Resenha crítica de: SCHWARZ, Christian. O Desenvolvimento Natural da Igreja. Curitiba: Esperança, 2003.

July 14, 2017 | Autor: W. Zacarias | Categoria: Ecclesiology, Community Capacity Building, Eclesiología, Natural Church Development
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Resenha crítica de: SCHWARZ, Christian. O Desenvolvimento Natural da Igreja. Curitiba: Esperança, 2003. William Felipe Zacarias1 XVI / VI / MMXV

INTRODUÇÃO Christian Schwarz é tanto exímio escritor como teólogo. Sua linguagem e seus exemplos são altamente didáticos. Após um extenso trabalho de pesquisa bem elaborada, torna-se notável a capacidade do autor de resumir enormes resultados em pequenas porções de páginas. Um trabalho de pesquisa como esse requereria vários volumes de livros, mas Schwarz os resume muito bem.

TESE

A tese do autor é que o crescimento de uma igreja não pode ser determinado pela quantidade de pessoas que participam de uma comunidade cristã, mas pela sua qualidade. Na visão de Schwarz, a qualidade produz automaticamente a quantidade. O foco não deve estar no número de pessoas, mas no que cativa as pessoas. Por isso Schwarz contrapõe demasiadamente o modelo tecnocrático de edificação de comunidade: é um modelo frio e sem efeitos ao longo prazo que inicia naquilo que o ser humano pecador faz. Contudo o desenvolvimento natural, proposto pelo autor, é baseado na natureza criada por Deus que cresce e se desenvolve espontaneamente. É o próprio Deus que age na Igreja dando o seu crescimento usando pecadores e agindo apesar deles. O subtítulo do livro concede uma boa ideia da indignação de Schwarz: “Guia prático para cristãos e igrejas que se decepcionaram com receitas mirabolantes de crescimento.” O termo “mirabolante” aponta para métodos extraordinários que cativam leitores e igrejas, mas, que são extremamente utópicos em suas propostas por tomarem como sujeito ativo o próprio ser humano pecador e não Deus.

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Estudante do 7º Semestre no Curso de Bacharelado em Teologia da Faculdade Luterana de Teologia em São Bento do Sul/SC. E-mail: [email protected].

ESTRUTURA

A estrutura do livro é bem simples. Contudo, há de se fazer (com modesta opinião) algumas críticas a ela. Assim o livro se subdivide: Parte 1: Oito marcas de qualidade; Parte 2: O fator mínimo. Parte 3: Seis forças de crescimento; Parte 4: Um novo paradigma; e Parte 5: A espiral de crescimento. O caminho inicia com a proposta (Parte 1) e somente na segunda metade do livro aparecem os reais problemas das comunidades e de propostas “mirabolantes” de crescimento (Parte 4). Neste sentido, seria melhor realocar a Parte 4 como Parte 1, pois esta é a fundamentação teológica do desenvolvimento natural da Igreja que aponta os perigos que uma comunidade corre ao pender demasiadamente à direita (monismo) ou à esquerda (dualismo). Este paradoxo poderia ser a Parte 1 do livro. Em seguida, viriam, então, a Parte 2: As oito marcas de qualidade, Parte 3: O fator mínimo, Parte 4: Seis forças de crescimento e Parte 5: A espiral de crescimento. Nesta ordem, parte-se da fundamentação para a aplicação, da teologia sistemática para a teologia prática. Schleiermacher é quem coloca a Teologia Prática como coroa da Teologia. Com esta nova estruturação organizacional, a Teologia Prática estaria exatamente como previu Schleiermacher. Sente-se que a fundamentação como Parte 4 está um tanto perdida dentro do livro, i. é, fora da lógica. Entende-se que provavelmente Schwarz não quis assustar seu leitor com conteúdo demasiadamente teológico já na primeira página do livro. Contudo, em minha opinião, a estrutura, por causa das explicações dadas acima, deveria ser revista.

