Resenha - Capítulo I - História e crítica da ideia do descobrimento da América (Portuguese)

May 26, 2017 | Autor: Pedro Augusto Gomes | Categoria: History, American History, American Studies, Historia, Latin America, História, América Latina, História, América Latina
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Graduação: História MBA2
Matéria: História da América Colonial Espanhola
Professor: Fernando Torres-Londoño
Aluno: Pedro Augusto Menna Barreto M. Gomes







RESENHA – A INVENÇÃO DA AMÉRICA

O'GORMAN, Edmundo. A Invenção da América. Editora UNESP, 1992. Primeira, Terceira e Quarta Partes. – pp. 25-68 e pp. 156-207.




O autor começa a primeira parte de seu livro já lançando a dúvida sobre a palavra descoberta da América.

O'Gorman justifica como ele mesmo nos escreve, seu ceticismo nos reapresentando a tese da descoberta, a chegada de Colombo em 12 de Outubro de 1492. A dúvida do autor se dá por conta se a questão do descobrimento deveria continuar sendo entendida da forma que é, e nos oferece seu ponto de vista explicando o por que da sua teoria, justificando seu direito como cientista de ter o benefício da dúvida.

É interessante notar nesta parte como o autor comenta sobre a posição de alguns em querer ferir, como ele mesmo cita, os "interesses e prestígios de Colombo" (O'Gorman, 1992, p29), ao comentar sobre a lenda do piloto anônimo. Lenda esta trazida pelo padre Bartolomeu de las Casas que segundo suas informações, primitivos colonos da ilha Espanhola, onde hoje é o Haiti, que recebeu seus primeiros habitantes em 1494, onde destes, alguns acompanharam Colombo em sua primeira viagem, e tinham absoluta certeza de que o mesmo queria atravessar o Atlântico apenas com o intuito de apresentar o que o autor chama de terras desconhecidas. Informação de tais terras provindas de um piloto que teve sua embarcação atirada contra à praia depois de uma grande tempestade. O'Gorman dá dois argumentos sobre o entendimento da lenda, sua difícil compreensão, de como ela surgiu e porque foi aceita. O ponto aqui é que de todas as especulações apresentadas fica óbvio que o grande descobridor da América seria de fato o próprio piloto anônimo, afinal foi ele quem achou tais terras desconhecidas.

O autor passa para o mais antigo texto sobre como Colombo deu o ar da graça como descobridor da América, texto este conhecido como Sumario de la natual historia de las Indias, de Gonzalo Fernández de Oviedo. O'Gorman afirma que o livro de Oviedo foi publicado 30 anos depois do aparecimento da lenda do piloto anônimo. Ele aqui descreve o livro como pequeno e que seu conteúdo foi escrito de forma a agradar o imperador Dom Carlos, sobre a natureza da América. Dando continuidade a esta parte, o autor afirma que Oviedo escreve convicto de que Colombo descobriu parte das Índias, partes estas separadas do continente. O'Gorman expõe melhor sua teoria nos explicando que: ora, o piloto anônimo encontrou terras mas não sabia de quais terras se tratavam, Colombo tinha conhecimento das terras a oeste e navegou até estas as quais descobriu. Então, caberia a quem o título de descobridor? Ao piloto que encontrou as terras de forma acidental ou a Colombo que tinha noção destas?

Dado o exemplo de O'Gorman anteriormente, cabe agora "atribuir a fama de tal extraordinário feito" (O'Gorman, 1992, p34), fosse ao piloto anônimo ou a Cristóvão Colombo. Três teorias são apresentadas aqui, duas segundo O'Gorman insuficientes e uma terceira que poderia ter a solução.

Apresentarei aqui de forma resumida as teses e seus autores.

Tentativa de Oviedo em Historia natural y general de las Indias.
Explicação do descobrimento da América insatisfatória pois o relato do piloto anônimo é duvidoso. Colombo é quem leva o crédito por descobrir as Índias (América).
Independente da informação do piloto, Colombo sabia das terras e as revelou.
Colombo estava munido de conhecimento de tais terras através de fontes e do relato do piloto anônimo.
Tentativa de Gómara em Historia general de las Indias.
Explicação satisfatória, pois o relato piloto é verdadeiro.
Interessante pensar em Colombo duvidando da existência de terras depois de pesquisas em antigas fontes literárias.
Colombo é o segundo descobridor.
Tentativa de Fernando Colombo em Vida de almirante.
Ninguém antes de Colombo sabia da existência de tais terras.
Colombo tinha a ideia de que a oeste havia terras a serem encontradas.
Por ser um homem culto e erudito, tornou a hipótese de terras a oeste real de forma científica.
Colombo é o descobridor indiscutível da América.
Colombo sabia que não havia chegado à Ásia e, por saber não o quão próximas estas terras estavam da Índia original, chamou-as de Índias.
Fernando Colombo oculta as opiniões sobre seu pai pois ele sabia delas.

