepção é satisfeita em 29%. A área urbana goza de maior privilégio em termos de grau de satisfação da procura de serviços de Planeamento Familiar (42%), comparativamente à rural (21%). O grau de satisfação da procura de serviços de PF tende a aumentar à medida que se eleva o nível de escolaridade das entrevistadas e à medida que se sobe no escalão de riqueza (idem: 107). A estratégia de Planeamento Familiar e contracepção (2011-2015) do Ministério da Saúde (MISAU) pretende alcançar as seguintes metas: • Aumentar a taxa de prevalência de uso de métodos modernos de contracepção de 14% em 2003, para 25% em 2014; • Aumentar a cobertura de novas utentes de métodos modernos de PF de 12.5% em 2008 para 19% em 2014 (MISAU, 2010: 12). 1.1

Problemática e fundamentação do estudo

O PF pode ajudar na redução da mortalidade associada à gravidez, parto e pós-parto. A utilização eficaz da contracepção pode reduzir a mortalidade materna por complicações, pois dá oportunidade as mulheres a adiarem a gravidez, a espaçarem os nascimentos e a reduzirem o Vânia Pedro

 

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número de gravidezes indesejadas que podem terminar num aborto inseguro na maioria das vezes. O quinto Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) preconiza a melhoria da saúde materna, através da redução da taxa de mortalidade materna em ¾ e alcance do acesso universal à Saúde Reprodutiva. Conforme foi mencionado previamente nesta dissertação, o Programa Nacional de Planeamento Familiar de Moçambique tem como objectivo primordial melhorar as condições de saúde da mulher, porém, cerca de 11 mulheres morrem por dia e cerca de 3.840 por ano em Moçambique devido a complicações relacionadas com a gravidez e o parto (MISAU, 2009). As complicações relacionadas com a gravidez e o parto são muita das vezes decorrentes do número elevado de filhos e do não espaçamento entre os nascimentos, daí a importância do PF para a saúde da mulher e criança. O número de filhos a que uma mulher dá a luz tem um efeito directo sobre a sua condição saúde. Nas sociedades tradicionalmente dominadas por homens, não se leva em consideração a necessidade de preservar a saúde da mulher (De Gita, 2007). A problemática em torno das representações e experiências dos homens sobre o PF reside no facto de em muitas sociedades no sul de Moçambique as mulheres não deterem o poder de decisão sobre os mais diversos assuntos, de entre os quais a aderência ou não ao Planeamento Familiar, apesar de este oferecer muitas vantagens para a sua saúde. O problema agrava-se porque os homens têm sido negligenciados no tocante aos assuntos relacionados à contracepção e ao PF enquanto eles são os detentores do poder de decisão. A maioria dos métodos contraceptivos é direccionada às mulheres. Os homens têm sido vistos como agentes passivos e auxiliares da toma da pílula e do uso de outros contraceptivos pelas suas parceiras, apesar de eles também terem as suas ideias e escolhas em matérias de reprodução (Duarte, 1998).

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Um marco notável no desenvolvimento dos assuntos sobre a Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) foi a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (ICPD) realizada no Cairo em 1994, que postulou que os homens também têm direitos e responsabilidades no contexto da SSR. A ICPD assinalou uma mudança significativa de paradigma no contexto da SSR, na medida em que se alterou o foco da população para as pessoas, do macro para o micro e do crescimento e redução da fertilidade para os direitos, necessidades, expectativas e ambições dos indivíduos (Collumbien & Hawkes, 2000). Após a Conferência do Cairo em 1994, as pesquisas sobre a saúde e sexualidade do adolescente, violência contra as mulheres, o aborto e os assuntos a ele relacionados; experiências das mulheres sobre as Infecções reprodutivas e seu tratamento, emergiram. Porém, no geral, esses estudos focalizam-se em populações femininas. Existem poucos estudos sobre os problemas de saúde reprodutiva dos homens, tal como eles os percebem (Hardon et al, 2001: 72). Em Moçambique, a estratégia de PF e contracepção lançada pelo MISAU em 2010, não mostra de forma clara e operacionalizável como é que as necessidades de saúde reprodutiva dos homens são tidas em conta, apesar de postular a equidade de género como um dos seus princípios orientadores. A estratégia em causa, igualmente reconhece que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não está preparado para prover serviços de PF aos homens. Ainda que o SNS não esteja preparado para prover serviços de PF para os homens, é importante que se saiba de que forma poderá se fazer esse provimento, na medida em que têm as suas especificidades e é preciso conhecer as suas crenças, motivações, valores, inquietações e significados que atribuem às suas práticas. A mais-valia do nosso estudo reside no facto de ser exploratório e pioneiro na abordagem das questões PF em Moçambique sob o ponto de vista dos próprios homens, porque ao abordar as suas representações sociais e experiências acerca do Planeamento Familiar esperamos contribuir para a compreensão da importância de ter-se em consideração os receios, as suas dúvidas, a sua ansiedade, as suas necessidades e as suas expectativas, a fim de se criar serviços a eles

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direccionados e, melhorar os seus conhecimentos e habilidades em matéria de contracepção, para que estejam engajados em ter comportamentos e atitudes saudáveis para si, parceira e filhos. O campo das Ciências Sociais tem mostrado a importância que as normas de género têm na moldagem de ideologias masculinas em relação à sexualidade e reprodução, incluindo sob os valores da paternidade. O presente estudo adopta uma perspectiva antropológica. Os estudos antropológicos em Saúde Reprodutiva contribuem para entender os conceitos que as pessoas têm sobre a etnofisiologia e sua relação com as práticas reprodutivas, terapêuticas e rituais; assim como sobre o conhecimento profundo que informa e influencia na tomada de decisões sobre as escolhas reprodutivas (Browner e Sargent, 1990). A compreensão sobre a forma como os indivíduos constroem e expressam suas identidades através da interacção, reflexão e narração das suas histórias, merece particular atenção neste estudo. 1.2. Objectivos 1.2.1. Objectivo geral Explorar as representações sociais e experiências dos homens da localidade de Macarretane e do bairro da Mafalala sobre o Planeamento Familiar. 1.2.2. Objectivos específicos • Identificar e descrever o conhecimento, de uso dos serviços e experiências do PF dos homens; • Descrever como é que os homens concebem seu papel no PF; • Analisar as formas de diálogo e articulação entre os homens e suas parceiras sobre o Planeamento Familiar.

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1.3.

Questão de pesquisa

Quais são as representações sociais e experiências dos homens do bairro da Mafalala e da Localidade de Macarretane sobre o Planeamento Familiar? 1.4.

Estrutura da dissertação

A presente dissertação está dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo são introduzidos os principais aspectos relacionados com a problemática do Planeamento Familiar e da prevalência contraceptiva a nível global, regional e nacional. Também é apresentada a fundamentação do estudo, os objectivos e a questão de pesquisa que serviu de fio condutor para a realização da mesma. O segundo capítulo apresenta a revisão da literatura sobre o enquadramento teórico e conceptual no qual o estudo assenta e, aposterior, apresentamos uma revisão da literatura sobre o posicionamento dos homens face ao Planeamento Familiar. O terceiro capítulo descreve as fases, procedimentos e a abordagens metodológicas adoptadas para a realização deste estudo. Também apresentamos o itinerário da pesquisa e o acesso aos informantes, os instrumentos de recolha de dados, a selecção da amostra, a gestão e análise de dados, os critérios de inclusão e exclusão e as considerações éticas. O capítulo quatro apresenta os achados do estudo e a sua discussão, baseada na triangulação da revisão da literatura e análise dos dados colectados. O capítulo cinco apresenta as principais conclusões do estudo e o capítulo seis as propostas de recomendações em função dos achados do estudo.

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2. Revisão da literatura Neste capítulo apresentamos os conceitos que utilizamos e operacionalizamos no decorrer do estudo, que permitiram aprimorar a base teórica do estudo, bem como a visão sobre o posicionamento dos homens acerca do Planeamento Familiar, encontrada na revisão da literatura. De modo a compreender o objecto de estudo, são apresentados a seguir alguns conceitos básicos para a análise do problema, tais como: representações sociais; saúde e cultura; masculinidade (s); género; género e saúde; reprodução e Planeamento Familiar. 2.1. Representações sociais “Representações sociais são modos inconscientes de compreender um determinado fenómeno ou determinada prática existencial, individual ou colectiva, que se expressam por meio de falas quotidianas, crenças, provérbios, modos de agir que podem estar vinculados ao passado, ao presente ou ao futuro (…). Em síntese, são crenças inconscientes que se manifestam nas falas, nos discursos, nas piadas, na acção quotidiana” (Luckesi, 2002: 79). As representações sociais não devem ser vistas como imutáveis, porque têm um carácter dinâmico e relacional à trajectória do grupo que a elaborou. Elas são fruto de um processo sempre actuante, desencadeado pelas acções colectivas dos indivíduos, mas implicam um reflexo nas relações estabelecidas dentro e fora do grupo, no encontro com outros indivíduos ou grupos sociais (Araújo, 2008). O ponto de vista de Araújo mostra que as representações sociais são inacabadas e são passíveis de transformação todos os dias. A esse respeito Minayo (1994) citada por Gazzinelli et al (2005) refere que “qualquer pessoa, incluindo os profissionais de saúde, está sempre reactualizando hábitos, modos de vida e sensibilidades herdadas de um passado sempre presente, de acordo com os significados, histórica e culturalmente construídos e assim elaborando as suas representações da saúde e da doença”.

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Apesar de as representações sociais terem uma carga afectiva sobre os indivíduos, não determinam as suas acções, ou seja, não é necessariamente por pensar de uma forma, que o indivíduo irá agir da maneira como pensa. 2.2. Saúde e Cultura Falar de cultura é falar de um conceito bastante polissêmico. De acordo com Marconi (2005), existem mais de 160 definições do conceito. Nesta dissertação adoptamos o conceito de cultura proposto por Cecil Helman, que postula o seguinte: “a cultura é um conjunto de princípios (explícitos e implícitos) herdados pelos indivíduos enquanto membros de uma sociedade em particular. Tais princípios mostram a eles a forma de ver o mundo, de vivenciá-lo emocionalmente, e de comportar-se dentro dele em relação a outras pessoas, a deuses ou forças sobrenaturais, e ao ambiente natural” (Helman, 1994: 23). Partindo do conceito proposto por Helman, nota-se que a cultura fornece aos indivíduos um quadro de referência para o seu comportamento nas mais variadas situações, inclusive nas questões de saúde. É difícil falar se saúde sem falar de doença. Todas as sociedades têm formas próprias de conceber, compreender, interpretar e explicar os fenómenos de saúde e doença. Todas as culturas dividem os seus membros em diferentes categorias sociais a saber: homens ou mulheres, crianças ou adultos, jovens ou velhos, parentes ou estranhos, classe alta ou classe baixa, capazes ou incapazes, normais ou anormais (…) sadios ou doentes (Helman, 1994: 23). Igualmente, todas as culturas possuem formas elaboradas, tanto para transferir um indivíduo de uma categoria social para outra, por exemplo, de “doente” para “sadio” (idem). O contexto cultural em que o indivíduo insere-se exerce importante influência em muitos aspectos da sua vida, incluindo nas suas crenças, comportamentos, percepções, emoções, línguas (…) e nas atitudes em relação à doença, saúde e a dor (idem).

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Apesar de se reconhecer a influência da cultura no comportamento dos indivíduos, é importante realçar que ela não constitui a única influência na vida dos mesmos. Factores individuais (como a idade, género, altura, personalidade, aparência, inteligência e experiência); factores educacionais (formais ou informais, incluindo a educação e uma sub-cultura religiosa ou profissional) e factores sócio-económicos como a classe social, o estatuto económico e redes de solidariedade) (Helman, 1994: 24). Para compreender as representações sociais dos indivíduos sobre os fenómenos de saúde e doença é importante compreender os significados e as interpretações que as pessoas num certo contexto cultural atribuem ao processo de saúde e doença. 2.3. Masculinidade (s) Connell (1987) citado por Bento (2012), enuncia quatro concepções teóricas de masculinidade: a) Essencialista: que define a masculinidade com base em pressupostos biológicos; b) Normativa: que define a masculinidade tomando como referência um padrão comportamental, um conjunto de expectativas e atitude. Neste modelo, o homem é quem estrutura a sua prática; c) Positivista: busca determinar a forma como os homens são, fazendo com que haja uma ênfase no facto observado. Distingue os homens das mulheres; d) Semiótica: define masculinidade a partir de um sistema simbólico, diferente nos quais masculinidade e feminilidade estão em contraste (passiva x activo, subjectivo x objectivo). Bento (2012), refere que a masculinidade é fruto de uma construção e que os estudos sobre homens têm como foco os processos sociais de construção da masculinidade, relacionando-os com determinados contextos sócioculturais. As etnografias permitem concluir que a masculinidade, sua definição e o processo de constituição variam de sociedade para sociedade. O que é incentivado em certas sociedades, pode ser repudiado em outras. Os estudos sobre os homens tentam demonstrar que a multiplicidade de masculinidades pode ocorrer no mesmo contexto social. Pode chegar-se a tal Vânia Pedro

 

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conclusão ao fazer-se um exame mais aproximado, com o foco de análise mais fechado e a partir do cruzamento da variável género com classes sociais, raça, etnia e geração (Bento, 2012: 42). Na presente dissertação adoptamos a perspectiva de masculinidade proposta por Bento (2012), por parecer-nos a mais adequada para analisar os processos de masculinidade, uma vez que a nosso ver as pessoas num certo contexto não são todas movidas pelas mesmas razões. Factores como raça, etnia, classe social e geração também ajudam a perceber a masculinidade e as suas dinâmicas. Consideramos as definições de masculinidade propostas por Connell reducionistas, porque não permitem alargar a visão sobre os mais diferenciados processos sociais que ocorrem em certos contextos. Apesar de poderem existir muitos tipos de masculinidade e coexistirem, existe um tipo de masculinidade hegemónica num dado contexto sóciocultural. Masculinidade hegemónica consiste em impor uma definição específica sobre outros tipos de masculinidade (Aboim, 2008; Bento, 2012). Sobre a masculinidade hegemónica, Sofia Aboim refere o seguinte: a masculinidade, ou melhor as masculinidades constroem-se na relação que é antes de mais, de dupla dominação: a da masculinidade sobre a feminilidade e a de certo tipo de masculinidade (hegemónica) sobre os outros (Aboim, 2008: 274). Para Sofia Aboim, ocorre um hibridismo nas masculinidades, porque a masculinidade que num dado contexto histórico ocupa uma posição hegemónica, parece-se menos com um sistema dualista e mais com um bloco híbrido que incorpora elementos diversos e até contraditórios. O hibridismo constitui, afinal, uma ferramenta conceptual útli que nos leva a repensar os processos de modernização no mundo contemporâneo (idem: 275). A masculinidade hegemónica consiste em impor uma definição específica de masculinidade sobre os outros tipos. Uma definição de masculinidade permanece como o referencial de acordo com a qual outras formas de masculinidade são julgadas e avaliadas (Bento, 2012). Vânia Pedro

 

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A masculinidade hegemónica está enraizada na esfera da produção, na arena política, nas práticas desportivas, no mercado de trabalho. Nessas esferas todas, o discurso impulsionador das práticas de homens tem como fundamento a competição, a busca insáciavel pelo sucesso, pelo poder. E é neste ponto que a masculinidade deve ser provada, e, tão logo isso ocorre, é questionada, tornando necessário que seja novamente provada. Sua construção é constante, implacável e inatingível. A masculinidade hegemónica constrói a imagem de homens que detêm o poder e torna-se sinónimo de força, sucesso, capacidade, confiança, domínio e controle (idem: 88-89). 2.4. Género O conceito de género designa por um lado as características sociais e culturais prescritas para homens e mulheres (Earle e Letherby, 2003), mas por outro lado, identifica as características socialmente construídas que definem e relacionam homens a mulheres no seio de contextos específicos (Arregui, 2004). De acordo com Arregui (2004), O conceito de género apresenta as seguintes características: É relacional: porque não se refere a homens ou mulheres isoladamente, mas às relações que se constroem entre uns e outros; É hierárquico: porque as diferenças que se estabelecem entre homens e mulheres não são neutras, tendem a atribuir maior importância e valor às características e actividades associadas com o masculino e a produzir relações desiguais de poder; É dinâmico: o carácter social e cultural da diferenciação entre homens e mulheres abre a possibilidade de actuar para sua modificação. 2.5. Género e saúde O conceito de género permite compreender como é que o estatuto das pessoas na sociedade condiciona o seu acesso a certos bens e serviços, como por exemplo aos serviços de saúde. A relação entre o género e a saúde pressupõe explorar como é que os papéis de género e a divisão Vânia Pedro

 

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do trabalho podem influenciar na habilidade de homens e mulheres participarem nas actividades que promovem sua saúde e identificar constrangimentos de ordem cultural ou material que constituem barreira no acesso aos serviços sanitários (Loforte, 2007). 2.6. Reprodução O termo reprodução se refere à fisiologia dos processos de reprodução humana, que incluem a menstruação, o coito, a concepção, gravidez, parto, infertilidade, contracepção, PF, aborto e menopausa (Browner e Sargent, 1990). Os processos de reprodução humana são invariáveis, mas são experimentados de forma diversa, de acordo com os contextos culturais diferentes, uma vez que todas as sociedades moldam os comportamentos reprodutivos dos seus membros (idem). Os padrões culturais das sociedades incluem crenças e práticas acerca da menstruação, prescrições sobre as situações em que deve ocorrer uma gravidez, quem tem legitimidade para se reproduzir e práticas pré e pós-parto (idem). 2.7. Planeamento Familiar O conceito de PF surgiu nos anos 30 do século XX, vindo a consubstanciar com “controlo da natalidade” na época em voga. Este conceito pode ter pelo menos dois significados, nomeadamente: um controlo “individual” (controlo individual porque as pessoas a título individual podem limitar ou estipular o número de filhos que desejam ter ou não ter) e outro “nacional” (controlo nacional porque existem países como a China, em que o Estado tem uma política natalista bem clara para limitar o número de filhos por casal) (Manuel, 2007). Os objectivos do PF variam de um País para outro, em função de diversos elementos: orientação política, organização sanitária, factores sócio-culturais e estágio de desenvolvimento tecnológico (idem).