CONTEÚDO

As partes, como estão dispostas, apresentam o passo a passo teórico e prático de uma comunidade que se desenvolve naturalmente. Vale destacar que as frases contidas no canto superior esquerdo no início de cada passo demonstram a imensa sabedoria do autor. São frases deveras impactantes. Na introdução, o autor afirma que boa parte da literatura sobre edificação de comunidade traz receitas simples que falham na prática. Schwarz identifica o problema: este crescimento parte da própria força humana. Ao invés de usarmos o ferramental concedido por Deus, procuramos empurrar o carro com a limitada e frágil força do ser humano pó pecador. Esta força Schwarz denomina de “forma tecnocrática”. O Desenvolvimento natural da igreja é, por isso, uma proposta que não se baseia somente nos frutos, mas que enxerga a integralidade da árvore como, por exemplo, suas raízes.

A criação de Deus possui muito a nos ensinar. O próprio Jesus usava exemplos da natureza em suas parábolas. Há algo que na Biologia se denomina de “potência natural” que significa “reprodução”. A nossa tarefa não é produzir o crescimento da igreja, mas libertar o potencial natural que Deus já colocou nela. O próprio Deus concede o crescimento da Igreja (1 Co 3.6). Mc 4.26-29 apresenta o termo grego automate que significa “por si mesmo”. Para os judeus, a automate provinha de Deus, sendo, portanto, uma Teomatia. Deus edifica a sua Igreja como edificou a natureza que criou. Ele dá à Igreja o mesmo que deu à natureza: crescimento natural. As fontes da proposta estão em: 1) Pesquisas empíricas; 2) Observação da criação de Deus; e 3) Bíblia. Schwarz faz questão de destacar que ao aparecer um conceito que contradiga às Escrituras, como cristãos temos a obrigação de o negar, ainda que seja acompanhado de muito sucesso. A Escritura é o ponto de partida e também aquela que avalia a proposta. Diante de outros modelos “mirabolantes” de crescimento, o desenvolvimento natural diferencia-se de outros métodos. 1) Ele se coloca contra o procedimento somente pragmático e pouco teológico onde o fim justifica o meio. O desenvolvimento natural é orientado de acordo com princípios; 2) O ponto de partida não é a quantidade, mas a qualidade; 3) Não quer produzir, mas liberar os processos automáticos de crescimento com que Deus mesmo constrói a sua Eclesia; 4) Está distante de uma proposta cartesiana newtoniana de causa e efeito. Na Parte 1 o autor propõe marcas qualitativas. É daqui que parte a pesquisa. Schwarz afirma que receitas como “façam como nós e terão o mesmo sucesso” não é algo que pode ser aplicado indiscriminadamente em todo e qualquer contexto. Esso é um método receitativo e é por si mesmo falho. O real problema é que alguns modelos têm reivindicado validade universal, enquanto muitos princípios, que podem ser demonstrados com validez universal, são alocados erroneamente como “um entre muitos modelos”. O princípio têm uma aplicação para cada caso, enquanto o modelo é uma imitação igrejeira descontextual. Igrejas de 32 países participaram do projeto de pesquisa. A pergunta geral foi: “quais são os princípios de crescimento de igreja válidos independentemente de cultura, direção teológica ou denominacional?” Aliás, o crescimento é o melhor critério? Schwarz afirma que não, pois nem toda igreja que cresce é uma igreja necessariamente sadia. Schwarz possui vários gráficos que colaboram didaticamente na absorção de sua tese. Existem quatro grupos distintos de igreja: com alta qualidade e crescimento (13%), com alta qualidade e decrescimento (2%), com baixa qualidade e crescimento (5%) e com baixa qualidade e decrescimento (7%).

