Resenha Crítica de \"Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras\"

August 10, 2017 | Autor: Pedro Marques | Categoria: Epistemology, Philosophy of Science, History of Science, Resenha critica
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UFPB / CCSA / DCI 2014.1
Disciplina: Metodologia do Trabalho Científico
Professor: Edvaldo Carvalho Alves
Estudante: Pedro Cardoso Saraiva Marques
Referência: ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Edições Loyola, 2000. 223 p.
Resenha: Rubem Alves, nascido na cidade Boa Esperança em 1993 e falecido com 80 anos na cidade de Campinas, foi um educador, psicanalista, escritor e teólogo com doutorado em filosofia que chegou a lecionar na UNICAMP e que contribuiu para a elaboração da Teologia da Libertação. Ele publicou vários livros cujos gêneros variavam desde literatura infanto-juvenil a registros sobre teologia e epistemologia passando ainda por crônicas literárias, entre outros. Em seu livro Filosofia da Ciência, Rubem Alves demonstrou sua preocupação em discutir sobre como o conhecimento é elaborado, em especial o conhecimento científico, sobre o qual teceu vários questionamentos sobre sua relação com a verdade e sobre sua constituição, além de criticar a postura da comunidade científica e fazer referências a vários pensadores e cientistas de percepções diversas e conflituosas sobre o que é fazer ciência e sobre como ela pode ser feita. O livro começa abordando as definições de ciência e de senso comum traçando um paralelo entre os dois tipos e preconizando que aquela é uma consequência desta. Ora, ambos buscam a mesma a mesma coisa: uma ordem dos fatos, pois ambos partem de uma ruptura da ordem a que o homem já estava acostumado, ou seja, partem de um problema. Para o autor, a mente do homem segue-se cômoda sem racionalizar as coisas enquanto tudo se prossegue devidamente dentro do esperado até que essa tal comodidade passa por um desarranjo inesperado e indevido e, nesse momento, tenta-se reconstruir intelectualmente o modelo de como as coisas eram antes de tal problema, para identificá-lo especulativamente através de hipóteses, testar estas e, a partir das conclusões, tentar saná-lo. Na verdade, a ciência não passa de um senso comum disciplinado e especializado. Os fatos científicos apresentam à ciência um problema e, a partir daí, a ciência revida organizando-os sistemática e racionalmente em conceitos (em teoria) para depois testar tais conceitos empiricamente ao manipular os fatos e, se confirmar sua hipótese, sanar o problema – e eis aqui o processo racional de decifração da natureza. Quanto à teoria, essa organização de conceitos (que não deve se confundir com organização de fatos, por não ser constituído deles, mas por fazer juízo sobre eles), uma vez comprovada empiricamente, exprime uma regularidade de como certo recorte de objetos se manifesta a fim de tê-lo como previsível. Estabelece um modelo de ordem. E nesse ponto, o livro discute outra questão: a necessidade de um método e suas possíveis formas. O método é o que conecta as hipóteses a uma possível conclusão através do teste de sua verificabilidade. Em sentido mais restrito, uma receita de procedimentos que devem ser tomados passo a passo para a investigação de um recorte de objetos específico. E a partir dessa arte metodológica e da busca por mais objetividade na ciência (ou seja, de modo a suprimir os valores do investigador, os quais interferem em sua pesquisa), construiu-se, há séculos atrás, o método indutivo, que pretensamente sobrepunha a observação dos fatos à sua organização imaginativa. A ideia inicial era extrair respostas diretamente da natureza partindo "do visível para o invisível", porém a passagem da observação para a teoria pressupunha necessariamente um fator psicológico e um credo por parte do pesquisador, pois a observação de manifestações repetitivas por parte de um recorte lhe dava a fé que tal fenômeno aconteceria em qualquer lugar da mesma maneira e em qualquer tempo, o que anula a ideia de ser um procedimento completamente objetivo. Mas o real problema é que tal procedimento só buscava uma simples e objetiva relação de causa e efeito, não tentando explicar como tal relação se construía de fato, o que seria facilitado pelo uso da imaginação e da criatividade do cientista como o livro explica adiante. O autor coloca que a imaginação e a especulação são fundamentais para organizar os fatos mentalmente e construir assim conhecimento, tanto é que muitos cientistas chegaram a grandes teorias apenas através de ideias que lhe eram súbitas e sem o auxílio de um método prescrito. Após todo esse discurso sobre os processos que levam o homem à construção de conhecimento científico, o autor retoma a questão sobre no que o conhecimento científico difere de outros tipos de conhecimento. Ora, o objetivo da ciência é fazer juízos sobre um objeto para, nessa relação, descobrir se proposições suas sobre ele são verdadeiras. Nesse caso, poder-se-ia dizer que a ciência é o que é pela sua capacidade de ser verificada. No entanto, há um porém: não se pode ter certeza, mesmo mediante a experimentações, de que as proposições são verdadeiras. Uma justificativa a isso é o fato de que, durante todos esses séculos, teorias sempre foram descartadas e substituídas por outras. E isso não se trata de uma evolução, trata-se de percepções da realidade que um dia entraram em contradição por não serem suficientes para explicar um dado fenômeno. Portanto, nunca se pode ter certeza de que uma teoria é absolutamente correta. O autor então propõe que a ciência é o conhecimento que pode ter sua falsificabilidade testada. Mas aí uma nova questão surge: há teorias que não foram extintas. Tais teorias, ao encontrarem uma contradição, tiveram tal conflito transformado em exceção pela comunidade científica. A verdade é que os cientistas sempre tomaram uma postura ortodoxa em relação à falsificabilidade de teorias que foram historicamente consentidas com autoridade. Da mesma forma, a instituição eclesiástica perseguia, na Idade Média, cientistas com ideias subversivas ao que já havia sido consentido pelo rigor do tempo. Mas não só isso, a ortodoxia também se deve ao orgulho diante de preposições formadas e também para manter sua autoridade. Afinal de contas, "a ciência é um fato social", "é uma instituição" e está constantemente sendo pressionada por instituições de poder e por corporações. No final dessa linha explicativa, Rubem Alves acaba por não dar uma conclusão final ao que a ciência é de fato, deixando a questão de o que ela realmente é em aberto, tendo apenas explorado as formas como ela se manifestou historicamente e como continua a se manifestar atualmente. O livro termina, por fim, com uma declaração do autor, que diz que a ciência, que não consegue ter uma credencial própria, deveria ao menos refletir sobre os seus efeitos diante do mundo. Filosofia da ciência é, assim, um livro de grande importância para trazer esclarecimentos sobre como a ciência se manifesta, por mais que não possa revelar o que ela é em si mesma. Além de tais esclarecimentos, os quais são importantíssimos para pessoas que estejam se iniciando na ciência, o livro também traz desmistificações a respeito do conhecimento científico, como a sua relação íntima com o senso comum, a autoridade que lhes é atribuída mediante jogos de poder e de interesse e a falsificabilidade de suas percepções da realidade. E tais desmistificações oferecem uma formação crítica do leitor em relação ao conhecimento científico, o que o faz útil não só para quem está ingressando na comunidade científica, mas também ao público em geral o qual frequentemente não se vê na posição de questionar a comunidade. O registro tem, portanto, um importante valor pedagógico, que poderia inclusive ser explorado em sala de aula de modo a formar estudantes mais críticos no ambiente escolar.
Palavras-chave: Rubem Alves, ciência, teoria, método, método indutivo, conhecimento, problema, hipótese, verificação.





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