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Embora o PF ainda seja muitas vezes considerado como sinónimo de anticoncepção ou contracepção, ele ultrapassa esse domínio, sendo actualmente considerado uma forma racional e saudável de espaçar os nascimentos, e abrangendo áreas como infertilidade e a sexualidade (idem). Resumindo, Planeamento Familiar é um conjunto de acções que permitem às mulheres e aos homens escolher quando querem ter um filho, o número de filhos que querem ter e o espaçamento entre o nascimento dos seus filhos. Contribui para a saúde da mulher, das crianças e da família na globalidade (Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2001). 2.8. Os homens e o Planeamento Familiar A inclusão dos homens no PF começou a aparecer na metade dos anos 1980, com a emergência da epidemia do SIDA. As primeiras tentativas de compreensão da doença mostraram a importância de entender-se o comportamento sexual do homem (Alan Guttmacher Institute, 2003). Apesar da inclusão dos homens no PF ter iniciado nos anos 1980, a saúde dos homens em Moçambique tem merecido pouca atenção. De acordo com Macia (2011), no sul de Moçambique por exemplo, a saúde dos homens, por várias razões, tem merecido pouca atenção (por exemplo: os homens têm problemas de Saúde Sexual e Reprodutiva, incluindo a disfunção sexual). Ainda de acordo com este autor as normas prevalecentes de masculinidade no sul de Moçambique, impedem que os homens sejam proactivos quanto à sua própria saúde, incluindo procurar informação mais correcta e fidedigna sobre assuntos da mesma. Os cuidados de saúde dos homens e os significados atribuídos aos papéis masculinos transcendem o HIV e SIDA (Alan Guttmacher Institute, 2003: 7). Partindo deste pressuposto, nota-se que a saúde dos homens não se refere apenas ao HIV e SIDA, mas também à Saúde Sexual e Reprodutiva.

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A pouca atenção que tem sido dada à SSR dos homens deriva de dois factores: tradicionalmente, as mulheres têm sido vistas como actores primários na reprodução e na contracepção. O foco dos programas de PF nas mulheres, se justifica pelo facto de serem as mulheres que ficam grávidas e para elas são desenhados os métodos contraceptivos modernos (Maharaj, 2001). Também tem sido argumentado que desde sempre, as mulheres é que assumem os encargos da reprodução, daí que sejam altamente motivadas para cuidar da sua SSR. Os homens têm sido vistos como não estando envolvidos na questão da fertilidade para além de contribuírem com o esperma (idem). Este facto é corroborado por Scott (2010: 90) quando refere que no Brasil, as escolhas reprodutivas e as informações sobre a saúde sexual são dirigidas e discutidas somente com as mulheres no âmbito doméstico e sanitário. Sob a orientação médica, elas conhecem, usam a pílula e resolvem fazer, ou não fazer, laqueação. Os baixos índices de uso de métodos de contracepção

que

envolvem

iniciativas

masculinas

(preservativos,

vasectomia,

coito

interrompido) decorrem desse quadro geral. Quando o envolvimento do homem na reprodução é mencionado, tem sido percebido como obstáculo ao uso de contraceptivos pela mulher. Assim, muitos recursos têm sido canalizados para as necessidades não atendidas das mulheres, conduzindo à exclusão dos homens (Maharaj, 2011). O segundo factor é intrínseco à socialização do homem nalguns contextos. Por exemplo, no sul de Moçambique, o homem é socializado para se ver como uma pessoa forte e autónoma, cuja sexualidade deve ser exercida como prova de masculinidade (dentro e/ou fora do próprio domicílio). A criação dos filhos e o cuidar dos outros são vistos como actividades femininas. Assim, ir ao médico, que resolve "problemas de saúde," é admissão de fraqueza (Macia, 2011). Os homens estão envolvidos no processo de tomada de decisão e em sociedades caracterizadas pela desigualdade de género, podem exercer uma influência considerável sobre a sexualidade das suas parceiras (Touré, 1996). Vânia Pedro

 

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Geralmente, em contextos sócio-culturais de ideologia patrilinear os homens dominam o processo de tomada de decisão sobre o tamanho da família, quando utilizar os métodos contraceptivos, o tipo de contraceptivos e uso de métodos tradicionais (Adewuyi & Ogunjuyigbe, s/d; Onyango et al, 2010).

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3. Métodos Neste capítulo são apresentados todos os procedimentos metodológicos utilizados para a realização deste estudo e constituem secções deste capítulo as seguintes: (1) itinerário da pesquisa e acesso aos informantes; (2) tipo de estudo, (3) instrumentos de recolha de dados, (4) selecção da amostra, (5) gestão e análise de dados; (6) os critérios de inclusão e exclusão; (7) as considerações éticas. 3.1.

Itinerário da pesquisa e acesso aos informantes

3.1.1. Macarretane Trabalhar questões íntimas e sensíveis como o Planeamento Familiar não é fácil. Aliás, nenhum objecto de pesquisa é de fácil abordagem! Fizemos uma visita exploratória a Chòkwé, com o intuito de nos apresentarmos às autoridades de saúde, três semanas antes do trabalho de campo para que pudéssemos ter uma ideia do local onde iríamos trabalhar e do panorama do Planeamento Familiar no Distrito. O Director Distrital de Saúde nos recebeu e considerou a pesquisa relevante. Contudo, advertiunos para o facto de as pessoas nas comunidades não se importarem com o PF, apesar dos esforços do seu sector em prover este serviço. O acesso aos informantes foi relativamente fácil. Após nos apresentarmos ao Administrador do Distrito, nos foi recomendado que contactássemos a chefe do Posto Administrativo, que por seu turno convocou o chefe da aldeia e o incumbiu a tarefa de nos apresentar aos moradores. O chefe da aldeia entrou connosco numa das casas para nos apresentar e, posteriormente, nos apresentou à chefe do bloco1. Igualmente, a incumbiu a tarefa de apresentar-nos aos moradores do seu bloco.·. A chefe do bloco nos acompanhou, nos apresentou a algumas pessoas e explicou o motivo da nossa ida a Macarretane. As pessoas assentiram em participar do estudo e, nalguns casos, eram “ordenadas” a colaborar connosco pelas sogras, pelos parceiros ou por alguém que exercesse alguma influência ou autoridade sobre as mesmas.                                                                                                                         1

 Chefe de bloco é o equivalente a chefe de dez casas.  

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O trabalho de campo em Macarretane durou um mês (Outubro a Novembro de 2012), em que os pesquisadores viveram na aldeia em que estavam a fazer a pesquisa. Optamos por permanecer um mês na aldeia por dois motivos: primeiro devido à opção metodológica que fizemos (abordagem etnográfico-fenomenológica) e, segundo, para racionalizar os recursos alocados à pesquisa. 3.1.2. Mafalala Após termos retornado de Macarretane, achamos melhor não realizar de imediato o trabalho de campo em Mafalala para podermos analisar o material recolhido, por forma a ter em conta alguns aspectos metodológicos e algumas questões que emergiram no estudo em Macarretane. Antes de realizarmos o trabalho de campo em Mafalala, nos dirigimos ao círculo do bairro a fim de nos apresentarmos e explicarmos o nosso estudo. As recepcionistas nos informaram que devíamos deixar os documentos que atestavam a nossa legitimidade para realizar o estudo e, que elas, encaminhariam ao secretário do bairro. Após o secretário do bairro ter tomado conhecimento da nossa pretensão de realizar o estudo em Mafalala, fomos informados que devíamos nos dirigir ao círculo do bairro, porque o secretário apesar de ter lido os documentos, precisava de uma explicação verbal sobre a pesquisa. Explicamos ao secretário do bairro o propósito do nosso estudo e ele nos convidou a tomarmos parte de uma reunião com os chefes de quarteirão. Depois de discutirem a agenda do encontro, o secretário do bairro nos passou a palavra e pediu que nos apresentássemos. Nos apresentamos e os chefes de quarteirão afirmaram que estavam abertos a colaborar connosco e que as portas estavam abertas para que levássemos a cabo o estudo. O trabalho de campo em Mafalala durou três semanas (penúltima semana de Janeiro à segunda semana de Fevereiro). Diferentemente de Macarretane onde vivemos por um mês, trabalhar num contexto urbano tem as suas especificidades. Por vivermos na cidade de Maputo e por não dispormos de muitos recursos para a realização do estudo íamos ao bairro da Mafalala de manhã e retornávamos ao anoitecer.

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No meio urbano as pessoas muitas das vezes trabalham fora de casa e o seu tempo é bastante cronometrado, o que gera a ideia de que participar de um estudo é perder tempo, porque não se ganha nenhum dinheiro, ou qualquer outra coisa material. Quando abordamos alguns dos potenciais informantes sobre a possibilidade de entrevistá-los, uma das pessoas disse as outras: “o que ela está a fazer é trabalho da escola. Lhe mandaram vir aqui fazer. Se nós não participarmos ela pode chumbar. Já vieram muitos aqui na Mafalala para fazer este tipo de trabalho e ganham dinheiro às nossas custas.” Para colmatar a falta de tempo ou indisponibilidade por parte dos potenciais participantes, marcamos entrevistas em horários e locais convenientes para os mesmos. 3.2.

Tipo de estudo

O estudo foi realizado utilizando a metodologia qualitativa com recurso aos métodos etnográfico e fenomenológico. A opção por um estudo qualitativo tem a ver com o facto de a metodologia qualitativa ser apropriada para explorar factores intangíveis tais como: normas sociais, estatuto sócio-económico, papéis de género, etnicidade e religião (Mack, 2005: 1). Trabalhar questões referentes ao PF significa fazer uma incursão no campo da subjectividade, da sexualidade e do relacionamento entre homens e mulheres, e envolve significados e valores construídos socialmente, mas que nem sempre são verbalizados pelos usuários e pelos profissionais de saúde (Araújo, 2004: 31). A fenomenologia é útil quando se pretende estudar percepções, atitudes, crenças, sentimentos e emoções (Denscombe, 2007). Neste trabalho utilizamos a fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty (2002). A fenomenologia deste autor é existencialista, porque preocupa-se com a existência do indivíduo num mundo concreto. Propõe um retorno aos factos em busca de uma parte de um mundo vivido e experienciado. A fenomenologia de Merleau-Ponty tem como foco o real e como é que o indivíduo percepciona e posiciona-se face ao mundo e a realidade existentes. Este autor defende que apesar de existir

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um mundo que o indivíduo encontra, ele tem a prerrogativa de ser o sujeito da situação, embora não seja totalmente livre para fazê-lo. No que concerne ao comportamento, a fenomenologia da percepção olha para as condições do mundo existente não como determinantes da conduta do indivíduo apesar de o influenciarem, mas advoga que o indivíduo pode fazer as suas escolhas. Relacionando a fenomenologia da percepção com o carácter dinâmico das representações sociais e da cultura nota-se que nem sempre o indivíduo recebe o mundo pré-dado de forma passiva e, tem a possibilidade de inventar e reinventar o seu quotidiano. No contexto do presente estudo, a fenomenologia permitiu aceder as crenças, receios, sentimentos e atitudes dos homens em torno do PF, através dos seus próprios relatos. O conhecimento sobre as percepções e experiências dos homens sobre o PF foi alcançado a partir do relato dos próprios sujeitos da pesquisa sobre as suas práticas e das suas parceiras. O método permitiu perceber qual é o sentido que funda o comportamento do homem em relação ao PF para o controlo de número de filhos desejados, visando garantir condições de saúde e bemestar individual, das mulheres e dos próprios filhos. O método etnográfico é utilizado em pesquisas em que o problema implica a descrição de valores, crenças e as práticas do grupo cultural, descrevendo-o, ou descrevendo certo fenómeno associado ao grupo em estudo (Bocchi et al, 2008). Inicialmente a etnografia era de uso exclusivo da Antropologia, mas com o passar do tempo outras áreas começaram a utilizar o método, de entre as quais a enfermagem, mas também a Saúde Pública. No tocante à etnografia, Evans-Pritchard (1972) defende que o antropólogo deveria viver no campo pelo tempo médio de dois anos, aprender a língua do grupo, assumir o estilo de vida local como seu e sentir-se como membro daquela cultura. Ainda segundo este autor a pesquisa de campo estaria finalizada quando o pesquisador já pudesse desvendar o significado de alguns termos locais. Para lograr este intento, o pesquisador deveria possuir uma forte intuição, daí que Vânia Pedro

 

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Freedman (1978) advogue que o trabalho de campo é uma arte, pois ensina-se até um certo ponto. Actualmente, é difícil seguir as directrizes de pesquisa de campo apontadas por Evans-Pritchard, porque tem se tornado difícil permanecer no terreno de trabalho por muito tempo, devido a questões de ordem financeira e aos períodos que têm sido estipulados para a realização das pesquisas. Segundo Barroso (2008), o estudo da cultura constitui um elemento humano importante, uma vez que influencia no comportamento humano. Ainda de acordo com esta autora, a etnografia surge como caminho para desvendar culturas, conhecer o outro e a partir deste conhecimento reelaborar e direccionar culturalmente as acções ligadas aos cuidados de saúde, objectivando formas mais eficientes de desenvolver o cuidado aos pacientes e utentes de alguns serviços de saúde. A combinação do método etnográfico e do fenomenológico permitiu cruzar informações sob o ponto de vista individual e sob o ponto de vista do grupo em torno do PF. Do ponto de vista individual, porque a fenomenologia privilegia a experiência de vida, os comportamentos humanos e os significados que cada indivíduo atribui as suas práticas. Do ponto de vista do grupo, porque a etnografia se ocupa da descrição de valores, crenças e as práticas de certo grupo cultural, descrevendo um fenómeno associado a esse grupo. O método fenomenológico permitiu captar as representações sociais e a experiência de cada indivíduo entrevistado sobre o PF, e o método etnográfico permitiu ver como é que as pessoas do mesmo grupo cultural e de grupos diferentes (Macarretane e Mafalala) pensam e agem relativamente ao PF. 3.3.