O autor demonstra sua indignação com literaturas que planejam o crescimento da igreja muito mais voltadas a coisas do que às pessoas. Grande parte destes autores se baseiam somente em “megaigrejas”. Por isso, Schwarz motiva uma capacitação de pessoas. Por isso, a Marca 1 é a liderança capacitadora. O gráfico da p. 23 é deveras curioso: 85% dos pastores que concluíram o estudo teológico estão em igrejas com baixa qualidade e que decrescem. É um resultado assustador mas esperançoso: pastores “teologicamente” capacitados estão em comunidades decrescentes, mas os mesmos por terem recebido a devida capacitação podem, ainda, colaborar para o crescimento da comunidade. A Marca 2 são os dons. Deus mesmo determinou quais cristãos vão efetuar melhor determinado ministério. Schwarz pergunta: como um programa pode ser transformado em realidade se os cristãos nem mesmo sabem em que área Deus os capacitou e chamou? Por isso, é fundamental descobrir os dons da comunidade. A Marca 3 é a espiritualidade contagiante. Em Igrejas com tendências legalistas, há de se notar que a paixão espiritual está abaixo da média. O que é determinante aqui é se os membros de uma comunidade cristã vivem a sua fé com dedicação, paixão, fogo e entusiasmo. Algo a ser destacado é a vida de oração da comunidade. Um gráfico na p. 26 mostra que 71% das pessoas que têm uma vida de oração estão em igrejas com qualidade alta e crescendo. Para Schwarz, isso significa que somente ter a doutrina correta por si só não garante o crescimento da igreja, pois ela dificilmente pode esperar crescimento se não aprender a viver e a transmitir a outros a sua fé com entusiasmo contagiante. Schwarz enfatiza que a fé é o encontro real com Jesus Cristo. A Marca 4 são as estruturas funcionais. O autor afirma que Deus sopra o seu Espírito em um monte de terra amorfa e ali nasce a vida. Neste caso, líderes não existem tão somente para liderar, mas para formar novos líderes. O gráfico da p. 29 mostra que o tradicionalismo corresponde a igrejas de baixa qualidade e decrescentes. Neste caso, há de se notar que o problema não é a tradição, mas o tradicionalismo. A primeira possui significado histórico da e para a fé. O segundo é vazio e a história foi esquecida. A Marca 5 é um culto inspirador. Schwarz quer tratar da organização do culto. Nas pesquisas, escolheram-se todas aquelas igrejas que declararam fortemente que os seus cultos eram voltados, em primeiro lugar, para os não cristãos. O gráfico da p. 30 apontou que a maior porcentagem do culto voltado para visitantes é de 4% em igrejas com qualidade alta e decrescentes. Por isso, o culto deveria ser “gostoso” e inspirador. É de notar que 80% do culto como uma experiência inspiradora está em igrejas com qualidade alta e crescendo. A Marca 6 trata da importância dos grupos familiares. Schwarz afirma que a multiplicação constante dos grupos familiares é um princípio universal do crescimento da igreja. Trata-se de um grupo holístico. Nele, não se tratam de verdades bíblicas abstratas, mas relaciona-se elas ao cotidiano. Conforme o gráfico da p. 32, 29% das igrejas com

qualidade alta e crescendo concordam que o grupo familiar é mais importante que o culto. Esta questão deve ser refletida. Na edificação das pessoas, o momento em um pequeno grupo familiar é propício para temas e assuntos que não seriam tratados no culto. A intimidade é cultivada, também para a confissão de pecados. Porém, o culto é o encontro de todos os pequenos grupos. Neste sentido, à edificação da comunidade, ainda penso que o culto é o momento mais importante de uma comunidade. Contudo, a multiplicação dos pequenos grupos é um fator imprescindível no crescimento da igreja. A Marca 7 é a evangelização orientada para as necessidades. Todo cristão possui a tarefa de investir os seus dons específicos para o cumprimento da grande comissão dada por Cristo. Evangelista é aquele a quem Deus concedeu o dom espiritual de evangelizar. É interessante esta diferenciação feita por Schwarz e concordo com ele. Todo cristão evangeliza com seus dons, mas o evangelista é espalhador do evangelho por excelência. A Marca 8 são os relacionamentos marcados pelo amor fraternal. Schwarz fala da “arte de amar”. Para ele, existe uma correspondência altíssima entre a capacidade de amar de uma igreja e o seu potencial de crescimento. Quanto tempo os membros de igreja gastam com cristãos fora das atividades da igreja? Quanto tempo se investe em uma refeição, um café, ou em elogios e risos? Dificilmente cristãos o fazem. As pessoas se encontram no culto ou nos grupos pequenos, mas nunca em suas próprias casas. Schwarz afirma que o riso na igreja tem uma correspondência significativa com a qualidade e o crescimento numérico de uma igreja. O gráfico da p. 37 aponta que 68% das igrejas com qualidade alta e crescendo riem no culto. Schwarz assevera que nenhuma das marcas de qualidade pode falhar, embora seja natural que algumas estejam melhores que outras conforme o momento. Nota-se que igrejas que crescem estão significativamente acima do valor de qualidade em todos os oito campos. Igrejas que crescem estão estatisticamente diferenciadas das igrejas que declinam, mas sempre há exceções. Contudo, apenas uma regra foge de qualquer exceção: toda igreja na qual o índice de qualidade em todas as marcas de qualidade está acima de 65 é, sem exceção, uma igreja que cresce numericamente. Schwarz afirma que esta pode ser a descoberta mais fantástica na pesquisa: igrejas que tem todos os seus valores iguais ou superiores a 65 possuem 99,4% mais chance de crescimento. Isto demonstra o ponto de partida qualitativo e não quantitativo. Aquilo que Schwarz descreve com palavras humanas imperfeitas nada mais é do que a tentativa de aplicar o princípio do desenvolvimento natural como um princípio divino. Qualidade gera crescimento numérico. Por isso alvos de crescimento numérico são inadequados. Apenas 31% das igrejas pesquisadas por Schwarz e sua equipe estabeleceram e trabalharam com alvos numéricos. Por isso devemos colocar alvos no âmbito daquilo que é possível ser feito pelo ser humano e não

