Resenha da obra \"Como funciona a democracia:uma teoria etnográfica da política\"

Resenha:Como funciona a democracia : uma teoria etnográfica da política(Tomaz Xavier de Souza) Disciplina:Tutorial optativa de Antropologia da Política Em “Como funciona a democracia: uma teoria etnográfica da política”, Marcio Goldman expõe em ordem diacrônica fragmentos das relações de bastidores do cenário político e do carnaval da cidade de Ilhéus, no estado da Bahia, envolvendo inevitavelmente todo o movimento afro cultural dessa cidade . Nele, a democracia não é colocada nos moldes ideais, não há uma forma explícita de como se deve guiá-la, muito pelo contrário, o que Márcio Goldman faz é expor tudo o que foge do imaginário ideal como a compra direta de votos , a existência de “mulas eleitorais” (que se trata da eleição de um certo número de candidatos em cima de votos de outros candidatos que não se elegeram, e em cima dos votos que são realizados diretamente na própria legenda do partido) e as frequentes mudanças de partido justificadas com belos e longos discursos. A primazia pela questão empírica é bem delineada nesta obra, os dados estão presentes, e dão um bom panorama estatístico a ela, ao mesmo tempo que Goldman dá atenção e um foco qualitativo combinando semi-harmonicamente conceitos como o de devir, de Deleuze e Guattari, ao se referir a um devir nativo, um estado de ser e agir que faz com que haja movimento, interação e reconhecimento, um estado de ser em que o nativo é atingido com forças que fazem com que o seu interior seja exposto de forma visceral. Esse é um dos elementos-chave para a compreensão do livro. O livro está dividido em: agradecimentos, um prólogo, uma introdução, 6 capítulos, 5 deles focados no cenário eleitoral, ou como se diz em Ilhéus, nos “anos de política”, e um capítulo que dá mais atenção ao carnaval, além de 8 apêndices, que dão mais amplitude ao material etnográfico coletado. O prólogo em especial daria uma etnografia à parte: relata como Marcio Goldman ouviu o som de tambores, que supostamente eram tocados pelos mortos(detalhe: não havia nenhum terreiro de candomblé ou bloco afro naquelas redondezas), isso durante um “despacho” dos assentamentos de uma filha de santo que havia morrido, mostrando que ele havia se inserido no seu campo, a ponto de aceitar o compartilhamento e viver aquela subjetividade; claro que outras hipóteses foram levantadas, levando em conta o distanciamento pós-campo, mas o mais interessante é que em momento algum se excluiu a hipótese levantada pela vivência de Goldman, pelo contrário, ela foi sutilmente exposta ao lado das outras hipóteses, sem impor de maneira ortodoxa, como uma verdade inegável. Falando de maneira bem concisa, e reforçando a ideia: o prólogo mostra a presença do autor na escrita, coisa que com a grande quantidade de dados coletados é ocultada; é um tempero adicional ao conjunto todo. A introdução te leva a uma reflexão muito intensa dentro da teoria e metodologia do campo da Antropologia da Política e os demais capítulos são o recheio da obra, o que confirma que um dos maiores diferenciais ( se não o maior) da antropologia é estar efetivamente em campo, e fazer disso uma forma de se estabelecer a sua própria visão, constituidora de uma concepção relacional in loco, pois os dados tal como foram captados foram unicamente reunidos para a realização do livro, e, jamais se repetirão exatamente da mesma forma como foram coletados, pois eles estão dentro de um continuum temporal específico. Ler “Como funciona a democracia” te leva a ver coisas das quais muitas pessoas gostariam de ver mais de perto: como se estabelece a “diplomacia” (contraditoriamente com todos os seus conflitos e complôs) entre os partidos políticos, como eles estabelecem suas coligações, como garantem seus votos através de suas promessas, e como interesses diversos são confrontados para que a democracia seja exercida, mesmo ela não sendo exatamente

aquela mesma democracia que está no horizonte imaginário ideal.