RESENHA CRÍTICA - SALTINI, Cláudio J. P.. AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA.2008

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RESENHA CRÍTICA SALTINI, Cláudio J. P. AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA. 5ª ed. - Rio de Janeiro: Wak Editora. 2008.

1. CREDENCIAIS DO AUTOR: Cláudio João Paulo Saltini é psicólogo e psicanalista em São Paulo. Estudou medicina na Itália e arte contemporânea com o pintor e filósofo Antonio Testa. Em Genebra, teve contato com Jean Piaget, onde tomou interesse pela educação e pela epistemologia genética e, desde então, aprofundou suas pesquisas, o que lhe confere, atualmente, o título de um dos maiores estudiosos e pesquisadores da Escola de Genebra no Brasil. É Membro-fundador e ex-presidente do Centro de Estudos do Crescimento e Desenvolvimento do Ser Humano, da Faculdade de Saúde da USP, fundador do Instituto Educacional Jean Piaget e membrofundador e presidente do Centro de Estudos e Práxis Jean Piaget. Cláudio é epistemólogo e estudioso das relações entre a afetividade e a inteligência. 2. RESUMO DA OBRA: A obra é dividida em oito capítulos e se trata de um convite ao leitor para a reflexão em torno da importância de uma educação fundada no respeito e no amor ao educando. Neste sentido, discute o que é fundamental quanto a competência e formação dos educadores para que a educação afetiva ocorra de maneira realmente efetiva no meio educacional. O primeiro capítulo fala a respeito da formação cognitiva do homem e como essa ação involuntária se procede no decorrer de sua vida. O autor afirma que nascemos sem nenhuma percepção de realidade e apresenta como o sentimento dirige a conduta de cada um no decorrer de seu caminho de aprendizagem, seja na vida pessoal ou no próprio meio escolar, sugerindo que uma das tarefas da educação é justamente promover a integração apropriada entre o crescimento cognitivo do homem em seu caminho de aprendizagem com os sentimentos pessoais que surgem no percorrer deste caminho. Saltini alerta para a necessidade de uma abordagem mais afetiva e sensível dos educadores com os alunos, chegando a afirmar que a educação não é construída apenas por meio do pensar, mas está aliada também ao perceber e comunicar-se, e estes três elementos (pensar, perceber e comunicar-se) formam assim o que ele nomeia como a "proteína mínima" para a síntese de qualquer educação. O autor explica que esses dois outros elementos de síntese da educação estão relacionados a justamente uma abordagem mais sensível e construtivista por parte dos professores e visto que o educador deve ser um incentivador de sugestões e contribuições do aprendiz, um "parteiro" de idéias. O segundo capítulo fala a respeito da importância do ato de escutar na educação. O autor condena a autoridade excessiva na educação, mostrando o quão ultrapassado se mostra este tipo de abordagem educativa. Ele retoma um pouco da história do ensino e mostra onde estão estruturadas as abordagens mais autoritárias de transmissão do conhecimento e porque nos cabe buscar meios mais construtivistas de educação. O terceiro capítulo fala sobre os paradigmas que precisam ser implementados para a aplicação de uma educação mais afetiva. Neste sentido, Saltini questiona os valores

