Reprovado em educação

July 22, 2017 | Autor: Railton Da Silva | Categoria: Educação, Alagoas, Brasil de Fato
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de 13 a 19 de setembro de 2012

brasil

Reprovado em educação pública Eduardo Castro

ALAGOAS Dez mil alunos da rede estadual de ensino tiveram o ano letivo de 2012 prejudicado; no ranking, o estado tem a pior educação em quase todas as modalidades

Alisson e cerca de 1500 alunos estudam em salas improvisadas em um ginásio de esportes

Railton Teixeira de Maceió (AL)

AINDA NAS PRIMEIRAS horas do dia, Alisson da Silva já se arrumava para o seu primeiro dia de aula, após permanecer fora da escola por mais de oito meses. Não apenas ele como também outros 10 mil alunos da rede estadual de ensino em Alagoas tiveram o ano letivo de 2012 prejudicado. O motivo seria a reforma de 163 escolas estaduais – das 400 unidades espalhadas no estado – que por meio de um Decreto de Urgência na Educação nº. 15845/2011, publicado no final de 2011 no Diário Oficial, permitiu que fossem contratadas construtoras sem licitação. A medida fez com que o Ministério Público Estadual entrasse com uma ação na Justiça contra o atual secretário de Estado da Educação, alegando que foram encontradas mais de 20 irregularidades diferentes nos contratos. O nome do aluno é fictício, para preservar sua identidade e evitar perseguição por parte dos diretores ou gestores estaduais. Mas o caso é verídico e centenas de estudantes da Escola Estadual Rosalvo Lobo, localizada no bairro da Jatiúca, em Maceió (AL), começaram o ano letivo de 2012 no dia 28 de agosto. Não obstante, outras centenas de alunos terminaram o ano letivo de 2011 há poucos meses, chegando a começar as aulas também no mesmo período que os do Rosalvo. Mas as aulas do adolescente de apenas 15 anos que cursa a oitava série do ensino fundamental não começaram em sua escola de origem. Alisson e cerca de 1500 alunos estudam em salas improvisadas em um ginásio de esportes pertencente à Escola Estadual Professor Theo Brandão, localizada no conjunto Santo Eduardo, no Poço. Razão esta respon-

ATP e ABR Engenharia teriam ligação entre si e que as empresas ABR Engenharia e a Valmar Serviço e Construção LTDA teriam orçados tributos em 9,4% em comum acordo, enquanto, segundo o relatório do MP, o valor correto seria de 16%.

Adolescentes em porta de escola da rede estadual em Maceió: ano letivo prejudicado

sável para o nosso personagem e muitos se levantem ainda de madrugada para pegar um ônibus, “cedido pela secretária”, em direção à unidade de ensino. “É preciso estudar, por isso faço este esforço todo. Já repeti um ano e agora com outro perdido estou cada vez mais longe de conseguir realizar o meu sonho, que é entrar no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), deste jeito vou ter que recorrer a escolas particulares para ver se consigo recuperar os períodos atrasados”, desabafou o estudante. O Decreto de Emergência foi assinado em dezembro de 2011 pelo governador Teotonio Vilela, possibilitando que fossem assinados contratos com 12 construtoras – sem licitação – somando um montante de aproximadamente R$ 47 milhões, como também a contratação de uma consultoria, segundo o extrato do convênio, especializada em Gestão Administrativa e Pública, inclusive Planejamento Estratégico, implantação de Modelo de Gestão Escolar, Reestruturação Organizacional de Processos e Gerenciamento de Projetos no valor de R$ 5,4 milhões. Na época a Secretaria de Educação destacou a imprensa que o objetivo era zelar pela vida dos alunos, uma vez que em três unidades de ensino o teto veio ao chão.

Após a sua publicação, a promotora Cécilia Carnaúba, do Ministério Público, solicitou do secretário de Educação informações referente ao processo da reforma das escolas. O primeiro prazo dado pela promotora foi de 10 dias, porém foi ignorado. Ela destacou ainda que foi necessário entrar na Justiça para obter as informações necessárias e a partir daí, sete escolas foram elencadas, devido ao elevado número de denúncias, e dias depois a promotora, em coletiva à imprensa, apresentou 20 irregularidades no processo de dispensa da licitação.