no âmbito daquilo que só Deus pode fazer. O gráfico da p. 46 aponta que igrejas com mais membros possuem percentualmente menos participantes no culto. É um dado interessante. O gráfico da p. 47 aponta que igrejas pequenas crescem percentualmente mais que as grandes. A Parte 2 vai tratar do fator mínimo. Schwarz pergunta se precisa-se observar todas as marcas ao mesmo tempo. Na verdade, deve-se concentrar as forças disponíveis. As marcas de qualidade menos desenvolvidas de uma igreja são as que mais bloqueiam o seu crescimento. Ao verificar os dados de mil igrejas pesquisadas, percebeu-se que a tentativa de elevar o índice de qualidade de uma igreja têm os melhores resultados quando se trabalha prioritariamente no fator mínimo. Para explicar, Schwarz usa duas ilustrações: a figura do barril mínimo e a ilustração da agricultura. Contudo, Schwarz explica que a estratégia do fator mínimo não nos ensina, de forma alguma, que deveríamos nos concentrar sempre sobre aquilo que está mais errado na igreja. Enquanto se tratarem de elementos substituíveis, vale a regra básica de que devemos trabalhar mais nos pontos fortes do que nos preocupar somente com os pontos fracos. Nisto, Schwarz dá o exemplo do órgão e da bateria na liturgia. Diferente deve acontecer com aquilo que é vital, como com as estruturas funcionais, por exemplo. Por isso, os pontes fortes ajudam a trabalhar nos pontos fracos. Deve-se cuidar com “igrejas modelos”, pois cada caso é um caso. O que Schwarz quer é criar sensibilidade nos leitores sobre o erro de aplicar um modelo de igreja em outra indiscriminadamente. A Parte 3 traz seis princípios da natureza. Retoma-se a ideia da liberação do potencial natural que Deus já colocou na sua igreja. O autor afirma que muito do que foi publicado sobre o tema “crescimento de igreja” está mais próximo de um robô mecânico do que de um organismo vivo. Enquanto no mundo da técnica muita energia é empregada para se colocar uma máquina em movimento, na natureza isso acontece de forma completamente diferente por si mesmo (automate). O 1º Principio é a interdependência. Para Schwarz, a forma em que as partes estão integradas no todo é mais importante do que cada parte. Percebe-se uma rejeição ao método cartesiano descartiano de deparmentalizar a realidade em tantas partes quantas possíveis. Pelo contrário, na natureza e no desenvolvimento natural da igreja a influência sobre um elemento tem influência sobre o todo. É sábio olhar um fenômeno sem isolá-lo das suas relações complexas com o ambiente, e, acima de tudo, não esquecer as leis que Deus, o Criador, nos deu. O 2º Princípio é a multiplicação. Schwarz afirma que uma árvore não cresce indefinidamente, mas produz novas árvores, que, por sua vez, também vão produzir outras árvores. Aqui está a problemática da morte que é um elemento natural assim como a vida. Igrejas teriam que morrer? Na verdade, a igreja se multiplica. Assim como um organismo passa sua informação adiante pelo material genético, a igreja passa suas informações para frente