Instrumentos de recolha de dados

A recolha de dados no campo foi realizada mediante a triangulação de algumas técnicas, nomeadamente: revisão da literatura, entrevistas semi-estruturadas, Grupos Focais, conversas informais e a observação aliada ao diário de campo. Optamos pela triangulação destas técnicas

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de pesquisa, porque cada uma tem as suas especificidades e propósitos, pelo que no seu uso conjunto se complementam. Apesar de termos optado pela triangulação das técnicas de pesquisa acima mencionadas, o instrumento central de colecta de dados foi a entrevista semi-estruturada, porque na entrevista semi-estruturada, estão frente a frente apenas o pesquisador e o entrevistado, o que possibilita maior abertura do entrevistado para expressar seus sentimentos mais profundos, crenças, os significados atribuídos e motivações, diferentemente dos Grupos Focais em que há maior probabilidade de as respostas dos participantes serem influenciadas umas pelas outras. 3.3.1. Revisão da literatura A revisão da literatura incidiu sobre aspectos etnográficos e biomédicos. Mercê da exiguidade de estudos em Moçambique que documentam a forma como os homens percepcionam as questões de PF, recorremos à estudos que documentam representações sociais e experiências de homens sobre a SSR e PF em outros contextos de África e em alguns contextos lusófonos, como o Brasil e Portugal. 3.3.2. Entrevistas semi-estruturadas As entrevistas semi-estruturadas foram orientadas por um guião de tópicos previamente elaborado (ver anexos 1 e 2). Durante a realização das entrevistas foram introduzidas outras questões de acordo com o desenrolar do processo para maior aprofundamento e esclarecimento. No contexto do estudo sobre as representações sociais e experiências dos homens sobre o PF em Macarretane e em Mafalala, as entrevistas semi-estruturadas, permitiram captar as percepções e significados que os homens atribuem ao PF. Foram realizadas vinte e quatro (24) entrevistas semi-estruturadas, sendo doze (12) com homens (cinco em Mafalala e sete em Macarretane) e doze (12) com mulheres (6 na Mafalala e 6 em Macarretane). Apesar de o estudo ter como grupo primário homens com parceiras em idade reprodutiva, incluímos mulheres como informantes, porque por um lado o conceito de género é

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relacional e, homens e mulheres são responsáveis pelo PF. Por outro lado, os programas de PF no nosso país e não só, são focalizados nas mulheres. Antes da realização das entrevistas foi explicado aos participantes quais eram os objectivos do estudo, solicitado a sua colaboração, e negociadas as condições para o seu envolvimento tomando em conta os vários aspectos éticos, de entre os quais a gravação das entrevistas. As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas com o prévio consentimento dos participantes, para auxiliar aos investigadores a registar maior informação possível, sem perder a atenção a outros aspectos durante a condução das entrevistas. As entrevistas com mulheres foram conduzidas pela pesquisadora principal, pela afinidade de género, e as entrevistas com homens foram conduzidas pelo assistente de pesquisa. Esta atenção permitiu criar maior empatia e abertura durante as conversas e partilha das percepções e experiências. As entrevistas duraram em média trinta minutos. 3.3.3. Grupos Focais À semelhança das entrevistas semi-estruturadas, os grupos focais obedeceram a um guião previamente elaborado (ver anexos 3 e 4). A mais-valia dos Grupos Focais relativamente às entrevistas semi-estruturadas e outras técnicas utilizadas, foi de permitir explorar de que forma as pessoas interagem na discussão de certos tópicos e a dimensão de concórdia em opiniões e atitudes, uma vez que através desta técnica se pode colher diversas ideias, opiniões, crenças, valores, normas e experiências de vida. As discussões em Grupos Focais permitiram igualmente captar a opinião de um grupo nos dois locais de realização do estudo sobre o PF, bem como as atitudes, as expressões verbais e as diferenças existentes entre os participantes do estudo, no concernente ao PF. Foram realizados seis (6) Grupos Focais, sendo quatro (4) com homens (2 na Mafalala e 2 em Macarretane) e dois (2) com mulheres (1 na Mafalala e 1 em Macarretane). Nos dois (2) Grupos Focais com homens em Macarretane participaram seis homens em cada. Sete (7) mulheres participaram no Grupo Focal em Macarretane. Seis (6) homens participaram no primeiro Grupo

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Focal em Mafalala e seis (6) homens participaram do segundo Grupo Focal em Mafalala. No Grupo Focal com mulheres em Mafalala participaram (6) mulheres. Os participantes dos Grupos Focais foram diferentes dos das entrevistas semi-estruturadas, por forma a captar outras percepções, sentimentos, crenças, significados e motivações. Os Grupos Focais eram homogéneos em termos de ocupação profissional e sexo. Realizamos Grupos Focais em separado com homens e mulheres, porque é mais fácil fazer com que os participantes expressem as suas representações sociais e experiências, quando são da mesma geração, actividade profissional e género. Antes da realização dos Grupos Focais foi explicado aos participantes quais eram os objectivos do estudo, solicitado a sua colaboração, e negociadas as condições para o seu envolvimento tomando em contas os vários aspectos éticos, de entre os quais a gravação das entrevistas. À semelhança das entrevistas, os Grupos Focais foram gravados com o prévio consentimento dos participantes, para auxiliar aos investigadores a registar maior informação possível, sem perder a atenção a outros aspectos durante a condução dos mesmos. Igualmente, à semelhança das entrevistas, os Grupos Focais com mulheres foram conduzidos pela pesquisadora principal, pela afinidade de género, e os Grupos Focais com homens foram conduzidos pelo assistente de pesquisa. Esta atenção permitiu criar maior empatia e abertura durante as conversas e partilha das percepções e experiências. Os Grupos Focais duraram cerca de uma hora. 3.3.4. Conversas informais Foram igualmente realizadas conversas informais com sete (8) pessoas influentes em Macarretane e em Mafalala, sendo (4 homens e 4 mulheres). O objectivo das conversas informais era colher das autoridades locais a sua percepção sobre o envolvimento do homem em matéria de SSR, sobretudo de PF, bem como aspectos sócio-culturais dos locais em estudo.

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3.3.5. Observação A observação permitiu captar os comportamentos dos sujeitos da pesquisa e o modo como eles interagem com os demais na comunidade, no que toca à organização social, relações de poder, entre outras componentes. Para tal registar os aspectos observados, utilizamos o diário de campo. O diário de campo foi útil, porque é um instrumento onde se regista uma imagem da realidade, desde aspectos do local, pessoas, conversas e acções observadas. No diário de campo também registamos as nossas experiências, reflexões, comentários e análises sobre o observado e o vivido. 3.4. Selecção da amostra Os estudos qualitativos normalmente se servem da amostragem não-probabilística. Sendo assim, o nosso estudo utilizou uma combinação de dois tipos de amostragem não-probabilística, nomeadamente: a amostragem por conveniência e a snowball (bola de neve), tendo como horizonte a saturação da amostra2. A amostragem por conveniência tem como objectivo obter uma amostra de elementos convenientes e deixa-se a cargo do pesquisador a selecção das unidades amostrais. Este tipo de amostragem tem a vantagem de ser menos onerosa e maximizar o tempo, porém, tem como desvantagens o facto de as amostras não serem representativas da população, pelo que os resultados do estudo apenas são válidos para a amostra construída (Denscombe, 2007). Servindo-nos da técnica de amostragem por conveniência, recrutamos alguns participantes nas suas próprias residências e outros na rua, desde que preenchessem os critérios de inclusão estabelecidos para este estudo (ver anexo 5). A técnica de bola de neve é construída a partir da referência que os primeiros participantes de um estudo fazem ao pesquisador, sobre os participantes seguintes. A vantagem desta técnica é possibilitar que se atinja rapidamente um número considerável de participantes de um estudo                                                                                                                         2

A saturação da amostra consiste na suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passam a apresentar na avaliação do pesquisador uma certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na colecta de dados (Fontanella et al, 2008). Vânia Pedro

 

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num curto espaço de tempo (Denscombe, 2007). A técnica de bola de neve apresenta algumas limitações, porque os primeiros informantes recrutados para o estudo tendem a indicar pessoas próximas a si e com quem convivem, podendo levar rapidamente à saturação da amostra. Depois de termos recrutado os primeiros participantes do estudo por conveniência, pedimos a estes que nos indicassem pessoas que preenchessem os critérios de inclusão, ora estabelecidos. A amostragem por conveniência foi utilizada concretamente nos dois Grupos Focais com homens e no Grupo Focal com mulheres, em Macarretane. O recrutamento dos homens para as entrevistas semi-estruturadas em Macarretane foi mediante a amostragem por conveniência. Relativamente às entrevistas semi-estruturadas com mulheres em Macarretane, quatro das seis participantes foram recrutadas por conveniência e, duas, foram sugeridas aos investigadores por duas das primeiras participantes, obedecendo aos critérios de inclusão, ora estabelecidos. Nas entrevistas semi-estruturadas com as mulheres e homens em Mafalala, utilizou-se a amostragem por conveniência. No Grupo Focal com mulheres em Mafalala utilizou-se a amostragem por conveniência. Nos dois Grupos Focais com homens em Mafalala utilizamos a amostragem bola de neve, porque dois dos primeiros participantes das entrevistas semiestruturadas, indicaram participantes para os Grupos Focais, seguindo os critérios de inclusão indicados pelos investigadores (ver anexo 5). De acordo com as técnicas de amostragem utilizadas, foi possível atingir-se a saturação teórica com setenta (70) participantes, sendo quarenta e um (41) homens e vinte e nove (29) mulheres, dos quais sessenta e dois (62) participaram das entrevistas semi-estruturadas e Grupos Focais e, oito (8) das conversas informais. 3.5.

Gestão e análise de dados

A gestão e análise de dados foram feitas com recurso à análise de conteúdo. A análise de conteúdo ocorreu em três etapas como estabelece Bardin (2006) citado por Mozzato e Grzybovski (2011), nomeadamente: a) a pré-análise; b) A exploração do material e c) tratamento dos resultados, que consiste na inferência e interpretação. Vânia Pedro

 

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Na fase de pré-análise escolhemos o material a ser trabalhado, transcrevemos as entrevistas e os grupos focais, as escutamos e as codificamos para melhor as identificarmos. Na fase de exploração do material estabelecemos categorias de significância, baseadas nos objectivos do estudo. Nesta fase também escutamos várias vezes os materiais, procurando aprofundar as mensagens patentes nas gravações. O tratamento de dados foi feito depois de termos escutado as gravações e termos codificado as entrevistas e os grupos focais. Foram destacadas as informações a serem analisadas e foi feita uma análise crítica dos achados. A análise de conteúdo permitiu desvendar e entender a forma como os sujeitos da pesquisa percebem, constroem, interpretam e agem relativamente ao PF através dos seus discursos. 3.6.

Critérios de inclusão e de exclusão

Foram incluídos no estudo homens que têm parceiras em idade reprodutiva (15-49 anos) e mulheres em idade reprodutiva. Foram excluídos do estudo as mulheres que não se encontram em idade reprodutiva e os homens que não têm parceiras em idade reprodutiva. Em casos em que os participantes do estudo fossem menores de 18 anos, pedimos consentimento de uma pessoa adulta, que tem responsabilidade sob a pessoa menor. 3.7.

Considerações éticas

Para a realização deste estudo foram seguidas as normas e procedimentos bioéticos de protecção ao indivíduo, mediante a submissão e aprovação do Comité Nacional de Bioética em Saúde (CNBS) a 16 de Setembro de 2011 com o número de registo 274/CNBS/11 (ver anexo 6). Para que os participantes do estudo estivessem claros sobre o que se pretendia, foi elaborada uma folha de informação ao participante (ver anexo 5). Nesta folha se explicavam os objectivos do estudo, a sua metodologia, a garantia do anonimato e confidencialidade da informação recolhida, para além da possibilidade dos participantes terem o direito de se retirarem do estudo, assim que Vânia Pedro

 

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o desejassem. Se o participante após perceber a informação fornecida aceitasse participar no estudo lhe era solicitado que assinasse o termo consentimento informado. Aos participantes que não sabem escrever pedimos que dessem o seu consentimento informado através do uso do carimbo para a impressão digital. Com vista a garantir equilíbrio de género no decorrer da pesquisa, formamos um assistente de pesquisa (homem) com a finalidade de salvaguardar as questões éticas e garantir a confiança e a abertura relativa aos aspectos sensíveis de género. De modo a garantir a confidencialidade e o anonimato dos participantes foram atribuídos a estes nomes fictícios. As gravações das entrevistas e as suas transcrições foram de acesso e uso exclusivo dos dois pesquisadores deste estudo. As línguas de diálogo com os participantes do estudo, foram o Português e o Xichangana, para o caso daqueles que não sabiam falar Português ou que não se expressassem bem na língua Portuguesa. 4. Apresentação e discussão de resultados Considerando os objectivos definidos e a metodologia adoptada para este estudo, os resultados são apresentados em cinco secções: (1) os locais do estudo; (2) o perfil dos participantes do estudo; (3) O conhecimento, uso dos serviços e experiências sobre o Planeamento Familiar; (4) papel dos homens no Planeamento Familiar; (5) formas de diálogo e articulação entre os casais sobre o PF. 4.1.

Locais de estudo

O estudo foi realizado em dois locais já mencionados ao longo deste trabalho, nomeadamente: a localidade de Macarretane, no distrito de Chòkwé e no bairro da Mafalala, na cidade de Maputo. A escolha desses dois locais para a realização do estudo tem a ver com a necessidade de confrontar dados de um contexto urbano e de um contexto rural, uma vez que a revisão da literatura mostrou que existem diferenças no que toca ao conhecimento e uso de contraceptivos entre a zona rural e a zona urbana. Igualmente, nos interessava captar as diversas normas de Vânia Pedro

 

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género, masculinidade, percepções e experiências dos homens nesses dois contextos, uma vez que factores como a socialização e o nível de escolaridade exercem alguma influência nos comportamentos e atitudes dos indivíduos, fazendo com que nem sempre por se estar inserido no mesmo contexto se partilhe as mesmas percepções e experiências. Para o caso específico de Gaza, O IDS de 2011 mostra que é a província com a maior taxa de necessidade insatisfeita em matéria de contracepção, na ordem de 36%. 4.1.1. Macarretane -Chòkwé O distrito de Chòkwé localiza-se a oeste da região do sul de Moçambique, concretamente a sudoeste da província de Gaza entre as coordenadas geográficas: 24.05’ e 24.48’ latitude sul; 32.33’ e 33.35’ longitude este (Plano Estratégico de Desenvolvimento do Chòkwé, 2010). O distrito conta com quatro Postos Administrativos e oito localidades, sendo o posto sede na cidade e a norte deste situa-se o Posto Administrativo de Macarretane com as localidades de Macarretane, Machinho e Matuba; a sudeste encontra-se o Posto Administrativo de Lionde, tendo como localidades Lionde sede, Conhane e Malace; e a sul o Posto Administrativo de Xilembene com as localidades de Xilembene sede e Chiduachine (idem). O distrito tem 182. 967 Habitantes que compreendem a 80.376 homens e 102.591 mulheres conta com 37.753 agregados familiares e uma densidade populacional aproximada de 72 hab/km2 (idem). O principal grupo etnolinguístico do distrito é o Changana. A linhagem das famílias de Chòkwé é patrilinear, em que a tomada de decisão é feita pelos homens. O chefe da família é chamado “mulumuzana” e a autoridade comunitária é conhecida por “hosi ya muganga”. Este último desempenha um papel importante na orientação da vida das comunidades. Outros actores importantes são os “Nyangas”, curandeiros ou adivinhos (idem). As religiões professadas no distrito são: católica, metodista, anglicana, islâmica, presbiteriana e outras seitas protestantes (idem).

Vânia Pedro

 

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As mulheres são responsáveis pela agricultura e actividades domésticas, ao passo que os homens (especialmente os jovens) são responsáveis pela pastagem. Além desta actividade, um número considerável de homens emigram para a África do Sul a procura de emprego nas minas, farmas, serviços de construção, entre outros (idem). De acordo com um dos técnicos da Administração do distrito de Chòkwé, as características sócio-demográficas de Macarretane não são diferentes das do distrito, no geral. 4.1.1.1.

Macarretane: o contexto etnográfico

Macarretane à semelhança de outras regiões rurais de Moçambique tem como base económica a agricultura e a pastorícia. Porém, a actividade comercial já se torna forte, porque é possível ver mini-mercearias que colocam à disposição dos utentes, produtos (vinhos, água mineral, arroz, bolachas, máquinas de barbear, entre outros) que também podem ser encontrados nas cidades. As mulheres vão buscar água, vão a machamba, pilam milho, moem, preparam as refeições, cuidam da casa e dos maridos. Por seu turno, os homens que não emigraram para a África do Sul, como é normal nesta região, vão a machamba, vendem combustível avulso, crédito, entre outros produtos. Macarretane é um local em que as tradições ainda se fazem sentir bastante. É normal ver famílias alargadas, em que sogras, noras, filhos, netos e outra categoria de parentes convivem e a organização social do trabalho está muito bem definida, ainda que por normas consuetudinárias. A prática do lobolo ainda é valorizada entre as pessoas e a existência de filhos também. A inexistência de filhos gera conflitos entre o casal e não só, porque se assume que uma mulher lobolada tem que necessariamente gerar filhos. Relativamente às relações de género, nota-se que o poder decisório reside nas mãos dos homens e que as mulheres são submissas aos mesmos. Mesmo para participarem do nosso estudo, a maioria das mulheres teve que pedir autorização do parceiro. Houve participantes que tiveram

Vânia Pedro

 

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anuência da sogra para participarem do estudo, porque os seus parceiros se encontravam na África do Sul. As mulheres geralmente encontram-se numa fontenária de nome GEOMOC que funciona até as zero horas, devido à escassez e procura incessante de água. Apesar de praticamente todas as pessoas se conhecerem em Macarretane, não é muito frequente ver mulheres em casa das outras a conversar. Os homens por seu turno têm mais locais de socialização do que as mulheres. Para além destes locais de trabalho, os homens em Macarretane se encontram em outros locais tais como: mercados, barracas e barbearias.