Sobre as duas primeiras teses que se opõe em argumentos, O'Gorman cita que a única hipótese cabível seria juntar ambas em uma só separando os acertos e evitando seus erros, mantendo a ideia de que as terras tinham a sua existência ignorada mas que Colombo sabia delas. A terceira tese encontra uma solução, ainda que para isso, as opiniões sobre Colombo deveriam se manter ocultas.

Dentro do texto de O'Gorman, para Bartolomeu de Las Casas em sua tese Historia de las Indias, o descobrimento da América é de caráter divino, Deus preparou e mandou Colombo para esta missão. Para o próprio Las Casas o descobrimento está ligado diretamente à religião, mais ainda ao citar a humanidade que vive nas Américas que precisam do contato com a luz de Deus. Ainda para Las Casas, Colombo foi inspirado no que ele chamou de façanha divina utilizando de mitos como o da Atlântida, Sêneca, a própria teoria do "piloto anônimo" e as Hespérides de Oviedo. Las Casas detinha documentos de Colombo e cita que a motivação da viagem do almirante realmente tem a ver com a Ásia. Colombo realmente teria de cumprir com a sua missão divina antes de quaisquer que fossem suas intenções pessoais. Para Deus pouco importava quais fossem os motivos, o importante era ligar o mundo e que seus seguidores pregassem àqueles que ainda não tinham sido tocados pela palavras Dele. Por fim, para Las Casas independente de Colombo ter descoberto a América como mencionado anteriormente, por quaisquer que fossem os motivos, o plano era levar Deus e o cristianismo a todas as partes do globo.

Tal tese não acrescenta nenhuma novidade tal como O'Gorman escreve, no "processo que estamos reconstruindo". (O'Gorman, 1992, p41).

Até aqui, parece haver alguma verdade sobre os motivos da viagem de 1492, fica cada vez mais claro a questão de que a viagem foi preparada com o intuito de alcançar a Ásia pelo ocidente, ao contrário da ideia de que Colombo queria descobrir terras ainda ignoradas. Então segundo O'Gorman, como resolver a questão de que Colombo descobriu a América?

Mais uma vez apresentarei aqui de forma resumida as teses e seus autores.

Herrera em Las décadas.
Colombo tinha consciência de que as Índias (América) estavam lá, graças à hipóteses científicas e a viagem de 1492 que seria para provar essa hipótese em si.
Colombo se convence de ter chegado na Ásia e não comprova sua hipótese.
Depois de errar na segunda e na terceira exploração, Colombo tem notícia do Mar do Sul, o Pacífico.
Com isso, finalmente o almirante consegue comprovar a sua hipótese.
Beaumont em Aparato.
Dois objetivos: descobrir um continente desconhecido e chegar à Ásia.
Tal como Herrera, aqui é dito que Colombo também acredita estar na Ásia, mas na terceira exploração ele alcança o continente desconhecido.
Colombo descobre a América e comprova sua hipótese.
Robertson em The history of america.
A Europa deseja abrir um canal direto com o Oriente, é aí que entra a viagem de Colombo. Não tem a ver com a religião mas com a ciência.
Navegando para o ocidente, Colombo cedo ou tarde encontraria terra, ainda que tenha se baseado na ciência de que encontraria um continente.
Aqui Robertson afirma que Colombo está decidido a provar sua teoria de encontrar um continente antes mesmo de alcançar a Ásia.
Colombo tem certeza de que chegou à Ásia e batiza tais terras como Índias. Na terceira viagem ele sabe que finalmente descobriu o continente.

Para O'Gorman, uma crise sobre a questão da descoberta da América se aproxima cada vez mais quando Martin Fernandez de Navarrete, apresenta uma coleção de documentos sobre as viagens de Colombo, afirmando que o almirante havia planejado alcançar a Ásia.

Temos mais teses aqui apresentadas de forma resumida tais quais seus autores.