através dos pequenos grupos. Ainda que uma geração de pessoas morram em uma comunidade, a informação é passada adiante. Jesus, por exemplo, investiu a sua vida nos doze discípulos. Estes receberam a missão de fazerem novos discípulos e assim aconteceu até que esse evangelho chegou também a nós. O organismo individual morre, mas a informação genética permanece e se perpetua. O 3º Princípio é a transformação de energia. Direciona-se as energias existentes de uma igreja, por meio de movimentos leves e sutis, para o fim desejado. Isso acontece em At 17, por exemplo, onde Paulo usou a figura do ídolo chamado Deus desconhecido como “gancho” para sua preleção sobre o Deus cristão. Muitas igrejas hesitam em engajar os recém-convertidos na evangelização. O gráfico da p. 71 afirma que 55% das igrejas com qualidade alta e crescendo dão importância ao envolvimento evangelístico de novos convertidos, o que é um dado muito importante, embora que esse valor poderia ser maior. O 4º Princípio são os efeitos múltiplos que têm, em outra edição, o título de sustentabilidade. Schwarz propõe um círculo: a energia, que é empregada no desenvolvimento do projeto, também contribui para o sustento financeiro do projeto. Assim se desenvolve uma estrutura financeiramente autossustentada. O 5º Princípio é a simbiose. O termo significa “a associação de duas plantas ou de uma planta e um animal, na qual ambos os organismos recebem benefícios.” É um acordo mútuo para a sobrevivência mútua. Assim, na igreja, os diferentes dons e tipos de personalidades interagem e se estimulam mutuamente. Schwarz afirma que empresas estão descobrindo o potencial da mutualidade onde o ganho não é unilateral, mas onde ambos ganham. Schwarz afirma que Jesus já descobriu isso quase dois mil anos atrás e que ele denominou essa mutualidade de amor ao próximo. O 6º Princípio é a funcionalidade que em outra edição recebe o título de frutificação. O termo funcional é o termo preferido dos tecnocratas. Contudo, todo ser vivo da criação de Deus é caracterizado pela capacidade de produzir fruto. É isso que afirma o NT em Mt 7.16-17 e 1 Co 10.23. Útil é aquilo que edifica. Schwarz destaca que edificar, no grego, é oikodomeo. O termo grego designa um conceito arquitetônico que tem como objetivo concreto a edificação da igreja de seu Senhor Jesus Cristo. Em um quadro, na p. 78, Schwarz destaca que o segredo das oito marcas apresentadas na Parte 1 não está nos substantivos, mas nos adjetivos: liderança capacitadora, ministério orientado pelos dons, espiritualidade contagiante, estruturas eficazes, culto inspirador, grupos pequenos integrais, evangelização orientada para as necessidades e relacionamentos marcados pelo amor fraternal. Por isso, o livro de Schwarz é uma transmissão de princípios e não de receitas. Para o autor, o que importa é que o autor crie um “sexto-sentido” sobre o desenvolvimento da igreja, que podemos interpretar como sensibilidade e discernimento. Schwarz afirma ter esperança de que os seis princípios da natureza ajudem igrejas.