Foto 1: Posto administrativo de Macarretane. Foto da autora. Vânia Pedro

 

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Foto 2: uma das aldeias, onde decorreu o estudo em Macarretane. Foto de Fernando Tivane. 4.1.2. Mafalala O bairro da Mafalala localiza-se no distrito Municipal Kamaxakeni (ex-distrito municipal 3). O bairro da Mafalala é limitado a norte pelo mercado Adelina, a sul pela avenida Marien Ngouabi, a este pela avenida de Angola e a oeste pela avenida Acordos de Lusaka. O bairro subdivide-se em 57 quarteirões e é composto por três células: A, B e C. Mafalala é um espaço urbano caracterizado pela diversidade dos grupos étnicos que lá habitam. Os residentes do bairro falam mais de quatro línguas vernaculares: Shangana, Rhonga, Makwa e Xitswa. Vânia Pedro

 

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A população total do bairro é de 223.936 habitantes, sendo 10.204 homens e 10.774 mulheres e existem no bairro da Mafalala cerca de 4266 agregados familiares (Conselho Municipal da Cidade de Maputo, 2010). Alguns residentes da Mafalala têm acesso ao emprego formal e outros não. A religião mais professada na Mafalala é a muçulmana, fruto do legado histórico deste bairro em acolher pessoas maioritariamente de origem Macua. Embora os residentes da Mafalala vivam em células separadas, encontram-se em diferentes lugares como igrejas, mercados, mesquitas e ruas. A parte sudoeste do bairro possui algumas infra-estruturas comerciais e escolares. O acesso ao centro da cidade é feito de forma fácil a partir do bairro da Mafalala, incluindo para a baixa da cidade, zonas comerciais e industriais. O bairro possui água canalizada, electricidade e rede de telefonia móvel e fixa, embora nem todos possam aceder a esses serviços por motivos financeiros (Paulo, 2009). As condições ambientais constituem uma das principais inquietações dos residentes. No período chuvoso as latrinas e os poços ficam alagados e colocam as pessoas numa situação de vulnerabilidade, no que toca a contracção de doenças como a malária e a cólera (idem). A sua localização junto a área mais empobrecida do centro da cidade torna este bairro menos atractivo para os investidores. Este factor pode justificar a predominância das intervenções de qualificação urbana neste bairro. A recente intervenção foi da iniciativa do Município da cidade de Maputo e incidiu sobre a melhoria das infra-estruturas: construção de fontanários, pavimentação das ruas principais, abertura de valas e valetas de drenagem (Jorge e Melo, 2011) 4.1.2.1. Mafalala: o contexto etnográfico O bairro da Mafalala apresenta traços urbanos e rurais em simultâneo. Existem no bairro casas construídas com material convencional e outras que remontam os tempos antigos, construídas com base em madeira e zinco. Vânia Pedro

 

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Algumas pessoas na Mafalala trabalham fora de casa, outras ainda são desempregadas e outras ainda possuem negócio próprio na porta de casa. Tradicionalmente, existem práticas e religiões diversas em Mafalala, fruto do seu passado em acolher pessoas de diversos cantos do país, principalmente da região norte. Pessoas de linhagem matrilinear e patrilinear convivem no mesmo espaço e os seus hábitos e costumes se interpenetram, daí que seja difícil por vezes distinguir pessoas de uma linhagem ou de outra. Homens e mulheres trabalham em Mafalala e nalguns casos, há mulheres que sustentam a família, porque os parceiros estão desempregados, ou se trata de famílias monoparentais3.

                                                                                                                        3

Famílias monoparentais são aquelas em que apenas está presente um dos progenitores.

Vânia Pedro

 

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Foto 3: foto que ilustra um dos quarteirões do bairro da Mafalala. Foto extraída do portal: http://hoteluniverso.wordpress.com/2011/02/26/wood-and-zinc/ .Acessado a 5 de Setembro de 2012.

Foto 4: algumas das habitações do bairro da Mafalala, foto extraída do portal: http://www.flickr.com/photos/eggpost/4510644250/sizes/z/in/photostream/ Acessado a 5 de Setembro de 2012.

Vânia Pedro

 

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4.2.

Perfil dos participantes do estudo

Quando comparados às mulheres, os homens neste estudo apresentam maior nível de escolaridade, situado entre a 6ª a 10ª classe. Quanto à ocupação profissional existe uma grande diversidade de ocupações, sendo que as pessoas que têm algum tipo de micro-negócio são a maioria em número de 30 (23 homens e 7 mulheres), seguidas das pessoas desempregadas em número de 18 e todas do sexo feminino. 14 Homens têm outro tipo de ocupações profissionais em detrimento das mulheres. A maioria dos participantes tem idades compreendidas entre os 21 aos 32 anos de idade. Igualmente, a maioria dos participantes encontra-se em união de facto e tem entre 0 a 3 filhos e professa a religião católica, seguida do protestantismo (ver tabela 1). Tabela 1: características sócio-demográficas dos participantes das entrevistas semiestruturadas e dos Grupos Focais Escolarida Sexo de M H

Idade

M

H

1ª a 5ª 10 classe 6ª a 7ª 3 classe 8ª a 10ª 9 classe 11ª a 12ª 1 classe Iletrado 2

6

15-20

1

2

12

21-26

13

12

27-32

7 0

4.3.

Sexo

Estado marital

Sexo H

Nº de Sexo filhos M H

26

0a3

19

25

Católica

9

União de 21 facto Casado 0

1

4a7

6

9

Muçulmana 3

2

8

10

Namoro

4

9

8 a 11

0

1

Protestante 2

5

33-38

2

9

Separado

0

1

12 a 15 0

2

39-45

1

7

M

Religião

Sexo M

H

20

30

Ocupação Sexo profission M al Negociante 7 Desempreg 18 ado Outras 0 ocupações

H 23 0 14

Conhecimento e uso dos serviços de PF a) Conhecimento sobre o PF

Os resultados deste estudo sobre o conhecimento dos homens sobre o PF indicam que estes não são tão desfavoráveis ao PF, como seria de supor. Contudo, por não terem muita informação sobre o serviço persiste por parte de alguns homens alguma desconfiança, desacreditação e uma ideia muito enraizada de que o PF é nocivo à saúde e um assunto de domínio exclusivo das mulheres. Os participantes neste estudo apresentaram três tipos de respostas acerca do conhecimento do PF: 1) Vânia Pedro

 

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Alguns participantes definiram o PF de forma incompleta, realçando apenas uma das componentes do conceito de Planeamento Familiar; 2) Outros participantes disseram desconhecer o PF; 3) Outros participantes confundiram o PF com a prevenção de doenças. “Já ouvi dizer que tem que levar a sua esposa para hospital ir pedir. Dizem que colocam Dispositivo Intra-Uterino (DIU) e quando precisar nascer tira-se. Quando já não se quer ter mais filhos, deixa-se assim” (Maússe, 42 anos, em união de facto poligâmica com duas mulheres, Macarretane). “É um homem entrar em consenso com a sua esposa no sentido de se prevenir para que a esposa não tenha grávida” (Sérgio, 32 anos, em união de facto, Macarretane). “É muito mais para poder limitar o número de filhos, não exagerar o número de agregado familiar. Quando os dois entram em consenso a fim de ter um número limite de filhos, então vamos juntos a um centro de saúde ou instituto próprio e lá fazemos o tal Planeamento Familiar” (Inácio, 30 anos, casado, Mafalala). “ PF é se prevenir para poder criar a criança até crescer” (Fátima, 24 anos, em união de facto, Macarretane). “Relacionado com o planeamento só sei que quando vês que queres descansar de engravidar vais dizer no hospital e te dão comprimidos. Pode acontecer que quando começas a menstruar te dão comprimidos e te dizem que todos os dias tens que tomar um comprimido. Podes evitar algumas vezes picando injecção” (Lucinda, 32 anos, em união de facto, Macarretane).

Pelos relatos acima nota-se que os participantes que explicaram o que é o PF privilegiaram apenas um dos aspectos do conceito. O conceito de PF que previamente apresentamos na revisão da literatura, postula que o PF tem a ver com o espaçamento de filhos e a liberdade de escolher quando ter filhos e quantos ter. Nos relatos, os participantes enfatizaram que o PF serve apenas para um único propósito, ou para prevenir a gravidez indesejada, ou para limitar o número de filhos. Os participantes não mencionaram a importância do espaçamento entre os nascimentos dos filhos para a saúde da mulher e das próprias crianças.

Vânia Pedro

 

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No grupo dos que privilegiaram uma das componentes do conceito, nota-se que os participantes da Mafalala, apresentam um discurso mais elaborado, do que os de Macarretane. Se olharmos para o discurso de Inácio e compararmos com o de Maússe, nota-se claramente que as diferenças entre ambos podem ser encontradas em categorias como classe, raça, etnia e geração, que Bento (2012), refere que combinadas com a noção de género, permitem ter uma maior visão sobre a (s) masculinidade (s). Outros participantes afirmaram desconhecer o PF, nos seguintes termos: “Não sei nada. Ouço falar, mas são coisas que não dou muita importância por isso que não sei como se faz” (Américo, 40 anos, separado, Macarretane). “Não sei nada, porque nunca procurei saber e nunca fiz” (Alfredo, 24 anos, em união de facto, Mafalala). “Para falar a verdade nunca me inteirei muito do Planeamento Familiar, acho que foi falta mesmo de interesse, porque quem recorre ao Planeamento Familiar é uma pessoa que precisa de travar uma situação eu penso assim, talvez eu esteja errado” (Lucas, 31 anos, ainda a namorar, Mafalala). “Não entendo nada de Planeamento Familiar” (Mateus, 42 anos, em união de facto, Mafalala).

O relato de Lucas deixa implícito que atribui a responsabilidade de evitar a gravidez à mulher, mas ao mesmo tempo mostra a sua incerteza sobre o seu pronunciamento. À semelhança de Lucas o desconhecimento e o descaso que os participantes demonstram nos relatos acima relativamente ao PF e às questões contraceptivas, tem como fundamento o facto de atribuírem a responsabilidade dessas questões às mulheres, ou talvez ao facto de nunca terem sido confrontados com a necessidade de evitar uma gravidez, ou ainda pelo facto de poderem utilizar o preservativo, que para além de prevenir contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ITS’s), actua também como contraceptivo. Da mesma forma que existem homens que desconhecem o PF e a contracepção, também existem mulheres que não estar a par do assunto.

Vânia Pedro

 

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“Já ouvi falar do Planeamento Familiar, mas não sei exactamente o que é” (Joana, 15 anos, ainda a namorar, Mafalala).

O discurso de Joana corrobora com um dos achados do IDS 2011, quando refere que o primeiro grupo etário de procriação (15 anos de idade) e o último (49 anos de idade) apresnetam a taxa mais baixa de uso de contraceptivos, sendo o pico de uso atingido entre os 20-34 anos de idade. Alguns participantes confundiram o Planeamento Familiar com a prevenção de doenças: “PF é quando a mulher quer evitar ficar grávida e vai sempre ao controlo com o seu marido para evitar as doenças. Uma mulher quando está grávida tem sempre que ir ao hospital cuidar da saúde dela e do bebé como deve ser.” (Grupo Focal 2, Homens, Mafalala).

No relato acima subentende-se que os participantes confundem o PF com a prevenção de doenças, sobretudo das doenças sexualmente transmissíveis e com as consultas pré-natais. A confusão no relato acima sobre o conceito de PF e a sua função é por um lado reflexo da responsabilização da mulher nos assuntos contraceptivos, mas por outro lado é reflexo do foco dos programas de PF apenas nas mulheres. No que concerne às vantagens do PF, a maioria dos participantes referiu que este serviço apresenta apenas vantagens, porque permite suprir as necessidades na educação e sustento dos filhos. Apenas um participante disse ver desvantagens no PF. “Segundo o que ouço, o PF tem vantagens porque determinamos o tempo e o número de filhos que conseguimos controlar e nos permite ter filhos no momento em que queremos” (Alfredo, 24 anos, união de facto, Mafalala). “A vantagem está no sustento das crianças, porque hoje em dia quando tens filhos para os levares para a escola tens que ter dinheiro, para levares para o hospital tens que ter dinheiro. Quando tens muitos filhos não consegues fazer essas coisas todas. Agora já não chove como no tempo dos nossos avós e há muita fome (Grupo Focal 2, Homens, Macarretane)

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“A vantagem é de fazer poucos filhos. Quando tens muitos filhos neste tempo que estamos a vida está muito cara e é difícil pôr os miúdos a estudar todos na escola, fazer o bem daquilo que eles querem. Hoje em dia a vida está cara e é difícil controlar muitos filhos, é muito bom fazer poucos filhos para você poder aturar a eles não ter nenhum problema com os teus filhos. Os filhos pedem muito, querem escola, cadernos, querem muita coisa se você não tem essa condição, por exemplo eu que não tenho nenhuma escola não estou a receber um dinheiro que pode pôr os meus filhos a viverem bem, estou a me desarrascar, estou a jobar e tenho que fazer biscates para poder comer e cuidar a eles, estás a ver?” (Mateus, 42 anos, união de facto, Mafalala).

O único participante que afirmou ver desvantagens no PF, advoga que quando ainda se quer ter filhos, ou se pretende atingir o número de filhos considerado ideal, o PF serve de obstáculo a essa vontade. “Se a minha esposa faz planeamento enquanto eu ainda quero filhos acho que não é bom, só se tivermos combinado que já não queremos filhos” (João, 24 anos, casado, Mafalala).

A motivação por parte de João para considerar o PF desvantajoso também foi documentado no estudo de Marshall (1977) citado por Ringhein (1993), que afirma que o uso de um certo método contraceptivo é influenciado pelo desejo do indivíduo de prevenir ou evitar a gravidez e também do estágio da sua vida reprodutiva, o que significa que pessoas que ainda não tiveram filhos ou que já os tenham, mas queiram ter mais, tenderão a não fazer o PF ou a utilizar contraceptivos de curto e médio prazo. Cruzando os dados do campo com a revisão da literatura, nota-se uma diferença nos resultados relativamente ao conhecimento e uso dos serviços de PF, porque de acordo com os resultados do nosso estudo, as mulheres sabem mais do PF em termos teóricos e práticos do que os homens, resultado da centralização destes serviços nelas em detrimento dos homens. Porém, os resultados do IDS de 2011 apresentados na introdução deste trabalho mostram que os homens detêm mais

Vânia Pedro

 

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conhecimentos sobre o PF, do que as mulheres. Tal diferença, pode ter origem no facto de os homens serem mais alfabetizados que as mulheres. Procuramos perceber junto das mulheres, uma vez que elas é que frequentam as consultas se compreendiam as mensagens sobre o PF transmitidas nas Unidades Sanitárias, a sua utilidade e como fazê-lo. Elas apesar de dizerem que eram bem atendidas e explicadas, notamos algumas incoerências nas respostas que algumas delas deram quando questionadas sobre o conceito de PF e o tipo de contraceptivos que conheciam. Conhecer o conceito de PF é um bom ponto de partida para que as pessoas possam apropriar-se dos serviços de PF (Onyango et al, 2010). Por um lado, concordamos que o conhecimento adequado é pré-requisito para o uso dos serviços de PF, mas por outro lado, o pré-conhecimento sobre o PF e sobre os contraceptivos não pode ser visto como condição sine qua non para a mudança de comportamento. A obtenção de um novo conhecimento e sua consequente aplicação não é tão linear, porque as vezes os indivíduos adquirem um novo conhecimento, mas a sua estória de vida tem grande influência sobre o seu comportamento. A esse respeito Gazzinelli et al (2005: 201) referem o seguinte: “desconsidera-se que no processo educativo lida-se com estórias de vida, um conjunto de estórias de vida crenças, valores, a própria subjectividade do sujeito que requer soluções sustentadas sócio-culturalmente”. Quanto ao conhecimento de contraceptivos modernos, os métodos mais conhecidos são a pílula, a injecção (depoprovera) e o preservativo. “Injecção e comprimidos é o que nos dizem no hospital” (Rosária, 24 anos, em união de facto, Macarretane). “O PF é feito de várias formas, mas a que eu conheço é aplicar injecção ou se não quiser aplicar injecção podes tomar comprimidos. Quando acabam vais buscar outros para não engravidar.” (Grupo focal 1, homens, Macarretane).