deturpados que compõe a formação de professores ainda nos dias de hoje e ratifica o seu próprio conceito do que é educar alguém. Determina quatro premissas de um novo pensamento educativo, apoiado no construtivismo e em colaborações de grandes nomes, como Piaget, Bion, Lacan, Freud e até mesmo em ideais humanistas da Grécia Antiga. As premissas são: 1) Todas as transformações educativas visam a um homem melhor, 2) A educação préescolar deve ser profilática para a vida ("a embriologia do ser"), 3) Os objetos interno inconcientes que estão em interação constante com o ego deveriam ter a mesma importância dos objetos externos, e 4) Nós não podemos dar nozes àqueles que não têm dentes. Saltini explica essas premissas e continua sua discussão a respeito do papel do educador nesta nova ótica, sustentado por estes novos paradigmas. O quarto e o quinto capítulo falam, nesta ordem, sobre a relação entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo no processo educacional e sobre a dúvida a respeito de qual caminho a educação está tomando. O autor discorre a respeito dos momentos da vida do ser humano e como o passado contribui em sua formação cognitiva, reafirmando como os educadores devem prezar em conhecer mais a fundo o que se passa na cabeça do aprendiz, descobrir as suas experiências e incentivar que ele expresse o que sente e proponha a sua visão das coisas. Saltini afirma que para afeto e inteligência conjuntamente produzam alguma evolução do conhecimento cognitivo do aprendiz, é necessário conhecer o ego, o ser e dessa forma desenvolver uma formação ativa, não baseada somente no objeto em si mas na transformação do mesmo, no colaborar para o mundo de alguma forma. O que costuma acontecer na sala de aula é justamente o inverso. Professores são o centro das atenções, gerando uma situação de desequilíbrio na sala de aula, em que a contribuição acaba sendo unilateral e muitas vezes ineficientes no que se diz à real necessidade do aprendiz. O autor deixa claro que é necessário que hajam regras e leis, tanto internas como externas, a serem respeitadas, no entanto estas leis devem estar direcionadas à autonomia do aluno. O aprendiz deve ter ciência de seus limites mas ao mesmo tempo deve ter a liberdade de criar e se reinventar, e o professor deve estar ali tutoriando e guiando o aprendiz para o seu desenvolvimento pessoal e cognitivo, utilizando-se sempre da afetividade como fio condutor desta relação, como intermediador da transmissão de informações plurilateral no processo de aprendizagem. Os capítulos seis, sete e oito falam como a simbologia, a compreensão figurativa está presente em nosso dia a dia e como ela pode interferir em nossa composição somática. Saltini menciona o encontro dele como Piaget, em que ele (o autor) desconstruiu toda uma figura idealizada que ele tinha previamente sobre este pesquisador. Neste contato, o autor discorre sobre o quão presente está a análise figurativa em nossa formação, chegando a citar um trecho escrito por Piaget que afirma que um dia as funções cognitivas e a psicanálise serão obrigadas a se fundir em um teoria geral, visto que o figurativo e o real estão em uma relação de constante troca e devem contribuir conjuntamente para a formação de um ser humano melhor, uma corrigindo a outra. Emoções estão envolvidas a todo momento na relação de troca de conhecimento e Saltini, para demonstrar isto, traz imagens de desenhos feitos por crianças, mostrando como o figurativo está fortemente presente em sua forma de ver o mundo e como as emoções envolvidas também interferem na sua educação.

3. APRECIAÇÃO CRÍTICA DO RESENHISTA: Saltini traz uma proposta interessante de discussão em torno das relações existentes entre afetividade e conhecimento, misturando experiências pessoais e exemplos didáticos com citações e conclusões de outros autores da área, como Rubem Alves, Paulo Freire, Freud e Piaget; com um destaque maior para o último, o qual o autor teve oportunidade de conviver pessoalmente. Ele faz uma crítica aos modelos atuais, porém de maneira suave e não confrontante, talvez no intuito de deixar claro que este processo de mudança de paradigmas deve ser feito de forma progressiva e terna, afinal o que se prega é a afetividade, a sensibilidade. Apesar de ser uma obra construída com enfoque no ensino à crianças, em muitos aspectos podemos utilizá-la como referência para análise da atividade de ensino como um todo, qualquer que seja a etapa de aprendizado do aluno. 4. INDICAÇÕES DA OBRA: Recomendo este livro àqueles envolvidos com atividades de ensino e transmissão de conhecimento, bem como aos pais e mães em geral, pois estes também tem como missão educar os seus filhos para o mundo. Vicente Costa, Engenheiro Civil, MBA em Gerenciamento de Projetos

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