Centenas de estudantes da Escola Estadual Rosalvo Lobo, localizada no bairro da Jatiúca, em Maceió (AL), começaram o ano letivo de 2012 no dia 28 de agosto Irregularidades

Entre as irregularidades elencadas pela promotora foi constatado que as empresas Valmar Serviço e Construção LTDA,

Mas para a surpresa de muitos no último dia 03 de setembro, a pouco menos de 13 dias para o vencimento da entrega das escolas que estão em reformas emergenciais, a secretaria de Educação reajustou nove contratos – sem licitação – com as construtoras. Apenas uma construtora teve um corte de 3,22% no contrato, em compensação tem construtora que teve um reajuste de 40,27%. A promotora responsável pelo caso foi procurada pela reportagem, mas, de acordo com a assessoria de comunicação do Ministério Público, ela está de férias e não se encontra no estado. “Agora é muito complicado esta situação, porque enquanto estamos estudando em uma quadra de esportes de um colégio distante de nossas casas, onde passamos mais de uma hora no percurso, ainda temos que enfrentar os alunos da outra escola que criaram uma ‘rixa’ com a gente, dizendo que estamos tomando o espaço deles, ‘os responsáveis’ apenas se utilizam e fazem farra com o nosso dinheiro”, desabafou revoltado o estudante após saber da renovação do contrato da secretaria de Educação com as construtoras. A assessoria de comunicação da secretaria de Educação do estado havia se prontificado em repassar algumas informações e agendar uma reunião com o secretário ou algum responsável. Porém, no decorrer de quase uma semana não foi possível mais contato com os dois assessores acionados. Já o secretário de Educação, Adriano Soares, foi acionado pelo aparelho de telefonia móvel e pelas redes sociais, mas sem sucesso.

Dados refletem a educação no estado

Traficantes ameaçam professores

Segundo os dados do IBGE, um em cada quatro estudantes não sabe ler, refletindo a alta taxa de analfabetismo, com 24,3% do índice nacional

A educação pública em Alagoas também passa pela ação da violência e Força Nacional faz segurança no estado

de Maceió (AL)

Já não bastassem as elevadas taxas de homicídios do país, Alagoas também amarga o título da pior educação pública. No ranking da educação, o Estado tem a pior educação em quase todas as modalidades de ensino. Nos anos iniciais do fundamental (1º ao 5º ano), teve nota 3,8, além da pior educação nos anos finais (6º ao 9º ano), com 2,9, e já no ensino médio ficou em segundo lugar, na frente apenas do Pará que tirou 2,8, ficando com a média de 2,9. Os dados foram apresentados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é calculado a cada dois anos pela Prova Brasil, segundo o Ministério da Educação, com base no conhecimento do aluno e na taxa de aprovação. Além disso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), censo 2010, um em cada quatro estudantes não sabe ler, refletindo a alta taxa de analfabetismo, com 24,3% do índice nacional. Para a vereadora de Maceió e ex-senadora Heloísa Helena, o problema da educação em Alagoas não é a falta de projeto, muito menos de proposta. “Falta é vergonha na cara destes políticos corruptos e um pouco de amor no coração, porque os vergonhosos dados do Ideb só refletem a situação da educação no estado”, desabafou, destacando que todo início de ano utiliza o Mapa da Violência e as informações vinculadas na imprensa para discutir o problema da educação na Câmara Municipal de Maceió. “Não é que os pobres serão bandidos, mas eles estão em uma área de risco muito vulnerável e precisam de uma

atenção toda especial, desta forma e baseado nos dados do Mapa da Violência e nos noticiários é que tenho provocado a casa. Enquanto isso, muitos políticos ‘salafrarios’ faltam às sessões e não têm nenhum compromisso com a população”, destacou, relatando ainda que no início do ano, quase teve um infarto ao tentar defender um projeto de arranjo produtivo que estabelecia que as crianças e os adolescentes desenvolvessem as habilidades esportivas, educacionais e de lazer. “Tudo isso com um único objetivo que é o de afastar as crianças e adolescentes daquela vulnerabilidade social e dar-lhes um pouco de dignidade e educação, mas como é Alagoas...”, indagou.