Vânia Pedro

 

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“São várias formas, podem ter relações sexuais sem fins de reprodução porque podes usar preservativo (“u faka djanse4”). Pões o preservativo para se prevenir de muitos males, doenças. Agora para fazer o PF sei que só as mulheres aplicam injecção, não os homens. Mas é o homem que autoriza a sua esposa para o fazer” (Grupo focal 2, homens, Macarretane). “As senhoras usam injecções e podem tomar comprimidos (pílulas) para prevenir, mas quando é homem é com jeito” (Grupo focal 1, homens, Mafalala).

A pílula e a injecção (depoprovera) e o preservativo são os contraceptivos mais conhecidos tanto pelos homens assim como pelas mulheres. De um modo geral, as mulheres conhecem mais os métodos contraceptivos, cujo uso ou administração depende delas, como a pílula e a injecção. Diferentemente do nosso estudo, o IDS de 2011, refere que os contraceptivos mais conhecidos em ordem decrescente são: o preservativo masculino, a pílula e a injecção. De acordo com os resultados do nosso estudo, os homens apesar de conhecerem métodos contraceptivos de domínio feminino, têm mais domínio de métodos considerados de controlo masculino, como o preservativo e o coito interrompido (ver tabela 2). Tabela 2: contraceptivos mais referidos pelos participantes das entrevistas semiestruturadas e Grupos Focais Métodos contraceptivos referidos pelos participantes do estudo Sexo

Pílula

Injecção

DIU

Preservativo

Implant

Calendário

Vasectomia

e

Coito

Laqueação

interrompido

Masculino

37

37

5

37

0

1

1

4

0

Feminino

25

25

15

20

0

3

0

0

2

                                                                                                                        4

Faka djanse vem do Tsonga e significa por ou vestir casaco em Português (tradução nossa).

Vânia Pedro

 

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Para além dos contraceptivos modernos, foram igualmente mencionados alguns métodos “folclóricos 5”, conforme abaixo se transcreve: “Pode se tomar comprimidos, mas as outras mulheres usam métodos tradicionais como a cinza. Acordam a madrugada misturam cinza e tomam, outras usam ervas como o capim, mas não sabemos como se faz, são várias formas. Outras tomam café para não engravidar.” (Grupo focal 1, homens, Macarretane). “O sal é um grande planeamento! Misturas com água depois de te envolveres sexualmente com um homem e tomas. Ele tira toda aquela sujidade” (Sandra, 25 anos, em união de facto, Macarretane). “Dizem que se acorda de manhã e se toma sal ou canabis sativa (suruma). Quando tomas a suruma 5 vezes, ficas 5 anos sem dar filhos” (Joana, 34 anos, em união de facto, Macarretane). “Alguns dizem que quando se engole duas sementes de canabis sativa ou marijuana, fica-se dois anos sem engravidar. Se engole-se 3, leva-se três anos sem engravidar. Mas isso a gente só ouviu nunca vimos alguém a fazer” (Grupo focal 2, homens, Macarretane).

Outro método de conhecimento popular mencionado pelos participantes do estudo foi o ku mbonha6. O ku mbonha segundo os participantes consiste no seguinte: “A outra forma de PF posso não estar certo mas as senhoras depois de verem o ciclo podem usar “penso”, eu não sei vou dizer mentiras, levam os pensos, estas ouvir? Depois enterram. Dizem que a mulher fica um longo tempo sem engravidar mas basta se esquecer do local onde enterrou os pensos já não vai ter mais filhos. Só muitas vezes este método é temido pelas mulheres por causa disso porque basta se

                                                                                                                        5

Métodos folclóricos de acordo com o IDS de 1997 incluem chás, ervas e sortilégios. O termo folclore deriva da combinação de duas palavras de raíz Saxônica: folk, que é povo e lore, que é saber. Logo, folclore, significa sabedoria popular. O autor deste termo é William John Thom (Benjamin, s/d). Neste trabalho, consideramos métodos contraceptivos folclóricos aqueles que são de conhecimento de uma certa comunidade para evitar as gravidezes indesejadas, através da ingestão ou inserção de ervas no seu corpo. 6 Ku mbonha é um termo em Tsonga que significa tapar (tradução nossa). Vânia Pedro

 

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esquecer do local onde enterrou acabou já não dá mais filhos” (Grupo focal 1, homens, Macarretane). “ Eu experimentei o ku mbonha. A pessoa fica menstruada, uma pessoa adulta arranja uma lata coloca o penso, o remédio e tapa. Para mim não funcionou porque depois fiquei grávida” (Joana, 34 anos, em união de facto, Macarretane). “Já ouvi falar do ku mbonha, mas acho arriscado porque pode se perder” (Ana, 29 anos, ainda a namorar, Mafalala).

Outro método contraceptivo de sabedoria popular referido durante o estudo foi o uso das folhas do embondeiro. “Tira-se do embondeiro as suas folhas, se faz um chá e se toma. Para voltar a conceber tem que esperar dez anos” (Grupo focal, mulheres, Mafalala).

É interessante notar que durante o arrolamento das estratégias contraceptivas de saber popular, nem sempre as pessoas que as relatavam detinham certeza das mesmas, falando muita das vezes na terceira pessoa. O processo de inserção de certas substâncias nos genitais femininos para evitar a gravidez, bem como a ingestão de certas ervas foi igualmente documentado no trabalho de Bagnol e Mariano (2011), que identificaram e descreveram um conjunto de práticas vaginais e ingestão de ervas utilizadas pelas mulheres em Tete com a finalidade de garantir o prazer durante o acto sexual, induzir o aborto e para lavar e purificar os genitais. Igualmente, o processo de inserção de certas substâncias nos genitais femininos para evitar a gravidez, bem como a ingestão de certas ervas foi igualmente documentado no trabalho de Wambui et al (2009) no Quénia. Os participantes de Macarretane afirmaram que preferem os métodos contraceptivos de sabedoria popular do que os contraceptivos modernos, porque alteram o funcionamento do organismo da mulher e o seu prazer sexual, mas ignoram que a ingestão de ervas e sua inserção nos genitais pode ser prejudicial à sua Saúde Sexual e Reprodutiva.

Vânia Pedro

 

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Importa aqui salientar que o IDS de 2011 refere que a taxa de uso de contraceptivos tradicionais é insignificante, na ordem de 0.3%. Apesar de não termos quantificado o grau de uso dos contraceptivos tradicionais, notamos através do nosso estudo que tanto em Macarretane, assim como em Mafalala, estes são conhecidos e utilizados por algumas pessoas. b) Uso dos serviços e experiências de PF No tocante ao uso dos serviços de PF, foi possível identificar quatro grupos de respostas, nomeadamente: 1) Homens que referiram que as suas parceiras fazem o PF com recurso à pílula ou injecção; 2) Homens que utilizam o preservativo como contraceptivo; 3) Mulheres que referiram não fazer o PF; 4) Mulheres que fazem o PF com recurso a pílula ou injecção. Abaixo apresentamos alguns relatos de homens que referiram que as suas parceiras fazem o PF: “A minha mulher toma comprimidos, que vai buscar no hospital” (Sérgio, 36 anos, Macarretane). “Primeiramente a minha mulher picava injecção durante seis meses, ultimamente ela parou de picar injecção, porque diz que lhe faz mal. Agora toma comprimidos” (João, 42 anos, união de facto, Mafalala). “Eu para não engravidar a minha mulher lhe digo para ir buscar comprimidos e ela sabe os dias em que deve ir buscar” (Grupo Focal 2, homens, Macarretane). “A minha mulher foi ao hospital e lhe colocaram um aparelho para não conceber. Acho que dura um ano esse planeamento, não sei muito bem” (Jorge, 30 anos, casado, Mafalala).

Relatos de homens que utilizam o PF como contraceptivo: “Para não engravidar a minha namorada eu utilizo o preservativo. Nós ainda não decidimos ter filhos juntos” (Luís, 40 anos, separado, Macarretane).

No relato de Luís está claro que ele percebe o preservativo não como método de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, mas também como contraceptivo.

Vânia Pedro

 

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“Eu uso o preservativo, porque conheci a minha namorada há pouco tempo” (José, 31 anos, a namorar, Mafalala).

No último relato está patente a distinção entre namoro e relacionamento sem confiança. Igualmente neste relato, nota-se que o participante utiliza o preservativo primeiramente como meio de prevenção às doenças do que como contraceptivo, uma vez que o seu relacionamento é recente. A distinção entre namoro e relacionamento sem confiança foi documentada por alguns autores como Manuel (2004 e 2005) e Gune (2008). Segundo estes autores, nas relações com confiança e tidas como seguras, as pessoas envolvidas pensam que não há necessidade de utilizar o preservativo. Ao passo que em relações em que a confiança é ausente, tem que se utilizar o preservativo. Algumas participantes referiram não fazer o PF. Umas, porque nunca fizeram e outras, porque não vêm a necessidade de o fazer: “Eu agora não faço PF, porque o meu marido está na África do Sul” (Joana, 24 anos, união de facto, Macarretane).

O relato de Joana mostra que ela tem receio de fazer o PF sem que o marido esteja presente, porque pode ser conotada com a infidelidade, porque é suposto que ela mantenha relações sexuais apenas com ele. A atitude de Joana pode ser fruto do seu entendimento e do entendimento existente no seu contexto cultural que as relações sexuais apenas têm que ocorrer inscritas na conjugalidade, para as mulheres casadas ou em união de facto. Relativamente a fazer o PF apenas quando o parceiro está em Moçambique a enfermeira responsável pelo PF em Macarretane referiu o seguinte: “ Algumas mulheres apenas comparecem a consulta de PF, quando os maridos estão para voltar da África do Sul. São raros os casos em que fazem PF regularmente, a menos aquelas que os maridos estão cá. Quando os maridos voltam vem a correr pedir pílula, enquanto quando damos a pílula, explicamos que tem que tomar todos os dias. Elas dizem está bem, Vânia Pedro

 

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mas quando chegam à casa fazem o contrário. Tomam quando querem manter relações sexuais” (Conversa com a enfermeira de SMI, Macarretane). “Não faço PF, nunca fiz e não utilizo nenhum método. Tenho um filho de 24 anos. Desde que tive o meu filho nunca evitei e nunca fiquei grávida” (Mariamo, 44 anos, a namorar, Mafalala).

Relatos de mulheres que fazem o PF: “Eu faço Planeamento Familiar. Vou ao hospital buscar comprimidos” (Flora, 32 anos, união de facto, Macarretane). “Eu faço planeamento há dez anos. Tomo pílulas (Luísa, 28 anos, união de facto, Mafalala).

Quanto aos contraceptivos mais utilizados pelos participantes do estudo a pílula é o método mais utilizado, seguido do preservativo. A injecção aparece como terceiro contraceptivo mais utilizado. Existem participantes que referiram não utilizar nenhum contraceptivo (ver tabela 3). Tabela 3: contraceptivos utilizados pelos participantes do estudo das entrevistas semiestruturadas e dos Grupos Focais. Macarretane Contraceptivos

Homens

Mulheres

Contraceptivos

Homens

Mulheres

Total

Pílula

8

6

Pílula

3

7

24

Injecção

1

2

Injecção

2

1

6

Laqueação

0

1

Laqueação

0

0

1

Preservativo

3

0

Preservativo

12

0

21

DIU

0

0

DIU

1

0

1

"Ku mbonha"

1

0

"Ku mbonha"

0

0

1

Calendário

1

0

Calendário

0

1

2

Nenhum

1

1

Nenhum

1

3

6

Vânia Pedro

 

Mafalala

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Algumas participantes referiram já ter utilizado alguns métodos contraceptivos e os terem abandonado porque criaram alguns efeitos secundários no seu organismo: “No começo eu utilizava comprimidos aqueles de cores, mas me criaram mal-estar, depois passei a tomar os brancos. Experimentei injecção, mas não me caiu bem” (Joana, 28 anos, Macarretane). “Não tenho problemas com comprimidos brancos. Aqueles de natureza diferente, aqueles de cores manizonda7. Para mim injecção é difícil porque me faze emagrecer” (Lucinda, 32 anos, em união de facto Macarretane). “No começo fui buscar comprimidos, mas não me caíram bem. Quando tomava ficava enjoada e parecia estar grávida, enquanto não tinha nada. Se não me criassem enjoo, faziam com que quando o homem me quisesse saísse sangue. Entrei para as injecções. Apanhei injecção quase durante 5 anos e não menstruava. Então, noutro ano eu disse quero descansar por já não estar a menstruar. Fui ao hospital e disse que queria descansar, porque não sinto bem o meu organismo. Disseram-me para ir ficar e me deram uns comprimidinhos para provocar o período. (...) Fiquei e depois apanhei grávida e perdi o bebé, ainda era gravidez. Não chegou de crescer e eu ter bebé. Recomecei a picar porque vi que poderia ficar grávida novamente. Quando recomecei os pés ficaram inchados e já não me caía bem picar injecção e deixei. Fiquei dois anos sem ficar grávida, mas no terceiro ano fiquei grávida do bebé que tenho agora. Também experimentei o aparelho, mas com medo porque dizem que as vezes pode entrar no organismo e criar complicações no útero. Agora é que pedi para me fecharem o útero para não conceber, mas não sei se fizeram” (Joana, 34 anos, em união de facto, Macarretane).

                                                                                                                        7

Manizonda vem do Tsonga e significa detestar, fazer ou cair mal. Fazendo uso desta noção no contexto deste estudo, manizonda refere-se a não cair bem ou criar efeitos colaterais (tradução nossa). Vânia Pedro

 

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O relato de Joana é um exemplo de como a fenomenologia permite que o indivíduo narre a sua própria experiência relativamente a um ou vários episódios que vivenciou, ou tem vivenciado em sua vida. No caso, trata-se da fenomenologia do corpo. “Tomo pílula há dez anos. Experimentei injecção e me fez mal” (Sara, 28 anos, em união marital, Mafalala). “Uso o método do calendário. Os outros métodos me caíram mal” (Ana, 29 anos, ainda a namorar, Mafalala).

Os homens em Macarretane referiram que alguns métodos contraceptivos sobretudo a pílula e a injecção, criam alguns efeitos adversos ao organismo das mulheres, influenciando na sua capacidade reprodutiva e no prazer sexual: “Gostamos do planeamento, mas há coisas que acontecem que as vezes criam problemas as nossas mulheres. Quando elas usam injecção fazlhes mal. Usam comprimidos e injecções depois já não menstruam. As vezes engordam e a vagina delas ficam cheias de água (“xitale a mati”) e não já não são boas. Ficam cheias de água não porque se mete com muitos homens, mas por causa dos comprimidos e injecções” (Grupo Focal 1, homens, Macarretane).

O ponto de vista dos homens relativamente aos efeitos secundários ocasionados pelo uso de pílulas e injecções é corroborado pelo relato das mulheres em Macarretane. À semelhança deles, acreditam que a pílula e a injecção alteram o bom funcionamento do seu organismo e interferem no prazer sexual, daí que tenham receio de fazer o PF sem a sua anuência. Esta percepção foi recorrente em Macarretane e em nenhum momento em Mafalala. “É um pouco difícil fazer PF sem que o homem queira, porque ele pode descobrir. Há certos defeitos que ele conhece, porque pode ver que da forma como vínhamos, há outras coisas que entraram” (Lucinda, 32 anos, em união de facto, Macarretane). “Hum… não iria fazer PF sem meu marido saber, porque outros dão porrada quando fazes sem a autorização deles, ou pode discutir contigo se quiser. Em casa vivem sempre em discussão e não há paz. Assim que

Vânia Pedro

 

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eu tomei banho havia de saber porque quando ele me quiser sente água. Faz saber a água, e ele vai perguntar: porque é que tens sabor à água, se antigamente não tinhas? O que se passa? Até que eu chegaria a dizer. O que faz mais saber a água é a injecção. Os comprimidos não” (Joana, 34 anos, em união de facto, Macarretane). “Com a injecção pode descobrir também… Porque fica cheia de água… Isso de água não sei… Varia de pessoa para pessoa… A injecção se não te cair pode furar a menstruação durante todo o mês sem parar e no fim pode acabar dizendo o que está a acontecer… Se te cai bem te faz engordar…As outras emagrecem… O aparelho também cria os seus problemas… O jeito também cria problemas, porque em algum momento fura-se” (Grupo Focal, mulheres, Macarretane).

