Resenha Cap. 1 – As Origens do Moderno Sistema Inter Estatal in ARRIGHI, Geovani – O Longo Séc. XX dinheiro, poder e as origens do nosso tempo; São Paulo; Editora UNESP; 1996.

June 3, 2017 | Autor: I. Henrique Vieira | Categoria: Historia, Capitalismo, Geopolítica, Giovanni Arrighi, Século XX
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Ivanildo Henrique Vieira

Geografia política e Geopolítica: Território e Poder

Antropologia – Turma 2012



Resenha: Cap. 1 – As Origens do Moderno Sistema Inter Estatal in ARRIGHI,
Geovani – O Longo Séc. XX: dinheiro, poder e as origens do nosso tempo; São
Paulo; Editora UNESP; 1996.

O autor inicia o capitulo afirmando que o moderno sistema interestatal
estaria baseada na oposição constante entre as lógicas capitalista e
territorialista do poder, bem como a recorrente resolução de suas
contradições através da reorganização do espaço político-econômico mundial
pelo principal Estado capitalista de cada época.
Ainda segundo a argumentação de Arrighi, as lógicas de apropriação do
território capitalista versus a territorialista são muito anteriores ao
surgimento propriamente e um sistema pan-estatal europeu no séc XVII, mas
as bases de sua formação remetem a formação de um subsistema regional de
cidades-estados no norte da Itália estando esse submetido ao sistema
medieval de governança.

A partir da decaída do sistema de governo medieval por obsolescência, o
enclave capitalista da Itália organizou-se, especialmente as cidade de
Veneza, Florença, Genova e Milão. Essas ´´quatro grandes´´ como chamam
alguns autores, criaram sistemas jurídicos separados e independentes,
unidas pelo princípio do equilíbrio de poder e por densas e vastas sedes
diplomáticas permanentes.

Com anterioridade de dois séculos, essas cidades-estados italianas se
adiantaram ao moderno sistema interestatal, criando, especialmente em
Veneza, um sistema essencialmente capitalista de controle do Estado e da
guerra, fazendo do Estado e da diplomacia aquilo que Marx vai a denominar
posteriormente no Manifesto do Partido Comunista como o "balcão de negócios
da Burguesia do Séc. XV".

O equilíbrio de poder ficava garantido através de uma ´´divisão´´ do poder
político-econômico entre o Papa, o Imperador e os Estados Emergentes. Para
o autor, o Estado deveria saber manipular o equilíbrio de poder de modo a
beneficiar-se com estes movimentos, para tanto os governantes capitalistas
desenvolvem e assumem liderança de vastas redes de diplomacia com sedes
permanentes.

Além disso, o controle monopolístico de informações que poderiam
influenciar no processo decisório de outros governantes através da
diplomacia, dava poderes a oligarquia mercantil governante de manipular o
aparato bélico e as guerras. Criam-se relações de assalariamento de
soldados e mercenários, onde buscava-se através da "profissionalização" (e
consequente pago de salário) dos soldados, que a guerra se ´´auto financia-
se´´, uma espécie de keynesianismo militar. Para Lane (1979), a partir de
então, se engendra a indústria de produção da proteção.

Neste momento as cidades-estados italianas percebem que a melhor forma de
vencer uma guerra é, sempre que possível não participar dela, mas sim fazer
seus concorrentes guerrearem entre si e, quando não há outra alternativa a
não ser tomar parte nos embates, investir o mínimo possível e tentar mantê-
la longe de seus territórios. Uma guerra sempre dispende demasiada riqueza,
que dificilmente será recuperada facilmente, portanto é mais interessante a
um governante possuir pouco território e muito capital, do que muito
território e nenhum capital.

Há que deixar claro, que essa oligarquia mercantil italiana não estava
interessada e provavelmente nem conseguiria (caso se propusesse) mudar o
´´sistema-mundo´´ do modo de governo do período medieval. Haveriam de
passar dois séculos, de 1450 até 1650, para que essa configuração muda-se.
Na luta para protagonizar o domínio dos Estados Emergentes na Europa,
acabando por retirar das cidades-estados italianas a sua hegemonia sob o
continente europeu.

Com novas tecnologias de guerra (os tercios espanhóis, exércitos
profissionais permanentes, canhões móveis que permitiam mais agilidade e
destreza em caso de cerco, novas fortificações), tentam a todo custo tomar
o caminho das Índias da Itália. Portugal obtém êxito, conseguindo trazer
mercadorias do Oriente, já Espanha acaba fracassando, mas acaba topando com
a América, que se revelaria uma fonte quase que infindável de riquezas e
capital, porém também, e não menos importante, imensa quantidade de
territórios que precisa ser gerida.

Espanha toma a dianteira do continente europeu, onde acaba sendo
protagonista, tanto de lutas intereuropeias como de lutas extra-europeias e
caí naquilo que Arrighi chama "círculo virtuoso-vicioso" onde a Coroa
Espanhola trava guerras fora da Europa para usar a riqueza arrecada em
guerras dentro da Europa. Isso seria um dos elementos que contribuiria para
a derrocada da Espanha como potência emergente, além do fato de que essa
usava o poder econômico que conseguia angariar para tentar salvar o que
havia do já ultrapassado sistema feudal – Papa e Reis.

Ao mesmo tempo nascem os Estados Dinásticos (Francês, Inglês e Sueco), que
juntos não poderiam ser subjugados pela Espanha, acabam criando o caos
político-institucional e permitindo a ascensão holandesa como potência
político-econômica que vem a pôr fim no sistema de governo medieval.

Marc Bloch (1985) nos diz que as revoltas camponesas eram tão comum na
Europa no início da Idade Moderna, quanto são hoje as greves nas fábricas.
Outros dados apontam ainda que de 1550 à 1640 o número total de soldados na
Europa mais do que duplicou, sendo que o cada soldado custava cinco vezes
mais do que custava no início.

Para Arrighi várias são as causas que levaram ao surgimento do moderno
sistema interestatal citando ao fim por exemplo: o poder e a riqueza das
redes comerciais e financeiras do fim da Idade Média, os choques de
interesse dos governantes e dos mercadores do medievo além das claras
diferenças de habilidades de gestão da oligarquia decadente e da nova
classe dominante baseada no poderio mercantil.
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