“Concordo plenamente com Freire, pois as pessoas ao conhecer profundamente o seu mundo podem buscar formas de como alterálo conforme os seus sonhos, suas necessidades, inspirações” A vereadora ainda fez referência ao educador popular Paulo Freire e destacou que não é a educação que vai mudar o mundo, mas modificando as pessoas será possível modificar o mundo. “Concordo plenamente com Freire, pois as pessoas ao conhecer profundamente o seu mundo podem buscar formas de como alterá-lo conforme os seus sonhos, suas necessidades, inspirações”, refletiu, destacando ainda que “embora não seja necessariamente a falta de conhecimento educacional que faça uma pessoa ser bandido, pois existem pessoas com diplomas e são bandidos ou comensais de bandidos do estado de Alagoas, do mesmo jeito que existe pessoas simples na lama, nas favelas que não vendem o seu voto, têm altivez e dignidade política educada culturalmente é nisso que a educação precisa investir”, enfatizou. (RT)

de Maceió (AL) Além da situação de abandono, nota ruim no Ideb e reforma das escolas alvo do Ministério Público Estadual, a educação pública em Alagoas também passa pela ação da violência. Traficantes atuam nas escolas, utilizando-se de alunos para serem “aviãozinho” e assim repassar as drogas para outros alunos e o temor de retaliações assusta professores e alunos. Foi o que aconteceu com os professores da Escola Estadual Geraldo Melo, localizada no bairro do Graciliano Ramos, em Maceió, que estão sendo ameaçados de morte por alunos da própria escola e traficantes da localidade. A última aula da professora de Matemática Natércia Lopes – no dia 4 de agosto – foi, segundo ela, horrível, pois um aluno a ameaçou após ser repreendido no meio da aula. “O aluno havia chegado à sala de aula com um aparelho de som, o que já é proibido, nisso ele me enfrentou dizendo que eu tinha que respeitá-lo e que eu só tinha apenas uma tarde de vida”, contou desesperada a professora. O tráfico de drogas no bairro é comandado pela facção “RBV” que pichou as portas do banheiro da escola, que é conhecido na região como ‘cracolândia’, como uma forma de demarcar território. As aulas foram suspensas e a Escola Geraldo Melo foi fechada, porém a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, assegurou à Comissão Especial de Inquérito, que estuda as causas da violência na capital pela Câmara Municipal de Maceió, que militares da Força Nacional iriam fazer a segurança da unidade de ensino. A escola foi reaberta no 10 de agosto com alguns militares revezando diariamente nos três tur-

nos de aula. Não é apenas a Escola Geraldo Melo que é afetada diretamente com a violência. “Na Escola Rosalvo Lobo não é diferente, só não teve ameaça aos professores, mas já teve o porteiro assassinado e uma aluna baleada na porta da escola” disse Alisson da Silva. “Mas tenho um irmão que foi aliciado por traficantes e hoje é usuário de crack, dando trabalho aos meus pais e tudo começou pela porta da escola. A escola deveria ser um local onde deveríamos estar livres deste tipo de coisa, só que não é assim; agora o meu irmão está um zumbi por causa da própria escola que deveria educar”, desabafou chorando Alisson, aluno da Escola Rosalvo Lobo.

“Na Escola Rosalvo Lobo não é diferente, só não teve ameaça aos professores, mas já teve o porteiro assassinado e uma aluna baleada na porta da escola”

A escola também já foi alvo de briga entre torcidas organizadas. Na ocasião foram baleados o porteiro da unidade de ensino, Janilson de Ângelo Pinto, e uma aluna de apenas 15 anos. O porteiro ainda foi socorrido e encaminhado ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos, que atingiram uma das mãos e o abdômen, morrendo dias depois. A aluna também foi socorrida, medicada e sobreviveu ao atentado. O incidente ocorreu no dia 15 de agosto de 2011, quando o acusado “Rafinha da Mancha”, pertencente à Torcida Organizada Mancha Azul, do CSA, entrou na unidade de ensino atrás de um aluno da torcida rival, Comando Vermelho, do CRB. Ao tentar impedir a entrada do aluno, que estava armado, o servidor público foi baleado. (RT)

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