Os relatos acima mostram que os homens e mulheres em Macarretane têm fraco domínio do conceito de PF e das especificidades dos métodos contraceptivos, porque os efeitos secundários causados por esses contraceptivos não são os referidos pelos participantes, mas sim hemorragia, ausência de menstruação, aumento do peso, entre outros. Durante o trabalho de campo em Macarretane, pudemos notar a partir dos relatos dos participantes que a pílula e a injecção não são os únicos métodos contraceptivos, que são alvo de desconfiança, mas também o é o preservativo: “O preservativo não é aconselhável utilizar com a sua mulher. Deve ser utilizado com as mulheres de fora. Alguns contem doenças e podes transmitir a tua mulher. Também o preservativo encontrado nas unidade sanitárias não é preservativo aquilo, aleija, não tem lubrificantes, mas se comprares um preservativo de 60 ou 100 meticais até sabe bem usar e cheira bem” (Grupo Focal 2, homens, Macarretane).

No estudo conduzido no oeste do Quénia por Wambui et al (2009) sobre as percepções dos homens de baixa renda, estes também referiram que os contraceptivos modernos, nomeadamente a pílula e a injecção criam efeitos secundários no organismo das mulheres. No mesmo estudo foi referido que o preservativo diminui o prazer sexual, porque não há contacto entre os fluídos do homem e da mulher. Este ponto de vista é diferente do que foi achado no nosso estudo em Vânia Pedro

 

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Macarretane, em que os participantes referiram que o preservativo aleija e, por isso, não podem utilizar com as mulheres, mas sim em relações extraconjugais. Uma vez mais para além do desconhecimento relativamente à eficácia e eficiência dos contraceptivos modernos, está igualmente patente a distinção feita entre relacionamento sério, com confiança e relacionamento ocasional, de que falamos anteriormente. Nos dois Grupos Focais realizados com homens em Macarretane, os participantes relacionaram a pílula e a injecção com a infidelidade, como mostram as citações abaixo: “A mulher quando usa injecção ou comprimidos, se você marido dela vai para África do Sul os homens ficam a manter relações sexuais com ela porque ela precisa de fazer sexo sempre” (Grupo focal 2, homens, Macarretane). “O que é dor de cabeça neste assunto de PF é que sem confiança entre o casal quando a gente está em nossas casas fazendo o PF sem confiança, quando alguns dos homens as vezes vão trabalhar para África do Sul e a mulher fica a fazer das suas isso é que é preocupante. Nós apoiaríamos o PF, se as mulheres fizessem na mesma altura que os seus maridos estivessem em casa, mas as mulheres são muito espertas e aplicam injecção de 6 meses depois dormem com homens e depois o marido não descobre porque antes o marido descobria através da barriga. Mas agora não é possível” (Grupo focal 1, homens, Macarretane).

Nos relatos em que alguns participantes associam o uso da pílula e da injecção a infidelidade nota-se claramente um desconhecimento sobre os efeitos que a pílula provoca no organismo, uma vez que estes contraceptivos não estimulam a necessidade de sempre ter relações sexuais, mas podem provocar outros efeitos adversos ao organismo das mulheres, tal como ilustraram alguns relatos ao longo deste trabalho. A percepção de que o uso de contraceptivos propicia a infidelidade apenas foi verificada em Macarretane. A associação do PF à infidelidade foi também encontrada no estudo de Muiambo Vânia Pedro

 

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(2011) realizado na província de Tete. O seu estudo concluiu que existe uma percepção de que o PF promove a infidelidade feminina, daí a resistência de alguns homens em permitir que as suas parceiras se beneficiem deste serviço (Muiambo, 2011). Relativamente a influência e acção dos contraceptivos no corpo da mulher, os participantes da Mafalala, afirmaram o seguinte: “Quando a mulher esquece de tomar a pílula e mantém relações sexuais pode ficar grávida, porque basta falhar, já não há maneira” (Grupo Focal 1, homens, Mafalala).

Exploramos junto dos participantes qual é o significado para um casal o facto de ter filhos. Todos os participantes afirmaram que os filhos são importantes numa união e que a sua ausência pode criar problemas no lar, fazer com a pessoa sem filhos seja mal vista e que o parceiro poderia procurar outra ou outras mulheres para poder ser pai. A ideia de que o homem pode envolver-se com outra ou outras mulheres a fim de procriar foi mencionada em Macarretane e não em Mafalala. É importante perceber a preferência por famílias numerosas nalguns contextos. Percebendo essa preferência, igualmente se entende porque é que algumas pessoas declinam aderir aos serviços de PF. Em Macarretane quase a maioria referiu que ter filhos e sobretudo muitos, eleva o prestígio em termos sociais e económicos, conforme ilustram as citações: “As crianças devem ser geradas porque enriquecem o País. Se não nascermos a economia cai. Então, é necessário que os negros também procriem e as crianças sejam sustentadas tal qual nos outros países onde há apoio para órfãos.” (Grupo focal 2,homens, Macarretane). “Quando você tem um filho e ter sorte ela ou ele pode ter um emprego e você fica beneficiado. Agora não ter também é um caso você, porque você fica totalmente sozinho e ninguém vai

Vânia Pedro

 

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te chamar de papá. É essa vantagem em termos de ter filhos.” (António, 45 anos, união de facto, Macarretane). “Uma mulher que não faz filhos é tida como ngomuá8. (…) Não se pode dizer que não fazem filhos, outras demoram dependendo do seu rumbo9, o seu xibelequelo10 demora a conceber” (Grupo focal, mulheres, Macarretane).

Pelos relatos acima nota-se que a percepção sobre o significado de ter muitos filhos é subjectiva. Enquanto as pessoas acharem que não atingiram o seu número ideal de filhos e que ter muitos filhos é símbolo de virilidade e prestígio na comunidade, acharão desnecessário fazer o PF. A preferência por muitos filhos também foi encontrada num estudo realizado por Wambui et al (2009) e por Onyango et al (2010) no Quénia. Os resultados desses estudos indicam que as crianças são sinónimo de riqueza e quanto maior for o número de filhos, mais riqueza se terá. Quanto maior for o número de filhos, mais dinheiro se obterá através do dote. Em Mafalala os participantes apesar de considerarem os filhos importantes não querem ter muitos filhos devido as precárias condições em que vivem. “Não podemos ser como os nossos pais que não faziam o Planeamento Familiar e têm muitos filhos. Por exemplo, o meu pai tem dez filhos, com a mesma esposa. Só dois ou três é que conseguiram ser o que queriam. Eles faziam esses filhos pensando que íam lhes ajudar, mas para lhes ajudarmos tínhamos que primeiro nos ajudar para depois ajudarmos a eles. Não podemos ser como nossos pais que tiveram tantos filhos e no final não resultou em nada, apenas aumentaram preocupações para eles mesmos” (Alfredo, 24 anos, união de facto, Mafalala).

                                                                                                                        8

Ngomuá vem do Tsonga e é um termo pejorativo e discriminatório que em Português significa estéril (tradução nossa).

9

Rumbo vem do Tsonga e em Português significa tripa. Esta é uma tradução literal, mas o sentido semântico de rumbo usada neste trabalho é equivalente a ventre. 10

Xibelequelo vem do Tsonga e significa em Português útero (tradução nossa).  

Vânia Pedro

 

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4.4.

Papel dos homens no PF

No geral, os participantes do estudo não estão muito claros sobre o papel do homem no PF. Muitos deles, incluindo as mulheres, pensam o papel do homem como o de anuir que a sua parceira faça o PF, quando ele também tem direitos sexuais e reprodutivos e deveres no contexto da SSR. Quando questionados sobre o papel dos homens no PF, os participantes deram dois tipos de resposta: 1) Alguns participantes consideram que o PF é unicamente da responsabilidade da mulher, porque ela é quem fica grávida e os contraceptivos são a ela distribuídos; 2) Outros participantes consideram que ambos (o casal) têm o seu papel no tocante ao PF. Abaixo apresentamos alguns dos relatos que sustentam o acima exposto: “O planeamento é coisa de mulheres para se prevenirem das suas coisas e nós não usamos isso” (João, 24 anos, união de facto, Mafalala). “Nunca vi um homem que faz o PF, nunca vi. Por essa razão que digo que um homem não faz o PF o homem tem que fazer PF para quê? O homem só engravida não faz PF. O homem vive assim quem faz PF é a mulher” (Maússe, 42 anos, união poligâmica com duas mulheres, Macarretane).

Nos dois relatos acima nota-se claramente que os homens em causa, atribuem toda e qualquer responsabilidade sobre o PF às mulheres, porque elas é que têm necessidade de prevenir uma eventual gravidez, pois o seu aparelho reprodutor é que está preparado para acolher a gestação da criança. Importa salientar que não é só a componente biológica da mulher que está preparada para acolher a gestação da criança, mas também a sua componente social, através de todo um processo de socialização11, que a molda para assumir o papel de genitora biológica, assim como social. Apesar de alguns participantes pensarem o PF como algo inerente ao casal, ou seja uma tomada de decisão colectiva, também consideram que o homem é o último a decidir, mesmo que a                                                                                                                         11

Socialização é o processo através do qual o indivíduo assimila, integra e incorpora os hábitos, costumes e outras aptidões que fazem de si membro do seu grupo social (Rocher, 1989). Vânia Pedro

 

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parceira proponha que ambos adiram aos serviços de PF. Existe também a percepção de que a mulher não pode fazer o PF a revelia do parceiro, porque este é o chefe de família. Abaixo apresentamos alguns relatos que sustentam as afirmações acima: “O PF também é assunto dos homens, porque se eles não quiserem, podem zangar contigo, mas se eles souberem não tem problema” (Fátima, 24 anos, em união de facto, Macarretane). “É tarefa de todos nós essa, porque se eu não lhe der filhos, podemos discutir. As pessoas daqui de Gaza ficam satisfeitas por causa de filhos” (Rosária, 24 anos, em união de facto, Macarretane). “Geralmente o papel do homem para mim é concordar ou não concordar com o Planeamento Familiar, porque, por exemplo, ela diz que eu quero fazer Planeamento Familiar porque já não quero mais filhos, o homem diz que eu quero mais filhos, então o papel do homem é o de tomar decisão sobre ter filhos ou não” (Inácio, 30 anos, casado, Mafalala). “Quem determina quando parar de fazer PF sou eu e ela não nega porque eu digo para ela parar. Eu é que eu vejo que o tempo de parar já chegou” (Marcos, 36 anos, em união de facto, Macarretane).

Pelos relatos acima nota-se que alguns participantes pensam que o papel do homem no PF é dar a sua anuência a parceira para fazê-lo, pois se ela fizer sem o seu consentimento, o casal pode chegar ao desentendimento. Estes relatos mostram que alguns homens não estão a par dos seus direitos e responsabilidades no contexto da SSR e do PF, relegando a responsabilidade às mulheres e as próprias mulheres, por causa das normas de género vigentes reproduzem o discurso e a prática, relativamente ao papel de homens e mulheres, especificamente no que concerne ao PF.

Vânia Pedro

 

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Os homens têm um papel na escolha do método contraceptivo usado pelo casal, momento ideal para ter filhos e quantos filhos ter. Apesar desse papel, as normas de género influenciam na forma como os homens se posicionam relativamente a muitos assuntos, dentre os quais perante o PF. A perspectiva de alguns homens sobre o seu papel no PF como o de anuir ou tomar a decisão de optar pelo uso do serviço tem a ver também com o tipo de masculinidade vigente. Neste caso, a masculinidade hegemónica assenta numa ideia de homem com poder para a tomada de decisões, sob os mais diversos aspectos da vida. Olhando para a relação que Loforte (2007) estabelece entre género e saúde, nota-se de que forma os papéis de género condicionam a participação dos homens na SSR. A esse respeito Loforte (2003) refere que as dimensões culturais e simbólicas condicionam os comportamentos dos indivíduos, particularmente no exercício da sexualidade. Em sociedades de matriz patrilinear como já foi referido ao longo deste trabalho, a tomada de decisão sobre os diversos aspectos da vida social é feita pelo homem e ele é o chefe de família. Na esfera reprodutiva é ele quem decide quando ter filhos, quantos ter, quando fazer PF e quando parar de fazer. No contexto da procriação, homens e mulheres têm tarefas diferenciadas, fruto da construção dos papéis de género. Predomina a ideia de que a mulher é apenas a casa do feto e que a criança se desenvolve a partir do esperma do homem (Loforte, 2000). Sendo assim, ele é quem tem o poder de decidir quando ter filhos e quantos ter. Os resultados do nosso no tocante ao papel do homem no PF indicam que os participantes têm a percepção de que o seu papel no PF consiste em autorizar às parceiras a fazerem ou não o PF. Porém, a nossa percepção é de que os homens desconhecem o seu real papel relativamente ao PF e aos seus direitos sexuais e reprodutivos. Contudo, alguns participantes, afirmaram que optar ou não pelo PF ou não, deve ser uma decisão colectiva, o que mostra que diferentes tipos de masculinidade podem conviver no mesmo contexto sóciocultural. Alguns estudos documentam que quando estes são envolvidos nas questões reprodutivas os resultados dos programas de saúde que operam nessa área têm sido melhores, na medida em que Vânia Pedro

 

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os homens é que tomam as decisões, daí a importância de eles estarem claros sobre o seu papel nas questões contraceptivas. No Grupo Focal realizado com mulheres em Macarretane, estas mencionaram que gostariam de não ter mais filhos e fazer o PF devido ao nível de vida que é alto, mas que elas não têm o poder de decisão. As mulheres inquiridas neste estudo afirmam que gostariam que os homens também pudessem ter os seus contraceptivos para que o seu corpo pudesse descansar ou para que os homens não engravidassem outras mulheres. “Alguns maridos os juízos estão cheios de sope12 e xivantarana13. Quando falas do planeamento leva pau te bate e te deixa sem aguentar… Mas fazes o planeamento para ajudar a ele. Outro faz dez, doze filhos, enquanto mesmo para ir dzudzar14 calamidade não aguenta é pobre como eu” (Grupo Focal, Mulheres, Macarretane).

Apesar de alguns homens considerarem que quem deve utilizar os contraceptivos são as mulheres, alguns deles durante o estudo manifestaram o desejo de ter outros métodos para si para além do preservativo. “Eu acho que seria bom que houvesse injecção ou comprimidos para nós os homens também, para quando os nossos filhos forem pequenos, tomarmos enão engravidarmos as nossas mulheres” (Isaac, 40 anos, separado, Macarretane).

Outros homens ainda confundem-se e afirmam que existem comprimidos e injecções para que os homens previnam-se das gravidezes indesejadas. “Existem comprimidos e injecções para os homens tomarem e não engravidarem as suas mulheres. Pode ir se buscar no

                                                                                                                        12

Sope é uma palavra Tsonga e se refere a uma bebida tradicional de fabrico caseiro (tradução nossa).

13

Idem.

14

Numa tradução literal, dzudzar é uma palavra Tsonga e significa sacudir em Português. O sentido semântico de dzudzar é muito aplicado a compra ou venda de roupa na calamidade (tradução nossa).   Vânia Pedro

 

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hospital, ou comprar na farmácia (Mateus, 24 anos, casado, Mafalala) ”.

O relato de Mateus uma vez mais ilustra que os conhecimentos que os homens têm sobre o PF e sobre os contraceptivos são fracos, pois comprimidos e injecções contraceptivos para os homens são inexistentes. 4.5.