Navarrete em Colección.
A ideia básica assim como disse Robertson era ligar a Europa com a Ásia.
Porém o projeto de Colombo era apenas este.
Não há a questão da hipótese da massa continental aqui.
Colombo acreditava que as terras por ele exploradas faziam parte da Ásia e, acidentalmente encontrou a América.
Irving em Life and voyages of columbus.
Estabelecer uma comunicação pelo mar com a Ásia.
Estudando a tese de Fernando Colombo, Irving diz que Colombo tinha ideia de terras no ocidente que ainda não teriam sido encontradas.
Mas Irving insiste em dizer que objetivo da viagem ainda era asiático.
Colombo estava convicto de que explorava a Ásia.
Dessa forma ele descobre a América.
Irving não deixa claro os seus motivos da afirmação anterior (e).
Irving volta a creditar a descoberta da América a Colombo, por ter encontrado o continente em primeiro lugar.
Depois de citar a internacionalidade na viagem de Colombo, Irving afirma que a América realmente foi descoberta.
Humboldt em Cosmos.
Humboldt também credita a viagem de Colombo com a ideia da conexão entre o continente europeu e o asiático.
Para ele está claro que a descoberta aconteceu com base na ciência.
Não por interferência divina, mas pelo próprio homem mesmo.
Humboldt aqui explica a questão pelo ponto de vista teológico, algo que "transcende o sentido que tem". (O'Gorman, 1992, p50).
Depois de comparar com as expedições normandas do século XI, Humboldt cita o fato de acreditar que Colombo realmente andou por terras asiáticas.
Aqui temos pela primeira vez alguém que menciona a chegada dos normandos à América antes de 1492, o que faria de Colombo um redescobridor do continente americano.
Então Humboldt parece desmerecer a chegada dos normandos à América citando que sua embarcação alcançou terras americanas depois de uma tempestade. Sorte cita ele, algo não intencional. Ao passo que Colombo, sabia o que queria e para onde ir.
Aqui Colombo foi uma peça chave para a história, segundo Humboldt.
Todas as considerações levantadas anteriormente cravam a exclusão do título de descobridores da América dos normandos. Ainda ficamos com a dúvida do real papel de Colombo na descoberta.
A base da questão do homem em busca de seu destino histórico está ligado diretamente ao progresso dos chamados conhecimentos científicos.
Humboldt afirma que Colombo é o descobridor da América.
Por fim, fazendo mais uma vez uma comparação entre Colombo e os normandos.

De todos os autores já descritos até o momento, O'Gorman apresenta um último texto em que o senso comum é unânime quando diz que Colombo descobriu a América em 1492.

Morison em Admiral of the ocean sea.
Mais uma vez o desejo de estabelecer uma ponte marítima entre Europa e Ásia aparece aqui.
Para Morison, Colombo queria seguir à oeste, uma ideia nada nova porém viável.
Morison está focado nos pontos em que Colombo passou na América.
E ainda, Colombo estaria convencido de que chegou à Ásia em 1492.
Para Morison, Colombo realmente foi o descobridor da América.
Colombo descobre a América sem querer, acidentalmente.

O'Gorman então analisa três dos itens mencionados acima. O autor comenta sobre o encontro de Colombo com um continente desconhecido até então. Algo que para ele é admissível, mas a tese não se sustenta. Comenta sobre o continente achado por Colombo era desconhecido. Ainda é admissível para O'Gorman, mas outra tese que também não se sustenta. E também, O'Gorman cita mais uma vez a questão do continente ser desconhecido. O'Gorman menciona sobre as dificuldades e as contradições destas teses e nos dá seu ponto de vista sobre a intenção real da viagem de Colombo.

O autor diz que o descobrimento da América seria um processo interpretativo que, "ao esgotar sua três únicas possibilidades lógicas, finalmente desemboca no absurdo". (O'Gorman, 1992, p60). Para O'Gorman seus pensamentos ficarão incompletos por conta de três pontos fundamentais. Em primeiro a América foi descoberta, em segundo as verdadeiras intensões de Colombo e em terceiro lugar, como o continente poderia por si mesmo, querer se mostrar ao resto mundo.

Então, finalmente temos a resposta para a pergunta sobre a descoberta da América. Para O'Gorman, tudo o que ele apresentou sobre outros autores não é suficiente, pois para ele, é apenas uma interpretação do óbvio. A América já estava lá.

O'Gorman menciona sobre a carta de Colombo que fortalece a sua crença de que realmente está na Ásia e, nos apresenta um mapa desenhado por Bartolomeu Colombo que serve como um testemunho cartográfico da ideia do almirante. Vespúcio envia uma carta com as suas próprias anotações e estudos, dentre estas, latitude, longitude, os astros e as constelações aonde afirma que a terra nova tem proporções continentais. Como o senso comum era de que nada havia no hemisfério sul e de que ninguém conhecia tais terras, Vespúcio as chama de novo mundo. Vespúcio defende seu novo mundo por afirmar que estas terras são habitadas.