Na Parte 4 Schwarz fala de um novo paradigma. Ele afirma que o desenvolvimento natural é um método totalmente novo. O autor apresenta a lei da bipolaridade na criação de Deus. A bipolaridade pode ser vista igual o termo paradoxo. O polo dinâmico sempre cria uma organização. O Espírito Santo age e dá o crescimento. A igreja deve estar em equilíbrio: os polos dinâmico, o organismo e a organização estão interligados e interagindo (ver gráfico p. 84). De um lado está o Polo dinâmico e de outro lado está o Polo estático. O polo dinâmico é orgânico, cresce, é livre e é feito por si mesmo. O polo estático é técnico, constrói, tem ordem e é feito pelo homem. O que Schwarz quer ressaltar é que o Polo dinâmico produz o Polo estático e que o Polo estático estimula o Polo dinâmico. Esse é o equilíbrio, a bipolaridade, o paradoxo. O equilíbrio deve ser procurado por haverem perigos tanto no Polo dinâmico (à direita) como no Polo estático (à esquerda). A maioria dos cristãos são dualistas (Polo dinâmico) quanto aos polos e não conseguem aceitar o paradoxo. O paradigma tecnocrata acredita que se basta. É um movimento “abracadabra”. Ao invés de depositar sua confiança (fé) sobre a pessoa de Jesus, procuram-se garantias exteriores de crescimento. Já o paradigma da espiritualização comete a heresia do dualismo entre espírito e matéria como se os dois polos se excluíssem mutuamente. Para estes vale a palavra de Jo 1.14 onde o Logos se fez carne. Os espiritualistas lutam com todas as forças contra o racionalismo de causa e efeito, do “eu me basto” e da obsessão de fazer do paradigma tecnocrático. Schwarz defende que é impossível discordar desse pensamento, pois ele é o primeiro a ajudar os espiritualistas nesta luta. Esta é a bipolaridade. Na prática, isso significa equalizar qualidade com quantidade. Contudo, o crescimento numérico é justamente aquilo que não podemos produzir com os nossos esforços. Schwarz afirma que um tecnocrata deveria dizer com toda a segurança: “é possível produzir a igreja”, mas, à luz da Bíblia, ninguém tem a coragem de expressar tamanha heresia. Todavia, o pensamento não deve ser “não podemos fazer nada para o desenvolvimento da igreja – no entanto, temos de fazer algo”, mas aquilo que Paulo afirma em 1 Co 3.6: “Eu plantei, e Apolo regou a planta, mas foi Deus quem a fez crescer.” (NTLH). Schwarz conclui que não podemos produzir o crescimento numérico de uma igreja como os tecnocratas desejam fazer. Por isso, deve-se investir os esforços possíveis para que o polo institucional esteja em concordância com os princípios de Deus. Assim o polo orgânico poderá se desenvolver de maneira saudável e sem empecilhos. Esse é o fundamento do desenvolvimento natural da igreja. O pragmatismo não serve à edificação da igreja, pois nega qualquer princípio, torna o sucesso norma normans, planeja a curto prazo, é sabedoria humana que quer saber mais do que Deus, quer bons frutos sem cultivar boas árvores, além de ser oportunista. Para Schwarz,

