RESENHA CRÍTICA: WHITE, Hayden. O fardo da História. In ____. Tópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 1994 pp 39 – 63.

June 5, 2017 | Autor: Bruno Bio Augusto | Categoria: History, Historiography, Hayden White, Historia, Post-modernism, Historiografía
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BRUNO CEZAR BIO AUGUSTO
RESENHA CRÍTICA
WHITE, Hayden. O fardo da História. In ____. Tópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 1994 pp 39 – 63.

Neste capítulo analisado o autor fará uma discussão acerca da carga que os historiadores carregam em trabalhar com o passado. Devido a subjetividade da interpretação histórica, Hayden White lança mão de argumentos que vão de encontro ao questionamento da realidade dos fatos, dos dados e a reinterpretação do pretérito. Deste modo, perpassando pela cientificidade do século XIX e pela arte do final do mesmo século e início do XX, White tece seu discurso para tentar entender qual o "fardo" que há na ação de contar história.
Neste contexto, remetendo à função do historiador, o autor nos diz que a preparação do profissional da história consiste, muitas vezes, no estudo de línguas, em estágios em arquivos e no cumprimento de alguns exercícios destinados a familiarizá-lo com o trabalho de referenciais periódicos. Assim, para Hayden White, podemos ver que há uma redução do campo de atuação do historiador que, para o autor, a função está delineada a trabalhar com arquivos, línguas – talvez para entender as fontes gregas, latinas, etc – e a discussão quanto aos periódicos. Não podemos negar que utilizar outras línguas, o trabalho com as fontes, e a produção periódica são importantes para a carreira do historiador, pois essa prática consiste na função de se trabalhar com o passado. White, contudo, peca no discurso reducional do campo histórico, ou seja, no desuso da "humanização" que a história possui no papel da sociedade. Talvez, para ser reducionista quanto ao ambiente de atuação do historiador, Hayden White tenha se apoiado nos argumentos da Primeira Guerra Mundial, em que o discurso histórico entra em xeque com os pensadores da época.
Os críticos do contexto da primeira grande guerra legitimam a subjetividade histórica em que "a história que se supunha fornecer algum tipo de preparação para a vida, que se julga a ser 'o ensino da filosofia por meio de exemplos', pouco fizera no sentido de preparar os homens para o advento da guerra" (p.48). De tal modo, o discurso de White na defesa de uma filosofia histórica se pregoará na visão do passado como um mito que justifica o presente e que não há consonância com o futuro. Acredito que não podemos negar as instabilidades das interpretações históricas, sobretudo as brechas do passado que possibilita possíveis erros de interpretação.
Seguindo nesta linha, White nos traz uma discussão acerca da composição da história como ciência, arte, ou nos entremeios, como "semiciência". Para o autor, a incapacidade de comprovar as hipóteses históricas a desclassifica da ordem de ciência. A apropriação da história pela arte, segundo o autor, também é uma ação errônea, pois a história se utiliza da subjetividade da arte apenas em partes, pois ela – a capacidade artística – consiste em uma reinterpretação livre do tempo presente; e a história não pode gozar de total liberdade ao imaginar o pretérito, existem algumas ordens que precisam ser observadas. É nesta dubiedade que deitam vários historiadores para intitular a história como uma semiciência.
No campo das ideias, o que é "semi" não é completo, e o que não é completo está passível da completude, ou seja, pela história estar ora na área da ciência, ora na área da arte, temos um problema para intitulá-la entre o subjetivo e o objetivo. Para alguns historiadores o ato de ser ou não ciência é um mero detalhe em seu ofício de historiografia; já para outros – a grande maioria – é necessário que seja um ou outro no campo acadêmico, pois, se não há pertencimento por completo em algo, causa as frustrações da existência ideológica.
Assim, o discurso de ciência ou arte não se limita apenas ao final do século XIX e início do XX, segundo White:
Muitos historiadores continuam a tratar seus "fatos" como se fossem "dados" e se recusam a reconhecer, diferentemente da maioria dos cientistas, que os fatos, mais do que descobertos, são elaborados pelos tipos de pergunta que o pesquisador faz acerca dos fenômenos que tem diante de si. (p.56)

Um ponto a ser questionado do trecho acima é o não reflexão dos fenômenos -"dados" - nos documentos utilizados pelo pesquisador histórico. Fico me perguntando se estamos tão distintos dos cientistas e se realmente não questionamos os "fatos" encontrados nas fontes, mesmo quando o historiador se utiliza das teorias sociais, tais como a econometria, a teoria dos jogos, teoria da solução de conflito. Acredito que pela não prática da verdade absoluta, encontramos os "talvez", "quem sabe", "provavelmente" etc nas narrativas históricas. E também acredito que devido a impossibilidade de afirmação que a história não pode ser intitulada de ciência, talvez se constitua em uma arte, especificamente em uma arte da escrita.
Neste ponto da discussão tenho que concordar com o "cosmopolitismo metodológico" de Hayden White acerca da interpretação histórica. O historiador se utiliza, não de métodos, mas de metáforas para contar a sua história e, o interessante desse modelo, é que não deixa a história presa em um método ortodoxo, mas sim, quando a metáfora se mostra ineficaz, o historiador pode abrir mão de outros discursos metafóricos.
São nas artes da metáfora que os historiadores também podem ser reconhecidos como tendo alguns hábitos de literatos; utilizando as personagens, e dando vida aos desfechos de suas narrações. E, também temos em Hayden White o exemplo do inverso, ou seja, de literários utilizando a história para confeccionar as suas obras. Aproveitando do questionamento quanto ao fardo do historiador para adjetivar suas personagens na literatura.
Assim, em George Eliot, Hayden White nos mostra a apropriação da figura do historiador e do artista pelo escritor. O personagem Casaubon, é um historiador com "incapacidade de reagir ao passado que vive à sua volta", e o artista Ladislaw nos possibilita enxergarmos "a visão artística e o estudo histórico" como "opostos, e a qualidade das respostas à vida que eles respectivamente evocam são mutuamente exclusivas" (p.45).
Para findarmos esta pequena discussão, é importante frisar o valor deste debate entre arte, ciência, semiciência, literatura, subjetividade, objetividade, entrelaçados com a necessidade de haver sim uma narrativa histórica. É pela narração de personagens que podemos tentar – e quase sempre não conseguir – entender o tempo presente. Independentemente de haver ciência ou arte, é importante manter e história instigando a imaginação das pessoas, principalmente àquelas que não estão inseridas diretamente no discurso acadêmico, pois, é através da narrativa histórica que o sujeito terá uma possível capacidade de reflexão sobre o presente, não se esquecendo do pretérito, acarretando assim, uma preparação para o futuro.


Resenha escrita como ferramenta avaliativa da disciplina Teoria da História II, do curso da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.


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