O autor nos apresenta as duas teorias formadas primeiro por Colombo e depois por Vespúcio. Colombo acredita ter encontrado um novo mundo mas depois da sua quarta viagem este está ciente de que a terra encontrada faz parte do continente asiático como vimos anteriormente. Em contra partida, Vespúcio primeiro acha ter chegado à Ásia mas depois de analisar essa nova massa de terra, garante que estas não fazem parte do continente asiático, mas são parte de um novo mundo.

Uma outra hipótese de Vespúcio é apresentada e O'Gorman nos apresenta os mapas de Contarini (1506) e Ruyseh (1507 ou 1508). Outro mapa mostra a teoria das duas ilhas que Vespúcio havia também considerado.

O'Gorman então traz para nós leitores a Lettera de 1504, uma carta que coloca as novas terras como parte da Ásia e que em nenhum momento refere-se à elas como um novo mundo. O autor então escreve um pedaço da carta de Vespúcio a qual refere-se às terras achadas, sua flora, fauna, dados geográficos sem a preocupação de identificar suas regiões e também seus habitantes.

Temos ao final da terceira parte do livro, a conclusão de O'Gorman sobre seu estudo sobre a invenção da América, como ela apareceu na história através de um processo ideológico "através de uma série de tentativas e hipóteses". (O'Gorman, 1992, p178).

Na quarta parte da obra, O'Gorman faz uma reflexão sobre a questão da invenção da América. Como a América mudou a geografia do mundo renascentista e principalmente a visão do homem que vivia nessa época. A América não estava à altura da Europa, Ásia e África naquele momento, muito por conta da geografia da própria América que ainda era considerada uma ilha.

Depois temos a definição da América como continente por conta da sua extensão territorial o que coloca estas terras no mesmo patamar dos demais continentes do mundo, ainda que não sejam parecidos em tamanhos e formas. Temos uma semelhança entre estes continentes, não pela sua geografia mas pela sua natureza como O'Gorman nos diz.

O'Gorman volta a tempos remotos contando um pouco da história da Europa, África e Ásia e seu papel na história dos primórdios da humanidade. Monta uma hierarquia encabeçada pela Europa obviamente, principalmente depois que o Cristianismo se espalhou pelo continente europeu. Como nos diz O'Gorman, "A Europa, sede da cultura e reduto da Cristandade, assumia a representação do destino imanente e transcendental da humanidade, sendo a história europeia o único devir humano dotado de autêntico significado." (O'Gorman, 1992, p195).

Finalmente temos a questão presente dos indígenas na América, a questão de serem bestiais, com crenças pagãs e costumes demoníacos. O'Gorman fala rapidamente da questão enquanto prossegue para o final da quarta parte do livro aonde nos conta sobre a evolução dentro da linha da história do continente americano. O autor ainda cita novamente a questão entre novo e velho mundo agora com o ponto de vista do homem europeu que, via a América como um continente ainda sem a presença divina. Logicamente, temos aqui a inserção de novas terras dentro da esfera que é o nosso mundo, as quais também atribuímos o adjetivo e palavra tantas vezes mencionado(a) ao longo desta resenha, novo.

O'Gorman não coloca um ponto final em sua obra. A América teve um papel histórico particular e o próprio autor nos apresenta as fases do processo colonialrma que e terra nova tem proporçde e os astros e afirma que e terra nova tem propor do continente. A diferença entre crenças e costumes, questões políticas e econômicas. A ideia dos europeus em trazer para o meio de vida americano o seu próprio sistema de vida europeu. Conflitos que certamente apareceram e o sofrimento em larga escala da população indígena com a discriminação, a intolerância e principalmente a mortalidade indígena por conta do descaso dos europeus.

Frederick Jackson Turner, historiador diz que "atribuíam àquele conceito; tanto foi assim que, mesmo na dominação do meio ambiente natural, não houve uma ação generalizada de reforma das regiões inóspitas, desérticas ou selvagens, mas de exploração das que pareciam predestinadas ao cultivo e à habitação do homem." (O'Gorman, 1992, p202).

Joseph de Acosta, padre jesuíta diz que: "querer enmendar las obras que el Hacedor, com sumo acuerdo y providencia, ordenó en la fábrica del universo." (O'Gorman, 1992, p202).

Uma segunda nova Europa como diz O'Gorman com a exploração das terras, hierarquia social e títulos nobiliárquicos, desenvolvimento do pensamento moderno sempre colocando os povos indígenas à margem da sociedade. Uma cultura que hoje é a imagem da cultura europeia. O'Gorman finaliza esta quarta parte dizendo que "assim como o processo inventivo do ser corporal da América colocou em crise o arcaico conceito insular do mundo geográfico, assim também o processo da realização do ser espiritual da América colocou em crise o velho conceito do mundo histórico, como privativo do devir europeu." (O'Gorman, 1992, p206).










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