igrejas bem sucedidas são aquelas que estão fundamentadas em princípios bíblicos bem definidos. Neste sentido, concordo plenamente com o autor. A Parte 5 é o momento de colocar em prática tudo o que foi aprendido em dez passos para a ação. Esta parte significa a implementação das 4 partes anteriores. Schwarz alerta para não nos enganarmos: a pregação dos princípios certos não desencadeia automaticamente o desenvolvimento sadio de uma igreja. Por isso, com os dez passos se quer mostrar como cada igreja pode transformar os princípios do desenvolvimento natural da igreja em um “programa feito sob medida” para cada situação. O autor alerta ainda que o livro foi escrito para pessoas e não para Deus. O Passo 1 é fortalecer a motivação espiritual. Se não orarmos, se a entrega a Jesus e o relacionamento pessoal com ele não estiverem no centro de todas as nossas atividades, todo o nosso agir se torna um ativismo infrutífero. O passo fundamental é que os cristãos sejam renovados na sua paixão por Jesus. O Passo 2 é descobrir os fatores mínimos. Isso significa descobrir o perfil da comunidade, ou seja, o perfil conforme as oito marcas. O Passo 3 é colocar objetivos qualitativos. São objetivos precisos determinados dentro de um cronograma, mensuráveis e que têm como objetivo a elevação do índice de qualidade de uma igreja. O Passo 4 é identificar os empecilhos. Isso significa ter ações concretas. É aqui que muitas igrejas fracassam. O desenvolvimento de uma igreja sempre está relacionado com pessoas de carne e osso e por isso existem experiências anteriores (feridas, medos, mecanismos de defesa, traumas) que devem ser levados em conta. O obreiro deve ter sensibilidade para isso. As pessoas possuem história e esta não pode ser ignorada. A maior parte das barreiras ao desenvolvimento natural da igreja se origina nos paradigmas falsos. Deve-se atentar para isso. O Passo 5 é pôr em prática princípios da natureza, pois ela tem uma lista de padrões. Mas deve-se cuidar com a casuística eclesial (ação e reação). Schwarz destaca que quando apresenta seus seminários os teólogos possuem mais dificuldade de trabalhar com esse tipo de reflexão do que os leigos. Talvez pelo fato dos leigos serem os mais pragmáticos e interessados no crescimento imediato de uma igreja. De outro lado, há pastores que há anos não fazem nada para que sua comunidade cresça. O Passo 6 é aproveitar os pontos fortes da igreja. Isso significa os desenvolver para serem aproveitados. Os pontos fortes fazem o progresso no desenvolvimento do fator mínimo. O autor ressalta que cada comunidade desenvolve um estilo de viver a fé. Nisto podem ser identificados os seus pontos fortes. O Passo 7 é implantar material baseado em princípios da natureza. Schwarz faz uso da imaginação perguntando se já imaginamos o que aconteceria se 60% dos membros da igreja passassem por um processo de 12 semanas para crescer, por exemplo, no amor aos outros? O autor usa a frase “membros da igreja” o que dá a entender não uma comunidade específica, mas toda a Igreja de Cristo no mundo, embora igreja inicie com letra

minúscula. Caso isso acontecesse, veríamos rolar muitas lágrimas, perdão de uns aos outros, etc. O Passo 8 é acompanhar o progresso. Isso significa estabelecer um cronograma de avaliação, por exemplo, as mudanças na comunidade em um ano. O intervalo de tempo de cada avaliação depende do fator mínimo. O Passo 9 é concentrar-se em novos fatores mínimos Novamente Schwarz ressalta a qualidade. Esse é o foco, e não a quantidade. O Passo 10 é reproduzir a vida, ou seja, se a igreja possui saúde, mais cedo ou mais tarde ela vai se reproduzir. Mas como podemos marcar esse acontecimento? Para Schwarz, no momento em que acontece o primeiro culto público estamos falando do nascimento de uma nova igreja. No Epílogo Schwarz fala do desenvolvimento da igreja na força do Espírito Santo. Aqui o autor demonstra sua humildade diante do que escreveu no livro inteiro. Para ele, quem quer edificar a igreja não pode esquecer do poder do Espírito Santo e nem ignorar os princípios de Deus. Deus capacitou a Igreja, por isso ela não age por suas próprias forças. Por isso, Schwarz termina pedindo que deixemos o Espírito Santo soprar. Ele usa uma figura onde uma carroça possui rodas redondas e uma vela, o que faz com que o vento (Espírito Santo) a empurre.

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO

Concluo que o desenvolvimento natural da igreja é um processo liberado pelo próprio Deus que chama e capacita pessoas com diversos dons. A proposta de Schwarz não é utópica nem autossuficiente, mas tem como pressuposto o agir primeiro de Deus. Levar em conta a qualidade é algo que chamou-me demasiada atenção. Investir tempo significa sair da zona de conforto e entregar-se a Deus em todo esse processo. Embora a oração seja apenas uma das marcas da Igreja, considero ela indispensável. Orar é dizer a Deus “Senhor, eu sou fraco e não posso, mas tu és forte e podes.” Orar é uma atitude humilde diante de Deus, é negar a força própria debaixo do pecado e deixar-se capacitar por Deus que é santo. Por isso, o livro é recomendado para quem sonha com o crescimento da igreja como descrito na Bíblia e designado conforme a missão dada a nós por Deus. Vale a pena ter na estante e puxá-lo vez ou outra, à luz da Bíblia, para a edificação de comunidade.

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