Resenha combinada Anos 60 e livro Ponto Final

July 25, 2017 | Autor: Augusto Armondes | Categoria: Music History, História da Música
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Resenha Combinada de "Ponto Final: crônicas sobre os anos 60 e suas desilusões", de Mikal Gilmore.

Augusto César Pereira Armondes

O livro de Gilmore é um apanhado de artigos sobre grandes figuras dos anos 60, nas artes e na música. Essa resenha trata da introdução do autor e dos artigos sobre Allen Ginsberg e sobre o álbum Sgt. Peppers, dos Beatles. Veremos como a contracultura, aliada ao uso de drogas e a expansão das fronteiras sociais criaram um forte movimento cultural e social próspero, mas que na realidade não passou de um lampejo.
Após o término da segunda guerra, principalmente nos EUA, o governo e a mídia criaram uma sensação de estabilidade social. O famoso "amercian way of life", com suas famílias cristãs, sempre sorridentes dentro de uma sociedade tradicional, foi largamente imposta. Mas haviam as pessoas que não concordavam com esse estilo de vida, que gostavam de viver nas incertezas da vida, de explorar seus limites. É nesse momento que temos a contracultura, um importante movimento que agregou vários artistas que influenciaram significativamente a geração que estava por vir.
O uso de drogas, como o álcool, maconha e lsd, se tornou comum para essas pessoas que queriam explorar seus limites, abrir sua mente de acordo com essa nova proposta de comportamento. Essas substâncias alucinógenas acabaram sendo o grande catalizador para as produções literárias e musicais que modificariam a história. A libertinagem, a vida desapegada, o homossexualismo, a liberdade eram o norte que guiava essa contracultura. Ironicamente, sem o uso do ácido psicodélico e do álcool muita coisa não teria ocorrido, mas foi justamente o excesso um dos motivos que não deixaram essa nova onda ultrapassar o início dos anos 70.
Nesse contexto surgiram os beats, ou beatniks, sendo escritores, músicos, artistas plásticos, etc., que procuravam se desvencilhar desse ideário da vida, expressando essas novas ideias estéticas nas suas artes e no modo como levavam a vida. Entre os escritores que, por terem influenciado de forma contundente outros artistas, podemos destacar Willian Burroughs, Jack Kerouac e principalmente Allen Ginsberg, sobre o qual temos um artigo inteiro no livro. Ginsberg escreveu O Uivo, um marco na literatura beat. Juntamente com Elvis Presley e sua dança, os dois se caracterizavam como a libido, a liberdade americana.
Ginsberg cresceu num lar descontrolado, fruto da loucura da mãe. Desde jovem já se descobriu homossexual, e nunca se encaixou no estilo de vida esperado pela sociedade. Na faculdade de literatura conheceu os grandes amigos, a pouco citados, com os quais constituíram as principais referências do movimento beat. Todos loucos, drogados, vagando pelas noites nos cantos mais obscuros da cidade, na busca de aventuras. Tiveram casos amorosos entre si. Um estilo de vida, no mínimo, arriscado.
Assim como o estilo de vida, procuravam novas estéticas para a literatura, algo que estivesse de acordo com seus anseios de escritores. Se espelharam muito no jazz, com seus improvisos e sonoridades. Organizaram vários saraus para que pudessem divulgar suas obras. Em um desses eventos Ginsberg apresentou o que seria uma das obras mais importantes do mundo moderno, O Uivo. Esse poema foi o primeiro com maior alcance a falar dos rejeitados, dos louco e dos esquecidos e o que ocorreria com a nação. Foi corajoso a falar de temas tabu, como o homossexualismo. Porém a força que tomou mudou as coisas profundamente. A contracultura estava mais forte do que nunca.
A literatura beat influenciou vários artistas. Entre os mais notáveis estava Bob Dylan, que fez enorme sucesso e se fez ouvir o grito do movimento. Vários festivais de arte e cultura começaram a acontecer, mesmo que de forma precária. Os beatniks foram crescendo e causando desconforto, a ponto de serem chamados de ameaça a nação. Isso tudo culminou nos hippies e no Woodstook, mas antes chamou a atenção de mais gente importante.
Os Beatles já estavam cansados da rotina de viagens, de gravações, de shows, do assédio. Não havia mais a essência que os levaram a ser a banda mais famosa do mundo. Decidiram então parar de se apresentar e procuraram novas ideias, novas formas de fazer a sua música. Nesse momento já eram amigos de Dylan e Ginsberg, tinham conhecimento dos beats e suas obras, suas estéticas. Foram para estúdio e produziram uma obra prima que dividiu o mundo da música, o álbum Sgt Peppers.
Paul McCartney tomou as rédeas da produção e, apesar de no primeiro momento não se entender muito com o restante da banda e principalmente com John Lennon sobre o que eles estavam procurando fazer naquele momento, conseguiu quebrar o círculo musical ao qual estavam presos e fazer realmente alguma coisa nova, original. Mais uma vez o uso de lsd e maconha norteou os artistas nessa busca. O ácido já havia nos dado várias boas produções, com o Pink Floyd, Greatful Dead e The Doors, e mais uma vez aparece para balançar as barreiras mentais dos Beatles.
McCartney sugeriu um álter ego para que a banda se desprendesse do passado. Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band foi o nome escolhido. Paul contou de suas ideias para Lennon, mas sempre com o cuidado para não ser tão agressivo, esquisito e assim afastar os fãs. O álbum foi um grande estouro, pois era um som que a cultura de massa desejava ouvir, a exemplo do que ocorreu com Bob Dylan.
Essa explosão de novas ideias era próspera e parecia que perduraria. Mas simplesmente ela se desfez. Na década de 70 a maioria dos sonhos foram subjugados, abafados. Inspiração, genialidade, decadência, depressão, excesso de drogas, descontentamento, tudo isso contribuiu para acabar com o movimento. Certamente foi um grande aprendizado, principalmente cultural, que os anos 60 deixaram. Tanto pelo lado positivo das coisas, quanto pelo negativo.

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