Formas de diálogo e articulação entre os homens e suas parceiras sobre o Planeamento Familiar

O diálogo e a articulação sobre a contracepção e o PF entre os casais são importantes, porque os programas de PF são focalizados nas mulheres, enquanto elas não são as detentoras do poder de decisão. Ainda que as mulheres sejam ensinadas sobre o PF e contracepção nas Us’s, dificilmente sozinhas poderão decidir utilizar os serviços. A tomada de decisão sobre utilizar ou não os contraceptivos tem sido uma das principais barreiras, porque tem a ver com a capacidade de negociação, que nem todas as mulheres têm. Durante o nosso estudo procuramos analisar quais são os mecanismos que permeiam o diálogo dos casais sobre o PF. Foi possível identificar quatro grupos de respostas, nomeadamente: 1) iniciativa de conversar sobre o assunto por parte dos homens; 2) iniciativa de conversar sobre o assunto por parte das mulheres; 3) iniciativa de ambos em falar sobre o assunto e 4) casos em que não se fala sobre o PF por parte das pessoas que anteriormente afirmaram não fazer o PF. Abaixo apresentamos alguns relatos referentes a participantes que afirmam que a iniciativa de falar sobre o PF foi do homem: “Quando o meu marido está cá sempre falamos do PF. Ele é que começa e diz que temos que ir ao PF para podermos criar a criança” (Fátima, 24 anos, em união de facto, Macarretane). “Não falamos sempre, mas das vezes que falamos ele é que começa o assunto” (Mafalda, 28 anos, em união de facto, Macarretane). “A ideia de fazer o PF partiu do meu marido por ver que já temos muitos filhos. Mesmo quando parei de fazer PF porque me fazia mal, ele se zangou comigo” (Joana, 34 anos, em união de facto, Macarretane).

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O marido de Joana por um lado pode ter tomado a iniciativa de aderirem ao PF, porque ele é professor, portanto, é uma pessoa instruída, e, por outro lado, porque ela já tinha uma estória de complicações obstétricas. O marido de Joana pode ser considerado um homem com uma abordagem diferente de masculinidade, num contexto em que a masculinidade hegemónica privilegia um homem dominador na sua relação com a parceira e com a família. Este ponto de vista corrobora a necessidade de fazer um cruzamento entre género, classe, etnia, geração e raça, advogado por Bento (2012). O facto de ele ser professor e ser supostamente uma pessoa informada, pode fazer com que ele conheça e reconheça as vantagens do PF. Relatos em que os homens são os primeiros a abordar as questões de PF: “A iniciativa é minha. Eu sempre tenho que conversar com ela para haver entendimento entre nós” (Mateus, 42 anos, em união de facto, Mafalala). “A iniciativa tem que partir do homem porque ele é que é o chefe de família” (Lucas, 31 anos, ainda a namorar, Mafalala).

O relato de Lucas é interessante, porque ele é um jovem de 31 anos, com nível médio de escolaridade, locutor de rádio e que tem como aceder à informação. Por essas razões, ele teria condições para pensar diferente sobre o tipo de relacionamento que tem com a sua parceira, mas ele reproduz a masculinidade hegemónica vigente na Cidade de Maputo, ancorada num sistema social e familiar linhageiro e patrilinear. Alguns relatos mostram que a mulher é a primeira a falar sobre o PF: “Eu é que começo a falar do PF e meu marido já me acompanhou ao hospital, porque queria saber se é algo bom ou não que dizem lá” (Sara, 28 anos, em união de facto, Mafalala). “Conversei com ele e ele concordou. Eu é que tomei a iniciativa e é comum falarmos sobre o assunto. É como se fosse uma conversa normal e ele já me acompanhou a consulta de PF e foi bem recebido” (Ana, 29 anos, ainda a namorar, Mafalala).

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“A ideia tem que ser dela e eu apoiar ou desapoiar, porque se eu não quiser ela não faz. Conversamos as vezes sobre como espaçar os filhos” (Marcos, 36 anos, em união de facto, Macarretane). “Primeiro foi ela que falou e aí então pela conversa cheguei a concordar que o PF é necessário. As vezes nós falamos sobre isso” (Mácuacua, 26 anos, ainda a namorar, Macarretane).

O facto de algumas mulheres serem as primeiras a abordar aos parceiros sobre o PF, é explicado pelo facto de elas receberem as informações sobre o PF em primeira mão, mas também porque elas frequentam mais as Unidades Sanitárias do que os homens e porque nalgum momento gostariam de parar de conceber. Contudo, ainda que elas sejam as primeiras a falar sobre o assunto, se a sua capacidade de negociar o uso do PF não for forte, dificilmente convencerá o parceiro. Alguns participantes referiram ambos podem tomar a iniciativa de falar sobre o PF, conforme mostram os relatos abaixo: “Essa ideia as vezes posso ser eu a dizer que quero fazer um filho ou pode ser ela também a dizer-me que quer ter uma criança. Mas então depende nem? Porque há que querer enquanto não funciona segundo o que é necessário” (António, 45 anos, em união de facto, Macarretane). “Nós conversamos muito, o número de vezes… pode ser diário nós conversamos muito durante o nosso encontro” (Inácio, 30 anos, casado, Mafalala).

A negociação é influenciada por alguns factores, como por exemplo: diferenças entre os casais, crenças religiosas, nível de escolaridade, capacidade de se auto-sustentar [grifo nosso] e até pela influência que as famílias exercem na vida do casal (De Gita, 2007). As mulheres inquiridas neste estudo em Macarretane na sua maioria professam a religião católica, são desempregadas, apesar de trabalharem a terra. Normalmente, em contextos patrilineares a terra é pertença dos homens, pelo que em termos de auto-sustento elas são insuficientes. O seu nível de escolaridade e acesso à informação não são altos, o que de certa forma faz com que a sua capacidade de negociação não seja forte, daí que algumas mulheres que

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não queiram ficar grávidas recorram à algumas estratégias para fazer o PF à revelia dos parceiros, o que mostra que existe um agenciamento15 nas práticas dos indivíduos. Algumas das estratégias consistem no seguinte: “Muitas, os maridos proíbem de fazer o PF. Outras até preferem ser administradas a injecção e deixam os cartões de PF comigo. Quando chega a data elas vem para aqui, porque os maridos não aceitam que elas façam o PF. Ao ter que tomar a pílula todos os dias os maridos podem descobrir, ou elas podem até mesmo esquecer de fazê-lo” (Conversa informal com a enfermeira de SMI, Macarretane).

Outra estratégia para fazer o PF sem que os parceiros saibam é relatada por Sara: O meu actual companheiro quer filhos, mas como já tive dois de pais diferentes e me abandonaram eu digo a ele que fui fechada pelos defuntos. Depois do acto sexual tomo sal e o esperma sai. Ele me pergunta porque é que não fico grávida eu digo que os defuntos é que estão a impedir-me de conceber, enquanto eu é que não quero ficar grávida (Sara, 25 anos, Macarretane, união de facto).

Os relatos da enfermeira e de Sara ilustram que apesar de na cultura patrilinear as mulheres deverem obedecer aos maridos em tudo, algumas inventam e reinventam o quotidiano. Esta estratégia das mulheres, mostra que apesar de elas estarem inseridas num certo contexto cultural e que tem as suas normas, podem fazer com que as representações sociais e o seu comportamento se retroalimentem. Ao fazerem o PF à revelia dos maridos, por considerarem que a vida está difícil e estão cansadas de ter filhos, estão a demonstrar que o indivíduo não recebe tão passivamente o mundo préexistente e, que as representações sociais são temporais e dinâmicas, podendo transformar-se através do acesso à informação, redes de sociabilidade e instrução.                                                                                                                         15

O agenciamento consiste em o indivíduo, apesar de estar inserido numa certa estrutura social, fazer as suas escolhas. Vânia Pedro

 

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Em Mafalala, o cenário é outro relativamente à negociação e comunicação sobre o uso do PF. Algumas mulheres entrevistadas possuem o seu próprio negócio, estudaram mais que as mulheres de Macarretane e o seu acesso à informação é mais rápido e maior e têm maior poder de negociação sobre as questões contraceptivas. Igualmente, alguns homens em Mafalala têm maior consciência da importância do PF, porque têm mais acesso às informações e são relativamente mais instruídos. Normalmente, a interacção que se estabelece em torno das matérias de reprodução também é estruturada pelas relações de género. As ideologias e hierarquias de género entre homens e mulheres fazem com que homens e mulheres conversem sobre os assuntos de reprodução de modo separado. Contudo, apesar de alguns casais poderem conversar sobre a reprodução, há momentos em que a conversa se torna mais frequente. Durante o estudo alguns homens referiram que apenas falam do PF com as suas parceiras, quando têm crianças pequenas e precisam zelar pelo seu bem-estar e crescimento harmonioso. Esta percepção é corroborada por Agadjanian (2001), quando refere que dentro da unidade marital, as conversas sobre as questões reprodutivas e contraceptivas tendem a ser frequentes, mas continuam relativamente breves e episódicas, reflectindo as distâncias de género socialmente instituídas (Agadjanian, 2001). Relativamente a comunicação e negociação que Ratcliffe et al (2001) afirmam não fazer parte do contexto cultural Africano é discutível, porque nem sempre o contexto sócio-cultural determina o agir dos indivíduos. Os resultados do nosso estudo mostram que há casais que comunicam e dialogam sobre o PF, pese embora não seja frequente. O facto de alguns casais serem uma excepção à regra e conversarem sobre as questões contraceptivas em contextos marcadamente patrilineares tem a ver com a diversidade de factores que influenciam na negociação. Apesar de a abordagem de género ser importante na análise dos factos sociais não convém utilizá-la como explicação monolítica dos comportamentos dos indivíduos.

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Outros relatos ainda mostram que alguns participantes não conversam com os seus parceiros sobre o PF: “Não te vou mentir não conversamos sobre isso, mas ela às vezes me diz só que eu não estou interessado nisso, ela fala mas não me entra” (João, 24 anos, união de facto, Mafalala). “Tenho um parceiro crescido, não me exige filhos e nunca falamos de PF” (Atija, 44 anos, a namorar, Mafalala).

Os relatos de João e Atija mostram que o diálogo sobre o PF entre os casais tem também a ver com o momento em que as pessoas encontram-se. Atija já não vê a pertinência de falar com o seu parceiro sobre o assunto, porque não quer ter mais filhos, ao passo que João ainda pretende ter mais filhos, daí que não considere relevante ter esse tipo de diálogo com a sua parceira, porque ele é o chefe de família e a decisão final apenas depende da sua vontade. Os participantes do estudo quando questionados se as suas famílias sabiam que estavam a fazer o PF responderam que este é um assunto do casal e que apenas a eles diz respeito. Esta postura dos participantes decorre das transformações no seio da instituição família, porque alguma literatura, como por exemplo, Adongo (1998) citado por De Gita (2007) refere que os sistemas de parentesco desempenham um papel importante no controlo da fertilidade dos casais. Assim, a tomada de decisão por parte de alguns casais tem sido difícil, porque por vezes têm que justificar-se às famílias alargadas, uma vez que a família desempenha um papel preponderante na educação formal e informal, bem como no controlo da função reprodutora, na socialização das crianças e nas estratégias de segurança económica dos seus membros (Cohen, 1980; Ferrari & Kaloustian, 1998 citados por Silveira, 2008). Os conceitos Europeus de casamento e família não podem ser aplicados para a análise da reprodução em África. O contexto cultural da reprodução inclui uma variedade de factores: normas de género mais do que ambições de marido e mulher, comunicação e negociação não fazem parte dessa dinâmica (Ratcliffe et al, 2001). Contrariamente ao que Ratcliffe et al (2001) referem sobre a influência da família alargada nas questões de negociação e reprodução em muitas sociedades Africanas, em Macarretane e em Vânia Pedro

 

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Mafalala, homens e mulheres afirmaram que as famílias não têm que interferir nos assuntos do PF, porque esses dizem apenas respeito ao casal. A ideia de que os indivíduos, ou os casais podem sozinhos decidir quando e quantos filhos querem não é tão livre de influências por causa da influência exercida pelo contexto cultural. A não consulta de alguns casais à sua família sobre as questões contraceptivas, pode ser interpretada como resultado das transformações que vem ocorrendo na estrutura familiar no que tange aos papéis de género, relações entre pais e filhos, peso da família nuclear versus família alargada, bem como fruto da inserção da mulher no mercado de emprego ou garantia do seu auto-sustento, o que cria maior grau de liberdade nas atitudes. Agadjanian (2001) refere que apesar de as famílias alargadas continuarem a ser importantes no quotidiano, a dispersão dos parentes afecta os laços familiares e a família nuclear tende a aumentar a sua importância, como centro da vida social dos indivíduos. Durante o estudo, identificamos mulheres que obtiveram anuência dos seus maridos para fazerem o PF. Nesses casos, a prática do PF ocorre de forma consistente. Este facto também foi encontrado no estudo de Onyango et al (2010), que foi feito entre os Yorubas, na Nigéria e no estudo de De Gita (2007) na África do Sul. 4.6.

Limitações do estudo

Atendendo aos objectivos do estudo, a questão de pesquisa e o objecto e a natureza do estudo, os resultados deste estudo não podem ser inferidos para a população no geral, senão para as pessoas que participaram do mesmo. O curto tempo de trabalho de terreno não possibilitou aprofundar outras questões. Este estudo é exploratório, pelo que não tem um carácter extensivo ou intensivo. Todavia, apesar de ser um estudo exploratório no tocante ao envolvimento masculino nas questões contraceptivas, poderá constituir um ponto de partida para posterior aprofundamento sobre a temática em alusão.

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5. Conclusões do estudo Este estudo explorou as representações e as experiências dos homens sobre o Planeamento Familiar em Macarretane e em Mafalala. Trabalhamos com setenta informantes, sendo 62 nas entrevistas semi-estruturadas e Grupos Focais e oito nas conversas informais. O Planeamento Familiar foi maioritariamente definido fazendo menção apenas a uma das componentes do conceito, nomeadamente a prevenção da gravidez indesejada, quando este serviço ajuda também a fazer o espaçamento entre o nascimento dos filhos, consequentemente preservando a saúde da mulher e da criança. Os homens e mulheres inquiridos neste estudo apresentam fraco domínio das matérias de Planeamento Familiar e contracepção. As mulheres de um modo geral apresentam maior domínio sobre o assunto, porque são o sujeito primário dos programas de PF. Existem diferenças de conhecimento sobre o PF entre os homens e entre as mulheres. Os homens e as mulheres em Mafalala tendem a saber mais sobre o PF e os contraceptivos, do que os homens e as mulheres em Macarretane, por questões relacionadas ao nível de escolaridade, independência financeira e acesso à informação. Existem diferentes tipos de masculinidade, mas a masculinidade hegemónica é a que assenta numa ideologia e sistema linhageiro patrilinear. Segundo esta, os homens é que tomam as decisões sobre os mais diversos aspectos da vida da família, incluindo da sexualidade e procriação. Os contraceptivos mais conhecidos e mais utilizados pelos participantes do estudo são: a pílula, o preservativo e a injecção. Foram referidos métodos contraceptivos de sabedoria popular, que sobretudo em Macarretane são bem-vindos, porque acredita-se que não prejudicam o funcionamento normal do organismo e não alteram o prazer sexual, diferentemente dos contraceptivos modernos, que assim são vistos. Os resultados igualmente sugerem que é importante que os mecanismos de informação e divulgação dos serviços de PF sejam reforçados, tendo em conta o contexto cultural e abordagens culturalmente sensíveis, para que o grupo-alvo se aproprie dos mesmos, uma vez que Vânia Pedro

 

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o conhecimento é um pré-requisito para o uso dos serviços, mas não é a única variável a levar em consideração ao prover um serviço de saúde. Relativamente ao papel do homem no PF, os resultados do estudo sugerem que os homens não estão realmente a par do seu papel e o confundem com a permissão que têm conceder às suas parceiras para fazerem o PF. Esta percepção advém por um lado do facto de desconhecerem por completo os seus direitos e deveres na esteira da Saúde Sexual e Reprodutiva, mas por outro lado o modelo de socialização vigente condiciona o envolvimento dos homens nas questões contraceptivas. No que tange as formas de diálogo e negociação entre os homens e suas parceiras a capacidade de negociar o uso dos serviços de PF é um aspecto a considerar, porque em sociedades de matriz patrilinear, cabe aos homens decidir sobre o quotidiano. Contudo, os resultados do estudo, também mostram que mulheres que são economicamente independentes, têm maior nível de escolaridade e têm mais acesso à informação, tendem a ter maior possibilidade de negociar a aderência ao PF, mesmo se inseridas em contextos culturais marcadamente patrilineares. Há necessidade de se enfocar na capacidade de negociação das mulheres para com os seus parceiros, porque ainda que estas tenham informações sobre o PF, se não tiverem habilidades para negociar, não conseguirão utilizar esses serviços, por mais que desejem. 6. Proposta de recomendações A partir dos resultados deste estudo exploratório sobre as representações e experiências dos homens sobre o PF, fazemos as seguintes propostas de recomendações: a) A realização de estudos quantitativos sobre o uso de contraceptivos noutras regiões do país para maior aprofundamento dos achados deste estudo, para se ter uma ideia mais completa do PF em Moçambique; b) A realização de um estudo num contexto matrilinear para aferir se as representações e experiências dos homens desse contexto coincidem com as do contexto patrilinear, porque apesar

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de termos trabalhado em Mafalala, um local que historicamente tem alguns residentes oriundos de contextos matrilineares, não os entrevistamos; c) A realização de um estudo quantitativo sobre o uso de métodos contraceptivos tradicionais e o seu impacto na SSR das mulheres; d) Em estudos como este, aprofundar a influência da poligamia nas representações e experiências dos homens sobre o PF. No nosso estudo não aprofundamos esta questão, pelo que propomos que os próximos a acautelem; e) Uso da metodologia de educadores de pares para fazerem a sensibilização e a capacitação dos homens no domínio do PF. Esta metodologia irá permitir que os educadores de pares sensibilizem aos demais sobre a importância do PF, uma vez que geralmente pessoas do mesmo sexo têm mais empatia e partilham alguns interesses em comum; f) Criação de um cantinho nas Us’s, onde os homens possam receber aconselhamento e informação sobre a SSR e sobre o PF, pois estes serviços têm tido apenas enfoque nas mulheres; g) Que sejam incluídos nos curricula de formação e capacitação dos profissionais de saúde que trabalham na área do PF aspectos ligados a abordagem sócio-cultural como por exemplo, o conceito de género, género e saúde e a sexualidade como construção sócio-cultural, já que esta influencia o comportamento, as atitudes e a aceitabilidade por parte dos indivíduos de um certo serviço; h) Que os trabalhadores comunitários de saúde, particularmente os agentes polivalentes elementares não somente trabalhem com as comunidades, mas também que interajam com as empresas e outros sectores de actividade para abrangerem o maior número possível de homens; i) Antes que se implemente qualquer serviço de PF é aconselhável que se faça um mapeamento junto dos beneficiários em que a comunidade faça o diagnóstico dos problemas que a inquieta no contexto do PF e, que sozinhas procurem internamente a solução para os seus problemas.

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51. Ministério da Saúde. (2010). Estratégia de Planeamento Familiar e Contracepção 20102015. (2020). Maputo. 52. Mozzato, A e Grzybovski, D. (2011). “Análise de conteúdo como técnica de análise de dados qualitativos no campo da administração”: Potencial e Desafios. RAC, Curitiba, v. 15, n. 4, Pp. 731-747. 53. Muiambo, A. (2011). Avaliação da disponibilidade, acessibilidade e utilização dos cuidados obstétricos de emergência do Distrito de Marávia, província de Tete. Dissertação de mestrado em Saúde Pública, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo. 54. Onyango, M; Owoko, S & Oguttu, M. (2010). “Factors that influence male involvement in Sexual and Reproductive Health in Western Kenya: a qualitative study”. African Journal of Reproductive Health, 2010; 14 (4): 33. 55. Paulo, M. (2009). “Percepções sobre a fertilidade no bairro da Mafalala”, in: Mariano, E & Paulo, M. Infertilidade, Fertilidade: áreas escondidas do nosso quotidiano? Maputo: Kula, Lda. 56. Rivière, C. (1995). “Antropologia do Parentesco”, in: Introdução à Antropologia. Lisboa: edições 70. 57. Rocher, G. (1989). Sociologia geral (5ª edição). Lisboa: Presença. 58. Silveira, M. (2008). “Família: conceitos sócio-antropológicos para o trabalho em saúde”. Família, Saúde e Desenvolvimento., Curitiba, v.2, n.2. Pp. 58-64. 59. Sousa, L & Barroso, M. (2008). “Pesquisa etnográfica: evolução e contribuição para a enfermagem”. Esc Anna Nery Rev Enferm, 12 (1): 150 - 5. 60. Susheela, S & Darroch, J. (2012). Adding it up: costs and benefits of contraceptive services estimates for 2012. Guttmacher Institute & UNFPA. 61. Scott, R. (2010). “Homens, domesticidade e políticas públicas na Saúde Reprodutiva”, in: Medrado, L & Azevedo, B (org.), homens e masculinidades: práticas de intimidade e políticas públicas (1ª edição). Recife/ PE: Instituto Promundo.

Vânia Pedro

 

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62. Touré, L. (1996). Male involvement in Family Planning: a review of a selected program initiatives in Africa: SARA. 63. Tvedten, I; Paulo, M; Tuominen, M. (2010). Não fica bem que uma mulher seja chefe quando existem homens, in: Género e Pobreza no sul de Moçambique: CMI Report 2010: 7. Bergen: Chr. Michelsen Institute. 64. Wambui, T; EK A-C & Alehagen, S. (2009). “Perceptions of Family Planning among low-income men in western Kenya”. International nursing review 56, 340-345.      

Anexo 1. Guião de entrevista semi-estruturada (homens) Informação sócio-demográfica • Idade: • Sexo: • Estado Marital: • Naturalidade: • Residência: • Nível académico: • Profissão/ ocupação: • Número de filhos: a) Grau de conhecimento e uso do PF • Sabe o que é o PF? • Que métodos ou formas de PF conhece? • Quais são na sua opinião as vantagens e desvantagens de fazer o PF? Vânia Pedro

 

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• Utiliza algum método para fazer o PF? Se sim, qual ou quais? Se sim, porque é que usa esse ou esses métodos e não outros? Se não porque não utiliza algum método de PF? Se sim, o que o levou a utilizar os serviços de PF? b) Papel dos homens no PF • Quais são as suas representações (percepções, sentimentos ou ideias) sobre o Planeamento Familiar? É a favor ou contra o PF? Porquê? • Tem filhos? Se sim, quantos? Ainda pensa em ter filhos? Se não tem filhos, pensa em têlos algum dia? • Quantos filhos acha que um homem deve ter? Porquê? E a mulher? Porquê? • PF na sua opinião é somente um assunto de mulheres? Se sim, porque motivo? • Qual é na sua opinião o papel do homem e da mulher no PF? Porquê? • O que acha dos homens e das mulheres que fazem PF? •

Na sua opinião, apenas as mulheres é que devem tomar ou utilizar contraceptivos porque elas é que ficam grávidas?

• Os métodos de PF são adequados para os homens? Se não que métodos contraceptivos ou estratégias de PF deveriam exisitir para homens? c) Diálogo e articulação dos casais em torno do PF • Se faz o PF, de quem partiu a ideia de fazer o Planeamento Familiar? Foi sua ou da sua parceira? • É comum conversar com o seu parceiro sobre o PF? Quem de entre vocês os dois toma a iniciativa de discutir o assunto? • Vão juntos à consulta de PF? • Qual é a frequência com que conversa com a sua parceira (o) sobre O PF?

Vânia Pedro

 

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• A sua família sabe que está a fazer planeamento familiar? Se sim, como é que os seus familiares reagiram?

   

Anexo 2. Guiões de entrevistas semi-estruturadas (mulheres) Informação sócio-demográfica • Idade: • Sexo: • Estado Marital: • Naturalidade: • Residência: • Nível académico: • Profissão/ ocupação: • Número de filhos: a) Grau de conhecimento e uso do PF • Sabe o que é o PF? • Que métodos ou formas de PF conhece? • Quais são na sua opinião as vantagens e desvantagens de fazer o PF? Vânia Pedro

 

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• Utiliza algum método para fazer o PF? Se sim, qual ou quais? Se sim, porque é que usa esse ou esses métodos e não outros? Se não porque não utiliza algum método de PF? Se sim, o que o levou a utilizar os serviços de PF? b) Papel dos homens no PF • Quais são as suas representações (percepções, sentimentos ou ideias) sobre o Planeamento Familiar? É a favor ou contra o PF? Porquê? • Tem filhos? Se sim, quantos? Ainda pensa em ter filhos? Se não tem filhos, pensa em têlos algum dia? • Quantos filhos acha que um homem deve ter? Porquê? E a mulher? Porquê? • PF na sua opinião é somente um assunto de mulheres? Se sim, porque motivo? • Qual é na sua opinião o papel do homem e da mulher no PF? Porquê? • O que acha dos homens e das mulheres que fazem PF? •

Na sua opinião, apenas as mulheres é que devem tomar ou utilizar contraceptivos porque elas é que ficam grávidas?

• Os métodos de PF são adequados para os homens? Se não que métodos contraceptivos ou estratégias de PF deveriam exisitir para homens? c) Diálogo e articulação dos casais em torno do PF • Se faz o PF, de quem partiu a ideia de fazer o Planeamento Familiar? Foi sua ou do seu parceiro? • É comum conversar com o seu parceiro sobre o PF? Quem de entre vocês os dois toma a iniciativa de discutir o assunto? • Vão juntos à consulta de PF? • Qual é a frequência com que conversa com a sua parceiro sobre O PF?

Vânia Pedro

 

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• A sua família sabe que está a fazer planeamento familiar? Se sim, como é que os seus familiares e familiares do seu parceiro reagiram?

Anexo 3. Guião para discussão em Grupos Focais (homens) Informação sócio-demográfica • Idade: • Sexo: • Estado Marital: • Naturalidade: • Residência: • Nível académico: • Profissão/ ocupação: • Número de filhos:

a) Grau de conhecimento e uso do PF • Sabe o que é o PF? • Que métodos ou formas de PF conhece?

Vânia Pedro

 

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• Quais são na sua opinião as vantagens e desvantagens de fazer o PF? • Utiliza algum método para fazer o PF? Se sim, qual ou quais? Se sim, porque é que usa esse ou esses métodos e não outros? Se não porque não utiliza algum método de PF? Se sim, o que o levou a utilizar os serviços de PF? b) Papel dos homens no PF • Quais são as suas representações (percepções, sentimentos ou ideias) sobre o Planeamento Familiar? É a favor ou contra o PF? Porquê? • Tem filhos? Se sim, quantos? Ainda pensa em ter filhos? Se não tem filhos, pensa em têlos algum dia? • Quantos filhos acha que um homem deve ter? Porquê? E a mulher? Porquê? • PF na sua opinião é somente um assunto de mulheres? Se sim, porque motivo? • Qual é na sua opinião o papel do homem e da mulher no PF? Porquê? • O que acha dos homens e das mulheres que fazem PF? •

Na sua opinião, apenas as mulheres é que devem tomar ou utilizar contraceptivos porque elas é que ficam grávidas?

• Os métodos de PF são adequados para os homens? Se não que métodos contraceptivos ou estratégias de PF deveriam existir para homens?

c) Diálogo e articulação dos casais em torno do PF • Se faz o PF, de quem partiu a ideia de fazer o Planeamento Familiar? Foi sua ou do seu parceiro? • É comum conversar com o seu parceiro sobre o PF? Quem de entre vocês os dois toma a iniciativa de discutir o assunto? • Vão juntos à consulta de PF? Vânia Pedro

 

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• Qual é a frequência com que conversa com a sua parceiro sobre O PF? • A sua família sabe que está a fazer planeamento familiar? Se sim, como é que os seus familiares e familiares do seu parceiro reagiram?

Anexo 4. Guião para discussão em grupos focais (mulheres) Informação sócio-demográfica • Idade: • Sexo: • Estado Marital: • Naturalidade: • Residência: • Nível académico: • Profissão/ ocupação: • Número de filhos: a) Grau de conhecimento e uso do PF • Sabe o que é o PF? • Que métodos ou formas de PF conhece? • Quais são na sua opinião as vantagens e desvantagens de fazer o PF? • Utiliza algum método para fazer o PF? Se sim, qual ou quais? Se sim, porque é que usa esse ou esses métodos e não outros? Se não porque não utiliza algum método de PF? Se sim, o que o levou a utilizar os serviços de PF? Vânia Pedro

 

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b) Papel dos homens no PF • Quais são as suas representações (percepções, sentimentos ou ideias) sobre o Planeamento Familiar? É a favor ou contra o PF? Porquê? • Tem filhos? Se sim, quantos? Ainda pensa em ter filhos? Se não tem filhos, pensa em têlos algum dia? • Quantos filhos acha que um homem deve ter? Porquê? E a mulher? Porquê? • PF na sua opinião é somente um assunto de mulheres? Se sim, porque motivo? • Qual é na sua opinião o papel do homem e da mulher no PF? Porquê? • O que acha dos homens e das mulheres que fazem PF? •

Na sua opinião, apenas as mulheres é que devem tomar ou utilizar contraceptivos porque elas é que ficam grávidas?

• Os métodos de PF são adequados para os homens? Se não que métodos contraceptivos ou estratégias de PF deveriam exisitir para homens? c) Diálogo e articulação dos casais em torno do PF • Se faz o PF, de quem partiu a ideia de fazer o Planeamento Familiar? Foi sua ou do seu parceiro? • É comum conversar com o seu parceiro sobre o PF? Quem de entre vocês os dois toma a iniciativa de discutir o assunto? • Vão juntos à consulta de PF? • Qual é a frequência com que conversa com a sua parceiro sobre O PF? • A sua família sabe que está a fazer planeamento familiar? Se sim, como é que os seus familiares e familiares do seu parceiro reagiram?

Vânia Pedro

 

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Faculdade de Medicina Departamento de Saúde da Comunidade Mestrado em Saúde Pública Folha de informação ao participante para entrevistas semi-estruturadas e grupos focais Título da pesquisa: “representações sociais e experiências dos homens sobre o Planeamento Familiar: o caso da localidade de Macarretane e do bairro da Mafalala”. Objectivos da pesquisa Com este estudo pretende-se entender o que os homens e as suas parceiras em idade reprodutiva (15-49 anos de idade) pensam sobre o Planeamento Familiar, número de filhos, quando ter filhos e como é que tomam decisões relativamente à concepção, gravidez e contracepção. Procedimentos Gostaríamos de lhe convidar a participar neste estudo como [informante chave]. Foi seleccionado por possuir os critérios de inclusão definidos pela equipa de pesquisadores. Nesta fase do estudo irá participar nas entrevistas e nos grupos focais sobre o Planeamento Familiar. Benefício Vânia Pedro

 

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Este estudo não tem fins lucrativos, e não lhe dará um benefício directo. A sua participação vai ajudar a melhorar as condições de saúde das pessoas que desconhecem e não fazem o Planeamento Familiar. Riscos e desconfortos A questão da gravidez, contracepção e Planeamento Familiar podem ser de natureza muito pessoal e muitas vezes os indivíduos podem se sentir desconfortáveis para falar sobre estes assuntos privados e sensíveis. Desejamos que se sinta à vontade durante a entrevista.

Direito de recusar e de se retirar A sua participação nesta pesquisa é puramente voluntária. Se você não quer responder a qualquer pergunta, simplesmente diga e passaremos para uma outra. Pode desistir de participar no estudo em qualquer momento que desejar sem nenhuma consequência, diga e vamos parar. Confidencialidade Todas as respostas e sugestões, resultado de análises serão guardadas confidencialmente. As informações colhidas durante a sua entrevista não vão ser vistas por ninguém além da equipa de pesquisadores. A qualquer momento que deseja qualquer informação sobre a pesquisa ou sobre os resultados pode contactar o investigador principal a Drª. Vânia Pedro, pelos números de telefone: 84 80 64 841 e 82 85 45 180 ou ao Comité Nacional de Bioética pelos números de telefone: 21 43 08 14 e 21 427131 (4). Esta pesquisa foi aprovada pelo Comité de Bioética em Saúde, cuja tarefa é garantir que os direitos dos participantes na pesquisa sejam protegidos. Tem qualquer pergunta em relação à pesquisa antes que começarmos? Uma vez que todas as perguntas foram respondidas começar a entrevista. _________________________________________________________________ Certificado de consentimento informado Vânia Pedro

 

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Eu fui convidada/o a participar no estudo sobre Representações e experiências dos homens sobre o Planeamento Familiar. Eu li/ouvi as informações acima [ou foram-me lidas]. Eu tive a oportunidade de fazer perguntas e estas foram respondidas de maneira satisfatória. Eu concordo em participar voluntariamente no estudo e compreendo que tenho o direito de me retirar a qualquer momento sem consequências para mim. ___________________________________ Rubrica /impressão digital do (entrevistado/a)

__________________________________ Assinatura do investigador Local__________________________Data: _____/______/______

Vânia Pedro

 

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